A co-geração de energia elétrica em usinas de açúcar e álcool é algo que existe há muito tempo, entretanto, mudanças no mercado de energia elétrica e desenvolvimento de novas caldeiras, que por gerarem vapor em pressões superiores as pressões das caldeiras da época do Pró-álcool geram mais energia com a mesma quantidade de bagaço, o mercado encontra-se em transformação.
A reportagem abaixo da Revista Exame mostra como a Usina Equipav está inserida neste novo contexto:
Do bagaço ao megawatt
Maior geradora de energia elétrica, a Equipav ilustra a face mais moderna dos produtores de açúcar e álcool. Agora, as usinas querem ser vistas como “refinarias de energia”
Por Fabiane Stefano, de Promissão
O engenheiro Newton Salim Soares, superintendente da Equipav, usina de açúcar e álcool situada em Promissão, no noroeste paulista, costuma percorrer as instalações industriais com olhos atentos ao desperdício. Ele procura, sobretudo, vazamentos de vapor de água nas tubulações. Para Soares, e todos que trabalham com ele, vapor perdido é energia que deixou de ser gerada. “É o mesmo que jogar dinheiro fora”, diz. Diferentemente da maioria das empresas do setor sucroalcooleiro, centradas na produção de açúcar e etanol, a obsessão da Equipav é produzir megawatts. Hoje, a empresa é a maior geradora de energia elétrica obtida de biomassa no país, segundo estimativas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Em 2008, a Equipav deve gerar energia elétrica suficiente para abastecer uma cidade de 2 milhões de habitantes. Em agosto, uma nova unidade da empresa começará a operar na cidade de Brejo Alegre, também no interior de São Paulo, onde serão instalados inicialmente 66 megawatts de potência. Só na usina de Promissão são necessárias quase 2 milhões de toneladas de bagaço de cana por ano para alimentar uma caldeira de alta pressão, a maior em operação numa usina no Brasil. O bagaço é o material orgânico que sobra depois do processo de moagem da cana, quando é extraído o caldo para produzir açúcar e álcool. Num passado não muito distante, o acúmulo de bagaço significava apenas um problema ambiental para as usinas. “Chegamos a enterrar a sobra, porque não tínhamos o que fazer com ela”, diz Soares. Agora, o resíduo — uma enorme pilha com altura de um prédio de quatro andares que se acumula ao lado da usina — é fonte de riqueza: a Equipav acabou de fechar com a fabricante de papel International Paper um contrato de 250 milhões de dólares para fornecer energia a suas fábricas nos próximos 12 anos. É um sinal de quão promissor pode ser o negócio da biomassa.
Construída em 1980 por um grupo de três famílias paulistas donas de uma fábrica de pavimento asfáltico — daí o nome Equipav —, a usina é quase exceção no setor sucroalcooleiro. Das 405 usinas brasileiras, apenas 48 vendem energia a distribuidoras ou outras empresas. Elas fornecem o equivalente a apenas 3% da energia elétrica consumida no país. Mas a aposta é que esse número cresça a partir de agora — segundo o próprio governo, em 2011 as usinas poderão fornecer até 6% da energia elétrica consumida no país. Para que isso se materialize, mais e mais usinas terão de seguir os passos da Equipav. Ela é a única do país a ter uma caldeira com pressão de 90 bar, a mais alta em operação no setor hoje. A pressão está diretamente relacionada à eficiência na geração de energia elétrica: quanto mais elevada, mais megawatts são obtidos. A imensa maioria das usinas trabalha com equipamentos antigos, de apenas 22 bar e um terço do rendimento do modelo adotado pela Equipav — o que garante energia para consumo próprio, mas deixa pouco para a comercialização externa. Por isso, as usinas em geral vendem energia às distribuidoras apenas no período de safra, de abril a novembro. A Equipav, que chega a comprar bagaço de uma usina vizinha, fornece energia o ano todo a CPFL, Eletropaulo, Duratex e Unilever.
