quinta-feira, dezembro 31, 2009

Ano ruim para a produção agrícola - PIB agrícola cai 9%

A notícia não é nova pois o resultado foi divulgado no início de dezembro, mas como o momento é de retrospectiva, acredito que valha a pena postar isso. Vamos esperar que 2010 tenha crescimento da economia brasileira como um todo e especial no agronegócio.

Desejo aos leitores um feliz ano novo cheio de realizações pessoais e profissionais.

Segue as notícias sobre a queda do PIB que encontrei, respectivamente no Portal Exame, Notícias Agrícolas e BrasilAgro:

IBGE: produtividade menor levou à queda na agropecuária
Por Jacqueline Farid e Alessandra Saraiva

Rio - A queda de 9,0% no Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária no terceiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, foi influenciada por uma forte queda na produtividade de vários itens agrícolas. A análise foi feita hoje pela gerente de Contas Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis. "Ou seja: nós mantivemos quase que a mesma área plantada do ano passado, mas o que levou ao recuo do PIB do setor foi mesmo uma redução na produtividade destas mesmas áreas", explicou.

Pela manhã, o IBGE informou que PIB do terceiro trimestre deste ano subiu 1,3% em relação ao trimestre anterior e caiu 1,2% em relação ao período de julho a setembro de 2008. O PIB da agropecuária apresentou os piores resultados.

Entre os motivos para o desempenho negativo, estão as previsões de queda, este ano, da produção de itens importantes para a agricultura, na comparação com 2008. É o caso de trigo (queda de 15,1%), café (baixa de 13,8%), mandioca (recuo de 0,3%) e laranja (baixa de 0,1%), cujas estimativas de baixa de produção já tinham sido reveladas pelo IBGE, durante a divulgação do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de outubro.

No entanto, Rebeca lembrou que há uma previsão de forte aumento na produção de cana-de-açúcar (alta de 6,9%) de 2009 ante 2008, o que também foi mostrado pelo LSPA.

PIB da indústria

Já a queda de 6,9% do PIB da indústria no terceiro trimestre deste ano, ante igual trimestre do ano passado, foi influenciada por recuo de 8,4% no PIB da construção civil, no mesmo período. "Mas essa queda na construção civil já foi mais intensa. Na comparação com igual trimestre do ano anterior, houve taxas negativas de 9,6% no primeiro trimestre e de 9,3% no segundo trimestre", destacou Rebeca.

O recuo do PIB industrial também contou com outro forte impacto negativo: a queda de 7,9% do PIB da indústria da transformação, no terceiro trimestre deste ano ante o mesmo período do ano passado. "As maiores quedas na produção da indústria da transformação foram detectadas em setores voltados para a produção de bens de capital", afirmou a especialista. Os destaques negativos ficaram com os segmentos de máquinas e equipamentos, metalurgia, produtos de metal, automóveis e materiais elétricos e eletrônicos.

PIB de serviços

O aumento de 2,1% no PIB de serviços no terceiro trimestre deste ano, ante igual período do ano passado, foi fortemente influenciado pela elevação de 6,1% nos serviços de intermediação financeira e seguros, de acordo com Rebeca. "Podemos dizer que o setor de serviços foi afetado pela crise, mas não tão afetado quanto os setores mais voltados para o comércio exterior, como a indústria, por exemplo", comentou.

Segundo ela, além dos serviços de intermediação financeira, o IBGE apurou aumentos nos serviços de informação (4,5%), em outros serviços (4,9%), na administração de saúde e educação públicas (3,2%) e nos serviços imobiliários e de aluguel (1,4%), no terceiro trimestre deste ano, ante o mesmo trimestre de 2008.

Consumo das famílias

O aumento de 3,9% no consumo das famílias no terceiro trimestre, informado hoje pelo IBGE, representou o 24º crescimento consecutivo na comparação com igual trimestre do ano anterior. "O consumo também registrou desaceleração em relação às taxas de crescimento apuradas até o terceiro trimestre do ano passado, mas nunca chegou a ficar com taxa negativa (desde o início da crise), porque continuamos com expansão do crédito, aumento da massa salarial, da ocupação e do rendimento médio", observou Rebeca.

Já o crescimento de 6,5% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no terceiro trimestre representou a maior alta ante um trimestre imediatamente anterior apurada pelo IBGE desde o primeiro trimestre de 2006. Rebeca observou que a indústria e os investimentos, que registraram os piores resultados no auge da crise, estão agora puxando a recuperação da economia.(Agência Estado)

Se o campo vai mal, a economia não decola

O agricultor Nelson Schreiner, de 70 anos, tem uma explicação para o fraco desempenho da economia brasileira, que resultou num Produto Interno Bruto (PIB) bem menor que o esperado no terceiro trimestre de 2009. "Se o campo vai mal, a economia toda não decola."

Produtor de grãos há 49 anos, Schreiner contabiliza este ano uma queda de 20% na renda obtida em suas fazendas entre Taquarivaí e Itapeva, no sudoeste paulista, em comparação com a média dos anos anteriores. Ele conta que as cotações internacionais do milho e da soja não acompanharam os preços da safra passada e foram, ainda, afetadas pelo dólar baixo. "Além dos preços fracos e do câmbio ruim, tivemos problemas climáticos na safra de inverno", disse.

PREJUÍZO

Produtor caprichoso, ele plantou 900 hectares de trigo pelo sistema de plantio direto. A lavoura, cuidada com esmero, teve um ótimo desenvolvimento e não chegou a ser afetada pelas doenças fúngicas que acometeram outros trigais da região.

"Era um trigo espetacular, que deveria produzir pelo menos 60 sacas por hectare", diz o produtor. Na véspera da colheita, começou a chover sem parar. "Resultado: não colhi uma única saca de trigo para moinho e tudo o que consegui colher virou farelo para ração." O prejuízo foi total, pois a lavoura não tinha seguro.

Schreiner calcula ter investido mais de R$ 1 mil por hectare para formar a lavoura.

Ele se considera um produtor precavido e pé-no-chão. Sabe que a agricultura é uma atividade de risco, em que se alternam os anos bons e os ruins, por isso mantém uma reserva para enfrentar os períodos de crise. Por conta disso, já cobriu as áreas de cultivo com milho e soja que serão colhidos no início de 2010.

"São lavouras de custo mais baixo, porque o preço do adubo e de outros insumos caiu, mas é preciso que outros fatores, como o clima e o mercado internacional, sejam favoráveis", diz Schreiner.

Uma coisa, para ele, é certa: o agricultor está sozinho e não pode depender do governo, pois dali não vem ajuda. "É o contrário: no Brasil, o governo é que depende do agricultor para a economia andar." (Fonte: Estadão.com)

Agricultura tem resultado ruim e reduz PIB

Queda de 9% em relação ao mesmo período do ano passado foi a maior entre os setores da economia.

O setor agropecuário sofreu um tombo no terceiro trimestre, com o maior recuo entre todas as atividades econômicas. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda foi de 9% no Produto Interno Bruto (PIB), influenciada por um forte recuo na produtividade de vários itens agrícolas, segundo a gerente de Contas Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis. "Mantivemos quase que a mesma área plantada do ano passado, mas o que levou ao recuo no PIB do setor foi mesmo uma redução na produtividade destas mesmas áreas", afirmou a técnica.

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, atribuiu o resultado desastroso da atividade do setor no terceiro trimestre de 2009 à queda dos preços dos produtos agrícolas. A justificativa de Stephanes, que deu entrevista coletiva à imprensa à tarde para comentar o resultado negativo do PIB, foi a de que as comparações foram feitas em momentos muito distintos da economia.

A queda na agropecuária, além do desempenho da pecuária e da silvicultura, pode ser explicada pelo desempenho de alguns produtos que têm safra relevante no trimestre. Com exceção da cana-de-açúcar, com estimativa de crescimento anual de 6,9%, as estimativas para 2009 do trigo em grão (-15,1%), do café em grão (-13,8%), da mandioca (-0,3%) e da laranja (-0,1%) apresentaram quedas em relação ao ano anterior.

Entre os destaques citados por Rebeca Palis para explicar o desempenho negativo, estão previsões de queda nas produções de itens importantes na agricultura, na comparação com as produções registradas. É o caso de trigo (-15,1%), café (-13,8%), mandioca (-0,3%) e laranja (-0,1%), cujas estimativas negativas de produção já tinham sido reveladas pelo IBGE durante a divulgação da estimativa de safra de outubro.

Em contrapartida, ela lembrou que há uma previsão de forte aumento na produção de cana-de-açúcar (6,9%) em 2009 ante 2008, também mostrada pelo levantamento. Além da queda forte em relação ao terceiro trimestre de 2008, o IBGE revelou recuo de 2,5% em relação ao segundo trimestre.

Os resultados do setor foram muito mais críticos do que os do PIB geral do País, que mostrou retração de 1,2% no mesmo período do ano passado e crescimento de 1,3% na comparação do terceiro com o segundo trimestre de 2009.

Os números negativos vieram dentro das expectativas da presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, senadora Kátia Abreu (DEM-TO). "Os números não trouxeram surpresa para o setor. O que fez o PIB cair foi a redução de 10 milhões de toneladas de grãos de 2008 para 2009, passando de aproximadamente 144 milhões de toneladas para perto de 134 milhões de toneladas", disse a senadora.

Ela argumentou que a safra é medida quando é plantada "e só se planta uma vez por ano". Mas voltou a destacar a expectativa para a safra de grãos em 2010, quando deve somar cerca de 140 milhões de toneladas. "Não é um volume próximo ao recorde (144,1 milhões de toneladas na safra 2007/2008), mas acredito que possamos compensar a queda do ano passado e voltar a crescer." (O Estado de S.Paulo, 11/12/09)

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Fusões e aquisições em 2009 - a importância do agronegócio

Apesar da crise financeira mundial, o Brasil passou em 2009 por um turbilhão de fusões e aquisições e o agronegócio teve papel fundamental neste processo. Abaixo duas notícias do Canal Rural que comentam estes acontecimentos, porém vale a pena ressaltar as fusões da VCP com a Aracruz e da Louis Dreyfuss com a Santelisa VAle que passaram desapercebidas pelas notícias abaixo:

Fusões e aquisições movimentam mais de R$ 100 bilhões no Brasil em 2009
Segmento responde por 45,5% do volume financeiro
Sebastião Garcia

Um levantamento feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capital (Anbima) mostrou que transações envolvendo fusões e aquisições ultrapassaram os R$ 100 bilhões este ano, grande parte no setor de alimentos, como o de carne bovina. O segmento de papel e celulose ficou em segundo lugar. As negociações envolvendo os dois segmentos é o tema da segunda reportagem da série especial produzida pelo Canal Rural.

Este foi um ano em que as empresas fecharam grandes negócios. Em transações comerciais entre elas, foram R$ 116 bilhões de janeiro a setembro. Um terço a mais que no mesmo período do ano passado. O setor de alimentos liderou os negócios, respondendo por 45,5% do volume financeiro.

O presidente da Associação que representa as indústrias de exportação de carnes do Brasil diz que isso pode ser traduzido como uma estratégia de segurança das empresas.

