Parece que o brasileiro, um apaixonado por café, ainda é mercado potencial para nosso café. Um café que não é tão badalado quanto o colombiano, mas que ano a ano melhora de qualidade.
Abaixo seguem dois artigos sobre o café que encontrei no Notícias Agrícolas. O primeiro de autoria da Folha de São Paulo, comenta sobre o consumo per capita brasileiro que, apesar de ser alto como alguns países europeus, é menor do que a metade do consumo do países nórdicos, enquanto que o segundo, de autoria do SINCAL - Associação Nacional dos Sindicatos Rurais das Regiões Produtoras de Café e Leite que descreve os números da produção, exportação e o estoque de café de 2004 a 2008. Ao final do texto, seguem gráficos elaborados por mim com base em tabelas do artigo original
Consumo per capita de café se aproxima do recorde
Em 2009, foram consumidos no Brasil 4,65 kg per capita do grão torrado, contra a marca histórica de 4,72 kg registrada em 1965
Este ano poderá ficar marcado como o da virada para a indústria do café no Brasil. O setor comemorou no ano passado o crescimento do consumo anual per capita de café torrado (4,65 kg). A marca ficou bem próxima do recorde de consumo, de 45 anos atrás.
Em 1965, o consumo médio por habitante foi de 4,72 kg, segundo a Abic (a associação que reúne a indústria cafeeira). Portanto, se os brasileiros consumirem 71 gramas a mais de café ao longo de 2010, baterão a marca histórica. Os 4,65 kg equivalem a 78 litros da bebida.
Nos anos 90, a média do crescimento per capita de café torrado foi de 100 g. Nos anos 2000, é de 93 g.
Em 2009, o consumo de café no Brasil cresceu 4,15%, superando a expectativa da indústria. O relatório anual da Abic mostra que entre novembro de 2008 e outubro de 2009 foram consumidos internamente 18,39 milhões de sacas de café -ante 17,65 milhões no período anterior.
"O resultado excedeu as expectativas iniciais da Abic, que eram de um crescimento de 3%, levando em conta a crise econômica mundial iniciada em 2008. A crise (...) não afetou o consumo de café", diz o relatório da entidade.
O crescimento do consumo está relacionado não apenas ao número maior de xícaras de café que o brasileiro anda bebendo mas também às diversificações na hora de tomar a bebida, seja na forma de cappuccinos e outras combinações com leite.
A indústria credita essa situação à melhora da qualidade do produto oferecido, além da maior oferta de cafés superiores e gourmet e ao incremento do número de cafeterias.
Campeões
Embora seja o maior produtor mundial de café, o Brasil está ainda bem distante dos maiores consumidores. Na comparação feita em grão cru, o consumo per capita no Brasil é de 5,81 kg por ano.
O país supera o consumo per capita na França e na Itália e se aproxima do consumo na Alemanha -de 5,86 kg por ano.
"Os campeões de consumo ainda são os países nórdicos -Finlândia, Noruega, Dinamarca-, com um volume próximo dos 13 kg por habitante/ano", informa a Abic.
A entidade pretende estimular ainda mais o consumo do café, inclusive com a maior oferta de cafés diferenciados, ancorados nos selos de pureza da Abic, que, conforme a entidade, têm contribuído de forma importante para a expansão.
A partir das certificações, o Brasil começou, no início dos anos 2000, a exportar café torrado e moído, que agrega mais valor. O estímulo continua, embora a exportação desse tipo de produto ainda seja pequena.
De acordo com o Departamento do Café do Ministério da Agricultura, do total das exportações de café (1,715 milhão de toneladas) em 2009, apenas 5.419 toneladas foram de café torrado e moído. As vendas externas do café verde totalizaram 1,639 milhão de toneladas; do solúvel, 64,8 mil toneladas.
A produção foi de 39,4 milhões de sacas, sendo 18,4 milhões para o mercado interno. A estimativa para este ano é que o consumo interno atinja 19,3 milhões de sacas (5%).
Café – O que estamos bebendo?
O consumo de café no Brasil vem crescendo substancialmente nos últimos anos segundo a ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café) e está previsto um consumo de 19 milhões de sacas para o presente ano. Estamos praticamente igualando ao consumo norte americano.
Esta grande evolução vem contribuindo em muito com a cafeicultura nacional, mas infelizmente o café que estamos consumindo não demonstra a qualidade preconizada pelo setor industrial. Esta afirmativa podemos demonstrar através dos números da produção, consumo e exportação, vejamos:
Considerando que de 2004 a 2008 produzimos 196,8 milhões de sacas (fonte: MAPA/Conab), exportamos 137 milhões de sacas (fonte: MDIC/DECEX) e, consumimos 81,5 milhões de sacas (fonte - ABIC) temos uma média de 16,3 milhões de sacas/ano. Portanto nesses cálculos, faltam 22,4 milhões de sacas que seria provavelmente o estoque em 31/12/2003.
Segundo o MAPA/Conab o Brasil produziu 47,7 milhões de sacas de robusta/conilon e exportamos nesse período 6,5 milhões de sacas (fonte - MAPA), em forma de café verde e, como desconhecemos a realidade da composição do solúvel onde alegam segredo industrial imaginamos que fica de bom tamanho o fifty-fifty (50% de arábica e 50% de robusta ).
