quinta-feira, agosto 28, 2008

ICMS do álcool em SP - Retrocesso à vista?

Parece que a fúria por arrecadação de impostos não leva em considerações outros ganhos, como por exemplo, os ganhos ambientais. Na fundo parece que os governos só querem mesmo é arrecadar.

Como uma boa mostra disso, temos na íntegra a notícia publicada na Folha de São Paulo de hoje que mostra o governador Serra quer aumentar o ICMS sobre o etanol para abocanhar mais dinheiro:

SERRA ESTUDA AUMENTO DO ICMS SOBRE O ÁLCOOL

O governador José Serra estuda a possibilidade de elevar o ICMS que incide sobre o álcool produzido no Estado, cuja alíquota foi rebaixada no governo de Geraldo Alckmin, candidato tucano a prefeito de São Paulo.

Atualmente, a alíquota do ICMS que incide sobre o álcool em São Paulo é de 12%, a mais baixa do país. Nos outros Estados, a alíquota varia de 18% a 25%. Antes de ser rebaixada, em 2003, a alíquota do imposto em São Paulo era de 25%.

A principal razão para a redução do ICMS por Alckmin foi o fato de o setor de açúcar e álcool ter garantido que a arrecadação do ICMS iria aumentar com a diminuição da sonegação. Isso não aconteceu. A arrecadação caiu R$ 1,2 bilhão.

O governo de São Paulo também não gostou do fato de os usineiros não estarem colaborando na reconstrução das estradas vicinais que sofrem com o transporte da cana.

Os caminhões de cana transportam três vezes mais peso do que os normais, o que desgasta as estradas vicinais. O governo Serra pediu a colaboração dos usineiros, mas até agora eles não se pronunciaram.

O governo de São Paulo também se mostra descontente com o fato de muitos usineiros, apesar da alíquota baixa do ICMS, investirem em outros Estados para usufruírem de outros incentivos.

O diretor técnico da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), Antônio de Pádua Rodrigues, argumenta que os benefícios indiretos são muito maiores do que a diferença de arrecadação.

Segundo ele, ao propor o aumento da alíquota do ICMS para o álcool, o governo não leva em conta, por exemplo, os benefícios para São Paulo, em um mercado em que os níveis de poluição são altos.

"Falta preocupação ambiental", diz Pádua Rodrigues. "A expansão da cana-de-açúcar também movimentou a indústria de bens de capital, com a instalação de mais usinas no Estado".

domingo, agosto 24, 2008

Um pouco sobre a agricultura portuguesa

Encontrei no site Mundo Português uma entrevista com Ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas de Portugal. Nesta entrevista podemos conhecer um pouquinho da agricultura deste país tão próximo do nosso, mas com uma realidade agrícola muito diferente:

Jaime Silva em entrevista: "Vale a pena investir na Agricultura"

Jaime Silva é um Ministro sereno apesar de saber que é bastante pressionado pela sociedade civil. Quando se tem um bolo financeiro de ajudas públicas superior a 4.000 milhões de euros - como o próprio diz - a pressão dos lobies pode tornar-se imensa. Jaime Silva acredita numa agricultura cada vez mais modernizada e é nessa direcção que aposta claramente. A competitividade é a palavra de ordem do Ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, que deixou um aviso: o caminho dos subsídios tem os dias contados. O caminho agora, sublinha, é o da rentabilidade que preside a todos os projectos e diplomas que tem em carteira prontos para ver a luz do dia e provocar na agricultura em Portugal, o "sobressalto" que ela há muito precisa...

A agricultura em Portugal tem sido feita de avanços e recuos sucessivos desde o 25 de Abril, e ninguém sabe muito bem como vai ser o futuro. Afinal somos ou não um país agrícola?

Em primeiro lugar creio que é preciso que tenhamos uma ideia clara de que nos países desenvolvidos a agricultura tende a representar em termos de produto interno, um valor que não ultrapassa os três por cento. Normalmente estes países desenvolvem um tecido industrial importantíssimo e uma área de serviços também importante o que significa uma queda da agricultura. Isso, no entanto não quer dizer que a agricultura não tenha em termos absolutos aumentado de importância, os outros sectores é que aumentaram muito mais.

É no entanto importante que se diga que a agricultura é um sector de actividade que hoje volta de novo a estar na moda, onde vale a pena investir porque se consegue tirar um rendimento igual ao de qualquer outro sector. Em Portugal criou-se um "complexo social" em relação à agricultura. Temos de pôr a agricultura na moda e de fazer perceber que se conseguem padrões de qualidade de vida tão bons ou melhores do que em qualquer outra actividade.Mas por enquanto ainda vão sendo passados poucos sinais para a sociedade de que o futuro da agricultura é promissor...

Há poucos sinais porque até em termos intelectuais sempre vimos Portugal como um país rural e isso significava atrasado. Nós nunca valorizámos o verdadeiro mundo rural e que hoje em dia tem um outro “élan”, veja-se por exemplo o que tem sido feito por tantos jovens agricultores no sector do vinho. Os “Douro-boys”, por exemplo, são jovens empresários que apostaram em produzir vinhos de gama alta, são empresários que em qualquer parte do mundo seriam considerados de excelência, mas disso nós falamos pouco e a imagem que vai passando é a dos terrenos abandonados, o interior despovoado, e um nível de vida baixo.

Quando falamos de agricultura temos de pensar também na realidade para além do que consumimos, porque a maior indústria de transformação no nosso país é a agro-indústria e para ela existir temos de ter produção primária. Ora nós nunca olhamos para estes dois sectores conjuntamente e para a importância que ambos têm no sector produtivo em Portugal. Habitualmente todos sabemos falar da Auto-Europa e da importância que tem para o país, mas provavelmente o que se desconhece é que os produtos da floresta representam mais do dobro das exportações da Auto Europa.

Fala em valorizar a profissão de agricultor, em dar-lhe um carácter empresarial. Mas Portugal ainda é um país com uma agricultura praticada por pequenos e envelhecidos agricultores, de forma tradicional. Como pretende mudar esse quadro?

Mudando também os instrumentos que atingem directamente o agricultor. No quadro anterior tínhamos apoios a explorações agrícolas independentemente da dimensão, eu diria até que serviam apenas para manter uma agricultura de subsistência. Não se justifica minimamente dizer a um agricultor que tem meio hectare ou cem metros quadrados que lhe vamos dar 50 ou 100 euros para que se mantenha como guardião da paisagem. Fui acusado por algumas confederações, nomeadamente de influência comunista, de que eu era contra os pequenos agricultores. Não o sou de facto, mas acho que dizer a um agricultor para manter os seus poucos metros quadrados a troco de uma ninharia não confere dignidade à vida desses agricultores. Para além disso a dimensão das explorações agrícolas é um factor decisivo no aumento da competitividade, contrariamente àquela demagogia criada em matéria de ajudar os pequenos, que fez com que se mantivessem explorações agrícolas muito pequenas e portanto nada rentáveis.

Por isso decidi que não haveria ajudas abaixo de um hectare, porque não haja ilusões, temos de promover um aumento rápido da dimensão média das explorações agrícolas em busca da rentabilidade.

É então favorável ao sistema de cooperativas?

Quando cheguei ao governo uma das minhas primeiras medidas foi nos frutos secos, porque apesar de haver uma ajuda muito importante a estes produtores, Portugal importava a maior parte dos frutos secos que consumia. Isto significava que estávamos a dar ajudas a produtores que tinham duas ou três amendoeiras, o que não fazia sentido algum. A partir de então as ajudas passaram a ser dadas a agrupamentos de produtores, para que se pudesse registar um aumento da oferta e para que estes produtores deixassem de vender a granel em sacos de 50 quilos e passassem a vender em retalho com o consequente aumento de valor acrescentado.

Claro que isto não foi pacífico e no primeiro ano houve imensos protestos, mas no segundo ano começámos por ter um produtor de Torre de Moncorvo a exportar para os Estados Unidos.

O senhor Ministro enfatiza muito a necessidade da criação de empresas agrícolas, mais do que simples agricultores, mas recentemente sofreu algumas críticas por ter deixado de fora as empresas agrícolas nas ajudas para a exportação...

