sexta-feira, setembro 24, 2010

Churrasco rastreado já é possível no RS

A Tecnologia da Informação já está presente há tempos no agronegócio, mas agora parece que ele vai extrapolar a porteira e possibilitar ao consumidor o conhecimento da origem do alimento que come. A notícia abaixo do Canal Rural dá conta que o Walmart está oferecendo aos seus clientes em Porto Alegre a possibilidade de rastrear pela internet o teu pedaço de carne. No meio texto existe um link para rastreamento de uma picanha apresentada à imprensa:

Walmart oferece rastreamento de cortes de carne pela internet
No Rio Grande do Sul, o churrasco já pode ser pesquisado por clientes de Porto Alegre

O Walmart deu início no Rio Grande do Sul a um projeto que em alguns anos deve permitir que os consumidores conheçam a origem de toda carne e hortifrutigranjeiros comprados nos supermercados controlados pela marca no país.

Atualmente, clientes de quatro supermercados da rede Nacional em bairros nobres de Porto Alegre – Auxiliadora, Três Figueiras, Bela Vista e Boa Vista – já podem conferir pela internet, através de um código na embalagem, qual é a fazenda de procedência dos cortes especiais para churrasco vendidos na marca Novilho Campeiro.

Segundo o site Baguete, a novidade é possível graças a tecnologia da CheckPlant, com o apoio do Mafrig, frigorífico que abate o gado oriundo de 70 fazendas gaúchas que supre as gôndolas do Nacional e de quatro produtores de hortifrutis orgânicos.

No site, o consumidor pode conferir fotos e a localização exata da fazenda criadora, indicada no Google Maps, assim como a data de abatimento no Marfrig.

Quem quiser fazer o teste sem sair da frente do computador, deve acessar http://walmart.rastreabilidadeonline.com.br/ e digitar 00334X183F42, a identificação de um corte de picanha mostrada em coletiva de imprensa realizada em Porto Alegre nessa sexta, dia 17.

– Esperamos ter essa novidade disponível em todos os 100 Nacionais que vendem Novilho Campeiro até a meta de 2011 – prevê José Noeli, gerente comercial do Walmart para o Rio Grande do Sul.

É um bocado de carne. A marca Novilho Campeiro responde por 10% das vendas totais de carne bovina do Nacional no estado, algo em torno de seis a sete toneladas de carne mensais.

Noeli destaca que o custo de implementação da novidade – não revelado pelo Walmart – não será transmitido para o consumidor final.

– O custo é dividido entre nós e os produtores e a vantagem é mostrar que oferecemos um produto com origem garantida – comenta o executivo.

A possibilidade do consumidor rastrear a origem da carne é originada em um acordo assinado entre Walmart, Carrefour e Pão de Açúcar com frigoríficos em 2009, pelo qual os fornecedores se comprometiam a não comprar gado oriundo de fazendas que praticassem desmatamento ou trabalho escravo.

– Esse tipo de informação e garantia será cada vez mais exigida pelos consumidores – acredita Noeli.

Experiente no ramo de carnes, onde atua há 15 anos, o profissional estabelece uma comparação com os cortes vendidos a vácuo, cuja oferta e consumo começaram pequenas e hoje representam metade das vendas.

Fundada por dois ex-alunos de 30 anos da Ciência da Computação da UCPel, com mestrados pela UFSC e Ufrgs, a CheckPlant emprega 15 profissionais das áreas de TI e agronomia em Pelotas.

A empresa é especialmente forte na área de frutas para exportação, onde é grande a exigência dos compradores por rastreabilidade: metade das frutas rastreadas vendidas no país usa tecnologia da CheckPlant.

sábado, setembro 18, 2010

Fome no mundo diminui, mas ainda é uma vergonha para a raça humana

Apesar de apresentar uma melhoria, algo que não tinha ocorrido nos últimos anos, o quadro de fome no mundo ainda é uma vergonha que temos que lutar contra. Nós, profissionais envolvidos na produção de alimentos, devemos acordar e pensar nisso todos os dias....