– As empresas mais robustas, com melhor gestão e capacidade financeira tiveram oportunidade de adquirir, fundir ou até alugar a capacidade industrial das outras. Isso dá a eles uma segurança do ponto de vista econômico muito grande, pois não dependem mais de um país ou um produto. Eles estão bem diversificados nesta área – diz o presidente da Abiec, Roberto Gianetti da Fonseca

É uma estratégia que envolve não só os grandes, afirma o advogado Mario Nogueira, especialista no assunto.

– No momento em que você consolida na parte industrial você tem alguns reflexos para trás. Um reflexo importante é a formalização. Você vai espalhando-a no campo.

Marco Mariani, produtor de frangos e suínos no oeste de Santa Catarina, está preparado pra esta formalização. Ele mantém duzentas matrizes no plantel e é integrado a uma cooperativa que recebe os animais que cria. Ele só espera agora que a união de grandes empresas seja boa também pra ele.

– Se fosse possível abrir os mercados no exterior, se conseguissem se unir e vender esse excesso que tem no mercado, seria uma boa – disse o suinocultor

É essa a intenção das empresas, Ainda mais em tempos pós-crise como agora, como afirma o ex-ministro Pratini de Moraes, que dá assessoria a um grande grupo do setor de carnes também.

– Todos os momentos de crise que nós passamos como final de 2007 e em 2008 são períodos que muitas empresas saem do mercado, vem alguém e as absorve. Isso é normal em todos os setores.

O grupo no qual Pratini de Moraes trabalha foi responsável por uma grande transação que mexeu com o mercado este ano. Em setembro, a maior empresa do setor de carne bovina do Brasil, a JBS-Friboi, negociou a fusão com a sua rival Bertin. Nasceu aí uma sociedade formada pelas ações da primeira, mais 73,1% do capital social da segunda. E surgiu também um dos maiores conglomerados do setor de carnes, com presença em 23 países e faturamento de US$ 30 bilhões por ano. Quem diria que este pequeno açougue aberto em 1953 em Anápolis, no Estado de Goiás, se transformaria na terceira empresa brasileira em receita, atrás apenas da Petrobras e da Vale do Rio Doce. Com a incorporação do Bertin, a JBS tem capacidade agora para abater 90 mil cabeças de gado por dia. Nada menos que 8% de todo o rebanho bovino do mundo.

Outra transação comercial fortaleceu ainda mais o grupo este ano. Com oferta de US$ 2,5 bilhões a JBS comprou 64% da Pilgrim’s Pride, um dos ícones do capitalismo agropecuário americano, com sede no Texas. A maior empresa do setor de aves nos Estados Unidos foi uma das vítimas da crise, e se viu obrigada a pedir concordata um ano atrás e aceitar a sociedade com quem tivesse capital, no caso, a brasileira JBS.

– Com isso, nós vamos ingressar com pé direito no mercado de frango que, junto com boi, carneiro e suíno, abrange as principais proteínas de animais – afirma Pratini de Moraes.

Seguindo o caminho dos frigoríficos, também o setor de leite mexeu no mercado apostando na concentração e na consolidação neste último ano.

– Nós temos de 4% a 5% do leite brasileiro, então é um setor ainda bastante diluído que, com certeza tenderá a concentrar no futuro – explica o presidente do Grupo Bom Gosto, Wilson Zanatta.

Ano de 2009 é caracterizado por fusões e aquisições entre empresas do agronegócio no Brasil
Fusão entre Sadia e Perdigão foi um dos negócios que criou uma gigante no setor de alimentos
Sebastião Garcia


O ano de 2009 promete entrar para a história das grandes empresas do Brasil pela participação no mundo das corporações globais. Foi um período de muitas fusões e aquisições em empresas do agronegócio. Segundo os especialistas, estas transações comerciais estão em crescimento no país, especialmente nos setores de bebidas, finanças, e principalmente no de alimentos.

Entre elas, a fusão das companhias que criaram uma gigante do setor de alimentos no mundo: a Brasil Foods.

O ex-ministro do desenvolvimento e empresário Luiz Fernando Furlan compara a fusão entre as empresas ao casamento, pra justificar a união da empresa da família dele, a Sadia, à outra historicamente rival, a Perdigão. Elas se uniram em maio deste ano.

– Você, ao mesmo tempo em que agrega valores, faz concessões em troca de frutos que vão surgir, que é uma família, que são os descendentes – afirmou o empresário.

A descendente da fusão entre as gigantes do setor de alimentos ganhou um nome meio estrangeiro, Brasil Foods, e nasce como uma das maiores do segmento na América Latina. Vai ocupar o terceiro lugar em abate de aves e será uma das dez maiores do mundo em abate de suínos, com capacidade para exportar para 110 países.

– No fundo, a minha sensação pessoal não é de perda, é uma sensação de ter ajudado a construir algo maior que vai, com o tempo, ser orgulho de todos nós brasileiros – disse Luiz Fernando Furlan.

O endividamento da Sadia foi fator decisivo nas negociações para chegar ao casamento. A Sadia registrou no ano passado perdas de R$ 2,6 bilhões, resultado de operações com derivativos de alto risco. No início deste ano as dívidas da empresa com instituições financeiras chegavam a R$ 8 bilhões. Parte da dívida está sendo paga agora pela Brasil Foods. E marca o início de outra história.

Geograficamente, entre as duas gigantes do setor de alimentos há uma distância de mais de 200 quilômetros. A Sadia fica em Concórdia (SC) e a Perdigão em Videira (SC). Por mais de 50 anos o que separou as duas empresas também foi a concorrência, a disputa no mercado. Com a fusão, esta distância fica só na história.

Para o mercado interno não haverá mudanças significativas, pelo menos não de momento. O foco com a fusão é o mercado externo.

– Nós estamos autorizados a operar o mercado externo juntos e já estamos fazendo isso desde o mês passado, mas o interno nós operamos absolutamente separados. A Sadia mantém o diretor-presidente, um conselho de administração, mas tem sua atividade comercial e administrativa absolutamente separadas – explicou o Presidente da Brasil Foods, José Antonio do Prado Fay.

Outras grandes no segmento de carnes de frango e de suíno também se uniram este ano com propósito semelhante. Com a intenção de aumentar as exportações de carne in natura e de produtos industrializados, o grupo Marfrig comprou a catarinense Seara, já bastante conhecida no mercado consumidor, e se fortaleceu. A união dá agora à empresa uma capacidade de abate de quase 3 milhões de cabeças de frango por dia, 70% a mais do que antes. O aumento será ainda maior no abate de suínos, chegando a 10 mil cabeças diariamente, com 148% de crescimento.

O negócio eleva também a capacidade de exportação do Marfrig, que assume agora o segundo lugar no ranking, atrás apenas da Brasil Foods.

O advogado, especialista em transações comerciais, como as fusões, diz que estes negócios, somados ao aumento da demanda mundial por alimentos, justificam grandes mudanças nas empresas este ano. Os casamentos, diz ele, são só uma conseqüência e uma tendência.

– Eu diria que o nosso agronegócio está mais profissional, sem nenhuma ofensa a nenhum produtor rural. Ele está mais preparado a competir internacionalmente, com mais qualidade e produtividade. E você não vai mais conseguir fazer isso com uma produção absolutamente diluída com milhares de pequenos produtores, cada um por si. Era um movimento que necessariamente tinha que ocorrer pra você entrar num estágio de produção realmente industrial – analisou o avogado Mario Nogueira.

domingo, dezembro 27, 2009

Fazendo negócios na África - o caso da Nestlé em Zimbábue

Muitos grupos estão buscando na África a solução para seus problemas de escassez de terras para a produção agrícola, algo que já comentei no passado no post "Importar alimentos não basta, tem que ter controle da produção" e voltarei a falar em breve com mais informações, mas parece que está solução pode ser tornar um grande problema devido à instabilidade política do continente.

Semana passada, conforme podem ver na notícias abaixo da Folha Online que encontrei no Notícias Agrícolas e no Brasil Econômico, a Nestlé foi obrigada a fechar uma unidade de processamento de leite no Zimbábue devido às pressões por deixar de comprar leite da fazenda do ditador local. Mais detalhes nas notícias na íntegra a seguir:

Após ameaças, Nestlé fecha fábricas no Zimbábue

A multinacional Nestlé suspendeu suas atividades no Zimbábue após ter recebido ameaças pela decisão de deixar de comprar leite da fazenda da mulher do ditador Robert Mugabe, informou nesta quarta-feira a imprensa local.

A Nestlé-Zimbábue decidiu fechar temporariamente suas fábricas", anunciou ao jornal zimbabuano "The Herald" um porta-voz da empresa no Quênia.

A Nestlé parou de comprar o leite da fazenda de Grace Mugabe em outubro passado, depois que organizações de defesa dos direitos humanos disseram que promoveriam um boicote internacional aos produtos da multinacional caso ela mantivesse seus negócios com a primeira-dama.

A propriedade de Grace Mugabe, localizada no distrito de Mazowe, ao norte da capital Harare, pertencia a fazendeiros brancos e foi ocupada em 2001, após a reforma agrária imposta pelo presidente zimbabuano --e responsabilizada pela crise econômica na qual o país vive.

Os ativistas se referem ao leite das fazendas de Grace como "o leite de sangue", dadas as incontáveis violações aos direitos humanos cometidas por Mugabe desde que chegou ao poder, há 29 anos.

Os seguidores de Mugabe, por sua vez, reagiram à decisão da Nestlé de fechar suas fábricas acusando a multinacional de impor sanções contra "a primeira família do Zimbábue".

Segundo vários relatos, pessoas ligadas a Mugabe e ao Grupo Ação Afirmativa, vinculado ao partido do presidente, estiveram nos escritórios da Nestlé no Zimbábue para tentar forçar a empresa a continuar comprando o leite produzido pela fazenda da primeira-dama.

"Se não querem apoiar as empresas locais, azar o deles", chegou a declarar o ministro Saviour Kasukuwere. (Fonte: Folha Online com dados da EFE)

Nestlé fecha "temporariamente" fábrica no Zimbábue

A Nestlé anunciou nesta quarta-feira (23) que fechou "temporariamente" sua fábrica de tratamento de leite no Zimbábue depois de ter sido pressionada por autoridades a comprar leite de alguns fornecedores.

Em 19 de dezembro, o grupo recebeu "uma visita imprevista de dirigentes do governo e da polícia, que trouxeram um caminhão-tanque cheio de leite procedente de produtores sem contrato com a empresa", informou a Nestlé em comunicado.

Ante a recusa da Nestlé em comprar e tratar este leite, dois dirigentes locais da companhia "foram interrogados pela polícia, e libertados no mesmo dia".

"Em tais circunstâncias, as atividades normais e a segurança dos funcionários não podem ser garantidas. Assim sendo, a Nestlé decidiu fechar temporariamente a fábrica", explicou a empresa suíça.

Em 1º de outubro, o grupo avisou que não compraria mais leite de fornecedores sem contrato, uma medida que já havia adotado antes de forma temporária.

"Desde então, a Nestlé Zimbábue tem sido pressionada para comprar e tratar o leite fresco de alguns fornecedores sem contrato, uma demanda que a empresa sempre rejeitou", explicou.

A Nestlé possui cerca de 200 funcionários em sua fábrica no Zimbábue, onde está presente há 50 anos. (Por AFP)

sábado, dezembro 26, 2009

Retrospectiva do Canal Rural - Agricultura Familiar, Questão Agrária e Cooperativismo

Dando continuidade ao post Retrospectiva do Canal Rural - Máquinas, Boi, Frango e Milho de 19 de dezembro, seguem abaixo as retrospectivas segundo Gulherme Cassel do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Dirceu Fumagalli da Comissão Pastoral da Terra, Márcio Lopes de Freitas da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e Alberto Broch da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (CONTAG).