Penso que o que há aqui é um grande mal entendido pelo facto de não termos ainda todos os diplomas publicados. Nalgumas situações ainda estamos numa fase de consulta pública, mas desde logo foi incluída a promoção à exportação, participação em feiras internacionais, campanhas de publicidade e aí temos claramente apoios definidos.

Por exemplo se alguém pretender construir uma nova adega e nesse projecto incluir o estudo de uma nova marca e consequente divulgação no estrangeiro, esse estudo é elegível, pois a promoção tem de fazer parte daquilo que é o investimento global.

Uma das grandes críticas que sempre foi feita ao nosso sistema de apoios era precisamente serem todos destinados à produção e não haver apoios à comercialização, o que levava a que se criassem demasiados stocks...

É verdade. Nós tínhamos a ideia que a agricultura era a produção primária e ficávamos por aí. Neste Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) vão ver que estão consagrados apoios à fileira, com aprovações mais elevadas.

Eu dou o exemplo de uma adega que esteja em situação financeira difícil, individualmente dificilmente poderá vir a ter apoios para o reequilíbrio financeiro, mas se apresentar um projecto de fileira desde a reorganização dos seus pequenos produtores, à a criação de prémios ao arranque a pequenas unidades que por isso mesmo não sejam competitivas, à reconversão de vinhas para variedades que o mercado mais procura, e depois apresentar o seu próprio projecto de comercialização e internacionalização, ela vai ter certamente uma classificação de prioridade muito mais elevada.

Acha que o aumento anunciado das quotas do leite vai trazer um abaixamento do preço como temem os produtores?

Nós temos de separar aquilo que é contestar para capitalizar, daquilo que é a realidade.

Em primeiro lugar criou-se a ideia de que o parlamento europeu tinha votado um aumento de dois por cento nas quotas de produção de leite, ora o parlamento só tem poder para dar um parecer, são os ministros da agricultura que o irão decidir.

Relativamente ao sector do leite a procura mundial subiu e os stocks da EU caíram o que conduziu a um aumento de preços da ordem dos 40 por cento, inclusivamente em Portugal.

Ora, se esta realidade tem um aspecto positivo, que tem de ver com uma melhor remuneração para os produtores de leite, não deixa também de ter um lado bastante negativo, que é precisamente um aumento de 40 por cento num produto importantíssimo para uma dieta saudável e equilibrada. Ora para que estes aumentos não se tornem uma tradição a partir de agora, este aumento de quota é apenas um instrumento de regularização para que não se tenha de vir a intervir no mercado.

No início do mês, durante uma reunião da Conferência dos Ministros das Pescas da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), em Moçambique, defendeu que a cooperação a nível dos países lusófonos deve gerar "mais substância" para a resolução dos problemas comuns neste sector. Portugal presidiu à Conferência nos últimos três anos. O que acrescentou a nível de cooperação e o que falta fazer?

Este grupo das pescas da CPLP foi criado em 1995 para reforçar a cooperação e o balanço que eu faço é que esta cooperação deu alguns resultados nalgumas áreas. Para mim foi gratificante ouvir o Ministro Angolano das pescas referir positivamente o apoio que tinha tido de Portugal na área da investigação nas pescas.

O problema é que a cooperação institucional vive muito de retórica, porque nós não envolvemos o nosso sector empresarial na cooperação o que foi de facto uma grande falha.

O que eu fui fazer a Moçambique foi estabelecer uma nova fase de cooperação em que temos de trazer as empresas para estas nossas reuniões periódicas traçando metas e objectivos Portugal é um importador líquido de peixe.

Somos e seremos sempre, porque as nossas costas são de águas profundas logo não são ricas em captura, por isso temos necessidade de dispor de possibilidades de pesca noutras águas e que o nosso tecido empresarial se internacionalize.

Estabeleci também um calendário de contactos em que me farei acompanhar das nossas empresas, para que elas se estabeleçam e invistam lá, que são países com um tecido empresarial bastante fragilizado e um enorme potencial de pesca.

Como Ministro da Agricultura tem conseguido alguns bons desempenhos a nível internacional, mas internamente continua bastante pressionado...

Eu continuo a ter uma pressão constante e que é normal. Quando se tem um bolo financeiro que é superior a 4.000 milhões de euros de ajudas públicas é evidente que os lobies têm o seu papel e alguns deles estão mal habituados relativamente ao passado, bastava fazer uma manifestação ou uma certa pressão e os dinheiros distribuíam-se logo de determinada forma.

Agora vigora o princípio da "prestação de contas" e da distribuição transparente. Todas as Confederações têm de saber onde está o dinheiro e onde está a ser aplicado e tem de acabar a ideia que se criou na agricultura portuguesa de que as coisas só funcionavam de facto com subsídios ao rendimento e quando aparecia uma crise lá vinha o saco azul para subsidiar, quanto o normal numa economia de mercado é tudo se organizar para ter lucro.

E de repente de Bruxelas veio o grito de alerta quando se chegou à conclusão que 48 por cento do orçamento comunitário ia para subsidiar a agricultura, foi nessa altura que se começou a descobrir que os subsídios não eram eternos e voltou-se a olhar para a agricultura para se chegar à conclusão que andamos este tempo todo a viver uma grande ilusão. Quando eu tomei posse tinha um programa de governo que impunha como eixo principal a competitividade e neste sentido Portugal não pode concluir que tem maus agricultores, mau solo, mau clima e que portanto não pode ser competitivo.

Quando Portugal aderiu à UE, grandes teóricos do sector, nomeadamente da CAP, afirmaram logo peremptoriamente que o sector leiteiro iria acabar, evidenciando assim as fragilidades portuguesas no sector, curiosamente o sector leiteiro não só não acabou como se tornou extremamente competitivo porque percebeu que para poder competir tinha de ganhar dimensão e apostar num modelo de gestão diferente do modelo da cooperativa tradicional.

O que aconteceu no sector leiteiro não aconteceu, infelizmente, em mais sector nenhum, à excepção talvez dos vinhos que em tempo certo apostou forte naqueles programas de reconversão das vinhas para vinhas de qualidade.

O caso do olival, é um exemplo de más políticas seguidas por todos os governos até hoje. Portugal que era um país auto-suficiente em azeite, de repente deixou cair o olival quando se começou a entender que a oliveira era importante para a paisagem e se começou a subsidiar a presença da oliveira, em vez de modernizar o olival. Foi preciso o preço do azeite ter subido imenso nos mercados mundiais e os empresários espanhóis olharem para este lado da fronteira e ter visto aqui um a oportunidade.

E porque não fomos nós a aproveitar também esta situação no quadro anterior? - Porque era muito mais fácil distribuir subsídios. Não houve coragem de dizer não aos subsídios para se terem cinquenta oliveiras por hectare, haverá apenas para quem tiver 300 e se for um olival moderno regado.

Este ano, registamos uma quebra no produto agrícola da ordem dos 5 por cento e fica a dever-se a quê? - Quebra de produção no vinho e quebra de produção no olival e também nalgumas frutas e apenas porque não choveu. Em Espanha nestas mesmas três produções o rendimento não caiu porque têm olivais e vinhas modernas, regadas gota a gota.

De facto o que a agricultura em Portugal precisava era de um sobressalto e o governo teve a coragem de o fazer em 2005.

Guerras do Agronegócio na Europa

Bem, este título não é bem o que você pensa.

O título é sobre alguns festivais bem bizarros que existem na Europa e foram retratados em uma série de reportagens da revista alemã Der Spiegel mostrando algumas bizarras festas na Europa. Veja as reportagens clicando aqui:

E, no meio de algumas festividades bem esquisitas, encontrei três delas relacionadas com o agronegócio.

A primeira dela é uma festa que já conhecia. É a Tomatina, festa que acontece na cidade espanhola de Buñol onde cerca de 150 toneladas de tomate são utilizadas na maior guerra de alimentos do mundo. Tradição que já vem de 60 anos e que ninguém sabe como começou.

Abaixo algumas fotos publicadas na Der Spiegel sobre a festa:




A outra festa, desconhecida para mim, é a festa da laranja em Ivrea na Itália. Abaixo também fotos da Der Spiegel.



Por fim, a última delas é a guerra de farinhas na vila grega de Galaxid. Vejam as fotos da Der Spiegel.