A notícia abaixo é da France Press que encontrei no Cosmo:

Fome cai pela 1ª vez em 15 anos, segundo a ONU
Para entidade, contribuiu para queda a baixa dos preços dos alimentos nos mercados internacionais e nacionais

Pela primeira vez em 15 anos, o número de pessoas com fome no mundo caiu, para 925 milhões, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), uma cifra que a entidade mesmo assim considera inadmissível.

O número de famintos no mundo, que no ano passado alcançou a alarmante cifra de 1,023 milhão, caiu 9,6% em 2010, segundo a FAO, que tem sede em Roma.

'O número de pessoas desnutridas no mundo continua inaceitável, apesar de ter registrado uma queda esperada, a primeira em 15 anos. A queda se explica graças a uma conjuntura econômica favorável em 2010', explicou a FAO.

Para a entidade, contribuiu para a queda a baixa dos preços dos alimentos nos mercados internacionais e nacionais a partir de 2008.

A agência especializada das Nações Unidas considera que a cifra de 925 milhões de pessoas com fome e desnutrição continua sendo muito alta em relação às crises alimentares e econômicas registradas antes de 2008, quando era de 850 milhões.

A maioria das pessoas (98%) que padecem de fome residem em países em desenvolvimento, onde representam 16% da população, contra 18% em 2009, recordou a FAO.

'O fato de que quase um bilhão de pessoas continuam sendo vítimas da fome, mesmo depois da conclusão das recentes crises alimentar e financeira, se traduz num problema estrutural mais profundo. Os governos deveriam promover investimentos na agricultura e ampliar as redes de segurança e os programas de ajuda social', afirma a FAO.

'A cada dez segundos uma criança morre devido à desnutrição. A fome é a maior tragédia da humanidade, um escândalo', acrescenta.

Mas a queda do número de famintos é sentida em todas as regiões do mundo. A Ásia-Pacífico foi a que mais registrou pessoas vítimas da fome, com 578 milhões de famintos, mas onde a queda foi maior, de 12% em relação a 2009.

'A proporção de famintos é mais forte na África subsaariana, com 30% da população que sofre com a fome', afirma ainda o documento.

Dois terços dos 925 milhões de pessoas subalimentadas se encontram em apenas sete países: Bangladesh, China, a República Democratica do Congo, Etióia, Índia, Indonésia e Paquistão.

Segundo os dados da FAO, na América Latina e Caribe, países tradicionalmente muito afetados pela desnutrição, como Guiana, Jamaica e Nicarágua, conseguiram respeitar o objetivo do Milênio e o Brasil está se aproximando desse objetivo.

'O objetivo do Milênio adotado em 2000 de reduzir de 20% a 10% o número de famintos antes de 2015 não será alcançado. Não chegamos sequer a 16%', comentou o diretor-geral da entidade, Jacques Diouf, ao apresentar os dados à imprensa.

Para a organização humanitária Oxfam, a queda do número de famintos não acontece por acaso. 'Há dez anos os líderes mundiais estão motivados a reduzir a fome no mundo até 2015, mas ainda estamos bem longe do objetivo. Nós sabemos que isso é possível. A vontade política é um elemento fundamental'.

Vamos investir em produtos agrícolas certificados?

No Canal Rural encontrei notícia da Agência Estado de autoria de Circe Bonatelli que mostra que, segundo a ONU, o crescimento do mercado de produtos agrícolas certificados será muito grande nos próximos anos:

Produtos agrícolas certificados serão carro-chefe da economia verde, diz ONU
Movimentação anual do setor deve passar de US$ 40 bi em 2010 para US$ 210 bi em 2020

O mercado sustentável e baseado na preservação da biodiversidade terá grandes oportunidades de negócios nos próximos anos, de acordo com o economista indiano Pavan Sukhdev, coordenador do estudo A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (Teeb, na sigla em inglês), realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Segundo o estudo, o carro-chefe da economia verde será o de produtos agrícolas certificados. A estimativa é que a movimentação anual desse setor cresça de US$ 40 bilhões em 2008 (o equivalente a 2,5% do mercado global de alimentos e bebidas) para US$ 210 bilhões em 2020. Sukhdev acredita que existe um grande potencial de aceitação desses produtos pelos consumidores.

– Hoje, a publicidade foca na quantidade, não na qualidade. Os rótulos não mostram os danos ambientais embutidos naquele produto – disse.