Todas as entrevistas foram conduzidas novamente por Nestor Tipa Júnior e para acessá-las diretamente no site do Canal Rural, clique nos links acima:

Cassel destaca superação da agricultura familiar em tempos de crise
Gulherme Cassel afirma que produtores mostraram capacidade de reação em meio à turbulência global

Em um ano de crise internacional e de problemas climáticos, a agricultura familiar mostrou superação e capacidade de reação. A avaliação é do ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel. Para ele, mesmo com as dificuldades, os agricultores foram muito produtivos e alavancaram a importância do setor.

- Hoje temos uma agricultura moderna, que dispõe de políticas públicas muito eficientes como crédito, assistência técnica, seguro agrícola, comercialização - destaca o ministro.

Cassel comemorou o resultado do Censo Agropecuário, divulgado pelo IBGE. Segundo o ministro, o estudo mostrou que a agricultura familiar brasileira é muito produtiva, inclusive mais produtiva que a agricultura tradicional. Além disso, garante a segurança alimentar do povo brasileiro, já que produz 70% daquilo é consumido diariamente pelos brasileiros.

- É da produção da agricultura familiar que dependem os preços dos produtos que a gente consome no dia a dia, ou seja, o fato de que a inflação dos preços dos alimentos não disparou no Brasil se deve a capacidade produtiva dos agricultores brasileiros - salienta. Ele afirma que a agricultura familiar brasileira hoje é uma referência em todo o mundo. O ministro diz que vem sendo requisitado para falar em todo o mundo sobre o exemplo do Brasil e que nota que existe um olhar voltado para a experiência brasileira.

- Cada vez mais, neste início de século, as pessoas estão preocupadas com temas como a preservação do meio ambiente e a segurança alimentar. Nestes dois casos, a agricultura familiar é um ator essencial e central. Por isso ela vem ganhando esta relevância não só aqui no Brasil, como no mundo todo.

Mais Alimentos

O programa Mais Alimentos foi prorrogado por mais um ano, mas existe a possibilidade de se tornar uma política permanente. Cassel afirma que existem avanços neste sentido. O ministro informa que esta é a vontade do presidente Lula, mas acima de tudo é a vontade dos agricultores e da indústria também. Conforme ele, segundo informações do setor de máquinas, o Mais Alimentos foi responsável pela garantia de empregos durante o período da crise. Foram cerca de 18 mil tratores comercializados e mais de R$ 500 milhões em máquinas e implementos agrícolas vendidos.

- O programa Mais Alimentos é um daqueles casos de sucesso onde construímos junto um programa, e deu muito certo. Isso tem servido para modernizar a agricultura familiar, para garantir emprego na indústria e, acima de tudo, melhorar a produção e produtividade dos alimentos - enfatiza Cassel.

Merenda Escolar

Um dos pontos altos para a agricultura familiar, conforme o ministro, foi a aprovação da lei número 11.947, proposta pelo governo e aprovada pelo Congresso, que obriga os municípios a utilizarem pelo menos 30% dos recursos para a alimentação escolar, comprando produtos diretamente da agricultura familiar sem licitação. Para Cassel, é um fato decisivo para os pequenos produtores, pois auxilia no problema de renda do produtor.

- Isso vai garantir mercado, desenvolvimento e segurança para a agricultura familiar. É um programa que vai garantir preço aos produtores e uma alimentação escolar de qualidade para as crianças - destaca.

O ministro afirma que o ministério já fez seminários com mais de 1,9 mil municípios, preparando as prefeituras para entrar no programa, além de reuniões com sindicatos e associações de produtores para garantir a entrega de forma permanente.

Índices de Produtividade

Um dos temas mais polêmicos de 2009, a revisão dos índices de produtividade, deve voltar à pauta em 2010. Cassel informa que o tema já estava encaminhado e o presidente Lula chegou a tomar a decisão de rever os índices de produtividade, mas que o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, ainda tinha restrições ao cálculo e a oportunidade de se reajustar os índices. Enquanto eles conversavam para ajustar a questão, um conjunto de problemas com os movimentos sociais, como a ocupação pelo MST das fazendas da Cutrale, no interior de São Paulo, desorganizaram os planos de revisão.

A expectativa do ministro é que no começo de 2010 seja encaminhada a questão da revisão dos índices de produtividade.

- Isso não é um problema só de reforma agrária. O censo agropecuário tem mostrado que a concentração fundiária no país é muito grande e que quanto mais tivermos agricultura familiar no país, melhor. Agora que discutimos desenvolvimento, temos que perseguir a construção de outra estrutura fundiária no país menos desigual, que dê oportunidade para mais pessoas produzirem e que garanta segurança alimentar e desenvolvimento para o país - afirma Cassel.

Projeções para 2010

Segundo o ministro, o objetivo para o próximo ano é aumentar o volume de crédito. Ele afirma que os R$ 15 bilhões de 2009 se mostraram suficientes, mas que é possível crescer neste sentido. Ele destaca também a implantação da lei de assistência técnica e extensão rural, aprovada neste final de ano, que deve ser fortalecida em 2010. O objetivo é ter um sistema mais focado nas necessidades do produtor, mais ágil no ponto de vista burocrático e mais transparente.

- O queremos em 2010 é mais produção e mais renda para os agricultores

Coordenador da Comissão Pastoral da Terra diz não haver avanço no combate à violência
Dirceu Fumagalli acredita que voracidade do agronegócio está ocupando espaço dos camponeses


As lutas sociais não tiveram avanços no ano de 2009. A avaliação é de um dos coordenadores nacionais da Comissão Pastoral da Terra, Dirceu Fumagalli. Para ele, o campo ainda é um grande espaço de disputa do capital. Em relação às políticas agrícolas e agrárias, Fumagalli acredita que não houve mudanças.

- O grande capital tem avançado de uma forma mais acelerada na disputa por espaços mais tradicionais, como os dos camponeses. Ainda é um espaço dos grandes conflitos - afirma o dirigente da CPT.

O representante da CPT afirma que a não efetivação de uma reforma agrária decente vai manter a tensão existente nas disputas por terras entre ruralistas e sem-terra. Ele informa que o número de assassinatos no campo não está caindo.

- Se formos observar, tivemos menos ocupações, mas os números de assassinatos no campo foram mantidos. Na proporcionalidade, a violência foi maior do que no ano passado.

Fumagalli acredita que a impunidade existe por parte das autoridades. Segundo ele, os representantes do grande capital agrário se sentem livres se não estão sendo inibidos por parte do Estado em relação à violência contra os trabalhadores.

- A morosidade faz com que os ruralistas se sintam totalmente livres para que eles possam vir com pressão e violência sobre os trabalhadores - ressalta.

Uma das questões de preocupação é em relação ao trabalho escravo no Brasil. O coordenador da CPT reconhece que existe um aprimoramento nas ações de ações por parte da fiscalização. Em contrapartida, faltam políticas públicas para conter a prática.

- Uma coisa é fazer a fiscalização, mas não existe uma política que inviabilize e iniba esta prática por parte de quem a mantém. Não há um aparato jurídico, uma punição. Isto deixa muito a desejar por parte das políticas públicas.

Segundo Fumagalli, esta realidade está presente em todo o território nacional. Mas a surpresa é um aumento do trabalho escravo na região centro-sul, onde foram verificados casos em todos os Estados.

- Observamos uma contradição naquilo que é dito como um estado moderno com uma prática retrógrada - salienta Funagalli.

A solução, de acordo com o dirigente da CPT, é a aprovação da PEC do trabalho escravo, que determina a desapropriação de terras onde forem identificadas condições de trabalho análogas à escravidão.

Segundo OCB, crise foi superada por alternativas buscadas pelo setor
Márcio Lopes de Freitas destaca que criatividade do produtor brasileiro foi determinante


O ano de 2009 começou com um clima obscuro e de insegurança para a agricultura brasileira. Os reflexos ainda vieram de 2008, que iniciou com ânimo no setor, preços agrícolas bons e mercados abertos. Mas no último trimestre houve um acidente de percurso. A avaliação é do presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, Márcio Lopes de Freitas. Para ele, predominou a força dos agricultores e das cooperativas para vencer o momento turbulento. Freitas destaca que, apesar dos problemas climáticos, a safra conseguiu ser boa.

- Mesmo com as dificuldades, com as interrupções das linhas de exportação, em especial os créditos, se buscaram alternativas. O mercado interno garantiu uma posição importante para os produtos agropecuários e as coisas foram retornando ao normal. O mundo não acabou.

Segundo o presidente da OCB, houve perdas no setor, dívidas de problemas passados, mas se buscaram alternativas e os mercados estão se retomando ou novos mercados estão se abrindo. Ele acredita que o problema é que a crise não era do crédito, mas de credibilidade, e isso tornou o acesso ao crédito muito difícil.

- Mas nós chegamos ao final do ano com uma retomada relativamente boa, se pensarmos como era o horizonte lá no início - ressalta.

Freitas salienta que não se pode reclamar de falta de apoio de políticas públicas, pois elas aconteceram e em tempo. Mas que houve problemas no acesso ao crédito pelos produtores por causa da retração das instituições financeiras. O presidente da OCB acredita que o governo acabou reconhecendo a necessidade de um ajuste do endividamento, mas que não é o suficiente.

- A dívida existe, o produtor vai ter que ter renda numa próxima safra para pagar seus custeios, e essa dívida acumulada. Mas pelo menos tirou aquela pressão imediata.

Para 2010, Freitas vislumbra um cenário mais positivo, já que, pelo menos no Brasil, o setor está numa curva ascendente. Ele acredita na volta de uma normalidade de mercados, além de uma safra melhor que, se não for recorde, vai ser muito próxima. O presidente da OCB orienta que os produtores façam um acompanhamento de tendência de mercados, para direcionar intenções e buscas de negócios. E espera também que se trabalhe melhor o mercado interno.

- O Brasil tem 190 milhões de consumidores, é o nosso principal mercado. Muitas vezes ficamos focados nas exportações, mas elas não sustentam numa hora de dificuldade como foi este período - afirma Freitas.

Contag destaca avanços nas políticas públicas para agricultura familiar
Alberto Broch ressalta, no entanto, que ainda é preciso melhorar a renda do agricultor

O ano de 2009 foi muito importante para a agricultura familiar brasileira. A avaliação é do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura Familiar, Alberto Broch. Segundo ele, houve avanços nas negociações de políticas públicas com o governo federal.

Broch destaca que, além dos R$ 15 bilhões para o Pronaf, teve o programa aprovado no congresso federal da lei da merenda escolar, onde 30% de todos os produtos comprados devem ser provenientes dos pequenos produtores. O presidente da Contag também salienta a melhoria do Programa de Aquisição de Alimentos.

- Foi um ano muito importante na concretização dos pedidos da agricultura familiar - afirma.

Outra iniciativa, segundo Broch, é o seguro investimento, negociado no último Grito da Terra, que deve ser implementado nos próximos meses. Para ele, o Censo Agropecuário de 2006, divulgado este ano pelo IBGE, coloca a importância política da agricultura familiar no ponto de vista social. Mas ainda é preciso de políticas no sentido de melhorar a renda do pequeno agricultor. Broch acredita que a alta dos preços agrícolas não se transfere para o agricultor, e fica nos intermediários.

