quinta-feira, julho 31, 2008

Aquecimento global ou exagero?

Saiu hoje no Valor Econômico uma reportagem da Associated Press que, caso fosse publicada em outro veículo, muitos iriam dar risadas. A reportagem em questão trata do uso de protetor solar em vinhedos:

Nos EUA, vale até protetor solar para salvar plantações do calor
Tracie Cone, Associated Press

Assim como as pessoas causam danos à pele por exposição ao sol, frutas e vegetais também podem sofrer graves queimaduras. E é por isso que muitos agricultores estão aplicando protetores solares a suas culturas para prevenir a formação de bolhas, estresse por calor e manchas. "Em vista da alta nos custos de produção, os agricultores estão procurando ampliar suas margens onde for possível", diz Ed Lagrutta, da Western Farm Services, que cultiva oito hectares e faz testes em centenas de outros.

Manchas solares numa maçã Granny Smith podem significar a diferença entre um preço menor, para transformação em suco, ou venda no mercado mais lucrativo de frutas frescas. No caso de nozes, os compradores pagaram em 2007 a média 3 centavos de dólar a mais pela libra-peso de nozes tratadas com protetores solares do que por não tratadas, disse Lagrutta.

As mudanças climáticas e secas na Austrália e na Califórnia significam difíceis condições de cultivo para os agricultores, que estão afetando qualidade, produtividade e preços das colheitas. Os protetores amenizam ao menos uma das preocupações dos produtores, que perdem dinheiro com cada fruto ou vegetal prejudicado pelo sol.

"O estresse por calor vai se tornar um problema para as plantas, sobretudo quando provoca novas doenças", diz Eric Wood, professor de engenharia civil e ambiental na Universidade Princeton.

As plantas reagem ao estresse solar como os seres humanos. Elas transpiram, e isso significa que quanto mais sobem as temperaturas, mais água necessitam. Em vista das secas que vêm afetando diversas das principais regiões agrícolas do mundo, os cientistas estão buscando maneiras de poupar recursos ajudando as plantas a consumi-los em menor quantidade.

Até agora, a argila vinha sendo para esse fim, mas agora uma empresa californiana está obtendo resultados positivos com um produto (SPF 45) feito de cristais multicristalinos de carbonato de cálcio, produzidos para defletir as luzes ultravioleta e infravermelha de plantas e árvores sobre as quais é pulverizado. O produto "repele" a luz nefasta, mas permite a penetração dos raios de luz bons que promovem a fotossíntese que contribui para o amadurecimento.

O protetor solar já foi testado na Austrália e no Chile, onde raios ultravioletas afetam a produção, e está em seu segundo ano de testes de campo na Califórnia. Os testes revelam que seu impacto imediato está fazendo crescer as colheitas, ao reduzir os defeitos resultantes de estresse hídrico, mas a empresa que o fabrica espera que o produto também possa desempenhar um papel na conservação de água e energia, por incrementar a eficiência das plantas no uso de água.

O protetor solar Purshade, produzido pela Purfresh, atraiu recentemente 20 pesquisadores e consultores de produtos agrícolas americanos e internacionais para um bosque de nogueiras nas proximidades de Visalia, Califórnia.

O produto também está sendo testado em tomates, uvas, kiwis e lichias na Austrália, diz Kerrie Mackay, que trabalha para uma companhia de Queensland que vende produtos para proteção de colheitas, que segundo ela está sofrendo sua pior seca em 140 anos.

"Queimaduras de sol são um grande problema", diz. "Sofremos uma das mais intensas incidências de luz ultravioleta em todo o mundo. Com a seca e as mudanças climáticas, descobrir maneiras de usar água mais eficientemente é sempre importante para nós."

O vale Shenandoah, nos sopés da árida serra Nevada, nem de longe assemelha-se a ao temperado vale do Napa, mas Dick Cooper, da Cooper Vineyards vem cultivando uvas para vinhos especiais desde a década de 80 usando caramanchões para proteger os vinhedos.

Em anos anos secos, a planta desenvolve-se lentamente e as áreas de pinot grigio ficam enrugadas como o aspecto retorcido de oliveiras. Pelo segundo ano, Cooper espalhou o protetor solar Purshade em diversos de seus canteiros de uvas brancas para protegê-las. Ele diz que durante o esmagamento das uvas os cristais de carbonato de cálcio vão para o fundo dos tanques de fermentação com o resto do sedimento que vem com os bagos. E o sabor não é afetado.

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