sábado, dezembro 19, 2009

Retrospectiva do Canal Rural - Máquinas, Boi, Frango e Milho

O Canal Rural realizou nesta semana, uma série de entrevistas, todas conduzidas por Nestor Tipa Jr., sobre a retrospectiva de alguns setores do agronegócio brasileiro com seus principais representantes.

As retrospectivas foram realizadas com as seguintes pessoas: Celso Casale da ABIMAQ (Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas), Otávio Cançado da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), Péricles Salazar da ABAFRIGO (Associação Brasileira dos Frigoríficos), Francisco Turra da ABEF (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango), Alessandro Teixeira da APEX-BRASIL (Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos) e Odacir Klein da ABRAMILHO (Associação Brasileira dos Produtores de Milho).

Os textos encontram-se na sequência e para acessar a página original com os textos e links do aúdio da entrevista, cliquem acima na sigla de cada associação.

Abimaq afirma que queda do dólar refletiu no setor
Celso Casale critica excesso de impostos que impactam no custo das máquinas

A valorização do real frente ao dólar foi o principal problema enfrentado pelo setor de máquinas agrícolas em 2009. A avaliação é do presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas, Celso Casale. Apesar do alento do governo federal com o Finame PSI, com a taxa de 4,5% de juro ao ano e com 10 anos de carência, que ajudou as vendas do setor, a projeção de queda no faturamento em relação a 2008 deve chegar a 30%.

- O setor de produção de grãos ficou descapitalizado e teve o preço reduzido em razão da queda do dólar. Com isso ele parou os investimentos.

Mesmo com o incentivo do programa Mais Alimentos, destinando máquinas para agricultores familiares, Casale acredita que apenas alguns fabricantes que produzem equipamentos voltados para este segmento foram beneficiados. Mas reconhece que se não fosse pelo programa, o resultado econômico poderia ter sido pior. O grande problema, de acordo com o dirigente da Abimaq, o setor sofre com excessivas cargas tributárias.

- Isso vai encarecendo os produtos, e isso é uma cadeia. Você começa na produção do aço, passa pela fabricação dos componentes até chegar nas máquinas, que acabam incorporando os custos. Então nós entendemos que máquinas e equipamentos não deveriam ser sobrecarregaos por impostos, pois na máquina é que começa tudo, independente do setor, de ele ser agrícola ou industrial, é o início do processo - afirma.

Casale acredita que os benefícios para a indústria de máquinas não foram suficientes porque o produtor não teve a contrapartida de ganho durante este período de valorização excessiva do real.

- O dólar caiu no mundo inteiro, mas o real valorizou muito mais do que outras moedas. Como a commoditie é cotada em dólar, o preço baixou e isso desestimula o investimento em equipamentos - ressalta o executivo.

Casale explica que a queda do dólar também influenciou no resultado das exportações. Até o terceiro trimestre do ano, houve queda de 52% no faturamento com as exportações de máquinas agrícolas. O reflexo também foi sentido nas feiras agrícolas.

A Agrishow, em Ribeirão Preto, conforme o dirigente, foi atingida pelo auge da crise internacional, o que retraiu a participação das grandes empresas do setor. Sobre os números recordes da Expointer, em Esteio, Casale informa que o resultado se deve aos equipamentos para pequenos produtores.

- Na Expointer, foram máquinas para o Mais Alimentos e tratores de pequeno porte, de pequena potência. A indústria de tratores teve produção equivalente à do ano passado, mas o faturamento caiu porque venderam mais tratores pequenos. E este número que apareceu na Expointer foi em função de tratores de pequeno porte - avalia.

Diretor-executivo da Abiec acredita que crise e dólar frearam exportações de carne
Otávio Cançado também avalia que barreiras da União Europeia atrapalham o setor

A cadeia produtiva da carne bovina viveu um ano de complicações devido à crise mundial, que reduziu a demanda pela carne brasileira. Isto trouxe uma restrição de crédito tanto para os exportadores quanto para os importadores. Mas outro elemento que pegou de surpresa o setor foi a valorização do real frente ao dólar, no período de retomada do comércio mundial, que tirou a competitividade no mercado internacional. O diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, Otávio Cançado, é de que, mesmo com as quedas em volume e receita, ainda foi um ano razoável.

- Até novembro, a queda foi de 25% em valor em dólar e 12% de volume em toneladas. Foi uma queda razoável. Esperamos fechar o ano com uma exportação de US$ 4,5 bilhões contra uma exportação de US$ 5,3 bilhões em 2008 - informa.