- Nós tememos que, mesmo com todas estas políticas públicas, mesmo com todas as conquistas, nós tenhamos um aumento do endividamento. Existe um descompasso enorme entre os nossos custos de produção e aquilo que o produtor recebe - ressalta o presidente da Contag.

Broch reforça que o código florestal foi uma oportunidade de apresentar ao governo federal a necessidade da mudança da legislação ambiental. Ele informa que ainda existem negociações para que nesta mudança possa se colocar uma legislação que combine o processo de produção e preservação.

- Nós defendemos uma legislação específica para a agricultura familiar. Não podemos tratar a questão ambiental como se todos fossemos iguais. Esperamos que o governo federal possa fazer um projeto de lei ou medida provisória que atenda este pedido.

Sobre a polêmica da revisão dos índices de produtividade, o presidente da Contag reconhece que a pressão de ruralistas é grande, mas espera que o governo federal, em 2010, faça a atualização dos atuais números.

- O governo tem que ter a coragem até o final do seu mandato de fazer a atualização dos índices de produtividade. Nós achamos fundamental, porque o processo de concentração de terras começa novamente a crescer.

quinta-feira, dezembro 24, 2009

História do peru no Brasil

Hoje mesmo fui indagado pelo meu filho Felipe de 7 anos sobre o porquê do peru ser considerado uma comida típica de natal. Na hora não sabia direito, mas falei sobre a relação do peru com o Dia de Ação de Graças dos pioneiros da América do Norte.

Para minha surpresa, horas depois, ao ler meu Google Reader deparei-me com o post da Érica Giorgino publicado no Blog da revista Galileu que coloquei abaixo na íntegra. Uma boa leitura e Feliz Natal aos leitores...

Breve história do Peru de natal no Brasil
Érica Giorgino

Importado nos anos 60, temperado a partir de 1974, equipado com termômetro a partir dos anos 80 e em versão light na década seguinte, o peru Sadia ajuda a contar a história de alguns hábitos de consumo brasileiros. Ele chega ao Natal deste ano produzido em escala industrial. A ave que irá repousar na sua mesa começou a ser preparada em setembro de 2007, quando a empresa iniciou a criação dos ovos. Cerca de 56 dias depois de romperem as cascas, quando pesavam cerca de 4 kg, os perus foram abatidos. E já estão no mercado desde a segunda quinzena de outubro.

1944 >>> O empresário Attilio Fontana funda uma firma de produção de trigo e frigorífico em Concórdia (SC). Chamava-se “S.A. Indústria e Comércio Concórdia”. Virou Sadia a partir da junção das iniciais SA (Sociedade Anônima) às três últimas letras de Concórdia

1952>>> “Pelo ar, para seu lar”. Este era o slogan da empresa, que buscava se firmar no mercado consumidor do Sudeste. Arrendou um avião da Panair para o transporte de perecíveis a São Paulo e Rio de Janeiro. Eram tempos em que os caminhões frigoríficos ainda não existiam, e as estradas eram incipientes (a rodovia Régis Bittencourt, por exemplo, seria inaugurada apenas em 1961)

1953 >>> A Sadia inaugura uma planta industrial em São Paulo, o Moinho da Lapa, primeira unidade fora de Concórdia

1964 >>> Passam a ser produzidos em São Paulo alimentos como salsichas, almôndegas, quibes e hambúrguer. A empresa já abatia o peru de carne escura. Attilio Fontana foi ao Rio e conheceu o de carne clara, conhecido como peru branco

1968 >>> A grande procura pelo peru branco faz Attilio importar da Califórnia um lote com 1.500 aves

1971 >>> Surge a mascote da Sadia, o franguinho sempre apressado que usa óculos e capacete de motoqueiro. A empresa investe na publicidade de produtos semiprontos congelados e um dos mais famosos é o frango defumado, que já vinha temperado

1973 >>> O primeiro lote de peru branco é abatido na fábrica de Chapecó. A ave inteira passa a ser vendida em embalagens transparentes

1974 >>> Para facilitar a vida da dona de casa, a Sadia lança a versão temperada do peru

1980 >>> Aparece o termômetro. A empresa importa a tecnologia dos EUA, para atender consumidores que não sabiam o ponto ideal. O termômetro possui uma liga metálica sensível ao calor, que libera uma mola quando atinge a temperatura ideal

1990 >>> A linha Califórnia é lançada, uma tentativa da empresa para ampliar o consumo de aves e incentivar a oferta de derivados de carne de peru

1997 >>> Surge a Sadia Light, linha que promete baixo teor de calorias e gorduras. Existe até hoje e oferece presunto, blanquet de peru, peito, salsicha e hambúrguer

2007 >>> O mascote do franguinho é totalmente remodelado, ganhando o aspecto atual, em 3D

2009 >>> A Sadia é comprada pela Perdigão por R$ 1,45 bilhão. A fusão deu origem à gigante Brasil Foods (BRF). A associação definitiva ainda depende de aprovação do Cade, órgão de defesa da livre concorrência

Bunge e Petrobrás investem no etanol

Neste final de ano, época normalmente morna nos negócios, parece que está um pouco diferente do usual no setor sucroenergético, pois a Bunge anuncia a compra do Grupo Moema e a Petrobrás participação em uma usina e conversas com os chineses da Petrochina para investir no setor.

As notícas abaixo comentam sobre os acontecimentos, sendo que a primeira é da Agência Estado, a segunda do Portal do Agronegócio e a terceira do Portal Exame:

Bunge adquire 5 usinas do Grupo Moema por US$ 1,5 bi

A multinacional Bunge fechou ontem, em São Paulo, um dos maiores acordos do setor sucroalcooleiro do País ao adquirir cinco das seis usinas do Grupo Moema, com sede em Orindiúva (SP). O negócio, de US$ 1,5 bilhão, não envolveu dinheiro, apenas a troca de ações da Bunge na Bolsa de Nova York pelas do grupo brasileiro.

Com isso, os acionistas da Moema terão cerca de 9% de participação mundial na gigante do agronegócio. O valor base da troca de ações foi entre US$ 100 e US$ 102 por tonelada de cana processada pelas usinas, que moem 13,5 milhões de toneladas por safra.

O primeiro acordo assinado ontem foi com a Moemapar, holding cujo controle é dividido entre os empresários Maurílio Biagi Filho, Eduardo Diniz Junqueira e ainda filhos de Armando Junqueira. A Moemapar tem cerca de dois terços de participação total no grupo de usinas e controla 100% da unidade Moema, em Orindiúva; 56% da usina Frutal, na cidade homônima no Triângulo Mineiro; 50% da Ouroeste, na cidade paulista, 40% da Guariroba, em Pontes Gestal (SP), e 43,75% da Itapagipe, também em Minas Gerais.

Os outros sócios já firmaram acordo com a Bunge e assinarão a troca de ações nos próximos dias. O acordo, previsto para ser divulgado ontem à noite por meio de comunicado à Bolsa de Nova York, começa a valer no dia 1º de janeiro de 2010 por questões tributárias e fiscais. Entre os sócios da Moemapar nas usinas estão a Agropecuária CFM, o Grupo Arakaki, a Cargill, concorrente da Bunge, e a Humus Agrícola.

Para que o acordo fosse fechado, a Humus, que tinha 50% da Usina Vertente, assumiu a outra metade do controle da unidade que pertencia à Moemapar. Para isso, cedeu os 30% que tinha na Guariroba para o sócio e deixou o negócio. A Bunge, que só fecharia o acordo se todas as unidades fossem envolvidas, precisou ceder.

Além da aquisição feita ontem, a Bunge já tem 80% da Usina Santa Juliana, no Triângulo Mineiro, com moagem estimada em 2,5 milhões de toneladas de cana por safra. A multinacional também tem dois projetos em construção: a Usina Pedro Afonso, no Tocantins, que deve começar a operar em 2010, e a Usina Monte Verde, em Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, também com capacidade inicial de moagem de 1,4 milhão de toneladas, em 2012. (Gustavo Porto)

Petrobras Biocombustível adquire participação em usina de etanol
A Petrobras Biocombustível ingressou no capital social da Total Agroindústria Canavieira S.A., passando a deter 40,4% das ações da empresa, mediante aumento de capital de R$ 150 milhões

Esta parceria marca a entrada da Petrobras Biocombustível na produção de etanol.

A Total possui uma usina de etanol localizada no município de Bambuí, no Estado de Minas Gerais, com capacidade instalada de produção de 100 milhões de litros de etanol hidratado por ano. A parceria viabilizará a ampliação da usina para uma capacidade total de 203 milhões de litros por ano, com um excedente de energia elétrica para comercialização de 38,5 MW, gerada pelo aproveitamento do bagaço de cana-de-açúcar.

A participação em usinas produtoras de etanol e de energia elétrica está alinhada com o Plano Estratégico da Petrobras e irá contribuir para o alcance das metas de produção e comercialização de etanol do Plano de Negócios 2009-2013. Ao todo, estão previstos investimentos de US$ 2,4 bilhões para produção de etanol e biodiesel de 2009 a 2013 (Comunicação Institucional Petrobras).

Petrobras e Petrochina vão estudar parceria em etanol

A Petrobras, sua subsidiária Petrobras Biocombustível e a estatal chinesa Petrochina International Company Limited assinaram um memorando de entendimentos para estudar a viabilidade técnica e econômica de desenvolver projetos de produção de etanol no Brasil. O memorando, que tem prazo de vigência de seis meses, também tem como objetivo avaliar projetos de exportação de etanol para a China, em parceria entre a Petrochina e a Petrobras.

Em nota, a estatal brasileira afirma que, devido à necessidade de adoção da mistura de etanol à gasolina em uma maior parte do território chinês e à falta de condições para abastecer aquele mercado exclusivamente com produção local, a China pretende não só buscar suprimento, mas também investir em produção própria do produto no Brasil. "Neste sentido, a Petrochina considera a Petrobras o parceiro natural para tais empreendimentos, devido ao excelente relacionamento comercial entre ambas as empresas e à possibilidade de sinergias", diz a nota da Petrobras. (Agência Estado)

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Será que vem por aí a Friboi do leite?

Em duas notícias do Valor Econômico de ontem que encontrei no Notícias Agrícolas, comenta-se o fato de uma possível união de 5 cooperativas para formar uma grande empresa do setor de leite. Será que isso irá ocorrer? Somente o tempo dirá...

Cooperativas tentam criar gigante do leite

Cinco cooperativas de produtores de leite negociam união para a criar a maior entidade do setor na AL

Cinco cooperativas de produtores de leite negociam a união de suas operações para a criar a maior entidade do setor na América Latina, com faturamento de R$ 4 bilhões por ano. As negociações envolvem a Itambé, de Minas Gerais, a Centroleite, de Goiás, a Confepar, do Paraná e as também mineiras Cemil e Minas Leite.

Se a negociação for bem-sucedida, as cinco centrais terão uma captação conjunta de pouco mais de 7 milhões de litros por dia. Esse volume é muito superior ao captado diariamente pela DPA - Dairy Partners Americas (5,2 milhões) e pela Perdigão (4,5 milhões), que lideram a atividade.