Para ele, à medida que houver maior conscientização sobre a necessidade de preservação ambiental, os consumidores vão ficar mais exigentes e os governos vão impor regulamentações.

– As pessoas são alertadas sobre efeitos do tabaco e das drogas, mas não sobre os danos à natureza – exemplificou, durante encontro nesta terça, dia 14, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em São Paulo.

Outros campos ambientais com espaço para crescer, de acordo com o relatório, são o de florestas e recursos hídricos. O mercado de produtos florestais certificados (principalmente madeira) deve saltar de US$ 5 bilhões para US$ 15 bilhões entre 2008 e 2020. Já os pagamentos do governo e de voluntários para a preservação de mananciais e outros ecossistemas hídricos têm previsão de movimentar US$ 8 bilhões em 2020.

– Apesar da boa vontade, continuamos a destruir a biodiversidade porque não olhamos para os benefícios da conservação em termos econômicos. Àquilo que está na natureza não é dado valor econômico – afirmou Sukhdev, ex-economista sênior do Deutsche Bank.

Ele explicou que o relatório Teeb tem o objetivo de mostrar que preservar a biodiversidade sai mais barato do que devastá-la. O ponto principal, segundo o especialista, é que a natureza não cobra pelos "serviços prestados" (fertilidade do solo ou purificação do ar, por exemplo) e, por isso, empresas e pessoas dão como certa a continuidade eterna desses recursos.

– É a invisibilidade econômica da natureza – argumentou.

Para o diretor executivo da CNI, José Augusto Fernandes, quando se coloca um preço num "produto que não tem preço", o mercado ajuda a controlar a preservação.

– Daí surgem as oportunidades, como, por exemplo, na indústria de cosméticos, que retira da natureza a matéria-prima, mas a preserva para poder continuar contando com o recurso – explicou.

Engajamento

Das cem maiores empresas do mundo, 89% produzem um balanço sobre sustentabilidade, segundo o Teeb. No entanto, entre as que produzem esse documento, a questão ainda é tratada de forma vaga. Apenas 15% discutem abordagens para reduzir o impacto sobre a biodiversidade e só 9% enxergam o tema como uma questão estratégica.

Apesar disso, o relatório Teeb entende que os primeiros passos rumo ao engajamento já foram dados. Além disso, o setor de negócios está começando a se preocupar com limitações no crescimento de suas empresas em razão da perda da biodiversidade.

O relatório cita uma pesquisa feita pela consultoria PricewaterhouseCoopers em 2009 em que 27% dos líderes empresariais (CEOs) em todo o mundo afirmaram ter esse tipo de preocupação. Essa característica foi detectada principalmente em empresários da América Latina (53%) e África (45%), e com menos destaque na Europa (18%) e América do Norte (14%), onde a maior parte da fauna e da flora já foi devastada.

quarta-feira, setembro 08, 2010

Complexidade no patenteamento de sementes

O texto abaixo é de autoria de Guilherme Gorgulho e encontra-se disponibilizado no site Inovação Unicamp. O problema em questão mostra quão complicado é tudo relacionado ao melhoramento genético de plantas quando os interesses comerciais entram em cena. Apesar de ser um texto de uma certa complexidade técnica, é uma leitura interessante ao público em geral:

"A guerra do brócolis" na Europa
Decisão sobre patentes de tomate sem água e brócolis anticâncer pode mudar regra de proteção para melhoramento convencional

O Escritório de Patentes Europeu (EPO, na sigla em inglês) deverá decidir até o final de 2010 se processos de melhoramento convencional de plantas que envolvam etapas consideradas tecnicamente inovadoras podem ou não ser patenteados. De acordo com a diretiva europeia 98/44/EC, "um processo para a produção de plantas ou animais é essencialmente biológico se consiste inteiramente de fenômenos naturais, tais como cruzamento ou seleção". Agora, uma das câmaras de apelação do EPO se prepara para definir se é ou não "essencialmente biológico" o cruzamento ou seleção em que intervêm marcadores genéticos.

