sábado, dezembro 12, 2009

Veja o tamanho do subsídio agrícola europeu

No post anterior falamos sobre o protecionismo com o café e encontrei no BrasilAgro o artigo abaixo originalmente publicado no CidadeBiz mostra o tamanho do subsídio europeu. É um valor impressionante...

Subsísidio agrícola custa à Europa US$ 74 bi/ano, 15 vezes sua oferta aos pobres em Copenhague
Antonio Machado

Estudo da Austrália revela que protecionismo europeu subtrai US$ 45 bilhões/ano do bem-estar no mundo.

As assimetrias de intenções dos 192 países, entre ricos, pobres e emergentes, reunidos em Copenhague para o grande acordo, sob a chancela das Nações Unidas, que salve o planeta das agressões ao meio ambiente pelas emissões de carbono reproduzem de forma fiel as desigualdades e hipocrisias em suas relações comerciais.

Fora o compromisso do corte de emissões de CO2, mandatório para os países ricos, voluntário para os demais, definiu-se que nesse esforço os mais necessitados deverão ser amparados com repasses dos desenvolvidos - responsáveis ao longo dos anos pelos maiores danos ambientais no mundo -, para que também possam enquadrar-se a um sistema econômico mais verde. Mas também mais igualitário.

O senso de correção dos governos ricos, rigorosos ao cobrar dos “outros” práticas ambientais civilizadas, ruiu com dois dias de reuniões. EUA e União Européia se comprometem a entregar US$ 10 bilhões anuais entre 2010 e 2012 para distribuir entre mais de 150 países. Um grão de areia para um esforço estimado entre US$ 70-100 bilhões pelo Banco Mundial, ou US$ 200 bilhões, na conta do Grupo dos 77, de países em desenvolvimento, que inclui China, Índia - 1º e 3º maiores emissores de CO2 no mundo -, e Brasil.

Que os grandes emergentes, como China e Brasil, fiquem de fora, como querem os ricos, mas o governo da Índia já disse recusar a discriminação, e ainda é irrisória a ajuda que oferecem. Não há provisão para mais, alegam, pelo menos nestes tempos de economia em crise no mundo rico e eleitores irritados com os resgates de bancos falidos, recessão, desemprego e a expectativa de aumento de juros e impostos quando a conjuntura se amainar.

Os motivos de cada lado são reais. A popularidade do presidente Barack Obama, por exemplo, já desliza para menos de 50%, a taxa de desemprego passa de 10% e mais de 90% dos americanos atribuem o fenômeno do aquecimento da Terra, segundo pesquisa do The Wall Street Journal, a causas naturais, não à ação do homem. Na União Européia, a disposição em roçar o bolso é ainda menor.

Não espanta que, ao chegar a hora de pagar essa conta do ajuste dos danos ambientais, uma espécie de termo de conduta global, a cúpula do clima na fria Copenhague tenha esquentado. Documento da Dinamarca, com pretensão de síntese dos 32 países ricos, deu o tom: a obrigatoriedade do corte de emissões de CO2 valeria a todos os países, inclusive aos pobres, e o plano seria limitado a 2013, sem qualquer compromisso com os anos seguintes.

CONFRONTO DELIBERADO

A ser desse modo, ou com o custo de ajuste climático só sobre o mundo rico, conforme proposta alternativa do governo chinês, não há expectativa de acordo nenhum.

A intenção do confronto parece deliberada, de modo a ir arrastando o desfecho, meio assim como os impasses em torno do protecionismo que impedem a conclusão da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), que desde 2001 persegue um acordo de liberalização comercial no mundo.

DE DOHA A COPENHAGUE

O paralelo com Doha é pertinente, pois o custo do protecionismo no mundo rico equivale, sobretudo na União Européia, a tudo o que os países pobres precisam para aderir à corrente do bem pelo meio ambiente.

A maioria extrai a energia que consome de usinas movidas a carvão, cuja substituição requer acesso a tecnologias e dinheiro que financie a reciclagem do modo de produção.

A União Européia, por exemplo, precisa das maciças despesas com a sua Política Agrícola Comum (CAP, em inglês), que subsidia com pagamentos diretos aos agricultores da comunidade a produção de alimentos e os protege com tarifas, cotas de importação e regras fitossanitárias contra a concorrência de países mais eficientes, como Brasil, Argentina, Austrália?

A resposta tem conexão direta com o sucesso ou fracasso da cúpula de Copenhague.

POBRE SUBSIDIA EUROPA

Conforme estudo recente da Productivity Commission, um órgão do governo da Austrália, o protecionismo agrícola equivale a 46% do gasto total da União Européia, ou € 50 bilhões (US$ 74 bilhões), 15 vezes acima do que ela oferece mundo pobre em Copenhague.

Os subsídios, segundo o estudo, deprimem os preços globais dos produtos contemplados entre 1% e 4%, chegando a 12,7% na carne bovina exportada pela América Latina.

Em termos líquidos, o bem estar do mundo é subtraído de US$ 45 bilhões ao custo de US$ 30 bilhões para a Europa. É isso: Copenhague e Doha têm tudo a ver.

POLUIÇÃO PROTECIONISTA

A globalização não é só econômica e cultural. Tudo que importa aos países também está interligado. Não há como supor um acordo na cúpula do clima desconectado do tratado de Doha, já que, de todos os modos, tudo está ligado – da transferência de know-how ambiental, protegido por patentes, a incentivo à produção verde de bens industriais e agrícolas, regulados pelas normas da OMC.

O que uma cúpula decidir vai afetar a outra. Como o estudo do governo da Austrália revela, o protecionismo agrícola da Europa aumenta os demais preços não protegidos no mundo, e uma economia “descarbonizada” implica mais custos. Uma coisa compensa a outra.

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