A concentração já está em curso no setor. Desde 2007, a Perdigão - que hoje integra a Brasil Foods após a união com a Sadia - investe em aquisições. Comprou a Eleva (de lácteos e carnes) e a mineira Cotochés. A empresa gaúcha Bom Gosto, com o apoio do BNDES, fez sete aquisições desde 2007, com investimento de R$ 232 milhões, e hoje capta 4 milhões de litros por dia e fatura R$ 1,6 bilhão por ano.

As negociações para criação da megacooperativa começaram em agosto e já superaram "metade do caminho", segundo uma fonte ouvida pelo Valor. No ano passado, Itambé e Centroleite já haviam conversado, mas as negociações não prosperaram. Na atual fase da negociações, está sendo feita a avaliação dos ativos das cinco cooperativas para definição das participações na nova entidade. A Itambé é maior delas, com cinco unidades processadoras e vendas de R$ 1,9 bilhão neste ano. A Confepar tem duas fábricas e a Cemil, uma. Minas Leite e Centroleite não têm indústrias e apenas captam o produto para revender.

A aglutinação é "uma tendência do cooperativismo", diz o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas. A ideia é "buscar sinergias, baratear custos e rodar menos com o leite in natura". Em busca de fortalecimento no mercado, as cooperativas miram-se nos exemplos bem-sucedidos da neozelandesa Fonterra e da americana DFA, ambas resultantes de fusões de cooperativas. A Fonterra fatura US$ 8 bilhões anuais e responde por mais de um terço do comércio internacional de produtos lácteos.

Uma megacooperativa de leite em gestação

O movimento de concentração chegou às cooperativas de leite. As centrais de cooperativas Itambé, de Minas Gerais, Centroleite, de Goiás, Confepar, do Paraná e as também mineiras Cemil e Minas Leite negociam a união de suas operações, que poderá criar a maior cooperativa de leite da América Latina, com um faturamento de R$ 4 bilhões por ano, conforme apurou o Valor.

Em busca de fortalecimento de seus negócios, as cooperativas miram-se nos exemplos bem-sucedidos da neozelandesa Fonterra e da americana DFA - Dairy Farmers of America, ambas resultados de fusões de cooperativas de leite.

Juntas, as cinco centrais cooperativas brasileiras terão uma captação de pouco mais de 7 milhões de litros de leite por dia, bem acima dos 5,2 milhões de litros captados pela DPA (Dairy Partners Americas), joint venture entre Nestlé e a Fonterra, e dos 4,5 milhões de litros captados pela Perdigão. Os números se referem a 2008, quando DPA e Perdigão ficaram em primeiro e segundo lugar, respectivamente, no ranking de captação da associação Leite Brasil.

A união, se vingar, dará força às cooperativas para enfrentar o avanço de algumas empresas de lácteos do país, que nos últimos anos apostaram na consolidação do setor. Desde 2007, a Perdigão - agora Brasil Foods depois da união com a Sadia - vem investindo em aquisições nesse segmento, no qual faturou R$ 760 milhões até o terceiro trimestre. Comprou a Eleva (de lácteos e carnes) em 2007 e a mineira Cotochés no ano passado.

Também a gaúcha Bom Gosto, com o apoio do BNDES, fez sete aquisições desde 2007, com investimentos de R$ 232 milhões. A captação de leite atual da Bom Gosto é de 4 milhões de litros por dia e o faturamento este ano deve ficar em R$ 1,6 bilhão, informou a empresa em recente entrevista ao Valor.

Com a captação de 7 milhões de litros de leite por dia, a "supercooperativa" processará cerca de 2,5 bilhões de litros por ano de uma produção total do país de 27,5 bilhões de litros. Receberá leite de aproximadamente 40 mil produtores do país.

As negociações para a fusão das cooperativas começaram em agosto e já superaram "metade do caminho", ouviu a reportagem de uma fonte do setor. No ano passado, Itambé e Centroleite já haviam conversado, mas as negociações não foram adiante.

Uma empresa faz atualmente a avaliação dos ativos das cinco cooperativas para definir a participação no resultado da união. A Itambé é maior delas, com cinco unidades. A Confepar tem duas fábricas e a Cemil, uma unidade. Minas Leite e Centroleite não têm indústrias e apenas captam o produto e o revendem para terceiros.

"As cooperativas começaram a conversar para fazer essa aglutinação. É uma tendência no cooperativismo", diz o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas. "Elas querem buscar sinergia, baratear custo, rodar menos com leite in natura. A Itambé está coordenando esse processo do Paraná para cima. A recente filiação da Coonai aqui em São Paulo facilitou as conversas. Há um bom diálogo entre a Itambé e as cooperativas centrais Cemil, Confepar, Centroleite e Minas Leite", afirma Freitas.

No desenho da cooperativa que resultar da fusão, a Itambé, que deve fechar este ano com faturamento de R$ 1,9 bilhão, teria a maior participação. Na semana passada, a mineira divulgou que voltará a distribuir sobras aos seus cooperados. Em 2008, com receita de R$ 2,037 bilhões, teve perda de R$ 31 milhões. Neste ano, vai distribuir R$ 11 milhões.

Os modelos que as cooperativas brasileiras perseguem são o da Fonterra, da DFA e da escandinava Arla Foods. A Fonterra é uma das seis maiores empresas de lácteos do mundo em receita - estimada em US$ 8 bilhões anuais - e é responsável por mais e um terço do comércio internacional de lácteos. Tem 11 mil cooperados e processa mais de 14 bilhões de litros de leite por ano. Foi criada em 2001, resultado da fusão entre a New Zealand Dairy Board, New Zealand Dairy Group e Kiwi Co-operative Dairies.

Já a DFA nasceu em 1998, após a fusão de quatro cooperativas americanas: a Associated Milk Producers, Inc., a Mid-America Dairymen, Inc., a Milk Marketing, Inc. e a Western Dairymen Cooperative. Tem 18 mil cooperados e processa 30 bilhões de litros de leite a cada ano. Em 2008, sua vendas líquidas somaram US$ 11,7 bilhões.

Outro exemplo é a Arla, resultado da fusão de centenárias cooperativas dinamarquesas e suecas. Com atuação internacional, a Arla tinha, em 2007, 8.522 cooperados, captação de 8,5 bilhões de quilos de leite e receita de US$ 9,2 bilhões.

sábado, dezembro 19, 2009

Retrospectiva do Canal Rural - Máquinas, Boi, Frango e Milho

O Canal Rural realizou nesta semana, uma série de entrevistas, todas conduzidas por Nestor Tipa Jr., sobre a retrospectiva de alguns setores do agronegócio brasileiro com seus principais representantes.

As retrospectivas foram realizadas com as seguintes pessoas: Celso Casale da ABIMAQ (Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas), Otávio Cançado da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), Péricles Salazar da ABAFRIGO (Associação Brasileira dos Frigoríficos), Francisco Turra da ABEF (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango), Alessandro Teixeira da APEX-BRASIL (Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos) e Odacir Klein da ABRAMILHO (Associação Brasileira dos Produtores de Milho).

Os textos encontram-se na sequência e para acessar a página original com os textos e links do aúdio da entrevista, cliquem acima na sigla de cada associação.

Abimaq afirma que queda do dólar refletiu no setor
Celso Casale critica excesso de impostos que impactam no custo das máquinas

A valorização do real frente ao dólar foi o principal problema enfrentado pelo setor de máquinas agrícolas em 2009. A avaliação é do presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas, Celso Casale. Apesar do alento do governo federal com o Finame PSI, com a taxa de 4,5% de juro ao ano e com 10 anos de carência, que ajudou as vendas do setor, a projeção de queda no faturamento em relação a 2008 deve chegar a 30%.

- O setor de produção de grãos ficou descapitalizado e teve o preço reduzido em razão da queda do dólar. Com isso ele parou os investimentos.

Mesmo com o incentivo do programa Mais Alimentos, destinando máquinas para agricultores familiares, Casale acredita que apenas alguns fabricantes que produzem equipamentos voltados para este segmento foram beneficiados. Mas reconhece que se não fosse pelo programa, o resultado econômico poderia ter sido pior. O grande problema, de acordo com o dirigente da Abimaq, o setor sofre com excessivas cargas tributárias.

- Isso vai encarecendo os produtos, e isso é uma cadeia. Você começa na produção do aço, passa pela fabricação dos componentes até chegar nas máquinas, que acabam incorporando os custos. Então nós entendemos que máquinas e equipamentos não deveriam ser sobrecarregaos por impostos, pois na máquina é que começa tudo, independente do setor, de ele ser agrícola ou industrial, é o início do processo - afirma.

Casale acredita que os benefícios para a indústria de máquinas não foram suficientes porque o produtor não teve a contrapartida de ganho durante este período de valorização excessiva do real.

- O dólar caiu no mundo inteiro, mas o real valorizou muito mais do que outras moedas. Como a commoditie é cotada em dólar, o preço baixou e isso desestimula o investimento em equipamentos - ressalta o executivo.

Casale explica que a queda do dólar também influenciou no resultado das exportações. Até o terceiro trimestre do ano, houve queda de 52% no faturamento com as exportações de máquinas agrícolas. O reflexo também foi sentido nas feiras agrícolas.

A Agrishow, em Ribeirão Preto, conforme o dirigente, foi atingida pelo auge da crise internacional, o que retraiu a participação das grandes empresas do setor. Sobre os números recordes da Expointer, em Esteio, Casale informa que o resultado se deve aos equipamentos para pequenos produtores.

- Na Expointer, foram máquinas para o Mais Alimentos e tratores de pequeno porte, de pequena potência. A indústria de tratores teve produção equivalente à do ano passado, mas o faturamento caiu porque venderam mais tratores pequenos. E este número que apareceu na Expointer foi em função de tratores de pequeno porte - avalia.

Diretor-executivo da Abiec acredita que crise e dólar frearam exportações de carne
Otávio Cançado também avalia que barreiras da União Europeia atrapalham o setor

A cadeia produtiva da carne bovina viveu um ano de complicações devido à crise mundial, que reduziu a demanda pela carne brasileira. Isto trouxe uma restrição de crédito tanto para os exportadores quanto para os importadores. Mas outro elemento que pegou de surpresa o setor foi a valorização do real frente ao dólar, no período de retomada do comércio mundial, que tirou a competitividade no mercado internacional. O diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, Otávio Cançado, é de que, mesmo com as quedas em volume e receita, ainda foi um ano razoável.

- Até novembro, a queda foi de 25% em valor em dólar e 12% de volume em toneladas. Foi uma queda razoável. Esperamos fechar o ano com uma exportação de US$ 4,5 bilhões contra uma exportação de US$ 5,3 bilhões em 2008 - informa.

Além disso, Cançado salienta que algumas questões no ponto de vista ambiental e social também atrapalharam o setor. Mas a limitação da Cota Hilton pela União Europeia também traz dificuldades para os exportadores de carne. Para ele, a taxa é a mais elevada do mundo.

- Nenhum outro país sofre tantas auditorias e imposições de um bloco, como o da Europa, para ter seu produto no mercado à disposição do consumidor. Botsuana, por exemplo, que foi erradicada de febre aftosa este ano, pode importar para a União Europeia sem nenhuma regra, sem nenhuma imposição a mais do que o Brasil - afirma o dirigente.

