quinta-feira, julho 31, 2008

Considerações sobre agricultura de um romano do ano 30 AC

Na revista DBO Agrotecnologia de junho/julho de 2008 (Edição nº 16) encontrei um artigo interessante, onde o Eng Agronômo Fernando Penteado Cardoso, mostra trechos interessantes do texto de Marcus Terentius Varro, estudioso romano que viveu por volta do ano 30 A C. Os textos foram encontrados no livro “Cato and Varro on Agriculture” traduzido por E. D. Hooper and H. B. Ash - Harvard University Press, 1999.

Estes trechos mostram como se pensava a agricultura 2.000 anos atrás. Escolhi apenas dois temas muito atuais, deixando os outros para serem vistos diretamente no site da DBO Agrotecnologia no formato pdf, clicando aqui.

Naquela época já se pensava em algo que muita gente aqui no Brasil em pleno século XXI não quer fazer: Integração Lavoura – Pecuária:

“A associação entre as duas [agricultura e pecuária] é muito íntima, considerando que, freqüentemente, é mais lucrativo para o proprietário da fazenda ministrar a forragem no mesmo local do que a vender, e considerando que o esterco está admiravelmente adaptado para as árvores frutíferas e que o gado fica especialmente apto a produzi-lo. O dono de uma fazenda deve ter conhecimento das duas áreas, agricultura e pecuária, e também da criação em confinamento”.

O outro tema é algo que infelizmente ainda não resolvemos plenamente no Brasil: Logística

“A fazenda torna-se mais lucrativa pela facilidade do transporte: se existem estradas pelas quais os carros possam facilmente ser conduzidos, ou existam rios navegáveis nas proximidades. Sabemos que o transporte é feito por esses dois sistemas tanto na direção das fazendas, como a partir delas”.

Aquecimento global ou exagero?

Saiu hoje no Valor Econômico uma reportagem da Associated Press que, caso fosse publicada em outro veículo, muitos iriam dar risadas. A reportagem em questão trata do uso de protetor solar em vinhedos:

Nos EUA, vale até protetor solar para salvar plantações do calor
Tracie Cone, Associated Press

Assim como as pessoas causam danos à pele por exposição ao sol, frutas e vegetais também podem sofrer graves queimaduras. E é por isso que muitos agricultores estão aplicando protetores solares a suas culturas para prevenir a formação de bolhas, estresse por calor e manchas. "Em vista da alta nos custos de produção, os agricultores estão procurando ampliar suas margens onde for possível", diz Ed Lagrutta, da Western Farm Services, que cultiva oito hectares e faz testes em centenas de outros.

Manchas solares numa maçã Granny Smith podem significar a diferença entre um preço menor, para transformação em suco, ou venda no mercado mais lucrativo de frutas frescas. No caso de nozes, os compradores pagaram em 2007 a média 3 centavos de dólar a mais pela libra-peso de nozes tratadas com protetores solares do que por não tratadas, disse Lagrutta.

As mudanças climáticas e secas na Austrália e na Califórnia significam difíceis condições de cultivo para os agricultores, que estão afetando qualidade, produtividade e preços das colheitas. Os protetores amenizam ao menos uma das preocupações dos produtores, que perdem dinheiro com cada fruto ou vegetal prejudicado pelo sol.

"O estresse por calor vai se tornar um problema para as plantas, sobretudo quando provoca novas doenças", diz Eric Wood, professor de engenharia civil e ambiental na Universidade Princeton.

As plantas reagem ao estresse solar como os seres humanos. Elas transpiram, e isso significa que quanto mais sobem as temperaturas, mais água necessitam. Em vista das secas que vêm afetando diversas das principais regiões agrícolas do mundo, os cientistas estão buscando maneiras de poupar recursos ajudando as plantas a consumi-los em menor quantidade.

Até agora, a argila vinha sendo para esse fim, mas agora uma empresa californiana está obtendo resultados positivos com um produto (SPF 45) feito de cristais multicristalinos de carbonato de cálcio, produzidos para defletir as luzes ultravioleta e infravermelha de plantas e árvores sobre as quais é pulverizado. O produto "repele" a luz nefasta, mas permite a penetração dos raios de luz bons que promovem a fotossíntese que contribui para o amadurecimento.

O protetor solar já foi testado na Austrália e no Chile, onde raios ultravioletas afetam a produção, e está em seu segundo ano de testes de campo na Califórnia. Os testes revelam que seu impacto imediato está fazendo crescer as colheitas, ao reduzir os defeitos resultantes de estresse hídrico, mas a empresa que o fabrica espera que o produto também possa desempenhar um papel na conservação de água e energia, por incrementar a eficiência das plantas no uso de água.

O protetor solar Purshade, produzido pela Purfresh, atraiu recentemente 20 pesquisadores e consultores de produtos agrícolas americanos e internacionais para um bosque de nogueiras nas proximidades de Visalia, Califórnia.

O produto também está sendo testado em tomates, uvas, kiwis e lichias na Austrália, diz Kerrie Mackay, que trabalha para uma companhia de Queensland que vende produtos para proteção de colheitas, que segundo ela está sofrendo sua pior seca em 140 anos.

"Queimaduras de sol são um grande problema", diz. "Sofremos uma das mais intensas incidências de luz ultravioleta em todo o mundo. Com a seca e as mudanças climáticas, descobrir maneiras de usar água mais eficientemente é sempre importante para nós."

O vale Shenandoah, nos sopés da árida serra Nevada, nem de longe assemelha-se a ao temperado vale do Napa, mas Dick Cooper, da Cooper Vineyards vem cultivando uvas para vinhos especiais desde a década de 80 usando caramanchões para proteger os vinhedos.

Em anos anos secos, a planta desenvolve-se lentamente e as áreas de pinot grigio ficam enrugadas como o aspecto retorcido de oliveiras. Pelo segundo ano, Cooper espalhou o protetor solar Purshade em diversos de seus canteiros de uvas brancas para protegê-las. Ele diz que durante o esmagamento das uvas os cristais de carbonato de cálcio vão para o fundo dos tanques de fermentação com o resto do sedimento que vem com os bagos. E o sabor não é afetado.

quarta-feira, julho 30, 2008

Açúcar de beterraba – alguns dados

Muito se fala sobre a quantidade de terras na produção de cana-de-açúcar no Brasil. A área atual encontra-se em torno de 7 milhões de hectares e para minha surpresa, encontrei em um relatório da F. O. Lichts de 12 de maio que tratava da estimativa de produção de açúcar de beterraba na Europa, a área destinada à produção de beterraba açucareira na Europa desde 2000.

Apesar da área total estar em queda, devido principalmente à queda dos subsídios, podemos observar no gráfico abaixo que, atualmente são utilizados cerca de 3,5 milhões de hectares para a beterraba. Isto nos mostra que, mesmo sendo menos eficiente do que a cana-de-açúcar, a beterraba açucareira ainda é matéria-prima de muito açúcar consumido na Europa.

Corroborando estes dados, encontrei também em outro relatório da F. O. Lichts de 14 de maio, dados sobre as 15 maiores empresas produtoras de açúcar no mundo. As empresas e suas respectivas produções estão mostradas no gráfico abaixo:

Neste gráfico podemos verificar que somente três empresas são brasileiras: Copersucar, COSAN e Santelisa Vale e uma quarta empresa a Tereos tem parte da produção obtida no Brasil através do Açúcar Guarani. Outro aspecto interessante é que as duas maiores empresas produzem açúcar apenas da beterraba.

Aumenta consumo de café no Brasil

Outro dia fui surpreendido por um dado muito interessante sobre o consumo brasileiro de café. Eu tinha uma percepção de que o consumo interno crescia, nos últimos anos, de forma orgânica, ou seja, a baixas taxas de crescimento anuais. Acreditava também que estava ocorrendo uma alteração nos padrões de consumo com movimentos em direção ao café gourmet.

Entretanto, para minha surpresa, encontrei dados publicados na primeira edição da revista Terra Viva que sinalizam para algo na direção oposta ao que eu imaginava.

Os dados, disponíveis na figura abaixo, mostram que enquanto a população brasileira passou de 146 milhões em 1990 para 184 milhões em 2007, o consumo de café saltou de 8 milhões de toneladas para mais de 17 milhões no mesmo período. Portanto, o crescimento médio anual do consumo foi de 4,5% para um crescimento médio anual de 1,4% para a população. Isto nos mostra a diferença entre as taxas de crescimento.

Com relação ao consumo per capita, houve um aumento dos valores de 5,6 kg por ano por pessoa em 1990 para 9,6 em 2007, ou seja, um aumento de 66% no consumo per capita.


segunda-feira, julho 28, 2008

As 4 gigantes do agronegócio mundial na cana

As 4 gigantes empresas de agronegócio mundo, o chamado ABCD - ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus, estão entrando no mercado de açúcar aqui no Brasil.

A reportagem abaixo do Valor Econômico fala da entrada da ADM neste setor. A ADM é a última a entrar. A Bunge já possui uma usina, Santa Juliana, a Cargill participação na Cevasa e Itapagipe e a Dreyfus a São Carlos, Cresciumal e Luciânia, além das quatro que pertenciam ao Grupo Tavares de Melo.

ADM estréia na produção de álcool no Brasil

Mônica Scaramuzzo, De São Paulo

A gigante americana de etanol e grãos Archer Daniels Midland (ADM) deve anunciar no dia 20 de agosto sua estréia na produção de álcool no Brasil. O Valor apurou que a companhia será sócia de uma usina em Jataí (GO) e terá uma participação em outra unidade no mesmo Estado.

O anúncio deverá ser feito pela CEO da companhia, Patricia Woertz, que chega ao país no dia 19 e volta para os EUA três dias depois. A sociedade deverá ser formalizada durante a passagem da executiva pelo Brasil. A gigante assinou um pré-acordo de sociedade com o Grupo Cabrera, comandado pelo ex-ministro da Agricultura Antonio Cabrera. Patricia não pretende falar com a imprensa durante sua visita. E aproveitando sua estadia no Brasil, visitará a Amazônia.

