quinta-feira, dezembro 23, 2010

África é bom investimento para alguns produtores brasileiros

Tenho um amigo que já foi para o Sudão em uma grande usina de açúcar de lá que é extremamente mecanizada e hoje fiquei surpreso sobre o bom resultado de um produtor brasileiro de soja e algodão por aquelas bandas. Segue abaixo notícia que encontrei no Portal do Agronegócio publicada no Diário de Cuiabá:

Bons resultados na colheita do Sudão
Favorecido pelos baixos custos de produção na África, terra fértil e boa logística de transporte, o produtor mato-grossense, Gilson Pinesso, com lavouras em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, já está colhendo bons resultados com a sua primeira safra de algodão e soja, no Sudão

A produtividade, apesar de ser menor do que a de Mato Grosso - maior produtor brasileiro - acaba compensada pela boa renda obtida pelo produtor.

Pinesso plantou este ano 500 hectares (400 ha de algodão e 100 ha de soja), num projeto experimental na região do Sudão, e colheu 2 mil quilos de soja por hectare. “O rendimento ficou um pouco abaixo do esperado porque plantamos com atraso de 50 dias devido à demora na liberação dos insumos (fertilizantes e inoculantes). Mas o baixo custo acabou compensando esta perda e podemos afirmar que a rentabilidade está sendo maior do que a de Mato Grosso, onde a cultura está consolidada”, conta o produtor.

Na região do Sudão, a época ideal para o cultivo de soja é o mês de junho, até o dia 20, mas Pinesso só conseguiu plantar depois do dia 10 de agosto. A expectativa do produtor é chegar no próximo ano a uma produtividade média de 40 sacas por hectare, distante do rendimento médio mato-grossense, de 50 sacas, porque na África o cultivo da oleaginosa é incipiente e ainda não foram descobertas variedades adequadas para o solo e clima da região.

“Mas fizemos os cálculos e chegamos à conclusão de que o lucro foi bem maior, pois o custo de produção na África é de apenas 600 quilos de soja por hectare. No Brasil, o custo passa de 2,2 mil quilos, acima de US$ 800 dólares. Isso acaba fazendo a diferença para o produtor e para ele é o que interessa”, salienta Pinesso.

No caso do algodão, cuja colheita está começando agora, a produtividade está sendo considerada boa. O produtor espera alcançar um rendimento médio de 250 arrobas por hectare, sendo 98 arrobas apenas da pluma, que o produto de maior valor.

“Estamos levando o Ima (Instituto Mato-grossense de Algodão) para pesquisar e desenvolver variedades adequadas na região do Sudão. A nossa previsão é de que dentro de cinco anos poderemos alcançar a produtividade brasileira”.

Pinesso destaca também o menor custo para a produção de algodão no continente africano, onde para se produzir um hectare de algodão gasta-se US$ 1,05 mil. No Brasil, este desembolso pode chegar a US$ 1,80 mil. “Estou bastante otimista com a boa perspectiva de rentabilidade diante e um menor custo de produção. Desenvolvendo tecnologias próprias para a África, num futuro próximo os produtores brasileiros terão todas as condições de ter lavouras naquele continente”, frisa.

PROJETOS - O produtor diz estar “tão animado” que acabou refazendo sua projeção de plantio para a próxima temporada. Para 2011 ele planeja cultivar 40 mil hectares, 20 mil hectares de algodão, 10 mil de soja e 10 mil ha de milho. A expectativa inicial de Pinesso era plantar 25 mil hectares de soja e algodão.

“Pegamos o projeto Brasil-Sudanês, que previa o plantio de 20 mil hectares de soja e algodão para 2011. Somado aos cinco mil hectares próprios, também para a próxima safra, chegaríamos a 25 mil hectares. Mas o resultado está sendo tão bom que elevamos esta projeção em 60% para o próximo ciclo”, conta.

Segundo Pinesso, na África “o solo é fértil, não há problemas de pragas e a logística é boa”. A produção sai das lavouras de caminhão, como em Mato Grosso, mas percorre uma distância muito menor (400 quilômetros, ao invés de 2 mil quilômetros como no trecho Sorriso-Santos) até atingir o porto e seguir rumo à China, Índia, Bangladesh e Paquistão, principais mercados compradores do Sudão

sábado, dezembro 11, 2010

Interesse da Petrobras pelo etanol é grande mesmo

Parece que a Petrobras está mesmo muito interessada no setor sucroenergético. Depois de se associar com Tereos e São Martinho, agora quer se associar com ETH. Acabei de ler esta notícia no Estadão e encontrei-a disponível online no site do Terra:

Petrobras e Odebrecht podem se unir em maior produtora de álcool

A Petrobras fez uma oferta de compra de 40% da ETH, empresa de etanol da Odebrecht, em um negócio avaliado em cerca de R$ 3 bilhões, segundo informações da edição deste sábado do jornal Folha de S. Paulo. O objetivo da estatal é correr atrás da liderança nacional do mercado de combustíveis de cana-de-açúcar. Desta maneira, a empresa de biocombustíveis da Odebrecht poderá se consolidar como a maior produtora global de álcool, posição que hoje pertence à Cosan, empresa em que a Shell é sócia. Concorrentes da estatal, como Shell e BP, foram mais rápidas e entraram primeiro no setor de álcool hidratado.

Tanto a Petrobras como a ETH disseram que não comentariam a negociação. O plano de investimento da ETH prevê a aplicação de R$ 3,5 bilhões até 2012, ano em que as nove usinas do grupo devem estar em operação. A empresa terá uma capacidade de moagem de 40 milhões de t de cana por safra e produzirá 3 bilhões de l de etanol. Poderá, ainda, gerar 2,7 mil GW/hora ao ano de energia a partir da biomassa. Com o dinheiro da Petrobras, a ETH irá abater parte de endividamento. A empresa comprou no ano passado a Brenco, que estava debilitada financeiramente, e assumiu sua dívida. A Odebrecht, dona da ETH, ficou com 65% da joint venture.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Carne de frango contrabandeada para o Paraguai

A notícia abaixo, apesar de ser pouco usual, mostra como a produção avícola e de hortaliças brasileira são eficientes...Ela consegue fazer a rota inversa de milhares de produtos, ou seja, contrabando do Brasil para o Paraguai. A nota foi encontrada no Avisite e é de autoria da Guilherme Wojciechowski da SopaBrasiguaia:

Paraguai apreende carne de frango contrabandeada do Brasil

Foz do Iguaçu, PR, 8 de Dezembro de 2010 - Fiscais da Direção Nacional das Aduanas (DNA), do Paraguai, fizeram nesta segunda-feira (07), na cabeceira paraguaia da Ponte da Amizade, chamativas apreensões de carne de frango e hortaliças adquiridas em Foz do Iguaçu e contrabandeadas ao país vizinho.

De acordo com a agência pública IP Paraguay, 315 quilos de frango, 663 quilos de tomate, 520 quilos de pimentão e 260 quilos de cebola foram apreendidos durante abordagens de rotina a veículos que retornavam do Brasil pela ponte fronteiriça mais movimentada da América do Sul.

Os produtos foram levados a um depósito da Administração Nacional de Navegação e Portos (ANNP) e, no caso dos vegetais, devem ser doados a instituições de caridade do lado paraguaio da fronteira. A carne de frango, transportada sem refrigeração, será destruída por representar riscos ao consumo humano.

sábado, novembro 27, 2010

Nos 35 anos de Proálcool, um pouco de história

O Proálcool (Programa Nacional do Álcool), programa desenvolvido pelo governo Militar na década de 1970 para incentivar o uso do álcool como combustível completou 35 anos no último dia 14 de novembro. Para ilustra um pouco deste programa importante para o agronegócio brasileiro, seguem abaixo 4 notícias do Estado de São Paulo, de autoria de Gustavo Porto e Eduardo Magassi) que encontrei no Ethanol Brasil Blog de várias fontes, além da descrição do programa e suas fases que encontrei no Biodieselbr.com:

PróAlcool - Programa Brasileiro de Álcool

O PROÁLCOOL foi um programa bem-sucedido de substituição em larga escala dos derivados de petróleo. Foi desenvolvido para evitar o aumento da dependência externa de divisas quando dos choques de preço de petróleo. De 1975 a 2000, foram produzidos cerca de 5,6 milhões de veículos a álcool hidratado. Acrescido a isso, o Programa substituiu por uma fração de álcool anidro (entre 1,1% a 25%) um volume de gasolina pura consumida por uma frota superior a 10 milhões de veículos a gasolina, evitando, assim, nesse período, emissões de gás carbônico da ordem de 110 milhões de toneladas de carbono (contido no CO2), a importação de aproximadamente 550 milhões de barris de petróleo e, ainda, proporcionando uma economia de divisas da ordem de 11,5 bilhões de dólares.

EVOLUÇÃO DO PROGRAMA NACIONAL DO ÁLCOOL - Proálcool

O Programa Nacional do Álcool ou Proálcool foi criado em 14 de novembro de 1975 pelo decreto n° 76.593, com o objetivo de estimular a produção do álcool, visando o atendimento das necessidades do mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos. De acordo com o decreto, a produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca ou de qualquer outro insumo deveria ser incentivada por meio da expansão da oferta de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produção agrícola, da modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas unidades produtoras, anexas a usinas ou autônomas, e de unidades armazenadoras.

A cana-de-açúcar tem o mais alto retorno para os agricultores por hectare plantado. O custo de produção do açúcar no país é baixo (inferior a US$ 200/toneladas6), podendo dessa maneira competir no mercado internacional. Tal mercado é, entretanto, volátil e apresenta grandes oscilações de preços.

A produção mundial de açúcar em 2000 foi de 131 milhões de toneladas, sendo de cerca de 13% a participação do Brasil. As etapas na produção do açúcar e do álcool diferem apenas a partir da obtenção do suco, que poderá ser fermentado para a produção de álcool ou tratado para o açúcar. Caso a produção de açúcar se torne menos atrativa devido às reduções de preços internacionais o que freqüentemente ocorre poderá ser mais vantajoso a mudança na produção para álcool.

A decisão de produção de etanol a partir de cana-de-açúcar, além do preço do açúcar, é política e econômica, envolvendo investimentos adicionais. Tal decisão foi tomada em 1975, quando o governo federal decidiu encorajar a produção do álcool em substituição à gasolina pura, com o objetivo de reduzir as importações de petróleo, então com um grande peso na balança comercial externa. Nessa época, o preço do açúcar no mercado internacional vinha decaindo rapidamente, o que tornou conveniente a mudança de produção de açúcar para álcool.

No programa Brasileiro do Álcool, Proálcool, destacam-se cinco fases distintas:

1a. 1975 a 1979 - Fase Inicial

o esforço foi dirigido sobretudo para a produção de álcool anidro para a mistura com gasolina. Nessa fase, o esforço principal coube às destilarias anexas. A produção alcooleira cresceu de 600 milhões de l/ano (1975-76) para 3,4 bilhões de l/ano (1979-80). Os primeiros carros movidos exclusivamente a álcool surgiram em 1978.

