domingo, fevereiro 28, 2010

Em Pompéia, agricultura de precisão aprende-se na escola

A reportagem,disponibilizada no BrasilAgro, da edição 962 da Revista Exame, atualmente nas bancas, fala sobre uma escola exemplar mantida pela Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia que mantém um curso de tecnólogo em Agricultura de Precisão. Este curso é algo realmente inovador mantido pela fundação em conjunto pela FATEC e iniciativas como essas deveriam ser exemplos para outros empresários brasileiros:

Tecnologia se aprende na escola
Em São Paulo, um novo curso - o de agricultura de precisão - forma profissionais para atuar na fronteira tecnológica do agronegócio brasileiro.

Morar em uma cidade pequena e com vocação para o agronegócio não foi suficiente para aproximar a estudante Vanessa Mendes, de 17 anos, da vida no campo. Nascida em Pompeia, município de 20 000 habitantes no oeste paulista, ela nunca aprendeu a tirar leite de vaca ou a reconhecer pés de soja. Como boa parte dos jovens de sua geração, Vanessa gasta até 10 horas por dia em frente ao computador. "Nunca na vida me imaginei cursando uma faculdade de agricultura", diz Vanessa. Pois é justamente a isso que ela se dedica hoje. Ao lado de 79 colegas, Vanessa é aluna do recém-criado curso superior de mecanização em agricultura de precisão - o primeiro do gênero no Brasil e o segundo em todo o mundo. "O que me atraiu foi saber que vou lidar com tecnologia", diz. Em três anos, Vanessa e sua turma serão os primeiros profissionais do país especializados numa tecnologia produtiva cuja expansão será vital para manter o agronegócio brasileiro como um dos mais competitivos do mundo. Entre os benefícios atribuídos à agricultura de precisão estão a redução de 20% nos custos de produção e o aumento de até um terço na produtividade das culturas.

O curso, iniciado na semana anterior ao Carnaval, nasceu de uma parceria entre a Faculdade Tecnológica de Marília e a Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia. A fundação é mantida pelo grupo Jacto, fabricante de equipamentos agrícolas criado, há 62 anos, pelo imigrante japonês Shunji Nishimura em Pompeia. Pelo acordo, as instalações e a infraestrutura - laboratórios de ponta e salas de aula impecáveis - ficam a cargo da fundação, enquanto a Fatec de Marília, integrante da rede de ensino superior paulista, é responsável pelo currículo e pelo programa de ensino. Mesmo com pouca divulgação, o vestibular do curso, realizado no final do ano passado, atraiu interessados de nove estados. A concorrência foi de 15 candidatos por vaga - semelhante à do curso de engenharia na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

As primeiras experiências com técnicas de agricultura de precisão no Brasil datam do início da década de 90. A ideia por trás do nome pomposo é que, por meio de informações colhidas de plantas ou do solo em vários pontos da lavoura, é possível tratar de maneira direcionada porções de áreas agrícolas cada vez menores. Grosso modo, é como se uma lavoura, à primeira vista homogênea, fosse esquadrinhada em partes menores, em alguns casos do tamanho da grande área de um campo de futebol. Cada unidade pode receber tratamento na medida exata de suas necessidades. Ao longo dos anos, com o advento de tecnologias como o GPS - que usa satélite para determinar uma localização geográfica -, a agricultura de precisão evoluiu ainda mais. A orientação do satélite é usada já na coleta de amostras que alimentam o sistema com informações. Com o auxílio de um software, a análise do material coletado permite a elaboração de complexos mapas de produtividade. Assim, a aplicação de insumos como adubos e pesticidas, etapa final do processo, pode ser feita evitando grandes desperdícios - ou, para usar o jargão caipira, o agricultor deixa de "matar formiga com tiro de espingarda". O controle preciso dos insumos representa um trunfo para a agricultura, atividade em que qualquer economia pode ser a diferença entre obter ou não lucro. No caso brasileiro, 75% dos fertilizantes empregados no campo são importados e, sozinhos, eles são responsáveis por um quarto do custo agrícola. "O Brasil deverá ser um dos maiores beneficiados pelo desenvolvimento da agricultura de precisão", afirma José Vicente Ferraz, diretor da consultoria agrícola FNP. "As técnicas tendem a trazer mais retorno em propriedades maiores e em estruturas produtivas de grande escala, comuns no agronegócio brasileiro."

Apesar de seus benefícios, a agricultura de precisão ainda não foi adotada na maioria das lavouras do país. E isso não ocorre por falta de tecnologia - ao contrário, ela está disponível. Trata-se de mais um caso em que o aprimoramento das máquinas não foi acompanhado pela qualificação de mão de obra. "O gargalo é humano", afirma o engenheiro agrônomo Carlos Augusto, brasileiro que coordena o curso de agricultura de precisão na Universidade de Oklahoma, o primeiro do mundo. No estado americano, onde o curso foi criado em 2005, praticamente todos os alunos foram contratados assim que concluíram a graduação. No Brasil, a expectativa é que os novos profissionais a ser formados em Pompeia cumpram duas missões. A primeira é tornar mais conhecido o conceito da agricultura de precisão. A segunda é atender a uma demanda já existente por profissionais especializados. Em uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, com 205 grandes usinas e destilarias, 56% das empresas disseram já utilizar técnicas de agricultura de precisão em alguma etapa do processo de produção. Mas 94% apontaram a falta de mão de obra qualificada como um obstáculo à expansão do sistema. Não faltam casos de produtores que são surpreendidos ao ver que o investimento em máquinas com recursos avançados não traz, no pacote, profissionais aptos a operá-las. "Na prática, muitas delas são subutilizadas", diz Jorge Nishimura, filho caçula de Shunji e atual presidente do grupo Jacto.