Cabrera tem dois empreendimentos sucroalcooleiros no Estado de Goiás. Uma das usinas está sendo erguida em Jataí, no sudoeste goiano, e a outra unidade - que ainda não saiu do papel - deverá ser construída em Itarumã. Os investimentos totais em cada usina estão estimados em R$ 400 milhões pelo mercado.

Os dois projetos de usina de álcool prevêem moagem de 3 milhões a 4 milhões de toneladas cada uma. A primeira unidade deverá entrar em operação em 2010. O Valor apurou que a ADM deverá ser acionista majoritária da unidade de Jataí e terá participação minoritária na unidade de Itarumã.

Com 82 mil habitantes, a cidade de Jataí tem quatro projetos para construção de usinas de etanol. Um deles, em fase mais adiantada, está sendo coordenado pelo grupo Cosan e entra em operação em 2009. O outro está sendo tocado pelo grupo Cabrera, e começa a operar em 2010.

André Rocha, presidente do Sindicato das Indústrias de Açúcar e Álcool de Goiás, confirmou o investimento da ADM no Estado. Goiás tem uma produção estimada de 33 milhões de toneladas de cana na safra 2008/09. Mas nem todo esse volume será processado pelas 19 usinas no Estado este ano por causa do clima. "Vários grupos voltaram-se para o Estado de Goiás porque há terras disponíveis."

Fundada em 1902 e com sede em Decatur, Illinois, a ADM é uma das maiores indústrias agrícolas do mundo, com faturamento líquido de US$ 44 bilhões em 2007. Gigante em grãos, a ADM também é a maior produtora de etanol de milho dos EUA.

No Brasil, a ADM está entre as principais processadoras de soja. O interesse do grupo em produzir álcool no Brasil é antigo, mas o projeto não saía do papel porque a empresa não encontrava um forte parceiro agrícola. Nos últimos meses, a CEO da companhia esteve várias no país, visitando possíveis áreas para o grupo fazer investimentos. Procurada pelo Valor, a ADM informou, por meio de sua assessoria, que o grupo mantém "constante interesse no mercado brasileiro e no setor de açúcar e álcool. No entanto, ressalta que não há qualquer acordo firmado, no momento".

Já o grupo Cabrera foi fundado em 1895 pelo avô do ex-ministro. Com tradição em pecuária leiteira e soja, a família Cabrera decidiu investir em usina em 2006. Além dos investimentos em Goiás, os Cabrera também estão fazendo aportes em uma usina sucroalcooleira no Triângulo Mineiro, em Limeira do Oeste. Procurado, Cabrera confirma os projetos de Goiás. Em relação ao seu futuro sócio, o ex-ministro não confirma, mas não desmente a parceria com o grupo americano

sábado, julho 26, 2008

Briga de gigantes no debate “Alimentos x Combustíveis”

Em notícia do Dow Jones publicada no site da CNN (disponível aqui em inglês) mostra que um grupo de empresas do agronegócio americano estão participando da Aliança para Alimento e Energia Abundante, uma organização cujo principal objetivo é mostrar que a tecnologia pode superar a escassez global de alimentos. Além da ADM, fazem parte desta aliança a Monsanto, DuPont e Deere & Co.

Do outro lado, contra os subsídios da produção americana de biocombustíveis, encontram-se as empresas que utilizam grãos como matérias-primas como, por exemplo, a Tyson Foods.

Para entrar no site da Aliança para Alimento e Energia Abundante clique aqui.

sexta-feira, julho 25, 2008

Raças bovinas - um guia

Encontrei na internet, um site muito interessante do Departamento de Ciência Animal da Universidade Estadual do Oklahoma com uma descrição rápida e fotos das principais raças bovinas em ordem alfabética. Para acessar o site clique aqui:

Neste site também existem sites com variedades caprinas, ovinas, equinas, suinas e de aves.

As páginas encontram-se em inglês.

segunda-feira, julho 21, 2008

São Paulo aumenta produção de grãos

Aproveitando o tema postado anteriormente, o Estado de São Paulo, conforme nos conta o Secretário de Agricultura João Sampaio, em nota publicada no site da UNICA, apresenta um aumento na produção de grãos apesar da expansão da cana. Tudo isso sinaliza na direção contrária da grande bobagem que o senso comum internacional apregoa, dizendo que a cana competirá com os alimentos aqui no Brasil:

SÃO PAULO: PRODUÇÃO DE ALIMENTOS ESTÁ EM ALTA ACELERADA, COM EXPANSÃO DA CANA

Produção de alimentos vai continuar crescendo em ritmo acelerado em São Paulo, simultaneamente à expansão da produção de etanol de cana-de-açúcar.

É o que revela um levantamento realizado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Para se ter uma idéia de quão grande é este acréscimo na produção de alimentos, basta analisar os percentuais de acompanhamento - safra a safra - das produções de, por exemplo, trigo (+102%) e milho (+13%).

São Paulo é responsável por mais de metade da produção de cana-de-açúcar do Brasil, mas também é o principal fornecedor de grãos.

O secretário João Sampaio, de Agricultura de Abastecimento do Estado de São Paulo, em entrevista concedida à UNICA, explica como foi realizado o estudo e comenta seus resultados.

UNICA - Como foi realizado o levantamento que mostra que, apesar do crescimento da lavoura de cana, São Paulo continua ampliando suas produções de trigo e milho?

João Sampaio - O levantamento faz parte dos estudos de estimativa de safra que a Secretaria de Agricultura realiza por meio do seu Instituto de Economia Agrícola, que trabalha em cima dos dados coletados pela nossa Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, a qual busca a performance de cada cultura lá no campo. Devido à capilaridade dos órgãos da Secretaria, é possível fazer este levantamento. São cinco estimativas no ano, acompanhando as culturas perenes e também as culturas anuais. No caso específico, o aumento das áreas de cultivo de trigo ficou evidente pelos números, houve um aumento de 84% na área, saímos de 40 mil para 75,23 mil hectares, graças à boa remuneração do produtor com a subida dos preços e também ao programa de parceria da Secretaria, que repassa as sementes certificadas, dos produtores e a indústria de processamento de trigo na hora da comercialização.

UNICA - Quais são as perspectivas de crescimento na produção de alimentos em comparação com a da produção de cana?

JS - Haverá um crescimento maior na produção de grãos devido aos preços em alta no mercado mundial e interno das principais commodities – milho, trigo, arroz e trigo. A remuneração do produtor é que determina a sua capacidade de produzir. Neste momento, alguns grãos rendem mais do que cana, então é normal que o produtor que precisa fazer a sua opção tenda a ir para o cultivo dos grãos, principalmente daqueles já citados. No entanto, aqueles produtores de cana ou que têm as suas áreas ocupadas não deixarão de cultivar, afinal ele tem produção garantida por 7 anos, então a tendência é de estabilização no crescimento das áreas. Este levantamento já mostrou que o aumento que era de cerca de 300 mil hectares de cana a cada safra, cai para 100 mil hectares.

UNICA - Além do crescimento do trigo e do milho, há outros exemplos de crescimento na produção de alimentos no estado? Gado ou laranja, por exemplo, que também são fortes no estado de SP?

JS - A área de cultivo de laranja tem crescido na região sul do estado, houve uma mudança geográfica dos pomares, deslocando da região central por causa do avanço de doenças e dos preços da terra e arrendamento nos anos de 2005 e 2006 numa competição direta com a cana. A área de laranja é de 690 mil hectares, o maior pomar citrícola do mundo, e a tendência é que continue neste patamar ocupando estas novas áreas na região de Botucatu, Itapetininga, no sudoeste do Estado de São Paulo. Quanto às produções de milho e trigo, São Paulo é um grande importador destes grãos e deverá continuar sendo porque a demanda do mercado consumidor e da indústria de carnes, especialmente frango e suínos, é muito grande, mas temos aumentado as áreas. Hoje o milho ocupa uma média de 850 mil hectares entre as produções de milho e milho safrinha. O trigo ainda é se restringe a 75 mil hectares, mas com tendência de acréscimo, e a soja em torno de 450 mil hectares. No campo das pastagens, São Paulo tem hoje 9,1 milhões de hectares, mas cada vez mais nos especializamos na terminação, na engorda final e abate do gado que vem de outros estados, a indústria frigorífica forte leva a este estágio atual da pecuária paulista. Temos crescido também no campo da genética bovina, exportando tecnologia. A integração da cana com pecuária nos confinamentos de pecuária de corte e na própria produção de ração animal voltada a pecuária leiteira, são formas de sistematizarmos e verticalizarmos a produção de carne e leite no Estado, a cana abre esta possibilidade.

UNICA - Existe algum fundamento na afirmação de que a cana-de-açúcar pode superar a produção de alimentos no estado de São Paulo?

JS - A área de cana no estado de São Paulo é de 4,9 milhões de hectares, cerca de 20% da área ocupada com agricultura. Mas acreditamos que o crescimento seja menos acelerado, principalmente porque a ocupação de pastagens degradadas registrou um grande avanço nos últimos anos e hoje os preços dos outros produtos e do boi arrefecem este avanço. O que São Paulo tende a produzir é tecnologia sucroalcooleira, com empresas especializadas em maquinários, insumos e a produção de bioenergia, esta é a grande aposta que o setor deve fazer no Estado de São Paulo.

João de Almeida Sampaio Filho é secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Nasceu em 1965, é formando em economia pela Faculdade Álvares Penteado (Faap)

Aumento da produção mundial de grãos

A lei da oferta e da demanda mostra que ainda funciona. Foi só falar em aumento das commodities que já observamos aumento da produção agrícola. A notícia abaixo foi publicada hoje no Valor Econômico:

ALIMENTOS: FAO PREVÊ AUMENTO DE PRODUÇÃO

Relatório sobre a Produção Mundial de Cereais da FAO, agência da ONU para agricultura, prevê para este ano o recorde de 2,1 bilhões de toneladas, alta de 2,8%. O resultado é puxado pelo trigo, que teve o plantio expandido em todas as regiões produtoras. A produção de forrageiros deve superar a de 2007, mas ficará abaixo do estimado antes devido às enchentes nos EUA. Os preços internacionais devem continuar altos com a oferta apertada de milho, que pressiona as demais commodities agrícolas.