2a. 1980 a 1986 - Fase de Afirmação

o segundo choque do petróleo (1979-80) triplicou o preço do barril de petróleo e as compras desse produto passaram a representar 46% da pauta de importações brasileiras em 1980. O governo, então, resolve adotar medidas para plena implementação do Proálcool. São criados organismos como o Conselho Nacional do Álcool - CNAL e a Comissão Executiva Nacional do Álcool - CENAL para agilizar o programa. A produção alcooleira atingiu um pico de 12,3 bilhões de litros em 1986-87 (gráfico 1), superando em 15% a meta inicial do governo de 10,7 bilhões de l/ano para o fim do período. A proporção de carros a álcool no total de automóveis de ciclo Otto (passageiros e de uso misto) produzidos no país aumentou de 0,46% em 1979 para 26,8% em 1980, atingindo um teto de 76,1% em 1986 (gráfico 2).

3a. 1986 a 1995 - Fase de Estagnação

a partir de 1986, o cenário internacional do mercado petrolífero é alterado. Os preços do barril de óleo bruto caíram de um patamar de US$ 30 a 40 para um nível de US$ 12 a 20. Esse novo período, denominado “contra-choque do petróleo”, colocou em xeque os programas de substituição de hidrocarbonetos fósseis e de uso eficiente da energia em todo o mundo. Na política energética brasileira, seus efeitos foram sentidos a partir de 1988, coincidindo com um período de escassez de recursos públicos para subsidiar os programas de estímulo aos energéticos alternativos, resultando num sensível decréscimo no volume de investimentos nos projetos de produção interna de energia.

A oferta de álcool não pôde acompanhar o crescimento descompassado da demanda, com as vendas de carro a álcool atingindo níveis superiores a 95,8% das vendas totais de veículos de ciclo Otto para o mercado interno em 1985.

Os baixos preços pagos aos produtores de álcool a partir da abrupta queda dos preços internacionais do petróleo (que se iniciou ao final de 1985) impediram a elevação da produção interna do produto. Por outro lado, a demanda pelo etanol, por parte dos consumidores, continuou sendo estimulada por meio da manutenção de preço relativamente atrativo ao da gasolina e da manutenção de menores impostos nos veículos a álcool comparados aos à gasolina. Essa combinação de desestímulo à produção de álcool e de estímulo à sua demanda, pelos fatores de mercado e intervenção governamental assinalados, gerou a crise de abastecimento da entressafra 1989-90. Vale ressaltar que, no período anterior à crise de abastecimento houve desestímulo tanto à produção de álcool, conforme citado, quanto à produção e exportação de açúcar, que àquela época tinham seus preços fixados pelo governo.

A produção de álcool manteve-se em níveis praticamente constantes, atingindo 11,8 bilhões de litros na safra 1985-86; 10,5 bilhões em 1986-87; 11,5 bilhões em 1987-88; 11,7 bilhões em 1988-89 e 11,9 bilhões em 1989-90. As produções brasileiras de açúcar no período foram de 7,8 milhões de toneladas na safra 1985-86; 8,2 milhões em 1986-87; 7,9 milhões em 1987-88; 8,1 milhões em 1988-89 e 7,3 milhões de toneladas em 1989-90. As exportações de açúcar, por sua vez, reduziram-se nesse período, passando de 1,9 milhões de toneladas na safra 1985-86 para 1,1 milhão de toneladas na safra 1989-90.

Apesar de seu caráter efêmero, a crise de abastecimento de álcool do fim dos anos 1980 afetou a credibilidade do Proálcool, que, juntamente com a redução de estímulos ao seu uso, provocou, nos anos seguintes, um significativo decréscimo da demanda e, consequentemente, das vendas de automóveis movidos por esse combustível.

Deve-se acrescentar ainda outros motivos determinantes que, associados, também contribuíram para a redução da produção dos veículos a álcool. No final da década de 1980 e início da década de 1990, o cenário internacional dos preços do petróleo sofreu fortes alterações, tendo o preço do barril diminuído sensivelmente. Tal realidade, que se manteve praticamente como a tônica dos dez anos seguintes, somou-se à tendência, cada vez mais forte, da indústria automobilística de optar pela fabricação de modelos e motores padronizados mundialmente (na versão à gasolina). No início dadécada de 1990, houve também a liberação, no Brasil, das importações de veículos automotivos (produzidos, na sua origem exclusivamente na versão gasolina e diesel) e, ainda, a introdução da política de incentivos para o “carro popular” – de até 1000 cilindradas – desenvolvido para ser movido a gasolina.

A crise de abastecimento de álcool somente foi superada com a introdução no mercado do que se convencionou chamar de mistura MEG, que substituía, com igual desempenho, o álcool hidratado. Essa mistura (60% de etanol hidratado, 34% de metanol e 6% de gasolina) obrigaria o país a realizar importações de etanol e metanol (que no período entre 1989-95 superou a 1 bilhão de litros) para garantir o abastecimento do mercado ao longo da década de 1990. A mistura atendeu as necessidades do mercado e não foram constatados problemas sérios de contaminação e de saúde pública.

4a. 1995 a 2000 - Fase de Redefinição

Os mercados de álcool combustível, tanto anidro quanto hidratado, encontram-se liberados em todas as suas fases de produção, distribuição e revenda sendo os seus preços determinados pelas condições de oferta e procura. De cerca de 1,1 milhão de toneladas de açúcar que o país exportava em 1990 passou-se à exportação de até 10 milhões de toneladas por ano (dominando o mercado internacional e barateando o preço do produto). Se questionou como o Brasil, sem a presença da gestão governamental no setor, encontrará mecanismos de regulação para os seus produtos (altamente competitivos): açúcar para o mercado interno, açúcar para o mercado externo, etanol para o mercado interno e etanol para o mercado externo. Dadas as externalidades positivas do álcool e com o intuito de direcionar políticas para o setor sucroalcooleiro, foi criado, por meio do decreto de 21 de agosto de 1997, o Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool - CIMA.

Segundo os dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores – ANFAVEA, de 1998 a 2000, a produção de veículos a álcool manteve-se em níveis de cerca de 1%. A constituição da chamada “frota verde”, ou seja, o estímulo e a determinação do uso do álcool hidratado em determinadas classes de veículos leves, como os carros oficiais e táxis, tem provocado um debate entre especialistas da área econômica, contrários aos incentivos, e os especialistas da área ambiental, favoráveis aos incentivos ao etanol. Em 28 de maio de 1998, a medida provisória nº 1.662 dispôs que o Poder Executivo elevará o percentual de adição de álcool etílico anidro combustível à gasolina obrigatório em 22% em todo o território nacional até o limite de 24%. Os produtores e centros de pesquisa testaram a mistura de álcool e óleo diesel.

Para a implementação do Proálcool, foi estabelecido, em um primeiro instante, um processo de transferência de recursos arrecadados a partir de parcelas dos preços da gasolina, diesel e lubrificantes para compensar os custos de produção do álcool, de modo a viabilizá-lo como combustível. Assim, foi estabelecida uma relação de paridade de preços entre o álcool e o açúcar para o produtor e incentivos de financiamento para as fases agrícola e industrial de produção do combustível. Com o advento do veículo a álcool hidratado, a partir de 1979, adotou-se políticas de preços relativos entre o álcool hidratado combustível e a gasolina, nos postos de revenda, de forma a estimular o uso do combustível renovável.

5a. Fase Atual

Trinta anos depois do início do Proálcool, o Brasil vive agora uma nova expansão dos canaviais com o objetivo de oferecer, em grande escala, o combustível alternativo. O plantio avança além das áreas tradicionais, do interior paulista e do Nordeste, e espalha-se pelos cerrados. A nova escalada não é um movimento comandado pelo governo, como a ocorrida no final da década de 70, quando o Brasil encontrou no álcool a solução para enfrentar o aumento abrupto dos preços do petróleo que importava. A corrida para ampliar unidades e construir novas usinas é movida por decisões da iniciativa privada, convicta de que o álcool terá, a partir de agora, um papel cada vez mais importante como combustível, no Brasil e no mundo.

A tecnologia dos motores flex fuel veio dar novo fôlego ao consumo interno de álcool. O carro que pode ser movido a gasolina, álcool ou uma mistura dos dois combustíveis foi introduzido no País em março de 2003 e conquistou rapidamente o consumidor. Hoje a opção já é oferecida para quase todos os modelos das indústrias e, os automóveis bicombustíveis ultrapassaram pela primeira vez os movidos a gasolina na corrida do mercado interno. Diante do nível elevado das cotações de petróleo no mercado internacional, a expectativa da indústria é que essa participação se amplie ainda mais. A relação atual de preços faz com que o usuário dos modelos bicombustíveis dê preferência ao álcool.

A velocidade de aceitação pelos consumidores dos carros bicombustíveis, ou flex fuel, foi muito mais rápida do que a indústria automobilística esperava. As vendas desses veículos já superaram as dos automóveis movidos a gasolina. Os bicombustíveis representaram 49,5% do total de automóveis e comerciais leves vendidos no mês, enquanto a participação dos movidos a gasolina ficou em 43,3%, segundo a Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. A preferência do mercado levou a Câmara Setorial de Açúcar e do Álcool, órgão ligado ao governo, a rever suas projeções e indicar que a participação da nova tecnologia deverá atingir 75% dos carros vendidos em 2006.

Perspectivas para o Pro-Álcool

Como na época das crises do petróleo dos anos 70, o mundo está empenhado em encontrar uma solução duradoura para seu problema energético. A preocupação ambiental se somou à redução dos estoques e à alta dos preços dos combustíveis fósseis para valorizar as fontes renováveis e menos poluentes de energia.

O setor energético no Brasil vem sofrendo diversas mudanças, como a tentativa de se retomar projetos que levem em conta o meio ambiente e o mercado de trabalho. Tendo-se como referência a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, o governo brasileiro tem mostrado interesse em manter e reativar o Proálcool, dado que o álcool combustível exerce um importante papel na estratégia energética para um desenvolvimento sustentado.

O surgimento, em todo o mundo, de novos tipos de veículos e tecnologias de motores (como é o caso dos motores de pilhas a combustível e dos veículos “flexfuel”) tem provocado mudanças importantes na tradicional postura da industria automobilística e de outros agentes atuantes no mercado.

As perspectivas de elevação do consumo do álcool se somam a um momento favorável para o aumento das exportações do açúcar, e o resultado é o início de uma onda de crescimento sem precedentes para o setor sucroalcooleiro.

Um estudo da Única aponta que o setor terá que atender até 2010 uma demanda adicional de 10 bilhões de litros de álcool, além de 7 milhões de toneladas de açúcar. A produção desta safra, iniciada em abril, deve ser de 17 bilhões de litros de álcool e 26 milhões de toneladas de açúcar. Para incrementar a produção, será preciso levar mais 180 milhões de toneladas de cana para a moagem, com uma expansão dos canaviais estimada em 2,5 milhões de hectares até 2010. Esses investimentos deverão criar 360 mil novos empregos diretos e 900 mil indiretos.