A controvérsia surgiu em razão da patente concedida pelo EPO à companhia britânica Plant Bioscience em 2002, que protege o método desenvolvido pela empresa para obter uma variedade de brócolis com maior concentração da substância anticancerígena presente naturalmente na planta. Em 2003, a multinacional suíça Syngenta, juntamente com a cooperativa francesa de sementes Limagrain, recorreu ao EPO para contestar a patente sob a alegação de que o melhoramento era um "processo biológico convencional" — portanto, não patenteável. A Plant Bioscience argumenta que seu novo sistema de produção de brócolis por meio da seleção assistida por marcadores é uma inovação tecnológica.

A seleção por marcador molecular é uma técnica de análise de DNA que permite localizar variações no genoma associadas a determinadas características — por exemplo, a resistência à seca ou a suscetibilidade a doenças. Com marcadores moleculares, é possível mapear no genoma de diferentes "indivíduos" da mesma espécie vegetal — ou seja, em exemplares diferentes de uma certa planta — os genes responsáveis por uma característica desejada. O método de seleção da Plant Bioscience para aumentar a produção de glucosinolato nos brócolis, resumidamente, consiste em várias etapas de cruzamento e seleção entre variedades selvagens — Brassica villosa e Brassica drepanensis — com linhagens de brócolis chamadas de duplo haplóide. Essas linhagens são originadas por reprodução assexuada a partir de um indivíduo que detenha as características desejadas — neste caso, o maior teor de glucosinolato —, mas que se tornam inférteis no processo por possuir apenas metade do material genético da espécie — chamadas de haplóide. Para duplicar o material genético e permitir que esses indivíduos com características especiais sejam novamente férteis e possam ser cruzados sexuadamente, são empregadas técnicas em laboratório. A identificação da maior concentração do anticancerígeno nas gerações originadas por esses cruzamentos entre as selvagens e as linhagens duplo haplóide é feita com marcadores moleculares.

A alegação da Syngenta na comissão técnica de apelação é de que o uso de marcadores moleculares na etapa de seleção não é motivo suficiente para excluir o método da categoria de "processo essencialmente biológico". Já a empresa britânica diz que o fato de haver "intervenção humana" em algumas das etapas — entre elas, a análise in vitro de tecidos da planta para a identificação dos marcadores moleculares — exclui o processo do conceito de "essencialmente biológico".

Audiências preliminares e o caso dos tomates de Israel

No final de julho, em Munique, na Alemanha, a comissão técnica de apelação do EPO se reuniu em audiências preliminares para discutir o caso. A decisão não virá antes do final de 2010. Outro caso está sendo avaliado conjuntamente pela comissão: em 2000, o Ministério da Agricultura de Israel depositou um pedido de patente de um método para produzir tomates com baixo teor de água desenvolvido pela Organização de Pesquisa Agrícola — vinculado ao governo israelense —, o que reduz os custos de produção de ketchup. Em 2004, a holandesa Unilever — uma das grandes fabricantes mundiais de ketchup — pediu ao EPO o cancelamento da patente com base na mesma justificativa apresentada no caso dos brócolis.

A patente dos tomates não envolve marcadores moleculares nem qualquer técnica de engenharia genética. O método consiste, basicamente, em promover cruzamentos de uma variedade de tomate que naturalmente produz pouca água com outra selvagem para obter a variedade que já nasce com teor hídrico ainda menor. O processo prevê uma etapa final — a colheita só é feita depois do ponto de maturação "convencional", de maneira a permitir a identificação dos tomates mais desidratados. Na apelação no EPO, a Unilever alegou que "diferentemente do processo reivindicado no caso T 83/05 [referente à patente dos brócolis da Plant Bioscience], que exige o uso de marcadores moleculares, o método no presente caso não exige qualquer intervenção humana a não ser cruzamento e seleção". Os advogados da Unilever escreveram na apelação: "Todas as etapas citadas do processo são claramente parte do cruzamento e seleção realizados por uma pessoa especializada em processo de melhoramento convencional".