Na América do Sul, a colheita dos grãos forrageiros está sendo feita nesta época e a expectativa é de também safra recorde. No caso do trigo, as perspectivas não estão consolidadas na região - o plantio cresceu no Brasil, mas o tempo e as turbulências políticas devem levar à uma queda na Argentina. A produção brasileira de milho deve atingir o recorde de 40 milhões de toneladas, 10% mais que em 2008. Na Argentina, a colheita de milho deve cair em 1 milhão de toneladas, para 21 milhões de toneladas.

sexta-feira, julho 18, 2008

Fotossíntese mais eficiente - ganhos de produtividade

Muito se fala sobre a crise dos alimentos, porém, para nossa sorte, Malthus está errado e a ciência tem encontrado caminhos para aumentar a produtividade agrícola. Abaixo notícia do Valor Econômico de 17 de julho que mostra a direção para futuros ganhos de produtividade:

FOTOSSÍNTESE, A CHAVE PARA PRODUZIR MAIS ALIMENTOS NO MUNDO

Cientistas americanos, europeus e asiáticos quebram a cabeça para alcançar um feito que poderá ajudar a resolver o problema da fome no mundo. Através de modificações genéticas, eles tentam aumentar a eficiência das plantas para que elas ofereçam, no futuro próximo, um volume maior de alimentos. No centro das pesquisas está a fotossíntese, o processo químico pelo qual as plantas crescem.

Segundo especialistas, elevar a eficiência fotossintética das plantas pode ser o caminho mais curto para atender à crescente demanda internacional por alimentos, trazida à tona nos últimos meses pela escassez de matéria-prima, sobretudo nos países mais pobres. Estimativas da FAO, o braço das Nações Unidas para a agricultura, apontam para um consumo de 771 milhões de toneladas somente de arroz em 2030 - o mínimo necessário para alimentar uma população mundial que chegará aos 8,3 bilhões neste mesmo período.

O órgão da ONU lembra e ninguém mais parece duvidar: é uma tarefa monstruosa na medida em que as terras e os recursos hídricos disponíveis diminuem em conseqüência da industrialização e do processo mundial de urbanização.

Nos centros de pesquisas, o desafio é fazer com que as plantas geneticamente modificadas consigam, com a mesma intensidade de luz, produzir mais energia química (glicose). Em outras palavras, aumentar a eficiência do uso de energia das plantas para aumentar também a produção do alimento.

Pelo processo natural da fotossíntese, as plantas conseguem hoje transformar em alimento apenas 1% a 1,5% de toda a incidência de luz solar que recebem. As modificações genéticas visam a esticar esse percentual. "Se fosse possível elevar para 1,7% já seria um grande ganho", afirma Carlos Labate , professor do Departamento de Genética da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).

Embora ainda restritos dada a complexidade dos processos biológicos, os experimentos seguem numa constante. A multinacional americana Monsanto investirá entre US$ 80 milhões e US$ 100 milhões, no período de dez anos, em diferentes linhas de pesquisas para criar plantas eficientes do ponto de vista fotossintético e de absorção de água e fertilizantes.

"Elevar a produtividade da planta é uma das tarefas mais difíceis", afirma Timothy Conner, líder de estratégias e tecnologia para a Monsanto na América Latina. "O gene não é mais o problema, mas o conhecimento sobre como ele funciona. Isso é o fator limitante".

Conner explica que as pesquisas internacionais giram em torno do milho, mas alguma coisa já está sendo feita com algodão e soja. O sucesso do mapeamento do genoma do arroz, em 2002, também criou oportunidades para a aplicação de recursos genéticos no cereal. Na Ásia, uma força-tarefa pretende elevar a produtividade do cereal na região, que consome e produz 90% do arroz do mundo.

Durante décadas, o homem e a própria natureza, em seu processo evolutivo, se encarregaram de elevar a produtividade das plantas. O Século XX registrou boa parte desse avanços, com cruzamentos de sucesso e a melhoria das práticas agronômicas no campo. A literatura mostra, no entanto, que a taxa de fotossíntese permaneceu inalterada na maior parte das plantas.

"Quando a planta atinge o topo de sua eficiência, é preciso encontrar outros caminhos. E o melhoramento genético e a transgenia são essas respostas", explica Eduardo Caruso Machado, pesquisador de fisiologia vegetal do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

Um dos campos de experiência nos quais muitos cientistas apostam é o da conversão das plantas C3 em C4, as duas principais classes de plantas - o "C" refere-se ao carbono capturado por fotossíntese para o crescimento da planta.

Grosso modo, o primeiro grupo é formado por plantas menos eficientes em fixação de carbono, o que impacta de forma direta em sua produção; no segundo grupo, o das C4, estão as plantas que, por uma questão evolutiva, são mais eficientes. A má notícia é que a maioria esmagadora dos alimentos encaixa-se no primeiro grupo - arroz, feijão, soja, trigo, batata, leguminosas e hortaliças. Já os alimentos C4 não enchem uma mão: milho, sorgo e cana-de-açúcar.

O Instituto Internacional de Pesquisa com o Arroz (IRRI), ligado à ONU, tem se debruçado sobre a conversão de arroz C3 em C4 desde 2000. Em 2005, o tema foi considerado uma das prioridades de pesquisa e conta com um orçamento de US$ 1,5 milhão por três anos para provar que o conceito é viável.

"Os sinais iniciais são bons", diz John Sheehy, pesquisador do IRRI em Manila, nas Filipinas. Segundo ele, um consórcio internacional de instituições trabalha no projeto, que deverá tomar de dez a 15 anos. "Mudar a engrenagem da fotossíntese do arroz poderá elevar a sua produtividade em 50%, para cerca de 5 toneladas por hectare. Ao mesmo tempo, reduzirá o uso da água em 50% e melhorará o uso de fertilizante nitrogenado. Uma vez que conseguirmos isso, a tecnologia estará disponível para qualquer cultura, como o trigo", diz.

A estratégia utilizada nas plantas C3 visa a alterar as condições em que enzimas-chave (particularmente a Rubisco) trabalham. Ela é a principal enzima do chamado ciclo de Calvin - uma série de reações bioquímicas que resultam na fixação do carbono do CO2. O processo é lento e complexo. No passado recente, os cientistas listavam entre suas dificuldades a necessidade de transformar vários genes simultaneamente. Hoje, já há uma corrente que obtém efeitos significativos alterando um gene.

Além dos obstáculos práticos, os avanços na biotecnologia suscitam temores gigantescos entre setores da sociedade civil. As perguntas são: l) a que preço a intervenção humana nos alimentos nos salvará da fome?; e 2) qual a garantia de que a produção transgênica não impactará a saúde humana? Nesse aspecto, as dúvidas tendem a persistir por mais tempo. "De qualquer forma, serão necessários ainda alguns anos para se alcançar o nível de eficiência fotossintética desejado", diz Sheehy, do IRRI. Mas o caminho está traçado.

Estratégia de nicho para combater as grandes

A estratégia de marketing proposta pelas empresas brasileiras de soja publicada pelo DCI hoje, que encontra-se abaixo na íntegra, é muito interessante e tenta se aproveitar do marketing de nicho que existe para a soja. Enquanto algumas pessoas querem pagar o preço mais baixo existem outras que querem um produto diferenciado, algo oferecido pela soja não OGM.

PRODUTOR BRASILEIRO PREPARA CONTRA-ATAQUE À SOJA TRANSGÊNICA

Empresas brasileiras estão se unindo para manter parte do mercado de soja diante o predomínio das multinacionais no setor de grãos. Caramuru, Imcopa e o grupo Maggi irão formalizar dentro dos próximos 30 dias a criação de uma associação para difundir junto ao mercado internacional a produção de soja convencional do Brasil. Juntas, as três empresas somam uma produção de 5 milhões de toneladas de soja.

"Queremos mostrar ao mercado que há uma oferta consistente de soja não-transgênica e que as empresas associadas detém estoque no Brasil", explicou Osíres Melo, gerente de desenvolvimento de mercados da Imcopa. Hoje, estima-se que o Brasil tenha cerca de 60% de sua produção de soja transgênica.

A organização, que terá sede em São Paulo, também será formada por cooperativas do setor. "A iniciativa não vai se limitar a empresas produtoras e exportadoras. Cooperativas de produtores de soja do Paraná já confirmaram participação e no Mato Grosso do Sul também estão aderindo", disse Melo. O executivo ainda revelou que um dos planos do organismo é criar um selo. "É importante mostrar que o produto também é sustentável", destaca.

Para César Borges, vice-presidente da Caramuru, a iniciativa surge como alternativa para agregar valor a produção e aproveitar infra-estrutura a qual a empresa já dispõe. O sistema capaz que garante a rastreabilidade de seus produtos foi adotado no ano 2000. "Nesse primeiro momento pretendemos manter o programa que já temos e aproveitar esse nicho de mercado que atende grande parte dos compradores internacionais", afirmou.

O mercado-alvo das empresas brasileiras é a Europa. A região é uma das maiores demandantes mundiais de soja e é também a que mantém maiores restrições ao produto transgênico que chega a ser vetado por muitas redes de varejo.

Borges também reforça o fato de que cooperativas do setor estão sendo contatadas. "Algumas já sinalizaram a adesão. Em princípio nossa área de atuação será mais focada em Paraná, Goiás e Mato Grosso", disse.

Um dos objetivos da associação é padronizar a linha de produção para minimizar alguns dos problemas enfrentados pelas empresas. "Hoje, o Brasil sofre com problemas de obtenção de sementes, desagregação de mercadoria e contaminações por soja transgênica", disse o gerente da Imcopa.

Em 2007, a produção de soja atingiu mais de 58 milhões de toneladas, resultado que chega a ser 10,6% superior ao do ano anterior.

quarta-feira, julho 16, 2008

Seguro agrícola ainda é incipiente no Brasil

Apesar da notícia não ser tão nova assim, ela representa bem a falta da cultura do seguro agricola no Brasil. As razões para isso são várias e vão desde ao custo, falta de reseguros e até mesmo da falta de produtos adequados.