Cançado enfatiza que o Brasil é o único país que tem que fazer certificações de fazendas em três etapas, onde a certificadora, o ministério e a União Europeia têm que dar o aval se permite ou não a exportação. Segundo ele, o Brasil sofre uma discriminação em relação a outros mercados, e por isso não consegue cumprir a sua Cota Hilton, que é fundamental para a formação de preço dos frigoríficos e pecuaristas. O diretor da Abiec acredita que, muitas vezes, algumas barreiras comerciais são disfarçadas de barreiras sanitárias para eliminar a competição.

- Com esta competição, eles tendem a tornar o acesso do nosso produto mais difícil a Europa. Ao controlar este acesso eles diminuem a concorrência e continuam subsidiando seus produtores e continuam com uma carne que nem é de tanta qualidade e com indústrias ineficientes.

O objetivo, de acordo com Cançado, é manter a abertura e reabertura de novos mercados, como foi em 2009. Ele cita a reconquista das exportações para o Chile, assim como a manutenção dos Estados Unidos e as exportações para o mercado asiático, em países como Coreia, Japão e China. Sobre os chineses, o executivo da Abiec espera que haja uma desburocratização do processo de exportação.

- Temos que ampliar o nosso mercado na China, que já é aberto, mas é controlado pelo governo, que emite as licenças de importação. Esperamos que estas exportações sejam com licenças automáticas, sem a intervenção governamental.

Presidente da Abafrigo destaca mudanças expressivas no cenário do setor em 2009
Péricles Salazar afirma que concentração de empresas frigoríficas prejudica a concorrência

O setor frigorífico brasileiro em 2009 se caracterizou por profundas mudanças. Houve a consolidação do processo de concentração das grandes indústrias, com a aquisição de plantas e fusão de empresas. Mas o presidente da Associação Brasileira dos Frigoríficos, Péricles Salazar, entende que estes movimentos devem ser vistos com cautela, pois podem trazer prejuízos para o setor.

- Eles consolidaram sua atuação adquirindo outras plantas, inclusive plantas internacionais, e esse processo de concentração, que eu entendo que não é salutar para a cadeia produtiva.

Além disso, ele critica a posição das autoridades em relação às medidas de embargos aos frigoríficos que compraram carne proveniente de áreas de desmatamento. Salazar acredita que houve equívocos do Ministério Público do Pará, baseado em informações também equivocadas do Greenpeace. Estes fatos, segundo o presidente da Abafrigo, fez com que algumas atitudes fossem tomadas sem que houvesse uma culpa por parte da maioria dos produtores e dos frigoríficos.

- Teve frigorífico penalizado porque comprou animais de fazenda que não estavam na lista. Depois que foram ver que não estavam na lista. Com isto prejudicaram a indústria e o conceito do frigorífico indevidamente. Evidentemente que concordamos que não pode haver desmatamento ilegal, não pode haver processo de agressão ao meio ambiente, mas não no excesso que as autoridades querem nos impor.

Outra medida criticada por Salazar foi a do processo de certificação pela Associação Brasileira de Supermercados para certificar e habilitar produtores e frigoríficos, com a intenção de adquirir carnes de empresas que façam a adesão ao processo de certificação dos supermercadistas. Ele afirma que não houve uma consulta ao setor e que a medida não é interessante para a cadeia produtiva.

- Existem vários equívocos no processo. Isto pode inclusive possibilitar a elevação de preços do setor que nós, da cadeia produtiva, não queremos - alerta.

Mas a indústria frigorífica comemora a desoneração da tributação do Pis e Cofins no setor. Salazar destaca que esta é uma vitória depois de quase cinco anos de negociações para o governo. De acordo com ele, o benefício fiscal, que foi concedido aos frigoríficos de mercado interno e também o de mercado externo, com os benefícios de crédito presumido, vão gerar uma nova fase de prosperidade na indústria frigorífica brasileira. O presidente da Abafrigo salienta que a medida também vai tirar diversas empresas da clandestinidade.

- Este fato é extremamente relevante para os frigoríficos e também para a saúde pública, porque agora entendemos que não há mais razão para fazer o abate clandestino. Não havendo o abate clandestino, e os que faziam este abate agora vão poder trabalhar de uma forma mais clara, mais transparente, produzindo com maior qualidade, e isso faz com que haja um benefício à população consumidora no país.

Presidente da Abef acredita que valorização do real prejudicou exportações de frango
Francisco Turra projeta 20% de queda na receita com a desvalorização do dólar e do euro

Apesar de manter estabilidade nos embarques de frango em relação ao ano passado, a receita para os exportadores tem queda de cerca de 20%. Muito se deve à valorização do real frente a outras moedas pelo mundo, como o dólar e o euro. Até o mês de novembro, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango, Francisco Turra, chegava a 25% em relação à moeda norte-americana e a quase 16% frente à do bloco europeu.

- Nós não temos este lastro para termos o Real tão valorizado frente a 30 moedas no mundo. Mundo onde nós temos negócios e o Brasil saiu perdendo. E quando você tem renda, você pode repassar para a cadeia, desde o produtor de insumos, o integrado e para as indústrias, que está fechando o ano no vermelho - ressalta.

Turra afirma que a manutenção dos volumes embarcados se deve à abertura de novos mercados. Só em 2009, foram 24 novos países que compraram o frango brasileiro, 10% da demanda total. Segundo ele, estes novos mercados cobriram a retração de outros países, como a Rússia, Japão, Venezuela e União Europeia. Mesmo assim, o presidente da Abef ainda reclama das barreiras impostas por muitos importadores.

- A União Europeia foi um caso. Repentinamente houve aumento de tarifas nas cotas, mais tarifas, cotas extras que são impossíveis de pagar. E países que abrimos mercados, como a Índia, não conseguimos vender porque a tarifa de lá é de 100%. Se você exporta mil toneladas, você vai dar mil toneladas adicionais para o tesouro da Índia, e isso é impraticável.

Para Turra, o grande destaque do ano foi a abertura do mercado chinês, que evoluiu nas compras no final do ano. Para 2010, a meta é perseguir novos compradores, como México, Indonésia, Malásia, Paquistão e Nigéria. Também são alvo dos brasileiros 20 pequenos mercados para incrementar os negócios.

O presidente da Abef informa que a cadeia produtiva está buscando junto ao governo federal a desoneração de Pis e Cofins para o setor, como ocorreu com a cadeia bovina. Para ele, é difícil manter um trabalho com linhas diferentes, onde o boi está desonerado e o frango com tributos elevados. Mas Turra destaca a conquista da medida do governo relacionada ao drawback verde-amarelo, que é a isenção de tributos que são usados para insumos que servem de ração.

- Para sermos competitivos, não dá para vendermos imposto lá fora, pois o consumidor paga pelo produto - acredita.

Presidente da Apex-Brasil destaca valor do agronegócio para amenizar queda nas exportações
Alessandro Teixeira estima que parcerias comerciais com a China devem se intensificar em 2010

O ano de 2009 como um todo representou uma queda significativa do comércio internacional. Vários países tiveram uma redução profunda nas suas exportações e no seu poder de compra, principalmente países como Japão, União Europeia e Estados Unidos, principais mercados compradores do Brasil. A avaliação é do presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil), Alessandro Teixeira. Para ele, o desempenho do setor do agronegócio foi relativamente melhor do que outros setores da economia brasileira.

- Nós teremos, se continuar um mês padrão, uma queda de 11% a 15% nas exportações do agronegócio. Comparada com a queda dos outros setores, ela está bem abaixo, eu diria quase metade, da queda dos outros setores. Isso mostra que foi um dos segmentos que garantiu a meta das exportações brasileiras, que foi superior às de outros países, principalmente Estados Unidos e União Europeia - afirma.

Teixeira acredita que setores como de carnes e de alimentos industrializados (chocolates, biscoitos, massas e afins) têm crescido bastante. Mas ressalta o potencial de outras cadeias produtivas, como a do leite.

- A bacia leiteira do Brasil cresce. Este ainda é um setor que não exporta em grande quantidade mas tem um potencial muito grande para os próximos anos - ressalta.

O presidente da Apex-Brasil destaca duas novas parcerias no ano de 2009. A primeira, com a Associação Brasileira de Hereford e Braford, com o objetivo de exportar a genética das raças, e com o setor de erva-mate, como produto principalmente de princípio ativo para a indústria cosmética e de bebidas.

- Vários destes setores iniciaram seu processo de exportação, mas não tinham uma estrutura forte. Como os projetos da Apex acabam participando de feiras internacionais, road shows, trazem jornalistas estrangeiros para conhecer o setor, e assim a gente vai melhorando como um todo o setor do agronegócio.

Para 2010, a expectativa é de crescimento nas exportações do setor de alimentos, porque países como China cresceram 8,5% este ano e ano que vem deve manter de crescimento. Teixeira lembra que a China passou a ser o principal parceiro do Brasil em 2009 e deve ser também em 2010, baseado justamente no consumo não só das commodities, mas no setor de agronegócios como um todo.

De acordo com o presidente da Apex-Brasil, o setor de arroz deve ser o novo parceiro da agência para 2010. Ele ressalta que o objetivo é fazer um trabalho parecido com os de cafés especiais, como cafés gourmet, onde estão obtendo resultados satisfatórios. Teixeira acredita que o mote será o de explorar a diversidade de tipos de arroz existentes.

- É um produto que está sendo demandado muito fortemente no mercado internacional, principalmente por China e Índia, que consomem muito - lembra.

Presidente da Abramilho acredita que falta de crédito prejudicou produtores
Odacir Klein avalia que falta de demanda pelo milho trouxe dificuldades para obter melhores preços

Os representantes das principais entidades do agronegócio brasileiro fazem um balanço do ano 2009 e traçam as perspectivas para 2010.

A falta de crédito fez com que não ocorresse reposição de estoques e trouxe dificuldades de mercado para os produtores de milho. Segundo o presidente da Abramilho, Odacir Klein, houve um estoque de passagem abundante, em consequência de que havia milho ofertável em grande volume. Diante disso, para ele, como a demanda não era tão expressiva como no ano anterior, houve problemas durante todo o ano relativos a questão de preço.

— É verdade que houve presença do poder público. A Conab promoveu diversos leilões, principalmente no Centro-Oeste, havia excesso de produção, principalmente originária da safrinha, e isso normalizou um pouco a situação, mas houve dificuldades relativas a preço do milho no decurso de todo o ano — acredita.

Klein informa que em Estados como o Rio Grande do Sul, por exemplo, a estiagem também prejudicou o mercado. Para o presidente, o Rio Grande do Sul é um Estado que, quando produz milho, nas condições normais e sem intempéries, supre o mercado tranquilamente.

— Mas com qualquer dificuldade, nós passamos a não ter condições de abastecimento do mercado em sua plenitude, e foi o que ocorreu neste ano de 2009 em razão da estiagem.

Questionado sobre a desvalorização do Dólar frente ao Real, Klein afirma que a questão cambial afeta mais o mercado do milho em função das dificuldades das exportações de carnes, já que a exportação de milho é reguladora de mercado. Ele diz que o grande consumo é no mercado interno, já que a exportação do milho não é tão expressiva.

— Agora, no momento em que há dificuldade cambial, e os preços dos derivados de milho, principalmente das proteínas animais caem no mercado mundial, há uma transferência desta dificuldade para o produtor de milho que é um abastecedor através do comércio de rações. Então todas estas dificuldades foram muito fortes.