Cerca de 40 novas usinas estão em projeto ou em fase de implantação, com um total de investimentos calculado em 3 bilhões de dólares. A maior parte delas concentra-se no oeste do Estado de São Paulo, ocupando espaço aberto pelo deslocamento da pecuária. Há 21 novas usinas em instalação na região, informa Luiz Guilherme Zancaner, presidente da Udop – Usinas e Destilarias do Oeste Paulista, associação fundada em 1985 para agrupar as destilarias ali implantadas no embalo do Proálcool. O oeste de São Paulo, segundo Zancaner, oferece custos menores de arrendamento em relação às regiões tradicionais do Estado e condições naturais de clima, solo e topografia adequadas para os canaviais. “Temos a vantagem de uma cana mais rica em açúcar que a da região de Ribeirão Preto, por causa do clima menos úmido”, diz ele.

Estudo foi levado a Geisel em 1974

Foi em um sábado, entre outubro e novembro de 1975, que o presidente Ernesto Geisel enquadrou seus ministros e impôs a criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Mas a história do mais bem-sucedido programa de substituição do petróleo do mundo, que fez 35 anos esta semana, ganha um novo capítulo com a revelação de um estudo inédito, de 1974, sobre a produção do combustível.

Divulgado pela primeira vez à imprensa, o documento histórico foi obtido com exclusividade pela Agência Estado com o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, à época um jovem engenheiro agrônomo, filho do então vice-governador de São Paulo, Antonio José Rodrigues Filho, e presidente da Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba (Coplana).

Ao lado do economista Victor André Argolo e do diretor industrial da Usina São Martinho Agenor Pavan, Roberto Rodrigues elaborou, em 1973, o plano, com 16 páginas, a pedido do pai. Como vice-governador paulista, Antonio Rodrigues entregou-o a Geisel em 22 de novembro de 1974. Rico em detalhes, o documento apresenta o projeto para substituição da gasolina pelo etanol de cana, com todos os custos de produção, da cana ao combustível renovável, esmiuçados.

O trabalho se soma ainda à principal contribuição do setor privado ao governo como modelo de produção de etanol conhecida até hoje: o estudo Fotossíntese como Fonte Energética, elaborado em 1973 em resposta à primeira crise mundial do petróleo pelo usineiro paulista Cícero Junqueira Franco e pelo então vice-presidente do grupo Ultra, Lamartine Navarro Júnior.

Entregue ao governo no início de 1974, o documento é considerado o embrião do Proálcool. O projeto foi desenvolvido pelas usinas da Barra, Nova América, Santa Elisa e Zanini S.A.

A divulgação do projeto elaborado paralelamente pelo ex-ministro Rodrigues traz nova luz àquele momento histórico e revela o empenho do setor privado em transformar o etanol em substituto da gasolina, então registrando preços recordes.

Naquele ano, o consumo de gasolina era de 14 bilhões de litros por ano, mas projeções apontavam 32 bilhões de litros até 1984. O momento era delicado, o mundo enfrentava a primeira crise do petróleo. A commodity respondia por até 70% das importações e consumia US$ 1,5 bilhão por ano.

Em carta anexada ao projeto, o então vice-governador de São Paulo lembra a Geisel que já havia comentado sobre "a importância da produção de álcool oriundo de cana para ser utilizado como combustível" e cita que os três especialistas compuseram o trabalho apresentado. "Ofereço o estudo a v. exa. como despretensioso subsídio, convicto de que deve ser seriamente considerado", relatava Antonio Rodrigues na carta.

Segundo Roberto Rodrigues, que hoje preside o Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), nunca houve resposta à carta e ao projeto. "Que destino se deu a esse documento e as conclusões dele eu não sei, mas o que é relevante é que o vice-governador paulista encaminhou ao presidente um documento tratando de um programa brasileiro do álcool um ano antes", resumiu Rodrigues, que garante não ter mágoas pelo suposto engavetamento do estudo.

Planalsucar estimulou etanol no País

Além de financiar a modernização do parque de usinas e destilarias, em 1971, a poupança criada pelo fundo de exportação após a disparada nos preços do açúcar também financiou o Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar (Planalsucar).

As ações do órgão iam desde o desenvolvimento de novas variedades de cana até a projeção de safras. Segundo Luiz Carlos Corrêa Carvalho, ex-superintendente do Planalsucar, os estudos do avanço da cana estavam prontos antes mesmo de surgir o programa que alavancou definitivamente a produção do etanol no País.

"Éramos os loucos que inventaram o Proálcool"

O ex-ministro de Minas e Energia Shigeaki Ueki, de 75 anos, diz que foi considerado um louco por idealizar, ao lado do então vice-presidente do grupo Ultra Lamartine Navarro Filho e do usineiro Cícero Junqueira Filho, o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), criado há 35 anos.

"Éramos os loucos que inventaram o Proálcool, fomos condenados pela imprensa, disseram que inventamos um programa irrealista", disse Ueki em entrevista à Agência Estado.

O ex-ministro, que também presidiu a Petrobrás, lembra que as discussões no governo sobre a necessidade da criação de um programa para ampliar o consumo de etanol começaram em 1969. Ele admite que fracassou duas vezes na tentativa de emplacar a ideia.Ueki conta ainda que quase falhou uma terceira vez, quando já ocupava as Minas e Energia, e que só com a interferência direta do presidente Ernesto Geisel, o Proálcool foi viabilizado, em 1975.

Leia os principais trechos da entrevista:

Foi o contexto econômico que obrigou a criação do Proálcool?

A dependência do Brasil no setor do petróleo, em 1970, chegou a 85%. E continuou assim por mais de uma década. Com a crise financeira, de 1969 a 1971, o preço do petróleo que eu, como diretor comercial da Petrobrás, comprava abaixo de US$ 1 o barril, chegou a US$ 17. E toda nossa pauta de exportação à época consistia de produtos básicos. Cerca de 60%, 70% da receita do País eram somente para comprar petróleo.

Foram várias as tentativas de emplacar o programa?

O embrião do Proálcool nasceu no governo Castello Branco, com o ministro Paulo Egídio Martins. Os usineiros à época sofreram muito, porque uma tonelada de açúcar caiu a US$ 25 e as usinas estavam quebrando. Nós montamos pequenos programas de incentivo para produzir mais álcool como mistura à gasolina e para economizar chumbo tetra etílico, que era adicionado e importado. Ainda no governo Castello Branco, fiz um esforço grande para convencer a Petrobrás a aceitar ainda mais álcool anidro, mas ela foi contra. Quando veio o governo Médici, o presidente Geisel, então presidente da Petrobrás, disse: você agora é diretor comercial (da Petrobrás), vá ao Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e diga que agora a empresa aceita qualquer quantidade de anidro

E a posição do IAA?

Quando fui lá, o preço do açúcar estava a US$ 500 a tonelada, e o IAA me indagou como eu queria produzir mais álcool, se produzindo açúcar poderíamos ganhar um dinheirão e a Petrobrás poderia comprar quanto petróleo quisesse? Disse que tinha visto preço do açúcar a US$ 20, a US$ 25 a tonelada e que o álcool seria uma válvula para controlar o mercado e para reconquistarmos a posição de exportadores de açúcar. Não consegui convencê-los.

E a terceira tentativa?

Foi em 1975, eu era ministro de Minas e Energia e quase perdemos. O presidente Geisel disse que eu tinha fracassado nos dois governos anteriores e que não poderia fracassar novamente. Tive de enfrentar vários problemas, o primeiro com técnicos do Ministério da Agricultura, que estavam perdendo força, porque os do IAA eram muito mais poderosos. O Ministério da Agricultura não foi favorável quando apresentamos o programa, e os técnicos cobraram um zoneamento para o Proálcool. Nossa reação foi a seguinte: ninguém entende melhor disso do que os usineiros, eles sabem onde devem produzir cana. A segunda frente de oposição foi no Ministério da Indústria e Comércio, no próprio IAA. A coisa não andava, apesar da crise do petróleo.

O presidente Geisel interveio?

Geisel convocou uma reunião num sábado, na Granja do Torno, e chamou os ministros envolvidos. Foi a reunião definitiva para o Proálcool.

E o financiamento público para o Proálcool?

Felizmente, o Banco do Brasil e outros órgãos de financiamento apoiaram, mas nós tivemos de ser muito cuidadosos para não apoiar muito os projetos só de destilarias autônomas (sem usinas de açúcar), porque a intenção era financiar usinas existentes para ampliar a área de cultivo e fazer destilarias anexas. Numa usina de açúcar você tem a infraestrutura e o investimento não é tão grande. Aí, criticaram o governo por ter lançado o Proálcool e depois não aprovar os projetos. Se aprovássemos os quase 60 projetos criaríamos um grande problema: a indústria mecânica não conseguiria fazer as usinas. Tivemos cuidado de aprovar os projetos de acordo com as capacidades de plantação e financeira.

Como o sr. avalia os 35 anos?

Houve períodos difíceis. Em 1979, houve uma segunda crise, o petróleo saltou para US$ 42 o barril, mas depois o preço foi caindo. Na década de 80, foi a US$ 10. Nessa ocasião, quiseram acabar com o Proálcool. Fui várias vezes ao Congresso defender a mesma bandeira. Se abandonássemos o Proálcool, perderíamos a liderança no açúcar e iríamos aumentar a dependência do petróleo. Não foi fácil. Na década de 90, a luta continuou. Ao meu lado, o Lamartine Navarro Filho. Éramos os loucos que inventaram o Proálcool, fomos condenados pela imprensa, disseram que inventamos um programa irrealista.

Em 35 anos, etanol traz ganho de US$ 240 bi.

Trinta e cinco anos depois de começar a ser utilizado como combustível no Brasil, o etanol já trouxe ganhos de US$ 240 bilhões para o País ao substituir a gasolina no tanque dos veículos, de acordo com cálculos do economista Plínio Nastari, presidente da Datagro Consultoria, especializada no setor sucroalcooleiro.

"A introdução do etanol como combustível no Brasil trouxe um forte impacto de longo prazo na economia brasileira", de acordo com o consultor. Segundo ele, esta é a grande conquista da introdução do etanol na matriz energética brasileira como combustível, difícil de mensurar no curto prazo, mas que, no acumulado de 35 anos, revela a dimensão de sua grandeza.

Para Nastari, depois de se consolidar como combustível renovável em praticamente todo o país, o grande desafio do etanol nos próximos anos será reduzir o intervalo entre o desenvolvimento tecnológico já conquistado pelo etanol e sua implementação. "Existe um potencial muito grande para ser explorado no aumento da produtividade agrícola do etanol e também de sua conversão industrial e este potencial ainda não foi totalmente explorado", explica.

