A colheita mecanizada de cana picada sem queima prévia é um tema recorrente na mídia nos últimos tempos pelo fato dela ser a mola propulsora da eliminação das queimadas do canavial, entretanto o que acontece quando ocorre a substituição da cana inteira queimada pela cana picada sem queima é pouco divulgado.
Visando contribuir para o melhor entendimento desta importante operação na produção de açúcar e álcool encontrei quatro artigos, que resolvi disponibilizá-los abaixo.
O primeiro deles retirado do Ethanol Brasil Blog, de autoria da Campo News, comenta sobre a geração de vagas que acontece quando uma colhedora é comprada. O segundo deles comentada sobre a evolução da colheita mecanizada em São Paulo que alcançará 60% do total, o terceiro sobre a sensação de um ex-cortador de cana ao "pilotar" uma máquina e no quarto, um pouco de história da mecanização de cana, um artigo sobre a introdução da carregadora de cana, fato que ocorreu na década de 1960 e trouxe mudanças profundas na operação de corte e carregamento da cana. Todos estes três artigos foram encontrados no BrasilAgro e publicados no Valor de 01 de fevereiro e o último deles comenta um aspecto negativo que tem que ser revertido em pouco tempo: a baixa qualificação dos operários rurais, artigo foi tirado do Ethanol Brasil Blog e publicado no Estado de São Paulo em 25 de janeiro:
Colheita mecanizada da cana gera até 30 vagas por máquina
Ao contrário do resto do mundo, o Brasil - mais especificamente o Estado de São Paulo - vem investindo maciçamente em programas que visam a redução das emissões de CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera.
Entre essas propostas está a assinatura de um protocolo de intenções pelo setor sucroalcooleiro, que estipula que até 2014 toda a área com declividade inferior a 12% tenha a colheita da cana-de-açúcar mecanizada, evitando a queima da palha, que hoje ocorre em uma área equivalente a 700 mil campos de futebol. O protocolo também reza que até 2017 todo o plantio de cana-de-açúcar paulista seja mecanizado, independentemente da topografia.
"Uma máquina no campo faz o trabalho de 80 trabalhadores braçais, mas para cada máquina trabalhando na linha de frente dos canaviais, 30 postos de trabalhos são gerados. Essas vagas são ocupadas por profissionais melhor remunerados, como operadores de máquinas, de comboios, operador de carro pipa, mecânicos, tratoristas, operador de transbordo", explica Antonio Cesar Salibe, presidente executivo da UDOP (União dos Produtores em Bioenergia).
Segundo Salibe, um estudo feito pela Pastoral do Imigrante apontou que 75% dos trabalhadores do corte da cana não são originários da região em que estão trabalhando temporariamente. "Apenas 25% são trabalhadores locais e esta migração de mão de obra deixa caótico os sistemas de saúde e educacional dos pequenos municípios que têm sua economia voltada para o setor sucroalcooleiro", argumenta.
Para que o fechamento de postos de trabalho não gere um grande problema social, diversas ações estão sendo conduzidas pelo setor sucroalcooleiro, entre elas a formação de cursos profissionalizantes aos `ex-cortadores de cana´, que podem ser recolocados em funções melhor remuneradas, como a de operador de colhedeira, por exemplo.
Ainda, segundo o presidente executivo da UDOP, mesmo com a colheita mecanizada, o setor espera gerar até 2017, mais de 17 mil postos de trabalho. "Na última safra colhemos 346 milhões de toneladas e considerando um aumento na produtividade até 2017, estaríamos colhendo 450 milhões de toneladas", explica.
"Acredito que a qualificação dessa mão de obra ociosa seja a grande solução para o desemprego. É importante que os trabalhadores vindos das regiões Norte e Nordeste - que são a maioria - recebam esse treinamento em seus Estados de origem, para não aumentar os problemas sociais que algumas regiões já enfrentam", orienta Salibe.
Pé no freio
A crise na economia mundial que pairou no final de 2008 e por parte de 2009 agiu como um `freio´ nos investimentos, principalmente nas linhas de crédito. As colhedeiras de cana-de-açúcar são equipamentos com alto valor agregado e em sua maioria são financiadas pelas usinas e produtores de cana.
"Estávamos adiantados com o cronograma de mecanização. Em 2008, 48% da área já estava mecanizada. Do ano passado, não temos os números finais, mas acreditamos que ultrapassamos 50% dessa mecanização, que foi retardada pela falta de crédito na praça".
