domingo, dezembro 13, 2009

Dólar fraco atrapalha pecuária brasileira

A situação da pecuária bovina brasileira em função da cotação do dólar foi tema de várias notícias na última semana. Abaixo seguem notícias do Notícias Agrícolas (primeira notícia do Estado de São Paulo de 13/12 e segunda do Valor Econômico de 11/12) e do BrasilAgro (Estado de São Paulo de 10/12) comentando sobre o preço da carne, o impacto no confinamento e o impacto na produção mundial.

Entretanto, a quarta e última notícia, encontrada no AviSite hoje, mostra que apesar de tudo, o consumo interno ainda está em alta e quando consideramos todos os tipo de carne, comemos mais carne do que os países desenvolvidos.

Valorização do real faz da carne brasileira a mais cara do mundo, mostra Estadão

Arroba sobe de US$ 25 para US$ 44 e faturamento do setor cai 22%, por José Maria Tomazela, em O Estado de S. Paulo

A carne bovina brasileira passou a ser a mais cara do mundo, mas isso não impede que o setor enfrente uma de suas crises mais graves. A valorização do real em relação ao dólar elevou o preço da arroba brasileira, historicamente cotada em US$ 25, para US$ 44. Com isso, o País perdeu competitividade ante outros exportadores, como Austrália, Argentina e Uruguai.

A redução nas exportações, sobretudo de cortes mais valorizados, por causa da crise internacional, provocou uma queda de 22% no faturamento do setor e teve influência na redução do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, segundo a Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato). "Perdemos o mercado europeu, que era o que mais remunerava, pois levava só filé mignon e carne de primeira", disse o pecuarista e consultor da Famato, Luiz Carlos Meister.

Os efeitos ainda são sentidos no campo. Somente em Mato Grosso, seis unidades frigoríficas estão paradas. Outras nove que também suspenderam os abates voltaram a operar depois de serem absorvidas por outros grupos. Em Mato Grosso do Sul, 11 unidades frigoríficas continuam com o abate suspenso ou reduzido.

No Estado de São Paulo, pecuaristas tradicionais veem com preocupação a forte redução na renda. De acordo com o criador de gado de elite José Fernandez Lopez Netto, vice-presidente do Sindicato Rural de Itapeva, o preço da arroba do boi recuou de mais de R$ 90 para a faixa de R$ 75. "Os preços de insumos, minerais e medicamentos não caíram na mesma proporção."

Segundo ele, o pecuarista pagou caro pelo bezerro e a relação de troca, na venda, não é boa. "O produtor vê o mercado frouxo e investe menos em genética." Muitas empresas de genética bovina do sudoeste paulista estão paradas. "A renda da pecuária caiu tanto que, para o criador conseguir salário igual ao de um soldado, precisa manter 300 vacas." Ex-presidente da Associação Paulista de Criadores de Gado Pardo-Suíço, Lopez Netto vê a atividade encolher no Estado.

"Muitos criadores arrendaram o pasto para usina de cana." No setor de frangos e suínos o faturamento diminuiu, respectivamente, 18% e 14% este ano. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), a queda nas exportações de janeiro a outubro deste ano foi de 29%. Os volumes embarcados tiveram pequeno crescimento em relação a 2008, mas os preços ficaram muito abaixo.

Para o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, o real valorizado é um dos principais fatores da perda de rentabilidade dos produtores. Ele defende intervenção do governo no câmbio.

Crise faz confinamento de bovino recuar 20% no país

Para Assocon, concentração dos frigoríficos agrava situação

Confinadores de bovinos, que tiveram de colocar o pé no freio este ano por conta da crise, avaliam que a concentração no setor de carne dificultará ainda mais a vida dos criadores. A saída de vários frigoríficos do mercado e as operações de fusão e aquisição no setor reduziram as opções dos pecuaristas na hora de vender o gado.

De acordo com Ricardo Merola, presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), em algumas regiões há a opção de vender para apenas um frigorífico. É o caso de Campo Grande (MS), onde Bertin e JBS S.A., que se uniram em setembro, têm duas unidades, com capacidade de abate de 6.500 cabeças por dia. "Você vende para a JBS ou não vende", disse. Em Rondônia, a situação é semelhante, segundo o dirigente.

Diante desse quadro, a Assocon defende que a análise sobre a concentração em relação a Bertin e JBS, que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) realiza, seja feita regionalmente. Atualmente, a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) faz um levantamento sobre a concentração que as recentes operações geraram. Além da união JBS e Bertin, a Marfrig também arrendou várias unidades que pertenciam ao Margen e ao Mercosul.

Procurada, a Bertin disse, por meio de nota, que "a fusão entre JBS Friboi e Bertin ainda está sendo julgada pelos órgãos reguladores nacionais e internacionais. Acreditamos que a operação será aprovada, já que não representa concentração nos Estados em que as empresas atuam."

Questionada, a JBS disse, em nota, que "a companhia entende que ganhos de escala levam a importantes ganhos de eficiência, que beneficiam todos os elos da cadeia e que a participacao de mercado da JBS será de 16% no Brasil".

Além da maior concentração, a expectativa é de nova queda nos confinamentos em 2010, de cordo com o presidente da Assocon. A entidade reúne 47 confinadores no país. Neste ano, segundo Merola, o número de animais confinados pelos associados da Assocon ficou em 374 mil bois, quase 25% menos que os 498 mil de 2008. Para o confinamento em todo o país, a Assocon estima uma queda de 20%, para 2,3 milhões de cabeças.