Em 1975, a produtividade do etanol era de 2,24 mil litros por hectare de cana-de-açúcar plantada. Em 2009, esta produtividade atingiu 6,46 mil litros por hectare na média nacional, segundo cálculos da Datagro. "No período analisado, a produtividade praticamente triplicou, crescendo 3,7% ao ano", afirma. Nastari estima que a produtividade pode chegar a 13,9 mil litros por hectare até 2025.

Para o presidente da Açúcar Guarani, Jacyr da Costa Filho, ao lado do aumento da produtividade de etanol por tonelada de cana, o grande desafio a ser obtido nos próximos anos é que o etanol consiga ser adicionado ao diesel com o mesmo sucesso registrado na gasolina. "Se for encontrado um mecanismo tecnológico que possibilite a adição do etanol no diesel, importantes mercados, principalmente na Europa, seriam abertos para o etanol", afirma.

Para o presidente da Uniduto, Sérgio Van Kleveren, a competitividade do etanol no futuro vai passar pela questão logística. "Atualmente, 95% do etanol é transportado por caminhões por via rodoviária. Quando o alcoolduto estiver em operação, vinculado a outros modais, o processo será muito mais ágil, eficiente e vai tornar o etanol muito mais competitivo´´, disse.

Incentivo da guerra. A primeira política de uso constante e obrigatório de etanol como combustível aditivo à gasolina surgiu no País em 1939. Sem refinarias, o Brasil enfrentou uma crise de escassez de combustíveis de petróleo em virtude da 2ª Guerra Mundial e o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), criado em 1933, estabeleceu um plano emergencial para produzir o combustível e misturá-lo, em até 2%, à gasolina. Já havia, inclusive, no País, veículos de teste que funcionavam a etanol.

À época, o programa fomentou novas usinas a produzirem só o álcool. No Estado de São Paulo foram construídas ao menos uma dezena de destilarias. "Até a Alemanha usou etanol, pois tocou a máquina de guerra com álcool de batata", lembra Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

A 2ª Guerra Mundial acabou, o abastecimento da gasolina foi normalizado e o álcool voltou a cair em desuso. Até o início da década de 1970 do século passado, o IAA usava o álcool como válvula de escape para os excessos de cana durante a safra. Como a produção de açúcar era totalmente controlada pelo órgão, que ditava as regras sobre quanto seria feito, por quanto e para quem os produtores iriam vender, toda vez que sobrava a cana, a matéria prima era destinava à produção do álcool. A mistura do etanol na gasolina variava de 5% a 12% e era restrita a locais próximos à produção.

Graças à disparada no preço do açúcar em 1971, que chegou a US$ 1.500 a tonelada, o IAA, braço estatal no controle do mercado, formou um fundo especial de exportação com os recursos gerados da venda do açúcar. Com o caixa cheio, o instituto desovou recursos e criou o programa de renovação do parque industrial da agroindústria sucroalcooleira.








segunda-feira, novembro 15, 2010

Nova crise de alimentos?

Artigo publicada na Folha de São Paulo de autoria de Paulo Picchetti, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV (Fundação Getulio Vargas) e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV disponibilizado no Agrolink comenta sobre uma possibilidade de ocorrer uma nova crise de alimentos devido ao aumento dos preços.

Visando contribuir um pouco mais coloquei no final do texto dois gráficos referentes ao FAO Food Price Index e Food Commodity Price Indices de 2006 a 2010, onde podemos ver que o valor de outubro para o FPI chegou a 200, valor próximo ao pico obtido em 2008 pré-crise.

E ao final do texto, encontra-se em inglês o texto de 6 de dezembro de 2007 da Economist citado por Picchetti:

Uma nova crise global de alimentos pode estar a caminho

Em dezembro de 2007, o semanário britânico "The Economist" anunciava em sua capa "O fim do alimento barato".

O biênio 2007/8 assistiu ao que foi chamado de "crise global de alimentos", caracterizada pelo aumento generalizado dos preços de commodities agrícolas no mundo (e no Brasil).

Em termos quantitativos, podemos olhar para um índice de preços calculado mensalmente pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), baseado em uma cesta contendo arroz, milho, trigo, sementes oleaginosas, açúcar, laticínios e carnes.

O pico histórico desse índice foi de 211 pontos, em junho de 2008. A crise econômica mundial iniciada naquela época derrubou o índice para 142 pontos, em janeiro do ano seguinte.

A partir do início de 2010, essa tendência de elevação voltou com grande força, tendo se intensificado nos últimos meses. No mês passado, o índice subiu 5%, situando-se no maior patamar em mais de dois anos.

A crise anterior ainda não foi igualada: o índice continua abaixo de 200 pontos. Entretanto, a trajetória observada nos últimos meses mostra uma intensidade de aumento similar à que levou ao pico de 2008.

Nesse cenário, as perspectivas são de nova crise global de alimentos?

Infelizmente, pelo menos para o início de 2011, existe uma conjugação de fatores apontando nessa direção.

Entre esses fatores estão a redução na oferta de alguns itens fundamentais, causada por problemas climáticos em países produtores e exportadores; o aumento da demanda, em decorrência da recuperação da economia mundial; a redução de estoques a níveis já historicamente baixos; e o componente de especulação no contexto de taxas de juros reais próximas de zero nas economias centrais e queda do dólar nos mercados mundiais.

Na China, a inflação de alimentos anualizada está em 8%, enquanto nos Estados Unidos está em 1,4% (o índice geral está próximo de zero).

No Brasil, a inflação de alimentos medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas está acumulada em quase 6% em 2010.

Olhando para os valores acumulados no mesmo período, os itens que puxaram o índice da FAO no mundo também estão em elevação no Brasil: milho, 6,6%; pão francês (trigo), 8,9%; carnes bovinas, 16,3%; e laticínios, 11,3%.

Alguns itens fundamentais, como arroz e açúcar, estão estabilizados nos últimos meses, mas em patamares elevados.

Esse é um assunto particularmente importante no Brasil, tanto pela ponderação dos alimentos no índice de preços que norteia a condução da política monetária como pelo momento em que o acesso a uma dieta mínima é o principal fator capaz de tirar da miséria um número maior de brasileiros.

Índices de preços de alimentos da FAO

The end of cheap food
Rising food prices are a threat to many; they also present the world with an enormous opportunity

For as long as most people can remember, food has been getting cheaper and farming has been in decline. In 1974-2005 food prices on world markets fell by three-quarters in real terms. Food today is so cheap that the West is battling gluttony even as it scrapes piles of half-eaten leftovers into the bin.

That is why this year's price rise has been so extraordinary. Since the spring, wheat prices have doubled and almost every crop under the sun—maize, milk, oilseeds, you name it—is at or near a peak in nominal terms. The Economist's food-price index is higher today than at any time since it was created in 1845 (see chart). Even in real terms, prices have jumped by 75% since 2005. No doubt farmers will meet higher prices with investment and more production, but dearer food is likely to persist for years (see article). That is because “agflation” is underpinned by long-running changes in diet that accompany the growing wealth of emerging economies—the Chinese consumer who ate 20kg (44lb) of meat in 1985 will scoff over 50kg of the stuff this year. That in turn pushes up demand for grain: it takes 8kg of grain to produce one of beef.

But the rise in prices is also the self-inflicted result of America's reckless ethanol subsidies. This year biofuels will take a third of America's (record) maize harvest. That affects food markets directly: fill up an SUV's fuel tank with ethanol and you have used enough maize to feed a person for a year. And it affects them indirectly, as farmers switch to maize from other crops. The 30m tonnes of extra maize going to ethanol this year amounts to half the fall in the world's overall grain stocks.

Dearer food has the capacity to do enormous good and enormous harm. It will hurt urban consumers, especially in poor countries, by increasing the price of what is already the most expensive item in their household budgets. It will benefit farmers and agricultural communities by increasing the rewards of their labour; in many poor rural places it will boost the most important source of jobs and economic growth.

Although the cost of food is determined by fundamental patterns of demand and supply, the balance between good and ill also depends in part on governments. If politicians do nothing, or the wrong things, the world faces more misery, especially among the urban poor. If they get policy right, they can help increase the wealth of the poorest nations, aid the rural poor, rescue farming from subsidies and neglect—and minimise the harm to the slum-dwellers and landless labourers. So far, the auguries look gloomy.

In the trough

That, at least, is the lesson of half a century of food policy. Whatever the supposed threat—the lack of food security, rural poverty, environmental stewardship—the world seems to have only one solution: government intervention. Most of the subsidies and trade barriers have come at a huge cost. The trillions of dollars spent supporting farmers in rich countries have led to higher taxes, worse food, intensively farmed monocultures, overproduction and world prices that wreck the lives of poor farmers in the emerging markets. And for what? Despite the help, plenty of Western farmers have been beset by poverty. Increasing productivity means you need fewer farmers, which steadily drives the least efficient off the land. Even a vast subsidy cannot reverse that.

With agflation, policy has reached a new level of self-parody. Take America's supposedly verdant ethanol subsidies. It is not just that they are supporting a relatively dirty version of ethanol (far better to import Brazil's sugar-based liquor); they are also offsetting older grain subsidies that lowered prices by encouraging overproduction. Intervention multiplies like lies. Now countries such as Russia and Venezuela have imposed price controls—an aid to consumers—to offset America's aid to ethanol producers. Meanwhile, high grain prices are persuading people to clear forests to plant more maize.

Dearer food is a chance to break this dizzying cycle. Higher market prices make it possible to reduce subsidies without hurting incomes. A farm bill is now going through America's Congress. The European Union has promised a root-and-branch review (not yet reform) of its farm-support scheme. The reforms of the past few decades have, in fact, grappled with the rich world's farm programmes—but only timidly. Now comes the chance for politicians to show that they are serious when they say they want to put agriculture right.

Cutting rich-world subsidies and trade barriers would help taxpayers; it could revive the stalled Doha round of world trade talks, boosting the world economy; and, most important, it would directly help many of the world's poor. In terms of economic policy, it is hard to think of a greater good.

Where government help is really needed

Three-quarters of the world's poor live in rural areas. The depressed world prices created by farm policies over the past few decades have had a devastating effect. There has been a long-term fall in investment in farming and the things that sustain it, such as irrigation. The share of public spending going to agriculture in developing countries has fallen by half since 1980. Poor countries that used to export food now import it.

Reducing subsidies in the West would help reverse this. The World Bank reckons that if you free up agricultural trade, the prices of things poor countries specialise in (like cotton) would rise and developing countries would capture the gains by increasing exports. And because farming accounts for two-thirds of jobs in the poorest countries, it is the most important contributor to the early stages of economic growth. According to the World Bank, the really poor get three times as much extra income from an increase in farm productivity as from the same gain in industry or services. In the long term, thriving farms and open markets provide a secure food supply.

However, there is an obvious catch—and one that justifies government help. High prices have a mixed impact on poverty: they hurt anyone who loses more from dear food than he gains from a higher income. And that means over a billion urban consumers (and some landless labourers), many of whom are politically influential in poor countries. Given the speed of this year's food-price rises, governments in emerging markets have no alternative but to try to soften the blow.

