quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Diesel de cana caminha a passos largos no Brasil

Parece que a produção de diesel a partir de processos biotecnológicos da cana-de-açúcar está bem próxima de ocorrer em maior escala no Brasil. Nos últimos tempos estamos vendo diversas notícias sobre o tema. Fiz um apanhado de todas estas notícias que encontrei no BrasilAgro para melhor compreensão do tema.

A primeira delas foi publicada em 4 de fevereiro pela Agência Estado e trata das negociações da empresa americana LS9 com a usina Jalles Machado para montagem de plantas industriais. Na sequência, a Amyris, outra empresa do setor já instalada em Campinas, foi notícia na Exame, onde tomamos conhecimento da história da empresa e suas negociações com Grupo São Martinho.

Alguns dias depois (10/02), o Valor Econômico noticia que o o fundo de private equity Strauss compra 40% da participação da Amyris no Brasil, pagando R$ 100 milhões, mostrando a oportunidade de desenvolvimento do setor. Essa oportunidade mostrou-se maior ainda quando, dois dias depois, a CTNBIO libera a levedura transgênica capaz de realizar esta transformação. Esta notícia foi publicada pelo Estado de São Paulo.

Para completar esta série de boas notícias, o site Tosabendo.com publica no mesmo dia, que o diesel de cana será incorporado ao Marco Regulatório dos Biocombustíveis.

Abaixo seguem as notícias de forma cronológica:

LS9 procura usina no Brasil para produzir diesel de cana

A empresa de biotecnologia norte-americana LS9 está procurando parcerias com usinas do setor sucroalcooleiro no Brasil para produzir diesel a partir de cana-de-açúcar, de acordo com afirmação do CEO da companhia, Bill Haywood. Segundo ele, o Brasil será a base da LS9 para testar a nova tecnologia desenvolvida pela empresa, sediada na Califórnia.

A LS9 anunciou, na semana passada, a descoberta de um método de produção revolucionário e de baixo custo para transformar a celulose contida na biomassa em combustíveis renováveis em um processo que envolve apenas uma fase. Haywood informa que a LS9 já está em negociações com algumas usinas no Brasil para produzir o diesel a partir de cana. Uma dessas empresas é a usina Jalles Machado, localizada em Goianésia, Goiás.

Haywood explica que a expectativa da LS9 é de possuir pelo menos uma unidade produzindo o diesel a partir de cana comercialmente no Brasil já no início de 2013. Entretanto, unidades poderão produzir em escala menor já a partir de 2010. "Nós estamos investigando o mercado brasileiro e estudando a melhor forma de parceria a ser realizada", disse Haywood.

Segundo ele, o volume de investimentos necessário será determinado em função do tamanho da produção a ser realizada, o que será definido no decorrer nos próximos seis meses. O objetivo, segundo o executivo, é encontrar o parceiro ideal para uma implementação rápida e segura.

Para Haywood, o Brasil é o lugar ideal para a implantação da nova tecnologia da LS9 porque une o menor custo de produção de cana-de-açúcar do mundo com a tecnologia de produção de combustível renovável a partir de cana que possui também um custo baixo. "O fato da transformação da biomassa em combustível ser efetivada em um processo de apenas uma fase é uma vantagem competitiva bastante importante", disse.

Por meio desta nova tecnologia, que usa microorganismos específicos para fermentar a celulose contida na biomassa e mesmo no caldo de cana, a LS9 pretende produzir diesel renovável (para substituir o mineral), biodiesel , combustíveis para aviões e também produtos químicos com maior valor agregado. A tecnologia para produzir estes combustíveis renováveis de segunda geração foi desenvolvida em uma parceria entres cientistas da LS9, da Universidade da Califórnia e do Departamento de Energia dos Estados Unidos. Ontem, a LS9 anunciou que adquiriu uma fábrica localizada na Flórida onde será realizado a produção inicial de combustíveis renováveis através da nova tecnologia desenvolvida pela empresa. A unidade deverá produzir entre 227,3 mil e 454,6 mil litros de diesel renovável a partir do final de 2010. Segundo Haywood, este nível de produção irá permitir a viabilidade comercial deste diesel renovável, que já possui marca registrada de UltraClean Diesel. Também na unidade da Flórida a matéria-prima a ser utilizada é derivada de cana-de-açúcar.