O esforço para a criação do curso em Pompeia está ligado à trajetória que fez da Jacto um dos maiores fabricantes de maquinário agrícola do país e à história pessoal de Shunji Nishimura. Confirmando os indicadores de longevidade nipônica, ele completou 99 anos de idade em dezembro. Mas, atualmente restrito ao convívio familiar, não dá mais entrevistas. Técnico mecânico formado no Japão, Shunji chegou ao Brasil em 1932. Após tentativas fracassadas de se estabelecer na capital paulista, decidiu tentar a vida no interior. Com pouca bagagem, tomou um trem na Estação da Luz em direção ao oeste e desceu no fim da linha. Na época, os trilhos chegavam até Pompeia - um vilarejo sem água e luz e com apenas algumas casas de madeira. Com o pouco dinheiro que tinha, Shunji alugou uma delas e, do lado de fora, pregou uma tabuleta emblemática: "Conserta-se tudo". Conserto vai, conserto vem, a oficina do japonês que consertava tudo virou uma espécie de assistência técnica multimarcas para agricultores da região. O trabalho na oficina permitiu que ele percebesse oportunidades em um país que, na época, importava praticamente todo o maquinário agrícola. Em pouco tempo, passou a fabricar as próprias pulverizadoras, usadas para aplicar inseticidas e fungicidas - e o negócio engrenou. Nascia, em 1949, a Jacto Máquinas Agrícolas, hoje um conglomerado de dez empresas com faturamento anual de 700 milhões de reais e exportador de máquinas para mais de 100 países.

Quando chegou perto dos 70 anos, em 1979, Shunji achou que era hora de deixar a frente do negócio e se dedicar a outra atividade - passou a gestão das empresas para os filhos e criou a fundação que leva seu nome. Desde então, a Fundação Shunji Nishimura pôs em funcionamento um curso técnico em agricultura, um colégio de ensino fundamental e uma escola profissionalizante. No ano passado, foi desativada a antiga escola técnica, que, segundo os planos de seu idealizador, já havia cumprido a missão inicial de formar 500 técnicos agrícolas em Pompeia. Em 26 anos de atividade, saíram da escola 1 000 profissionais. "Sentimos que era hora de seguir adiante", diz Jorge Nishimura.

O passo seguinte foi montar o curso de mecanização em agricultura de precisão, que em três anos formará tecnólogos - profissionais que se colocarão num patamar intermediário entre os técnicos de nível médio e os engenheiros. Ao formar tecnólogos, cursos como esse oferecem uma alternativa para preencher a carência de pessoal qualificado, um problema que assusta diversos setores de atividade no Brasil. Com duração menor do que a dos cursos de bacharelado e licenciatura e com currículo mais flexível, a formação em tecnologia tenta suprir demandas de mercado. "A ideia é formar profissionais especializados para setores em que há demanda mais urgente", afirma Angelo Cortelazzo, coordenador de ensino superior do Centro Paula Souza, ligado à Secretaria de Desenvolvimento de São Paulo, ao qual estão ligadas todas as 49 Fatecs paulistas - eram 26 em 2006. No estado, o salário médio de um tecnólogo um ano depois de formado é de 2 500 reais - em algumas especialidades, a remuneração pode chegar a mais de 7 000. Apesar do incremento de 72% entre 2005 e 2008 na oferta de cursos desse tipo no país, as faculdades de tecnologia ainda representam uma fatia pequena do total de cursos universitários. Em países como Japão, Coreia e Chile, a proporção ultrapassa 30%. No Brasil, apenas 17% dos cursos superiores formam tecnólogos. Há desinformação e rejeição aos profissionais por parte de algumas empresas. Até pouco tempo, o Metrô de São Paulo se negava a receber candidatos formados em faculdades de tecnologia para vagas de nível superior. "Existem ainda muito desconhecimento e preconceito com as faculdades de tecnologia. Isso precisa mudar", afirma Cortelazzo. Uma missão extra para os alunos de Pompeia.

sábado, fevereiro 27, 2010

Capim elefante gera eletricidade na Bahia

A utilização de biomassa para geração de energia elétrica é algo corriqueiro no setor canavieiro, portanto o título da reportagem abaixo está incorreto. O que tem de interessante nesta notícia é a utilização de capim elefante. Dias atrás, em 16 de fevereiro, foi publicada pela Folha de São Paulo uma reportagem sobre o interesse de uma empresa americana em utilizar capim elefante para gerar energia na Califórnia. Abaixo seguem as duas notícias, a primeira do Jornal Nova Fronteira que encontrei no site da UDOP (União dos Produtores de Bioenergia) e a outra da Folha de São Paulo que encontrei no BrasilAgro:

São Desidério é sede da primeira termelétrica do Brasil movida à biomassa

25/02/10 - A Sykué Bioenergya Eletricidade, situada a 120 km da sede de São Desidério, é a primeira usina termelétrica do Brasil a produzir eletricidade a partir da queima do capim elefante. Com capacidade para gerar 30mw por hora - quantidade suficiente para atender a uma cidade de 30 mil habitantes - a primeira usina entra em operação em fevereiro de 2010.