Where they can, these governments should subsidise the incomes of the poor, rather than food itself, because that minimises price distortions. Where food subsidies are unavoidable, they should be temporary and targeted on the poor. So far, most government interventions in the poor world have failed these tests: politicians who seem to think cheap food part of the natural order of things have slapped on price controls and export restraints, which hurt farmers and will almost certainly fail.

Over the past few years, a sense has grown that the rich are hogging the world's wealth. In poor countries, widening income inequality takes the form of a gap between city and country: incomes have been rising faster for urban dwellers than for rural ones. If handled properly, dearer food is a once-in-a-generation chance to narrow income disparities and to wean rich farmers from subsidies and help poor ones. The ultimate reward, though, is not merely theirs: it is to make the world richer and fairer.

domingo, outubro 31, 2010

Pena pode virar plástico biodegradável

Como sou um entusiasta da utilização comercial dos resíduos agroindustriais, resolvi colocar a notícia abaixo do Portal Ambiente Online que encontrei no AviSite que fala sobre a possível utilização em Portugal das penas de aves para produção de plásticos biodegradáveis:

Penas de aves viram plásticos biodegradáveis

Viseu, Portugal, 20 de Outubro de 2010 - Os plásticos tradicionais demoram séculos para se decompor e representam ameaças em termos de contaminação dos solos. Para contrariar este cenário e ao mesmo tempo aproveitar um recurso habitualmente desvalorizado – as penas das aves - um grupo de cientistas da Escola Superior de Tecnologias de Viseu (Portugal) desenvolveu um projeto inovador para produção de bioplásticos. Depois de uma fase laboratorial, o projeto deverá conhecer nos próximos dias o primeiro teste industrial.

Anualmente, a indústria avícola portuguesa produz 20 mil toneladas de penas, um subproduto que representa custos adicionais para os produtores de aves. Assim, através do recurso a tecnologias convencionais da indústria dos plásticos, o objetivo é criar "uma alternativa nobre para a utilização destes resíduos avícolas", e ao mesmo tempo reduzir a poluição causada pelos plásticos de origem petroquímica, explica Romeu Videira, investigador responsável pelo projeto.

Os investigadores desenvolveram em laboratório um processo que mistura penas de aves (utilizando as queratinas das penas, que são compostas por 91 por cento desta proteína) com glicerol (subproduto da indústria do biodiesel), e "um coquetel de agentes químicos para formar uma pasta de penas que pode ser utilizada para sintetizar bioplásticos por termoprensagem", esclarece o docente, que leciona na Universidade de Trás-dos-Montes.

Em resultado, surge um produto semi-transparente, homogéneo, estável até 200 ºC, biodegradável, e com propriedades mecânicas similares às do polietileno (plástico produzido com derivados do petróleo).

Biodegradáveis e nutritivos

"Com o estado atual de desenvolvimento da tecnologia, os bioplásticos produzidos podem ser utilizados para preparar filmes e vasos para a agricultura", garante Romeu Videira. A aplicação do bioplástico em vasos biodegradáveis, que são enterrados com as árvores no momento da plantação, pode substituir os sacos descartáveis e fornecer, através do seu processo de biodegradação, os nutrientes necessários ao desenvolvimento da planta, evitando a utilização de adubos químicos. Quanto à utilização dos bioplásticos na produção de embalagens de alimentos e sacos descartáveis, o investigador diz ainda ser necessária mais investigação.

Depois de cerca de dois anos de investigação, o próximo passo será "agregar numa unidade-piloto as metodologias para produzir, em cada ciclo, alguns Kg de bioplásticos", e assim promover um novo tipo de indústria, adianta Romeu Videira. O docente adianta ao AmbienteOnline que tem já programado um teste industrial, numa empresa familiar de Aveiro, que «se disponibilizou a parar a produção durante 10 minutos, para podermos transformar 1 kg de penas em plástico». O teste deverá acontecer nos próximos dias.

O projeto de “Conversão de Penas de Aves em Bioplásticos” é financiado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, através do programa “iCentro”, com um investimento total de mais de 50 mil euros. Desta quantia, 80 por cento foi comparticipado pelo iCentro/FEDER, e 20 por cento pela ESTV.

Agricultura de baixo carbono - papel importante nas mudanças climáticas

Encontrei neste fim de semana dois textos sobre o assunto. O primeiro é do Canal Rural e fala sobre o programa brasileiro Agricultura de Baixo Carbono e o segundo é um texto da FAO em inglês que ressalta a importância de desenvolver nos países em desenvolvimento uma agricultura mais "inteligente" com relação ao clima, para que as mudanças climáticas não afetem suas produtividades. Abaixo seguem os dois textos na íntegra:

Agricultura de baixo carbono é medida central para redução da emissão de gases de efeito estufa
Segundo Lula, país é capaz de antecipar sua meta em quatro anos

A agricultura de baixo carbono é uma das medidas centrais para que o Brasil tenha sucesso na mitigação dos efeitos do clima, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã da última terça, dia 26 de outubro. Ele encerrou a reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, no Palácio do Planalto, quando também foi lançado o Inventário Brasileiro de Emissões de CO2.

Lula mencionou os R$ 2 bilhões destinados ao programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), instituído este ano, para financiar, a juros baixos, práticas que reúnam eficiência no campo com redução das emissões de CO2. Segundo o presidente, os incentivos do governo para promover uma "safra verde" e o empenho do setor rural, juntamente com o combate ao desmatamento, serão fundamentais para que o Brasil atinja as metas de redução, até 2020, entre 36% e 39% das emissões de gases de efeito estufa anunciadas em 2009, durante a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15), em Copenhague (Dinamarca).

– Os compromissos estabelecidos estão sendo cumpridos e se continuarmos neste ritmo vamos antecipar a meta em quatro anos. Estabelecemos metas voluntárias e demos uma resposta ousada e concreta ao mundo sem abdicar de crescimento econômico e promoção da inclusão social – disse o presidente.

Ele citou ainda, como ações importantes para mitigar as mudanças climáticas, os zoneamentos agroecológicos da cana-de-açúcar e da palma de óleo, para orientar a expansão das duas culturas com preservação ambiental, e a política de incentivo à tecnologia dos carros flex-fluel.

– Os empresários rurais já entenderam que cuidar do clima é uma vantagem comparativa em relação a outros países produtores de alimentos – completou Lula.

Na manhã do dia 27, o presidente também assinou o decreto que regulamenta o Fundo Nacional de Mudanças Climáticas (FNMC), que vai financiar ações de combate à desertificação, adaptação ao clima, promoção e difusão de tecnologias, incentivo às cadeias produtivas sustentáveis e pagamento de serviços ambientais. Para 2011, o fundo já tem aprovados R$ 226 milhões.

O Inventário Brasileiro de Emissões de CO2 será apresentado na 16ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP-16), em Cancun (México), que será realizada de 29 de novembro a 10 de dezembro deste ano.

Agriculture needs to become 'climate-smart'
But current options for financing and development assistance fall far short

28 October 2010, Rome - Agriculture in developing countries must become 'climate-smart' in order to cope with the combined challenge of feeding a warmer, more heavily populated world, says a new FAO report.

Climate change is expected to reduce agriculture productivity, stability and incomes in many areas that already experience high levels of food insecurity — yet world agriculture production will need to increase by 70 percent over the coming four decades in order to meet the food requirements of growing world population, according to 'Climate-Smart' Agriculture: Policies, Practices and Financing for Food Security, Adaptation, and Mitigation.

"Increasing agricultural production, reducing post harvest losses, and improving food distribution channels in the developing world have always been major challenges. Climate change raises the bar significantly — a major transformation of agriculture is needed," said Alexander Mueller, FAO Assistant Director-General for Natural Resources.

"Still, we must not forget that many effective climate-smart practices already exist and could be widely implemented in developing countries, as this report points out," he added.

Transformation on multiple fronts

There are a number of areas where changes in the food production sector are required, according to FAO's report.

Agriculture needs to produce more food, waste less, and make it easier for farmers to get their produce to consumers.

Farming must become more resilient to disruptive events like floods and droughts — here improving agriculture's management and use of natural resources like water, land and forests, soil nutrients and genetic resources is key.

The vulnerability of farming communities to climate-related disasters must be reduced, and better warning and insurance systems to help them cope with climate-related problems need to be established.

Finally, agriculture has to find ways to reduce its environmental impacts — including lowering its own greenhouse gas emissions — without compromising food security and rural development.

FAO's report goes on to highlight examples from around the world of how farmers are already moving to tackle these issues and adopt new, climate-smart practices (click here to learn more).

Huge financing gap

Still, considerable investment in filling data and knowledge gaps, research and development of appropriate technologies, and incentives to ensure adoption of climate-smart agricultural practices is needed, FAO's report says.

Funding also should be targeted towards rebuilding neglected national agricultural extension services, which will have a key role to play in supporting farmers as they transition to climate-smart agriculture.

But FAO warns that currently insufficient resources are available for financing efforts to help agriculture and farmers prepare for climate change, especially in the developing world.

"Climate change will increase the overall investment requirements needed to achieve food security, but financing resources currently available are substantially insufficient" and "climate financing — both existing and that under discussion — does not take explicit account of the specific requirements of developing country agriculture," its report says. It is unlikely that public or private resources alone will suffice; innovative ways of blending these resources will challenge financing mechanisms.

The report cites World Bank estimates for the annual costs of climate change adaptation in developing world agriculture of $2.5-2.6 billion per year between 2010 and 2050, as well as the UNFCCC estimate for additional investment and financial flows needed in developing countries for mitigation in the agricultural sector of $14 billion annually by 2030.

Better policies, stronger institutions

FAO's report also argues that greater coherence among agriculture, food security and climate change policy-making is urgently needed.

"Policies in all three of these areas impact smallholder production systems and a lack of coherence can prevent them from capturing synergies," it says, stressing the need to establish mechanisms that allow dialogues between policymakers working in these areas.

Improving mechanisms for getting data, science and know-how to farmers so they can adapt is another area in need of attention.

Agricultural extension systems have in the past been a key conduit for disseminating information and knowledge to farmers, but in many developing countries these systems have long been in decline, the report warns. The Farmer Field School system pioneered by FAO offers an additional channel for promoting knowledge transfer and adoption of climate-smart farming techniques.

Additionally, the report notes that effective systems of use and access rights and property rights are essential to improving management of natural resources.

And new types of accessible and affordable insurance that can help farmers weather the impacts of climate change need to be explored.

FAO's paper was released in advance of the upcoming Global Conference on Agriculture, Food security and Climate Change, to be held in the Hague (31 October-5 November)

Trigo e sua problemática

O trigo é o único alimento importante que temos algumas dificuldades para garantir nossa demanda e por causa disso existe uma série de problemas relacionadas à oferta e demanda. Para ajudar a compreensão, encontrei no BioAgroEnergia de Paulo Costa um artigo interessante:

Autosuficiência no trigo – um jogo de perdedores

A história do plantio, importação e consumo de trigo no Brasil é rica em suas nuances e principalmente em dificuldades. O fato é que os elos da cadeia não se fecham e todos saem perdendo. De um lado o produtor tritícola de uma safra de inverno, perfeita para intermediar as grandes safras de verão de soja e milho, que não tem qualquer estímulo para investir fortemente. Isto provoca grande migração para o chamado “milho safrinha” (de inverno), que acaba por criar estoques ocupando espaços preciosos de armazenagem enquanto o trigo é importado em grandes volumes.

