segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Fusão Cosan - Shell: A fusão do ano?

Anunciada na segunda-feira passada, a união entre a Cosan e a Shell surpreendeu o setor e até mesmo o mundo. Entrei no BrasilAgro e fiz um resumo das principais notícias publicadas desde então, com o objetivo de concentrar a informação em um único post que segue abaixo:

Cosan e Shell anunciam aliança de US$12 bilhões

A Cosan, maior empresa do setor sucroalcooleiro no Brasil, anunciou nesta segunda-feira negociações com a Shell para a formação de uma joint-venture avaliada em 12 bilhões de dólares que vai reunir sob um mesmo teto operações de açúcar, etanol, distribuição de combustíveis e pesquisa.

O negócio, anunciado na segunda-feira após a assinatura de um memorando na véspera, confirma a tendência de crescimento de investimentos estrangeiros na indústria de biocombustíveis do Brasil.

Em 2008, a britânica BP adquiriu uma fatia de 50 por cento na Tropical Bioenergia. A Bunge fez acordo em dezembro para comprar a Moema, por 452 milhões de dólares, enquanto em 2009 a francesa Louis Dreyfus ampliou sua participação no setor ao assumir a Santelisa Vale.

"A visão da Cosan é se tornar uma líder global em energia limpa e renovável. O nosso tamanho, grau de sofisticação e estágio de desenvolvimento recomenda um parceiro que não apenas compartilhe estes objetivos, mas também tenha acesso a mercados internacionais...", afirmou Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do Conselho de Administração da Cosan, em comunicado nesta segunda-feira.

Por volta das 13h20 (horário de Brasília), as ações da Cosan saltavam cerca de 12 por cento, enquanto as da Shell operavam em alta de 1,3 por cento.

O memorando assinado pela Cosan prevê negociações exclusivas por 180 dias para a formação da joint-venture que vai unir os negócios da Cosan de açúcar e etanol, incluindo co-geração de energia, com ativos de distribuição e comercialização de combustíveis da Shell no Brasil, além da participação da petrolífera em empresas de pesquisa e desenvolvimento a partir da biomassa.

Segundo o diretor financeiro da Cosan, Marcelo Martins, a joint-venture deve ter uma receita bruta anual estimada em 40 bilhões de reais.

DIVISÃO DA JOINT-VENTURE

Pelo acordo anunciado, o valor dos ativos a serem transferidos pela Cosan à associação soma 4,925 bilhões de dólares. A companhia ainda vai migrar dívidas líquidas de cerca de 2,524 bilhões de dólares.

Enquanto isso, a Shell vai fazer em até dois anos aporte em dinheiro na joint-venture de cerca de 1,625 bilhão de dólares e valor "contingente" estimado em 300 milhões de dólares ao longo de cinco anos, "a título de contribuição adicional baseada em ganhos futuros da estrutura conjugada".

Não foram divulgadas estimativas do valor da rede de distribuição da Shell no Brasil.

Segundo a Cosan, a associação será "possivelmente" implementada por meio da criação de duas companhias. Uma ficaria a cargo de açúcar, etanol e co-geração de energia. A outra ficaria com os ativos de distribuição de combustíveis, que será a terceira maior do setor do país, com 4.500 postos de combustíveis no Brasil.

A Cosan já atua no setor de distribuição de combustíveis por meio da Esso, cujas operações brasileiras foram adquiridas em 2008 por aproximadamente 1 bilhão de dólares.

Em dezembro, a empresa anunciou a compra da rede de distribuição da Petrosul, com mais 83 postos.

DISTRIBUIÇÃO NACIONAL

Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura, com o negócio, a distribuição deve ficar "cada vez mais nacionalizada no Brasil".

Ele lembrou que agora o forte da distribuição está com grupos brasileiros: BR Distribuidora, Ipiranga (Grupo Ultra), Cosan/Shell e Ale.

A líder em distribuição de combustíveis no país é a BR Distribuidora, da Petrobras, seguida pela Ipiranga, de acordo com dados do Sindicomb, o sindicado do setor.

"Isso (a notícia) reforça os argumentos da decisão da Petrobras de entrar no negócio de etanol", acrescentou Pires, destacando que a consolidação traz a profissionalização para o setor sucroalcooleiro.

"Não vai ter mais aquelas 400 usinas, vão ser menos empresas, mas mais fortes."

A Petrobras teria dado "mandato" a um banco para negociar eventuais aquisições de até oito usinas, segundo Pires.