Segundo o diretor geral, Norbertino Morais, a região de São Desidério foi escolhida observando características importantes. "O grupo empreendedor decidiu implantar a empresa na região nordeste. São Desidério tem área próxima de rede, é plana e produz bem a matéria prima que é o capim".

O sistema de integração e compensação da rede de distribuição permite que a usina abasteça várias regiões do Brasil. A energia produzida será entregue a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) e em seguida será comercializada. Parte da produção está garantida para o Grupo Pão de Açúcar.

Para o gerente industrial Cláudio José Dias, o projeto é inovador e importante para visualização do potencial de São Desidério. "O pioneirismo será a marca para o município que terá seu potencial energético melhorado, será gerador de emprego, pois estamos criando uma razão para a implantação de cursos técnicos e especializados na região".

Até fevereiro quatro mil hectares foram plantados com o capim elefante, o necessário para abastecer uma usina. A unidade possui 107 funcionários fixos e cerca de 200 sazonais, contratados no período de plantio e de colheita. Até 2014 a Sykué pretende construir quatro usinas, totalizando 120mw/hora.

Capim elefante - O capim elefante é uma cultura que tem origem africana e até pouco tempo servia apenas para a alimentação do gado. Estudos realizados com a espécie mostram que seu potencial de produção de energia é três vezes superior ao da cana-de-açúcar.

Por ter grande porte, produz muita massa, desta forma, é a variedade mais energética de capim. É renovável com rápido crescimento, baixo custo e alta produtividade. A queima do capim elefante gera cerca de 5% de gás carbono, mas as plantas em crescimento absorvem toda essa porcentagem por meio da fotossíntese, tornando a espécie a mais adequada na geração limpa de energia.

Além do Brasil a Inglaterra também produz energia com a queima do capim elefante. Esta matéria prima tem ciclos de cinco meses, ou seja, não é colhido na época da chuva. Todo o capim produzido na seca é armazenado, sua durabilidade de estoque pode durar por mais de um ano.

Produção - O capim plantado é cortado e secado naturalmente. Em seguida, é transportado até a usina. Por meio de esteiras é conduzido às caldeiras onde é queimado. Aquecido em água tratada, passa do estado líquido para o gasoso e faz girar a turbina que movimenta o gerador. Esse movimento converte o vapor em eletricidade.

Todos os gases são tratados para sair limpo da usina, o mesmo procedimento é realizado com a água utilizada, por isso o empreendimento tem saldo positivo de crédito de carbono.

Crédito de Carbono - Conhecido também como Redução Certificada de Emissões (RCE) consiste em um certificado emitido a empresas que reduzem a emissão de gases do efeito estufa (GEE). Uma tonelada de dióxido de carbono, por exemplo, corresponde a um crédito de carbono. A Sykué tem crédito positivo equivalente ao montante de 1 milhão de tonelada/ano.

Energia Renovável

O capim-elefante, mais conhecido no Brasil pelo uso em pastagem, vai se transformar em energia renovável na Califórnia. A empresa California Renewable Energies se prepara para iniciar as obras de uma usina termelétrica movida à capim-elefante, com capacidade de 50 MW. A empreitada é liderada pela americana Nathalie Hoffman.

Ela descobriu a planta em uma de suas viagens ao Brasil, depois que seu projeto de produzir etanol a partir da cana na Califórnia não vingou. "Tive dificuldade de conseguir contratos de longo prazo para o fornecimento de etanol e resolvi partir para a produção de energia renovável", diz ela. "O capim-elefante é uma biomassa mais eficiente que a cana e mais barata de plantar." Para reduzir custos, a usina ficará ao lado da plantação, no Imperial Valley -região desértica no sudeste da Califórnia que recebe sol o ano inteiro. A planta vem sendo estudada pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo há mais de uma década, mas o uso é pouco difundido. Hoffman contará com a ajuda de agrônomos e engenheiros brasileiros e já firmou quatro contratos de longo prazo com companhias municipais de energia. A queima do capim deve começar em setembro de 2013

Títulos agrícolas podem chegar a 400 bi em 5 anos

Os títulos agrícolas, que parecem verdadeiras sopas de letras - LCA, CDA-WA, CDCA e CRA - parecem que estão se tornando mais usuais no agronegócio brasileiro. Estes títulos podem, se usados de forma correta, ser eficientes ferramentas para financiar a agricultura, diminuindo seu risco. Segue abaixo, notícia do Valor de 22/2 sobre o tema que encontrei no Portal do Agronegócio:

Títulos agrícolas superam R$ 100 bilhões
Financiamento: Bancos veem lacunas na regulamentação desses instrumentos de captação de recursos privados

Estimulada por bons ganhos financeiros e benefícios fiscais, a emissão de títulos do agronegócio por bancos, agroindústrias, cooperativas e produtores rurais superou, pela primeira vez, a barreira dos R$ 100 bilhões.