O problema é tão simples que é mesmo incompreensível não se encontrar uma solução para êle. Principalmente se lembrarmos que o Brasil já foi capaz de produzir todo o volume que necessitava, em outras eras. O que se passa é que a produção de trigo está concentrada na região Sul do país, particularmente em função da ideia atrasada de que trigo só prospera em áreas de baixa temperatura. Em Minas Gerais e Goiás temos uma produção ainda incipiente e de baixa tecnologia. A Embrapa luta bravamente para desenvolver novos cultivares que incentivem a produção regionalizada do trigo.

Ainda que menor a safra que o consumo, o triticultor enfrenta outro problema que é a qualidade do trigo hoje produzido. Ele não é entendido pela indústria, em grande parte de sua produção, como sendo de qualidade panificável. Isto acaba gerando a necessidade de se mesclar nosso trigo (o de melhor qualidade, diga-se de passagem) com trigo importado. Normalmente a importação é feita da Argentina, produtora de grandes excedentes exportáveis e que entra no Brasil sem impostos de importação. Dependendo das condições de preços internacionais os estados do Norte e Nordeste, até Vitória que abastece o Centro-Oeste, trazem trigo da América do Norte, em particular do Canadá, que tem excelente qualidade.

Com este quadro a indústria acaba sendo perdedora também. Vê-se forçada aos humores dos preços de importação e do câmbio (hoje amplamente favorável a ela e punitivo ao produtor rural brasileiro) e ainda enfrenta muitas vezes a concorrencia de farinha de trigo trazida diretamente da Argentina, sem barreiras. Enquanto isto vê o nosso trigo ser vendido para a produção de ração animal…

Enfim, um negócio em que todas as partes poderiam ser vencedoras e seguer conseguem o empate. A solução simples que mencionamos é que se “meta a cara” no desenvolvimento de variedades adptadas às diferentes condições de clima e de solo que temos neste imenso Brasil para termos uma produção agrícola com técnica que já provamos dominar em outros produtos e qualidade do trigo que satisfaça as exigentes demandas desta indústria.

Duas versões da pirâmide dos alimentos

Achei no Food and Thoughts, site em português muito interessante sobre alimentação que vale a pena acompanhar, um artigo sobre a pirâmide dos alimentos onde é possível ver o impacto ambiental de cada tipo de alimento. A pirâmide dos alimentos é algo bem comum, mas esta pirâmide "de sustentabilidade" é algo novo. Ao final do post coloquei a imagem da pirâmide que retirei do site da Barilla Center for Food and Nutrition e ao clicar neste link você pode interagir com as pirâmides.

Impacto ambiental dos alimentos - pirâmide dupla

A Barilla e seu instituto de pesquisa acabam de lançar o conceito da Pirâmide dupla, ou invertida. Ou seja, de um lado, as recomendações de ingestão de alimentos da OMS e da maioria dos países, e de outro, o impacto ambiental de cada um desses grupos alimentares. Da "Double Pyramid" nós podemos observar que os alimentos que se recomenda o maior consumo são justamente aqueles com menor impacto ambiental. Portanto, ao consumirmos mais deles, atingimos dois objetivos: saúde e proteção do planeta.

Além disso, o site também tem um aplicativo que calcula o impacto ambiental de suas refeições. Vc seleciona os alimentos que costuma comer e terá uma idéia do quanto isso impacta o planeta! Não é muito completo em termos de variedade, mas contém muito das coisas que comemos todo dia. Confere lá..

Daí vem a pergunta... como o impacto ambiental foi calculado? Usando a análise do Ciclo de Vida (Life Cycle Analysis, LCA) na cadeia inteira de extração, cultivo, processamento, empacotamento, transporte, distribuição, uso, reuso, e destino final dos itens estudados. A pegada ecológica, conforme já citei nesse blog, mede o tanto de terra ou mar (biologicamente produtivos) são necessários para suprir os recursos consumidos e absorver os desperdícios, restos, etc. O método foi desenvolvido pela Global Footprint Network. Ele inclui os seguintes elementos no cálculo:
  • Área de produção agrícola,
  • Área de florestas,
  • Área de pasto,
  • Área com instalações para atividades de produção,
  • Área de cultivo de peixes,
  • Área de energia (solo necessário para absorver a emissão de CO2 gerada pela produção de bens e serviços).
O consumo de carne, especialmente carnes magras, é importante porque provê proteínas de alta qualidade necessária ao crescimento em crianças e à formação de músculos. No entanto, 100gramas de carne vermelha tem 92 metros quadrados de pegada ecológica. Se for grelhada, sobe para 105 metros quadrados. Pra ser ter uma comparação, 100 gramas de fruto têm a pegada de 3 metros quadrados. Agora, para vegetais de estufas, 100gramas possuem 9 metros quadrados, que sobem pra 14 se os vegetais forem cozidos.

Para os vegetais da estação (cultivados a campo), 100 gramas tem 5 metros quadrados (cru) e 9 metros quadrados (cozidos). Para o pão, a pegada é de 6.7 metros quadrados para 100 gramas.

E assim vai.. Entrem no site para ver que interessante. Olha o tamanho da pegada do queijo! Interessante né.. ele passa por vários processos até chegar a nossa mesa. É por isso. Vamos pensar nessas coisas daqui em diante.

quarta-feira, outubro 20, 2010

Agricultura chinesa é calcanhar de aquiles

Parece que o gigantismo da China tem um calcanhar de aquiles que é pouco provável para a nossa situação: a Agricultura. O artigo abaixo da Agência Estado que encontrei no Canal Rural comenta sobre isso:

Agricultura é a maior fragilidade da China, diz economista
Para especialista, China se tornará cada vez mais um importante importador de alimentos

Gabriela Mello

A agricultura é a "maior fragilidade" da China, após as tão necessárias reformas do trabalho e das terras rurais terem sido adiadas, deixando as ofertas atrás da crescente demanda urbana, disse nesta terça, dia 5, Larry Brainard, economista-chefe e diretor de pesquisa da consultoria Trusted Sources.

– A China se tornará cada vez mais um importante importador de alimentos, especialmente de produtos (usados na fabricação) de ração animal, como soja e milho – afirmou ele em uma conferência de commodities, em Londres.

A China foi um grande exportador de milho no começo da última década, mas Brainard informou que uma demanda maior da indústria de ração animal, o desenvolvimento da produção de etanol e o baixo nível dos estoques globais levaram o país a recorrer às importações.

– O Brasil está muito bem posicionado para satisfazer a demanda da China – revelou o economista.

De acordo com ele, a resposta da oferta global ao aumento da demanda "pode ser substancial, mas o comércio global de commodities alimentícias será vulnerável a choques periódicos, como a proibição (dos embarques) de trigo pela Rússia neste ano”. Brainard acrescentou que, como conseqüência, os preços serão voláteis.

Em agosto, o governo russo suspendeu as exportações de trigo, após o verão mais quente em mais de 100 anos ter provocado uma estiagem, que prejudicou gravemente a safra local. A restrição ainda está em vigor, embora o governo esteja monitorando a situação

Empresa mantem plantação em escritório no Japão

Parece que a proximidade da produção agrícola pode ter benefícios às pessoas dos centros urbanos e por isso empresa japonesa decidiu disponibilizar aos seus funcionários o acesso às plantações dentro de seus escritórios conforme notícia do G1 que coloquei na íntegra abaixo. Mais fotos podem ser vistas no site original:

Empresa japonesa mantém plantações dentro de seus escritórios
Grupo Pasona atua no ramo de recrutamento profissional.
Objetivo é criar um ambiente de trabalho que coexista com a natureza
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Do G1, com informações da Reuters

O Grupo Pasona, empresa do ramo de recrutamento profissional com sede em Tóquio, capital japonesa, mantém plantações no interior de seus escritórios.

O objetivo da companhia é criar um ambiente de trabalho que coexista com a natureza. Os próprios empregados cultivam vegetais, frutas e até arroz na “fazenda urbana”.

Delegados de mais de 190 países estão reunidaos na cidade japonesa de Nagoya para debater meios de combater a crescente extinção de espécies de plantas e animais como resultado da poluição, das mudanças climáticas e da perda de habitat.

sábado, outubro 02, 2010

Conexão à rede afasta geração por biomassa

Notícia da Setorial News que encontrei no Blog do GESEL (Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ) comenta sobre os altos custos de conexão das usinas termoelétricas de biomassa à rede que está inviabilizando alguns projetos:

Cogen: custos de conexão à Rede Básica afastam investidores das usinas de biomassa

O vice-presidente executivo da Cogen, Carlos Roberto Silvestrin, afirmou que o grande problema das usinas de bioeletricidade, atualmente, são os custos e os cronogramas devazados da transmissão da energia gerada. Por decorrência disso, os empreendimentos de biomassa têm levado desvantagem nos últimos leilões. O executivo também considerou a grande concentração de usinas deste tipo no Sudeste. Para ele, esse agrupamento de térmicas à biomassa na região prejudica a entrega da energia produzida. Silvestrin afirmou ainda que diversos equipamentos para a queima de biomassa precisam ser trocados para atender a grande demanda de bagaço de cana. Segundo o vice-presidente da Cogen, as usinas sucroalcooleiras não sabem mais o que fazer o excedente da moagem de cana-de-açúcar. No entanto, o executivo expôs dados sobre a possível evolução do setor na geração de energia. De acordo com Silvestrin, em 2020, as usinas de biomassa terão possibilidade de gerar em torno de 13.150 MW

Bioestimulantes - uma contribuição

O assunto Bioestimulantes é algo novo na agricultura e muito tem se falado sobre o tema. Ao conversar com vários colegas agronômos dá para perceber que um assunto é muito polêmico. Visando melhorar o entendimento deste tópico, sugiro a leitura de alguns artigos (inclusive o artigo de capa) da edição 26 de julho/agosto da revista DBO Agrotecnologia. Todo o material está disponivel na internet no site da revista. Boa leitura...

sexta-feira, setembro 24, 2010

Churrasco rastreado já é possível no RS

A Tecnologia da Informação já está presente há tempos no agronegócio, mas agora parece que ele vai extrapolar a porteira e possibilitar ao consumidor o conhecimento da origem do alimento que come. A notícia abaixo do Canal Rural dá conta que o Walmart está oferecendo aos seus clientes em Porto Alegre a possibilidade de rastrear pela internet o teu pedaço de carne. No meio texto existe um link para rastreamento de uma picanha apresentada à imprensa:

Walmart oferece rastreamento de cortes de carne pela internet
No Rio Grande do Sul, o churrasco já pode ser pesquisado por clientes de Porto Alegre

O Walmart deu início no Rio Grande do Sul a um projeto que em alguns anos deve permitir que os consumidores conheçam a origem de toda carne e hortifrutigranjeiros comprados nos supermercados controlados pela marca no país.