Álcool orgânico para a produção de cosméticos

Agora temos também álcool orgânico sendo produzido aqui no Brasil. Sempre achei que quanto mais diversificarmos o porfólio de produtos, melhor para o agronegócio brasileiro. Segue abaixo reportagem do Valor Econômico de 22 de agosto:

BALBO VENDE ÁLCOOL ORGÂNICO PARA A L'ORÉAL

O Grupo Balbo, maior produtor de cana orgânica do país, vai exportar álcool orgânico para a multinacional francesa L'Oréal. A matéria-prima será destinada à produção de cosméticos e perfumes da companhia. Os Balbo são fornecedores desse mesmo tipo de matéria-prima para a Natura.

O aumento da demanda internacional por produtos orgânicos impulsiona os negócios da família Balbo. A produção de álcool neutro, voltado para indústrias química e farmacêutica, com cana totalmente livre de agrotóxicos é a forte aposta da companhia - também a maior exportadora de açúcar com esse mesmo processo de cultivo. As indústrias de cosméticos, muitas vezes criticadas pelos seus métodos de produção polêmicos, como a realização de testes em animais, estão adotando a cana "verde" como passaporte para a sustentabilidade.

As negociações com a L'Oréal deverão ser concluídas em outubro, e os embarques começarão nos próximos meses. "Muitas empresas de cosméticos estão interessadas nesse tipo de matéria-prima porque querem ter sua imagem atrelada à sustentabilidade", disse Leontino Balbo Júnior, diretor-comercial do grupo.

Para a Natura, o grupo fornece 6 milhões de litros de álcool neutro por ano. Com a entrada da L'Oréal, a produção de álcool neutro terá de ser, no mínimo, sextuplicada. Com isso, o grupo vai investir num equipamento chamado planta de retificação, utilizado para tornar o álcool mais puro.

Para exportar o álcool orgânico, os Balbo fizeram parceria com uma empresa européia. "Esse álcool tem de ser transportado em contêineres de aço inox. Todo material em contato com o produto tem de passar por um processo de desodorização", explicou Balbo. Procurada, a L'Oréal do Brasil informou que não comenta as negociações da matriz. A empresa também informou que adota no país práticas de sustentabilidade, que incluem a redução do consumo de energia e água durante o processo produtivo, tratamentos de efluentes e redução de CO2 em transporte.

Com faturamento em torno de R$ 300 milhões na safra 2007/08, o grupo Balbo tem duas usinas de açúcar e álcool em São Paulo e participação de 70% em outra unidade em Minas Gerais. A expansão da companhia será por meio de parcerias estratégicas e agregação de valor aos seus produtos, afirmou Balbo. Segundo ele, há conversas sobre parcerias, mas ainda não há nada fechado.

A usina de São Francisco, em Sertãozinho (SP), trabalha com 100% de cana orgânica. A Santo Antônio, instalada na mesma cidade, está em fase final de conversão para o mesmo método. Já a unidade de Minas ainda está em transição para esse tipo de cultivo. "Temos um programa para integrar os nossos 300 fornecedores [de cana] na filosofia de orgânico", disse. O grupo trabalha com 50% de cana própria. O companhia produz em torno de 75 mil toneladas de açúcar por safra, dos quais 80% são do tipo orgânico, e 160 milhões de litros de álcool. Até a safra atual, a 2008/09, 5% do total foi orgânico, mas passará para mais de 20%.

Segundo Balbo, quase 90% da produção de açúcar orgânico do grupo é exportada. "Fechamos contrato com a Danisco [companhia de alimentos dinamarquesa] para entrega de açúcar. Os primeiros embarques foram em julho."

Dono da marca Native, com uma linha de produtos que inclui café, açúcar, achocolatado, cookies e sucos de laranja e maracujá, o grupo possui as principais certificações orgânicas do mundo. Há 20 anos como produtor de cana "verde", o grupo encomendou estudos à Unicamp para validar o seu modelo de produção. "Não adianta o grupo falar que adota práticas de cultivo orgânico. Precisa de um órgão independente para dar essa validação", disse Balbo.

O inventário de carbono feito pela Unicamp indicou que a usina São Francisco emite 35% menos gases de efeito estufa do que uma planta convencional, após analisar os canaviais entre maio de 2006 e junho de 2007, a produção agrícola, o consumo de insumos e a industrialização. Essa avaliação resultou no selo Carbono Neutro, que tem como base o Protocolo GHG, modelo internacional de quantificação das emissões.

O maior orgulho de Leontino Balbo não é a validação em si, mas os efeitos na biodiversidade com o método de cultivo. "Com a adoção da cana orgânica nas lavouras, mais de 250 espécies de vertebrados foram identificadas em nossas fazendas".

domingo, agosto 17, 2008

Agronegócio brasileiro diversifica seus compradores

Em duas notas do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) publicada no site BrasilAgro comenta a diversificação dos mercados compradores dos produtos brasileiros e o aumento da importância no mercado internacional.

Abaixo as duas notas na íntegra:

BRASIL DIVERSIFICOU MERCADOS DE EXPORTAÇÕES DO AGRONEGÓCIO

Em dez anos o Brasil diversificou os mercados de destino das exportações de produtos do agronegócio. É o que mostra o estudo Intercâmbio Comercial do Agronegócio - Principais Mercados de Destino, da Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), lançado nesta quinta-feira (14).

Diversificar mercados significa maior independência no escoamento dos produtos agropecuários brasileiros. A ampliação da rede de destinos dá mais autonomia e capacidade de negociação ao País. Além disso, um leque variado de países importadores diminui a vulnerabilidade do Brasil em caso de eventuais crises econômicas.

Em 1997, 71,1% das exportações brasileiras do agronegócio tinham como destino os cinco primeiros mercados. No ano passado, essa porcentagem caiu para 63,5%. Já os dez primeiros, em 1997, eram responsáveis por 80%. Dez anos depois, essa participação decresceu para 74%. Com os 20 primeiros destinos, não foi diferente. Em 1997, compravam 88,3% e, no passado, 83,7%.

No que se refere aos trinta principais países que mais importavam produtos do agronegócio brasileiro, em 1997, eles respondiam por 92,9% do total vendido pelo Brasil, índice que caiu para 89%, em 2007.

Em 1997, os cinco primeiros mercados importadores do agronegócio brasileiro eram a União Européia, Estados Unidos, Japão, Argentina e China. Dez anos depois, a China ascendeu para o terceiro lugar, a Rússia tomou a posição da Argentina e o Japão caiu para a quinta colocação.

Atualmente, os chineses formam o segundo maior mercado para os produtos do agronegócio brasileiro, atrás apenas da União Européia. Considerando os países isoladamente, o mercado da China já é o principal destino de produtos agrícolas e pecuários do Brasil.

CRESCE A PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NO COMÉRCIO MUNDIAL DO AGRONEGÓCIO

O comércio mundial do agronegócio cresceu 57% entre os anos de 1997 e 2006. Nesse período, o valor exportado em todo o mundo subiu de US$ 388,6 para US$ 609,8 bilhões. Em igual intervalo, a participação do Brasil nesse mercado subiu dois pontos percentuais, passando para 6,9%. A média de crescimento das exportações brasileiras do agronegócio no período foi de 9,6% ao ano.

Os dados fazem parte do estudo Intercâmbio Comercial do Agronegócio - Principais Mercados de Destino, organizado pela Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SRI/Mapa), lançado nesta quinta-feira (14).

Em 2007, as exportações do agronegócio brasileiro atingiram a cifra de US$ 58,4 bilhões, valor 2,5 vezes maior que o registrado há dez anos, quando o Brasil exportou US$ 23,4 bilhões. Esse crescimento, no entanto, não foi regular devido às oscilações dos preços internacionais das commodities.

A evolução do valor das exportações do agronegócio brasileiro apresenta dois períodos distintos. O primeiro vai de 1997 a 2000 e se caracteriza pela queda de 12% das exportações, influenciada pela redução acumulada de 22,5% nos preços.

De 2001 a 2007, o crescimento do valor exportado torna-se contínuo. Até 2002, esse incremento é moderado por conta dos preços ainda baixos. Só no ano seguinte, com a conjugação de preços mais elevados e o aumento da quantidade exportada, é que a curva de crescimento das exportações se acentua.