As velhas usinas são retrato de uma época em que o principal produto do setor era o açúcar. O etanol, que nasceu nos anos 70 com o Proálcool, consolidou-se nos últimos cinco anos como fonte importante de faturamento das empresas, com o fenômeno do carro flex. Já a energia elétrica começou a ser considerada uma oportunidade de negócios durante o apagão de 2001 — quando qualquer megawatt extra que era gerado virou objeto de disputa. Mas apenas recentemente o negócio da energia passou a ser mais sedutor para as usinas, à medida que o preço do megawatt subia e as cotações do etanol e do açúcar caíam. De acordo com a Unica, a margem média de lucro obtido pelos usineiros com a geração de energia é de 15%, enquanto tanto o açúcar como o álcool estão, neste momento, dando prejuízo à maioria das empresas em razão da queda nas cotações.
Naturalmente, o cenário não passou despercebido pelo setor, principalmente pela nova geração de usinas. A maioria delas está sendo construída para explorar etanol e eletricidade, deixando o açúcar de lado — muitas se autodefinem como “refinarias de energia”. A Brenco, empresa brasileira capitalizada por fundos estrangeiros, pretende investir 2,3 bilhões de reais em dez usinas de etanol. Juntas, terão potência instalada de 600 megawatts, o equivalente a 10% das duas futuras usinas hidrelétricas do rio Madeira, em Rondônia. “Cerca de 20% da receita líquida da empresa virá de energia”, diz Rogério Manso, vice-presidente da Brenco. Outra empresa financiada por capital estrangeiro, a Cerona, está construindo duas usinas em Mato Grosso do Sul que, além do bagaço da cana, vão queimar eucalipto para gerar energia. “Ao fechar contratos longos de energia elétrica, a usina fica menos exposta aos altos e baixos do mercado de commodity, que é o caso do etanol e do açúcar”, diz João Rossi, superintendente agrícola da Cerona. O grupo português EDP também anunciou que estuda entrar na geração de energia de biomassa, com um projeto estimado em 1 bilhão de reais. O setor como um todo tem grande potencial energético a ser explorado. “Há quase uma Itaipu nos canaviais”, diz Carlos Roberto Silvestrin, da Associação Paulista de Cogeração de Energia (Cogen). A associação calcula que, se dois terços das usinas utilizassem caldeiras de alta pressão — o que exigiria investimentos de 16 bilhões de reais —, seria possível alcançar uma capacidade de 14 800 megawatts. Hoje, com todas as usinas de energia, o Brasil pode gerar 100 000 megawatts.
Será necessário, no entanto, superar algumas limitações para que todo esse potencial seja concretizado. A primeira delas é o alto custo de ligação das usinas às linhas de transmissão — investimento que sai dos bolsos dos usineiros. As usinas estão dispersas por um imenso território, especialmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. O desafio é ligá-las às linhas de transmissão. “Cada quilômetro de conexão custa 480 000 reais”, diz Plínio Nastari, diretor da Datagro, consultoria especializada no setor sucroalcooleiro. “E há usinas que estão a 100 quilômetros da linha de transmissão.” No caso de Mato Grosso do Sul e Goiás, a situação é pior — o governo federal ainda está construindo o chamado “linhão” de transmissão, e só então as usinas poderão se conectar a ele.
Outra dificuldade diz respeito ao preço que vem sendo estimado para a energia do bagaço. Após dois adiamentos, o governo programou para 30 de julho a realização do primeiro leilão de compra de energia gerada de biomassa, com contratos de 15 anos de duração e entrega prevista para começar em 2009. Um total de 114 empresas se inscreveu para participar. Mas não se sabe se todas de fato estarão presentes — algumas se dizem frustradas com o teto de 149 reais por megawatt-hora fixado pelo governo. “O valor não remunera os investimentos que as usinas precisam fazer em equipamentos para gerar a energia”, diz Pedro Mizutani, vice-presidente do grupo Cosan. “A conta não fecha.” Com 18 usinas em operação e outras três em construção, a Cosan, maior conglomerado do setor sucroalcooleiro do Brasil, já tem capacidade instalada de 120 megawatts, provenientes de apenas três unidades, para oferecer no leilão. O plano da empresa seria investir 3,5 bilhões de reais na instalação de outros 600 megawatts de potência, mas esse dinheiro pode acabar redirecionado para outras áreas. “Ainda estamos avaliando as condições dos leilões, mas por esse preço não devemos oferecer mais que 20% do que havíamos planejado”, diz Mizutani.