Abaixo segue a reportagem do Cosmo do dia 09 de julho:

Seguro rural cobre apenas 2% da produção agrícola do Brasil

Vilma Gasques / Agência Anhangüera

Somente 2% de toda a produção agrícola no Brasil possui atualmente seguro contra problemas relacionados à natureza. Um mercado ainda incipiente, mas que começa a ganhar fôlego por conta do próprio aumento nos negócios e da importância que o segmento ganhou no mundo. "Ao falarmos de seguro rural, pensamos basicamente em clima e mercado, mas, é importante fazer uma reflexão de um outro ponto de vista", definiu o reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Tadeu Jorge, na abertura do seminário Riscos e Gestão do Seguro Rural no Brasio. Para ele, as seguradoras devem olhar para a cadeia produtiva e identificar riscos também no pós-colheita, estendendo o seguro rural a todas as etapas do agronegócio, para evitar perdas e desperdícios da safra.

Estas discussões foram concentradas no evento promovido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que reuniu empresas seguradoras, instituições públicas, produtores e agentes do agronegócio, para apontar como a pesquisa pode colaborar nas definições de métodos quantitativos confiáveis para as avaliações do seguro rural. A Embrapa tem o maior interesse no assunto. O agronegócio gera 37% dos empregos brasileiros. No ano passado, obteve R$ 59 bilhões com a exportação. No panorama mundial, o Brasil responde por 86% das exportações de laranja, 39% do etanol, 40% na avicultura e 33% da carne.

Porém, é na agricultura que estão os maiores riscos. Pelo fato de ser um produto biológico, a produção está sujeita aos riscos da natureza. Por isso, a popularização do seguro se torna mais importante, já que de todos estes números que impressionam estão praticamente sujeitos à sorte em relação ao clima.

O negócio agrícola é composto de vários setores como a indústria de defensivos e máquinas agrícolas, que, cada vez mais, dependem do sucesso do empreendedor rural. Se o produtor não tiver suporte necessário para sua sobrevivência, todo o sistema entra em colapso e as renegociações da dívida rural afetam todos os setores e a todas as pessoas, porque atingem o Tesouro Nacional. A última negociação custou R$ 7 bilhões aos cofres públicos.

terça-feira, julho 15, 2008

Aluguel de terras aráveis, negócio que não interessa ao Brasil

Esta reportagem do Valor Econômico de 11 de julho mostra uma situação que, ao meu ver, não é de interesse do Brasil. Devemos lutar para ser o celeiro do mundo, porém com produtos de valor agregado, fomentando assim o agronegócio e desenvolvendo nosso país:

EMERGENTE LUCRA COM ALUGUEL DE TERRAS ARÁVEIS

Vários países emergentes estão tentando lucrar com a crise mundial de alimentos atraindo grandes importadores agrícolas para alugar suas terras aráveis - uma nova tendência que motiva reclamações de produtores em alguns países já preocupados com o seu próprio suprimento de comida.

O exemplo mais recente é um plano do governo indonésio para desenvolver uma área com o dobro do tamanho da Região Metropolitana de São Paulo na Ilha de Papua com culturas de arroz, cana-de-açúcar e soja. Defensores do projeto reuniram-se com investidores sauditas na esperança de receber centenas de milhões de dólares e, em troca, direcionar parte da colheita ao país deles.

A Arábia Saudita e outros países no Golfo estão vasculhando o mundo para investir em projetos agrícolas que lhes garantam fornecimento de produtos essenciais - como trigo, milho e arroz-, da mesma maneira que países como a China investiram bilhões para assegurar fornecimento estável de petróleo.

Há um grande risco nessa tendência. Países como a Indonésia vêm lidando com protestos internos por causa do aumento dos alimentos este ano. A idéia de atrair investimento em troca da exportação de produtos alimentícios politicamente delicados, como o arroz, pode provocar mais descontentamento e acusações de que países ricos estão sendo favorecidos às custas do mercado interno.

Isso se mostrou uma questão polêmica no ano passado, quando líderes filipinos anunciaram acordos agrícolas com investidores chineses, de cerca de US$ 5 bilhões, para o cultivo de grãos como arroz, milho e sorgo. Nos últimos anos, lavradores filipinos têm lutado para sustentar suas famílias por causa de uma falta crônica de investimento na agricultura e não querem que chineses invistam em suas terras para exportar os alimentos.

Em carta à presidente Gloria Macapagal-Arroyo, eles pediram o bloqueio do acordo e os planos foram suspensos. Mas o governo espera enviar uma delegação à China para discutir mais possibilidades de investimento agrícola.

A questão fundamental é garantir que os investimentos estrangeiros atendam a população local. Os investidores chineses precisam desenvolver produção "não só para a mesa dos chineses, mas também para a mesa dos filipinos", diz o senador Edgardo Angara, presidente do comitê de agricultura no Senado filipino.

Os sauditas também estão cientes da potencial reação política. Khalid Zainy, empresário saudita envolvido no esforço do seu país para buscar investimentos agrícolas, diz que acordos com governos estrangeiros provavelmente vão reservar parte da colheita para venda no mercado local. "Isso é para assegurar que os projetos não sejam interrompidos e que os países e as pessoas de lá não nos causem problemas", diz ele.

Muitos desses acordos devem ter resultado nos próximos anos. Investidores da China, que importa enorme quantidade de soja e óleo de palma, estão comprando áreas de terra cultivável na África e no Sudeste Asiático. A Coréia do Sul também considera investir num projeto agrícola de 270 mil hectares na Mongólia.

Mas até mesmo os países exportadores de alimentos que enfrentam a falta de terras agrícolas têm buscado investir no exterior para aumentar a produção. A Malásia, importante produtora de óleo de palma (também conhecido no Brasil como óleo de dendê), tem desenvolvido plantações na África e América Latina. Esta semana, a Felda, agência do governo malaio de desenvolvimento agrícola, anunciou que plantará 100 mil hectares de palma em Tefé, a 570 Km de Manaus, em sociedade com a Braspalma.

Com o aumento dos preços internacionais de alimentos, a conta que a Arábia Saudita paga para importá-los cresceu em média 19% ao ano nos últimos quatro anos, chegando a US$ 12 bilhões em 2007, o que faz dela maior importadora de alimentos do Oriente Médio, segundo recente estudo do banco saudita SABB.

Autoridades sauditas estudam a criação de um veículo de investimento - uma parceria entre governo e setor privado - para procurar projetos agrícolas em países com grandes áreas de terra cultivável. Investidores sauditas também estão de olho em projetos agrícolas nas Filipinas, no Senegal e Sudão - alguns dos lugares onde a inflação dos alimentos tem causado problemas.

Defensores desses planos dizem que uma entrada de capital e conhecimento técnico em regiões africanas ou no Sudeste Asiático, onde a produtividade das terras é relativamente baixa, pode aumentar a produção e beneficiar toda a indústria agrícola local, além do que for exportado.

Abdul Rahim Hamdi, ex-ministro da Economia do Sudão e membro de um grupo governamental que promove investimentos no país, diz que a aposta de estrangeiros na agricultura cria empregos e reforça o suprimento interno de alimentos, mesmo se a maior parte da colheita for exportada. "No Sudão, não nos preocupa que esses projetos exportem as colheitas", diz ele. "Não acho que isso incomode as pessoas no país."

Mas, como mostra a experiência recente da Indonésia, exportar alimentos e ao mesmo tempo garantir que haja o suficiente para o mercado doméstico pode ser algo difícil de equilibrar.

Em maio, eclodiram na capital Jacarta protestos por causa do custo do óleo comestível. A Indonésia é a maior produtora mundial de óleo de palma, que pode ser usado para fabricar óleo de cozinha, mas as empresas preferem vender a maior parte da produção no exterior, onde os preços são melhores do que internamente. O governo reagiu aos protestos com a imposição de tarifas altas para a exportação do óleo.

Mesmo que a Indonésia e outros países consigam equilibrar a situação, levará anos e polpudos investimentos até que projetos em áreas remotas como Papua consigam decolar.

A província indonésia de Papua, na metade oeste da Ilha de Nova Guiné, tem o dobro do tamanho do Paraná e só 3 milhões de habitantes. É uma das regiões mais pobres do país, com poucas estradas e onde a maior parte do transporte é por barco ou avião.

No ano passado, o governo local de Merauke, um distrito pantanoso na costa sul de Papua, traçou um plano para transformar a área, de baixa população, num centro de produção de alimentos. Nos últimos anos, a Indonésia passou a ser um importador líquido de arroz como conseqüência do avanço da urbanização sobre terras cultiváveis de Java, a principal de suas 17.508 ilhas. As autoridades de Merauke esperavam cobrir a deficiência.

Com o aumento dos alimentos no começo deste ano, o Medco Group, conglomerado indonésio com operações em petróleo e gás, se ofereceu para apoiar financeiramente o plano de Merauke e ajudá-lo a encontrar investidores estrangeiros. Além de participar das plantações, a Medco também propôs a criação de instalações para produção de álcool combustível.

“Antevemos uma oportunidade de negócios relacionada à atual crise de alimentos e petróleo", diz Yani Panigoro, conselheiro da Medco Group.

Em abril, alguns dos principais executivos do grupo promoveram a idéia num encontro com o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono. Propuseram que o governo central, que tem a última palavra sobre o uso da terra, deveria alocar pelo menos 1 milhão de hectares de Merauke para a produção de cana, sorgo doce, arroz, soja e milho. Cerca de dois terços das colheitas iriam para a produção de álcool e o restante ficaria para alimentação. O governo de Merauke quer que o governo central permita o uso de 1,6 milhão de hectares.

Yudhoyono prometeu apresentar o plano para investidores estrangeiros. Ainda não há uma estimativa oficial de quanto dinheiro o plano vai precisar, mas com certeza vai ser um empreendimento enorme: estão na prancheta 2.200 Km de estradas, três portos, 400 Km de sistemas de irrigação e uma usina de energia elétrica de 500 megawatts.

No mês passado, uma delegação oficial da Indonésia teve reuniões no Oriente Médio com investidores sauditas, entre eles o empresário Khalid Zainy, um dos envolvidos nos esforços de seu país na busca de investimentos agrícolas. Zainy confirmou as conversas com os representantes indonésios, mas disse que falta finalizar um acordo com eles.