Ainda dependente de ajustes regulatórios do governo, os novos papéis registraram 34 mil operações, com um volume de R$ 109,2 bilhões no ano passado - o equivalente ao dobro de todos os recursos que o sistema financeiro é obrigado, por lei, a aplicar no setor rural. Os bancos, principais responsáveis por esse "boom" dos títulos do agronegócio, estimam que as emissões devem chegar a R$ 400 bilhões nos próximos cinco anos, ou quatro vezes o orçamento do atual ano-safra 2009/10.

Neste ano, o ritmo segue acelerado. Em janeiro, já foram registrados R$ 7,9 bilhões. Há R$ 10,8 bilhões em títulos "em aberto" no sistema operado pela BM&FBovespa e a Cetip.

Criados há cinco anos para captar recursos privados ao financiamento do agronegócio, os títulos ganharam peso no mercado como fontes alternativas de crédito para empresas em busca de financiamento. As operações foram reforçadas por alterações para blindar juridicamente os papéis, como a garantia de alienação fiduciária, um atrativo para driblar eventuais processos de recuperação judicial.

Os bancos veem, porém, algumas lacunas que deveriam ser reguladas diretamente pelo Banco Central, como a obrigação de segregação da contabilidade e a garantia de exclusividade das emissões às empresas do agronegócio. "O sistema já aceitou. Não é mais sopa de letrinhas. Mas fizeram a lei dos títulos e o governo abandonou, não regulamentou", afirma o especialista da Febraban e professor da FGV, Ademiro Vian.

O governo deveria, segundo a Febraban, proibir uso de cédulas de crédito bancário de capital de giro como lastro dos papéis. "Falta definir se os papéis são títulos de valor mobiliário ou de crédito ou se incide imposto sobre rendimentos de pessoa física", diz. Os papéis ainda não chegaram aos investidores de fundos comuns, avalia Vian, por causa de dúvidas sobre tributação. Para ele, também é preciso "desengessar" o sistema para incentivar a substituição das fontes de recursos de comercialização. Em vez de dinheiro subsidiado pelo Tesouro Nacional, parte desses papéis sustentaria o financiamento de safras futuras.

A Anbima, que reúne instituições de investimento e de mercado de capitais, está elaborando um código de conduta para orientar as operações de seus 40 associados com interesse no setor. "Há uma demanda muito grande dos bancos. Mas precisa de regras de gestão de risco e regulação mais claras", diz o advogado especialista Renato Buranello, conselheiro da Anbima para o tema. O BC informa que avalia formas de regular os títulos no sistema financeiro, como medidas para incentivar o registro de CPRs em um sistema único.

A despeito das reivindicações, os títulos têm atraído operadores do setor em razão do baixo risco, alta liquidez e da garantia lastreada na produção. O custo de operação é a taxa Selic mais 2% ou 3% ao ano. Com os juros em queda, o atrativo aumenta.

Além disso, há os benefícios fiscais dos papéis. Ao usar os títulos, as agroindústrias não pagam Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A cada R$ 1 milhão, por exemplo, a empresa deixa de pagar R$ 18,8 mil, além de melhorar os índices de liquidez em seu balanço. Os bancos emissores são isentos do depósito compulsório de 25%, não precisam cobrir 100% do risco das operações e ficam desobrigados de recolher 0,2% sobre cada operação ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) - mecanismo que afiança até R$ 60 mil por pessoa.

Na outra ponta, investidores pessoa física têm isenção de Imposto de Renda (IR) e são, assim, estimulados a trocar os tradicionais Certificados de Depósito Bancário (CDBs) por esses novos títulos. Um investidor de R$ 1 milhão "economiza" R$ 19 mil de IR. Por isso, o alvo dos bancos são os clientes "private", de alta renda. As tradings também usam os papéis para captar recursos mais baratos e, por exemplo, reduzir custos de carregamento de dívidas de produtores.

Na liderança das emissões, está a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), um título emitido por bancos e lastreado em recebíveis de produtores - como Cédulas de Produto Rural (CPRs), duplicatas e notas promissórias rurais. No acumulado até janeiro de 2010, foram registrados R$ 110,4 bilhões. Com a evolução do sistema, os demais papéis também tendem a ter maior demanda no médio prazo.

Estão incluídos Certificado de Depósito Agropecuário e Warrant Agropecuário (CDA-WA ), Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA).

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

ETH e Brenco finalmente se unem

Depois de muita negociação, iniciada em outubro do ano passado, as duas empresas irão se juntar criando mais um gigante no setor para competir com Cosan, Dreyfus e Bunge, entre outros. Abaixo segue notícia da Agência Estado, postada no site da EXAME:

ETH e Brenco criarão maior produtora mundial de etanol
| 17.02.2010 | 18h55

São Paulo - A ETH Bioenergia, do Grupo Odebrecht, e a Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco) vão formalizar amanhã um acordo para a criação de uma joint venture, que será a maior produtora de etanol de cana-de-açúcar do mundo. Os detalhes sobre a combinação dos ativos das duas companhias serão anunciados em entrevista à imprensa, prevista para as 15 horas, com a participação dos presidentes da ETH Bioenergia, José Carlos Grubisich, e da Brenco, Philippe Reichstul.

