quarta-feira, dezembro 31, 2008

Cotações das commodities despencam em 2008 em NY

Para terminar os posts sobre cotações, obtive também no Wikinvest cotações da principais commodities brasileiras cotadas na Chicago Board of Trade (CBOT)- milho e soja, New York Mercantile Exchange (NYMEX)- açúcar, café e cacau e New York Board of Trade (NYBOT) - algodão e suco de laranja durante todo o ano, sempre considerando-se o último vencimento:









Podemos verificar que, excessão do cacau, as demais commodities tiveram queda no preço neste ano e que todas as quedas abruptas ocorreram no final de setembro, época do agravamento da crise, mostrando como os fundos rapidamente retiram suas posições nas commodities.

Como investimento, o resultado final da médias das commodities também foi parecido ao da Bovespa e da NYSE, ou seja, de cada 100 dólares investidos em janeiro de 2008, o investidor chegou em dezembro com apenas cerca de US$60 a 65

Ações do agronegócio também caem em Wall Street

Aproveitando a análise que fiz sobre o desempenho das empresas do agronegócio na Bovespa, resolvi fazer uma análise semelhante em Wall Street para verificar se os comportamentos eram semelhantes.

Foram escolhidas 12 empresas baseados na lista da Fortune500 considerando-se os setores de produção de alimentos, produtos alimentícios de consumo e produtos florestais e papel. As 12 empresas escolhidas encontram-se na tabela e nos gráficos abaixo:





Os dados e os gráficos foram obtidos no site Wikivest, inclusive mostrando algumas anotações criadas pelos usuários para eventos importantes relacionados com as empresas. Para acessar o site, clique aqui.


Podemos observar que o desempenho médio das ações foi muito parecido com as ações da Bovespa, sendo que somente a General Mills teve desempenho positivo. Quando comparamos as ações com os 3 principais índices da bolsa de Nova Iorque, Dow Jones, Nasdaq e S&P 500 que teve média igual a 62,8, verificamos que o desempenho médio das ações ainda foi ligeiramente superior à média das bolsas.

Como conclusão temos que, lá como cá, o desempenho do setor do agronegócio foi ligeiramente superior aos demais setores.




Ações recomendadas pela Exame - Análise Final

Desde o início do ano venho acompanhando 4 ações de empresas do agronegócio brasileiro recomendadas por alguns analistas à revista Exame na edição de 07 de fevereiro. As ações são:
  • Sadia (SDIA4)
  • Perdigão (PRGA3)
  • SLC Agrícola (SLCE3)
  • Aracruz (ARCZ6)

As expectativas eram de crescimento e podem ser encontradas no post de 09 de julho com o título de Ações do Agronegócio recomendadas pela Exame, bem como os resultados do primeiro semestre e a a comparação com as 6 maiores empresas do Anuário Exame do Agronegócio e adicionei por minha conta, mais duas empresas do setor sucroalcooleiro (setor em expansão).

A análise feita no primeiro semestre mostrou um excelente desempenho das ações recomendadas, com crescimento superior à média das outras oito empresas e ainda melhor do que o Índice Bovespa, entretanto a crise chegou....

Abaixo temos o gráfico mostrando o comportamento das ações durante todo o ano, que nos mostra que até o final de setembro, as ações recomendadas pela Exame (Índice Exame) tiveram um desempenho melhor do que as demais do agronegócio e ainda melhor do que o Índice Bovespa.

Porém com o agravamento da crise, o Índice Exame caiu abaixo das demais e permaneceu até o final do ano nesta condição. Podemos observar que as demais ações do agronegócio tiveram um desempenho muito similar ao do Índice Bovespa nos 3 últimos meses do ano.

Mas, como era esperado, a maior parte das ações tiveram um desempenho péssimo durante o segundo semestre devido à crise mundial. Entretanto, vale a pena ressaltar que, conforme mostrado nos dois gráficos abaixo, as ações da SLC Agrícola, Souza Cruz e JBS Friboi conseguiram ter um desempenho ligeiramente superior às demais.

Os piores desempenhos foram de Sadia, Aracruz e Votorantim Celulose e Papel principalmente devido aos problemas com derivativos de dólar.

De modo geral, durante grande parte do ano, as ações vinculadas ao agronegócio tiveram um bom desempenho quando comparadas ao Índice Bovespa devido, principalmente, a qualidade da nossa produção agroindustrial, porém a queda nos preços das commodities agrícolas devido à queda da demanda mundial e também a problemas no câmbio fez com que a queda fosse maior nestas ações tornando-as, em alguns casos, um pior investimento quando comparado à aplicação na Bovespa como um todo.

Resta agora esperar o próximo ano para observar se as perdas serão recuperadas e os fantásticos números do primeiro semestre na Bovespa se repitam.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Embrapa desenvolve alternativa aos fertilizantes importados

A agricultura moderna é cada vez mais dependente de fertilizantes que são derivados do petróleo, além disso o Brasil importa quantidade representativa deste insumo, que no futuro pensará ainda mais em nossa balança comercial. A Embrapa desenvolve pesquisas visando a diminuição desta dependência, bem como um aumento no grau de sustentabilidade de nossa agricultura. A notícia abaixo foi publicada na Gazeta Mercantil de sexta-feira passada:

Projeto reduz dependência externa de nutriente

SÃO PAULO, 26 de dezembro de 2008 - Em parceria com empresas do setor privado, a Embrapa Solos está desenvolvendo fertilizantes orgânicos à base de resíduos industriais. Com isso, o Brasil poderá reduzir a importação de nutrientes, que representa atualmente 75% do total de 30 milhões de toneladas consumidas por ano.

Segundo o pesquisador José Carlos Polidoro, um dos coordenadores do projeto, atualmente o país importa 75% dos nutrientes que consome na agricultura, seja em resíduos orgânicos ou minerais, o que corresponde a um total de 22 milhões a 24 milhões de toneladas por ano. Quanto ao potássio, o país importa anualmente 92% do volume consumido. "E a tendência é aumentar."

A Roda d'Água, de Minas Gerais, foi a primeira empresa privada que procurou a Embrapa, interessada em criar produtos inéditos no mercado de agricultura orgânica, desenvolvendo fertilizantes próprios para a agricultura tropical, para maior aproveitamento dos nutrientes. Polidoro disse que o objetivo da Embrapa Solos é estimula empresas nacionais que já produzem fertilizantes orgânicos por processos não-tecnológicos, baseados na simples compostagem de resíduos orgânicos, oferecendo apoio tecnológico para que seus produtos tenham garantias técnicas mínimas que substituam o produto importado.

Inicialmente, a Embrapa Solos aproveitará resíduos usados pelo grupo Roda d'Água como matéria-prima - resíduos de cervejaria, como bagaço da cevada, fornecido pela Ambev, e do restaurante industrial da montadora de automóveis Fiat, para transformar em fertilizante orgânico. "O que queremos agora é aprimorar esse fertilizante."

De acordo com Polidoro, o produto atende as exigências para registro no Ministério da Agricultura. "Só que não compete com o fertilizante mineral importado, porque tem teor muito baixo de nutrientes." Com esse serviço, a Embrapa busca usar sua tecnologia para colocar no mercado um fertilizante em condições de competir com o importado.

Outro aspecto positivo é a proteção do meio ambiente por intermédio do reaproveitamento de resíduos na produção do fertilizante. Para Polidoro, o uso de fertilizantes adequados é um dos fatores necessários para a agricultura orgânica brasileira alcançar alta produtividade com baixo impacto ambiental. "Aí, torna-se uma atividade profissional, que sempre se deve procurar na agricultura." A terra preta, fertilizante encontrado comumente em supermercados, não é um insumo adequado para sustentar uma agricultura de alto padrão, disse o pesquisador, em entrevista à Agência Brasil.

Oito pesquisadores trabalham no projeto de fertilizantes orgânicos, que usa também resíduos como aparas de grama, carvão, biofortificação e dejetos de cavalos. "Além de ser uma alternativa viável para diminuir a dependência externa de insumos, evita-se o impacto ambiental desses resíduos todos', afirmou Polidoro.

Ele ressaltou que mesmo os produtos importados têm de ser bem aproveitados na agricultura: "Não podemos jogar fertilizante fora, nem deixar que resíduos como potássio sejam destinados a lixões e aterros sanitários, ou que fiquem acumulados em pátios de indústrias. Isso tem de se tornar fertilizante." Para ele, as empresas precisam começar a produzir fertilizante orgânico competitivo a partir de resíduos industriais, com adição de tecnologia. Para a agricultura brasileira, que depende de 75% de fertilizantes importados, trata-se de uma questão de 'segurança nacional', uma vez que o país precisa do agronegócio para manter a balança comercial positiva, disse.