O Ministério da Agricultura da Indonésia estima que o projeto possa aumentar a produção interna de arroz em 6 milhões de toneladas por ano. (A previsão de produção total este ano é de 33 milhões de toneladas, totalmente para consumo interno.) No futuro, a demanda local de arroz será coberta antes de qualquer exportação, diz Hilman Manan, diretor geral da divisão de administração de terras e água do ministério. "A Indonésia tem de vir em primeiro lugar."

Há quem diga que esses planos podem prejudicar o meio ambiente, com a destruição de florestas naturais de eucalipto que cobrem muitas áreas de Merauke. Os pântanos da região também armazenam grande quantidade de dióxido de carbono; a drenagem para transformá-los em terra cultivável pode liberar enormes quantidades de dióxido de carbono, o gás responsável pelo aquecimento global.

Conseguir que os papuas concordem com o projeto também pode não ser fácil. A maioria deles ainda depende da floresta para caçar e tem direitos tribais de propriedade da terra que freqüentemente se sobrepõem às leis indonésias. A Medco propõe que o país siga políticas implementadas no Brasil, onde o arrendamento por longo período é reconhecido por lei e os proprietários se beneficiam de investimentos agrícolas por meio de acordos de divisão de lucros.

Rizal Ramli, ex-ministro da Economia da Indonésia, diz que cerca de 40% da população da província vive com menos de US$ 14 por dia e, a menos que o plano para Papua melhore o padrão de vida local, provavelmente vai fracassar. "Como modelo de negócios, parece realista", diz Ramli. "Mas a questão é como os papuas serão beneficiados por esse investimento"

segunda-feira, julho 14, 2008

Um pouco mais sobre ações do Agronegócio

Aproveitando o tema postado ontem, encontrei no Portal Exame, duas matérias interessantes sobre ações de empresas do agronegócio. A primeira mostra o excelente desempenho de empresas do setor e a segunda mostra as melhores opções de investimento e, entre as 10 empresas escolhidas, temos quatro empresas do agronegócio.

Abaixo encontram-se, na íntegra, as duas notícias e o primeiro encontra-se na íntegra aqui e o segundo aqui:

Ações do setor agrícola lideram ranking de rentabilidade em 2008

Papéis sobem até 84% impulsionados pela alta nos preços dos alimentos em todo o mundo

Por Francine De Lorenzo

Basta uma rápida passada pelos corredores dos supermercados para constatar que a inflação está de volta. E não são só as gôndolas no Brasil que denunciam a escalada dos preços. Nos Estados Unidos, na Europa e em diversos países ao redor do planeta o assunto já é olhado com cautela pelas autoridades. Se por um lado o surto inflacionário traz a boa notícia de que há mais gente consumindo, por outro agrava o problema da fome mundial. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de um bilhão de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza, com menos de 1 dólar por dia. Para essas pessoas está ainda mais difícil ter acesso a alimentos, que de acordo com o Commodity Research Bureau, instituto de pesquisas americano que acompanha o setor, ficaram 190% mais caros nos últimos dois anos.

Os investidores que conseguiram perceber o descompasso entre o crescimento da oferta e o da demanda mundial por por produtos agrícolas meses atrás, entretanto, viram suas aplicações engordarem. Apenas no primeiro semestre de 2008, os papéis da SLC Agrícola, produtora de algodão, milho, soja e café que estreou na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) em junho do ano passado, subiram 83,92%. O retorno foi tão positivo que, mesmo diante de um período de instabilidade no mercado acionário, a companhia se animou em lançar uma nova oferta de ações e, no dia 27 de junho, colocou mais 11,7 milhões de papéis no mercado.

A Renar Maçãs, por sua vez, após um início difícil na Bovespa em 2005, já contabiliza valorização de 83,76% neste ano. A companhia chegou a amargar perdas de mais de 60%, mas no ano passado recuperou o fôlego e acumulou ganhos de 182,15%.

Com números tão atrativos, o segmento agrícola lidera o ranking de rentabilidade de ações em 2008, que traz na segunda posição outro setor fortemente impulsionado pela demanda mundial: siderurgia.

O ciclo de crescimento puxado pela China, aliado aos baixos estoques de aço no mundo, garantiram às empresas do ramo fortes ganhos nos últimos meses. Os papéis da CSN, depois de receberem o título de mais rentáveis em 2007, subiram 36,78% no semestre. Os ganhos, entretanto, ficaram abaixo dos proporcionados pelas ações da Gerdau e da Usimimas – 43,91% e 48,07%, respectivamente. “As ações da Usiminas ainda estão muito baixo do valor das concorrentes. Se a inflação não derrubar o mercado, os retornos para os acionistas devem ser generosos”, diz o analista da corretora Brascan Rodrigo Ferraz.

Das dez ações do Ibovespa que mais subiram no ano, cinco são de siderúrgicas. O resultado reflete os 23%, em média, de reajuste nos preços do aço no primeiro semestre e a expectativa de um novo aumento - dessa vez por volta de 15% - em meados de julho. “Por enquanto, não há indícios de que a inflação vai derrubar o consumo de automóveis, linha branca e imóveis. Nem mesmo o crescimento da inadimplência está afetando os negócios”, afirma Ferraz.

A campeã de rentabilidade em 2008, porém, não vem nem do setor de siderurgia, nem dos agronegócios. A incorporação da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil levou as ações da instituição paulista às alturas, fechando o semestre com uma valorização de 84,94%. O caso provocou discussões no mercado, com concorrentes como Bradesco, Itaú e Unibanco reivindicando um leilão para terem a chance de participar do negócio. Chegou-se a cogitar que a venda da Nossa Caixa seria atrelada à privatização da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), que teve seu processo de venda fracassado por falta de interessados. A operação casada foi negada pelo governador de São Paulo, José Serra.






Consenso do mercado traz sugestões em busca de oportunidades na bolsa

Infomoney

As ações ordinárias da Telesp (TLPP3) são novamente as preferidas dos analistas, de acordo com o MCI, que é o índice de consenso de mercado elaborado pela InfoMoney.

O indicador, que compila a análise de 24 corretoras e bancos de investimentos, atribui a nota máxima (5,00) aos papéis ordinários da companhia. Muito embora não apresentem grande liquidez e, portanto, tendam a ficar em segundo plano para boa parte dos investidores, os papéis parecem contar com boas perspectivas.

Para uma melhor interpretação do MCI, é sempre importante considerar o número de avaliações atribuídas a cada ativo. Uma maior quantidade de opiniões tende a tornar mais robusta a sugestão. Neste caso, especificamente, vale ressaltar que as ações da operadora receberam três opiniões.

Outro ponto importante do indicador é que ele considera os princípios de análise fundamentalista, sendo, portanto, mais recomendado para investidores que atuam buscando rentabilidade de longo prazo.

Dividendos e cenário promissor

De um modo geral, as boas perspectivas dos analistas com as ações da Telesp refletem, principalmente, o sólido histórico de distribuição de dividendos da companhia, que eleva a atratividade dos papéis em tempos de maior turbulência.

"Esse é, sem dúvida, o principal atrativo da Telesp, cuja forte geração de caixa tem sido distribuída quase que integralmente aos seus acionistas", afirma a equipe da corretora Ativa. Dando força a esta visão, o Credit Suisse ressaltou que a companhia possui grande flexibilidade financeira para distribuir seus ganhos aos acionistas. O dividend yield projetado para 2008 é de 12%.

Além disso, os analistas do Santander destacam como ponto favorável o objetivo da companhia de ampliar sua participação nos mercados de banda larga e TV a cabo, que apresentam um cenário promissor.

Neste sentido, a equipe do Bradesco destaca que a empresa é muito forte em serviços de dados e que a receita oriunda do segmento de TV por assinatura está em pleno crescimento, o que compensa parcialmente as perdas no segmento fixo.

Quanto à escolha pelas ações ordinárias da Telesp, a Ágora Corretora afirma que o desconto frente aos papéis preferenciais da companhia deve ser eliminado, em razão do maior alinhamento de interesse com os controladores. Desta forma, os analistas aconselham os investidores que não tenham restrição à liquidez do papel.

Pódio disputado

Em segundo lugar, com nota 4,72, os papéis ordinários da Datasul também aparecem como boa opção de investimento. Os sólidos fundamentos e as expectativas por bons resultados são alguns dos pontos apontados pelos analistas para deixar os ativos em boa situação.

O Credit Suisse acredita que o investment case da Datasul apresenta vários pontos positivos, como alta geração de fluxo de caixa, boas perspectivas de ganhos e exposição ao crescente mercado de software no Brasil.

Já a Ativa ressalta como positiva a estratégia agressiva de aquisições da companhia, que já soma dez compras desde dezembro de 2006. "Esta estratégia, além de expandir o tamanho da empresa, amplia o potencial de crescimento orgânico".Para este ano, os analistas projetam um avanço de 30% na receita líquida, impulsionado em parte pelas aquisições.

Em adição, a aprovação do programa de recompra de ações da empresa também recebe elogios. Segundo os analistas, a notícia é positiva para os papéis da Datasul, já que a operação tem como objetivo sinalizar ao mercado que a empresa considera os seus ativos abaixo de seu valor justo.

Já com nota 4,69, nada menos que seis companhias aparecem empatadas em terceiro lugar. As ações ordinárias de Porto Seguro, Petrobras, M. Dias Branco, Fertilizantes Heringer, Tecnisa e Açúcar Guarani dividem o posto.

No caso da Porto Seguro, mesmo atuando em um segmento bastante competitivo, a seguradora conta com um bom posicionamento em função de seu foco estratégico nos seguros de automóveis, se beneficiando da expansão nas vendas de veículos.

A estatal petrolífera brasileira também aparece bem cotada. Os analistas citam os recentes anúncios de novas descobertas e as crescentes projeções para os preços do petróleo como principais drivers para os papéis da companhia.

A M.Dias Branco oferece, na visão dos analistas, uma combinação interessante entre forte crescimento e grande geração de caixa, por meio do preenchimento de sua grande capacidade ociosa. Eles esperam um bom pagamento de dividendos no futuro e oportunidades atrativas de fusões e aquisições.

Em meio ao bom momento para o segmento de fertilizantes, os analistas acreditam que a Heringer irá apresentar um crescimento nos próximos anos acima da média, aumentando assim sua participação no mercado.