Para o presidente da Abramilho, o ano de 2010 não deve trazer grandes variações cambiais. Em relação aos preços, ele projeta uma demanda interna inclusive com um mercado de derivados de milho, principalmente proteínas animais, melhorando. Em consequência disso, segundo Klein, os preços devem ser razoáveis e estabilizados no decurso de 2010.

Sobre as projeções para a próxima safra, Odacir Klein afirma que haverá uma diminuição de área de plantio, mas de outra parte não há previsão de estiagens tão acentuadas como no ano anterior. Ele salienta que, pela primeira vez, será acentuado de sementes transgênicas, chegando a praticamente metade da área no país, o que irá aumentar a produção.

— Todos os que plantaram sementes trangênicas estão dizendo que tiveram bom resultado, porque o fato de a semente transgênica ser resistente a determinados agentes externos ou permitir a aplicação de determinados defensivos, faz com que haja um aumento de produção ou que não haja quebra de produção por causa da ação destes agentes externos - afirma Klein.

O presidente da Abramilho não estima perdas significativas devido aos temporais dos últimos tempos no sul do Brasil.

— Eu tenho recebido informações de que pode haver prejuízo, mas não será um prejuízo tão acentuado. Acentuado seria realmente falta de chuva, falta de água em época que elas são necessárias para a planta.

domingo, dezembro 13, 2009

Dólar fraco atrapalha pecuária brasileira

A situação da pecuária bovina brasileira em função da cotação do dólar foi tema de várias notícias na última semana. Abaixo seguem notícias do Notícias Agrícolas (primeira notícia do Estado de São Paulo de 13/12 e segunda do Valor Econômico de 11/12) e do BrasilAgro (Estado de São Paulo de 10/12) comentando sobre o preço da carne, o impacto no confinamento e o impacto na produção mundial.

Entretanto, a quarta e última notícia, encontrada no AviSite hoje, mostra que apesar de tudo, o consumo interno ainda está em alta e quando consideramos todos os tipo de carne, comemos mais carne do que os países desenvolvidos.

Valorização do real faz da carne brasileira a mais cara do mundo, mostra Estadão

Arroba sobe de US$ 25 para US$ 44 e faturamento do setor cai 22%, por José Maria Tomazela, em O Estado de S. Paulo

A carne bovina brasileira passou a ser a mais cara do mundo, mas isso não impede que o setor enfrente uma de suas crises mais graves. A valorização do real em relação ao dólar elevou o preço da arroba brasileira, historicamente cotada em US$ 25, para US$ 44. Com isso, o País perdeu competitividade ante outros exportadores, como Austrália, Argentina e Uruguai.

A redução nas exportações, sobretudo de cortes mais valorizados, por causa da crise internacional, provocou uma queda de 22% no faturamento do setor e teve influência na redução do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, segundo a Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato). "Perdemos o mercado europeu, que era o que mais remunerava, pois levava só filé mignon e carne de primeira", disse o pecuarista e consultor da Famato, Luiz Carlos Meister.

Os efeitos ainda são sentidos no campo. Somente em Mato Grosso, seis unidades frigoríficas estão paradas. Outras nove que também suspenderam os abates voltaram a operar depois de serem absorvidas por outros grupos. Em Mato Grosso do Sul, 11 unidades frigoríficas continuam com o abate suspenso ou reduzido.

No Estado de São Paulo, pecuaristas tradicionais veem com preocupação a forte redução na renda. De acordo com o criador de gado de elite José Fernandez Lopez Netto, vice-presidente do Sindicato Rural de Itapeva, o preço da arroba do boi recuou de mais de R$ 90 para a faixa de R$ 75. "Os preços de insumos, minerais e medicamentos não caíram na mesma proporção."

Segundo ele, o pecuarista pagou caro pelo bezerro e a relação de troca, na venda, não é boa. "O produtor vê o mercado frouxo e investe menos em genética." Muitas empresas de genética bovina do sudoeste paulista estão paradas. "A renda da pecuária caiu tanto que, para o criador conseguir salário igual ao de um soldado, precisa manter 300 vacas." Ex-presidente da Associação Paulista de Criadores de Gado Pardo-Suíço, Lopez Netto vê a atividade encolher no Estado.

"Muitos criadores arrendaram o pasto para usina de cana." No setor de frangos e suínos o faturamento diminuiu, respectivamente, 18% e 14% este ano. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), a queda nas exportações de janeiro a outubro deste ano foi de 29%. Os volumes embarcados tiveram pequeno crescimento em relação a 2008, mas os preços ficaram muito abaixo.

Para o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, o real valorizado é um dos principais fatores da perda de rentabilidade dos produtores. Ele defende intervenção do governo no câmbio.

Crise faz confinamento de bovino recuar 20% no país

Para Assocon, concentração dos frigoríficos agrava situação

Confinadores de bovinos, que tiveram de colocar o pé no freio este ano por conta da crise, avaliam que a concentração no setor de carne dificultará ainda mais a vida dos criadores. A saída de vários frigoríficos do mercado e as operações de fusão e aquisição no setor reduziram as opções dos pecuaristas na hora de vender o gado.

De acordo com Ricardo Merola, presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), em algumas regiões há a opção de vender para apenas um frigorífico. É o caso de Campo Grande (MS), onde Bertin e JBS S.A., que se uniram em setembro, têm duas unidades, com capacidade de abate de 6.500 cabeças por dia. "Você vende para a JBS ou não vende", disse. Em Rondônia, a situação é semelhante, segundo o dirigente.

Diante desse quadro, a Assocon defende que a análise sobre a concentração em relação a Bertin e JBS, que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) realiza, seja feita regionalmente. Atualmente, a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) faz um levantamento sobre a concentração que as recentes operações geraram. Além da união JBS e Bertin, a Marfrig também arrendou várias unidades que pertenciam ao Margen e ao Mercosul.

Procurada, a Bertin disse, por meio de nota, que "a fusão entre JBS Friboi e Bertin ainda está sendo julgada pelos órgãos reguladores nacionais e internacionais. Acreditamos que a operação será aprovada, já que não representa concentração nos Estados em que as empresas atuam."

Questionada, a JBS disse, em nota, que "a companhia entende que ganhos de escala levam a importantes ganhos de eficiência, que beneficiam todos os elos da cadeia e que a participacao de mercado da JBS será de 16% no Brasil".

Além da maior concentração, a expectativa é de nova queda nos confinamentos em 2010, de cordo com o presidente da Assocon. A entidade reúne 47 confinadores no país. Neste ano, segundo Merola, o número de animais confinados pelos associados da Assocon ficou em 374 mil bois, quase 25% menos que os 498 mil de 2008. Para o confinamento em todo o país, a Assocon estima uma queda de 20%, para 2,3 milhões de cabeças.

Merola disse que as margens negativas no segmento levaram muitos confinadores a fazerem apenas um turno de produção. "O criador abortou o segundo turno quando viu que estava perdendo dinheiro". Ele afirmou que houve disputa por boi magro e os preços acabaram superando os do boi gordo.

O recuo no confinamento este ano também decorreu da saída de fundos de investimentos do negócio por causa da crise, disse Merola. Eles atuavam em parcerias com criadores e saíram devido às restrições de crédito. Frigoríficos também foram mais cautelosos. Sem citar nomes, Merola disse que um deles não confinou nada este ano.

Brasil reduz comércio global de carne, diz FAO

Produção brasileira cai 3% e causa contração mundial.

Diante da valorização do real, da situação dos abatedouros e da recessão mundial, 2009 terminará com uma contração substancial nas exportações de carne do Brasil, com implicações no mercado mundial. No setor do frango, a retração será a primeira em 15 anos. Os dados foram publicados ontem pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

A entidade, com sede em Roma, estima que 2009 fechará com queda de 6% no comércio mundial de carnes. A produção também ficará abaixo de 2008, com 282 milhões de toneladas. Outra queda é a do consumo per capita, que cairá de 42 quilos para 41,7 quilos por ano.

Grande parte da queda no comércio mundial, segundo a FAO, é provocada pelo Brasil. A produção no País deve ser 3% inferior à de 2008. No setor de carne bovina, a previsão é de contração de 4,5%, totalizando 6,7 milhões de toneladas de vendas. "Grande parte do declínio ocorre por causa do Brasil, o maior fornecedor do mundo, onde as entregas vão cair em 14%", afirma a FAO. Entre os fatores negativos, estão a queda nos preços internacionais, a valorização do real e a demanda fraca em mercados consumidores.

Para 2010, a projeção é um pouco melhor, com alta de 2% nas exportações. Mas ainda inferior a 2007 e 2008. O crescimento em 2010 virá essencialmente do Brasil.

No setor do frango, a previsão é de queda na produção mundial em 2009, para 91,9 milhões de toneladas. Mais uma vez, a culpa é do Brasil, o maior exportador. A estimativa é de que a queda no País será a primeira em 15 anos no setor.

"No Brasil, o fornecimento de frango foi deprimido por causa de restrições à exportações, valorização da moeda local, falta de créditos e queda nos mercados consumidores", afirma a FAO. As exportações só cresceram para o Oriente Médio, com a redução de tarifas de importação na Arábia Saudita. Para 2010, a previsão é de retomada das exportações em 4%.

GANHOS

Se o setor de carnes foi duramente afetado, o de leite e o de açúcar apresentaram lucros. A produção de leite no Brasil permaneceu inalterada em 28 milhões de toneladas em 2009. Mas as exportações aumentaram 40% no ano, superando pela primeira vez a marca de 1 milhão de toneladas.

Segundo a FAO, em 2002 o Brasil importava 1 milhão de toneladas de derivados do leite. Mas conseguiu promover uma substituição de importação. Para proteger produtores, o governo impôs cotas de importação.

No caso do açúcar, os preços altos ainda beneficiaram os exportadores. Em agosto, a FAO calculou que o produto atingiu o maior valor em 28 anos: US$ 25,18 por libra. Em outubro de 2008, eram US$ 11,9 por libra. Parte da alta nos preços ocorre porque o consumo continua a ser mais forte que a produção, pelo segundo ano consecutivo.

Outro fator é a produção no Brasil, que não cresceu entre 2008 e 2009 por causa das chuvas que atrapalharam a safra. A estimativa é de que o ano termine com 38 milhões de toneladas em produção. Apesar disso, o Brasil deve ter alta de 5% nas exportações, atingindo 25 milhões de toneladas de vendas. Metade dos ganhos mundiais com o crescimento nas exportações do açúcar virão do Brasil. Índia, Europa e Rússia devem ter alta nas compras. Já a China deve importar 200 mil toneladas a menos em 2010 diante de sua maior produção.

A alta nos preços ainda levou produtores no mundo a reduzir a taxa do uso do produto para o etanol. Em 2008, 40% da produção ia para o consumo, e não para combustível. Em 2009, essa taxa chegou a 43%. A alta nos preços ainda levou produtores no mundo a reduzir a taxa do uso do produto para o etanol.

A alta do preço do açúcar não é a única. Segundo a FAO, os preços globais de alimentos voltaram a subir nos últimos meses. Porém, dessa vez os motivos não foram os mesmos de dois anos atrás, quando a crise provocou protestos em todo o mundo.

NÚMEROS
Carnes: Brasil tem consumo de Primeiro Mundo

Campinas, 16 de Dezembro de 2009 - Consideradas as últimas projeções da Organização Mundial para Agricultura e Alimentação (FAO), o consumo per capita de carnes dos brasileiros não apenas se iguala como também supera aquele registrado nos chamados Países Desenvolvidos – ou, simplesmente, de Primeiro Mundo.