"É um perigo depender tanto de uma importação dessa, porque são poucos os países que exportam nutrientes". Os principais exportadores de potássio são Rússia, Canadá, China e Estados Unidos. Polidoro informou que o único nutriente para fertilizantes produzido atualmente no Brasil é o fosfato, que equivale a 50% do consumo. Em 1993, o país produzia 100% de fosfato. "Tinha até excedente, que exportávamos para a América Latina. Hoje, importamos metade do fosfato". Com elevada reserva de fosfato, Marrocos é o principal fornecedor desse mineral ao Brasil.

As empresas interessadas na parceria para produção de fertilizante orgânico tecnológico devem procurar a Rede Nacional de Fertilizantes, recém-aprovada no Sistema Embrapa de Gestão de Projeto. A rede é liderada pela Embrapa Solos e integrada por indústrias em geral, fábricas de fertilizantes, órgãos de fomento e universidades, além de agricultores. Seu foco central é a diminuição da dependência externa de nutrientes do Brasil.

As informações são da Agência Brasil (Redação - InvestNews)

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Aumenta internacionalização na produção de álcool no Brasil

Conforme era esperado devido aos grandes investimentos realizados por empresas internacionais no setor sucroalcooleiro, o Valor Econômico de hoje noticia o aumento da participação destas empresas na produção canavieira. Abaixo segue a notícia na íntegra:

Cresce a participação dos estrangeiros na moagem de cana
Mônica Scaramuzzo, de São Paulo

A participação de grupos estrangeiros na moagem de cana no Brasil deverá crescer de forma expressiva na safra 2009/10, que terá início a partir de março de 2009. A fatia saltará dos 12,4% neste atual ciclo para 14,4%, segundo levantamento da consultoria Datagro. No início dos anos 2000, o capital internacional respondia por pouco mais de 1% da produção nacional.

O crescimento do capital estrangeiro no setor sucroalcooleiro deve-se, sobretudo, aos novos projetos "greenfield" (construção a partir do zero) que estão entrando em operação no país, e aos recentes investimentos de grupos internacionais.

Nesta safra, a 2008/09, os grupos estrangeiros deverão moer cerca de 70 milhões de toneladas de cana, aumento de 24% sobre o ciclo passado (de 56,25 milhões de toneladas). Para 2009/10, a expectativa é de que o processamento da cana de usinas controladas por capital internacional atinja 85 milhões de toneladas.

O avanço do capital externo no setor começou a se intensificar a partir do ano passado, com fortes aportes de grupos e fundos de investimentos no país. No início de 2007, o grupo francês Louis Dreyfus comprou, de uma só tacada, comprou cinco usinas, totalizando oito unidades. Para 2009/10, a companhia planeja processar 20 milhões de toneladas, um aumento de 30% sobre 2007/08.

Neste ano, a Bunge anunciou aquisições e projetos de construção de usinas, aumentando sua fatia no setor. Fundos estrangeiros, como a CEB (Clean Energy Brazil), também aportaram recursos em usinas nacionais.

Segundo Plínio Nastari, presidente da Datagro, o balanço também inclui a fatia de investidores estrangeiros em grupos nacionais, como a Cosan, São Martinho e Tereos, controlador da Açúcar Guarani. A trading japonesa Sojitz também adquiriu participação na ETH Bionergia, da Odebrecht. Em 2009, a ETH, com duas usinas em operação, planeja dar início às operações de três novas unidades.

Para a safra 2009/10, a Datagro prevê uma moagem de 588 milhões de toneladas de cana no Brasil, um aumento de 4,2% sobre o atual ciclo, de 564 milhões de toneladas. No Centro-Sul, onde estão concentrados os principais grupos estrangeiros, o processamento de cana está estimado em 520 milhões de toneladas, aumento de 4,4% sobre o atual ciclo (498 milhões de toneladas).

A moagem de cana poderia ser maior no país, caso as usinas processassem toda cana disponível nas lavouras. A Datagro prevê que entre 20 milhões e 30 milhões de toneladas deverão ficar em pé nos canaviais em 2008/09. Em 2009/10, esse volume poderá atingir até 40 milhões de toneladas.

Com escassez de crédito, boa parte das usinas deverá renovar pouco os canaviais e reduzir os reparos em equipamentos industriais. "Não acho que essa seja a pior crise de todos os tempos para o setor. Apesar da turbulência, a demanda para açúcar e álcool é crescente, diferentemente de outros setores, como mineração, por exemplo", disse Nastari.

Segundo Nastari, a pior crise do setor ainda é a de 1999. "O setor iniciou a safra 2000/01 com estoques de 1,8 bilhão de litros de álcool nas mãos das usinas. Foi um período muito difícil, logo após a desregulamentação do governo sobre os preços. O setor não tinha experiência na comercialização independente de álcool", observou. Àquela época, as cotações do álcool no mercado estavam três vezes abaixo dos custos de produção.

Nesta safra, os preços do álcool também operaram abaixo dos custos durante o pico da colheita. Na sexta-feira, o litro do anidro fechou a R$ 0,,879 (sem imposto), queda de 0,28% sobre a semana anterior; o hidratado fechou a R$ 0,7386, alta de 0,36% sobre a semana anterior, segundo o Cepea.

Dados sobre Etanol e Biodiesel no Brasil

Na edição do Anuário EXAME 2008-2009 de Infra-estrutura encontrei alguns dados interessantes sobre biocombustíveis que irei compartilhar.

O primeiro dado interessante está relacionado à matriz energética brasileira, mostrado na figura abaixo. Nela podemos ver a importância do etanol e seus derivados (no caso, o bagaço) representando 16% do total, ou seja, um sexto do total. Outra importante fonte oriunda do agronegócio é o carvão vegetal que ainda é obtida grande parte de madeira não cultivada para este fim, mas existe a tendência do aumento das florestas cultivadas para uso energético.

Etanol

Segundo a Exame, o preço do etanol brasileiro ainda é imbatível apesar do aumento nos custos de produção ocorrido nos últimos 12 meses, passando de 22 para 45 centavos de dólar o litro do álcool anidro pois os custos do etanol de milho nos EUA e de beterraba produzido na Europa são respectivamente, 0,66 e 1,28 dólar o litro. Entretanto, necessitamos de investimento em pesquisa em etanol celulósico para não perdermos esta liderança.

Com relação ao etanol, antes de falar sobre os dados gerais, comentarei sobre a avaliação geral do segmento realizada pela revista que levou em conta marco regulatório, questões legais, tributárias e institucionais além dos aspectos relacionados aos investimentos. Para cada item foi dada um critério verde, amarelo e vermelho, que representam uma escala de problemas impedindo a realização dos investimentos necessários para atender às exigências do país.

As avaliações positivas (verde) foram dadas para o marco regulatório, questões institucionais enquanto que os demais itens (questões legais, tributárias e investimentos) a avaliação foi a amarela, principalmente devido à falta de legislação que impede a criação de um mercado futuro de etanol, diferenças significativas na alíquota do ICMS e a crise internacional que fez com que ocorresse problemas de liquidez que podem afetar os investimentos.

Os principais desafios ao setor estão relacionados à escassez de milho nos EUA que pode aumentar a nossa exportação e à criação de infra-estrutura de transporte ainda muito dependente das rodovias, entretanto para tanto necessitamos de investimentos na capacidade produtiva e na infra-estrutura necessária para viabilizar exportação de grandes volumes.

Os principais dados do setor encontram-se nas figuras abaixo:







Das figuras acima vale a pena comentar a perda da primeira posição na produção mundial de etanol para os EUA e que mesmo assim ele importou cerca de 25% do total exportado pelo Brasil, apesar do total exportado ser muito pouco ainda perto do total produzido, menos de 10%.

Com relação ao mercado interno, vemos a supremacia paulista na produção enquanto que o estado de Goiás caminha firme para a segunda posição em virtude do grande número de novas usinas a serem instaladas lá.

O mercado de carros bicombustível já está se estabilizando em patamares próximos a 90% do total de veículos fazendo com que o mercado interno cresça ano a ano.

Biodiesel

O biodiesel apresenta um cenário diferente, tanto é que enquanto que o título para o análise do etanol era “O preço brasileiro ainda é imbatível” o mesmo para o biodiesel é “Faltou combinar com o mercado”, mostrando os problemas de mercado que enfrenta.

A principal matéria-prima, a soja, teve um grande aumento em suas cotações causando sérios problemas aos produtores devido à diferença entre a cotação do grão e o baixo preço do combustível pago pelos leilões, isso fez com que a Agência Nacional do Petróleo autorizasse a compra direta das distribuidoras nos produtores possibilitando a formação de estoques. Após aumentar a mistura obrigatória de 2% para 3% em julho, o governo pensa em antecipar a meta de adição de 5% de 2013 para 2009 ou 2010 na tentativa de melhorar o cenário ajudando a emplacar o programa.