PREÇO X QUANTIDADE

A relação entre preço e quantidade ajuda a explicar melhor o comportamento das exportações do agronegócio brasileiro entre 1997 e 2007. A queda das exportações, registrada de 1997 a 2000, foi determinada pela redução dos preços de 8,2% ao ano, ainda que a quantidade exportada tenha crescido a uma média de 4,4% nesse período.

Em 2001, o valor das exportações começa a subir por conta do grande aumento da quantidade exportada. Mas é em 2003 que as exportações iniciam uma subida acelerada pelo crescimento dos preços a uma taxa anual de 10%, com o incremento da quantidade exportada de 4,4% ao ano. Entre 2000 e 2004, a quantidade exportada cresceu a uma taxa anual de 16,8%, índice que caiu para 4,4% entre 2004 e 2007.

Nos últimos três anos o crescimento anual de 14% no valor das exportações do agronegócio é conseqüência, principalmente, do incremento de 68% dos preços, no período, e menos pelo aumento da quantidade exportada, 32%.

CEPEA alerta para armadilha dos ciclos de mercado

Análise do CEPEA alerta para o perigo dos produtores investirem em sua produção esperando aumentos de preços e caírem na armadilha dos ciclos de mercado com uma eventual queda dos preços. Leia abaixo esta análise:

O PRODUTOR PODE TER CAÍDO NA ARMADILHA DOS CICLOS DE MERCADO, DIZ CEPEA

Se a tendência atual de queda de preços de commodities permanecer, o produtor pode, mais uma vez, ter caído na armadilha dos ciclos de mercado, que já deveriam ser bem conhecidos por produtores e agentes que com eles comercializam insumos em geral, com destaque para máquinas. O alerta é do coordenador científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o professor da Esalq/USP Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, ao tomar em consideração os investimentos substanciais feitos pelos produtores. Pesquisadores do Cepea acompanham mensalmente variações de preços de insumos utilizados em pecuária de corte e de leite, soja, milho e algodão e seus impactos sobre a margem do produtor.

Na análise do professor Barros, ainda é cedo para concluir que a recente tendência veio para ficar. Para ele, seria surpreendente que os preços continuassem em queda, ou seja, que a tendência das ultimas semanas se mantivesse. Os fundamentos do mercado, ressalta, apontam para uma escassez relativa de commodities considerando a evolução da população e da renda mundial. “No período mais recente, aparentemente, os agentes passaram a acreditar numa retração nas economias desenvolvidas e emergentes em prevenção contra a inflação que vai se espalhando mundo afora. Sobre essa retração pairam dúvidas quanto a se ela virá realmente e se, em caso positivo, virá na intensidade necessária, que é grande e penosa.”

O movimento também recente de valorização do dólar – no Brasil e no mundo em geral – também contraria as expectativas. Na avaliação do coordenador científico do Cepea, os juros nos EUA continuam baixos comparados com os das demais economias importantes. Barros comenta que, embora os EUA venham gerenciando a crise, sabe-se que ela não foi superada e não vai desaparecer tão cedo. De qualquer forma, um aumento do dólar, por um lado, favorece o exportador (mais reais por dólar exportado), porém poderá contribuir para uma queda das commodities no mercado internacional (menor preço em dólar). Assim, o balanço final não é claro, pondera. “O mais provável é que um efeito compense o outro e o efeito líquido não seja grande.”

Fonte e outras informações: prof. Geraldo Barros - Laboratório de Informação do Cepea: 19-3429-8837 ou 3429-8836 ou cepea@esalq.usp.br

terça-feira, agosto 12, 2008

Situação da produção de biodiesel no Brasil

O Programa Nacional de Produção de Biodiesel (PNPB) passa por momentos difíceis atualmente, resumindo bem este cenário temos o artigo abaixo publicado no Estado de São Paulo de hoje de autoria do Prof. Buainain da Unicamp:

BIODIESEL SEM A AGRICULTURA FAMILIAR?

O Programa Nacional de Produção de Biodiesel (PNPB) foi lançado com três objetivos imediatos: fortalecer a imagem do Brasil como produtor de energia limpa e renovável, ampliar e consolidar a cadeia produtiva do biocombustível e promover o fortalecimento produtivo da agricultura familiar (AF). As metas eram ambiciosas: 2% de mistura facultativa em 2006-2007; 2% de obrigatória a partir de janeiro de 2008; 3% de obrigatória a partir de julho 2008; e 5% em 2013. Passados 4 anos do lançamento, já é possível identificar os rumos que o PNPB vem tomando.

Os dois principais setores associados à produção de biodiesel vêm evoluindo em ritmos incompatíveis. A indústria respondeu positivamente aos incentivos: em pouco mais de 4 anos, 56 unidades com capacidade instalada para produzir 2,9 bilhões de litros por ano foram autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Entre 2005 e junho de 2008, foram negociados, nos leilões da ANP e da Petrobrás, 1,8 bilhão de litros, 1,46 bilhão para entrega até junho de 2008. No entanto, a produção registrada entre março de 2005 e maio de 2008 foi de 825 milhões de litros, restando 620 milhões aparentemente sem cobertura. Até dezembro de 2007, deveriam ter sido entregues 885 milhões de litros, mas a produção foi de apenas 472 milhões. Tudo indica que outros contratos tampouco serão efetivados por falta de matéria-prima e preços remuneradores.

Já aquele que deveria ser um dos principais fornecedores de matéria-prima, o agricultor familiar, não respondeu com igual intensidade. Nem poderia, dada a fragilidade histórica desse segmento, os fracos incentivos e o fato de ter sido inserido na aventura de produzir biodiesel sem que a cadeia produtiva tenha sido devidamente estruturada. Com base nas estimativas de biodiesel negociado nos leilões, a AF deveria ter fornecido matéria-prima para a produção de 529,7 milhões de litros. Isso demandaria aproximadamente 1 milhão de toneladas de mamona, mas a produção no triênio 2005-2007 foi de 362 mil toneladas e a estimada pelo IBGE para 2008 é de apenas 150 mil. Portanto, a produção continua insuficiente para suprir a demanda.

De um lado, os produtores enfrentam problemas técnicos para transformar uma produção até então quase extrativa em cultivo organizado para atender a contratos com quantidade e prazo para entrega do produto. De outro, o preço da mamona dobrou entre o início de 2007 e julho de 2008, quando era cotado, no mercado baiano, a R$ 1.416 a tonelada de baga. Esse preço, sustentado pela demanda pelo tradicional óleo de mamona no mercado internacional, praticamente inviabiliza o uso dessa oleaginosa para a produção de biodiesel.

Cabe ressaltar, ainda, a entrada em vigor da Resolução ANP nº 7, de março de 2008, que redefiniu as especificações técnicas do biodiesel e, com isso, inviabilizou o uso direto do biodiesel de mamona por causa da elevada viscosidade. Esses números e informações levam à conclusão de que ficou ainda mais difícil inserir a agricultura familiar no agronegócio do biodiesel, principalmente no Nordeste, onde a única alternativa que teria alguma viabilidade é a mamona. Um reflexo dessa situação é que a Brasil Ecodiesel, empresa que simbolizou o PNPB no Nordeste e financiou a produção de agricultores familiares, vem tendo dificuldades para manter a produção e os contratos, pois parte dos produtores desvia a matéria-prima para o mercado e os custos de produção parecem superar os preços fixados nos leilões. Resultado: as ações caíram 70% nos últimos 12 meses (revista Exame, 10 julho de 2008).

Na prática, estima-se que de 70% a 80% do biodiesel produzido no País utilizou óleo de soja; 10 a 15%, gordura animal; e o restante, outras oleaginosas (entre elas a mamona). Não há dúvida quanto à capacidade da agricultura brasileira de atender a essa demanda adicional de soja. A questão que se coloca é se vale a pena, para o País, seguir essa trajetória contrária à imagem que se está corretamente tentando construir para o biocombustível nacional, como energia limpa que promove o desenvolvimento local, gera benefícios ambientais globais, promove a inclusão social e não compete com a produção de alimentos. Não seria o caso de rever as metas, que têm se revelado irrealistas, e investir para viabilizar o uso da mamona ou outras plantas, e a contribuição da agricultura familiar?

