segunda-feira, abril 20, 2009

Importar alimentos não basta, tem que ter controle da produção

Na edição de 15 de abril do Valor Econômico sairam duas reportagens sobre o mesmo tema: países procurando local para produção agrícola em outros países. Este tema também está presente em uma reportagem da edição de abril da Dinheiro Rural.

Nas reportagens do Valor, que encontrei no BrasilAgro e estão abaixo na íntegra, são comentados os projetos da Arábia Saudita e da Hyundai e na revista temos ainda o projeto de um grupo também sul-coreano que está investindo em Madagascar, o projeto do Catar em 40 mil hectares no Quênia, projeto chinês no Sudão e um dos Emirados Árabes Unidos na Indonésia. A figura abaixo resume estes projetos:


No fundo, o que todos buscam é a segurança na produção de alimentos. Isto só reforça a importância de nossa área agriculturável.

Arábia Saudita cria estatal para produção agrícola no exterior

A Arábia Saudita está alocando US$ 800 milhões numa nova companhia pública que investirá em projetos agrícolas no exterior, sinalizando um grande avanço nas tentativas sauditas de terceirizar o abastecimento das necessidades alimentares do país.

A provisão de recursos públicos, que se somam aos esforços do setor privado, para assegurar o suprimento de alimentos ocorre no rastro da crise dos alimentos do ano passado e da decisão saudita de reduzir progressivamente a produção interna de trigo para conservar recursos hídricos.

Abdullah al-Obaid, vice-ministro da Agricultura, disse que a nova estatal apoiará as empresas privadas sauditas investindo no exterior por meio de parcerias, com o propósito de reduzir a dependência do país nas importações.

"Alguns dizem: ´Porque vocês estão fazendo isso se já veem importando há muito tempo?´ Mas nós gostaríamos de assegurar [o suprimento de alimentos] por nós mesmos, esta é a questão", disse Al-Obaid ao "Financial Times".

O capital inicial de US$ 800 milhões seria um "primeiro estágio" e poderia ser incrementado. Richard Warburton, responsável pelo setor de agronegócios na consultoria britânica Bidwells, disse que esse fundo é "enorme no mercado atual de agro-investimento". "Conseguir efetivar as operações será extremamente desafiador nesta escala", disse.

A nova companhia pertencerá ao estatal Fundo de Investimento Público e será chamada Companhia Saudita para Investimento Agrícola e Produção Animal.

Rica em petróleo, a Arábia Saudita importa quase todos os alimentos que consome. O país estabeleceu um programa no ano passado para investir em agricultura no exterior, depois que importantes países exportadores de alimentos restringiram suas exportações. Segundo Obaid, o objetivo é acumular reservas estratégicas de arroz e trigo equivalentes a no mínimo três a seis meses de consumo.

A Arábia Saudita espera que o setor privado seja o principal investidor nos projetos no exterior, com o governo facilitando os acordos, oferecendo crédito, negociando acordos bilaterais e ajudando com infraestrutura.

O governo está elaborando uma "lista final" de pelo menos 20 países que recomendará às empresas sauditas, disse Obaid. As autoridades têm mantido contato com países da África, Ásia e Leste Europeu, bem como com Austrália e, recentemente, Argentina. O tamanho mínimo de cada empreitada seria de 50 mil hectares, disse.

O governo já havia decidido reduzir gradualmente a produção interna de trigo até 2016, depois de concluir que seu programa de cultivo, implantado no fim da década de 70, não era mais sustentável, considerando-se as finitas reservas de água do país desértico. A Arábia Saudita vinha produzindo 2,5 milhões de toneladas de trigo ao ano antes de começar a reduzir o plantio. Especialistas avaliam que neste ano o país importará aproximadamente 1,5 milhão de toneladas de trigo, tornando-se um participante expressivo no mercado mundial de cereais.

Algumas empresas sauditas, que haviam começado a cultivar trigo no país, disseram que estão interessadas em produzir no exterior. Observadores, porém, questionaram o apetite do setor privado em se envolver, e o dinheiro do governo é considerado fundamental para o sucesso do programa.

O plano suscita o temor de que a Arábia Saudita e outros ricos países do Golfo Pérsico exportem a partir de países pobres na África, que sofrem escassez crônica de alimentos. Obaid tentou dissipar esse temor dizendo que, apesar de "grande parcela" da colheita ser exportada, os sauditas deixarão parte dos alimentos que produzirem no mercado local.

Hyundai compra terra para plantar na Rússia


O grupo de indústria pesada sul-coreano Hyundai anunciou ontem que planeja arrendar 50 mil hectares no extremo leste da Rússia, em mais um sinal de que Seul pretende assegurar o fornecimento de alimentos ao país com a produção agrícola no exterior.


Uma tentativa anterior dos sul-coreanos de fazer algo parecido - um plano da Daewoo de arrendar 1,3 milhão de hectares em Madagascar - naufragou recentemente depois que o governo da ilha foi derrubado e o novo presidente cancelou o projeto.


País densamente povoado, mas pobre em recursos naturais, a Coreia do Sul é o quarto maior importador de milho do mundo e um dos dez maiores compradores de soja. A Hyundai disse que pretende plantar milho e soja em terras russas e "ajudar os pecuaristas sul-coreanos a se livrar das repentinas variações de preços e da escassez de fornecimento".


A Hyundai disse que, como primeiro passo, adquiriu uma participação majoritária de 67,6% na Khorol Zerno, uma empresa agrícola russa que explora 10 mil hectares no extremo leste do país, por US$ 6,5 milhões. O conglomerado sul-coreano vai investir mais US$ 9 milhões para expandir a fazenda para 50 mil hectares até 2012. E planeja gerenciar o projeto diretamente, "mandado uma equipe permanente para o local".


A procura por investimentos em fazendas no exterior é um claro sinal de como os países estão tentando melhorar a segurança alimentar doméstica, depois da crise do ano passado, quando commodities como trigo e arroz alcançaram preços recordes e foram criadas barreiras comerciais criadas pelos países exportadores para garantir o abastecimento de seus próprios mercados domésticos.

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