Diferente do etanol que obteve 2 avaliações positivas e 3 avaliações intermediárias, o biodiesel recebeu 2 avaliações negativas e 3 avaliações intermediárias. As avaliações negativas (vermelhas) foram dadas para o marco regulatório que ainda necessita de marco regulatórios e algumas empresas venderam produto nos leilões e não entregam e não houve nenhuma tipo de punição e também as questões intitucionais pelo fato da Petrobras estreiar como produtora de biodiesel com 3 usinas inauguradas com capacidade de produção de 13% do mercado atual, mostrando assim um sinal de concentração e estatização do segmento.

As questões legais mostram que apesar do aumento da adição de 2% para 3% não ocorreu diminuição do diesel importado devido ao aumento do consumo e que a mistura de 5% não fará com que o preço final do óleo diesel abaixe, pois o biodiesel ainda é mais caro que o óleo diesel.

Nas questões tributárias, o biodiesel ainda é muito dependente dos subsídios do governo e atrelar redução de impostos à compra de matéria-prima de pequenos produtores pode comprometer a escala de produção.

Os investimentos estão caindo devido à questão do custo de produção alto porém a Petrobras Biocombustíveis planeja montar mais uma usina para produzir a partir de dendê e girassol.

Os principais desafios estão relacionados à encontrar uma matéria-prima competitiva e sustentável, dissociar política energética da política social para garantir escala de produção e tambem criar marcos regulatórios definidos e desenvolver o biodiesel como commodity.

Abaixo alguns dados sobre o setor:




Com relação aos dados apresentandos, podemos verificar a hegemonia da soja representando 2/3 do total e a capacidade instalada atualmente é muito superior a capacidade utilizada, fazendo com que existam poucos projetos em autorização.

sexta-feira, dezembro 19, 2008

Mesmo com petróleo mais barato, plástico verde se viabiliza

Apesar dos valores do petróleo estarem em queda e terem caido, por pouco, abaixo de 40 dólares, parece que a viabilidade econômica dos plásticos de etanol chegou para ficar. Abaixo segue a reportagem de quarta-feira do Valor Econômico que fala sobre isso e para comparação, no final da reportagem o gráfico do valor do barril do petróleo nos últimos meses com dados do Invertia do TERRA:

BRASKEM: PLÁSTICO VERDE SE VIABILIZA COM PETRÓLEO A US$ 40

Nem 2008 acabou nem 2009 começou. Mas o presidente da Braskem, Bernardo Gradin, já começa a pensar como será a maior petroquímica da América Latina em 2020. Até meados do próximo ano, Gradin, que assumiu o cargo em agosto, apresentará ao conselho de administração uma proposta para definir o modelo pelo qual espera sustentar o crescimento da companhia no futuro. "A proposta que faremos é como vamos nos tornar uma empresa global, e como crescer muito mais que na região", disse Gradin, em entrevista ao Valor.

A Braskem, que se formou em 2002 unindo inúmeras fábricas de produção de petroquímicos no Brasil, é hoje uma empresa com ativos com presença nacional e interesses na região da América Latina - maior empresa petroquímica do país, ela tem planos bilionários de investimento na Venezuela para o início da próxima década.

As diretrizes do projeto conhecido como Visão 2020 prevêem transformar a Braskem numa petroquímica com presença de fábricas em outros continentes. "Os veículos e que regiões e como chegar é que serão detalhados ao longo do próximo ano", afirmou Gradin.

Antes do plano de expansão internacional além das Américas, a Braskem tem dois grandes projetos que Gradin classifica de "emblemáticos" - a fábrica de polietileno fabricado a partir do etanol de cana-de-açúcar e o projeto de construção de um novo pólo petroquímico na Venezuela à base de gás natural.

Gradin avalia que a fábrica de produção de plástico "verde" se viabiliza mesmo numa situação com o preço do petróleo ao redor de US$ 40 o barril. Para ele, o plástico à base de etanol será cada vez mais competitivo, com aumento da produtividade da cana, usinas integradas e geradoras de energias e sistemas logísticos aperfeiçoados.

Por outro lado, o presidente da Braskem avalia que o preço do petróleo não deve ficar por muito tempo na casa dos US$ 40 por um motivo bastante singelo: falta petróleo no mundo, assegura. Gradin acha que será uma tendência cada vez maior, e não relegada a um nicho de negócio.

"A Braskem está se posicionando como a primeira empresa a fazer um projeto em escala e muita gente irá repetir", disse. Nas contas de Gradin, até 2020, a expectativa é que a Braskem tenha cerca de 20% de sua produção de polietileno com fonte de matéria-prima renovável - cerca de 800 mil toneladas, quatro vezes mais do que a capacidade inicial da primeira fábrica, prevista para o Rio Grande do Sul até o início da próxima década.

Nos últimos tempos, a Braskem definiu reduzir sua dependência à nafta, um derivado do petróleo, que tem diminuído à rentabilidade da companhia. Dizendo-se otimista, Gradin avalia que o investimento na Venezuela não deverá passar por dificuldades para ser financiado.

"No nosso pacote financeiro, temos acordo com agências multilaterais, que são mais acíclicas que outras instituições, e os fornecedores de equipamentos tem o interesse no projeto", disse.

A diretoria da Braskem apresenta hoje ao conselho de administração seu plano de investimento para a 2009. O valor deve ser inferior ao de 2008, que deverá fechar em cerca de R$ 1,2 bilhão.

A razão para um valor menor, segundo a companhia, é que pesaram neste ano os investimentos para consolidação - compra de ativos do grupo Ipiranga - e a parada de manutenção das centrais petroquímicas.

Um outro lado da crise é que a petroquímica avalia que seus futuros investimentos poderão sair mais em conta com o desaquecimento da economia mundial. "Fizemos um primeiro orçamento em setembro, mas decidimos esperar para que viesse melhor", disse Gradin.

"Há expectativa de que os valores dos investimentos vão cair 30% a 40%. A restrição é para quem não tem caixa ou problema de crédito - nestas situações, a Braskem está muito bem"

Cotações do Barril de Petróleo

Fonte:Invertia (Portal Terra)

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Cana: Crescimento da moagem e muita cana deixada em pé

Duas notícias da Agência Estado publicadas hoje mostram o cenário atual do setor sucroalcooleiro. A primeira notícia disponibilizada às 12 horas e disponível na íntegra aqui, fala sobre a projeção da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que mostra um crescimento de cerca de 14% na cana moída nesta safra, totalizando 570 milhões de toneladas em 8,5 milhões de hectares.

E uma segunda notícia disponibilizada às 15 horas (disponível originalmente aqui) mostra que cerca de 320 mil hectares serão deixadas em pé nesta safra. Isso pode ter ocorrido devido à queda de demanda que favoreceu a decisão de não cortar a cana, problemas na montagem de usinas que atrasou a safra em algumas usinas e também a problemas de clima no início da safra.

Abaixo seguem as notícias na íntegra:

Conab: esmagamento de cana deve atingir 571,4 mi/t em 2008

Brasília, 15 - A indústria sucroalcooleira vai processar neste ano 571,4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, volume 13,9% superior ao processado no ano passado. A área cultivada com canaviais é de 8,5 milhões de hectares. A região Centro-Sul será responsável pela moagem de 87,9% da cana e o restante (12,1%) será processado nas regiões Norte e Nordeste. Os dados fazem parte do último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra de cana 2008, divulgado hoje.

Segundo o levantamento, as usinas irão processar 246,9 milhões de toneladas de cana para produção de 32,1 milhões de toneladas de açúcar. A produção de etanol vai consumir 325,3 milhões de toneladas de cana. A Conab estima a produção de álcool combustível em 26,6 bilhões de litros, sendo 10,1 bilhões de anidro e 16,5 bilhões de hidratado. Do total de cana processado pelo setor sucroalcooleiro, o volume destinado a produção de açúcar cresceu 6,7% e para o álcool, 20,1%.

O presidente da Conab, Vagner Rossi, avaliou que apesar da instabilidade registrada nos últimos meses, a valorização do dólar ajudou em parte o produtor a recuperar o preço de venda, estimulando as exportações. "Somos um dos maiores produtores de açúcar do mundo e referência na fabricação de combustível a partir de matrizes de energia renováveis", afirmou.

A produção total de cana-de-açúcar no País neste ano somará 651,5 milhões de toneladas. Para cachaça, rapadura e ração animal serão destinadas 80,1 milhões de toneladas de cana.