No Brasil (projeções do Ministério da Agricultura para 2009) o consumo das três carnes é estimado em 85,3 kg – 39,6 kg de carne de frango; 32,2 kg de carne bovina; e 13,5 kg de carne suína. – e, assim, deve superar em 4,3% o consumo estimado pela FAO para os Países Desenvolvidos.

Sob o aspecto do consumo de carnes, aliás, o Brasil não se encaixa na categoria de País em Desenvolvimento, pois seu consumo per capita é quase três vezes maior – 85,3 kg contra apenas 31 kg per capita, 175% de diferença.

Por fim, os brasileiros consomem o dobro da média mundial, calculada pela FAO em 41,7 kg.


sábado, dezembro 12, 2009

Veja o tamanho do subsídio agrícola europeu

No post anterior falamos sobre o protecionismo com o café e encontrei no BrasilAgro o artigo abaixo originalmente publicado no CidadeBiz mostra o tamanho do subsídio europeu. É um valor impressionante...

Subsísidio agrícola custa à Europa US$ 74 bi/ano, 15 vezes sua oferta aos pobres em Copenhague
Antonio Machado

Estudo da Austrália revela que protecionismo europeu subtrai US$ 45 bilhões/ano do bem-estar no mundo.

As assimetrias de intenções dos 192 países, entre ricos, pobres e emergentes, reunidos em Copenhague para o grande acordo, sob a chancela das Nações Unidas, que salve o planeta das agressões ao meio ambiente pelas emissões de carbono reproduzem de forma fiel as desigualdades e hipocrisias em suas relações comerciais.

Fora o compromisso do corte de emissões de CO2, mandatório para os países ricos, voluntário para os demais, definiu-se que nesse esforço os mais necessitados deverão ser amparados com repasses dos desenvolvidos - responsáveis ao longo dos anos pelos maiores danos ambientais no mundo -, para que também possam enquadrar-se a um sistema econômico mais verde. Mas também mais igualitário.

O senso de correção dos governos ricos, rigorosos ao cobrar dos “outros” práticas ambientais civilizadas, ruiu com dois dias de reuniões. EUA e União Européia se comprometem a entregar US$ 10 bilhões anuais entre 2010 e 2012 para distribuir entre mais de 150 países. Um grão de areia para um esforço estimado entre US$ 70-100 bilhões pelo Banco Mundial, ou US$ 200 bilhões, na conta do Grupo dos 77, de países em desenvolvimento, que inclui China, Índia - 1º e 3º maiores emissores de CO2 no mundo -, e Brasil.

Que os grandes emergentes, como China e Brasil, fiquem de fora, como querem os ricos, mas o governo da Índia já disse recusar a discriminação, e ainda é irrisória a ajuda que oferecem. Não há provisão para mais, alegam, pelo menos nestes tempos de economia em crise no mundo rico e eleitores irritados com os resgates de bancos falidos, recessão, desemprego e a expectativa de aumento de juros e impostos quando a conjuntura se amainar.

Os motivos de cada lado são reais. A popularidade do presidente Barack Obama, por exemplo, já desliza para menos de 50%, a taxa de desemprego passa de 10% e mais de 90% dos americanos atribuem o fenômeno do aquecimento da Terra, segundo pesquisa do The Wall Street Journal, a causas naturais, não à ação do homem. Na União Européia, a disposição em roçar o bolso é ainda menor.

Não espanta que, ao chegar a hora de pagar essa conta do ajuste dos danos ambientais, uma espécie de termo de conduta global, a cúpula do clima na fria Copenhague tenha esquentado. Documento da Dinamarca, com pretensão de síntese dos 32 países ricos, deu o tom: a obrigatoriedade do corte de emissões de CO2 valeria a todos os países, inclusive aos pobres, e o plano seria limitado a 2013, sem qualquer compromisso com os anos seguintes.

CONFRONTO DELIBERADO

A ser desse modo, ou com o custo de ajuste climático só sobre o mundo rico, conforme proposta alternativa do governo chinês, não há expectativa de acordo nenhum.

A intenção do confronto parece deliberada, de modo a ir arrastando o desfecho, meio assim como os impasses em torno do protecionismo que impedem a conclusão da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), que desde 2001 persegue um acordo de liberalização comercial no mundo.

DE DOHA A COPENHAGUE

O paralelo com Doha é pertinente, pois o custo do protecionismo no mundo rico equivale, sobretudo na União Européia, a tudo o que os países pobres precisam para aderir à corrente do bem pelo meio ambiente.

A maioria extrai a energia que consome de usinas movidas a carvão, cuja substituição requer acesso a tecnologias e dinheiro que financie a reciclagem do modo de produção.

A União Européia, por exemplo, precisa das maciças despesas com a sua Política Agrícola Comum (CAP, em inglês), que subsidia com pagamentos diretos aos agricultores da comunidade a produção de alimentos e os protege com tarifas, cotas de importação e regras fitossanitárias contra a concorrência de países mais eficientes, como Brasil, Argentina, Austrália?

A resposta tem conexão direta com o sucesso ou fracasso da cúpula de Copenhague.

POBRE SUBSIDIA EUROPA

Conforme estudo recente da Productivity Commission, um órgão do governo da Austrália, o protecionismo agrícola equivale a 46% do gasto total da União Européia, ou € 50 bilhões (US$ 74 bilhões), 15 vezes acima do que ela oferece mundo pobre em Copenhague.

Os subsídios, segundo o estudo, deprimem os preços globais dos produtos contemplados entre 1% e 4%, chegando a 12,7% na carne bovina exportada pela América Latina.

Em termos líquidos, o bem estar do mundo é subtraído de US$ 45 bilhões ao custo de US$ 30 bilhões para a Europa. É isso: Copenhague e Doha têm tudo a ver.

POLUIÇÃO PROTECIONISTA

A globalização não é só econômica e cultural. Tudo que importa aos países também está interligado. Não há como supor um acordo na cúpula do clima desconectado do tratado de Doha, já que, de todos os modos, tudo está ligado – da transferência de know-how ambiental, protegido por patentes, a incentivo à produção verde de bens industriais e agrícolas, regulados pelas normas da OMC.

O que uma cúpula decidir vai afetar a outra. Como o estudo do governo da Austrália revela, o protecionismo agrícola da Europa aumenta os demais preços não protegidos no mundo, e uma economia “descarbonizada” implica mais custos. Uma coisa compensa a outra.

Protecionismo acaba com café solúvel do Brasil

Em virtude do protecionismo europeu, a indústria do café solúvel brasileira passa por maus momentos. Na contramão do movimento de agregação de valor, existe grande pressão externa para que o Brasil diminuia suas exportações de café solúvel e continue somente exportando grãos. Enquanto isso no mercado interno observamos um movimento de sofisticação do consumo de café.

O artigo abaixo, que encontrei no Notícias Agrícolas, é de autoria de Ruy Barreto Filho, CEO do Café Solúvel Brasília, publicado no Estado de São Paulo comenta a situação e propões algumas ações para reverter este quadro:

O desmanche da indústria do café solúvel

A indústria brasileira do café solúvel amargou uma queda de 20% em suas exportações somente no período de janeiro a outubro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2008. O dado é alarmante, sobretudo se considerarmos que o setor já vinha perdendo mercado ano a ano, na contramão do aumento do consumo do produto em todo o mundo.

O paradoxo dessa contínua perda de mercado está no fato de a indústria brasileira operar com alta produtividade e a qualidade de seu solúvel ser reconhecida por consumidores das dezenas de países para os quais é exportado. Cabe ressaltar que o produto nacional se distingue como o mais competitivo em preço entre os seus concorrentes mundiais, especialmente os europeus.

Qual a razão, então, para a débâcle que, caso perdure, significará a erradicação da indústria de solúvel nacional?

A explicação está na omissão do governo brasileiro, que tem se esquivado de tomar medidas para garantir que o solúvel brasileiro possa competir no mercado exterior em igualdade de condições com os seus principais concorrentes.

Inexplicavelmente, o governo brasileiro tem aceitado passivamente uma sobretaxa de 9% imposta pela União Europeia ao solúvel nacional. Justamente a União Europeia, que é o maior consumidor do produto em todo o mundo.

O Ministério da Agricultura brasileiro, seguidamente alertado sobre o problema, afirma que nada pode fazer diante das pressões internacionais. A afirmação é de estarrecer, pois cabe ao governo brasileiro defender o produtor nacional de práticas abusivas e anticoncorrenciais.

A União Europeia impõe a barreira tarifária usando o discurso falacioso de que é preciso proteger nações produtoras de solúvel que são mais pobres do que o Brasil. Assim, a sobretaxa de 9%, que já vigorara na década de 1990, foi ressuscitada em 2006 sem que o governo brasileiro nada fizesse. O Ministério das Relações Exteriores, tão zeloso quanto a assuntos que não são necessariamente do interesse direto dos brasileiros, como a crise política em Honduras, no embate sobre o café permanece silente.

As autoridades brasileiras, tanto na Agricultura quanto no Itamaraty, não percebem ou fingem não perceber, por comodidade, que os beneficiados com a sobretaxa da União Europeia são os nossos concorrentes diretos, ou seja, indústrias europeias com fábricas de solúvel em países da África, Ásia e da América do Sul, livres da sobretaxa imposta ao Brasil.

Enquanto isso, a indústria brasileira de solúvel caminha célere para a erradicação completa, diante da estarrecedora inação de um governo que, na propaganda oficial, incentiva o produtor nacional a ser mais competitivo e conquistar novos mercados.

Não bastasse a deslealdade da União Europeia - cuja postura fere todos os princípios liberais que deveriam reger as relações comerciais no mundo contemporâneo -, o governo brasileiro ainda impõe à indústria de solúvel brasileiro mais um obstáculo, ao impedir que o setor importe café em grão dentro do regime de drawback (importação de matéria-prima visando à exportação de manufaturado).

Ressalte-se que nossos concorrentes se beneficiam do drawback importando café inclusive do Vietnã, hoje o segundo maior produtor de grão do mundo graças à visão estratégica de seus governantes.

Não há razões técnicas ou mesmo políticas que sustentem tais condutas por parte do Ministério da Agricultura, em particular, e do governo Lula, de modo geral.

Cabe lembrar que o quadro de desmanche da indústria do solúvel ganha uma dimensão mais grave, tendo em vista a sua repercussão em toda a chamada "cadeia do café", segmento que engloba a lavoura, a moagem e a torrefação, empregando cerca de 5 milhões de brasileiros. O solúvel mobiliza essa cadeia. Tanto que, quando se fala em drawback, o mecanismo é discutido como fonte suplementar, sem prejuízo para a lavoura nacional.

Somente o solúvel pode agregar valor às exportações de café e abrir novos mercados, além daqueles tradicionalmente - há mais de 100 anos - ocupados pelo produto em grão. O mercado em expansão em todo o planeta é o mercado do solúvel. O produto em grão já alcançou todas as suas fronteiras. Mas, pelo visto, o governo prefere que o País, neste setor, permaneça como mero fornecedor de matéria-prima, não se importando com o fechamento de suas indústrias.

Ainda há tempo para reverter o quadro. Mas para tanto é preciso ação! Com a palavra, o governo brasileiro.