No Brasil, a usina Jalles Machado, localizado em Goianésia, em Goiás, foi uma das usinas procuradas pela LS9. "Estamos analisando a proposta feita pela LS9 para produzir o diesel de cana aqui", disse Henrique Penna de Siqueira, diretor da Jalles. Segundo ele, os executivos e cientistas da LS9 visitaram a usina em outubro do ano passado e ofereceram a parceria. Siqueira não revelou os detalhes da proposta mas disse que uma unidade modelo está sendo projetada aqui no Brasil para ser adaptada à usina Jalles Machado para a produção do diesel a partir de cana. Siqueira disse que as negociações ainda não estão fechadas mas a usina foi escolhida por sua localização estratégica e grande disponibilidade de matéria-prima a um baixo custo. Na safra 2009/10, a Jalles Machado processou, de abril a novembro de 2009, 2,6 milhões de toneladas de cana e produziu 84 milhões de litros de etanol, 173,5 mil toneladas de açúcar e 128 mil megawatt/hora de energia elétrica.

Amyris: Uma usina de inovações a partir da cana-de-açúcar
Com dinheiro de renomados investidores de risco internacionais e grupos brasileiros, a Amyris prepara-se para inaugurar a era das biorrefinarias no país.

Localizada no município de Quirinópolis, no sudoeste de Goiás, a usina Boa Vista é hoje um dos melhores exemplos do que esse setor pode esbanjar em termos de modernidade e excelência. Inaugurada em 2008 e integrante do grupo São Martinho, um dos maiores produtores de açúcar e álcool do país, a Boa Vista tem sua colheita 100% mecanizada e, por isso, não utiliza queimadas. No estado de São Paulo, a média de mecanização dos canaviais não passa de 55%. Toda a energia consumida é gerada pela própria usina. A eletricidade vem da queima do bagaço de cana, e dois terços da produção são revendidos. A despeito disso, a Boa Vista continua sendo capaz de tirar da cana os mesmos produtos de todas as outras usinas do país: açúcar e álcool. Isso, porém, deve mudar em 2011. Uma nova tecnologia permitirá que o caldo de cana da Boa Vista se transforme em matériaprima para um leque de produtos muito mais diverso e sofisticado do que as commodities que ela hoje produz. A detentora dessa fórmula mágica, que promete levar a indústria sucroalcooleira do país a outro patamar, é a Amyris, empresa de biotecnologia americana com quem o grupo São Martinho negociou a venda de 40% da Boa Vista em dezembro do ano passado.

Com sede em Emeryville, no Vale do Silício, onde está a renomada Universidade da Califórnia, em Berkeley, a Amyris nasceu quando um grupo de cientistas recebeu da Fundação Bill e Melinda Gates cerca de 42 milhões de dólares. O objetivo do financiamento era baratear a produção de artemisina, medicamento de combate à malária. O projeto não só vingou como, durante as pesquisas, os cientistas descobriram que a tecnologia desenvolvida também poderia ser usada para outros fins. Na prática, o que a Amyris sabe fazer e que interessa ao Brasil é modificar geneticamente organismos vivos como a Saccharomyces cerevisiae, a levedura usada no processo de produção da cerveja e também do etanol. Uma vez modificada, e em contato com o açúcar, essa levedura pode dar origem a uma série de moléculas. Uma delas é o farneseno, com a qual a empresa já detém conhecimento para produzir um diesel de origem vegetal que tem desempenho semelhante ao de origem fóssil. Com outra molécula será possível produzir combustível à base de cana para aviões e até mesmo um substituto para a gasolina comum. A combinação de açúcar e farneseno também pode render substitutos para outros produtos que hoje têm origem fóssil, como lubrificantes para carros, solventes para a indústria de tintas e compostos para empresas de higiene e limpeza. Aliando biotecnologia de ponta com a cana tradicional, a Amyris quer transformar o Brasil em pioneiro num novo tipo de negócio: o das biorrefinarias.

A tecnologia é considerada tão promissora que muitos grupos brasileiros acompanharam os grandes fundos de capital de risco americanos e também fizeram aportes na Amyris (veja quadro). A Votorantim, por meio do fundo Votorantim Novos Negócios, o grupo Cornélio Brennand, que tem sede em Pernambuco, e alguns investidores de menor porte também são sócios da companhia. "Visitei uma série de empresas na Califórnia", afirma Francisco Andrade, diretor de novos negócios do Cornélio Brennand. "Nenhuma delas era tão revolucionária." Os grupos Cosan, Bunge e a Açúcar Guarani também assinaram, em dezembro, acordos para se beneficiar da biotecnologia.