Atualmente, clientes de quatro supermercados da rede Nacional em bairros nobres de Porto Alegre – Auxiliadora, Três Figueiras, Bela Vista e Boa Vista – já podem conferir pela internet, através de um código na embalagem, qual é a fazenda de procedência dos cortes especiais para churrasco vendidos na marca Novilho Campeiro.

Segundo o site Baguete, a novidade é possível graças a tecnologia da CheckPlant, com o apoio do Mafrig, frigorífico que abate o gado oriundo de 70 fazendas gaúchas que supre as gôndolas do Nacional e de quatro produtores de hortifrutis orgânicos.

No site, o consumidor pode conferir fotos e a localização exata da fazenda criadora, indicada no Google Maps, assim como a data de abatimento no Marfrig.

Quem quiser fazer o teste sem sair da frente do computador, deve acessar http://walmart.rastreabilidadeonline.com.br/ e digitar 00334X183F42, a identificação de um corte de picanha mostrada em coletiva de imprensa realizada em Porto Alegre nessa sexta, dia 17.

– Esperamos ter essa novidade disponível em todos os 100 Nacionais que vendem Novilho Campeiro até a meta de 2011 – prevê José Noeli, gerente comercial do Walmart para o Rio Grande do Sul.

É um bocado de carne. A marca Novilho Campeiro responde por 10% das vendas totais de carne bovina do Nacional no estado, algo em torno de seis a sete toneladas de carne mensais.

Noeli destaca que o custo de implementação da novidade – não revelado pelo Walmart – não será transmitido para o consumidor final.

– O custo é dividido entre nós e os produtores e a vantagem é mostrar que oferecemos um produto com origem garantida – comenta o executivo.

A possibilidade do consumidor rastrear a origem da carne é originada em um acordo assinado entre Walmart, Carrefour e Pão de Açúcar com frigoríficos em 2009, pelo qual os fornecedores se comprometiam a não comprar gado oriundo de fazendas que praticassem desmatamento ou trabalho escravo.

– Esse tipo de informação e garantia será cada vez mais exigida pelos consumidores – acredita Noeli.

Experiente no ramo de carnes, onde atua há 15 anos, o profissional estabelece uma comparação com os cortes vendidos a vácuo, cuja oferta e consumo começaram pequenas e hoje representam metade das vendas.

Fundada por dois ex-alunos de 30 anos da Ciência da Computação da UCPel, com mestrados pela UFSC e Ufrgs, a CheckPlant emprega 15 profissionais das áreas de TI e agronomia em Pelotas.

A empresa é especialmente forte na área de frutas para exportação, onde é grande a exigência dos compradores por rastreabilidade: metade das frutas rastreadas vendidas no país usa tecnologia da CheckPlant.

sábado, setembro 18, 2010

Fome no mundo diminui, mas ainda é uma vergonha para a raça humana

Apesar de apresentar uma melhoria, algo que não tinha ocorrido nos últimos anos, o quadro de fome no mundo ainda é uma vergonha que temos que lutar contra. Nós, profissionais envolvidos na produção de alimentos, devemos acordar e pensar nisso todos os dias....

A notícia abaixo é da France Press que encontrei no Cosmo:

Fome cai pela 1ª vez em 15 anos, segundo a ONU
Para entidade, contribuiu para queda a baixa dos preços dos alimentos nos mercados internacionais e nacionais

Pela primeira vez em 15 anos, o número de pessoas com fome no mundo caiu, para 925 milhões, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), uma cifra que a entidade mesmo assim considera inadmissível.

O número de famintos no mundo, que no ano passado alcançou a alarmante cifra de 1,023 milhão, caiu 9,6% em 2010, segundo a FAO, que tem sede em Roma.

'O número de pessoas desnutridas no mundo continua inaceitável, apesar de ter registrado uma queda esperada, a primeira em 15 anos. A queda se explica graças a uma conjuntura econômica favorável em 2010', explicou a FAO.

Para a entidade, contribuiu para a queda a baixa dos preços dos alimentos nos mercados internacionais e nacionais a partir de 2008.

A agência especializada das Nações Unidas considera que a cifra de 925 milhões de pessoas com fome e desnutrição continua sendo muito alta em relação às crises alimentares e econômicas registradas antes de 2008, quando era de 850 milhões.

A maioria das pessoas (98%) que padecem de fome residem em países em desenvolvimento, onde representam 16% da população, contra 18% em 2009, recordou a FAO.

'O fato de que quase um bilhão de pessoas continuam sendo vítimas da fome, mesmo depois da conclusão das recentes crises alimentar e financeira, se traduz num problema estrutural mais profundo. Os governos deveriam promover investimentos na agricultura e ampliar as redes de segurança e os programas de ajuda social', afirma a FAO.

'A cada dez segundos uma criança morre devido à desnutrição. A fome é a maior tragédia da humanidade, um escândalo', acrescenta.

Mas a queda do número de famintos é sentida em todas as regiões do mundo. A Ásia-Pacífico foi a que mais registrou pessoas vítimas da fome, com 578 milhões de famintos, mas onde a queda foi maior, de 12% em relação a 2009.

'A proporção de famintos é mais forte na África subsaariana, com 30% da população que sofre com a fome', afirma ainda o documento.

Dois terços dos 925 milhões de pessoas subalimentadas se encontram em apenas sete países: Bangladesh, China, a República Democratica do Congo, Etióia, Índia, Indonésia e Paquistão.

Segundo os dados da FAO, na América Latina e Caribe, países tradicionalmente muito afetados pela desnutrição, como Guiana, Jamaica e Nicarágua, conseguiram respeitar o objetivo do Milênio e o Brasil está se aproximando desse objetivo.

'O objetivo do Milênio adotado em 2000 de reduzir de 20% a 10% o número de famintos antes de 2015 não será alcançado. Não chegamos sequer a 16%', comentou o diretor-geral da entidade, Jacques Diouf, ao apresentar os dados à imprensa.

Para a organização humanitária Oxfam, a queda do número de famintos não acontece por acaso. 'Há dez anos os líderes mundiais estão motivados a reduzir a fome no mundo até 2015, mas ainda estamos bem longe do objetivo. Nós sabemos que isso é possível. A vontade política é um elemento fundamental'.

Vamos investir em produtos agrícolas certificados?

No Canal Rural encontrei notícia da Agência Estado de autoria de Circe Bonatelli que mostra que, segundo a ONU, o crescimento do mercado de produtos agrícolas certificados será muito grande nos próximos anos:

Produtos agrícolas certificados serão carro-chefe da economia verde, diz ONU
Movimentação anual do setor deve passar de US$ 40 bi em 2010 para US$ 210 bi em 2020

O mercado sustentável e baseado na preservação da biodiversidade terá grandes oportunidades de negócios nos próximos anos, de acordo com o economista indiano Pavan Sukhdev, coordenador do estudo A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (Teeb, na sigla em inglês), realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Segundo o estudo, o carro-chefe da economia verde será o de produtos agrícolas certificados. A estimativa é que a movimentação anual desse setor cresça de US$ 40 bilhões em 2008 (o equivalente a 2,5% do mercado global de alimentos e bebidas) para US$ 210 bilhões em 2020. Sukhdev acredita que existe um grande potencial de aceitação desses produtos pelos consumidores.

– Hoje, a publicidade foca na quantidade, não na qualidade. Os rótulos não mostram os danos ambientais embutidos naquele produto – disse.

Para ele, à medida que houver maior conscientização sobre a necessidade de preservação ambiental, os consumidores vão ficar mais exigentes e os governos vão impor regulamentações.

– As pessoas são alertadas sobre efeitos do tabaco e das drogas, mas não sobre os danos à natureza – exemplificou, durante encontro nesta terça, dia 14, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em São Paulo.

Outros campos ambientais com espaço para crescer, de acordo com o relatório, são o de florestas e recursos hídricos. O mercado de produtos florestais certificados (principalmente madeira) deve saltar de US$ 5 bilhões para US$ 15 bilhões entre 2008 e 2020. Já os pagamentos do governo e de voluntários para a preservação de mananciais e outros ecossistemas hídricos têm previsão de movimentar US$ 8 bilhões em 2020.

– Apesar da boa vontade, continuamos a destruir a biodiversidade porque não olhamos para os benefícios da conservação em termos econômicos. Àquilo que está na natureza não é dado valor econômico – afirmou Sukhdev, ex-economista sênior do Deutsche Bank.

Ele explicou que o relatório Teeb tem o objetivo de mostrar que preservar a biodiversidade sai mais barato do que devastá-la. O ponto principal, segundo o especialista, é que a natureza não cobra pelos "serviços prestados" (fertilidade do solo ou purificação do ar, por exemplo) e, por isso, empresas e pessoas dão como certa a continuidade eterna desses recursos.

– É a invisibilidade econômica da natureza – argumentou.

Para o diretor executivo da CNI, José Augusto Fernandes, quando se coloca um preço num "produto que não tem preço", o mercado ajuda a controlar a preservação.

– Daí surgem as oportunidades, como, por exemplo, na indústria de cosméticos, que retira da natureza a matéria-prima, mas a preserva para poder continuar contando com o recurso – explicou.

Engajamento

Das cem maiores empresas do mundo, 89% produzem um balanço sobre sustentabilidade, segundo o Teeb. No entanto, entre as que produzem esse documento, a questão ainda é tratada de forma vaga. Apenas 15% discutem abordagens para reduzir o impacto sobre a biodiversidade e só 9% enxergam o tema como uma questão estratégica.

Apesar disso, o relatório Teeb entende que os primeiros passos rumo ao engajamento já foram dados. Além disso, o setor de negócios está começando a se preocupar com limitações no crescimento de suas empresas em razão da perda da biodiversidade.

O relatório cita uma pesquisa feita pela consultoria PricewaterhouseCoopers em 2009 em que 27% dos líderes empresariais (CEOs) em todo o mundo afirmaram ter esse tipo de preocupação. Essa característica foi detectada principalmente em empresários da América Latina (53%) e África (45%), e com menos destaque na Europa (18%) e América do Norte (14%), onde a maior parte da fauna e da flora já foi devastada.

quarta-feira, setembro 08, 2010

Complexidade no patenteamento de sementes

O texto abaixo é de autoria de Guilherme Gorgulho e encontra-se disponibilizado no site Inovação Unicamp. O problema em questão mostra quão complicado é tudo relacionado ao melhoramento genético de plantas quando os interesses comerciais entram em cena. Apesar de ser um texto de uma certa complexidade técnica, é uma leitura interessante ao público em geral:

"A guerra do brócolis" na Europa
Decisão sobre patentes de tomate sem água e brócolis anticâncer pode mudar regra de proteção para melhoramento convencional

O Escritório de Patentes Europeu (EPO, na sigla em inglês) deverá decidir até o final de 2010 se processos de melhoramento convencional de plantas que envolvam etapas consideradas tecnicamente inovadoras podem ou não ser patenteados. De acordo com a diretiva europeia 98/44/EC, "um processo para a produção de plantas ou animais é essencialmente biológico se consiste inteiramente de fenômenos naturais, tais como cruzamento ou seleção". Agora, uma das câmaras de apelação do EPO se prepara para definir se é ou não "essencialmente biológico" o cruzamento ou seleção em que intervêm marcadores genéticos.