Antônio Márcio Buainain é professor do Instituto de Economia da Unicamp (buainain@eco.unicamp.br) e Junior Ruiz Garcia é doutorando de Desenvolvimento Econômico, IE/Unicamp (jrgarcia@eco.unicamp.br)

Leilão de energia elétrica proveniente do bagaço não atrai usinas

Apesar da geração de energia elétrica do bagaço ter um grande potencial no Brasil, o mesmo não está sendo aproveitado devido à má gestão do governo neste assunto. A reportagem abaixo mostra bem este aspecto:

LEILÃO DE BIOMASSA TEM BAIXA ADESÃO DE USINAS

Após receber oferta de 7.800 MW, pregão negociará apenas 1.100 MW. Usineiros dizem que preço inicial oferecido por energia não é compensador; para EPE, governo foi ao limite das ofertas nas negociações.

Considerado um marco para o setor de energia, o primeiro leilão de energia de biomassa para reserva, previsto para acontecer depois de amanhã, terá proporções muito menores do que as esperadas.

O volume de energia firme (que recebe o nome de garantia física no jargão da área) colocado para negociação é de cerca de 1.100 MW (megawatts), produzidos por 44 usinas em todo o Brasil. O governo, no entanto, tinha habilitado na semana anterior 96 usinas que garantiam 2.100 MW de energia produzida por bagaço e palha de cana-de-açúcar, capim-elefante e rejeitos avícolas. Porém, apenas 44 fizeram o depósito para participar do pregão.

Em fevereiro, 118 usinas ofereceram 7.800 MW durante a inscrição de interessados em fazer parte do leilão.Esse volume de energia é superior ao que será gerado pelas usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira.

"A Cosan poderia ter colocado três vezes mais energia para ser leiloada", diz Pedro Mizutani, vice-presidente do grupo Cosan. "Mas o preço inicial não é atraente a todas as usinas. Como os investimentos são altos e há multas a serem pagas em caso de não-cumprimento da entrega, muita gente preferiu não se arriscar."

Segundo a Unica, que representa o setor em São Paulo, os usineiros esperavam incentivos maiores, nos moldes do Pro-Álcool. "Como energia não é o negócio principal das usinas, qualquer obstáculo afasta o investidor", diz Onório Kitayama, responsável pela área de bioeletricidade na Unica. "Os custos dos projetos praticamente dobraram pela alta do aço e deixaram de ser compensadores, a não ser para "greenfields" [projetos iniciais]."

MATRIZ ENERGÉTICA

A energia de reserva por biomassa, entretanto, é considerada estratégica para a diversificação da matriz energética do país. Entre outros motivos, porque o período da safra de cana ocorre exatamente na época da seca dos reservatórios das usinas hidrelétricas na região Sudeste. Além disso, biomassa é mais barata e menos poluente do que a energia gerada por outras termelétricas.

Segundo a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a expectativa é que, no longo prazo, as usinas de biomassa produzam de 7.000 a 9.000 MW, o equivalente a 1,5 Madeira.

"Todo leilão é assim mesmo: mais empresas se inscrevem e um número menor deposita as garantias", afirma Maurício Tomalsquim, presidente da EPE. "Temos um bom número de participantes para um primeiro leilão."De acordo com Tomalsquim, o governo foi até o limite das negociações com os usineiros e não quer que a população pague pelos investimentos na melhoria das usinas privadas.

"Estamos levando redes de transmissão e estações coletoras até as usinas, criamos uma via rápida para licenças ambientais e possibilitamos o fornecimento escalonado", diz Tomalsquim. "Porém, se tivermos de pagar muito caro, as vantagens desse tipo de energia não compensarão."

O governo espera aumento gradativo na oferta, já que, segundo a EPE, o fornecimento é compensador também para as usinas. "Como o contrato é de 15 anos, a venda de energia acaba sendo um hedge [proteção] contra oscilações no preço internacional dos combustíveis", afirma Tomalsquim.

A Cosan, por exemplo, estima que a venda de energia poderá representar de 15% a 20% de seu faturamento total e vir a fazer parte de seu negócio principal. Maior produtora de álcool do país, a empresa foi a que colocou maior volume de energia em oferta no leilão, num total de 360 MW firmes.

Apesar de reconhecer os esforços do governo para retirar os entraves à realização do leilão, os usineiros ressaltam ainda que a produção de energia concorre com a produção de álcool de segunda geração, que usará o bagaço da cana e com a importação do bagaço por usinas européias, que têm programas de incentivo à biomassa.

Algumas considerações sobre a agricultura chinesa

Em um artigo publicado hoje no Estado de São Paulo, o secretário de Meio Ambiente de SP Xico Graziano comenta um pouco sobre a agricultura chinesa. Encontramos muitos dados interessantes no texto:

OLIMPÍADA DA COMIDA

Graças à magnífica Olimpíada, o mundo descobre a China. Não apenas na força do esporte ou nos encantos milenares da população. Impressiona a potência da sua economia. O gigante país, porém, desperta expondo uma fraqueza.

Os distantes chineses deslumbram homens de negócios há séculos. Em 1295 Marco Polo retornou à Itália após uma viagem de 24 anos à China. Naquela época os mercadores venezianos controlavam, passando por Constantinopla, a "rota da seda", um fascínio do vestuário medieval.

As descobertas chinesas foram fundamentais para a evolução da humanidade. Lá nasceram o papel, a pólvora, a bússola, a tipografia. Mais: de lá vieram os sinos, os tambores e os timbres musicais, o balão e o pára-quedas. Eles também inventaram a porcelana, o jogo de xadrez, o fósforo e o relógio.

Incrível.

A impressionante capacidade criativa dos chineses afetou a soberba dos nobres ocidentais. Tanto é que, por séculos, na Europa trataram a Ásia com certo desdém cultural, um povo estranho, olhos puxados, língua incompreensível, religião exótica. A assemelhada Índia, colonizada pelos britânicos, parecia mais controlável, porque dependente do capitalismo europeu. Na China ninguém mandava.

Fechadas as fronteiras da comunicação, permanecia aquela nação um local ermo e isolado. Na época da guerra fria, quando se digladiavam EUA e União Soviética, distantes permaneciam os esquisitos comunistas chineses. Somente com a morte do grande líder Mao Tsé-tung, em 1976, a política começa a mudar. Os sucessores iniciaram a construção do novo modelo socioeconômico, uma mistura de socialismo de Estado com capitalismo inovador. Mais uma invenção histórica.

Paulatinamente se abria a sociedade chinesa. Ao mudar o milênio, a China se revelou ao mundo globalizado. O grande lance dessa recente trajetória ocorreu em 2001, quando solicitou seu ingresso na Organização Mundial do Comércio (OMC). Ora, quem quer jogar precisa seguir as regras. E estas mandam abrir as fronteiras, em ambos os sentidos, tanto na importação como na exportação de produtos.

Guerra por mercados.

O tamanho do mercado chinês faz brilhar os olhos dos comerciantes ocidentais. No Brasil, os agricultores sonham com o dia em que cada chinês vá tomar um cafezinho, um copo de suco de laranja ou comer uma boa picanha grelhada. Se, por exemplo, cada família chinesa se nutrisse com um bife diário, em 30 dias acabariam as exportações anuais de carne do Brasil. Haja alimento para atender àquele fabuloso mercado!

Depende, todavia, dos hábitos de consumo. Os chineses gostam, mesmo, de carne suína. A China é o maior produtor mundial de porcos, com um plantel de 500 milhões de cabeças, metade do existente no mundo. No Brasil o rebanho suíno alcança 37 milhões de cabeças.

Porco com arroz.

Os chineses mantêm um consumo médio anual, per capita, de 110 kg do branco cereal, ante 45 kg/ano dos brasileiros. No volume de produção, lá se colhem 184 milhões de toneladas de arroz, aqui são 12 milhões. Sozinha, a China produz 30% do arroz mundial.

Tudo, entretanto, está em mudança. O processo de urbanização que lá se verifica deve deslocar, até o final de próxima década, 400 milhões de pessoas, que deixarão a roça rumo às cidades. Será inevitável a alteração do padrão alimentar. Para as autoridades chinesas, aqui reside uma questão fundamental: como atender à nova demanda urbana?