Segundo petição apresentada pela defesa do Ministério da Agricultura de Israel, "enquanto variedades de plantas podem pelo menos ser protegidas pelos direitos de melhoristas , nenhum sistema de proteção sui generis [categoria da propriedade intelectual que abrange os cultivares, ou novas variedades de vegetais resultantes do trabalho de melhoristas, e que possui características diferenciadas daquelas relacionadas à propriedade industrial. Nota do E.] existe para processos de melhoramento de plantas. Uma interpretação ampla do processo de exclusão no artigo 53(b) da EPC poderia ampliar a brecha na proteção". O artigo 53, alínea b, da European Patent Convention (EPC) — ou Convenção Europeia de Patentes, um tratado multilateral assinado em 1973 — é o que exclui do direito de patenteamento os "processos essencialmente biológicos para a produção de plantas e animais".

Para os israelenses, qualquer " etapa técnica" que exerça um impacto no resultado final do processo de seleção é suficiente para tirar o processo da categoria "essencialmente biológico" e torná-lo patenteável sob as leis europeias. "Um processo que contenha pelo menos um aspecto técnico que não possa ser executado sem a intervenção humana e que tenha um impacto no produto do processo não se enquadra no termo 'processo essencialmente biológico'", argumenta o governo israelense.

Disputas de interesses

"Pela primeira vez na sua história, o EPO vai emitir uma decisão de abrangência ampla sobre a patenteabilidade de processos de seleção convencional de sementes e plantas", lê-se na introdução do estudo "The future of seeds and food under the growing threat of patents and market concentration" (O futuro das sementes e dos alimentos sob a crescente ameaça das patentes e da concentração de mercado), do grupo de origem alemã "No patents on seeds". O documento reúne dados e argumentos que informam as posições contrárias ao patenteamento de genes e de seres vivos e é um indicador da importância da decisão que a câmara de apelação da EPO deverá tomar. A organização enviou em julho um abaixo-assinado para o EPO com 55 mil assinaturas, coletadas — de acordo com a própria coalizão — por 50 entidades que representam produtores agrícolas e uma centena de ONGs de várias partes do mundo. O documento pede: o fim das patentes sobre sementes e animais em âmbito mundial; uma ação das autoridades políticas e dos escritórios de patentes pela não concessão de patentes relacionadas a processos de melhoramento convencional; e a não concessão de patentes para sequências de DNA empregadas em melhoramento convencional, como no caso da seleção assistida por marcadores.

No debate internacional e europeu sobre propriedade intelectual, modelo de agricultura e produção de alimentos alinham-se grupos, organizações e pessoas contrários também ao uso de produtos intensivos em biotecnologia, como sementes transgênicas. No dia 22 de julho, o colunista Paul Betts publicou no Financial Times um texto sobre a "guerra do brócolis", como o caso está sendo chamado. De acordo com Betts, o principal temor manifestado por esses grupos, é que, caso sejam mantidas, as patentes poderão aumentar a concentração no mercado agrícola e elevar os preços dos produtos.

O texto também registra uma suspeita dos grupos contrários à extensão da proteção a técnicas mistas de melhoramento: a de que o desafio da Unilever e da Syngenta à patente do tomate desidratado e dos brócolis anticâncer tenham como objetivo forçar e fortalecer a decisão pró-patenteamento de variedades obtidas por inovações introduzidas no melhoramento convencional — para estender o direito de patente, e não para derrubar a proteção já conquistada pela Plant Bioscience e por Israel. A estratégia consistiria em recorrer à comissão técnica de apelação para, caso a decisão seja em favor da manutenção das patentes, abrir caminho para proteções similares de seus próprios processos biológicos e sementes.

O documento do "No patents on seeds"

O documento de 2009, que Inovação publica nas íntegras desta edição , é assinado por Cristoph Then e Ruth Tippe. Uma pesquisa no Google leva à página de uma organização alemã denominada "TestBiotech" (Instituto para Avaliação Independente de Biotecnologia), em que ambos são apresentados. Then é cirurgião veterinário e, de 1999 a 2007, foi consultor especialista em agricultura e engenharia genética para o Greenpeace. Tippe tem o título de doutora e aparece como pertencente ao grupo alemão "No patents on life" — contra patenteamento "da vida".

O estudo detecta, com base nos dados do EPO, o crescimento de pedidos de patentes sobre variedades obtidas por melhoramento clássico: em 2008, registra, quase 25% de todos os depósitos de patentes relacionados com plantas eram ligados ao que, para a organização não governamental, é melhoramento convencional; em 2000, esse número não chegava a 5%.