A Conab informou ainda que a matéria-prima plantada em 315,9 mil de hectares só irá para indústria no início do próximo ano, porque com as chuvas ocorridas em abril e maio na região Centro-Sul e o atraso do início de operação de novas unidades de produção, os usineiros não tiveram tempo suficiente para moer toda a cana. (Fabíola Salvador)

Cana deixada em pé reflete crise no setor, avalia Conab

Brasília, 15 - O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Wagner Rossi, afirmou hoje que a crise financeira internacional reduziu a demanda por açúcar e álcool e influenciou na decisão da iniciativa privada de deixar de colher 315,9 mil hectares de cana-de-açúcar na safra atual. Ele disse que as chuvas verificadas nos meses de abril e maio no Centro-Sul também determinaram esse quadro.

O diretor de Cana-de-açúcar e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Alexandre Strapasson, informou que o volume de cana que não foi cortado vai acabar favorecendo o mercado de açúcar e álcool no ano que vem. "As unidades vão antecipar o esmagamento", comentou ele, ao lembrar que a entressafra da cana termina em abril.

Strapasson afirmou que o governo esperava volume maior de cana "bisada", que é um termo técnico para o canavial que não é cortado no ano-safra em que deveria ser tido colhido. De acordo com ele, o volume ficou abaixo do previsto pelo governo porque muitas usinas continuaram esmagando a safra além do período normal. Ele observou que muitas usinas do Centro-Sul ainda estão esmagando a cana, quando o normal seria a paralisação das atividades nesta época do ano.

O presidente da Conab ressaltou que a crise internacional, que resultou na falta de crédito, prejudicou o ritmo de instalação de novos projetos de usinas sucroalcooleiras. A falta de recursos também deve comprometer a adubação dos canaviais, o que pode reduzir a produtividade da cana no ano que vem. "A euforia não é bom conselheiro para os negócios. É preciso fazer negócios com segurança", afirmou Rossi.

O presidente da Conab acrescentou que, antes da crise, havia disponibilidade de dinheiro no mercado internacional, o que facilitava a construção de novas usinas. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, existem 417 usinas instaladas no Brasil, das quais 30 foram inauguradas este ano. O número de inaugurações é similar ao do ano passado.

Strapasson informou que existe potencial para exportação de etanol, mas que muitos mercados ainda não foram efetivamente abertos. O diretor comentou também sobre o abastecimento de álcool na entressafra na Região Centro-Sul, que vai de janeiro a março. Nesse período, ele acredita que haverá pequena elevação dos preços do álcool. "Há um custo para carregar estoques e a iniciativa privada vai repassá-lo aos preços". Ele não falou sobre níveis de preço, mas lembrou que a variação está diretamente relacionada ao preço da gasolina.

Estoque

O diretor do Ministério da Agricultura disse que a expectativa é de estoque ajustado à demanda no início de 2009. Hoje o estoque soma cerca de 5,2 bilhões de litros de álcool e a variação até o período de entressafra dependerá da relação de preço entre álcool e gasolina.

Strapasson observou que este ano o mercado foi de preço baixo para o consumidor, o que favorece a população, mas impede novos investimentos. Ele salientou que o cenário é positivo para o mercado de açúcar, já que as projeções indicam crescimento da demanda mundial. Ele disse que as projeções indicam déficit de 3 milhões a 7 milhões de toneladas de açúcar no mercado internacional. Parte desse déficit é justificada pela queda na produção da Índia.

O Brasil é responsável, segundo Strapasson, por cerca de 40% do mercado mundial de açúcar. Apesar da aposta no mercado externo, ele disse que no caso do álcool o grande potencial de venda está no mercado doméstico, onde a demanda por carros flex (bicombustível) é cada vez maior.

Sobre o mecanismo de apoio à produção de açúcar e álcool do Nordeste, prevista na Medida Provisória 449, Strapasson comentou que a expectativa é que o modelo de apoio seja definido e aprovado nas próximas semanas. (Fabíola Salvador)

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Crise fará com que agronegócio recue 3 anos

Segundo nota publicada no Blog Mundo Agro do Portal Exame, apesar dos bons resultados deste anos, a crise, segundo analistas, fará com que o saldo da balança comercial do agronegócio recue para valores de 2006. Na sequência nota na íntegra que também pode ser encontrada no blog clicando aqui:

Um recuo de três anos

O Ministério da Agricultura acabou de divulgar os dados de exportação do agronegócio brasileiro. Os números mostram que, nos primeiros 11 meses de 2008, as vendas externas somaram 67 bilhões de dólares, um crescimento de quase 27% em relação ao mesmo período de 2007.

O saldo comercial da balança comercial do campo também avançou - passou de 45,9 bilhões de dólares para 56,1 bilhões de dólares (também no mesmo período de onze meses). As notícias são muito boas, mas infelizmente os dados não são capazes de mudar o futuro. As projeções para 2009 apontam uma forte redução, decorrente da crise mundial.

A RC Consultores estima que o saldo comercial do agronegócio deve fechar em quase 39 bilhões de dólares no ano que vem, uma queda de 27%. Uma ressalva: as projeções da RC costumam ser menores porque não consideram as exportações de alguns setores ligados ao agronegócio, como o de papel e celulose, por exemplo. De qualquer forma, se a projeção da consultoria se confirmar, o saldo brasileiro voltará quase ao nível de 2006 - ano em o superávit comercial do agronegócio chegou a 35,3 bilhões de dólares. Esse recuo de três anos deixará conseqüências.

A expansão da produção agropecuária deverá ser bem mais complicada na safra seguinte, 2009/2010. O volume menor de dólares entrando no Brasil também irá exercer uma pressão de alta na cotação da moeda americana por aqui. Resultado: o país inteiro pagará a conta.

Por Fabiane Rodrigues Stefano

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Fundamentos do etanol estão bem, segundo UNICA

Apesar das notícias do post anterior, a UNICA (União da Agroindústria de Cana-de-Açúcar) avalia que os fundamentos do setor sucroalcooleiro estão bem. Abaixo segue nota publicada pela UNICA em seu site:

UNICA: Fundamentos do etanol de cana continuam fortes

Os fundamentos do setor sucroenergético brasileiro são bons em comparação com a realidade de outras indústrias de bicombustível. A avaliação foi feita pelo representante-chefe da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) na América do Norte, Joel Velasco, em duas apresentações realizadas no Canadá: uma durante o “Canadian Renewable Fuels Summit”, em Ottawa, a outra para o “Canadian Council of the Americas”, em Toronto.

Com o comentário, o executivo da UNICA respondeu às preocupações quanto ao impacto dos altos custos de produção e da crise no sistema financeiro global sobre a produção de etanol, manifestadas especialmente por produtores de etanol dos Estados Unidos e do Canadá que vem pedindo socorro a seus governos. Conforme noticiado pelo diário The Hill, que circula nos meios políticos de Washington, os produtores americanos querem não só um aumento no limite de etanol de milho que pode ser misturado à gasolina (hoje, o limite é de 10%), mas também pedem mais incentivos fiscais (leia-se subsídios) do governo americano.
Entre os fatos apresentados por Velasco que exemplificam os fundamentos do etanol brasileiro está o que mostra que o setor sucroenergético produz açúcar e bioeletricidade, além do etanol a partir da cana-de-açúcar. “Em breve vamos ter outros produtos, como plásticos e hidrocarbonetos, todos originados da cana”, afirmou.

A expansão sustentável do setor sucroenergético no Brasil também figurou nas argumentações apresentadas. “Tanto do ponto de vista ambiental como econômico e social, a indústria de cana brasileira tem se mostrado sustentável. Por isso, continuamos recebendo novos investidores, como ADM e Monsanto, apenas para citar duas grandes empresas que anunciaram investimentos no setor recentemente”, concluiu Velasco.

Nesta semana, o JP Morgan divulgou um relatório que dá sustentação ao discurso feito por Velasco no Canadá. O documento demonstra claramente que o setor sucroenergético brasileiro oferece muitas oportunidades, como o número crescente de outros produtos, além do etanol, que podem ser produzidos a partir da cana-de-açúcar.

“No Canadá”, informou o executivo da UNICA, “ainda se usa muito milho e trigo para produzir etanol, embora haja também muito investimento em tecnologias para produção do etanol celulósico. Talvez a mais bem sucedida usina de etanol celulósico seja a da Iogen.
Para baixar a apresentação feita por Velasco nos eventos no Canadá, clique aqui.

Será que petróleo barato inviabilizará biocombustíveis?