Merola disse que as margens negativas no segmento levaram muitos confinadores a fazerem apenas um turno de produção. "O criador abortou o segundo turno quando viu que estava perdendo dinheiro". Ele afirmou que houve disputa por boi magro e os preços acabaram superando os do boi gordo.

O recuo no confinamento este ano também decorreu da saída de fundos de investimentos do negócio por causa da crise, disse Merola. Eles atuavam em parcerias com criadores e saíram devido às restrições de crédito. Frigoríficos também foram mais cautelosos. Sem citar nomes, Merola disse que um deles não confinou nada este ano.

Brasil reduz comércio global de carne, diz FAO

Produção brasileira cai 3% e causa contração mundial.

Diante da valorização do real, da situação dos abatedouros e da recessão mundial, 2009 terminará com uma contração substancial nas exportações de carne do Brasil, com implicações no mercado mundial. No setor do frango, a retração será a primeira em 15 anos. Os dados foram publicados ontem pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

A entidade, com sede em Roma, estima que 2009 fechará com queda de 6% no comércio mundial de carnes. A produção também ficará abaixo de 2008, com 282 milhões de toneladas. Outra queda é a do consumo per capita, que cairá de 42 quilos para 41,7 quilos por ano.

Grande parte da queda no comércio mundial, segundo a FAO, é provocada pelo Brasil. A produção no País deve ser 3% inferior à de 2008. No setor de carne bovina, a previsão é de contração de 4,5%, totalizando 6,7 milhões de toneladas de vendas. "Grande parte do declínio ocorre por causa do Brasil, o maior fornecedor do mundo, onde as entregas vão cair em 14%", afirma a FAO. Entre os fatores negativos, estão a queda nos preços internacionais, a valorização do real e a demanda fraca em mercados consumidores.

Para 2010, a projeção é um pouco melhor, com alta de 2% nas exportações. Mas ainda inferior a 2007 e 2008. O crescimento em 2010 virá essencialmente do Brasil.

No setor do frango, a previsão é de queda na produção mundial em 2009, para 91,9 milhões de toneladas. Mais uma vez, a culpa é do Brasil, o maior exportador. A estimativa é de que a queda no País será a primeira em 15 anos no setor.

"No Brasil, o fornecimento de frango foi deprimido por causa de restrições à exportações, valorização da moeda local, falta de créditos e queda nos mercados consumidores", afirma a FAO. As exportações só cresceram para o Oriente Médio, com a redução de tarifas de importação na Arábia Saudita. Para 2010, a previsão é de retomada das exportações em 4%.

GANHOS

Se o setor de carnes foi duramente afetado, o de leite e o de açúcar apresentaram lucros. A produção de leite no Brasil permaneceu inalterada em 28 milhões de toneladas em 2009. Mas as exportações aumentaram 40% no ano, superando pela primeira vez a marca de 1 milhão de toneladas.

Segundo a FAO, em 2002 o Brasil importava 1 milhão de toneladas de derivados do leite. Mas conseguiu promover uma substituição de importação. Para proteger produtores, o governo impôs cotas de importação.

No caso do açúcar, os preços altos ainda beneficiaram os exportadores. Em agosto, a FAO calculou que o produto atingiu o maior valor em 28 anos: US$ 25,18 por libra. Em outubro de 2008, eram US$ 11,9 por libra. Parte da alta nos preços ocorre porque o consumo continua a ser mais forte que a produção, pelo segundo ano consecutivo.

Outro fator é a produção no Brasil, que não cresceu entre 2008 e 2009 por causa das chuvas que atrapalharam a safra. A estimativa é de que o ano termine com 38 milhões de toneladas em produção. Apesar disso, o Brasil deve ter alta de 5% nas exportações, atingindo 25 milhões de toneladas de vendas. Metade dos ganhos mundiais com o crescimento nas exportações do açúcar virão do Brasil. Índia, Europa e Rússia devem ter alta nas compras. Já a China deve importar 200 mil toneladas a menos em 2010 diante de sua maior produção.

A alta nos preços ainda levou produtores no mundo a reduzir a taxa do uso do produto para o etanol. Em 2008, 40% da produção ia para o consumo, e não para combustível. Em 2009, essa taxa chegou a 43%. A alta nos preços ainda levou produtores no mundo a reduzir a taxa do uso do produto para o etanol.

A alta do preço do açúcar não é a única. Segundo a FAO, os preços globais de alimentos voltaram a subir nos últimos meses. Porém, dessa vez os motivos não foram os mesmos de dois anos atrás, quando a crise provocou protestos em todo o mundo.

NÚMEROS
Carnes: Brasil tem consumo de Primeiro Mundo

Campinas, 16 de Dezembro de 2009 - Consideradas as últimas projeções da Organização Mundial para Agricultura e Alimentação (FAO), o consumo per capita de carnes dos brasileiros não apenas se iguala como também supera aquele registrado nos chamados Países Desenvolvidos – ou, simplesmente, de Primeiro Mundo.

No Brasil (projeções do Ministério da Agricultura para 2009) o consumo das três carnes é estimado em 85,3 kg – 39,6 kg de carne de frango; 32,2 kg de carne bovina; e 13,5 kg de carne suína. – e, assim, deve superar em 4,3% o consumo estimado pela FAO para os Países Desenvolvidos.

Sob o aspecto do consumo de carnes, aliás, o Brasil não se encaixa na categoria de País em Desenvolvimento, pois seu consumo per capita é quase três vezes maior – 85,3 kg contra apenas 31 kg per capita, 175% de diferença.

Por fim, os brasileiros consomem o dobro da média mundial, calculada pela FAO em 41,7 kg.


Um comentário:

Unknown disse...

Blog legal!