Além disso, Cançado salienta que algumas questões no ponto de vista ambiental e social também atrapalharam o setor. Mas a limitação da Cota Hilton pela União Europeia também traz dificuldades para os exportadores de carne. Para ele, a taxa é a mais elevada do mundo.

- Nenhum outro país sofre tantas auditorias e imposições de um bloco, como o da Europa, para ter seu produto no mercado à disposição do consumidor. Botsuana, por exemplo, que foi erradicada de febre aftosa este ano, pode importar para a União Europeia sem nenhuma regra, sem nenhuma imposição a mais do que o Brasil - afirma o dirigente.

Cançado enfatiza que o Brasil é o único país que tem que fazer certificações de fazendas em três etapas, onde a certificadora, o ministério e a União Europeia têm que dar o aval se permite ou não a exportação. Segundo ele, o Brasil sofre uma discriminação em relação a outros mercados, e por isso não consegue cumprir a sua Cota Hilton, que é fundamental para a formação de preço dos frigoríficos e pecuaristas. O diretor da Abiec acredita que, muitas vezes, algumas barreiras comerciais são disfarçadas de barreiras sanitárias para eliminar a competição.

- Com esta competição, eles tendem a tornar o acesso do nosso produto mais difícil a Europa. Ao controlar este acesso eles diminuem a concorrência e continuam subsidiando seus produtores e continuam com uma carne que nem é de tanta qualidade e com indústrias ineficientes.

O objetivo, de acordo com Cançado, é manter a abertura e reabertura de novos mercados, como foi em 2009. Ele cita a reconquista das exportações para o Chile, assim como a manutenção dos Estados Unidos e as exportações para o mercado asiático, em países como Coreia, Japão e China. Sobre os chineses, o executivo da Abiec espera que haja uma desburocratização do processo de exportação.

- Temos que ampliar o nosso mercado na China, que já é aberto, mas é controlado pelo governo, que emite as licenças de importação. Esperamos que estas exportações sejam com licenças automáticas, sem a intervenção governamental.

Presidente da Abafrigo destaca mudanças expressivas no cenário do setor em 2009
Péricles Salazar afirma que concentração de empresas frigoríficas prejudica a concorrência

O setor frigorífico brasileiro em 2009 se caracterizou por profundas mudanças. Houve a consolidação do processo de concentração das grandes indústrias, com a aquisição de plantas e fusão de empresas. Mas o presidente da Associação Brasileira dos Frigoríficos, Péricles Salazar, entende que estes movimentos devem ser vistos com cautela, pois podem trazer prejuízos para o setor.

- Eles consolidaram sua atuação adquirindo outras plantas, inclusive plantas internacionais, e esse processo de concentração, que eu entendo que não é salutar para a cadeia produtiva.

Além disso, ele critica a posição das autoridades em relação às medidas de embargos aos frigoríficos que compraram carne proveniente de áreas de desmatamento. Salazar acredita que houve equívocos do Ministério Público do Pará, baseado em informações também equivocadas do Greenpeace. Estes fatos, segundo o presidente da Abafrigo, fez com que algumas atitudes fossem tomadas sem que houvesse uma culpa por parte da maioria dos produtores e dos frigoríficos.

- Teve frigorífico penalizado porque comprou animais de fazenda que não estavam na lista. Depois que foram ver que não estavam na lista. Com isto prejudicaram a indústria e o conceito do frigorífico indevidamente. Evidentemente que concordamos que não pode haver desmatamento ilegal, não pode haver processo de agressão ao meio ambiente, mas não no excesso que as autoridades querem nos impor.

Outra medida criticada por Salazar foi a do processo de certificação pela Associação Brasileira de Supermercados para certificar e habilitar produtores e frigoríficos, com a intenção de adquirir carnes de empresas que façam a adesão ao processo de certificação dos supermercadistas. Ele afirma que não houve uma consulta ao setor e que a medida não é interessante para a cadeia produtiva.

- Existem vários equívocos no processo. Isto pode inclusive possibilitar a elevação de preços do setor que nós, da cadeia produtiva, não queremos - alerta.

Mas a indústria frigorífica comemora a desoneração da tributação do Pis e Cofins no setor. Salazar destaca que esta é uma vitória depois de quase cinco anos de negociações para o governo. De acordo com ele, o benefício fiscal, que foi concedido aos frigoríficos de mercado interno e também o de mercado externo, com os benefícios de crédito presumido, vão gerar uma nova fase de prosperidade na indústria frigorífica brasileira. O presidente da Abafrigo salienta que a medida também vai tirar diversas empresas da clandestinidade.