Encontrei nesta semana duas notícias interessante sobre a questão preço do petróleo versus viabilidade de biocombustíveis. A primeira é uma nota publicada em 28/11 no Blog Mundo Agro da Fabiane Stefano no Portal Exame onde ela comenta o problema do petróleo barato e a possibilidade de tirar a viabilidade do biodiesel e do etanol.

E a segunda é análise do Merryll Lynch publicada na Folha de São Paulo hoje que fala de petróleo na faixa dos 25 dólares no ano que vem em virtude da queda da demanda. Seguem abaixo as duas notícias:

O PROBLEMA DO PETRÓLEO BARATO

A cotação do barril de petróleo na casa dos 50 dólares jogou um banho de água fria no entusiasmo em relação aos biocombustíveis no Brasil. Em junho, o preço do petróleo bateu 145 dólares, viabilizando a produção de quase todos os combustíveis verdes do mundo. Com a crise, a commodity desceu ladeira abaixo e deve promover um forte rearranjo no setor de biocombustíveis.

O etanol brasileiro, feito a partir de cana de açúcar, continua no páreo. Sua viabilidade econômica resiste a um petróleo a 35 dólares o barril. Mas as pretensões de tornar o combustível uma commodity global não combinam com esse patamar, uma vez que a produção de outros tipos de etanol (como o de milho e o de trigo, nos Estados Unidos e na Europa, respectivamente) fica economicamente inviável.

E, como não existe commodity global produzida em único país, fica difícil convencer o mundo rico a adotar um biocombustível cuja formação de preço está restrita a um único lugar (nesse caso o Brasil).

Naturalmente, a situação pode mudar. Mas os dados mais recentes indicam uma desaceleração que pode ser duradoura. Ou seja, o plano de internacionalização do etanol brasileiro deve permanecer em compasso de espera.

Se há fôlego para o etanol brasileiro com o petróleo baratinho, não se pode dizer o mesmo do biodiesel. Antes da queda da commodity, o combustível a partir de óleo vegetal (soja, girassol, mamona e outros) operava a base de subsídios públicos. No mundo todo, o biodiesel só é viável com forte subvenção governamental. E com o petróleo a 50 dólares, é puro voluntarismo.

MERRILL LYNCH PREVÊ PETRÓLEO A US$ 25

O preço do barril de petróleo voltou a cair ontem devido às preocupações com a recessão dos Estados Unidos e atingiu o seu menor valor desde janeiro de 2005. Ontem, a cotação recuou 6,7% em Nova York, valendo US$ 43,67 no fim do pregão -o menor preço desde 4 de janeiro de 2005. O banco Merrill Lynch prevê que, caso a crise se agrave, o preço pode chegar a US$ 25 no ano que vem, o que não ocorre desde 2003.

domingo, novembro 30, 2008

Um pouco de dados sobre o conflito Combustível x Alimentos

Sei que o tema não é novo, mas encontrei na Revista IdeaNews de maio de 2008, disponível clicando aqui no original, um artigo muito bom com vários dados sobre este tema. Esta revista é editada pelo IDEA (Instituto de Desenvolvimento Agrícola) de Ribeirão Preto e sempre traz muita informação do setor sucroalcooleiro.

O artigo na íntegra de autoria de Clivonei Roberto pode ser encontrado abaixo:


Parece que o tiroteio não tem mais fim. Os biocombustíveis continuam sendo alvejados por aqueles que acham que o etanol e o biodiesel são responsáveis pela alta dos preços dos alimentos. Uma saraivada de informações sem fundamento e acusações são veiculadas, mas comumente faltam dados precisos que ajudem delimitar as causas reais da alta dos preços e dimensionar a importância de cada uma delas. Para Miguel Biegai, economista e consultor da Safras & Mercado, há vários fatores que estão causando o aumento dos preços dos alimentos, e não apenas um ou outro isolado. Segundo Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, realmente os biocombustíveis têm responsabilidade sobre a alta dos preços dos alimentos.

Mas com certeza não o produzido a partir da cana, e sim o de milho, feito nos Estados Unidos, e o de beterraba e trigo, entre outros itens alimentares, produzido na União Européia. Além desse, outros fatores são apontados por Rodrigues como causas da chamada “agrinflação” (inflação agrícola). Se de fato, como destaca Rodrigues, há uma certa influência dos biocombustíveis sobre o aumento dos preços, parece que esse fator tem recebido uma relevância maior do que tem em relação aos demais. Por quê? Nessa sinuca de bico, em que os interesses tentam ocupar o melhor espaço na mesa do jogo, quem e por quais motivos está tentando atingir os biocombustívies e especialmente o etanol produzido a partir da cana? Para alguns, não é o melhor caminho apostar na teoria da conspiração. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi mais taxativo: disse que é leviandade os ataques contra os biocombustíveis e, mais recentemente no Peru, afirmou em alto e bom tom que as petrolíferas estão por trás disso e que os países não querem de fato mudar suas matrizes energéticas. Mas para enfrentar a campanha contrária à agroenergia e ajudar a dimensionar os verdadeiros “vilões” nessa celeuma da alta dos preços dos alimentos, muitos mitos devem ser quebrados.

Esta edição da Revista IDEA NEWS traz afirmações bastante divulgadas nos últimos meses sobre essa questão e procura ir além do senso comum, trazendo dados estatísticos e análises de especialistas sobre cada uma delas. Afinal, chega de tanto“achismo” e desinformação!

1 - Os biocombustíveis são culpados pelo aumento dos preços dos alimentos.

Analisando os dados apresentados por especialistas no assunto, é uma incoerência fazer essa afirmação. Eleito no ano passado como um ícone da luta pelo meio ambiente pela Revista Times, o físico nuclear José Goldemberg mostra com números porque não se deve fazer essa acusação. “A área dedicada à produção de biocombustíveis no mundo é de 10 milhões de ha; a área para agricultura é 1,2 bilhão de ha. Os críticos perderam completamente o senso de proporção”, afirmou Goldemberg em uma palestra que proferiu em Denver, nos Estados Unidos, no National Renewables Energy Laboratory (Laboratório de Energias Renováveis do Departamento de Estado de Energia). Principalmente quando se considera o combustível renovável feito a partir da cana-de-açúcar.

Trata-se de uma cultura que não é utilizada como alimento diretamente, mas se processada vira açúcar, comida para gado e até energia elétrica (além do etanol). Também tem um balanço energético muito mais favorável comparando o combustível fóssil e o etanol feito a partir de outras matérias-primas, como o milho. Mas para que o etanol de cana seja adotado amplamente no mundo não é preciso que o Brasil seja transformado em um grande canavial. Segundo Goldemberg, este etanol é uma experiência brasileira de sucesso, mas muitos outros países já produzem essa cultura e podem também fabricar o combustível.

“O Brasil só produz 25% da cana-de-açúcar mundial. Há cana em toda a América Central, na Índia, na África do Sul, em oçambique”, comenta. Mas se o etanol feito a partir da cana-de-açúcar não tem influência sobre a escalada dos preços alimentares, não se pode dizer o mesmo sobre o etanol feito a partir do milho, nos Estados Unidos, e o etanol e o biodiesel feitos a partir de outros itens alimentares na Europa (como trigo e granola). Nos EUA, há um modelo pouco eficiente para produzir etanol e que utiliza uma das commodities mais consumidas no mundo. Os americanos são os maiores produtores mundiais de milho (42% da produção mundial) e já estão destinando quase um terço desta produção para o combustível renovável.

Segundo Renata Marconato, da MB Agro, em 2007 os norte-americanos destinaram 79 milhões de t de milho para a produção de etanol, de uma produção total de 267,6 milhões de t (a produção mundial no ano foi de aproximadamente 696 milhões de t). No ano passado, os norte-americanos plantaram milho em uma área de 36,6 milhões de ha – 15% a mais do que em 2006. “Utilizar essa matéria-prima para o etanol é negativo. Ajuda a disseminar a imagem de ineficiência dos biocombustíveis, como no caso do milho, que consome muita energia para ser produzido e é uma matéria-prima que serve de alimento. Acho que atrapalha na commoditização do etanol em geral”, dispara. Biegai lembra que em 2008 os EUA devem utilizar 100 milhões de t de milho para o combustível – quantidade que conseqüentemente não estará disponível para alimentação. Segundo ele, a disputa da demanda energética com o etanol enxugou a oferta de milho no mundo, ficando mais caro ao mercado.
“Os melhores preços de milho e soja afetaram o trigo, o feijão e outros alimentos devido à disputa por terras para produzir energia”, relata o economista. Segundo Biegai, é preciso haver uma dissociação da agricultura de alimentos da agricultura de energia. Hoje, os preços dos alimentos estão subindo no mundo porque o etanol de milho produzido nos EUA, além do que é feito a partir de outros cereais ou produtos alimentícios na Europa e em outros países, estão saindo do quadro de bastecimento de comida. Biegai salienta que, no que se refere à dissociação alimentos x energia na agricultura, o exemplo mais próximo da perfeição de um modelo de agricultura de energia é da cana-de-açúcar no Brasil.Portanto, quem será que está destinando alimentos para transformar em combustível?