Para complicar a situação, os últimos leilões de energia das hidrelétricas achataram ainda mais os patamares de preços. Em junho, foi fixado o valor de 71 reais para o megawatt-hora que será gerado em Jirau, uma das novas hidrelétricas previstas para o rio Madeira. Os usineiros e a Unica tentam convencer a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, de que a biomassa não deve ser vista como concorrente das hidrelétricas, mas sim como uma alternativa mais limpa que as térmicas a gás e a óleo e mais econômica que as usinas eólicas — o que justificaria melhoria no preço. Foi Dilma quem, no fim de 2007, encheu os olhos dos usineiros enaltecendo a importância da bioeletricidade no suprimento energético brasileiro. “Mas foi só começar a chover e o nível dos reservatórios das hidrelétricas subir para o governo perder o interesse por biomassa”, diz um representante do setor. Segundo Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao Ministério de Minas e Energia, o governo pode até melhorar o preço, mas provavelmente não chegará perto do que cobram os empresários do setor. Segundo ele, ao fazer novos investimentos em energia, os usineiros melhoram também o retorno dos outros negócios — etanol e açúcar. “Não seria justo que o consumidor de energia elétrica bancasse a expansão das usinas”, diz.
Enquanto o imbróglio do preço não se resolve, é possível que muita gente desista de investir na modernização das usinas. Quem já o fez deve procurar a negociação direta no mercado livre com grandes consumidores, como fez a Equipav. Embora o mercado livre tenda a remunerar melhor a usina, os contratos são de prazo mais curto e implicam risco maior. “Muitas usinas preferem vender nos leilões porque os contratos servem de lastro para negociar empréstimos no BNDES”, diz Marcelo Parodi, presidente da Comerc, comercializadora independente de energia elétrica. “O ideal é diversificar, mantendo contratos com o governo e com a iniciativa privada.” Hoje, no mercado livre, o megawatt-hora chega a ser fechado a 170 reais. Para o país, com o fantasma do apagão sempre à espreita, o que importa é que a energia do bagaço seja efetivamente gerada — se o contrato será assinado pelo governo ou por um grande consumidor é o de menos. O que não pode é faltar megawatt no futuro.
A reportagem abaixo da Revista Exame mostra como a Usina Equipav está inserida neste novo contexto:
Do bagaço ao megawatt
Maior geradora de energia elétrica, a Equipav ilustra a face mais moderna dos produtores de açúcar e álcool. Agora, as usinas querem ser vistas como “refinarias de energia”
Por Fabiane Stefano, de Promissão
O engenheiro Newton Salim Soares, superintendente da Equipav, usina de açúcar e álcool situada em Promissão, no noroeste paulista, costuma percorrer as instalações industriais com olhos atentos ao desperdício. Ele procura, sobretudo, vazamentos de vapor de água nas tubulações. Para Soares, e todos que trabalham com ele, vapor perdido é energia que deixou de ser gerada. “É o mesmo que jogar dinheiro fora”, diz. Diferentemente da maioria das empresas do setor sucroalcooleiro, centradas na produção de açúcar e etanol, a obsessão da Equipav é produzir megawatts. Hoje, a empresa é a maior geradora de energia elétrica obtida de biomassa no país, segundo estimativas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Em 2008, a Equipav deve gerar energia elétrica suficiente para abastecer uma cidade de 2 milhões de habitantes. Em agosto, uma nova unidade da empresa começará a operar na cidade de Brejo Alegre, também no interior de São Paulo, onde serão instalados inicialmente 66 megawatts de potência. Só na usina de Promissão são necessárias quase 2 milhões de toneladas de bagaço de cana por ano para alimentar uma caldeira de alta pressão, a maior em operação numa usina no Brasil. O bagaço é o material orgânico que sobra depois do processo de moagem da cana, quando é extraído o caldo para produzir açúcar e álcool. Num passado não muito distante, o acúmulo de bagaço significava apenas um problema ambiental para as usinas. “Chegamos a enterrar a sobra, porque não tínhamos o que fazer com ela”, diz Soares. Agora, o resíduo — uma enorme pilha com altura de um prédio de quatro andares que se acumula ao lado da usina — é fonte de riqueza: a Equipav acabou de fechar com a fabricante de papel International Paper um contrato de 250 milhões de dólares para fornecer energia a suas fábricas nos próximos 12 anos. É um sinal de quão promissor pode ser o negócio da biomassa.