O executivo da UDOP reclama do `desaparecimento´ de linhas de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento). "Antes da crise havia boas linhas de crédito, que sumiram", diz, alegando que novas linhas estão voltando ao mercado timidamente, mas com mais entraves burocráticos, dificultando sua contratação.
Pró-Mecanização
Salibe acha interessante que o governo crie uma linha de crédito especial similar ao Pró-Trator, para o financiamento da compra de novos equipamentos para a mecanização da colheita, uma espécie de "Pró-Mecanização".
"Não basta apenas comprar a colhedeira de cana-de-açúcar, é preciso alterar todo o modo de produção. Temos que investir em tratores, transbordos e até plantadeiras mecânicas de cana, que passam a ser necessárias caso o produtor opte pela colheita mecanizada", alega o representante da UDOP, justificando os altos investimentos.
"Queremos novas linhas de crédito, tanto faz se forem governamentais ou privadas, mas com taxas compatíveis com o mercado", finaliza.
Colheita mecanizada de cana cobrirá 60% do total em São Paulo
Mesmo com a crise, os projetos novos já tinham feito os investimentos e sustentam expansão.
De forma mais intensa, o processo começou na safra 2006/07. Até aquele momento, 34% dos 3,2 milhões de hectares de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo já eram colhidos por máquinas. A preocupação era com a eficiência, que se expressava nos ganhos de escala e na redução de custos. Mas quando o componente ambiental entrou em cena, a dimensão mudou. O movimento, que corria silencioso e era visível apenas em terras paulistas, ganhou proporção nacional e passou a envolver toda a cadeia sucroalcooleira.
De fato, o apelo ambiental criou a necessidade do segmento sucroalcooleiro nacional de fazer mais e em um tempo menor do que dita a lei. Desde então, as usinas investiram R$ 1,2 bilhão somente em São Paulo para ampliar a mecanização em mais de 20 pontos percentuais e atingir 53,4% na temporada que chega ao fim (2009/10). Outros R$ 300 milhões estão sendo aplicados para cumprir a meta de encerrar 2010/11 com 60% dos 4,3 milhões de hectares colhidos com máquinas.
Ao longo do processo, houve uma antecipação às exigências legais. Assim, enquanto a lei determina o fim da queima em áreas mecanizáveis (declive de até 12%) até 2021, as usinas encurtaram essa meta para 2014. Da mesma forma, a exigência legal de pôr fim à queima até 2031 em 100% das áreas foi antecipada para até 2017. Ambas as antecipações foram oficializadas por meio do Protocolo Agroambiental, um compromisso firmado entre usinas e governo paulista em 2007.
Apesar da pressão internacional por uma produção sustentável, esse empenho tem muitos motivadores econômicos. O segmento sucroalcooleiro tem dois terços de sua produção de açúcar comercializada no mercado internacional, cada vez mais atento à sustentabilidade da atividade. Além disso, apesar de os volumes embarcados ao exterior de etanol ainda não terem essa proporção, é no mercado externo que se baseia grande parte do que se projeta de expansão futura para o biocombustível.
Ainda no viés econômico, pesam outros fatores. O custo de produção de uma usina que colhe manualmente a cana é 20% a 25% maior. Uma máquina colheitadeira substitui os braços de 80 a 100 trabalhadores. O diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Eduardo Leão de Sousa, lembra da pegada de carbono da iniciativa. "Ao deixar de queimar a palha da cana e utilizando-a para cogeração de energia juntamente com o bagaço, o setor evitará a emissão de 60 milhões de toneladas de CO2 equivalente entre 2007 e o fim da queima em 2017", diz Leão. Até aqui há ganhos econômicos, na medida em que mais energia será produzida pelas usinas para ser comercializada no mercado, usando matéria-prima antes descartada, a palha.
Apesar de todos esses números refletirem o que acontece em São Paulo, a mecanização da colheita está avançando em todos os Estados produtores de cana, inclusive no Nordeste e em suas terras íngremes. Mas, obviamente, o território plano do cerrado, onde está grande parte das áreas novas de expansão, a tecnificação cresce em velocidade maior do que a nordestina.
Em Mato Grosso do Sul, onde a maior parte dos projetos novos já nasce com colheita mecanizada, o nível de tecnificação já atingiu 40% (de 400 mil hectares) em 2009/10. Para o próximo ciclo, o percentual deve avançar para 50% em uma área 200 mil hectares maior. Em 2010/11, a área deve ser ampliada para 600 mil hectares, e a parte mecanizada deverá representar 50%. "Esse avanço veio das unidades novas, que foram construídas nos últimos dois anos", diz Roberto de Hollanda Filho, presidente da Associação dos produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul). No Estado, a lei prevê a extinção da queima em áreas mecanizáveis até 2016.