Nas patentes dos tomates e dos brócolis, diz o texto, houve "emprego de ferramentas no processo de reprodução". Em ambos os casos, prosseguem os autores, "os detentores das patentes alegam que esses instrumentos técnicos garantem motivos suficientes para configurar o processo inteiro de melhoramento convencional como um processo inventivo para a produção de plantas". O documento ressalta que os titulares das patentes exigem ainda que "sementes, plantas resultantes e suas partes comestíveis" também sejam incluídas no escopo de proteção das patentes. A conclusão da "No patents on seeds" é que, se a decisão da agência europeia for pela manutenção das patentes, qualquer avanço técnico no melhoramento de plantas poderá ser suficiente para as empresas requererem o direito sobre a propriedade intelectual do processo — e por causa dele, de seus produtos —, como já acontece com as sementes geneticamente modificadas.

Indicadores sobre melhoramentos convencionais

"The future of seeds and food" se detém na análise de levantamento feito no EPO que mostra o crescimento das patentes de melhoramento convencional na Europa. Na página 14, o estudo diz que nos últimos anos há uma tendência de reutilização dos processos de melhoramento convencional, com o emprego de novas ferramentas, em lugar da engenharia genética. Entre essas ferramentas está a seleção assistida por marcadores moleculares, "que está permitindo uma abordagem mais eficiente para vários objetivos do melhoramento de plantas em comparação com os métodos usados em sementes geneticamente engenheiradas".

O documento traz um histórico recente de questões em discussão no EPO nos últimos anos — como a PI sobre melhoramento convencional —, aborda a concentração no mercado de sementes — o texto cita um estudo da ONG ETC Group, baseada no Canadá, que afirma que dez empresas concentram dois terços das vendas de sementes no mundo —, e apresenta exemplos de patentes concedidas para melhoramentos convencionais na Europa. "The future of seeds and food" também discute tópicos relacionados à atual situação legal da PI na União Europeia e sugere ações a serem tomadas em âmbito continental e mundial, como a revisão da legislação de patentes da Europa e do Acordo sobre Aspectos de Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS, na sigla em inglês).

Reflexões do marketing do agronegócio por Tejon

José Luiz Tejon, co-autor de um importante livro sobre o marketing do agronegócio, intitulado Marketing&Agronegócio, a nova gestão, além de dirigir Núcleo de Agronegócio da ESPM, é mestre em Arte e Cultura pela Universidade Mackenzie e doutorando em Educação, escreveu um artigo muito interessante sobre a inteligência de marketing no agronegócio que encontrei no Notícias Agrícolas e resolvi compartilhar:

Inteligência de Marketing no agronegócio não é só administrar percepções: é análise do mundo real

" Os estoques de grãos do governo são insuficientes para cobrir toda a demanda do pais. Precisamos buscar grãos " ( Dmitry Medvedev - Presidente da Rússia )

Descobrir sonhos, desejos, necessidades; lacunas de posicionamento na mente humana; criativas formas novas de distribuição, inovações genéticas, novos processos de nutrição de plantas, nutrição animal, sensorialidade alimentar; e orquestração harmônica de uma cadeia produtiva, da pesquisa ao consumidor final, incluindo até a reciclagem e sustentabilidade; tudo isso - e muito mais, faz parte do incansável exercício da gestão no agronegócio. E, dentro dessa moderna gestão, não compreender a amplitude estratégica da inteligência de marketing é erro fatal.

O ponto que separa o marketing do agronegócio, como das suas áreas gêmeas Saúde e Educação, das demais - é que não estamos falando apenas da construção de novos e diferenciados papéis para os distintos nichos da sociedade humana e seus egos interpretarem. Alimento, Saúde e Educação exigem análises concretíssimas do mundo real existente. Pensamentos fora disso serão duramente castigados pela lei da insensatez. Em agosto o preço dos alimentos subiu 5% pelo índice da FAO. Em Roma especialistas estarão discutindo uma provável tendência de escassez de alimentos no mundo. A Rússia suspendeu as exportações de Trigo. A Argentina está liberando apenas 3 milhões de toneladas das 12 milhões do trigo que produz. A China, que se auto-abastece em 95% das suas necessidades, amplia seus estoques de todos os grãos - e prepara medidas de racionalizar a demanda. Na Alemanha, Canadá e Paquistão, aspectos climáticos causam diminuição na oferta .