2 - O petróleo está pressionando o preço das commodities.

O preço do barril de petróleo já ronda a casa de US$ 135. Para o empresário Maurílio Biagi, da Maubisa, se por um lado isso pode ser positivo para o etanol, por outro ele se reporta à fala do presidente Lula, quando diz que se os preços dos alimentos sobem, cada vez mais se ataca os biocombustíveis, mas poucos erguem a voz contra as conseqüências da escalada do petróleo.“Há uma hipocrisia mundial, o preço do petróleo sobe e desce e nada acontece. Parece que essa onda contra o etanol está muito ligada ao desejo de se colocar uma cortina de fumaça em relação ao petróleo”, avalia Biagi. Para Biegai, não há uma névoa que encobre a influência do petróleo sobre os preços dos alimentos.

“Acredito que para uma parte considerável da população já está claro que os preços altos do petróleo são um dos elementos decisivos para a alta dos preços dos alimentos”, afirma. Comparando a crise do petróleo dos anos 70 com a escalada atual dos preços do combustível fóssil, Biegai salienta que existem diferenças. “Na década de 70, o choque do petróleo foi um choque de oferta.Os países exportadores resolveram afunilar a produção, valorizando artificialmente os preços”, diz. Ele explica que o mundo era muito mais dependente do petróleo e os países importadores tiveram dificuldades. Entre eles, o Brasil que, a partir dali, buscou o etanol como alternativa. O choque do petróleo observado hoje é um choque de demanda.O mundo está precisando consumir cada vez mais o combustível, e os países produtores não estão dispostos a aumentar o nível de produção.

Mas diante do aumento do preço do barril, os biocombustíveis têm uma importância decisiva e que poucos têm observado. “Se não fossem os biocombustíveis e as energias renováveis já existentes, os preços do petróleo estariam cerca de 20% mais altos do que hoje. Eles ajudam claramente a reduzir o déficit energético no mundo”, relata. Mas até que ponto os cartéis do petróleo vão permitir que as energias renováveis sejam cada vez mais viáveis (se já não estão agindo nos bastidores)?

3 - Uma das principais causas da alta é a elevação dos preços de insumos , como os fertilizantes. Segundo a pesquisadora Ana Cecília Kreter, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) – Seção de Política Agrícola, o aumento do preço do petróleo tem diferentes impactos para o produtor agrícola. O primeiro deles se refere aos insumos, o que reflete nos preços dos alimentos.“Para se ter uma idéia, os fertilizantes aumentaram 16% de janeiro de 2007 a janeiro de 2008, e os agrotóxicos e os combustíveis aumentaram 71% durante o ano de 2007, e de janeiro a abril deste ano, 14%”, diz. “Podemos ainda falar de impacto indireto, com custos de frete para o escoamento da safra, já que uma boa parte dela é transportada por rodovias.Em alguns casos, comparados com a safra do ano passado, os fretes aumentaram de 30% a 50%”, informa a pesquisadora do IPEA.

Segundo Oscar Fernandes, da Consultoria Sucrotec, os insumos que mais sofreram elevação em seus preços são os diretamente ligados às commodities mais demandadas pelos países emergentes da Ásia, principalmente China e Índia. Considerando o período de abril de 2000 a março de 2008, os insumos cujos preços mais subiram são o ferro e o aço (aumento de 312%), os adubos e fertilizantes (aumento de 265%) e o õleo diesel (aumento de 233%). Segundo ele, o comportamento destes itens não é uniforme. Porém, Fernandes concorda que, mais recentemente, o grande vilão da inflação de custos do setor agrícola como um todo são os adubos, os fertilizantes e os defensivos agrícolas. Em dois anos, a evolução do índice de preços de fertilizantes da FGV já aponta um crescimento de 100%, sendo 69% apenas nos últimos 12 meses. Segundo ele, o Brasil, mesmo sendo uma potência agrícola e aumentando ano a ano sua produção de grãos, carne, cana etc, é apenas o quarto consumidor mundial de fertilizantes, de acordo com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). China e Índia têm um consumo anual desses insumos sete vezes superior ao brasileiro.

De acordo com Renata, os dois países se utilizam cada vez mais de fertilizantes e adubos com o propósito de garantir o crescimento vertical da produção agrícola, pela escassez de novas áreas para expansão horizontal.Segundo Asdrúbal Jacobina, gerente de custos de produção da Conab, além de citar os fertilizantes, ele lembra o aumento dos custos de sementes. No Brasil, pelo menos, onde cada região os preços têm um comportamento diferente, as sementes do milho tiveram variação de 13 a 15%, da soja de 30 a 50%, e do feijão de 27 a 50%.

4 - A cana está ocupando a área de alimentos no Brasil. Segundo Cid Caldas, coordenador geral de Açúcar e Álcool da Secretaria de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura (MAPA), não se conhece dados precisos sobre a área agricultável exata do Brasil. “Existem estimativas que apontam entre 350 e 380 milhões de ha. A cana-de-açúcar é a terceira maior cultura em ocupação de terra (ocupa atualmente cerca de 7,8 milhões de hectares), atrás da soja (20,6 milhões de ha) e do milho (9,2 milhões de ha). Considerando que, pela média dosúltimos anos, metade da produção canavieira tem sido destinada à produção de etanol no País (a outra parcela para a fabricação de açúcar), cerca de 3,8 milhões de ha produzem cana queé transformada em álcool. Levando em conta 350 milhões de ha agricultáveis, isso representa pouco cerca de 1% de toda a área.

Ele relata que um recente estudo lançado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) identificou que a expansão da cana-de-açúcar aconteceu, principalmente, em áreas de pastagem (65% das novas áreas). Dentre as áreas que já estavam ocupadas por outras culturas, a de soja foi a que mais cedeu espaço para cana-de-açúcar, especialmente nos estados do Mato Grosso, Goiás, Paraná e Minas Gerais.No entanto, a área de produção de soja ficou praticamente estável nestes estados, bem como a produção. Outra cultura que cedeu área para a cana-de-açúcar foi o milho, porém em escala desprezível. Mesmo assim, a produção de milho cresceu substancialmente. Tanto que, mesmo num ano em que a safra de cana baterá mais um recorde, a Conab anunciou que a produção brasileira de grãos será 7,8% superior à safra anterior, chegando a 142,08 milhões de t de grãos.


Também recorde. Um levantamento apresentado pela companhia estima que a área ocupada com as principais culturas seja de 46,97 milhões de ha, 1,6% superior à área cultivada na safra anterior. Segundo o relatório, nesta safra, considerando-se as principais culturas, confirma-se o crescimento da área plantada com milho, soja e trigo, destacando-se a soja com crescimento de 2,6% e o milho 2ª safra, com 9,2%. A área ocupada por cana, soja e milho no Brasil estão bem atrás da área ocupada pelas pastagens - 172,3 milhões de ha, segundo a Conab. Goldemberg ironiza, dizendo que em algumas regiões de São Paulo o gado é o mais confortável do mundo. “Os pastos aqui tinham 1,2 cabeça/ha”, conta. As pastagens perderam um pouco de espaço, mas essa média é atualmente, segundo ele, de 1,4 cabeça/ha. Apesar disso, nos últimos anos, o rebanho bovino do Brasil cresceu cerca de 13% e o País é o segundo maior produtor de carne do mundo.

5 - A especulação financeira é uma das causas da “agrinflação”. Biegai lembra que sempre houve especuladores no mercado de commodities, e eles são benéficos para o sistema porque geram a liquidez necessária para que indústrias e produtores possam reduzir os riscos relacionados à comercialização das mercadorias. Porém, em função da instabilidade em alguns mercados financeiros (em parte causado pela crise das subprimes norte-americanas), houve um aumento maior do que o normal de especuladores direcionando ativos para o mercado de commodities.

"Este movimento ocorreu principalmente na posição ‘comprada’, valorizando os contratos futuros das commodities agrícolas nas bolsas norte-americanas, e puxando as cotações dos alimentos no mundo todo”, avalia.As especulações no mercado agrícola internacional já fazem com que os preços estejam sujeitos a alterações bruscas. A negociação no mercado futuro chega a movimentar o equivalente a 22 vezes o volume das safras anuais de soja.

6 - Os emprendimentos sucroalcooleiros produzem alimentos no Brasil pelo sistema de rotação de cultura.