Em Minas Gerais, outro importante Estado produtor, a colheita com máquinas saiu de 32%, em 2008/09, avançou para 43% no ciclo seguinte e, na próxima safra deve atingir 50%, conforme a Associação das Indústrias de Açúcar e Álcool do Estado (AIAA-MG).
Apesar de todo o avanço, a colheita manual não deve ser 100% eliminada, ainda que a queima, sim, explica o diretor da Unica. Isso porque sempre haverá áreas não mecanizáveis que, em São Paulo, atingem 5% do plantio de cana. Além disso, os investimentos para adotar a tecnologia são um entrave às usinas e fornecedores de cana de menor porte, que representam cerca de 15% da área cultivada com o produto no Estado de São Paulo.
Uma colheitadeira custa pelo menos R$ 500 mil, mas o problema é que ela sozinha não basta. Secretário da Agricultura de São Paulo e fornecedor de cana, João Sampaio explica que o negócio é mais complexo. "É preciso agregar mais caminhões para transportar a cana, que passa a ser colhida em um tempo menor. Também é preciso um caminhão pipa para prevenir percalços de um excesso de aquecimento da colheitadeira, além de um aparato móvel de manutenção e lubrificação da máquina", diz.
Com a crise financeira e os baixos preços do etanol no ano passado, mesmo médios e grandes pisaram no freio nessa frente. Tanto que houve pouca conversão do corte manual já existente. "Poderia ter sido maior, mas, apesar da crise, a mecanização avançou de forma satisfatória, em cerca de 400 mil hectares de área nova", afirma Leão.
"Bom é que hoje minha filha não quer mais ser cortadora"
Quando "montou" pela primeira vez em uma máquina de colher, a ex-cortadora de cana, Isaura Freitas de Souza, de 38 anos, pensou que não ia conseguir aprender. O tamanho da engenhoca e a quantidade de botões a intimidaram. Depois de 21 anos de lida no canavial, Isaura foi convidada pela usina onde trabalha, pertencente ao grupo Cosan, para fazer um curso de operador de colheitadeira.
Há dois anos ela exerce a nova profissão, com salário até três vezes maior para um trabalho que exige esforço, mas infinitamente menor do que o de cortar cana. "O bom de tudo isso é que hoje minha filha não quer mais ser cortadora de cana. Quer operar máquina", comenta Isaura sobre os planos de sua primogênita, de 12 anos.
Desde a safra 2006/07 foram 30 mil vagas de cortador de cana fechadas somente em São Paulo - que atualmente emprega 140 mil trabalhadores na função. No próximo ciclo, esse número não vai cair, mas 10 mil vagas deixarão de ser criadas porque os projetos novos que entrarão em operação já nascem mecanizados. "Em torno de 20% do contingente total será reabsorvido pela mecanização", diz Eduardo Leão de Sousa, diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
O treinamento pelo qual Isaura passou é um dos cerca de 154 programas desenvolvidos pelas usinas do Centro-Sul que já existiam em 2008, quando a Unica fez seu primeiro levantamento socioambiental. Apesar do esforço para conter o impacto social do fim do corte manual, os programas têm limitações. "Quanto mais escolaridade o cortador tem, mais chances ele tem de crescer na usina", afirma Luiz Veguin, diretor de Recursos Humanos do grupo Cosan.
A Unica, juntamente com o governo de são Paulo e associações de trabalhadores rurais iniciam em fevereiro um amplo programa de treinamento, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para qualificar tanto cortadores que estão nas usinas quanto os que já saíram do mercado, com meta de qualificar 7 mil pessoas por ano.
Máquina de carregar, a grande revolução dos anos 60
Na época dele, fim dos anos 50, cortador de cana era aquele que morava na fazenda, muitas vezes trabalhava desde criança e ia para casa na hora do almoço. Luiz Antônio Lazarim, hoje com 63 anos, lidou com canavial entre os 11 e os 16 anos. Seu pai era trabalhador da usina Costa Pinto, a primeira construída pela família Ometto, em meados da década de 30. Depois foi trabalhar no escritório da indústria como auxiliar, chegou ao departamento pessoal e formou-se advogado. Assumiu a função na empresa, até que entrou na magistratura e atualmente é desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª região.