Construída em 1980 por um grupo de três famílias paulistas donas de uma fábrica de pavimento asfáltico — daí o nome Equipav —, a usina é quase exceção no setor sucroalcooleiro. Das 405 usinas brasileiras, apenas 48 vendem energia a distribuidoras ou outras empresas. Elas fornecem o equivalente a apenas 3% da energia elétrica consumida no país. Mas a aposta é que esse número cresça a partir de agora — segundo o próprio governo, em 2011 as usinas poderão fornecer até 6% da energia elétrica consumida no país. Para que isso se materialize, mais e mais usinas terão de seguir os passos da Equipav. Ela é a única do país a ter uma caldeira com pressão de 90 bar, a mais alta em operação no setor hoje. A pressão está diretamente relacionada à eficiência na geração de energia elétrica: quanto mais elevada, mais megawatts são obtidos. A imensa maioria das usinas trabalha com equipamentos antigos, de apenas 22 bar e um terço do rendimento do modelo adotado pela Equipav — o que garante energia para consumo próprio, mas deixa pouco para a comercialização externa. Por isso, as usinas em geral vendem energia às distribuidoras apenas no período de safra, de abril a novembro. A Equipav, que chega a comprar bagaço de uma usina vizinha, fornece energia o ano todo a CPFL, Eletropaulo, Duratex e Unilever.
As velhas usinas são retrato de uma época em que o principal produto do setor era o açúcar. O etanol, que nasceu nos anos 70 com o Proálcool, consolidou-se nos últimos cinco anos como fonte importante de faturamento das empresas, com o fenômeno do carro flex. Já a energia elétrica começou a ser considerada uma oportunidade de negócios durante o apagão de 2001 — quando qualquer megawatt extra que era gerado virou objeto de disputa. Mas apenas recentemente o negócio da energia passou a ser mais sedutor para as usinas, à medida que o preço do megawatt subia e as cotações do etanol e do açúcar caíam. De acordo com a Unica, a margem média de lucro obtido pelos usineiros com a geração de energia é de 15%, enquanto tanto o açúcar como o álcool estão, neste momento, dando prejuízo à maioria das empresas em razão da queda nas cotações.
Naturalmente, o cenário não passou despercebido pelo setor, principalmente pela nova geração de usinas. A maioria delas está sendo construída para explorar etanol e eletricidade, deixando o açúcar de lado — muitas se autodefinem como “refinarias de energia”. A Brenco, empresa brasileira capitalizada por fundos estrangeiros, pretende investir 2,3 bilhões de reais em dez usinas de etanol. Juntas, terão potência instalada de 600 megawatts, o equivalente a 10% das duas futuras usinas hidrelétricas do rio Madeira, em Rondônia. “Cerca de 20% da receita líquida da empresa virá de energia”, diz Rogério Manso, vice-presidente da Brenco. Outra empresa financiada por capital estrangeiro, a Cerona, está construindo duas usinas em Mato Grosso do Sul que, além do bagaço da cana, vão queimar eucalipto para gerar energia. “Ao fechar contratos longos de energia elétrica, a usina fica menos exposta aos altos e baixos do mercado de commodity, que é o caso do etanol e do açúcar”, diz João Rossi, superintendente agrícola da Cerona. O grupo português EDP também anunciou que estuda entrar na geração de energia de biomassa, com um projeto estimado em 1 bilhão de reais. O setor como um todo tem grande potencial energético a ser explorado. “Há quase uma Itaipu nos canaviais”, diz Carlos Roberto Silvestrin, da Associação Paulista de Cogeração de Energia (Cogen). A associação calcula que, se dois terços das usinas utilizassem caldeiras de alta pressão — o que exigiria investimentos de 16 bilhões de reais —, seria possível alcançar uma capacidade de 14 800 megawatts. Hoje, com todas as usinas de energia, o Brasil pode gerar 100 000 megawatts.