A boa performance de vendas e expectativa por bons resultados aparecem entre os principais fundamentos para a visão favorável dos especialistas às ações da Tecnisa.

Por fim, a Açúcar Guarani deve se beneficiar das melhores premissas para o setor sucroalcooleiro, principalmente em função da recuperação dos preços do açúcar. Além disso, o crescimento da demanda doméstica também aparece como ponto positivo.

O que é o MCI?

O Market Consensus Indicator (MCI) tem como principal objetivo facilitar as decisões de investimento dos usuários do site no mercado de ações.

Considerando uma amostra com informações e projeções de diversos bancos de investimento e corretoras, o indicador busca trazer um indicador de consenso entre os analistas de mercado a respeito das recomendações de uma determinada ação.

Variando em uma escala de 0 (venda forte) a 5 (compra forte), o indicador é calculado a partir das recomendações dos analistas consultados, trazendo um resumo do consenso. É importante destacar que o MCI é calculado apenas para ações com ao menos três recomendações de analistas distintos.


Co-geração das usinas - aproveitamento da biomassa da cana

A co-geração de energia elétrica em usinas de açúcar e álcool é algo que existe há muito tempo, entretanto, mudanças no mercado de energia elétrica e desenvolvimento de novas caldeiras, que por gerarem vapor em pressões superiores as pressões das caldeiras da época do Pró-álcool geram mais energia com a mesma quantidade de bagaço, o mercado encontra-se em transformação.

A reportagem abaixo da Revista Exame mostra como a Usina Equipav está inserida neste novo contexto:

Do bagaço ao megawatt

Maior geradora de energia elétrica, a Equipav ilustra a face mais moderna dos produtores de açúcar e álcool. Agora, as usinas querem ser vistas como “refinarias de energia”

Por Fabiane Stefano, de Promissão

O engenheiro Newton Salim Soares, superintendente da Equipav, usina de açúcar e álcool situada em Promissão, no noroeste paulista, costuma percorrer as instalações industriais com olhos atentos ao desperdício. Ele procura, sobretudo, vazamentos de vapor de água nas tubulações. Para Soares, e todos que trabalham com ele, vapor perdido é energia que deixou de ser gerada. “É o mesmo que jogar dinheiro fora”, diz. Diferentemente da maioria das empresas do setor sucroalcooleiro, centradas na produção de açúcar e etanol, a obsessão da Equipav é produzir megawatts. Hoje, a empresa é a maior geradora de energia elétrica obtida de biomassa no país, segundo estimativas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Em 2008, a Equipav deve gerar energia elétrica suficiente para abastecer uma cidade de 2 milhões de habitantes. Em agosto, uma nova unidade da empresa começará a operar na cidade de Brejo Alegre, também no interior de São Paulo, onde serão instalados inicialmente 66 megawatts de potência. Só na usina de Promissão são necessárias quase 2 milhões de toneladas de bagaço de cana por ano para alimentar uma caldeira de alta pressão, a maior em operação numa usina no Brasil. O bagaço é o material orgânico que sobra depois do processo de moagem da cana, quando é extraído o caldo para produzir açúcar e álcool. Num passado não muito distante, o acúmulo de bagaço significava apenas um problema ambiental para as usinas. “Chegamos a enterrar a sobra, porque não tínhamos o que fazer com ela”, diz Soares. Agora, o resíduo — uma enorme pilha com altura de um prédio de quatro andares que se acumula ao lado da usina — é fonte de riqueza: a Equipav acabou de fechar com a fabricante de papel International Paper um contrato de 250 milhões de dólares para fornecer energia a suas fábricas nos próximos 12 anos. É um sinal de quão promissor pode ser o negócio da biomassa.

Construída em 1980 por um grupo de três famílias paulistas donas de uma fábrica de pavimento asfáltico — daí o nome Equipav —, a usina é quase exceção no setor sucroalcooleiro. Das 405 usinas brasileiras, apenas 48 vendem energia a distribuidoras ou outras empresas. Elas fornecem o equivalente a apenas 3% da energia elétrica consumida no país. Mas a aposta é que esse número cresça a partir de agora — segundo o próprio governo, em 2011 as usinas poderão fornecer até 6% da energia elétrica consumida no país. Para que isso se materialize, mais e mais usinas terão de seguir os passos da Equipav. Ela é a única do país a ter uma caldeira com pressão de 90 bar, a mais alta em operação no setor hoje. A pressão está diretamente relacionada à eficiência na geração de energia elétrica: quanto mais elevada, mais megawatts são obtidos. A imensa maioria das usinas trabalha com equipamentos antigos, de apenas 22 bar e um terço do rendimento do modelo adotado pela Equipav — o que garante energia para consumo próprio, mas deixa pouco para a comercialização externa. Por isso, as usinas em geral vendem energia às distribuidoras apenas no período de safra, de abril a novembro. A Equipav, que chega a comprar bagaço de uma usina vizinha, fornece energia o ano todo a CPFL, Eletropaulo, Duratex e Unilever.

As velhas usinas são retrato de uma época em que o principal produto do setor era o açúcar. O etanol, que nasceu nos anos 70 com o Proálcool, consolidou-se nos últimos cinco anos como fonte importante de faturamento das empresas, com o fenômeno do carro flex. Já a energia elétrica começou a ser considerada uma oportunidade de negócios durante o apagão de 2001 — quando qualquer megawatt extra que era gerado virou objeto de disputa. Mas apenas recentemente o negócio da energia passou a ser mais sedutor para as usinas, à medida que o preço do megawatt subia e as cotações do etanol e do açúcar caíam. De acordo com a Unica, a margem média de lucro obtido pelos usineiros com a geração de energia é de 15%, enquanto tanto o açúcar como o álcool estão, neste momento, dando prejuízo à maioria das empresas em razão da queda nas cotações.

Naturalmente, o cenário não passou despercebido pelo setor, principalmente pela nova geração de usinas. A maioria delas está sendo construída para explorar etanol e eletricidade, deixando o açúcar de lado — muitas se autodefinem como “refinarias de energia”. A Brenco, empresa brasileira capitalizada por fundos estrangeiros, pretende investir 2,3 bilhões de reais em dez usinas de etanol. Juntas, terão potência instalada de 600 megawatts, o equivalente a 10% das duas futuras usinas hidrelétricas do rio Madeira, em Rondônia. “Cerca de 20% da receita líquida da empresa virá de energia”, diz Rogério Manso, vice-presidente da Brenco. Outra empresa financiada por capital estrangeiro, a Cerona, está construindo duas usinas em Mato Grosso do Sul que, além do bagaço da cana, vão queimar eucalipto para gerar energia. “Ao fechar contratos longos de energia elétrica, a usina fica menos exposta aos altos e baixos do mercado de commodity, que é o caso do etanol e do açúcar”, diz João Rossi, superintendente agrícola da Cerona. O grupo português EDP também anunciou que estuda entrar na geração de energia de biomassa, com um projeto estimado em 1 bilhão de reais. O setor como um todo tem grande potencial energético a ser explorado. “Há quase uma Itaipu nos canaviais”, diz Carlos Roberto Silvestrin, da Associação Paulista de Cogeração de Energia (Cogen). A associação calcula que, se dois terços das usinas utilizassem caldeiras de alta pressão — o que exigiria investimentos de 16 bilhões de reais —, seria possível alcançar uma capacidade de 14 800 megawatts. Hoje, com todas as usinas de energia, o Brasil pode gerar 100 000 megawatts.

Será necessário, no entanto, superar algumas limitações para que todo esse potencial seja concretizado. A primeira delas é o alto custo de ligação das usinas às linhas de transmissão — investimento que sai dos bolsos dos usineiros. As usinas estão dispersas por um imenso território, especialmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. O desafio é ligá-las às linhas de transmissão. “Cada quilômetro de conexão custa 480 000 reais”, diz Plínio Nastari, diretor da Datagro, consultoria especializada no setor sucroalcooleiro. “E há usinas que estão a 100 quilômetros da linha de transmissão.” No caso de Mato Grosso do Sul e Goiás, a situação é pior — o governo federal ainda está construindo o chamado “linhão” de transmissão, e só então as usinas poderão se conectar a ele.

Outra dificuldade diz respeito ao preço que vem sendo estimado para a energia do bagaço. Após dois adiamentos, o governo programou para 30 de julho a realização do primeiro leilão de compra de energia gerada de biomassa, com contratos de 15 anos de duração e entrega prevista para começar em 2009. Um total de 114 empresas se inscreveu para participar. Mas não se sabe se todas de fato estarão presentes — algumas se dizem frustradas com o teto de 149 reais por megawatt-hora fixado pelo governo. “O valor não remunera os investimentos que as usinas precisam fazer em equipamentos para gerar a energia”, diz Pedro Mizutani, vice-presidente do grupo Cosan. “A conta não fecha.” Com 18 usinas em operação e outras três em construção, a Cosan, maior conglomerado do setor sucroalcooleiro do Brasil, já tem capacidade instalada de 120 megawatts, provenientes de apenas três unidades, para oferecer no leilão. O plano da empresa seria investir 3,5 bilhões de reais na instalação de outros 600 megawatts de potência, mas esse dinheiro pode acabar redirecionado para outras áreas. “Ainda estamos avaliando as condições dos leilões, mas por esse preço não devemos oferecer mais que 20% do que havíamos planejado”, diz Mizutani.

Para complicar a situação, os últimos leilões de energia das hidrelétricas achataram ainda mais os patamares de preços. Em junho, foi fixado o valor de 71 reais para o megawatt-hora que será gerado em Jirau, uma das novas hidrelétricas previstas para o rio Madeira. Os usineiros e a Unica tentam convencer a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, de que a biomassa não deve ser vista como concorrente das hidrelétricas, mas sim como uma alternativa mais limpa que as térmicas a gás e a óleo e mais econômica que as usinas eólicas — o que justificaria melhoria no preço. Foi Dilma quem, no fim de 2007, encheu os olhos dos usineiros enaltecendo a importância da bioeletricidade no suprimento energético brasileiro. “Mas foi só começar a chover e o nível dos reservatórios das hidrelétricas subir para o governo perder o interesse por biomassa”, diz um representante do setor. Segundo Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao Ministério de Minas e Energia, o governo pode até melhorar o preço, mas provavelmente não chegará perto do que cobram os empresários do setor. Segundo ele, ao fazer novos investimentos em energia, os usineiros melhoram também o retorno dos outros negócios — etanol e açúcar. “Não seria justo que o consumidor de energia elétrica bancasse a expansão das usinas”, diz.