Dona de enorme território, a China possui apenas 2,7% das terras ainda disponíveis para ampliar sua agricultura. As pastagens não são conversíveis para produção agrícola, sobretudo porque estão em regiões geladas, ao norte e noroeste. Além disso, o governo estima que existam, nessas regiões, cerca de 260 milhões de hectares sofrendo problemas de desertificação, a maioria pastagens decadentes.

Restritos também se encontram os recursos hídricos. A produção irrigada cobre 55 milhões de hectares no país, com elevado consumo de água. A crescente urbanização provoca forte competição pelo uso da água disponível, o que, obviamente, limita a capacidade de produção rural. Por isso, segurança alimentar virou uma obsessão na política econômica chinesa.

O drama da comida tromba com a tradição rural. Aumentos de produtividade por área exigem romper velhos métodos de produção, que se mostraram historicamente capazes de atender à subsistência familiar, mas impotentes de gerar excedentes para abastecer as nascentes metrópoles.

Vivem na China 250 milhões de agricultores. Mas 92,5% detêm menos de um minúsculo hectare de terra cultivada, algo como um quarteirão. Na produção animal também predomina a pequena subsistência familiar, ao lado de muita pobreza. Aumentar a escala de produção e tecnificar a agricultura chinesa será o maior desafio do desenvolvimento. Mais difícil que vencer a Olimpíada.

Neste momento, o ideal olímpico ocupa a atenção da mídia. Esportistas campeões disputam medalhas de ouro, enquanto os estrategistas políticos da China vendem sua imagem. O país torna-se uma fábrica mundial de quinquilharias, quintal produtivo das grandes multinacionais. Seu comércio se expande, arrebentando empresas domésticas continentes afora. Tencionam os chineses, ninguém duvida disso, dominar o mundo.

Mas o calcanhar-de-aquiles da segurança alimentar ameaça seus planos. Pode ser a sorte do Brasil. Aqui moram as férteis terras que lá escasseiam, abrindo uma chance real de o País se tornar o seu maior fornecedor de alimentos. Causa temor, porém, certa cobiça sobre a agricultura brasileira. Há chineses vasculhando o interior atrás de terras para comprar.

Será bom negócio?

(Xico Graziano, agrônomo, é secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xico@xicograziano.com.br. Site: www.xicograziano.com.br; O Estado de S.Paulo, 12/08/08)

segunda-feira, agosto 11, 2008

Aquecimento global- bom para a cana e ruim para a soja

Em duas matérias publicadas hoje sobre o relatório da Embrapa e Unicamp que estudou os efeito do aquecimento global no agronegócio brasileiro, temos algumas considerações interessantes. O primeiro é da BBC e foi publicado no Terra e mostra as perdas agrícolas, enquanto que no segundo publicado pela Folha de São Paulo podemos ver o crescimento da cana-de-açúcar:

País pode perder R$ 7,4 bi do PIB agrícola em 2020

Brasil poderá ter prejuízos de até R$ 7,4 bilhões no seu PIB agrícola em 2020 e ter sua geografia de produção desfigurada se não agir para mitigar os efeitos do aquecimento global, prevê um estudo realizado pela Embrapa e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

"As mudanças do clima devem ser tão intensas a ponto de mudar a geografia da produção nacional. Municípios que hoje são grandes produtores poderiam não ser mais em 2020", diz o estudo, que será divulgado nesta segunda-feira durante o Congresso Brasileiro de Agribusiness, em São Paulo.

Com base no relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, os cientistas projetaram os impactos das mudanças climáticas em nove dos principais produtos agrícolas do país e concluíram que, à exceção da cana-de-açúcar e da mandioca, todas perderiam área de cultivo.

Foram simulados dois cenários para os anos de 2020, 2050 e 2070: o A2, mais pessimista em que pouco é feito para reduzir as emissões de CO2 e com aumento da temperatura entre 2°C e 5,4ºC até 2100, e o B2, um pouco mais otimista, que prevê aumento de temperatura entre 1,4°C e 3,8ºC.

No melhor cenário, os prejuízos calculados variam de R$ 6,7 bilhões, em 2020, a R$ 12,1 bilhões em 2070; no mais pessimista, o impacto negativo anual seria de R$ 7,4 bilhões no ano de 2020 e R$ 14 bilhões em 2070.

"Se nada for feito para mitigar os efeitos das mudanças climáticas ou adaptar as culturas para a nova situação, deve ocorrer uma migração de plantas para regiões que hoje não são de sua ocorrência em busca de condições climáticas melhores", afirmam os autores do trabalho, Eduardo Assad, da Embrapa, e Hilton Silveira Pinto, da Unicamp.

Amazônia

No processo descrito pelos cientistas, o aumento da temperatura deve promover um crescimento do que chamam de evapotranspiração (perda de água por evaporação do solo e transpiração das plantas) e, conseqüentemente, um aumento na deficiência hídrica. "As regiões mais secas ficam mais secas ainda", explica Assad.

Na análise das regiões, a Nordeste é a que mais perde com a transformação do semi-árido em árido e do Agreste em Semi-Árido.

"A gente mostrou que, conforme foi dito no IPCC, as regiões mais pobres, principalmente o Nordeste, vão ser as mais atingidas", disse Assad.

O estudo não inclui a Amazônia porque a região não está contemplada no Zoneamento de Riscos Climáticos, instrumento com base no qual foram feitas as projeções, mas os cientistas destacam a importância da redução do desmatamento para conter as emissões dos gases que provocam a elevação das temperaturas.

Soja

Principal produto agrícola exportado pelo país, a soja seria a mais prejudicada, podendo concentrar metade de todas as perdas em 2070.

"No pior cenário, as perdas podem chegar a 40% em 2070, em decorrência do aumento da deficiência hídrica e do possível impacto dos veranicos mais intensos", diz o estudo.

Com base nesses dados, os pesquisadores afirmam que as estimativas do Ministério da Agricultura - de que o Brasil passará a responder por 33% da produção mundial de soja em 2017/2018, ultrapassando os EUA - "podem estar otimistas demais" e que a falta de ação frente às mudanças climáticas poderia "afetar a capacidade competitiva do país".

A migração de culturas para o sul, onde o custo de produção é mais alto, elevaria os preços dos produtos brasileiros. Uma elevação de até 20% seria necessária para manter o crescimento da pecuária.

Por outro lado, a cana seria a principal favorecida, podendo ampliar sua área potencial atual de 6 milhões de hectares para quase 17 milhões de hectares em 2020 no cenário mais otimista, com aumento da sua presença na região Sul, onde hoje enfrenta restrições.

O estudo cobra do agronegócio "soluções a médio e longo prazo para minimizar o problema", sugerindo como principal a adoção de práticas que impeçam o avanço do desmatamento para a abertura de novas áreas para o plantio.

"Os cerca de 100 milhões de hectares de pastos degradados existentes hoje no país, se bem trabalhados, podem abrigar a expansão agrícola sem que seja preciso derrubar mais árvores. Em paralelo, é possível adotar sistemas que sejam capazes de seqüestrar carbono da atmosfera."

Mudança climática ajuda álcool e prejudica alimento

Terra adequada à cana crescerá 139% no país até 2050, se temperatura subir 3C.

Aquecimento soma R$ 23 bi ao potencial econômico do setor sucro-alcooleiro; os alimentos, porém, podem perder R$ 10 bi com o calor.

Mesmo sem uma política contundente de adaptação e mitigação às mudanças climáticas globais, o governo brasileiro deve ter sucesso na sua política de biocombustíveis, mostra um estudo a ser divulgado oficialmente hoje em São Paulo. O aquecimento global, porém, pode colocar em risco a segurança alimentar da população brasileira, diz a pesquisa.

"Em termos de produção de alimentos, os nossos dados mostram que ficaremos na corda bamba. Mas não é uma visão catastrofista, as soluções existem", disse à Folha o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa Informática Agropecuária. Ele é um dos coordenadores do estudo que estima os impactos da alteração global do clima sobre a agricultura brasileira. O trabalho também teve participação de Hilton Pinto, pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Segundo o estudo da dupla, as áreas potenciais para a cultura da cana-de-açúcar vão crescer 139% até 2050, caso a temperatura aumente em média 3C. Esse crescimento significará R$ 23,5 bilhões a mais no PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio nacional.