Será necessário, no entanto, superar algumas limitações para que todo esse potencial seja concretizado. A primeira delas é o alto custo de ligação das usinas às linhas de transmissão — investimento que sai dos bolsos dos usineiros. As usinas estão dispersas por um imenso território, especialmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. O desafio é ligá-las às linhas de transmissão. “Cada quilômetro de conexão custa 480 000 reais”, diz Plínio Nastari, diretor da Datagro, consultoria especializada no setor sucroalcooleiro. “E há usinas que estão a 100 quilômetros da linha de transmissão.” No caso de Mato Grosso do Sul e Goiás, a situação é pior — o governo federal ainda está construindo o chamado “linhão” de transmissão, e só então as usinas poderão se conectar a ele.
Outra dificuldade diz respeito ao preço que vem sendo estimado para a energia do bagaço. Após dois adiamentos, o governo programou para 30 de julho a realização do primeiro leilão de compra de energia gerada de biomassa, com contratos de 15 anos de duração e entrega prevista para começar em 2009. Um total de 114 empresas se inscreveu para participar. Mas não se sabe se todas de fato estarão presentes — algumas se dizem frustradas com o teto de 149 reais por megawatt-hora fixado pelo governo. “O valor não remunera os investimentos que as usinas precisam fazer em equipamentos para gerar a energia”, diz Pedro Mizutani, vice-presidente do grupo Cosan. “A conta não fecha.” Com 18 usinas em operação e outras três em construção, a Cosan, maior conglomerado do setor sucroalcooleiro do Brasil, já tem capacidade instalada de 120 megawatts, provenientes de apenas três unidades, para oferecer no leilão. O plano da empresa seria investir 3,5 bilhões de reais na instalação de outros 600 megawatts de potência, mas esse dinheiro pode acabar redirecionado para outras áreas. “Ainda estamos avaliando as condições dos leilões, mas por esse preço não devemos oferecer mais que 20% do que havíamos planejado”, diz Mizutani.
Para complicar a situação, os últimos leilões de energia das hidrelétricas achataram ainda mais os patamares de preços. Em junho, foi fixado o valor de 71 reais para o megawatt-hora que será gerado em Jirau, uma das novas hidrelétricas previstas para o rio Madeira. Os usineiros e a Unica tentam convencer a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, de que a biomassa não deve ser vista como concorrente das hidrelétricas, mas sim como uma alternativa mais limpa que as térmicas a gás e a óleo e mais econômica que as usinas eólicas — o que justificaria melhoria no preço. Foi Dilma quem, no fim de 2007, encheu os olhos dos usineiros enaltecendo a importância da bioeletricidade no suprimento energético brasileiro. “Mas foi só começar a chover e o nível dos reservatórios das hidrelétricas subir para o governo perder o interesse por biomassa”, diz um representante do setor. Segundo Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao Ministério de Minas e Energia, o governo pode até melhorar o preço, mas provavelmente não chegará perto do que cobram os empresários do setor. Segundo ele, ao fazer novos investimentos em energia, os usineiros melhoram também o retorno dos outros negócios — etanol e açúcar. “Não seria justo que o consumidor de energia elétrica bancasse a expansão das usinas”, diz.
Enquanto o imbróglio do preço não se resolve, é possível que muita gente desista de investir na modernização das usinas. Quem já o fez deve procurar a negociação direta no mercado livre com grandes consumidores, como fez a Equipav. Embora o mercado livre tenda a remunerar melhor a usina, os contratos são de prazo mais curto e implicam risco maior. “Muitas usinas preferem vender nos leilões porque os contratos servem de lastro para negociar empréstimos no BNDES”, diz Marcelo Parodi, presidente da Comerc, comercializadora independente de energia elétrica. “O ideal é diversificar, mantendo contratos com o governo e com a iniciativa privada.” Hoje, no mercado livre, o megawatt-hora chega a ser fechado a 170 reais. Para o país, com o fantasma do apagão sempre à espreita, o que importa é que a energia do bagaço seja efetivamente gerada — se o contrato será assinado pelo governo ou por um grande consumidor é o de menos. O que não pode é faltar megawatt no futuro.
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