Se marketing é a sabedoria com a qual harmonizamos o intangível dos sonhos com o tangível das realidades possíveis, é vital e sagrado ampliar enormemente o lado do componente de segurança nacional e alimentar na questão das análises dos fatores incontroláveis desse macro setor, com a inteligência e os investimentos de médio e longo prazo na adaptação estrutural competitiva do ramo. Isso quer dizer que se as percepções de escassez de alimentos no mundo possam soar como estimulantes para o Brasil adicionar área e recursos no plantio deste segundo semestre e numa hiper safrinha no começo de 2011, por outro lado a insensatez da governança na ausência de armazenagem, logística cara e desastrosa e toda confusão de leis ambientais que servem para distrair o foco central de uma política de estado , seguro rural , mecanismos financeiros, preços e de administração das cadeias produtivas - quer dizer a análise concreta das situações concretas - soam como altos riscos, e esses ingredientes são imperativos sagrados na inteligência de marketing do agronegócio.

A insensatez na cadeia do trigo é um outro marco recorrente "eterno " no Brasil. Eixo da alimentação popular, com programas incompetentes no estimulo e segurança da produção nacional, onde comemos mais de 10 milhões de toneladas de trigo e plantamos cerca da metade, com doses marcantes de insatisfação dos produtores e de suas cooperativas. Não haverá sacadas criativas de ativação de marketing que poderá alterar o fato real do preço do pãozinho, do macarrão ou da pizza sagrada do domingo a noite. E, sempre que falamos de mandioca e de raízes tropicais, os narizes são sempre torcidos, assim como as dita cujas.

E, se o reino das percepções da provável escassez de alimentos no mundo , não estiver tão mais elevado assim do que o reino da vida real, quando o concreto absorve e passa a embalar os sonhos, e nas horas duras da história humana, quando passamos a ter o tamanho do concreto aprisionando desejos e vontades nos empurrando para a dura distinção entre sonhos versus ilusões; nessas horas iremos nos arrepender profundamente dos bons tempos da fartura, quando desperdiçávamos grãos pelas estradas do Brasil, pela burocracia dinossáurica, pelas discussões utópicas das terras de brasileiros ou de estrangeiros, e consumíamos nossas energias nos envergonhando de administradores corruptos legalizando madeira ou distribuindo terras da reforma agrária para privilegiados e para os amigos dos amigos, dentre tantos outros crimes de " lesa-pátria".

Mas, imaginando que o reino das percepções sempre antecede e governa o reino das realidades, e muda o mundo com a força da sua locomotiva de poderosos sonhos, quanto antes os sinais e os sensores detectarem os riscos, mais cedo o poder da imaginação evolutiva humana consegue entrar em ação. Está óbvio que o mundo mudou e que bilhões de novos consumidores passam a comprar não apenas mais celulares ou motocicletas, passaram a desejar e a consumir mais e novos alimentos, bebidas, fibras, formas de energia e " feed "- comida moderna para animais e "pets ".

Vamos plantar, criar, armazenar e realizar fatos reais para mudarmos velozmente a eficiência e a eficácia brasileira do maior agronegócio planetário : O tropical brasileiro.

Caindo na real, sem marketing não tem agronegócio inteligente e sem governança do agronegócio não teremos o país que poderíamos ter .

terça-feira, setembro 07, 2010

Passar do tempo faz crescer o tamanho das porções na "Última Ceia"

Notícia de março do Discovery News mostra estudo realizado pela Cornell University e publicado no International Journal of Obesity mostra que o tamanho das porções dos alimentos presentes nas versões pintadas da "Última Ceia" tem aumentado com o decorrer do tempo.

Através de computador, compararam o tamanho dos alimentos ao tamanho das cabeças em 52 pinturas diferentes da última refeição de Jesus Cristo com seus discípulos. O resultado foi que o tamanho do refeição principal cresceu 69% , o prato 66% e o pão 23% entre os anos 1.000 e 2.000.