"A política de biocombustíveis, por causa disso, continuará muito bem", diz Assad. A cana-de-açúcar é um vegetal que gosta de calor. Com o aquecimento global, algumas áreas que hoje não são adequadas ao cultivo dessa planta passarão a ser. Contudo, diz Pinto, no Centro-Oeste, a cultura vai ter problemas com a falta d'água. "A irrigação terá de ser maior", afirma o cientista.

A boa notícia para a indústria sucro-alcooleira, porém, é uma exceção à regra. Assad e Pinto analisaram o impacto da mudança climática para o cultivo de nove vegetais no Brasil. A cana-de-açúcar e a mandioca foram os únicos para os quais houve uma projeção de melhora com o aumento da temperatura média. A área para a mandioca, diz o estudo, deverá crescer 13% até 2050.

Segundo Assad, apesar do aumento do potencial para o setor sucro-alcooleiro, o estudo não indica que a fronteira da cana deva avançar sobre a floresta amazônica. "Cultivar cana na floresta [pelo menos em áreas centrais da Amazônia] não tem lógica do ponto de vista do clima e nem da logística". Essa é a conclusão de um outro estudo dos pesquisadores, ainda inédito, encomendado pela Casa Civil, de Brasília.

MENOS SOJA

O maior prejuízo ocorrerá nas plantações de soja, aponta o novo estudo. A área adequada ao grão diminuirá 34% até 2050. Em termos financeiros, isso significa uma queda na produção da ordem de R$ 6,3 bilhões. "Em termos geográficos, a soja deverá sumir, por exemplo, de grande parte do Rio Grande do Sul", diz Pinto.

O aquecimento global também vai reduzir a área ótima para lavouras de café (queda de 17% na área de potencial cultivo), de girassol (-16%), de milho (-15%), de algodão (-16%), de arroz (-12%) e de feijão (-10%).
Pelos cálculos feitos a preços de hoje, em 42 anos o clima vai causar, em todo o Brasil, um prejuízo de R$ 10,7 bilhões, referente às culturas que perderão territórios adequados.

"Na conta geral, por causa da cana-de-açúcar, haverá até um saldo positivo, mas o importante é olhar para cada uma das culturas", afirma Pinto. O estudo fez projeções também para 2070. As tendências para cada cultura são as mesmas, mas os números são maiores.

quinta-feira, agosto 07, 2008

Brasil tem muito para oferecer para melhorar agricultura do Haiti

Em notícia publicada no dia 30 de julho na Agência Estado, podemos ver a participação brasileira no processo de ajuda à agricultura haitiana. O Brasil realmente tem muito para ajudar este país:

Brasil ajudará o Haiti em projeto de agricultura

O Brasil vai ajudar o Haiti na elaboração e implementação de um programa de agricultura e segurança alimentar

O governo brasileiro enviou uma missão ao Haiti para ajudar na elaboração e implementação de um programa de cooperação técnica nas áreas de agricultura e segurança alimentar. A missão - que termina na sexta-feira, 1° de agosto - é coordenada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores (MRE). O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) foi representado pelo diretor da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, José César de Medeiros.

“No primeiro momento, quando a missão chegou ao Haiti, o governo local esperava que o Brasil apresentasse as coisas prontas, mas aos poucos mostramos para eles que queremos uma construção conjunta”, disse Medeiros.

De acordo com ele, um dos modelos apresentados para o governo haitiano que relacionaria a agricultura e segurança alimentar é o que temos no Brasil, o Programa de Aquisição de Alimentos.

No Haiti, há um grupo que faz parte da missão analisando vários aspectos do país, inclusive as condições do solo e melhores áreas para desenvolvimento da agricultura. A missão vai ficar no país até o 1° de agosto, e o grupo retornará em seguida para o Brasil com os relatórios.

Segundo o secretário, as primeiras reuniões serviram para definir o local onde começará o projeto voltado à produção de alimentos e segurança alimentar. A princípio ficou definido que área a ser usada como base pelo Brasil será na península sul Haiti. Nesse local, a idéia é que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) trabalhe com quatro produtos básicos da alimentação do povo haitiana: arroz, feijão, mandioca e milho.

“Nessa área, na península sul, também há uma proposta de implementação do centro de tecnologia social voltado à segurança alimentar, que já tem o financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia. Outros ministérios também aportarão recursos para a implementação desse centro, que será a base do Brasil nessa área de experimentação”, explicou Medeiros.

A missão é fruto da viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ao Haiti em maio deste ano. Na ocasião, ele firmou acordo com o presidente René Préval para a cooperação técnica no período de 2008 a 2010. Em agosto, o presidente Préval virá ao Brasil para dar continuidade ao programa.

segunda-feira, agosto 04, 2008

Indústria brasileira de frutas, algumas considerações

Ao ler o capítulo “A indústria brasileira das frutas: Ampliação e conquistas de mercados” do livro Agronegócio no Brasil editado em 2005 pelo Ministério de Relações Exteriores do Brasil encontrei algumas informações sobre o setor que mostram o grande potencial ainda não aproveitado pelo setor.

O país ocupava na época um papel de destaque no contexto internacional no que diz respeito à produção:
  • Primeiro lugar na produção de laranja e mamão;

  • Segundo lugar na produção de banana;

  • Terceiro lugar na produção de abacaxi;

  • Posição de destaque em limão taiti, maça, tangerina e uvas.

A produção total de frutas é 38 milhões de toneladas em uma pequena área de 2,3 milhões de hectares, ocupando a terceira posição mundial atrás da China (140 milhões de toneladas) e Índia (58 milhões de toneladas).

A distribuição regional da produção encontra-se no gráfico abaixo e mostra uma grande concentração no Sudeste e Nordeste. Acredito também que o Nordeste tem um grande potencial quando consideramos mercados externos.Apesar da grande produção, as exportações deste setor ainda são pífias quando comparadas ao seu potencial e a outros setores do agronegócio. Movimentava em 2004 cerca de US$ 5,8 bilhões e tinha exportações de cerca de 400 milhões de dólares, conforme podemos verificar no gráfico abaixo. Quando tomamos o valor do comércio internacional de frutas como sendo igual a 23 bilhões de dólares, nossa participação parece menor ainda, participação menor de 2% do comércio mundial.

Os dados são do IBRAF (Instituto Brasileiro de Frutas – www.ibraf.org.br).

sexta-feira, agosto 01, 2008

Projeto quer criar cota para produção de alimentos e biocombustíveis

É impressionante como tem gente que sabe se aproveitar da conjuntura político-social. o artigo abaixo foi publicado no site BrasilAgro e mostra que existe um deputado que, aproveitando a "infeliz" discussão alimentos vs combustíveis, criou um projeto de lei que obriga o agricultor a produzir a mesma área de alimentos e biocombustíveis.

Só não sei como dividir a lavoura entre 2 ha para soja que vai virar alimentos com 2 ha da área de soja também que irá virar biodiesel? Se alguém aí souber me avise.

PROJETO CRIA COTA PARA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E BIODIESEL

O Projeto de Lei 3508/08, do deputado Cleber Verde (PRB-MA), obriga o produtor rural a plantar um hectare de alimentos para cada hectare que cultivar com lavouras destinadas à produção de biodiesel. O objetivo, afirma o parlamentar, é preservar o equilíbrio entre a produção de alimentos e a produção de energia originária da biomassa.

De acordo com o texto, o produtor rural informará anualmente ao órgão competente do Poder Executivo a destinação de suas áreas de lavouras. O produtor rural terá prazo de três anos, contados da data de vigência da lei, para se adaptar às regras.

Quem violar o disposto na lei ficará impedido de obter financiamentos com recursos do crédito rural por, no mínimo, cinco anos. Além disso, poderá haver outras sanções a serem definidas em regulamento.

DEMANDA MUNDIAL

O autor da proposta lembra que o aumento dos preços do petróleo, assim como a preocupação com as emissões de gases que decorrem da queima de combustíveis fósseis, levaram ao crescimento da demanda de agroenergia em escala global. Simultaneamente, a demanda mundial de alimentos também tem aumentado.