A ETH, controlada pela Odebrecht juntamente com a trading japonesa Sojitz, que possui 33% das ações, tem cinco usinas, três das quais entraram em operação em 2009. A Usina Rio Claro, em Goiás, a Usina Santa Luzia I, em Mato Grosso do Sul e a Conquista do Pontal, em São Paulo, iniciaram suas operações no segundo semestre de 2009 com capacidade de moagem de 3 milhões de toneladas de cana cada uma. A ETH também comprou duas outras usinas: a Eldorado e a Alcídia, que processam 2,1 milhões a 2,4 milhões de toneladas, respectivamente.

As usinas da ETH já estão operando. Já a Brenco ainda não tem usinas em operação. A expectativa é de que a primeira usina, a Morro Vermelho, em Goiás, inicie o processamento ainda este ano. A Usina de Alto Taquari, em Mato Grosso, poderá entrar em operação até o final deste ano, e as outras duas, Costa Rica, em Mato Grosso do Sul, e Água Emendada, em Goiás, apenas em 2011. Todas possuem capacidade de moagem de 3,8 milhões de toneladas de cana cada.

No início de outubro de 2009, a ETH Bionergia e a Brenco assinaram um memorando de entendimento para uma associação entre as duas empresas. Na ocasião, o presidente da Brenco, Reichstul, disse que quando concretizada, a operação deveria manter todos os atuais sócios das duas empresas. Juntas, as companhias produzirão 3 bilhões de litros de etanol por ano e 2.500 gigawatts-hora (GWh) por ano de energia elétrica a partir da biomassa

Conhecimento brasileiro mostra que etanol de cana é bom para ambiente

Os brasileiros através de trabalho e conhecimento técnico conseguiram derrubar uma das maiores "inverdades" dos últimos tempos, que o etanol brasileiro causa desmatamento e emite CO2. Foram dois trabalhos, um conduzido pelo Isaias Macedo, com participação do CTC sobre emissões e outro pelo ICONE sobre uso da terra.

O resultado final deste trabalho foi a classificação da EPA (agência ambiental americana) do etanol de cana como combustível avançado. Isso pode abrir as portas do mercado americano ao etanol brasileiro.

Abaixo, seguem duas notícias do Estado de São Paulo sobre este trabalho, encontradas no BrasilAgro que podem ser acessadas na íntegra clicando aqui e aqui:

Lição para os americanos fazerem contas
Método brasileiro mostrou que cálculo dos EUA estava errado

Para defender o etanol brasileiro, a equipe técnica da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica) tinha dois grandes desafios. O primeiro era medir as emissões de gases de efeito estufa do combustível desde o plantio da cana até o escapamento do carro.

O segundo era calcular o uso indireto da terra - o quanto o avanço da cultura da cana no Centro-Sul contribui para empurrar a pecuária e a soja rumo à Amazônia. Os dados elaborados pelos pesquisadores brasileiros foram enviados à Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos.

Para a primeira tarefa, contaram com Isaías de Carvalho Macedo, um dos pais do etanol. Ele participou da fundação do Centro de Tecnologia da Coopersucar (CTC). Na conferência ECO 92, o setor pediu que o CTC mostrasse as vantagens do etanol e o pesquisador teve a ideia de provar que o etanol emitia menos CO2 que a gasolina.

"Naquela época, ninguém ligava para isso", contou Macedo. Ele fez os cálculos e produziu um documento de três páginas que mostrava que o álcool reduzia as emissões em 80% em relação à gasolina.

Uma das contribuições de Macedo foi apontar ao EPA, por exemplo, que, no Brasil, o calcário utilizado nas usinas de cana é orgânico. Nos Estados Unidos, o calcário é sintético, produzido por meio de um processo petroquímico. Parece um detalhe, mas faz toda diferença em termos de poluição

Outro ponto foi explicar que o bagaço da cana moída nas usinas é utilizado para produzir energia de biomassa, que substitui a energia "suja" das termelétricas a gás. "Ao utilizar o etanol, você está limpando o sistema elétrico", defende Macedo.

Para calcular o efeito indireto do uso da terra, a Unica pediu ajuda ao Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). O trabalho consistia em criar um modelo matemático para fazer a conta.

O Icone fez uma parceria com o Instituto de Política Agrícola e Alimentos (Fapri), da Universidade de Iowa. O Fapri havia sido contratado pela EPA para fazer o cálculo. Segundo André Nassar, diretor do Icone, os americanos utilizavam o mesmo modelo para qualquer país.

No primeiro cálculo do Fapri, o etanol de cana reduzia a emissão de CO2 em 44%. Nassar conta que havia erros de quem não conhece a agricultura brasileira. O Fapri não considerou os 204 milhões de hectares de pastagem ou que são produzidas duas safras de milho por ano.

O Icone encerrou a parceria com o Fapri em 2008 e não sabe se suas sugestões foram aceitas. Nassar, no entanto, rodou o modelo de consenso dos dois institutos com suas hipóteses e chegou a 60% de redução das emissões - menos que os 61% anunciados pelo EPA.
A arma secreta do etanol brasileiro
Como um modelo matemático cacifou o lobby que abriu o mercado dos Estados Unidos ao álcool da cana

Luciane Chiodi sonhou com o Blum na sua lua-de-mel. Por mais de um ano, ela e os colegas de trabalho Marcelo Moreira, Leila Harfuth e Laura Antoniazzi, coordenados por André Nassar, dedicaram-se integralmente ao Blum. Leila conta que acordava de madrugada, com insônia, pensando em mudanças que poderia fazer no Blum. "Era só isso de manhã, de tarde, de noite", disse Moreira. Blum?