Apesar de considerarmos o aumentos das porções de alimentos como algo moderno, Brian Wansick, cientista especialista em comportamento alimentar de Cornell diz que "o que vemos atualmente pode ser apenas mais uma parte de uma tendência de longa data".

Mais detalhes sobre este estudo pode ser encontrado no original em inglês clicando aqui:

Alta nos alimentos preocupa o mundo novamente

Após a grande alta dos alimentos ocorrida em 2007 e 2008 antes da crise, parece que os preços agrícolas mundiais estão em tendência de elevação novamente. Tanto que a FAO já está preocupada com isso segundo notícia do Valor Econômico que encontrei no Notícias Agrícolas na íntegra logo abaixo.

Complementando a informação coloquei no final do texto, os gráficos referentes ao índices da FAO. Estes índices são Food Price Index que consiste na média dos 5 índices das commodities (Carnes, Laticínios, Cereais, Óleos e Açucar). Maiores informações podem ser obtidas na página da FAO.

"Agroinflação" volta a preocupar. Trigo puxa alta dos preços

A forte alta do trigo no mercado internacional em agosto, que puxou a valorização do índice de preços de alimentos da FAO, o braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, não é o único sinal de pressão do campo sobre as taxas inflacionárias globais. Outras commodities agrícolas continuam em alta, como a soja, e a mesma FAO também já constatou uma expressiva disparada das carnes em geral - o índice específico nesta frente atingiu seu pico em 20 anos, segundo o "Financial Times" -, em boa medida graças à valorização dos grãos usados nas rações.

Conforme já informou o Valor, tal pressão também ocorrerá no mercado doméstico. No caso do trigo, por exemplo, os efeitos já são concretos. Segundo a Associação Nacional das Indústrias de Biscoitos (Anib), com o aumento de insumos e serviços será necessário um reajuste de até 9% nos preços de biscoitos e massas. Nas contas da entidade, apenas a farinha de trigo especial, usadas em massas frescas, já subiu 30%.

No segmento de carnes, previu a Brasil Foods na terça-feira, os custos dos grãos que compõem as rações demandas pela companhia deverão subir de 5% a 7% até o fim do ano.

Como o movimento não é só brasileiro, o índice de preços de alimentos da FAO não deverá ficar imune às valorizações dos produtos do agronegócio. Em agosto, o índice subiu 5% e alcançou o nível mais elevado desde setembro de 2008, embora ainda inferior em 38% ao recorde histórico, de junho daquele ano. Ainda que a "estrela" do aumento tenha sido o trigo, açúcar e oleaginosas - soja entre elas - também foram lembrados como produtos que levaram ao resultado apurado.

Conforme a FAO, a produção global de cereais foi revista para baixo e deverá atingir 2,238 bilhões de toneladas, 41 milhões a menos do que as projeções de junho. A redução se deve essencialmente à quebra do trigo na Rússia, ainda que haja melhoras nos EUA e na China. Os estoques de trigo também vão diminuir 9%, passando a 181 milhões de toneladas

domingo, setembro 05, 2010

Petrodólares de olho no açúcar brasileiro

Após a investida dos indianos da Shree Renuka Sugars que resultou na compra da Vale do Ivaí e Equipav, parece que o fundo soberano do Catar está de olho em usinas por aqui. A notícia abaixo do Reuters Sun que encontrei no Food Crisis and the Global Land Grab em inglês e traduzi, comenta isso. Vamos esperar para ver:

Hassad Food tem planos de comprar projeto de açúcar no Brasil

Hassad Food, de propriedade do fundo soberano do Catar, tem planos de adquirir um projeto de açúcar no Brasil, com capacidade para produzir 25 milhões de toneladas por ano, segundo agência de notícia do Qatar agência de notícias disse.

O Catar, como outros países do Golfo, importa a maioria das suas necessidades de alimentos, e garantir o fornecimento de alimentos no futuro é visto como prioridade pelo governo.

A aquisição no Brasil é prevista para ocorrer em dois meses, disse Nasser Al-Hajri, presidente da Hassad à CNT, sem dar mais detalhes do projeto.

Cerca de 70 por cento do açúcar está prevista para ser enviado para o Catar para uso doméstico, enquanto os restantes 30 por cento serão utilizados para produzir bio-combustíveis, segundo QNA.