quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Conhecimento brasileiro mostra que etanol de cana é bom para ambiente

Os brasileiros através de trabalho e conhecimento técnico conseguiram derrubar uma das maiores "inverdades" dos últimos tempos, que o etanol brasileiro causa desmatamento e emite CO2. Foram dois trabalhos, um conduzido pelo Isaias Macedo, com participação do CTC sobre emissões e outro pelo ICONE sobre uso da terra.

O resultado final deste trabalho foi a classificação da EPA (agência ambiental americana) do etanol de cana como combustível avançado. Isso pode abrir as portas do mercado americano ao etanol brasileiro.

Abaixo, seguem duas notícias do Estado de São Paulo sobre este trabalho, encontradas no BrasilAgro que podem ser acessadas na íntegra clicando aqui e aqui:

Lição para os americanos fazerem contas
Método brasileiro mostrou que cálculo dos EUA estava errado

Para defender o etanol brasileiro, a equipe técnica da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica) tinha dois grandes desafios. O primeiro era medir as emissões de gases de efeito estufa do combustível desde o plantio da cana até o escapamento do carro.

O segundo era calcular o uso indireto da terra - o quanto o avanço da cultura da cana no Centro-Sul contribui para empurrar a pecuária e a soja rumo à Amazônia. Os dados elaborados pelos pesquisadores brasileiros foram enviados à Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos.

Para a primeira tarefa, contaram com Isaías de Carvalho Macedo, um dos pais do etanol. Ele participou da fundação do Centro de Tecnologia da Coopersucar (CTC). Na conferência ECO 92, o setor pediu que o CTC mostrasse as vantagens do etanol e o pesquisador teve a ideia de provar que o etanol emitia menos CO2 que a gasolina.

"Naquela época, ninguém ligava para isso", contou Macedo. Ele fez os cálculos e produziu um documento de três páginas que mostrava que o álcool reduzia as emissões em 80% em relação à gasolina.

Uma das contribuições de Macedo foi apontar ao EPA, por exemplo, que, no Brasil, o calcário utilizado nas usinas de cana é orgânico. Nos Estados Unidos, o calcário é sintético, produzido por meio de um processo petroquímico. Parece um detalhe, mas faz toda diferença em termos de poluição

Outro ponto foi explicar que o bagaço da cana moída nas usinas é utilizado para produzir energia de biomassa, que substitui a energia "suja" das termelétricas a gás. "Ao utilizar o etanol, você está limpando o sistema elétrico", defende Macedo.

Para calcular o efeito indireto do uso da terra, a Unica pediu ajuda ao Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). O trabalho consistia em criar um modelo matemático para fazer a conta.

O Icone fez uma parceria com o Instituto de Política Agrícola e Alimentos (Fapri), da Universidade de Iowa. O Fapri havia sido contratado pela EPA para fazer o cálculo. Segundo André Nassar, diretor do Icone, os americanos utilizavam o mesmo modelo para qualquer país.

No primeiro cálculo do Fapri, o etanol de cana reduzia a emissão de CO2 em 44%. Nassar conta que havia erros de quem não conhece a agricultura brasileira. O Fapri não considerou os 204 milhões de hectares de pastagem ou que são produzidas duas safras de milho por ano.

O Icone encerrou a parceria com o Fapri em 2008 e não sabe se suas sugestões foram aceitas. Nassar, no entanto, rodou o modelo de consenso dos dois institutos com suas hipóteses e chegou a 60% de redução das emissões - menos que os 61% anunciados pelo EPA.
A arma secreta do etanol brasileiro
Como um modelo matemático cacifou o lobby que abriu o mercado dos Estados Unidos ao álcool da cana

Luciane Chiodi sonhou com o Blum na sua lua-de-mel. Por mais de um ano, ela e os colegas de trabalho Marcelo Moreira, Leila Harfuth e Laura Antoniazzi, coordenados por André Nassar, dedicaram-se integralmente ao Blum. Leila conta que acordava de madrugada, com insônia, pensando em mudanças que poderia fazer no Blum. "Era só isso de manhã, de tarde, de noite", disse Moreira. Blum?