Blum são as iniciais de "Brazilian Land Use Model", que significa Modelo Brasileiro de Uso da Terra. Trata-se de uma ferramenta matemática, formada por centenas de equações, que ajudou a convencer os Estados Unidos de que o etanol brasileiro não é responsável pelo desmatamento da Amazônia e, portanto, não deveria ser penalizado por isso.

O Blum é apenas uma peça de um dos mais bem sucedidos lobbies feitos por empresários brasileiros no exterior. No dia 4 de fevereiro, a Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) classificou o etanol de cana como combustível avançado, com redução de 61% das emissões de dióxido de carbono (CO2) em relação à gasolina, acima dos 21% do etanol de milho. A decisão abre para o Brasil um mercado de até 40 bilhões de litros nos EUA nos próximos anos e funciona como um selo de garantia nos demais países.

Mas a vitória não veio de graça. Há três anos o etanol vinha sendo bombardeado por ambientalistas, que culpavam a cana pelos problemas na Amazônia, e por especialistas em segurança alimentar, que diziam que os biocombustíveis encareciam o custo dos alimentos.

Os usineiros brasileiros tinham de mudar essa imagem - uma tarefa difícil para um setor fragmentado e pouco internacionalizado. Sem saber direito que rumo seguir, a União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica) contratou Marcos Jank para dirigir a entidade. Filho de fazendeiros, Jank foi professor da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Banco Interamericano de Desenvolvimento em Washington. Com a bênção dos ex-ministros Luiz Furlan e Roberto Rodrigues, fundou o Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), entidade financiada por empresários.

Jank ganhou carta branca dos usineiros para abrir escritórios no exterior. Ele contratou em Washington o lobista brasileiro Joel Velasco, que tinha trabalhado no gabinete do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore.

Velasco assumiu o cargo em dezembro de 2007 e passou a circular pelo Congresso americano e a acompanhar a tramitação da Lei de Segurança e Independência Energética. A lei dividiu o etanol em três categorias (convencional, avançado e celulósico), com previsões diferentes de consumo. E entregou ao EPA a tarefa de calcular em quanto o etanol de cana reduz a emissão de gases de efeito estufa. Mais complicado ainda: o cálculo deveria incluir o efeito indireto do uso da terra.

A determinação provocou polêmica no Brasil. Usineiros e pesquisadores são contra a ideia de que a expansão da cana no Centro-Sul empurra a pecuária para a Amazônia. Argumentam que é impossível medir isso e que outros problemas, como a ocupação ilegal de terras, provocam desmatamento.

"O problema é que, se querem contar extra-terrestres em Marte, não adianta argumentar que ETs não existem", disse Velasco. "Disse isso na Unica e apanhei muito." Mas foi com esse pragmatismo que a entidade decidiu influenciar nos cálculos do EPA.

Velasco se aproximou dos técnicos do órgão logo no início de 2008. "Comecei a participar de todas as conferências que faziam", disse. Jank reuniu cerca de 20 especialistas para elaborar os argumentos brasileiros. Coube à turma de André Nassar, diretor executivo do Icone, criar o modelo matemático Blum, que provou que o efeito indireto da cana na Amazônia é muito menor do que os americanos achavam.

Em maio de 2009, o EPA apresentou o primeiro cálculo: o etanol de cana reduzia em 44% a emissão de CO2. O resultado foi uma decepção. Para ser avançado, o etanol deveria ter alcançado 50%. Para ser comparado ao celulósico, que ainda não foi desenvolvido comercialmente, acima de 60%.

O resultado do EPA estava aberto à consulta pública. Era a hora de apresentar os argumentos técnicos. Em agosto de 2009, o Itamaraty trouxe uma missão do órgão ao Brasil. Joel conta que ouviu, pela primeira vez, informalmente, qual seria o resultado no início de janeiro. "Um amigo me ligou e disse: Está sentado? Soube que o número do EPA deu 61%."

Diesel de cana caminha a passos largos no Brasil

Parece que a produção de diesel a partir de processos biotecnológicos da cana-de-açúcar está bem próxima de ocorrer em maior escala no Brasil. Nos últimos tempos estamos vendo diversas notícias sobre o tema. Fiz um apanhado de todas estas notícias que encontrei no BrasilAgro para melhor compreensão do tema.

A primeira delas foi publicada em 4 de fevereiro pela Agência Estado e trata das negociações da empresa americana LS9 com a usina Jalles Machado para montagem de plantas industriais. Na sequência, a Amyris, outra empresa do setor já instalada em Campinas, foi notícia na Exame, onde tomamos conhecimento da história da empresa e suas negociações com Grupo São Martinho.

Alguns dias depois (10/02), o Valor Econômico noticia que o o fundo de private equity Strauss compra 40% da participação da Amyris no Brasil, pagando R$ 100 milhões, mostrando a oportunidade de desenvolvimento do setor. Essa oportunidade mostrou-se maior ainda quando, dois dias depois, a CTNBIO libera a levedura transgênica capaz de realizar esta transformação. Esta notícia foi publicada pelo Estado de São Paulo.