A controvérsia surgiu em razão da patente concedida pelo EPO à companhia britânica Plant Bioscience em 2002, que protege o método desenvolvido pela empresa para obter uma variedade de brócolis com maior concentração da substância anticancerígena presente naturalmente na planta. Em 2003, a multinacional suíça Syngenta, juntamente com a cooperativa francesa de sementes Limagrain, recorreu ao EPO para contestar a patente sob a alegação de que o melhoramento era um "processo biológico convencional" — portanto, não patenteável. A Plant Bioscience argumenta que seu novo sistema de produção de brócolis por meio da seleção assistida por marcadores é uma inovação tecnológica.

A seleção por marcador molecular é uma técnica de análise de DNA que permite localizar variações no genoma associadas a determinadas características — por exemplo, a resistência à seca ou a suscetibilidade a doenças. Com marcadores moleculares, é possível mapear no genoma de diferentes "indivíduos" da mesma espécie vegetal — ou seja, em exemplares diferentes de uma certa planta — os genes responsáveis por uma característica desejada. O método de seleção da Plant Bioscience para aumentar a produção de glucosinolato nos brócolis, resumidamente, consiste em várias etapas de cruzamento e seleção entre variedades selvagens — Brassica villosa e Brassica drepanensis — com linhagens de brócolis chamadas de duplo haplóide. Essas linhagens são originadas por reprodução assexuada a partir de um indivíduo que detenha as características desejadas — neste caso, o maior teor de glucosinolato —, mas que se tornam inférteis no processo por possuir apenas metade do material genético da espécie — chamadas de haplóide. Para duplicar o material genético e permitir que esses indivíduos com características especiais sejam novamente férteis e possam ser cruzados sexuadamente, são empregadas técnicas em laboratório. A identificação da maior concentração do anticancerígeno nas gerações originadas por esses cruzamentos entre as selvagens e as linhagens duplo haplóide é feita com marcadores moleculares.

A alegação da Syngenta na comissão técnica de apelação é de que o uso de marcadores moleculares na etapa de seleção não é motivo suficiente para excluir o método da categoria de "processo essencialmente biológico". Já a empresa britânica diz que o fato de haver "intervenção humana" em algumas das etapas — entre elas, a análise in vitro de tecidos da planta para a identificação dos marcadores moleculares — exclui o processo do conceito de "essencialmente biológico".

Audiências preliminares e o caso dos tomates de Israel

No final de julho, em Munique, na Alemanha, a comissão técnica de apelação do EPO se reuniu em audiências preliminares para discutir o caso. A decisão não virá antes do final de 2010. Outro caso está sendo avaliado conjuntamente pela comissão: em 2000, o Ministério da Agricultura de Israel depositou um pedido de patente de um método para produzir tomates com baixo teor de água desenvolvido pela Organização de Pesquisa Agrícola — vinculado ao governo israelense —, o que reduz os custos de produção de ketchup. Em 2004, a holandesa Unilever — uma das grandes fabricantes mundiais de ketchup — pediu ao EPO o cancelamento da patente com base na mesma justificativa apresentada no caso dos brócolis.

A patente dos tomates não envolve marcadores moleculares nem qualquer técnica de engenharia genética. O método consiste, basicamente, em promover cruzamentos de uma variedade de tomate que naturalmente produz pouca água com outra selvagem para obter a variedade que já nasce com teor hídrico ainda menor. O processo prevê uma etapa final — a colheita só é feita depois do ponto de maturação "convencional", de maneira a permitir a identificação dos tomates mais desidratados. Na apelação no EPO, a Unilever alegou que "diferentemente do processo reivindicado no caso T 83/05 [referente à patente dos brócolis da Plant Bioscience], que exige o uso de marcadores moleculares, o método no presente caso não exige qualquer intervenção humana a não ser cruzamento e seleção". Os advogados da Unilever escreveram na apelação: "Todas as etapas citadas do processo são claramente parte do cruzamento e seleção realizados por uma pessoa especializada em processo de melhoramento convencional".

Segundo petição apresentada pela defesa do Ministério da Agricultura de Israel, "enquanto variedades de plantas podem pelo menos ser protegidas pelos direitos de melhoristas , nenhum sistema de proteção sui generis [categoria da propriedade intelectual que abrange os cultivares, ou novas variedades de vegetais resultantes do trabalho de melhoristas, e que possui características diferenciadas daquelas relacionadas à propriedade industrial. Nota do E.] existe para processos de melhoramento de plantas. Uma interpretação ampla do processo de exclusão no artigo 53(b) da EPC poderia ampliar a brecha na proteção". O artigo 53, alínea b, da European Patent Convention (EPC) — ou Convenção Europeia de Patentes, um tratado multilateral assinado em 1973 — é o que exclui do direito de patenteamento os "processos essencialmente biológicos para a produção de plantas e animais".

Para os israelenses, qualquer " etapa técnica" que exerça um impacto no resultado final do processo de seleção é suficiente para tirar o processo da categoria "essencialmente biológico" e torná-lo patenteável sob as leis europeias. "Um processo que contenha pelo menos um aspecto técnico que não possa ser executado sem a intervenção humana e que tenha um impacto no produto do processo não se enquadra no termo 'processo essencialmente biológico'", argumenta o governo israelense.

Disputas de interesses

"Pela primeira vez na sua história, o EPO vai emitir uma decisão de abrangência ampla sobre a patenteabilidade de processos de seleção convencional de sementes e plantas", lê-se na introdução do estudo "The future of seeds and food under the growing threat of patents and market concentration" (O futuro das sementes e dos alimentos sob a crescente ameaça das patentes e da concentração de mercado), do grupo de origem alemã "No patents on seeds". O documento reúne dados e argumentos que informam as posições contrárias ao patenteamento de genes e de seres vivos e é um indicador da importância da decisão que a câmara de apelação da EPO deverá tomar. A organização enviou em julho um abaixo-assinado para o EPO com 55 mil assinaturas, coletadas — de acordo com a própria coalizão — por 50 entidades que representam produtores agrícolas e uma centena de ONGs de várias partes do mundo. O documento pede: o fim das patentes sobre sementes e animais em âmbito mundial; uma ação das autoridades políticas e dos escritórios de patentes pela não concessão de patentes relacionadas a processos de melhoramento convencional; e a não concessão de patentes para sequências de DNA empregadas em melhoramento convencional, como no caso da seleção assistida por marcadores.

No debate internacional e europeu sobre propriedade intelectual, modelo de agricultura e produção de alimentos alinham-se grupos, organizações e pessoas contrários também ao uso de produtos intensivos em biotecnologia, como sementes transgênicas. No dia 22 de julho, o colunista Paul Betts publicou no Financial Times um texto sobre a "guerra do brócolis", como o caso está sendo chamado. De acordo com Betts, o principal temor manifestado por esses grupos, é que, caso sejam mantidas, as patentes poderão aumentar a concentração no mercado agrícola e elevar os preços dos produtos.

O texto também registra uma suspeita dos grupos contrários à extensão da proteção a técnicas mistas de melhoramento: a de que o desafio da Unilever e da Syngenta à patente do tomate desidratado e dos brócolis anticâncer tenham como objetivo forçar e fortalecer a decisão pró-patenteamento de variedades obtidas por inovações introduzidas no melhoramento convencional — para estender o direito de patente, e não para derrubar a proteção já conquistada pela Plant Bioscience e por Israel. A estratégia consistiria em recorrer à comissão técnica de apelação para, caso a decisão seja em favor da manutenção das patentes, abrir caminho para proteções similares de seus próprios processos biológicos e sementes.

O documento do "No patents on seeds"

O documento de 2009, que Inovação publica nas íntegras desta edição , é assinado por Cristoph Then e Ruth Tippe. Uma pesquisa no Google leva à página de uma organização alemã denominada "TestBiotech" (Instituto para Avaliação Independente de Biotecnologia), em que ambos são apresentados. Then é cirurgião veterinário e, de 1999 a 2007, foi consultor especialista em agricultura e engenharia genética para o Greenpeace. Tippe tem o título de doutora e aparece como pertencente ao grupo alemão "No patents on life" — contra patenteamento "da vida".

O estudo detecta, com base nos dados do EPO, o crescimento de pedidos de patentes sobre variedades obtidas por melhoramento clássico: em 2008, registra, quase 25% de todos os depósitos de patentes relacionados com plantas eram ligados ao que, para a organização não governamental, é melhoramento convencional; em 2000, esse número não chegava a 5%.

Nas patentes dos tomates e dos brócolis, diz o texto, houve "emprego de ferramentas no processo de reprodução". Em ambos os casos, prosseguem os autores, "os detentores das patentes alegam que esses instrumentos técnicos garantem motivos suficientes para configurar o processo inteiro de melhoramento convencional como um processo inventivo para a produção de plantas". O documento ressalta que os titulares das patentes exigem ainda que "sementes, plantas resultantes e suas partes comestíveis" também sejam incluídas no escopo de proteção das patentes. A conclusão da "No patents on seeds" é que, se a decisão da agência europeia for pela manutenção das patentes, qualquer avanço técnico no melhoramento de plantas poderá ser suficiente para as empresas requererem o direito sobre a propriedade intelectual do processo — e por causa dele, de seus produtos —, como já acontece com as sementes geneticamente modificadas.

Indicadores sobre melhoramentos convencionais

"The future of seeds and food" se detém na análise de levantamento feito no EPO que mostra o crescimento das patentes de melhoramento convencional na Europa. Na página 14, o estudo diz que nos últimos anos há uma tendência de reutilização dos processos de melhoramento convencional, com o emprego de novas ferramentas, em lugar da engenharia genética. Entre essas ferramentas está a seleção assistida por marcadores moleculares, "que está permitindo uma abordagem mais eficiente para vários objetivos do melhoramento de plantas em comparação com os métodos usados em sementes geneticamente engenheiradas".

O documento traz um histórico recente de questões em discussão no EPO nos últimos anos — como a PI sobre melhoramento convencional —, aborda a concentração no mercado de sementes — o texto cita um estudo da ONG ETC Group, baseada no Canadá, que afirma que dez empresas concentram dois terços das vendas de sementes no mundo —, e apresenta exemplos de patentes concedidas para melhoramentos convencionais na Europa. "The future of seeds and food" também discute tópicos relacionados à atual situação legal da PI na União Europeia e sugere ações a serem tomadas em âmbito continental e mundial, como a revisão da legislação de patentes da Europa e do Acordo sobre Aspectos de Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS, na sigla em inglês).