Mas, o fato, relembra ele, é que eram outros tempos. Não tinha queima de canavial. O mesmo cortador que colhia a cana, também classificava e transportava a matéria-prima em uma época em que as escalas de uma usina eram diferentes. A primeira mudança, relata, ocorreu na década de 60, quando uma máquina de carregar a cana foi inserida na lavoura. "Isso trouxe uma mudança radical, pois o cortador passou apenas a cortar e isso trouxe possibilidade ganhos de escala às usinas", conta.
A queima do canavial foi inserida no processo para eliminar a folhagem e possibilitar ao cortador mais agilidade. O maquinário da indústria foi se aperfeiçoando, as escalas aumentando, e as casas onde os antigos cortadores moravam tiveram que abrir espaço a mais canaviais.
De lá pra cá, a história já é mais conhecida. Mas, apesar da mecanização em curso em todo o país, há regiões que ainda continuarão usando mão-de-obra no corte da cana. Na região Nordeste, por exemplo, se as pesquisas em curso avançarem será possível mecanizar 30% do corte em cinco anos, espera Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco. O percentual atual é de 15% para uma área de 1 milhão de hectares e que emprega no corte manual 330 mil cortadores.
Subsidiado por um fundo privado, bancado por onze usinas e que deve reunir aproximadamente R$ 2 milhões, as pesquisas hoje focam em duas colheitadeiras adaptadas para regiões íngremes - uma trazida da África do Sul e outra, da China. As máquinas prometem um avanço sem igual nos canaviais nordestinos. Estão cortando de 15 a 20 toneladas por ano, enquanto por dia o corte manual rende 3 toneladas por pessoa.
Na lavoura mecanizada, desafio é encontrar gente qualificada
Desde os 14 anos, quando chegou ao interior de São Paulo, o cearense José Alcides do Nascimento corta cana de açúcar. Mas os dias de bóia-fria ficaram para trás. Hoje ele dirige orgulhoso uma colheitadeira, que faz todo o trabalho pesado.
"É um sonho realizado. No corte de cana, o desgaste físico é grande. Eu não conseguia estudar, não conseguia fazer nada", diz Nascimento. Aos 31 anos, ele comprou uma casa e prepara o casamento com a namorada de oito anos.
Mas não foi fácil mudar de vida. Sempre que tinha uma oportunidade, Nascimento ficava de olho no trabalho dos operadores de colheitadeiras. Ele se esforçou para completar os estudos e tirar a carteira de habilitação. "É preciso ser esperto." Na entressafra, está aprendendo uma nova profissão - trabalha de ajudante dos mecânicos de tratores.
Trabalhadores com a iniciativa do ex-bóia-fria ajudam a resolver um problema grave para o agronegócio: a falta de mão de obra qualificada, cada vez mais necessária à medida que avança a mecanização na lavoura.
O Grupo Usina São João, onde Nascimento trabalha, surgiu no interior de São Paulo, em Araras. Há alguns anos, adquiriu uma nova propriedade em Quirinópolis, no sudoeste de Goiás. Segundo o diretor de gestão de pessoas da empresa, Miguel Feres, a colheita é 100% mecanizada, o que torna complicada a tarefa de encontrar mão de obra.
Quinta-feira, o Senai, em parceria com a empresa e a prefeitura, inaugurou uma escola profissionalizante na região. O grupo USJ está construindo uma nova usina de cana de açúcar em Cachoeira Dourada (GO) e vai precisar de trabalhadores qualificados.
"Não é fácil encontrar pessoas para manejar tratores e colheitadeiras modernas. Ou você forma internamente ou tira de alguém", disse Feres. Ele contou que a empresa acaba trazendo profissionais de Goiânia, o que aumenta o custo.
Em Araras, apesar da maior disponibilidade de mão de obra qualificada, também não é fácil contratar gente. "Os jovens não querem trabalhar na agricultura", diz o executivo
O primeiro deles retirado do Ethanol Brasil Blog, de autoria da Campo News, comenta sobre a geração de vagas que acontece quando uma colhedora é comprada. O segundo deles comentada sobre a evolução da colheita mecanizada em São Paulo que alcançará 60% do total, o terceiro sobre a sensação de um ex-cortador de cana ao "pilotar" uma máquina e no quarto, um pouco de história da mecanização de cana, um artigo sobre a introdução da carregadora de cana, fato que ocorreu na década de 1960 e trouxe mudanças profundas na operação de corte e carregamento da cana. Todos estes três artigos foram encontrados no BrasilAgro e publicados no Valor de 01 de fevereiro e o último deles comenta um aspecto negativo que tem que ser revertido em pouco tempo: a baixa qualificação dos operários rurais, artigo foi tirado do Ethanol Brasil Blog e publicado no Estado de São Paulo em 25 de janeiro:
Colheita mecanizada da cana gera até 30 vagas por máquina
Ao contrário do resto do mundo, o Brasil - mais especificamente o Estado de São Paulo - vem investindo maciçamente em programas que visam a redução das emissões de CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera.