Nelson Matos, do BB Investimentos, considerou que o negócio "é positivo para as empresas, que ganham escala, mas em distribuição ainda ficam aquém da Petrobras".

Para Matos, após a formação da joint-venture, será a Ale que ficará "na mira de compra".

A Cosan vai dar mais esclarecimentos sobre a operação ainda nesta segunda-feira.

A companhia vai deixar de fora da associação suas atividades com produção e venda de lubrificantes, atividades logísticas da Rumo Logística, propriedades agrícolas e marcas de alimentos, como "Da Barra" e "União" (Reuters, 1/2/10)

Aliança de Cosan e Shell é último passo de quase nacionalização do setor de distribuição de combustíveis, diz especialista

A aliança da Cosan - que já é dona da Esso - com a Shell é o último passo da nacionalização do setor de distribuição de combustíveis no Brasil, segundo o professor da UFRJ e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. Segundo ele, o mercado brasileiro de distribuição fica ainda mais fortemente dominado por empresas de capital nacional.

- De certa maneira, se vê quase uma nacionalização do mercado de distribuição, já que a Cosan agora se une à Shell, depois de comprar a Esso. A Texaco já foi comprada pela Ipiranga e a Repsol pela Ale, que tem apenas uma participação minoritária de um fundo americano - explica Pires.

Esta nacionalização se dá como consequência de um forte processo de consolidação do setor. Caso a aliança entre Cosan e Shell seja confirmada, apenas quatro empresas (BR Distribuidora, Ipiranga, Cosan/Shell e Ale) responderão por mais de 90% da distribuição de combustíveis, segundo o especialista.

No setor sucroalcoleiro, por outro lado, essa consolidação ocorre com o aumento da participação dos grupos estrangeiros.

- Enquanto o setor de distribuição de combustíveis se torna quase 100% nacional, o setor sucroalcooleiro se desnacionaliza - diz Pires.

A multinacional francesa Louis Dreyfus Commodities (LDC) anunciou, em outubro de 2009, a incorporação da brasileira Santelisa Vale para a criação da LDC-SEV Bioenergia. A nova empresa nasceu como a segunda maior produtora de açúcar e álcool do mundo, com capacidade de processamento de 40 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano, só superada pela Cosan, que processa 60 milhões de toneladas anuais. Em dezembro, americana Bunge anunciou a compra de 100% da Moema Participações, holding que possui uma usina de cana de açúcar em Orindiúva (SP), além de participação em outras cinco.

Para Adriano Pires, a aliança entre Shell e Cosan marca ainda a entrada de uma grande empresa de petróleo no setor sucroalcooleiro, que até então vinha atraindo companhias do setor de alimentos, como a Dreyfus e a Bunge (O Globo, 1/2/10)

Parceria deve dar novo ânimo e mais tecnologia ao setor

O setor de álcool, que vivia um cenário de indefinições nos dois últimos anos, pode ganhar vida com a parceria entre Cosan e Shell, último capítulo da internacionalização da área.

A questão ambiental deve se acirrar ainda mais nos próximos anos. Com isso, a Shell, uma das principais produtoras e distribuidoras de gasolina no mundo, buscará ser uma das primeiras a oferecer uma gasolina menos poluente. Sua grande participação no cenário internacional provocará uma evolução da demanda de álcool anidro, que é misturado à gasolina. Ganha a indústria brasileira, que tem a maior oferta exportável de álcool.

Um segundo ponto é que a empresa anglo-holandesa deve acelerar os investimentos na busca do álcool de segunda geração, proveniente do bagaço ou até da palha da cana. Com os pés no Brasil, onde a oferta de matéria-prima para a produção desse álcool de segunda geração é grande, ela deverá trazer e desenvolver essa nova tecnologia no país, colocando as usinas brasileiras um passo à frente.

Como diz Luiz Carlos Corrêa Carvalho, diretor da Canaplan e especialista no setor, "a questão do álcool é uma questão de tempo, sempre em função do problema ambiental -parece que a hora chegou". Na medida em que a questão ambiental cresce, as alternativas mais viáveis aos hidrocarbonetos ganham importância, afirma.

Carvalho diz que até o mercado norte-americano, que tem de se definir sobre as restrições às importações até o final deste ano, deve derrubar as barreiras tarifárias, tornando inevitável a aceleração da abertura.