O principal centro de desenvolvimento da empresa está nos Estados Unidos. É lá que cerca de 150 biologistas moleculares se esmeram para modificar as leveduras. Estima-se que aqui haja um número semelhante de especialistas na mesma levedura - mas no país inteiro. Apesar da discrepância do lado científico, o Brasil é essencial para que o projeto da Amyris se concretize. A empresa precisa de açúcar abundante e barato o suficiente para dar escala à sua produção. É a cana, mais que qualquer outra cultura, a fonte que oferece a melhor relação entre potencial energético e custo. Além disso, para tornar factível a tal produção em escala, também é preciso ter um conhecimento tecnológico há décadas desenvolvido por aqui. "Pensamos em países como Índia e Indonésia, mas nenhum outro lugar conhece tão bem a cana-de-açúcar", diz o executivo belga Roel Collier, de 36 anos, responsável pela operação da Amyris no Brasil.

A operação está sediada em Campinas, no interior de São Paulo, local estrategicamente escolhido por estar próximo da Unicamp, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), ambos em Piracicaba. Foi nessas instituições que a Amyris recrutou boa parte de seus 60 funcionários. São químicos, bioquímicos e engenheiros agrônomos, mestres e doutores, que trabalham para fazer com que as leveduras modificadas pelos colegas da Califórnia reproduzam aqui, inicialmente em tanques de médio porte, o mesmo comportamento observado em frascos de até 3 litros. "É como se lá elas estivessem em um hotel de luxo", diz Fernando Reinach, diretor da Votorantim Novos Negócios e um dos mais respeitados biologistas moleculares do país. "Aqui é que nossos cientistas as colocam para trabalhar no mundo real." Os testes da Amyris hoje acontecem em tanques de 6 000 litros e também de 60 000 litros. A operação na usina Boa Vista deverá ter quatro tanques de 600 000 litros cada um e deve começar no ano que vem.

Enquanto parte dos pesquisadores cuida dos detalhes da produção, outros profissionais trabalham para que o diesel verde da Amyris seja aprovado pela ANP. Nos Estados Unidos, uma mistura de 20% dele ao diesel convencional já passou pelo crivo da poderosa agência de proteção ambiental americana (EPA, na sigla em inglês). Aqui, a última prova de fogo do combustível começa em fevereiro, quando seis ônibus da frota da cidade de São Paulo testarão nas ruas o desempenho de uma mistura de uma parte de diesel de açúcar e nove partes do combustível comum. Esse novo combustível tem uma grande vantagem: ao contrário do etanol, ele não exige modificações nos veículos nem na infraestrutura de distribuição atuais. O plano dos executivos da Amyris, porém, é que, num primeiro momento, as usinas parceiras que estão investindo na tecnologia produzam menos o diesel verde e mais outras especialidades químicas, que têm preços mais atraentes. "Quanto mais elaborado o produto, maior a margem que dividiremos com as usinas", afirma Collier. Assim como uma refinaria tradicional, as usinas poderão potencialmente transformar a garapa em uma vasta gama de opções, que irão muito além do açúcar e do etanol de hoje.

Os testes já vêm sendo realizados há mais de dois anos, mas é claro que ainda existem obstáculos a superar. Há competidores dentro e fora do Brasil buscando a produção de combustíveis de segunda geração usando métodos diferentes. Como em todo negócio baseado em tecnologias de ponta, a Amyris pode ficar para trás na corrida. Um exemplo da crescente procura pela cana-de-açúcar brasileira foi a joint venture recém-anunciada pela gigante Shell com a Cosan, maior grupo sucroalcooleiro do país. Entre outros interesses, a Shell, quer ter acesso à matéria-prima vegetal do país para avançar em suas pesquisas na área de novos combustíveis. John Melo, presidente mundial da Amyris, mantém o mesmo nível de otimismo demonstrado quando visitou usinas brasileiras pela primeira vez, quase três anos atrás. O que na época parecia um sonho distante e improvável - produzir gasolina e diesel de açúcar -, hoje está cada vez mais perto da realidade. "Temos uma das melhores equipes de cientistas do mundo e fizemos grandes investimentos", diz o português Melo. "Também tivemos muita sorte ao fazer algumas escolhas, como a de vir para o Brasil." Se as biorrefinarias virarem realidade, o país também poderá dizer que teve a sorte de ser escolhido pela Amyris.
Fundo compra fatia de 40% da Amyris Brasil
Gestora Stratus investe R$ 100 milhões; meta é desenvolver uma nova cadeia química da cana

A gestora de fundos de private equity Stratus está investindo aproximadamente R$ 100 milhões para adquirir uma participação de 40% na Amyris Brasil, fabricante de combustíveis e materiais químicos renováveis controlada pela companhia americana Amyris Biotechnologies.

