Além da notícia postada em junho sobre a situação dramática da agricultura, seguem abaixo mais duas notícias, uma desta semana sobre a greve dos agricultores e outra de 17 de agosto que fala sobre a mudança de exportador para importador de carnes.
Logo após estas notícias, segue a notícia do Valor Econômico que encontrei no Notícias Agrícolas, sobre a situação atual da cafeicultura venezuelana que também, nos últimos anos, passou de exportadora à importadora, principalmente devido às ingerências políticas.
Agricultores decidem encerrar a greve na Argentina
Chega ao fim, à meia-noite desta sexta-feira, a greve de oito dias de organizações patronais agrárias argentinas, em mais um capítulo do duro embate com o governo da presidente Cristina Kirchner em torno da cobrança de impostos sobre as exportações de soja.
Os dirigentes das quatro principais entidades agrárias do país, potência produtora mundial de alimentos, realizaram a paralisação em repúdio a um veto de Cristina Kirchner à lei que suspendia os impostos sobre a exportação de grãos nas áreas afetadas pela seca na província de Buenos Aires (centro-leste), coração da produção de grãos.
No entanto, o estoque existente de grãos evitou que o 'lock out' pusesse em risco as vendas externas de soja, o primeiro produto de exportação, segundo a câmara de exportadores.
Nesta sexta-feira, vários atos e manifestações se sucedem em diferentes cidades e aldeias do rico Pampa Úmido para marcar o final da greve.
Apesar disto, os preços do trigo já sofreram um aumento no mercado de futuros de Chicago devido à greve na Argentina e à seca na Austrália.
A direção do movimento também descartou que a paralisação tenha impacto sobre o mercado interno de grãos e carnes e a indústria do óleo.
Nas primeiras horas de quinta-feira passada, dezenas de agricultores da província de Buenos Aires e do Chaco (nordeste), entre outros distritos, pararam com veículos e tratores à beira das estradas para esperar pelo início da greve.
Os produtores rurais querem uma redução do imposto sobre a exportação de soja dos atuais 35% para pelo menos 20 ou 15%, além de exigirem o fim das alíquotas sobre o trigo, o milho e o girassol (em média 23%).
A partir da próxima semana serão realizadas novas mobilizações mas, desta vez, sem bloqueios a estradas, e passeatas em todo o país para dar continuidade aos protestos. (Fonte: AFP/G1)
Argentina pode passar de exportadora a importadora de carne
País vizinho enfrenta uma das piores crises na pecuária
A Argentina sofre um grande ajuste na pecuária. Alguns analistas apostam que o país pode passar a importar carne nos próximos anos, fato que não ocorre há mais de um século. Com isso, o Brasil, que já é o maior exportador de carne bovina do mundo, pode ganhar ainda mais mercado.
Os argentinos são os maiores consumidores de carne bovina do mundo. Cada habitante daquele país consome mais de 70 quilos por ano. O governo argentino passou a limitar as exportações para conter o preço no mercado interno.
Em 2005, o concorrente do Brasil no mercado internacional era o terceiro maior exportador; atualmente, o país é o sétimo. A previsão é de que o rebanho bovino também sofra um ajuste, de 55,66 milhões de cabeças no ano passado para 54,76 milhões de cabeças em 2009.
— Essa limitação, na verdade esse auto-embargo que o governo da Argentina fez com a própria carne acabou levando a uma situação que a gente tem visto hoje, que é o da pecuária não estar sendo uma atividade rentável, com muitos produtores saindo da atividade. Com isso, tem essas estimativas dos próprios órgãos de pesquisa da Argentina, que talvez ela se torne um mercado importador, porque eles têm o maior consumo de carne per capita do mundo — diz a analista de mercado da Scot Consultoria, Gabriela Tonini.
A JBS Friboi, um dos maiores grupos de carne bovina do mundo, com unidades na Argentina, já sente os impactos nos negócios no país vizinho.
— Os negócios na Argentina estiveram muito difíceis em razão das decisões do governo Argentino de tributar as exportações. Isso teve um impacto direto, mas nós estamos racionalizando a nossa atividade na Argentina e pretendemos retornar a uma fase de rentabilidade logo que esse processo tiver concluído — afirma Marcos Vinícius Pratini de Moraes, do conselho de administração da JBS Friboi.
— Há diversos fatores positivos em relação ao setor na Argentina que a médio e longo prazo vão valer. E a gente vai esquecer o momento recente por restrições externas, a indústria não tinha “performado” como tradicionalmente “performa”, mas isso é uma questão de tempo na nossa opinião — avalia o diretor da unidade de carnes da Coimex, Jerry O’Callaghan.
Caso os argentinos passem a importar o produto, a entidade que representa as Indústrias Exportadoras no Brasil (Abiec) admite que é uma oportunidade para as carnes daqui.
— Claro que a Argentina que era um grande concorrente do Brasil no mercado internacional, hoje se torna um importador de carnes, abre espaço para o Brasil crescer mais ainda no mercado internacional como fornecedor de carne — conclui o presidente da entidade, Roberto Giannetti.