Enquanto o imbróglio do preço não se resolve, é possível que muita gente desista de investir na modernização das usinas. Quem já o fez deve procurar a negociação direta no mercado livre com grandes consumidores, como fez a Equipav. Embora o mercado livre tenda a remunerar melhor a usina, os contratos são de prazo mais curto e implicam risco maior. “Muitas usinas preferem vender nos leilões porque os contratos servem de lastro para negociar empréstimos no BNDES”, diz Marcelo Parodi, presidente da Comerc, comercializadora independente de energia elétrica. “O ideal é diversificar, mantendo contratos com o governo e com a iniciativa privada.” Hoje, no mercado livre, o megawatt-hora chega a ser fechado a 170 reais. Para o país, com o fantasma do apagão sempre à espreita, o que importa é que a energia do bagaço seja efetivamente gerada — se o contrato será assinado pelo governo ou por um grande consumidor é o de menos. O que não pode é faltar megawatt no futuro.


Dificuldades da China em manter ganhos na produção agrícola

Segundo notícia da Reutes de 12 de julho, o ministro da China disse que ,após vários anos de crescimento na produção de grãos, a presença de desastres naturais, falta de investimentos e métodos de produção agrícola menos intensivos irão restringir o crescimento da produção segundo o governo chinês. Isso tornará mais difícil atender à demanda de alimentos do país.

Segundo o Ministro da Agricultura Sun Zhengcai “No longo prazo, a pressão para suprir a demanda agrícola está aumentando”.

Este estudo aparece logo após a divulgação do quinto ano seguidos de boas safras, algo inédito desde a fundação da China Comunista em 1949.

Para minimizar os efeitos disso, o governo lançou um orçamento de 1,5 bilhões de dólares para pesquisa em OGMs dentro de suas preocupações com a segurança alimentar. Além disso, tem desde o ano passado, tomado uma série de medidas para encorajar um aumento do plantio, uma vez que os preços dos alimentos tem sido a maior fonte da inflação no país.

Pequim também esta controlando preço de commodities importantes para diminuir a pressão inflacionaria, pois até mesmo o preços dos fertilizantes e combustíveis estão aumentando. E sgundo Sun, isso diminui o incentivo de colocar mais áreas para produzir.

A reportagem na íntegra encontra-se, em inglês, no site do The Guardian.

domingo, julho 13, 2008

Filme parodiando inovação na indústria do "fast-food"

Encontrei no site The Onion um filme parodiando a capacidade de inovação da indústria do "fast-food".

Ele está em inglês, mas não precisa entender o idioma para dar umas boas risadas.

Para visualizar o filme no site original clique aqui:

Brasil - exportando tecnologia do etanol

O Brasil e as empresas brasileiras do setor sucroalcooleiro tem muito a ganhar caso o etanol vire uma commodity internacional. A reportagem abaixo da Agência Estado mostra a intenção do governo do Sudão no investimento em etanol por parte do Brasil.

O Sudão é um grande produtor de açúcar a partir da cana e conheço técnicos brasileiros que já foram lá.

Brasil terá 18 usinas de etanol no Sudão

O Brasil abrirá 18 usinas de etanol no Sudão e o governo de Cartum quer o País seja "a segunda China" em termos de investimentos na economia sudanesa. Pequim já investiu mais de US$ 10 bilhões no país, principalmente no setor do petróleo. O regime ditatorial sudanês enfrenta críticas e embargos internacionais pelo massacre que ocorre em Darfur e alguns de seus ministros estão sendo indiciados na Corte Penal Internacional por crimes contra a humanidade.

Mesmo assim, estão buscando novos parceiros e querem comprar tecnologia brasileira para iniciar a produção de biocombustíveis. "Temos planos de expandir a produção de açúcar e queremos a ajuda do Brasil nisso", afirmou o vice-secretário de Relações Exteriores, Mutrif Saddig.

A primeira usina foi comprada da empresa Dedini e desembarcará no porto do Mar Vermelho do Sudão nas próximas semanas, com o valor de US$ 15 milhões. Os sudaneses, porém, querem um total de 18 usinas, todas brasileiras. "Não vamos produzir a partir de milho. Queremos a tecnologia brasileira", disse o vice-secretário.

Mais cartoons. Agora sobre Biocombustíveis

Na sequência abaixo estão alguns cartoons que encontrei na net sobre biocombustíveis. O mais interessante, segundo minha opinião, é o que questiona o real ganho para o meio-ambiente do etanol de milho ao mostrar todo o consumo de petróleo e fertilizantes para a sua produção.

Em compensação, o segundo cartoon, que faz uma defesa quase surreal da utilização do milho ao forçar a barra mostrando uma pessoa comendo milho e simplesmente ignorando o uso em outras aplicações.






sábado, julho 12, 2008

Preços relativos dos fertilizantes

Ao ler uma reportagem na Dinheiro Rural deste mês que comentava o aumento do custo dos fertilizantes no Brasil e mostrava o aumento da quantidade de produto agrícola necessária para pagar uma tonelada de fertilizante (relação de troca) para milho e soja, entrei no site da ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos) e encontrei uma tabela interessante com esta relação de troca para diferentes culturas de 2005 até maio de 2008. A tabela encontra-se abaixo: Podemos observar que as culturas mais prejudicadas foram: Algodão, Arroz, Batata e Cana-de-Açúcar com variações por volta de 50%.

quarta-feira, julho 09, 2008

Charges sobre os subsídios

Encontrei na internet algumas charges interessantes sobre os subsídios agrícolas das nações ricas e o que eles causam principalmente nos países pobres da África.

Como acho muito sem graça traduzir este tipo de coisa, peço desculpa, mas os textos estão em inglês mesmo.






Em breve colocarei mais algumas charges sobre etanol e biodiesel que encontrei.

Ações do agronegócio recomendadas pela EXAME

Na edição de 07 de fevereiro deste ano, a Exame elencou em alguns setores as ações com maiores chances de ganho, segundo especialistas do mercado.

Para o setor de agronegócios foram selecionadas SLC Agrícola, Perdigão e Sadia. A análise encontra-se na sequência:

AGRONEGÓCIO

Mais vendas de alimentos para países emergentes
Empresas como Perdigão e Sadia beneficiam-se do maior consumo na Ásia

O forte aumento do consumo de alimentos em países emergentes continuará beneficiando as vendas da Perdigão e da Sadia neste ano. É essa a avaliação dos analistas ouvidos por EXAME. As empresas são as maiores produtoras de carne e frango do país e exportam boa parte dessas mercadorias para a Ásia e o Oriente Médio. Além disso, têm a vantagem de não depender das vendas de carne bovina para o exterior, que serão prejudicadas pelas barreiras impostas pela União Européia. A grande aposta dos analistas é a Perdigão, que em 2007 passou a Sadia e assumiu a liderança do mercado brasileiro de alimentos. "A empresa é bem administrada e tem um portfólio diversificado de produtos", diz Fabio Guimarães, analista de renda variável da gestora carioca Rio Bravo. Espera-se ainda que a Perdigão comece a exportar leite nos próximos meses depois de ter comprado a fabricante de laticínios Eleva no ano passado.

A Sadia também faz parte da lista de recomendações em razão da expectativa de que investirá pesado para retomar a liderança do mercado. No fim de 2007, a empresa inaugurou uma fábrica na Rússia -- sua primeira unidade no exterior --, o que deve favorecer as exportações. Outra indicação dos especialistas é a SLC, uma das maiores produtoras agrícolas do país, com plantações de algodão, soja, milho e café em cinco estados. A SLC vem lucrando com os altos preços das commodities agrícolas no mercado externo, não afetados pela crise internacional.

Apesar de também ser do Agronegócio, a Aracruz foi inserida no setor de commodities.

Nas figuras abaixo temos os dados referentes às expectativas das ações:
Com o objetivo de monitorar o desempenho destas ações e compará-las com algumas ações do setor, elaborei uma lista com 8 ações. As 6 primeiras foram retiradas da lista da maiors empresas do Agronegócio segundo ao Anuário Exame do Agronegócio 2008-2009 e as outras duas são do setor sucroalcooleiro (setor em expansão considerável com várias IPOS nos últimos tempos).

As ações escolhidas e suas respectivas siglas na Bovespa foram:
  • Souza Cruz (CRUZ3), JBS Friboi (JBSS3), Suzano (SUZB5), Klabin (KBLN4), Votorantim Celulose e Papel (VCPA4) e Marfrig (MRFG3) escolhidas entre as maiores e
  • São Martinho (SMTO3) e Cosan (CSAN3) do setor sucroalcooleiro.

Foram coletados os valores das ações e o Índice Bovespa em toda a sexta-feira durante o primeiro semestre. O valor da ação no dia 02 de janeiro foi considerado como o valor de referência igual a 100.

Para cada sexta-feira, foram calculadas as médias das 4 ações recomendadas pela Exame e das 8 ações escolhidas por mim.

No gráfico abaixo encontra-se a variação destas médias durante o período e nos mostra que o rendimento médio das ações foi superior à variação da Bovespa e que, excetuando-se o primeiro mês do ano, o portfólio da Exame obteve rendimento superior ao portfólio escolhido por mim.


No final do ano, voltaremos a analisar estes portfólios.

Outros comentários sobre ações de frigoríficos

Postei recentemente (4 de julho) uma nota da Exame onde os analistas recomendavam a compra de ações do JBS Friboi, entretanto, na edição de julho da Dinheiro Rural, analistas do HSBC, após análise dos frigoríficos brasileiros listados na Bovespa e recomendaram as seguintes ações abaixo:
  • MARFRIG - Compra
  • JBS Friboi - Posição Neutra
  • Minerva - Venda

Vamos esperar o tempo passar e ver quais analistas estão corretos.

terça-feira, julho 08, 2008

Aumenta o hedge de açúcar

Sou um entusiasta da utilização de mercados futuros para a proteção de preços (“hedge”). O artigo abaixo publicado na Gazeta Mercantil de ontem mostra o amadurecimento desta técnica de gerenciamento de riscos no setor sucroalcooleiro brasileiro:

Açúcar está fixado para 2010

Enquanto a prática de firmar contratos antecipados de exportação amadurece na comercialização de álcool, no açúcar ela já está presente há muitos anos. A safra 2008/09 de açúcar no Brasil está com mais de 90% dos preços fixados desde o início do ano.