O aporte está sendo realizado por meio do fundo Cleantech, que aplicará R$ 10 milhões, e por outros três investidores individuais trazidos pela própria Stratus. Entre eles está o grupo pernambucano Cornélio Brennand, que tem negócios nas áreas de imóveis, energia e vidros. Os demais nomes de investidores são mantidos em sigilo.

De acordo com Álvaro Gonçalves, sócio da Stratus, o interesse dos novos acionistas está em participar do desenvolvimento de uma nova cadeia química a partir da cana-de-açúcar. Desde 2006, a Stratus compra participações em empresas de tecnologias limpas, como a Brazil Timber, de manejo florestal, e a Ecosorb, de socorro a acidentes ambientais.

"Enxergamos que, no futuro, existe a possibilidade de se criar algo a exemplo do que já existe hoje na petroquímica", diz ele. Entre os produtos que estão sendo criados pela Amyris estão o diesel, matérias-primas para sabão em pó e cosméticos, além de substitutos da borracha. O diesel da cana já está sendo testado, por exemplo, pela Mercedes-Benz, maior fabricante de caminhões e ônibus do país. A companhia aérea Azul, a GE e a Embraer também estão avaliando o uso de um combustível à base de cana.

Já para a americana Amyris, o aporte permitirá fabricar em escala industrial os produtos que ela desenvolveu. Entre os projetos em desenvolvimento estão, por exemplo, uma joint venture, na qual terá 40%, com o grupo São Martinho para produção de especialidades químicas, e a conversão tecnológica de unidades da Cosan, da Bunge e da Guarani.

De acordo com John Melo, presidente da Amyris Biotechnologies, até 2014, a Amyris pretende transformar em matérias-primas renováveis 2,4 milhões de toneladas de cana no Brasil. Hoje, a produção brasileira está restrita a uma planta piloto em Campinas (SP). O executivo - um português criado nos Estados Unidos - também concluiu que era mais fácil atrair sócios brasileiros para o negócio do que estrangeiros. "Quem é do Brasil enxerga mais facilmente o potencial da cana", avalia Melo.

Isso não impediu, porém, que a Amyris Biotechnologies fosse criada a partir do investimento de diversos fundos de private equity internacionais, como Texas Pacific Group, Kleiner Perkins Caufield and Byers e Khosla Ventures no fim de 2007. Mas, desde 2008, também há um sócio brasileiro na empresa americana, a Votorantim Novos Negócios.

CTNBIO libera levedura transgênica para produção de diesel da cana
Comissão também autorizou 2 novas vacinas veterinárias e outras 2 espécies de soja geneticamente modificada.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou ontem a liberação comercial de uma levedura transgênica que permite a produção de diesel usando a cana-de-açúcar. É a primeira vez que um transgênico desse tipo é aprovado pela comissão.

Em sua primeira reunião plenária após a mudança do comando, o órgão também aprovou o uso comercial de duas espécies de soja modificada, resistentes ao agrotóxico glufosinato de amônio. As sojas foram produzidas pela Bayer.

Também houve a liberação de duas vacinas veterinárias transgênicas. Com isso, sobe para oito o número de vacinas aprovadas para liberação comercial pela comissão, formada por 27 integrantes.

A reunião de ontem foi conduzida pelo novo presidente do colegiado, o pesquisador da Embrapa Edilson Paiva.

PRODUÇÃO

Com o sinal verde da CTNBio, a Usina Boa Vista, instalada na cidade goiana de Pirenópolis, deve concluir a construção de uma linha de produção de diesel feito da cana. A expectativa é que, em 2011, sejam fabricados 2 milhões de toneladas do produto, que, a exemplo do etanol, é menos agressivo ao meio ambiente do que o combustível fóssil.

"Ele não tem enxofre, produz quantidade menor de material particulado e é renovável. Tudo isso reduz o impacto para o aquecimento global", afirma Luciana di Ciero, gerente de assuntos regulatórios e relações institucionais da empresa que desenvolveu o produto, a Amyris.

A aprovação também deve acelerar a negociação com outras usinas interessadas no desenvolvimento do novo produto. Até agora, nenhum país no mundo produz comercialmente o diesel de cana.

A levedura é um fungo, amplamente usado na produção de vinhos, cachaça e fermento de pão. A espécie aprovada ontem teve seu DNA modificado, o que a torna agora capaz de produzir um precursor do diesel, o farneseno. "A liberação aumenta a relação de produtos derivados da cana. Agora, além de açúcar, etanol também servirá de matéria-prima para o diesel e outros produtos para indústria química", diz Luciana. Nessa lista estão, por exemplo, lubrificantes.