Cleber Verde destaca ainda que, somadas, a demanda de alimentos e de agroenergia superam a capacidade de produção agrícola, pelo menos no curto prazo. "Prova irrefutável desse fato é a explosão dos preços dos alimentos, assim como de todos os fatores de produção agrícola, notadamente os preços dos fertilizantes, que quase dobraram no último ano, apesar da valorização do real", analisa.

PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Na avaliação do parlamentar, alheio à escassez mundial de alimentos, o Brasil tem perseguido agressiva política de promoção da produção de biodiesel, além da produção de etanol. "A posição do governo é que o País dispõe de terra suficiente para produzir alimentos e combustíveis, não tendo de optar entre um ou outro."

Para o deputado, no entanto, o governo esquece que são necessários "investimentos pesados" para correção e descompactação do solo, fertilização e combate a pragas. Ele lembra que o Brasil importa 70% dos fertilizantes consumidos e ressalta que a rentabilidade da produção de matérias-primas para a produção de energia tende a ser maior que a da produção de alimentos. Daí, a possibilidade de desequilíbrio na produção agropecuária brasileira. "Escassez de alimentos é sinônimo de preços altos e de perda de renda real para a camada mais pobre da população, que destina à aquisição de alimentos 90% do que ganha."

TRAMITAÇÃO

O projeto será analisado, em caráter conclusivo, pelas comissões de Minas e Energia; de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; e de Constituição e Justiça e de Cidadania (Agência Câmara, 30/07/08)

Grãos em queda, porém a bolha não acabou ainda, segundo especialistas

A reportagem abaixo publicada no Valor Econômico de hoje mostra a queda das principais commodities agrícolas durante o mês de julho, entretanto em entrevista publicada na edição de 29 de julho da Commodity News for Tomorrow, o analista Shawn Hackett, presidente da Hackett Financial Advisors e não existem sinais de rompimento da bolha de alta das commodities.

Como argumento cita que as commodities agrícolas como um todo tiveram um desempenho muito abaixo das commodities de metais preciosos e de energia.

Cita também como um fator altista que os preços atuais da soja no Brasil estão completamente inadequados para promover crescimento da área cultivada no Brasil. Este crescimento é necessário para satisfazer a demanda mundial.

Abaixo segue na íntegra o texto do Valor Econômico e a entrevista em inglês pode ser encontrada no site Cattle Network clicando aqui:

GRÃOS TÊM FORTE QUEDA NA BOLSA DE CHICAGO EM JULHO

Os futuros de soja, milho e trigo, as commodities agrícolas mais negociadas do planeta, confirmaram as expectativas e encerraram julho com fortes quedas e cotações médias mensais inferiores às de junho na bolsa de Chicago, de acordo com cálculos do Valor Data baseados nos contratos de segunda posição de entrega, normalmente os que apresentam maior liquidez.

Após iniciarem julho em alta e permanecerem assim nas primeiras sessões do mês, os preços perderam parte do suporte em meio às reações à turbulência de bancos centrais de diversos países - inclusive o americano Fed, encarregado de gerir o epicentro da crise e seus reflexos sobre o dólar, determinante para as commodities exportáveis.

As reações fortaleceram previsões de contenção da demanda global e "devolveram" fundos de investimentos a aplicações que perderam terreno para as commodities nos últimos dois anos, para cobrir posições ou em busca de uma maior segurança.

Com isso, segundo o banco UBS AG, na semana passada os fundos de índices retiraram US$ 1,76 bilhão dos mercados de futuros agrícolas. Foi a quinta semana seguida de redução de apostas, que estava no início quando os grãos ainda subiam no começo de julho - a soja atingiu sua máxima histórica em Chicago no dia 7, menos de duas semanas depois de o milho bater recorde - em decorrência de adversidades climáticas em áreas produtoras dos EUA.

Em Chicago, as quedas mais fortes de soja, milho e trigo foram na terceira semana do mês, também influenciadas pelas perspectivas de melhoria do clima sobre as lavouras americanas. Na última semana, o clima voltou a ser altista e houve alguma recuperação, sobretudo no caso do milho, mas os patamares de cotações seguem bem abaixo dos picos.

Quem acompanha de perto esses mercados, como Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja, ou Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro e da FGV, acreditam que as máximas do ano devem ter ficado para trás. É que tudo indica que as fortes oscilações de preços prosseguirão, mas em torno de um eixo um pouco menos elevado, ainda que muito superior ao nível médio histórico.

Entre as agrícolas de Chicago, o milho registrou as maiores quedas em julho. No mês (comparação entre os fechamentos de 31 de julho e 30 de junho), a baixa foi de 17,66%. Na relação entre as médias mensais de julho e junho, a retração chegou a 7,74%, apesar das valorizações do início e do fim do mês. A soja perdeu 12,75% em julho, e a média mensal foi 0,39% inferior à registrada em junho, de acordo com o Valor Data.

As duas commodities, especialmente a soja, seguem ligadas ao petróleo, a mais negociada de todas as commodities. Na bolsa de Londres, os contratos futuros de primeira posição de entrega do Brent registraram baixa de 11,34% em julho, mas o preço médio no mês ainda foi 0,61% superior ao de junho.

Com as cotações de petróleo, milho e soja pressionadas, entre outras, o índice Jefferies-Reuters CRB, composto por 19 commodities, registrou o maior tombo mensal em 28 anos, segundo o "Financial Times". No mês, a queda foi de 10,01%; em março de 1980, diante de outro cenário de desaceleração econômica global, a retração foi de 10,5%.

Na comparação de médias, as perspectivas são de que as variações negativas do petróleo sejam maiores em agosto (em relação a julho), já que o mês começa com as cotações em patamar bem inferior. O mesmo raciocínio também vale para o comportamento de soja e milho, desde que o clima no Meio-Oeste dos EUA não piore tanto a ponto de motivar novas disparadas nos mercados.

"O impacto do declínio dos preços das commodities na inflação global será significativo", disse Marcel Cassard, do Deutsche Bank, ao "Financial Times". O jornal informa que o Lehman Brothers também prevê queda do petróleo, mas alerta para o fato de que Goldman Sachs, Merrill Lynch e Barclays Capital permaneçam com cenários altistas para o produto.

A cautela tem fundamento, afirma Sartori, da Brasoja, uma vez que o nervosismo e as grandes oscilações continuam. A perda de fôlego dos preços parece ser mesmo o cenário mais provável, mas "tudo pode acontecer", conforme o analista. Em Chicago, a aposta na baixa é mais segura no caso do trigo, que traça uma curva descendente independente sob o impacto de projeções de que a oferta superará a demanda nos EUA.

Em Nova York, as chamadas "soft commodities", com giro financeiro menor, também continuam a sofrer o efeito da maior influência dos fundos na formação de preços, ainda que os fundamentos estejam recuperando espaço.

Para o algodão, as expectativas são de valorização. Apesar da baixa demanda global pela pluma, que pressionou as cotações em julho, Fernando Martins, operador da Newedge em Nova York, afirma que a saída dos fundos de investimentos da commodity poderá abrir espaço para futuras altas das cotações do algodão. "O mercado está analisando qual o caminho de soja e do milho para se posicionar em algodão".

O açúcar, cujo preço médio em julho foi 21,48% maior que o registrado em junho, também segue sustentado pela expectativa de déficit global a partir de 2009, com a redução drástica da produção da Índia. Conforme Rodrigo Costa, também da Newedge, boa parte dos produtores indianos migrou para os grãos, cujos preços estão mais atraentes, afirmou . O mix mais "alcooleiro" da safra de cana no Brasil e a maior demanda pelo combustível também ajudam oferecer suporte ao açúcar.

Ambos (algodão e açúcar) guardam relação com o petróleo e seguirão sob sua influência. No açúcar, o contágio decorre da paridade com o álcool, concorrente direto da gasolina; no algodão, da concorrência da pluma com os fios sintéticos. "Se o barril ficar abaixo de US$ 110, essas commodities poderão ser mais afetadas", diz Martins.

Para as demais principais commodities agrícolas transacionadas pelo Brasil no exterior, fatores ligados aos fundamentos têm se mostrado fortes, apesar da "financeirização". No café, os traders estão de olho na safra brasileira; no suco de laranja, nos efeitos da temporada americana de furacões; e no cacau, na África e na demanda industrial.