Entre essas propostas está a assinatura de um protocolo de intenções pelo setor sucroalcooleiro, que estipula que até 2014 toda a área com declividade inferior a 12% tenha a colheita da cana-de-açúcar mecanizada, evitando a queima da palha, que hoje ocorre em uma área equivalente a 700 mil campos de futebol. O protocolo também reza que até 2017 todo o plantio de cana-de-açúcar paulista seja mecanizado, independentemente da topografia.
"Uma máquina no campo faz o trabalho de 80 trabalhadores braçais, mas para cada máquina trabalhando na linha de frente dos canaviais, 30 postos de trabalhos são gerados. Essas vagas são ocupadas por profissionais melhor remunerados, como operadores de máquinas, de comboios, operador de carro pipa, mecânicos, tratoristas, operador de transbordo", explica Antonio Cesar Salibe, presidente executivo da UDOP (União dos Produtores em Bioenergia).
Segundo Salibe, um estudo feito pela Pastoral do Imigrante apontou que 75% dos trabalhadores do corte da cana não são originários da região em que estão trabalhando temporariamente. "Apenas 25% são trabalhadores locais e esta migração de mão de obra deixa caótico os sistemas de saúde e educacional dos pequenos municípios que têm sua economia voltada para o setor sucroalcooleiro", argumenta.
Para que o fechamento de postos de trabalho não gere um grande problema social, diversas ações estão sendo conduzidas pelo setor sucroalcooleiro, entre elas a formação de cursos profissionalizantes aos `ex-cortadores de cana´, que podem ser recolocados em funções melhor remuneradas, como a de operador de colhedeira, por exemplo.
Ainda, segundo o presidente executivo da UDOP, mesmo com a colheita mecanizada, o setor espera gerar até 2017, mais de 17 mil postos de trabalho. "Na última safra colhemos 346 milhões de toneladas e considerando um aumento na produtividade até 2017, estaríamos colhendo 450 milhões de toneladas", explica.
"Acredito que a qualificação dessa mão de obra ociosa seja a grande solução para o desemprego. É importante que os trabalhadores vindos das regiões Norte e Nordeste - que são a maioria - recebam esse treinamento em seus Estados de origem, para não aumentar os problemas sociais que algumas regiões já enfrentam", orienta Salibe.
Pé no freio
A crise na economia mundial que pairou no final de 2008 e por parte de 2009 agiu como um `freio´ nos investimentos, principalmente nas linhas de crédito. As colhedeiras de cana-de-açúcar são equipamentos com alto valor agregado e em sua maioria são financiadas pelas usinas e produtores de cana.
"Estávamos adiantados com o cronograma de mecanização. Em 2008, 48% da área já estava mecanizada. Do ano passado, não temos os números finais, mas acreditamos que ultrapassamos 50% dessa mecanização, que foi retardada pela falta de crédito na praça".
O executivo da UDOP reclama do `desaparecimento´ de linhas de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento). "Antes da crise havia boas linhas de crédito, que sumiram", diz, alegando que novas linhas estão voltando ao mercado timidamente, mas com mais entraves burocráticos, dificultando sua contratação.
Pró-Mecanização
Salibe acha interessante que o governo crie uma linha de crédito especial similar ao Pró-Trator, para o financiamento da compra de novos equipamentos para a mecanização da colheita, uma espécie de "Pró-Mecanização".
"Não basta apenas comprar a colhedeira de cana-de-açúcar, é preciso alterar todo o modo de produção. Temos que investir em tratores, transbordos e até plantadeiras mecânicas de cana, que passam a ser necessárias caso o produtor opte pela colheita mecanizada", alega o representante da UDOP, justificando os altos investimentos.
"Queremos novas linhas de crédito, tanto faz se forem governamentais ou privadas, mas com taxas compatíveis com o mercado", finaliza.