A produção poderia ser muito maior. Segundo Denizart Bolonhezi, engenheiro agrônomo e pesquisador científico da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, nos últimos anos, devido às grandes expansões, foram destinados à renovação de cultura nos canaviais próximo de 12% (488 mil ha no Centro-Sul). Desse total, apenas 50 mil ha são cultivados com amendoim e 150 mil ha com soja. Outros 200 mil ha são utilizados para plantio de adubo verde (Crotalaria). Ele frisa que, embora o potencial para a rotação no Centro-Sul deva chegar a 1 milhão de ha nos próximos anos, com a possibilidade de duplicar a área para o plantio de grãos, hoje ainda o modelo de rotação não é explorado na sua totalidade para produzir alimento. “Por praticidade, as usinas dão preferência ao cultivo de adubos verdes, pois necessita de pouco investimento em máquinas, não requer pulverização constante etc”, diz. Embora o modelo seja útil, perde-se uma oportunidade.

7 - Há um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de alimentos no mundo.Um dos motivos para os preços dos alimentos estarem subindo também é o aumento da demanda, provinda principalmente da Índia e da China. Estes países possuem quase 40% da população do mundo e estão em profundo processo de urbanização, o que repercute na mudança de hábitos alimentares, acarretando maior necessidade de alimentos. Segundo Biegai, o processo de urbanização que China e Índia estão passando ainda deve durar por 20 anos. “Esta pressão por commodities (não só de alimentos) destes dois países deve persistir por este período, pelo menos. Parte da pressão sobre os alimentos nos próximos anos virá desse fator”, diz Biegai. Segundo Renata, da MB Agro, um dos fatores que mais merece destaque é o aumento de consumo de proteína animal.

Tem havido mudanças geopolíticas importantes, caracterizada pela inserção de milhões de pessoas, anualmente, no mercado consumidor, especialmente na China e na Índia, e com grande potencial de expansão. Hoje a China tem 40% de sua população vivendo em cidades. A Índia tem 29%. Também se verifica a mudança do perfil alimentar das pessoas, inclusive por conta do aumento da renda e da urbanização. O consumo per capita de carne, por exemplo, se mantém estável nos Estados Unidos: na casa de 110 kg/habitante/ano desde 1999. Na Europa está na casa de 82 kg. No Brasil, era de 71 kg em 1999 e deverá chegar a 92 kg em 2016. Já na China esse consumo cresce a galope. Era de aproximadamente 44 kg por habitante em 99, hoje é de cerca de 59 kg e deverá chegar a 66 kg em 2016. E uma coisa é 180 milhões de brasileiros comerem 86 kg no decorrer do ano (estimativa para 2008).

Outra coisa é os mais de 1,3 bilhão de chineses incluírem no cardápio 59 kg de carne no mesmo período. Segundo os dados apresentados por Renata, é necessário 1,2 kg de grãos para produzir um kg de carne de frango, 2,9 kg de grãos para 1 kg de carne suína e 3,2 kg de grãos para 1 kg de carne bovina. Basta fazer as contas. Para se ter uma idéia, analisando apenas os números de produção e consumo de óleo de soja apresentado pelo relatório de maio da USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), a China produziu, na safra 2005/2006, 6,15 milhões de t, mas consumiu no período 7,61 milhões de t.
A diferença foi suprida pelas importações. Na safra 2006/2007, o país asiático aumentou sua produção de óleo de soja, atingindo 6,34 milhões de t, mas o consumo aumentou numa proporção muito maior: foi de 8,6 milhões de t. Já a estimativa para o período 2007/2008 é de que a produção chinesa seja ainda maior: 6,8 milhões de t. Mas o consumo doméstico do produto vai dar mais um salto impressionante. Deverá ser de 9,79 milhões de t. Aumento de cerca de 1 milhão de t de um ano para o outro.

8 - Os subsídios agrícolas dos países ricos influenciam os preços dos alimentos

Recentemente o presidente francês Nicolas Sarkozy acusou Brasil e Estados Unidos de praticarem dumping na produção de biocombustíveis.Mostrou estar bastante desinformado, segundo Biagi. Quando se fala sobre os Estados Unidos, essa afirmação é correta. Para produzir seu etanol, o governo norte-americano injeta um subsídio de US$ 0,51 por galão produzido e uma proteção tarifária de US$ 0,54 por galão contra o etanol brasileiro. Os gastos anuais com subsídios para o combustível cachegam a quase US$ 9 bilhões. Estados Unidos e União Européia investem bilhões todo o ano para proteger produtos agrícolas como laticínios, arroz, trigo, milho e carne.Esses subsídios criam uma situação artificial de mercado, que mina a competição igualitária de outros países produtores.

Por isso, quando o presidente francês inclui o Brasil nas suas críticas, está se esquecendo que a própria França é um dos países mais protecionistas da Europa. E se há uma preocupação com a fome no mundo e a alta dos alimentos, certeiro foi o ministro das Relações Exteriores do Brasil Celso Amorim: “olha, em vez de reduzir para US$ 14 bilhões [os subsídios dados pelos] os Estados Unidos e US$ 20 bilhões [os subsídios pagos pela] a Europa, o ideal seria reduzir a zero”, sugeriu Amorim ao reagir diante de declarações do diretor-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Khan.

“Como foi reconhecido pelo próprio diretor-geral da FAO, o que impediu o crescimento da produção de alimentos em países africanos e sul-americanos foram os subsídios, não foi o biocombustível”, afirmou o ministro. “Pelo que me consta, na África ninguém deixou de produzir alimento para produzir biocombustível. Eles não produziam alimentos e continuam sem produzir, porque os subsídios agrícolas da Europa e dos EUA impedem que isso ocorra”, disse.

9 - A cana avança ou empurra outras culturas sobre os biomas do cerrado e da Amazônia .


Para Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, a cana tem ocupado acentuadamenteáreas do cerrado brasileiro. O argumento da agroindústria canavieira, de acordo com ela,é de que essas áreas são degradadas. “O setor tem razão quanto à produção de apenas um boi por hectare. É preciso uma produção mais sustentável, mas será que com o tempo isso não pode gerar problemas?”, indaga. Ela também diz que a cana, especialmente em São Paulo, tem sido a cultura preferida pelo pequeno produtor. “É mais rentável arrendar para a usina do que plantar, o que está acabando com a agricultura diversificada em certas regiões”, observa.

Malu acredita que o etanol é uma alternativa viável ao petróleo. “O lobby do petróleo criou um modelo inadmissível.” Mas ela salienta a importância do desenvolvimento do combustível renovável de maneira sustentável. Para isso, lembra que o zoneamento para cana é muito importante à medida que vai garantir o respeito aos recortes dos bioamas. A previsão é de que nos próximos meses o governo federal apresente este zoneamento. Para Cid Caldas, falar que a cana-de-açúcar está invadindo a Amazônia é uma bobeira. A expansão está ocorrendo em regiões do Centro-Sul (oeste paulista, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso). Existem diversos fatores que tornam inviável a produção de cana-de-açúcar na região amazônica: distância dos centros de consumo, dos centros de manutenção de equipamentos das usinas, dos principais portos do país, sem contar a inaptidão agrícola da região (as condições climáticas e de solo são desfavoráveis para a cana-de-açúcar).

O uso de terras da floresta amazônica para cultivo de cana enfrenta profundas dificuldades técnicas, pois o volume de chuvas na região não permite o amadurecimento da cana. “O principal problema de desmatamento da Amazônia é para exploração ilegal de madeira e estima-se que cerca de 5% da produção de soja provém de região de bioma amazônico”, diz Caldas. Segundo Biegai, no cerrado tem sido reportado incremento de moderado a discreto de área plantada de cana-de-açúcar, especialmente a partir da ocupação de pastagens degradadas.

Mas está muito longe de o Centro-Sul se tornar um mar de cana. A área ocupada com cana no Brasil precisaria aumentar em quase 50 vezes para que esta expressão começasse a se aproximar de algo parecido, segundo ele. “Mesmo que precisemos produzir 200 bilhões de l nas próximas décadas, nem assim a cana vai atingir tanta área, por conta do aumento da produtividade esperada para os próximos anos, assim como outras inovações tecnológicas que aumentarão a rentabilidade litros/hectares/ano”, diz.

10 - Atribuir aos biocombustíveis a culpa pela escalada dos preços dos alimentos tem motivos político-ideológicos.