Blum são as iniciais de "Brazilian Land Use Model", que significa Modelo Brasileiro de Uso da Terra. Trata-se de uma ferramenta matemática, formada por centenas de equações, que ajudou a convencer os Estados Unidos de que o etanol brasileiro não é responsável pelo desmatamento da Amazônia e, portanto, não deveria ser penalizado por isso.

O Blum é apenas uma peça de um dos mais bem sucedidos lobbies feitos por empresários brasileiros no exterior. No dia 4 de fevereiro, a Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) classificou o etanol de cana como combustível avançado, com redução de 61% das emissões de dióxido de carbono (CO2) em relação à gasolina, acima dos 21% do etanol de milho. A decisão abre para o Brasil um mercado de até 40 bilhões de litros nos EUA nos próximos anos e funciona como um selo de garantia nos demais países.

Mas a vitória não veio de graça. Há três anos o etanol vinha sendo bombardeado por ambientalistas, que culpavam a cana pelos problemas na Amazônia, e por especialistas em segurança alimentar, que diziam que os biocombustíveis encareciam o custo dos alimentos.

Os usineiros brasileiros tinham de mudar essa imagem - uma tarefa difícil para um setor fragmentado e pouco internacionalizado. Sem saber direito que rumo seguir, a União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica) contratou Marcos Jank para dirigir a entidade. Filho de fazendeiros, Jank foi professor da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Banco Interamericano de Desenvolvimento em Washington. Com a bênção dos ex-ministros Luiz Furlan e Roberto Rodrigues, fundou o Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), entidade financiada por empresários.

Jank ganhou carta branca dos usineiros para abrir escritórios no exterior. Ele contratou em Washington o lobista brasileiro Joel Velasco, que tinha trabalhado no gabinete do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore.

Velasco assumiu o cargo em dezembro de 2007 e passou a circular pelo Congresso americano e a acompanhar a tramitação da Lei de Segurança e Independência Energética. A lei dividiu o etanol em três categorias (convencional, avançado e celulósico), com previsões diferentes de consumo. E entregou ao EPA a tarefa de calcular em quanto o etanol de cana reduz a emissão de gases de efeito estufa. Mais complicado ainda: o cálculo deveria incluir o efeito indireto do uso da terra.

A determinação provocou polêmica no Brasil. Usineiros e pesquisadores são contra a ideia de que a expansão da cana no Centro-Sul empurra a pecuária para a Amazônia. Argumentam que é impossível medir isso e que outros problemas, como a ocupação ilegal de terras, provocam desmatamento.

"O problema é que, se querem contar extra-terrestres em Marte, não adianta argumentar que ETs não existem", disse Velasco. "Disse isso na Unica e apanhei muito." Mas foi com esse pragmatismo que a entidade decidiu influenciar nos cálculos do EPA.

Velasco se aproximou dos técnicos do órgão logo no início de 2008. "Comecei a participar de todas as conferências que faziam", disse. Jank reuniu cerca de 20 especialistas para elaborar os argumentos brasileiros. Coube à turma de André Nassar, diretor executivo do Icone, criar o modelo matemático Blum, que provou que o efeito indireto da cana na Amazônia é muito menor do que os americanos achavam.

Em maio de 2009, o EPA apresentou o primeiro cálculo: o etanol de cana reduzia em 44% a emissão de CO2. O resultado foi uma decepção. Para ser avançado, o etanol deveria ter alcançado 50%. Para ser comparado ao celulósico, que ainda não foi desenvolvido comercialmente, acima de 60%.

O resultado do EPA estava aberto à consulta pública. Era a hora de apresentar os argumentos técnicos. Em agosto de 2009, o Itamaraty trouxe uma missão do órgão ao Brasil. Joel conta que ouviu, pela primeira vez, informalmente, qual seria o resultado no início de janeiro. "Um amigo me ligou e disse: Está sentado? Soube que o número do EPA deu 61%."

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu lí sobre isso no Estadão, no entanto aqui está bem detalhado, parabéns pelo post, dê uma olhada no www.mundodacana.blogspot.com , poderiamos trocar banner de visitação.