Colheita mecanizada de cana cobrirá 60% do total em São Paulo
Mesmo com a crise, os projetos novos já tinham feito os investimentos e sustentam expansão.
De forma mais intensa, o processo começou na safra 2006/07. Até aquele momento, 34% dos 3,2 milhões de hectares de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo já eram colhidos por máquinas. A preocupação era com a eficiência, que se expressava nos ganhos de escala e na redução de custos. Mas quando o componente ambiental entrou em cena, a dimensão mudou. O movimento, que corria silencioso e era visível apenas em terras paulistas, ganhou proporção nacional e passou a envolver toda a cadeia sucroalcooleira.
De fato, o apelo ambiental criou a necessidade do segmento sucroalcooleiro nacional de fazer mais e em um tempo menor do que dita a lei. Desde então, as usinas investiram R$ 1,2 bilhão somente em São Paulo para ampliar a mecanização em mais de 20 pontos percentuais e atingir 53,4% na temporada que chega ao fim (2009/10). Outros R$ 300 milhões estão sendo aplicados para cumprir a meta de encerrar 2010/11 com 60% dos 4,3 milhões de hectares colhidos com máquinas.
Ao longo do processo, houve uma antecipação às exigências legais. Assim, enquanto a lei determina o fim da queima em áreas mecanizáveis (declive de até 12%) até 2021, as usinas encurtaram essa meta para 2014. Da mesma forma, a exigência legal de pôr fim à queima até 2031 em 100% das áreas foi antecipada para até 2017. Ambas as antecipações foram oficializadas por meio do Protocolo Agroambiental, um compromisso firmado entre usinas e governo paulista em 2007.
Apesar da pressão internacional por uma produção sustentável, esse empenho tem muitos motivadores econômicos. O segmento sucroalcooleiro tem dois terços de sua produção de açúcar comercializada no mercado internacional, cada vez mais atento à sustentabilidade da atividade. Além disso, apesar de os volumes embarcados ao exterior de etanol ainda não terem essa proporção, é no mercado externo que se baseia grande parte do que se projeta de expansão futura para o biocombustível.
Ainda no viés econômico, pesam outros fatores. O custo de produção de uma usina que colhe manualmente a cana é 20% a 25% maior. Uma máquina colheitadeira substitui os braços de 80 a 100 trabalhadores. O diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Eduardo Leão de Sousa, lembra da pegada de carbono da iniciativa. "Ao deixar de queimar a palha da cana e utilizando-a para cogeração de energia juntamente com o bagaço, o setor evitará a emissão de 60 milhões de toneladas de CO2 equivalente entre 2007 e o fim da queima em 2017", diz Leão. Até aqui há ganhos econômicos, na medida em que mais energia será produzida pelas usinas para ser comercializada no mercado, usando matéria-prima antes descartada, a palha.
Apesar de todos esses números refletirem o que acontece em São Paulo, a mecanização da colheita está avançando em todos os Estados produtores de cana, inclusive no Nordeste e em suas terras íngremes. Mas, obviamente, o território plano do cerrado, onde está grande parte das áreas novas de expansão, a tecnificação cresce em velocidade maior do que a nordestina.
Em Mato Grosso do Sul, onde a maior parte dos projetos novos já nasce com colheita mecanizada, o nível de tecnificação já atingiu 40% (de 400 mil hectares) em 2009/10. Para o próximo ciclo, o percentual deve avançar para 50% em uma área 200 mil hectares maior. Em 2010/11, a área deve ser ampliada para 600 mil hectares, e a parte mecanizada deverá representar 50%. "Esse avanço veio das unidades novas, que foram construídas nos últimos dois anos", diz Roberto de Hollanda Filho, presidente da Associação dos produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul). No Estado, a lei prevê a extinção da queima em áreas mecanizáveis até 2016.
Em Minas Gerais, outro importante Estado produtor, a colheita com máquinas saiu de 32%, em 2008/09, avançou para 43% no ciclo seguinte e, na próxima safra deve atingir 50%, conforme a Associação das Indústrias de Açúcar e Álcool do Estado (AIAA-MG).
Apesar de todo o avanço, a colheita manual não deve ser 100% eliminada, ainda que a queima, sim, explica o diretor da Unica. Isso porque sempre haverá áreas não mecanizáveis que, em São Paulo, atingem 5% do plantio de cana. Além disso, os investimentos para adotar a tecnologia são um entrave às usinas e fornecedores de cana de menor porte, que representam cerca de 15% da área cultivada com o produto no Estado de São Paulo.