- Este fato é extremamente relevante para os frigoríficos e também para a saúde pública, porque agora entendemos que não há mais razão para fazer o abate clandestino. Não havendo o abate clandestino, e os que faziam este abate agora vão poder trabalhar de uma forma mais clara, mais transparente, produzindo com maior qualidade, e isso faz com que haja um benefício à população consumidora no país.

Presidente da Abef acredita que valorização do real prejudicou exportações de frango
Francisco Turra projeta 20% de queda na receita com a desvalorização do dólar e do euro

Apesar de manter estabilidade nos embarques de frango em relação ao ano passado, a receita para os exportadores tem queda de cerca de 20%. Muito se deve à valorização do real frente a outras moedas pelo mundo, como o dólar e o euro. Até o mês de novembro, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango, Francisco Turra, chegava a 25% em relação à moeda norte-americana e a quase 16% frente à do bloco europeu.

- Nós não temos este lastro para termos o Real tão valorizado frente a 30 moedas no mundo. Mundo onde nós temos negócios e o Brasil saiu perdendo. E quando você tem renda, você pode repassar para a cadeia, desde o produtor de insumos, o integrado e para as indústrias, que está fechando o ano no vermelho - ressalta.

Turra afirma que a manutenção dos volumes embarcados se deve à abertura de novos mercados. Só em 2009, foram 24 novos países que compraram o frango brasileiro, 10% da demanda total. Segundo ele, estes novos mercados cobriram a retração de outros países, como a Rússia, Japão, Venezuela e União Europeia. Mesmo assim, o presidente da Abef ainda reclama das barreiras impostas por muitos importadores.

- A União Europeia foi um caso. Repentinamente houve aumento de tarifas nas cotas, mais tarifas, cotas extras que são impossíveis de pagar. E países que abrimos mercados, como a Índia, não conseguimos vender porque a tarifa de lá é de 100%. Se você exporta mil toneladas, você vai dar mil toneladas adicionais para o tesouro da Índia, e isso é impraticável.

Para Turra, o grande destaque do ano foi a abertura do mercado chinês, que evoluiu nas compras no final do ano. Para 2010, a meta é perseguir novos compradores, como México, Indonésia, Malásia, Paquistão e Nigéria. Também são alvo dos brasileiros 20 pequenos mercados para incrementar os negócios.

O presidente da Abef informa que a cadeia produtiva está buscando junto ao governo federal a desoneração de Pis e Cofins para o setor, como ocorreu com a cadeia bovina. Para ele, é difícil manter um trabalho com linhas diferentes, onde o boi está desonerado e o frango com tributos elevados. Mas Turra destaca a conquista da medida do governo relacionada ao drawback verde-amarelo, que é a isenção de tributos que são usados para insumos que servem de ração.

- Para sermos competitivos, não dá para vendermos imposto lá fora, pois o consumidor paga pelo produto - acredita.

Presidente da Apex-Brasil destaca valor do agronegócio para amenizar queda nas exportações
Alessandro Teixeira estima que parcerias comerciais com a China devem se intensificar em 2010

O ano de 2009 como um todo representou uma queda significativa do comércio internacional. Vários países tiveram uma redução profunda nas suas exportações e no seu poder de compra, principalmente países como Japão, União Europeia e Estados Unidos, principais mercados compradores do Brasil. A avaliação é do presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex-Brasil), Alessandro Teixeira. Para ele, o desempenho do setor do agronegócio foi relativamente melhor do que outros setores da economia brasileira.

- Nós teremos, se continuar um mês padrão, uma queda de 11% a 15% nas exportações do agronegócio. Comparada com a queda dos outros setores, ela está bem abaixo, eu diria quase metade, da queda dos outros setores. Isso mostra que foi um dos segmentos que garantiu a meta das exportações brasileiras, que foi superior às de outros países, principalmente Estados Unidos e União Europeia - afirma.

Teixeira acredita que setores como de carnes e de alimentos industrializados (chocolates, biscoitos, massas e afins) têm crescido bastante. Mas ressalta o potencial de outras cadeias produtivas, como a do leite.

- A bacia leiteira do Brasil cresce. Este ainda é um setor que não exporta em grande quantidade mas tem um potencial muito grande para os próximos anos - ressalta.

O presidente da Apex-Brasil destaca duas novas parcerias no ano de 2009. A primeira, com a Associação Brasileira de Hereford e Braford, com o objetivo de exportar a genética das raças, e com o setor de erva-mate, como produto principalmente de princípio ativo para a indústria cosmética e de bebidas.