Para completar esta série de boas notícias, o site Tosabendo.com publica no mesmo dia, que o diesel de cana será incorporado ao Marco Regulatório dos Biocombustíveis.

Abaixo seguem as notícias de forma cronológica:

LS9 procura usina no Brasil para produzir diesel de cana

A empresa de biotecnologia norte-americana LS9 está procurando parcerias com usinas do setor sucroalcooleiro no Brasil para produzir diesel a partir de cana-de-açúcar, de acordo com afirmação do CEO da companhia, Bill Haywood. Segundo ele, o Brasil será a base da LS9 para testar a nova tecnologia desenvolvida pela empresa, sediada na Califórnia.

A LS9 anunciou, na semana passada, a descoberta de um método de produção revolucionário e de baixo custo para transformar a celulose contida na biomassa em combustíveis renováveis em um processo que envolve apenas uma fase. Haywood informa que a LS9 já está em negociações com algumas usinas no Brasil para produzir o diesel a partir de cana. Uma dessas empresas é a usina Jalles Machado, localizada em Goianésia, Goiás.

Haywood explica que a expectativa da LS9 é de possuir pelo menos uma unidade produzindo o diesel a partir de cana comercialmente no Brasil já no início de 2013. Entretanto, unidades poderão produzir em escala menor já a partir de 2010. "Nós estamos investigando o mercado brasileiro e estudando a melhor forma de parceria a ser realizada", disse Haywood.

Segundo ele, o volume de investimentos necessário será determinado em função do tamanho da produção a ser realizada, o que será definido no decorrer nos próximos seis meses. O objetivo, segundo o executivo, é encontrar o parceiro ideal para uma implementação rápida e segura.

Para Haywood, o Brasil é o lugar ideal para a implantação da nova tecnologia da LS9 porque une o menor custo de produção de cana-de-açúcar do mundo com a tecnologia de produção de combustível renovável a partir de cana que possui também um custo baixo. "O fato da transformação da biomassa em combustível ser efetivada em um processo de apenas uma fase é uma vantagem competitiva bastante importante", disse.

Por meio desta nova tecnologia, que usa microorganismos específicos para fermentar a celulose contida na biomassa e mesmo no caldo de cana, a LS9 pretende produzir diesel renovável (para substituir o mineral), biodiesel , combustíveis para aviões e também produtos químicos com maior valor agregado. A tecnologia para produzir estes combustíveis renováveis de segunda geração foi desenvolvida em uma parceria entres cientistas da LS9, da Universidade da Califórnia e do Departamento de Energia dos Estados Unidos. Ontem, a LS9 anunciou que adquiriu uma fábrica localizada na Flórida onde será realizado a produção inicial de combustíveis renováveis através da nova tecnologia desenvolvida pela empresa. A unidade deverá produzir entre 227,3 mil e 454,6 mil litros de diesel renovável a partir do final de 2010. Segundo Haywood, este nível de produção irá permitir a viabilidade comercial deste diesel renovável, que já possui marca registrada de UltraClean Diesel. Também na unidade da Flórida a matéria-prima a ser utilizada é derivada de cana-de-açúcar.

No Brasil, a usina Jalles Machado, localizado em Goianésia, em Goiás, foi uma das usinas procuradas pela LS9. "Estamos analisando a proposta feita pela LS9 para produzir o diesel de cana aqui", disse Henrique Penna de Siqueira, diretor da Jalles. Segundo ele, os executivos e cientistas da LS9 visitaram a usina em outubro do ano passado e ofereceram a parceria. Siqueira não revelou os detalhes da proposta mas disse que uma unidade modelo está sendo projetada aqui no Brasil para ser adaptada à usina Jalles Machado para a produção do diesel a partir de cana. Siqueira disse que as negociações ainda não estão fechadas mas a usina foi escolhida por sua localização estratégica e grande disponibilidade de matéria-prima a um baixo custo. Na safra 2009/10, a Jalles Machado processou, de abril a novembro de 2009, 2,6 milhões de toneladas de cana e produziu 84 milhões de litros de etanol, 173,5 mil toneladas de açúcar e 128 mil megawatt/hora de energia elétrica.

Amyris: Uma usina de inovações a partir da cana-de-açúcar
Com dinheiro de renomados investidores de risco internacionais e grupos brasileiros, a Amyris prepara-se para inaugurar a era das biorrefinarias no país.

Localizada no município de Quirinópolis, no sudoeste de Goiás, a usina Boa Vista é hoje um dos melhores exemplos do que esse setor pode esbanjar em termos de modernidade e excelência. Inaugurada em 2008 e integrante do grupo São Martinho, um dos maiores produtores de açúcar e álcool do país, a Boa Vista tem sua colheita 100% mecanizada e, por isso, não utiliza queimadas. No estado de São Paulo, a média de mecanização dos canaviais não passa de 55%. Toda a energia consumida é gerada pela própria usina. A eletricidade vem da queima do bagaço de cana, e dois terços da produção são revendidos. A despeito disso, a Boa Vista continua sendo capaz de tirar da cana os mesmos produtos de todas as outras usinas do país: açúcar e álcool. Isso, porém, deve mudar em 2011. Uma nova tecnologia permitirá que o caldo de cana da Boa Vista se transforme em matériaprima para um leque de produtos muito mais diverso e sofisticado do que as commodities que ela hoje produz. A detentora dessa fórmula mágica, que promete levar a indústria sucroalcooleira do país a outro patamar, é a Amyris, empresa de biotecnologia americana com quem o grupo São Martinho negociou a venda de 40% da Boa Vista em dezembro do ano passado.