Uma colheitadeira custa pelo menos R$ 500 mil, mas o problema é que ela sozinha não basta. Secretário da Agricultura de São Paulo e fornecedor de cana, João Sampaio explica que o negócio é mais complexo. "É preciso agregar mais caminhões para transportar a cana, que passa a ser colhida em um tempo menor. Também é preciso um caminhão pipa para prevenir percalços de um excesso de aquecimento da colheitadeira, além de um aparato móvel de manutenção e lubrificação da máquina", diz.
Com a crise financeira e os baixos preços do etanol no ano passado, mesmo médios e grandes pisaram no freio nessa frente. Tanto que houve pouca conversão do corte manual já existente. "Poderia ter sido maior, mas, apesar da crise, a mecanização avançou de forma satisfatória, em cerca de 400 mil hectares de área nova", afirma Leão.
"Bom é que hoje minha filha não quer mais ser cortadora"
Quando "montou" pela primeira vez em uma máquina de colher, a ex-cortadora de cana, Isaura Freitas de Souza, de 38 anos, pensou que não ia conseguir aprender. O tamanho da engenhoca e a quantidade de botões a intimidaram. Depois de 21 anos de lida no canavial, Isaura foi convidada pela usina onde trabalha, pertencente ao grupo Cosan, para fazer um curso de operador de colheitadeira.
Há dois anos ela exerce a nova profissão, com salário até três vezes maior para um trabalho que exige esforço, mas infinitamente menor do que o de cortar cana. "O bom de tudo isso é que hoje minha filha não quer mais ser cortadora de cana. Quer operar máquina", comenta Isaura sobre os planos de sua primogênita, de 12 anos.
Desde a safra 2006/07 foram 30 mil vagas de cortador de cana fechadas somente em São Paulo - que atualmente emprega 140 mil trabalhadores na função. No próximo ciclo, esse número não vai cair, mas 10 mil vagas deixarão de ser criadas porque os projetos novos que entrarão em operação já nascem mecanizados. "Em torno de 20% do contingente total será reabsorvido pela mecanização", diz Eduardo Leão de Sousa, diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
O treinamento pelo qual Isaura passou é um dos cerca de 154 programas desenvolvidos pelas usinas do Centro-Sul que já existiam em 2008, quando a Unica fez seu primeiro levantamento socioambiental. Apesar do esforço para conter o impacto social do fim do corte manual, os programas têm limitações. "Quanto mais escolaridade o cortador tem, mais chances ele tem de crescer na usina", afirma Luiz Veguin, diretor de Recursos Humanos do grupo Cosan.
A Unica, juntamente com o governo de são Paulo e associações de trabalhadores rurais iniciam em fevereiro um amplo programa de treinamento, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para qualificar tanto cortadores que estão nas usinas quanto os que já saíram do mercado, com meta de qualificar 7 mil pessoas por ano.
Máquina de carregar, a grande revolução dos anos 60
Na época dele, fim dos anos 50, cortador de cana era aquele que morava na fazenda, muitas vezes trabalhava desde criança e ia para casa na hora do almoço. Luiz Antônio Lazarim, hoje com 63 anos, lidou com canavial entre os 11 e os 16 anos. Seu pai era trabalhador da usina Costa Pinto, a primeira construída pela família Ometto, em meados da década de 30. Depois foi trabalhar no escritório da indústria como auxiliar, chegou ao departamento pessoal e formou-se advogado. Assumiu a função na empresa, até que entrou na magistratura e atualmente é desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª região.
Mas, o fato, relembra ele, é que eram outros tempos. Não tinha queima de canavial. O mesmo cortador que colhia a cana, também classificava e transportava a matéria-prima em uma época em que as escalas de uma usina eram diferentes. A primeira mudança, relata, ocorreu na década de 60, quando uma máquina de carregar a cana foi inserida na lavoura. "Isso trouxe uma mudança radical, pois o cortador passou apenas a cortar e isso trouxe possibilidade ganhos de escala às usinas", conta.
A queima do canavial foi inserida no processo para eliminar a folhagem e possibilitar ao cortador mais agilidade. O maquinário da indústria foi se aperfeiçoando, as escalas aumentando, e as casas onde os antigos cortadores moravam tiveram que abrir espaço a mais canaviais.