Para Biegai, boa parte das críticas endereçadas aos biocombustíveis nessa discussão tem uma razão: o desconhecimento. “As pessoas tendem naturalmente a ter medo do que não conhecem”, analisa. As críticas talvez também tenham uma boa dose de sentimento anti-americano, por conta da explosão da produção norte-americana de etanol. Ou mesmo uma resistênciaà possibilidade de países emergentes, como o Brasil, terem no combustível renovável uma fonte de crescimento e libertação do petróleo.“Essa gritaria [de críticas contra os biocombustíveis frente à alta dos preços dos alimentos] é uma cortina de fumaça. A razão da crise é a hipocrisia do protecionismo”, diz Biagi.

Para Goldemberg, está havendo uma ofensiva violenta dentro dos Estados Unidos contra a utilização de etanol feito do milho e isto acaba refletindo na produção do etanol de cana. “São processos diferentes, mas estão sendo colocados no mesmo barco. Mas é uma postura política. É acusação ideológica e apaixonada”, diz. Frente a essa discussão, cabe ao Brasil aproveitar as oportunidades, inclusive criada pelo aumento do consumo mundial de alimentos, e buscar sempre quebrar os mitos que há décadas tentam tolher seu progresso. Nosso exercício de quebrar mitos continua...

quinta-feira, novembro 27, 2008

Mais um grande do petróleo no etanol?

Encontrei no site Gas Virtual a nota abaixo, publicada no dia 24 de novembro, que diz que a Shell está finalizando a compra da COSAN. A nota pode ser encontrada na íntegra aqui:

Shell, gigante do petróleo, aposta no etanol brasileiro

A Shell está praticamente fechando a compra da Cosan, maior produtora nacional de açúcar, álcool e etanol. O grupo de Piracicaba (SP) foi destaque no noticiário, em maio, ao abocanhar a Esso do Brasil. No negócio, que pavimentaria sua estréia na revenda de combustíveis, pagou quase R$ 1 bilhão. Pelo visto, o projeto não emplacou. (Fonte: Ricardo Boechat - Isto É)

Nota: Em junho deste ano o Portal GasVirtual publicou:A gigante do setor de petróleo acredita que os biocombustíveis podem ser "muito atrativos" e nega que o etanol esteja gerando um lobby do setor de combustíveis contra países como o Brasil.

A empresa, porém, alerta: não irá apostar no etanol de milho nos Estados Unidos. "Quando se analisa a produção de cana, como no Brasil, está claro que se trata de um setor atrativo para investimentos e achamos que esse modelo no Brasil é sustentável em termos ambientais", afirmou o chefe mundial do departamento de tecnologia da Shell, Jan van der Eijk. "Tudo indica que o etanol de cana é bom para a economia e para o meio ambiente. Portanto, é um bom investimento, com lucros promissores, e vamos seguir essa tendência", disse. Van der Eijk explica que a Shell irá investir tanto no etanol de cana como no desenvolvimento de um etanol de celulose.

"São esses os modelos que fazem sentido econômico e estamos considerando o envolvimento da Shell nesse setor. Não estamos considerando usar nem o milho nem trigo", alertou. O motivo da recusa pelo etanol produzido nos Estados Unidos a partir do milho seria a necessidade de altos subsídios para que o produto seja competitivo no Mercado.

quarta-feira, novembro 26, 2008

Petrolíferas atacam no etanol?

Duas notícias publicadas recentemete mostram o interesse da Petrobras e da BP no etanol brasileiro. A BPque já possui uma unidade de biocombustíveis e atua em parceria com grupos nacionais no setor mostra seu interesse pelo etanol em reportagem do JB Online de 25 de novembro e também agora parece, segundo notícia da Agência Estado de 24 de novembro, que a Petrobras está com sérios interesses no setor:

PETROBRAS DEFINE ESTE ANO SE COMPRARÁ USINAS DE ETANOL

O presidente da Petrobras Biocombustível, Alan Kardec Pinto, reiterou hoje que a revisão do planejamento estratégico da estatal deverá incluir a possibilidade de a companhia adquirir usinas existentes de etanol no País e aproveitar oportunidades que poderão surgir a partir da queda nos preços dos ativos, provocada pela crise financeira global. "Nós propusemos participar da compra de usinas existentes, mas não queremos tumultuar o mercado, tudo dependerá da revisão do planejamento estratégico da empresa, previsto para dezembro", disse.

De acordo com o executivo, a crise não alterou o programa da companhia que prevê a construção de 20 unidades produtoras novas (Green Field) que deverão ser instaladas preferencialmente na região Centro-Oeste do País, onde a companhia pretende também instalar um alcoolduto. Até agora, apenas um projeto saiu do papel, o da usina Itarumã, em Goiás, que será construído em parceria com a japonesa Mitsui, com investimentos previstos de US$ 227 milhões para a produção de 200 milhões de litros a partir de 2010. Os contratos de EPC (Engineering, Procurement and Construction) deverão ser assinados no início de 2009.

Segundo ele, o etanol continuará competitivo, mesmo com a queda das cotações do barril de petróleo. "O etanol é competitivo com o barril até US$ 40", disse ele. Conforme o presidente da Petrobras Biocombustível, o escopo do projeto de instalação de novas usinas não sofreu alterações e continuará com enfoque na produção de etanol para a exportação, sendo que a viabilização do empreendimento contará com a participação da iniciativa privada (majoritária), além de um parceiro internacional. "Os atores internacionais têm pressa em introduzir o etanol em sua matriz energética e o principal motivador disso é o Protocolo de Kyoto", argumenta. Neste sentido, ele acredita que o Brasil é o país que terá maiores condições de atender à demanda e, por isso, a idéia é que as usinas sejam instaladas já com a garantia de demanda externa e com contratos de longo prazo. "Foi o que aconteceu na parceria com a Mitsui, que garantiu o mercado", explicou.

A Petrobras já possui uma meta de exportação de 4,75 bilhões de litros de etanol até 2012 e por isso, segundo Alan Kardec Pinto, a intenção é tirar o restante dos 19 projetos de usinas do papel até o próximo ano. Da mesma forma, até 2011, a empresa espera que já esteja concluída a primeira etapa do alcoolduto que irá entre Uberaba (MG) e São Paulo para escoar a produção destes empreendimentos, a partir do Porto de São Sebastião (SP) ou do Rio de Janeiro. Tão logo sejam fechados os projetos de usinas no Estado de Goiás, a empresa pretende instalar a segunda etapa do projeto, entre Uberaba e Senador Canedo (GO), o que levaria mais um ano.

Outro ponto observado pela Petrobras na instalação de usinas de etanol é a possibilidade de comercialização de energia gerada a partir do processamento da cana-de-açúcar. A Usina Itarumã deverá gerar 50 megawatts (MW) de energia, dos quais um terço será consumido internamente e o resto poderá ser comercializado. Kardec Pinto não revelou o valor dos recursos que serão aplicados pela companhia nos projetos, que também serão avaliados na revisão do planejamento estratégico da companhia.

PARA BP, ETANOL É OPORTUNIDADE

Um dos maiores grupos petroquímicos do mundo, a britânica BP, aposta no etanol de cana-de-açúcar como uma alternativa sustentável de biocombustível e como oportunidade de negócios para sua estratégia corporativa.

A vice-presidente de Políticas Corporativas e Comunicações da BP, Anne Ruth Herkes, declarou que ´a BP decidiu apostar no etanol, porque enxerga uma excelente oportunidade de negócios nesse produto e entende que a produção deve ser muito bem feita, em linha com as melhores práticas de trabalho e produtividade´. E completou que ´ao investir na Tropical Bioenergia e na cana-de-açúcar, a BP reconhece a eficiência energética e a sustentabilidade ambiental da produção de etanol de cana, que não compete com alimentos´.

Ao se referir a alguns estudos contrários ao uso do etanol, a representante da BP esclareceu que após revisar esses trabalhos a companhia acredita que são inconclusivos e que existem diversos estudos muito bem fundamentados que mostram o oposto. ´O objetivo da BP no setor de bioenergia é incentivar os melhores biocombustíveis´, concluiu. Herkes esclareceu que a BP, além do etanol no Brasil, também investe em outras iniciativas para a produção de biocombustíveis.

Szwarc destacou que ´o futuro da indústria no Brasil, a exemplo dos demais segmentos da economia, não está imune às dificuldades do curto prazo, especialmente quanto à disponibilidade de créditos para financiamento da safra, exportações e estoques. No entanto, ressaltou que em médio e longo prazos as perspectivas são muito positivas para o setor.

´Os fundamentos do mercado continuam sólidos, porque tanto o açúcar como o etanol continuarão a ser consumidos e de modo crescente. O que se observa é uma diminuição na velocidade de expansão da produção, que deverá se ajustar às condições de mercado´, completou.

A companhia foi a única petroleira a fazer uma apresentação no 17º Seminário da Organização Internacional do Açúcar (ISO), realizado em Londres, no qual a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) também participou .