O mercado amadurece principalmente porque há uma revoada de grandes empresas para o país, entre elas as principais companhias de petróleo, como a British Petroleum. "As outras irmãs dessa indústria do petróleo que ainda não vieram devem vir logo", diz Carvalho.

A vinda dessas empresas não deve se limitar ao álcool, mas abarcar todo o processo de produção de energia. O especialista alerta, porém, de que o país deve montar uma política regulatória com competência, sem querer derrubar a lei da oferta e da demanda. "As condições para a formação do mercado internacional estão sendo montadas, e as chances estão aí." (Folha de S.Paulo, 2/2/10)

Shell prepara Cosan para liderança mundial em etanol
Acordo trará para a companhia brasileira desenvolvimento tecnológico e maior logística na exportação do biocombustível.

Na série de seis livros chamada "Ciclo da cana-de-açúcar", o escritor José Lins Rego personifica o mundo sucroalcooleiro na figura de um patriarca todo-poderoso que tocava o próprio negócio com afinco. "O velho José Paulino governava os seus engenhos com o coração", escreveu o autor paraibano. Essa descrição se aproxima bastante da personalidade do executivo paulista Rubens Ometto Silveira Mello, controlador da Cosan. Sedento por multiplicar seus ativos com aquisições atrás de aquisições, o empreendedor costuma dizer para os mais chegados que prefere trabalhar com pessoas ansiosas, porque se identifica com elas.

O senso expansionista de Ometto, herança do DNA de seus bisavós italianos, é característica marcante de alguém que não perde a oportunidade de incorporar empresas. Só que, dessa vez, o executivo brasileiro teve de conter o seu afã, a fim de ver a sua companhia decolar no cenário global. "Sou obcecado pelo desenvolvimento do negócio. Para crescer, estou disposto a ter um sócio", disse ele nesta segunda-feira (1/02), depois de anunciar a assinatura do memorando de entendimentos com a Shell.

A joint-venture entre a Cosan e a Shell, avaliada em 12 bilhões de dólares, criará a maior produtora de etanol do mundo, com faturamento anual estimado em 40 bilhões de reais - o que alçaria o negócio entre as dez maiores empresas do Brasil. O objetivo principal da associação será explorar e desenvolver o potencial do álcool para torná-lo uma commodity mundial. A nova companhia terá capacidade de produção anual de dois bilhões de litros de etanol. Esse volume ficará abaixo da demanda de três bilhões de litros consumidos na rede de postos resultantes da parceria do negócio. Mas a tendência é que, ao longo dos próximos anos, essa diferença seja equiparada.

Para criar uma referência global na produção de etanol, a Shell fará durante dois anos um aporte de 1,625 bilhão de dólares e assumirá a dívida de 2,5 bilhões de reais da Cosan. Em contrapartida, a companhia brasileira desembolsará cerca de um bilhão de reais, o correspondente a cerca de 70% do total de seu patrimônio. Esses investimentos serão destinados ao desenvolvimento tecnológico na produção de etanol e à ampliação das operações no mercado doméstico. "Com essa união, teremos ganhos com logística, eficiência e escala. Isso reduzirá os nossos custos operacionais", afirmou em teleconferência Mark Williams, diretor mundial de Downstream da Shell.

Apoiada na experiência e na estrutura da Shell estabelecida no mercado global, a Cosan, acelerará o seu processo de internacionalização para se tornar líder mundial no setor de etanol. A expectativa é que, com o apoio de uma multinacional, a companhia brasileira faça outras aquisições no mercado interno para vitaminar a sua atividade no país. Se a transação dará certo (ou não), ainda é muito cedo para dizer. Nos próximos seis meses, muitos detalhes ainda serão acertados - como, por exemplo, a disposição dos assentos na governança corporativa da joint-venture. De qualquer forma, o executivo Rubens Ometto já se mostra com o coração rendido ao negócio tal como o Coronel José Paulino, personagem de José Lins Rego: "A Cosan vem sendo namorada por várias empresas. Mas nós casamos com a Shell, porque ela é a melhor" (Portal Exame, 2/2/10)

Rubens Ometto diz que "jogo está só começando" e quer agora fazer mais aquisições fora do Brasil

Pragmático, Rubens Ometto Silveira Mello não pensa duas vezes. "Agora, o jogo está mais interessante", disse o empresário ao Valor. Com a associação da sua companhia com a segunda maior petrolífera do mundo, a anglo-holandesa Shell, a Cosan vai dar passos cada vez mais altos.