Segundo estimativas da Safras & Mercado, o ciclo seguinte, o 2009/10, também começou a ser fixado, percentual que está atualmente entre 20% e 25% da safra. "Por conta da forte volatilidade de preços da commodity no mercado internacional, não se tem uma média precisa do valor fixado para a próxima safra. Parte está fixada a 15 centavos de dólar a libra-peso, parte a 13 centavos", explica Miguel Biegai, analista da Safras & Mercado.

Nesta semana, os preços do açúcar na Bolsa de Nova York (Nybot) voltou a ultrapassar a casa dos 15 centavos de dólar a libra-peso. O contrato de março encerrou a semana - quinta-feira, dia 3 - a 15,33 centavos de dólar a libra-peso, alta de 1,3% em dois dias.

As exportações do produto no ano (janeiro a junho) estão 9,2% menores que em igual período do ano passado. Foram 7,5 milhões de toneladas, ante as 8,3 milhões de igual período de 2007. A receita recuou acima do volume exportado.

Foram US$ 2 milhoes, ante os 2,3 milhões do primeiro semestre do ano passado, queda de 12%. As exportações para a Rússia aumentaram neste ano 6%, de 1,8 milhão de toneladas para 2 milhões.

Números interessantes sobre a produção de alimentos

O artigo abaixo, publicado na Folha de São Paulo de ontem, de autoria do Prof. Rógerio Cerqueira Leite tem números muito interessantes sobre a produção de alimentos e de bioenergia:

O etanol e a solidão das vaquinhas brasileiras

Rogério Cezar de Cerqueira Leite

De todas as críticas que se erigiram nos últimos cinco ou seis meses ao álcool combustível de cana-de-açúcar, a mais renitente é aquela que se refere à competição com a produção de alimentos.

No que segue, vamos demonstrar que há muita ignorância e uma certa dose de má-fé no alicerce desses argumentos. Afirmam os especialistas que a população do globo deverá estacionar entre 9 bilhões e 10 bilhões de habitantes. Como todo mundo sabe, a máquina biológica humana consome em média 2.000 kcal por dia. Isso corresponde a aproximadamente 600 gramas de cereal por dia, o que, para um vegetariano, é suficiente.

O Homo sapiens, porém, pode usar o dobro: para cada quilo de carne, consome entre 7 kg (gado confinado) e 2 kg (frango de granja) de cereal. Supondo um consumo individual de 40 kg a 60 kg de carne por ano (frutos do mar etc. vão de lambujem), podemos deduzir que mais 600 gramas de cereal serão necessários por dia.

Com isso, a humanidade, para viver saudavelmente, deverá consumir anualmente, direta e indiretamente, entre 4 bilhões e 5 bilhões de toneladas por ano de cereais, o que demandaria uma área de cerca de 800 milhões de hectares com tecnologias atuais (produtividades entre 10 toneladas/ha por ano, que é o caso do milho, e 4 toneladas/ha por ano -arroz, trigo, soja- são correntes).

Para substituir todo o combustível fóssil consumido hoje por etanol, incluídas tecnologias que aproveitassem integralmente os resíduos lignocelulósicos da produção de álcool e cereais, seriam necessários entre 300 milhões e 400 milhões de hectares. Ora, a FAO informa que o total de terras cultivadas é de 1,5 bilhão de hectares, havendo ainda uma disponibilidade adicional de terras cultiváveis de 3,5 bilhões de hectares.

Ou seja, não será preciso ampliar a área cultivada para suprir a humanidade de toda a comida e energia de que precisa hoje e precisará no futuro, mesmo que o consumo de energia dobre e a população do globo atinja o limite superior. Bastaria usar tecnologias atuais que aumentam a produtividade. E ainda há terra disponível, aquela atualmente não cultivada, para uma população extra de 30 Chinas ou 4,5 vezes a população final da humanidade. Ainda bem que os chineses ainda não perceberam essa abundância de terras cultiváveis.

Outra fantasia criada pela mente mórbida dos ecoidiotas transnacionais e ecoada por nossos verdolengos com e sem colete propõe uma espécie de mecanismo dominó. Assim, a expansão da cultura da cana-de-açúcar estaria impelindo a soja para o norte, que, por sua vez, estaria empurrando o gado, que, como conseqüência, estaria invadindo a floresta amazônica. Ora, a invasão da Amazônia pela soja e por pastagens ocorreu antes de qualquer aumento de produção de cana. Vamos, todavia, ver por que esse ecobesteirol, além de ser pura fantasia inconsistente, é fruto de má-fé.

A cultura da cana ocupa cerca de 6,5 milhões de hectares (aproximadamente metade para o álcool, metade para o açúcar), a soja ocupa 22 milhões, e as pastagens, 200 milhões. Dobrando a produção do álcool e mantidas as mesmas deficiências tecnológicas atuais, seriam ocupados menos que 2% da área de pastagens. Nosso rebanho tem cerca de 200 milhões de cabeças (uma vaca por hectare). Ou seja, a distância média intervacas, que é de 100 metros, seria reduzida para 98 metros.

Seria um transtorno muito grande para as pobres vaquinhas ou, ao contrário, contribuiria para a redução da solidão em que se encontram essas senhoras?
Como não é possível acreditar que os ecofestivos brasileiros sejam incapazes de uma aritmética tão elementar como a aqui utilizada, só nos resta crer que não se vexam de utilizar argumentos pífios e de má-fé. Ai, que saudades da Marina! Então, como se explica a onda neomalthusiana que abala os alicerces das políticas de biocombustíveis, inclusive a do álcool de cana-de-açúcar? Há certamente várias vertentes.

Em primeiro lugar, um inequívoco jogo de interesses comezinhos de nações, empresas e políticos. Em segundo, uma imensa e indesculpável ignorância de fatos corriqueiros e de aritmética elementar. E o que há de mais extraordinário é que essa militância pseudoconservacionista se põe a serviço de inconfessáveis interesses de empresas de petróleo e especuladores no setor de alimentos

sexta-feira, julho 04, 2008

Gado no Brasil mais caro que nos EUA

A nota abaixo publicada no Blog Mundo Agro da Exame mostra este evento interessante e ajuda a explicar um pouco a postagem anterior:

O bife mais caro do mundo

O agronegócio brasileiro nunca foi muito bom de marketing. Mas o setor frigorífico conseguia convencer os importadores estrangeiros com um argumento bem simples: a carne brasileira era a mais barata do mundo. Bom, era mesmo. Agora, entre os países exportadores de carne bovina, o produto brasileiro se transformou no mais caro do planeta.

Isso porque a cotação do boi no Brasil superou a do animal nos Estados Unidos. De acordo com dados da JBS Friboi, nos pastos brasileiros, o quilo do boi em dólar passou de 1,75, em janeiro de 2007, para quase 3,50, em maio de 2008.

Nos Estados Unidos, o mesmo quilo da carne em maio era cotado a 3,25 dólares. Esse aumento da cotação do boi no Brasil é resultado de dois movimentos: a redução do rebanho bovino e a ampliação da capacidade de abate. O cenário criou uma disputa entre os frigoríficos pela matéria-prima. Para alguns empresários, esse preço do boi veio para ficar - o que deve mexer com a rentabilidade dos frigoríficos.

Antes, o baixo custo de aquisição do animal no Brasil garantia às empresas margens superiores a 15%. Agora, o novo patamar seria de cerca de 5%. Portanto, os tempos da picanha barata teriam ficado para trás

Ações do Friboi são recomendas

No portal Exame foi publicada uma nota sobre a recomendação de banco suiço para a compra das ações do JBS Friboi:

Ações do JBS-Friboi disparam com recomendação do UBS

Banco suíço diz que margens da empresa nos EUA estão em alta

As ações do JBS-Friboi, maior produtor de carne bovina do mundo, registram nesta quarta-feira a maior alta do Ibovespa devido à recomendação positiva dada pelo banco UBS aos papéis. Às 15h34, as ações ordinárias da empresa (JBSS3) avançavam 4,76%, para 8,15 reais.

O banco suíço afirmou em relatório que as margens de lucro com carne bovina nos Estados Unidos cresceram em junho. Abril e maio já haviam sido os dois melhores meses para o setor nos EUA desde janeiro de 2007. O ganho por cabeça de gado abatida subiu de 11 dólares no primeiro trimestre para 56 dólares em junho, afirmou o banco.

A análise alimenta a expectativa de que os resultados do JBS-Friboi serão melhores no segundo trimestre – após um prejuízo de 6 milhões de reais entre janeiro e março. Desde que comprou a Swift no ano passado e se tornou o terceiro maior produtor de carne bovina dos EUA, o frigorífico brasileiro ainda não conseguiu ganhar dinheiro no país.

No começo deste ano, o JBS-Friboi dobrou sua aposta nos EUA ao anunciar a compra de mais dois grandes frigoríficos americanos, o Smithfield Beef e o National Beef. Caso as aquisições sejam aprovadas por órgãos reguladores da concorrência dos EUA, a empresa brasileira se tornará líder de mercado no país.

Além do ganho com as sinergias entre as três empresas, o mercado também espera melhores resultados do JBS-Friboi nos EUA devido à retomada das exportações de carne americana para a Coréia do Sul, uma das maiores compradoras do produto do país.

Recomendações sobre o JBS-Friboi feitas pelo UBS costumam ter forte impacto na cotação de mercado da empresa porque o banco foi o coordenador de sua oferta inicial de ações (IPO) e tem um conhecimento aprofundado sobre suas operações. No começo desta semana, o banco considerou as ações do JBS-Friboi “top pick” (a melhor escolha) entre as ações do setor de alimentos no Brasil.