Em um dos mais luxuosos restaurantes de São Paulo, no início, o cliente só saboreava a carne argentina. Há mais ou menos um ano, o proprietário substituiu toda a carne do país vizinho pela brasileira. Segundo o dono, a qualidade do produto brasileiro foi melhorando nos últimos anos. O mesmo não se pode dizer dos cortes argentinos. Além disso, a carne brasileira traz segurança. O volume e o padrão fornecidos são sempre os mesmos. Já na Argentina, o mercado está instável. (Canal Rural)
Café, antes farto, desaparece da Venezuela
Don Luis Paparoni, quase com 90 anos, se entristece ao recordar-se dos dias em que a produção de café na Venezuela vivia seu auge.
"Você vê essas montanhas?", questiona, apontando para o vale de verde exuberante em torno a Santa Cruz de Mora, uma cidade pitoresca na parte mais baixa dos Andes venezuelanos. "Costumavam estar cobertas de pés de café. Hoje, raramente se vê algum".
No início do Século XX, a Venezuela era um dos maiores países exportadores de café do mundo. Em agosto, pela primeira vez, a escassez do produto obrigou o país a importar café do Brasil, mesmo com os venezuelanos dizendo que este não se iguala à qualidade dos grãos locais do tipo arábica.
"Quando eu era jovem, não havia uma única família nesta cidade que não tinha algo a ver com o café. Era o coração de nossa cultura", diz Paparoni, cujo pai emigrou da Sicília, na Itália, e estabeleceu uma das plantações mais produtivas de café nos Andes, nos anos 20. Ele lembra-se dos dias em que a "Hacienda La Victoria" mandava café para Nova York e Hamburgo; hoje, a única renda é a gerada pelos turistas que visitam o museu estatal instalado em suas dependências.
Embora governos sucessivos pouco tenham feito para interromper o declínio do setor cafeeiro na Venezuela - e, em vez disso, se concentrado em explorar as vastas reservas de petróleo do país -, os produtores acusam a intervenção desajeitada do governo do presidente Hugo Chávez pelos problemas com o café.
Em agosto deste ano, a falta do produto levou Chávez a expropriar as duas maiores torrefadoras do país, a Fama de América e a Café Madrid, responsáveis por quase 80% da produção. Ele atribuiu a escassez à ocultação de estoques, especulação e contrabando.
"Já tivemos o bastante disso. Vamos fazer o mesmo com todas as empresas que se comportarem dessa maneira", trovejou o líder socialista. "Continuaremos estatizando monopólios para torná-los negócios produtivos nas mãos dos trabalhadores, da revolução".
Analistas, no entanto, dizem que vários dos problemas que atingem a produção de café - e o setor privado em geral - são causados precisamente por esse tipo de intervenção pública. As expropriações, assim como a agressiva campanha de reforma agrária, geraram um clima de incerteza, que prejudicou os investimentos.
Os controles de preços tornaram as coisas ainda pior. Quantidades cada vez maiores de café - e de outras mercadorias - são contrabandeadas para o exterior, para serem vendidas a preços internacionais. "É claro que há contrabando. O que Chávez esperaria quando você pode vender o café na Colômbia pelo dobro ou triplo do preço?", disse um produtor de café, que pediu anonimato.
María Marcelina Chacón, dona de uma das poucas fazendas de café que sobrevivem nas encostas acima de Santa Cruz de Mora, receia que a colheita deste ano mal chegará a 150 quilos, cerca de 10% do que produzia há menos de dez anos. Ela reclama que com os proibitivos controles de preços espremendo os lucros e a alta nos custos ela não tem mais condições de pagar pesticidas suficientes ou trabalhadores.
"Nestes dias, apenas consigo minha família para ajudar. Muitos trabalhadores vivem das doações governamentais e não se preocupam em trabalhar", diz.
Esses problemas, agravados pela demanda em alta decorrente da valorização do petróleo, vêm sendo a causa dos problemas periódicos de escassez de alimentos básicos. Isso vem afetando a popularidade de Chávez e foi um dos motivos de sua derrota em referendo há dois anos.
A solução de curto prazo do governo para o problema são as importações em massa, possibilitadas pela abundante oferta de câmbio gerada pelas exportações de petróleo. As importações de alimentos quadriplicaram nos últimos dez anos no país, de US$ 60 para mais de US$ 250 por pessoa por ano, diz Hiram Gaviria, ex-ministro de Agricultura. As importações equivalem a quase 70% do consumo de alimentos no país, que ostenta vastas áreas de terras férteis ociosas.
Embora a produção de alguns gêneros alimentícios, como milho e arroz, tenha aumentado no período, a produção de carne e açúcar, setores em que Venezuela costumava ser autossuficiente, atualmente mal chega a cobrir 50% do consumo nacional.
A produção de cacau, que no passado já foi a principal exportação venezuelana, continua nos patamares dos tempos coloniais, eclipsada pelo rápido crescimento da indústria petrolífera desde os anos 20, que fortaleceu a moeda e tornou as exportações menos competitivas.
Agora o café sente o golpe. A Venezuela, que chegou a rivalizar com a Colômbia em produção, produz menos de 1% do café mundial. Teme-se que a produção de café possa cair para menos de 45 mil toneladas neste ano, bem abaixo das 70 mil toneladas necessárias para satisfazer o consumo nacional.
Paparoni substituiu a maioria de seus pés de café com pastagens e continua a cultivar uma quantidade pequena de grãos apenas para "preservar a tradição". "Isso me aflige até o centro de minha alma", diz.
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