De lá pra cá, a história já é mais conhecida. Mas, apesar da mecanização em curso em todo o país, há regiões que ainda continuarão usando mão-de-obra no corte da cana. Na região Nordeste, por exemplo, se as pesquisas em curso avançarem será possível mecanizar 30% do corte em cinco anos, espera Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco. O percentual atual é de 15% para uma área de 1 milhão de hectares e que emprega no corte manual 330 mil cortadores.
Subsidiado por um fundo privado, bancado por onze usinas e que deve reunir aproximadamente R$ 2 milhões, as pesquisas hoje focam em duas colheitadeiras adaptadas para regiões íngremes - uma trazida da África do Sul e outra, da China. As máquinas prometem um avanço sem igual nos canaviais nordestinos. Estão cortando de 15 a 20 toneladas por ano, enquanto por dia o corte manual rende 3 toneladas por pessoa.
Na lavoura mecanizada, desafio é encontrar gente qualificada
Desde os 14 anos, quando chegou ao interior de São Paulo, o cearense José Alcides do Nascimento corta cana de açúcar. Mas os dias de bóia-fria ficaram para trás. Hoje ele dirige orgulhoso uma colheitadeira, que faz todo o trabalho pesado.
"É um sonho realizado. No corte de cana, o desgaste físico é grande. Eu não conseguia estudar, não conseguia fazer nada", diz Nascimento. Aos 31 anos, ele comprou uma casa e prepara o casamento com a namorada de oito anos.
Mas não foi fácil mudar de vida. Sempre que tinha uma oportunidade, Nascimento ficava de olho no trabalho dos operadores de colheitadeiras. Ele se esforçou para completar os estudos e tirar a carteira de habilitação. "É preciso ser esperto." Na entressafra, está aprendendo uma nova profissão - trabalha de ajudante dos mecânicos de tratores.
Trabalhadores com a iniciativa do ex-bóia-fria ajudam a resolver um problema grave para o agronegócio: a falta de mão de obra qualificada, cada vez mais necessária à medida que avança a mecanização na lavoura.
O Grupo Usina São João, onde Nascimento trabalha, surgiu no interior de São Paulo, em Araras. Há alguns anos, adquiriu uma nova propriedade em Quirinópolis, no sudoeste de Goiás. Segundo o diretor de gestão de pessoas da empresa, Miguel Feres, a colheita é 100% mecanizada, o que torna complicada a tarefa de encontrar mão de obra.
Quinta-feira, o Senai, em parceria com a empresa e a prefeitura, inaugurou uma escola profissionalizante na região. O grupo USJ está construindo uma nova usina de cana de açúcar em Cachoeira Dourada (GO) e vai precisar de trabalhadores qualificados.
"Não é fácil encontrar pessoas para manejar tratores e colheitadeiras modernas. Ou você forma internamente ou tira de alguém", disse Feres. Ele contou que a empresa acaba trazendo profissionais de Goiânia, o que aumenta o custo.
Em Araras, apesar da maior disponibilidade de mão de obra qualificada, também não é fácil contratar gente. "Os jovens não querem trabalhar na agricultura", diz o executivo
8 comentários:
olá estamos precisando de ajuda do sindicato dos operadores de maquinas em especial o que trata de colhedora de cana o grupo cosan bem conhecido no intirior de são paulo esta pagando um salario de dar vergonha e não sabemos mais a quem recorrer ajuda nos cade o sindicato????????????????????
cade o sindicato dos operadores de maquinas que nesta hora não aparece pra lutar por nós estamos recebendo um salario de dar medo na univalem unidae do grupo cosan em valparaiso sp
a usina univalem na cidade de valparaiso do grupo cosan esta explorando a mão de obra dos operadores de colhedora de cana pagando o salario que eles querem cade o sindicato que não se manifesta nesta hora só que receber todo mes a contribuição sindical estamos esperando
a democracia deveria existir mas pra isso o povo deve se uni e uma falta de humanidade os homem da lei nao veem ou melhor finge que nao ver o que se passa .
krkw40ijybj
ola,ta uma vergonha o sindicatos dos operadores de cana de leme,principalmente o salarios,kd o onde esta o sindicato quando a gente mas precisa,o sindicato rural lutou e conseguiu sexta basica e um tick de 80 reais para os trabalhadores,e ainda 7 porcento no salarios,e nos como ficamos sera q nao temos valor ou é o sindicato q nao esta nem ai,vamos resolver isso ai pessoal nos temos nossos direitos.
quero agregar caninhao canavieiro,volvo 500 cavalo 0k. tenho dois caminhao to afim colocar no mato grosso.cotato 018 97742060ou luciano-redondo@hotmail.com
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