"Temos planos dentro e fora do Brasil", afirmou o empresário. A Cosan se torna uma das maiores distribuidoras de combustíveis do país e a Shell se torna uma das maiores produtoras de etanol e açúcar do mundo.

"Podemos fazer aquisições fora do Brasil. Mas, é sempre bom lembrar que álcool de cana é mais competitivo no Brasil", afirmou Ometto.

Com a Shell, a Cosan vai avançar em etanol de segunda geração. Com a Cosan, a Shell vai ganhar expertise em produção de álcool de primeira geração.

Prestes a completar 60 anos - no próximo dia 24 de fevereiro -, Rubens Ometto diz, brincando, que só para de se envolver em negócios quando morrer. "Se eu parar, eu morro. Me sinto com corpinho de 45", comenta. Pai de duas filhas, o empresário diz que não está preocupado com sucessão. "Acho que não tem esse negócio de sucessão. Isso é muito relativo. Estou preparando meus herdeiros para cuidar do patrimônio, não como gestores."

Maior acionista individual da Cosan (ele não revela a participação), Rubens Ometto diz que tem planos mais ousados para sua companhia, criada formalmente em 1986, embora sua família esteja no setor sucroalcooleiro desde o final do século 19.

Nos últimos cinco anos, Ometto só fez a Cosan crescer. No fim de 2005, levou a companhia para a Bovespa. No ano seguinte, fez sua estreia em Nova York. Em 2008, a Cosan anunciou a compra dos ativos da Esso no Brasil, colocando a empresa entre as cinco maiores distribuidoras de combustíveis do país. Também no ano passado, a Cosan comprou a Nova América, tornando-se a maior produtora de açúcar no varejo, com a marca União. Atualmente, com 23 usinas, a Cosan tem capacidade para processar cerca de 60 milhões de toneladas de cana. Esse volume supera toda a produção de cana da Austrália, que já foi um dos principais países exportadores de açúcar do mundo.

Sempre cercado de pessoas de sua confiança, o empresário decidiu sair do dia-a-dia no ano passado para assumir a presidência do conselho. "Quis ficar livre para pensar." E conseguiu ir longe. Nos últimos meses, alinhavou a aliança com a Shell. "Sempre tivemos afinidades." Agora, segundo ele, a Cosan está mais capitalizada, com maior geração de caixa e cheia de planos para expandir no mercado internacional.

"Podemos até ter uma usina de álcool fora do país." O empresário afirmou que a companhia sempre foi sondada por grupos para possíveis alianças. "Temos parceria com a Shell desde quando a venda de álcool ainda era estatizada [a intervenção do governo terminou no início dos anos 90]".

No mercado, Rubens Ometto é conhecido como um empresário centralizador. Sua atitude nos últimos anos, mostra justamente o contrário. "Estou cercado de pessoas de minha inteira confiança. Pessoas que têm tesão pelo trabalho, como eu tenho", disse. (Valor, 2/1/10)

Presidente da Cosan vê consolidação do setor de forma positiva

O presidente da Cosan, Marcos Lutz, disse que vê com "muito bons olhos" a consolidação por qual o setor sucroalcooleiro atravessa. Segundo ele, a consolidação criará grandes empresas que terão capacidade de investir de forma séria na produção, desenvolvimento de novas tecnologias e também na renovação do setor.

"A entrada de grandes grupos no setor é positiva", disse ele, lembrando que a Cosan vai processar na próxima safra cerca de 61 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.

Ele ressalta que atualmente o setor é formado por mais de 300 usinas, muitas das quais não são eficientes. "Estas usinas poderiam se unir e formar 'dez Cosans' e isto só traria benefícios", disse, afirmando não temer a concorrência que este movimento de consolidação pode trazer.

Ele lembra que, na próxima safra, as usinas de Jataí, Goiás, e Caarapó, no Mato Grosso do Sul, irão entrar em operação. A expectativa é de que cada uma processe 2 milhões de toneladas de cana, adicionando 4 milhões de toneladas ao volume total da Cosan. Lutz ressalta que Jataí tem capacidade de moagem de 4 milhões de toneladas, mas que a usina irá gradualmente aumentando sua produção (Agência Estado, 4/2/10)

Shell – Cosan: sem o dedo do Estado
O anúncio da união entre Cosan e Shell foge ao figurino das últimas grandes fusões no país - todas com a influência do governo.