Com isso teremos no período de 2004 a 2008 uma produção industrial de solúvel exportado, equivalente a 15,7 milhões de sacas (fonte - MAPA); sendo assim aproximadamente 8,0 milhões de sacas como robusta. Pelos cálculos subtraímos do total produzido de robusta 6,5 milhões de sacas em forma de verde exportado e, 8,0 milhões de sacas na composição do solúvel sobrando portanto 33 milhões de sacas consumidas internamente de robusta, onde temos uma média de 6,6 milhões sacas/ano.
Sabemos que aproximadamente 10% da produção refere-se ao PVA (Preto, Verde e Ardido) que no período somam 19,6 milhões de sacas, que é consumido no mercado interno, pois, não conseguimos exportar resíduo e isso dá uma média aproximada de 4 milhões de sacas/ano.
Senhores cafeicultores e consumidores entre robusta/conilon e PVA, estamos consumindo uma média de 10,6 milhões de saca/ano sobrando tão somente 5,7 milhões de sacas/ano de arábica para o nosso consumo, ou seja, estamos bebendo tão somente 35% do café que dá a palatabilidade, aroma e outras propriedades organolépticas que caracterizam o café de qualidade.
Não estamos fazendo apologia contra o conilon que é produzido por cafeicultores sofridos e honrados, mas alertamos que essa quantidade desproporcional de conilon no consumo interno poderá trazer sérios reflexos no desenvolvimento normal do mercado. Isso se, já não está impactando, pois, pelo aumento do poder aquisitivo e da renda per capita das classes sociais brasileiras, o aumento de consumo preconizado pela ABIC está muito aquém do ideal.
O povo brasileiro é aguerrido ao café e, prova disso que em qualquer recanto desse nosso país, quando chegamos numa residência a primeira ação de sociabilidade é oferecer um cafezinho mesmo antes d água. Graças a Deus o povo brasileiro que tem esse excelente glamour com o café, mas, por outro lado esse mesmo consumidor é maltratado pela indústria nacional que empurra “GUELA ABAIXO” um café misturado até com resíduos que deveria ser descartado como matéria orgânica para estercar nossos cafezais ou servir como fonte de biodiesel já ventilado pela UFV (Universidade Federal de Viçosa)
A SINCAL, como legitima representante dos cafeicultores, toma a liberdade de aconselhar a ABIC a segmentar e diferenciar, enfaticamente como se faz o bom marketing em praticamente todos os segmentos da economia desde as bebidas, indústria alimentícia, até as indústrias mais pesadas como de carros e aviões.
O café como o vinho oferece nuâncias muito particulares que proporciona uma segmentação com agregação de valor numa escala extraordinária. Para os mais velhos, basta lembrar da infância, dos vinhos importados em tonéis oriundos do velho continente ou mesmo dos garrafões do vinho nacional. Acabou-se toda essa lambança comercial com a cadeia do vinho, trazendo vastíssima e rica segmentação, sendo um dos maiores exemplos de agregação de valor. Senhores industriais e representantes da ABIC, precisamos melhorar o nosso café, valorizar este precioso produto, tirando o PVA, o excesso de robusta e atender as riquíssimas nuâncias de palatabilidade.
Outro ponto é a rotulagem do café, defendido veementemente pela APAC (Associação dos Produtores de Café do Paraná) mais especificamente pelo Dr. Ricardo Strenger. É uma medida justa, racional, inteligente e salutar. O consumidor tem o direito de saber o que está bebendo e, num marketing verdadeiro, aberto e claro, teremos que segmentar e agregar e lá não escapa a citação de todas as características mostrando ao consumidor o seu direito de escolha com conhecimento e diferenciação. A partir do momento que a indústria nacional e multinacional, que atuam no Brasil, nos ramos industrial e comercial do café partirem para o marketing da qualidade, teremos uma explosão de consumo e servirá como exemplo de sucesso para as melhores teses. “O respeito ao consumidor pela qualidade de um produto é o grande sucesso do negócio”.
Precisamos incentivar o povo brasileiro a beber café de qualidade. Vamos abolir esse PVA o qual já definimos, vamos rotular e claro, vamos ganhar dinheiro, pois esse mercado é riquíssimo e está padecendo de inovações, de quebras de paradigmas e, assim estaremos contribuindo com a cadeia do agronegócio café, apoiando esses esquecidos 320.000 cafeicultores por esses rincões brasileiros.
Vamos esquecer o drawback. Precisamos vender e não comprar. O Brasil possui a maior gama de tipos e qualidade de café do mundo. Produzimos cafés nos mais diferentes tipos de solo, altitude, latitude, longitude numa extensão territorial quase que continental dando a maior diversidade do mundo e não justifica importar café. Por quê? Pelo preço? Não é verdade, somos vendedores amadores no mercado mundial de café.
Vendemos sempre muito barato detonando com os preços do mercado mundial. Chega de Commodity, vamos segmentar, diferenciar, agregar e valorizar o nosso precioso CAFÉ como é feito pelos mercados desenvolvidos.
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