O desenvolvimento da levedura transgênica é o desdobramento de um outro projeto, iniciado em 2004 para a produção de um medicamento para combater a malária, feito com uma planta chamada artemísia. A partir de 2006, partindo de conhecimento já acumulado, a empresa Amyris passou a investir no desenvolvimento da levedura geneticamente modificada.

Para o projeto de diesel, a empresa recebeu, em apenas um ano, US$ 100 milhões de vários fundos de capital de risco. Entre eles, investimentos da Votorantim Novos Negócios.

Luciana afirma que não é preciso fazer alterações nos motores para o uso do novo produto. O projeto é usar, em um primeiro momento, um blend de diesel de cana-de-açúcar e diesel fóssil. Na primeira etapa, a ideia é misturar 10% do novo produto com 90% do diesel fóssil.

"Foi a solução encontrada, pois não há como garantir o abastecimento do mercado em grande escala", afirma Luciana. As usinas, por sua vez, teriam de fazer pequenas alterações em suas instalações para produção do novo diesel. "São poucas mudanças", diz.

Além do diesel de cana, a Amyris está desenvolvendo um querosene para aviação, também a partir da cana-de-açúcar. Há acordos para o uso do produto com a Força Aérea Americana, a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e a companhia Azul, que deverá fazer testes com o novo combustível em 2012. "Tudo é feito com a levedura. A plataforma de pesquisa é a mesma, o que varia é a modificação genética", diz a gerente.

SURPRESA

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) levou quatro meses para liberar comercialmente a levedura geneticamente modificada, contados a partir da apresentação do processo. A rapidez na tramitação surpreendeu até mesmo a empresa que desenvolveu o organismo geneticamente modificado. "Vamos ter de apressar a finalização da linha de produção. Não estávamos contando com tanta agilidade", afirmou a gerente da empresa, Luciana Di Ciero.

Para a liberação comercial, a empresa precisa atender uma série de quesitos, descritos numa instrução preparada pelo colegiado. A empresa tem de, por exemplo, pedir um certificado de qualidade de biossegurança, constituir uma comissão interna de biossegurança.

Ultrapassada essa etapa, a empresa apresenta à comissão, formada por 27 integrantes, um processo com todos documentos necessários. Entre eles, a descrição do produto e pesquisas comprovando sua segurança. Esse material é enviado para 4 comissões subsetoriais: humana, animal, vegetal e ambiental. Para cada uma, é nomeado um relator. Em muitos processos, é chamado mais de um relator por comissão. Há também a possibilidade de se convocar especialistas externos para dar opinião. Esse recurso é usado com bastante frequência.

Os relatores preparam pareceres, que são analisados e votados pelas subsetoriais. Somente quando o processo é aprovado em todas as comissões é que o projeto é submetido a avaliação na plenária da CTNBio. Para aprovação, é preciso pelo menos 14 votos.

Diesel de cana deve ser incorporado ao marco regulatório dos biocombustíveis, diz Goellner

Representantes da empresa Amyris, fabricante do diesel de cana, estiveram hoje no gabinete do Senador Gilberto Goellner. O diesel de cana é um combustível renovável que foi criado para substituir os combustíveis fósseis.

A produção de biodiesel convencional, feito de óleo vegetal, passa por um processo chamado transesterificação, diferentemente do processo apresentado pela empresa Amyris, que transforma a celulose contida no bagaço da cana em um produto com características de combustão semelhantes às do diesel de petróleo, o que não demanda alterações no motor. Além disso, esse combustível tem a grande vantagem de não ter enxofre na sua composição e ainda de ter uma menor emissão de materiais particulados e de NOX. A infraestrutura para a sua produção é basicamente a mesma da instalada nas usinas de cana-de-açúcar e os testes de eficiência tecnológica do novo combustível já foram todos realizados.

O novo combustível - diesel de cana - foi desenvolvido na Universidade da Califórnia e é representado, no Brasil, pela empresa Amyris, que já patenteou o processo da sua rota metabólica, tendo a ANP concedido o certificado de blend a esse combustível, uma vez que, ao dispensar, na sua produção, o processo de transesterificação, ele fica descaracterizado como biocombustível.

O senador Gilberto Goellner, membro do Grupo de Trabalho que está elaborando o Marco Regulatório dos Biocombustíveis no âmbito da Comissão de Infraestrutura do Senado, ressalta a necessidade de o novo Marco Regulatório contemplar também essas novas tecnologias de produção. "O Marco Regulatório deve ser moderno e se adequar às novas tecnologias de produção de biocombustíveis que surgirão. Devemos pensar a longo prazo, aproveitando a capacidade produtiva do país".

Um comentário:

madera disse...

No artigo ficou confuso se o diesel de cana virá do caldo ou da celulose.