Nos últimos dois anos, o estado patrocinou, direta ou indiretamente, as principais fusões de grupos empresariais na economia brasileira: Oi e Brasil Telecom, nas telecomunicações; Aracruz e VCP, em papel e celulose; em alimentos, Perdigão e Sadia, assim como JBS-Friboi e Bertin; Braskem e Quattor, na petroquímica.

Na semana passada, o anúncio de que em 180 dias a anglo-holandesa Shell, a quinta maior petroleira do mundo, e a brasileira Cosan, a maior produtora global de açúcar e álcool, deverão concluir as tratativas para selar uma aliança foi uma exceção nesse panorama. Não houve nenhum tipo de interferência do governo no negócio.

A união, aliás, teve entre suas motivações a necessidade das duas empresas de fazer frente ao gigante brasileiro dos combustíveis, a Petrobras, sobretudo no setor de distribuição. "Num mercado como o nosso, ocupado por colossos, esse tipo de parceria é essencial. Nós aceleramos os planos de internacionalização e a Shell entra com força no mercado de etanol", explica o diretor-presidente da Cosan, Marcos Lutz.

A nova empresa nasce com 19% do negócio de distribuição no Brasil - que faturou 192 bilhões de reais no último ano - e com 4.500 postos de combustíveis espalhados pelo país.

O surgimento de um "neoestatismo" não está restrito ao Brasil. Sobretudo em países emergentes, e sobretudo em setores que demandam investimento maciço, o estado vem recobrando (ou reafirmando) o papel de agente econômico.

O setor petrolífero é um dos melhores exemplos. Hoje, quatro de suas dez maiores empresas têm o estado no comando: as chinesas PetroChina e Sinopec, a russa Gazprom e a Petrobras. No ano 2000, só apareciam grupos privados nesse ranking. Diante desse novo desafio, líderes tradicionais como a Shell têm procurado aliar-se a projetos governamentais - como na sua parceria com a Petrobras em três plataformas de exploração na costa brasileira - ou assegurar a dianteira em áreas nas quais a briga ainda é viável. É o caso da distribuição.

No Brasil, dos quatro grandes setores que formam a indústria petrolífera, a Petrobras tem quase 100% de dois: produção e refino (os mais lucrativos, aliás). Na distribuição, a Petrobras domina 37% do mercado.

Há algo como uma centena de distribuidores que batem de posto em posto para seduzir os donos a adotar sua bandeira - com muita lábia, facilidades de pagamento e outras políticas comerciais agressivas. As margens, apertadíssimas, giram em torno de 3%. "Essa é a área menos lucrativa e mais competitiva", diz Alísio Vaz, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom).

A tendência, no entanto, é que também aqui haja concentração ao longo dos próximos anos. "Esse processo já está em andamento", diz a analista Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria. Em 2007, a Petrobras e o Grupo Ultra - então estreante nesse mercado - dividiram, entre si, os ativos da rede Ipiranga. Um ano depois, o Ultra também comprou, dessa vez da americana Chevron, os postos Texaco. Do zero, em três anos, o grupo passou a ter 19% do setor - a mesma fatia conquistada pela Cosan-Shell.

Quando se põe a lupa sobre uma das subdivisões do setor de distribuição, aquela que lida com o etanol, observa-se que a disputa é mais equilibrada. Cosan-Shell, Petrobras e Ultra têm cerca de 20% cada um. É esse segmento também que mais cresce. Entre 2002 e 2008, a venda de etanol subiu quase quatro vezes, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).

O aumento no consumo de gasolina e diesel não passou de 20%. Foi justamente por causa do etanol que a Shell procurou a Cosan. Unindo-se a ela, saiu do campo da pesquisa e dos pequenos negócios em biocombustível para ter uma operação de grande porte. "O álcool de cana-de-açúcar é um excelente negócio porque é sustentável, tem escala, é comercialmente viável e não compete com alimentos, como o milho nos Estados Unidos", diz o presidente da Shell no Brasil, Vasco Dias.

O etanol, na verdade, é muito mais que um "bom negócio": é unânime a ideia de que o futuro das velhas petrolíferas passa pelo investimento em fontes renováveis de energia. Quanto à Cosan, o principal interesse na parceria com a multinacional era acelerar sua internacionalização. "A Shell tem 45.000 postos em 100 países. Nesse quesito, é a maior do mundo. Nada melhor do que unir o útil ao agradável", comemora Marcos Lutz (Revista Veja, edição 2151)

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