- Vários destes setores iniciaram seu processo de exportação, mas não tinham uma estrutura forte. Como os projetos da Apex acabam participando de feiras internacionais, road shows, trazem jornalistas estrangeiros para conhecer o setor, e assim a gente vai melhorando como um todo o setor do agronegócio.

Para 2010, a expectativa é de crescimento nas exportações do setor de alimentos, porque países como China cresceram 8,5% este ano e ano que vem deve manter de crescimento. Teixeira lembra que a China passou a ser o principal parceiro do Brasil em 2009 e deve ser também em 2010, baseado justamente no consumo não só das commodities, mas no setor de agronegócios como um todo.

De acordo com o presidente da Apex-Brasil, o setor de arroz deve ser o novo parceiro da agência para 2010. Ele ressalta que o objetivo é fazer um trabalho parecido com os de cafés especiais, como cafés gourmet, onde estão obtendo resultados satisfatórios. Teixeira acredita que o mote será o de explorar a diversidade de tipos de arroz existentes.

- É um produto que está sendo demandado muito fortemente no mercado internacional, principalmente por China e Índia, que consomem muito - lembra.

Presidente da Abramilho acredita que falta de crédito prejudicou produtores
Odacir Klein avalia que falta de demanda pelo milho trouxe dificuldades para obter melhores preços

Os representantes das principais entidades do agronegócio brasileiro fazem um balanço do ano 2009 e traçam as perspectivas para 2010.

A falta de crédito fez com que não ocorresse reposição de estoques e trouxe dificuldades de mercado para os produtores de milho. Segundo o presidente da Abramilho, Odacir Klein, houve um estoque de passagem abundante, em consequência de que havia milho ofertável em grande volume. Diante disso, para ele, como a demanda não era tão expressiva como no ano anterior, houve problemas durante todo o ano relativos a questão de preço.

— É verdade que houve presença do poder público. A Conab promoveu diversos leilões, principalmente no Centro-Oeste, havia excesso de produção, principalmente originária da safrinha, e isso normalizou um pouco a situação, mas houve dificuldades relativas a preço do milho no decurso de todo o ano — acredita.

Klein informa que em Estados como o Rio Grande do Sul, por exemplo, a estiagem também prejudicou o mercado. Para o presidente, o Rio Grande do Sul é um Estado que, quando produz milho, nas condições normais e sem intempéries, supre o mercado tranquilamente.

— Mas com qualquer dificuldade, nós passamos a não ter condições de abastecimento do mercado em sua plenitude, e foi o que ocorreu neste ano de 2009 em razão da estiagem.

Questionado sobre a desvalorização do Dólar frente ao Real, Klein afirma que a questão cambial afeta mais o mercado do milho em função das dificuldades das exportações de carnes, já que a exportação de milho é reguladora de mercado. Ele diz que o grande consumo é no mercado interno, já que a exportação do milho não é tão expressiva.

— Agora, no momento em que há dificuldade cambial, e os preços dos derivados de milho, principalmente das proteínas animais caem no mercado mundial, há uma transferência desta dificuldade para o produtor de milho que é um abastecedor através do comércio de rações. Então todas estas dificuldades foram muito fortes.

Para o presidente da Abramilho, o ano de 2010 não deve trazer grandes variações cambiais. Em relação aos preços, ele projeta uma demanda interna inclusive com um mercado de derivados de milho, principalmente proteínas animais, melhorando. Em consequência disso, segundo Klein, os preços devem ser razoáveis e estabilizados no decurso de 2010.

Sobre as projeções para a próxima safra, Odacir Klein afirma que haverá uma diminuição de área de plantio, mas de outra parte não há previsão de estiagens tão acentuadas como no ano anterior. Ele salienta que, pela primeira vez, será acentuado de sementes transgênicas, chegando a praticamente metade da área no país, o que irá aumentar a produção.

— Todos os que plantaram sementes trangênicas estão dizendo que tiveram bom resultado, porque o fato de a semente transgênica ser resistente a determinados agentes externos ou permitir a aplicação de determinados defensivos, faz com que haja um aumento de produção ou que não haja quebra de produção por causa da ação destes agentes externos - afirma Klein.

O presidente da Abramilho não estima perdas significativas devido aos temporais dos últimos tempos no sul do Brasil.

— Eu tenho recebido informações de que pode haver prejuízo, mas não será um prejuízo tão acentuado. Acentuado seria realmente falta de chuva, falta de água em época que elas são necessárias para a planta.

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