Com sede em Emeryville, no Vale do Silício, onde está a renomada Universidade da Califórnia, em Berkeley, a Amyris nasceu quando um grupo de cientistas recebeu da Fundação Bill e Melinda Gates cerca de 42 milhões de dólares. O objetivo do financiamento era baratear a produção de artemisina, medicamento de combate à malária. O projeto não só vingou como, durante as pesquisas, os cientistas descobriram que a tecnologia desenvolvida também poderia ser usada para outros fins. Na prática, o que a Amyris sabe fazer e que interessa ao Brasil é modificar geneticamente organismos vivos como a Saccharomyces cerevisiae, a levedura usada no processo de produção da cerveja e também do etanol. Uma vez modificada, e em contato com o açúcar, essa levedura pode dar origem a uma série de moléculas. Uma delas é o farneseno, com a qual a empresa já detém conhecimento para produzir um diesel de origem vegetal que tem desempenho semelhante ao de origem fóssil. Com outra molécula será possível produzir combustível à base de cana para aviões e até mesmo um substituto para a gasolina comum. A combinação de açúcar e farneseno também pode render substitutos para outros produtos que hoje têm origem fóssil, como lubrificantes para carros, solventes para a indústria de tintas e compostos para empresas de higiene e limpeza. Aliando biotecnologia de ponta com a cana tradicional, a Amyris quer transformar o Brasil em pioneiro num novo tipo de negócio: o das biorrefinarias.

A tecnologia é considerada tão promissora que muitos grupos brasileiros acompanharam os grandes fundos de capital de risco americanos e também fizeram aportes na Amyris (veja quadro). A Votorantim, por meio do fundo Votorantim Novos Negócios, o grupo Cornélio Brennand, que tem sede em Pernambuco, e alguns investidores de menor porte também são sócios da companhia. "Visitei uma série de empresas na Califórnia", afirma Francisco Andrade, diretor de novos negócios do Cornélio Brennand. "Nenhuma delas era tão revolucionária." Os grupos Cosan, Bunge e a Açúcar Guarani também assinaram, em dezembro, acordos para se beneficiar da biotecnologia.

O principal centro de desenvolvimento da empresa está nos Estados Unidos. É lá que cerca de 150 biologistas moleculares se esmeram para modificar as leveduras. Estima-se que aqui haja um número semelhante de especialistas na mesma levedura - mas no país inteiro. Apesar da discrepância do lado científico, o Brasil é essencial para que o projeto da Amyris se concretize. A empresa precisa de açúcar abundante e barato o suficiente para dar escala à sua produção. É a cana, mais que qualquer outra cultura, a fonte que oferece a melhor relação entre potencial energético e custo. Além disso, para tornar factível a tal produção em escala, também é preciso ter um conhecimento tecnológico há décadas desenvolvido por aqui. "Pensamos em países como Índia e Indonésia, mas nenhum outro lugar conhece tão bem a cana-de-açúcar", diz o executivo belga Roel Collier, de 36 anos, responsável pela operação da Amyris no Brasil.

A operação está sediada em Campinas, no interior de São Paulo, local estrategicamente escolhido por estar próximo da Unicamp, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), ambos em Piracicaba. Foi nessas instituições que a Amyris recrutou boa parte de seus 60 funcionários. São químicos, bioquímicos e engenheiros agrônomos, mestres e doutores, que trabalham para fazer com que as leveduras modificadas pelos colegas da Califórnia reproduzam aqui, inicialmente em tanques de médio porte, o mesmo comportamento observado em frascos de até 3 litros. "É como se lá elas estivessem em um hotel de luxo", diz Fernando Reinach, diretor da Votorantim Novos Negócios e um dos mais respeitados biologistas moleculares do país. "Aqui é que nossos cientistas as colocam para trabalhar no mundo real." Os testes da Amyris hoje acontecem em tanques de 6 000 litros e também de 60 000 litros. A operação na usina Boa Vista deverá ter quatro tanques de 600 000 litros cada um e deve começar no ano que vem.

Enquanto parte dos pesquisadores cuida dos detalhes da produção, outros profissionais trabalham para que o diesel verde da Amyris seja aprovado pela ANP. Nos Estados Unidos, uma mistura de 20% dele ao diesel convencional já passou pelo crivo da poderosa agência de proteção ambiental americana (EPA, na sigla em inglês). Aqui, a última prova de fogo do combustível começa em fevereiro, quando seis ônibus da frota da cidade de São Paulo testarão nas ruas o desempenho de uma mistura de uma parte de diesel de açúcar e nove partes do combustível comum. Esse novo combustível tem uma grande vantagem: ao contrário do etanol, ele não exige modificações nos veículos nem na infraestrutura de distribuição atuais. O plano dos executivos da Amyris, porém, é que, num primeiro momento, as usinas parceiras que estão investindo na tecnologia produzam menos o diesel verde e mais outras especialidades químicas, que têm preços mais atraentes. "Quanto mais elaborado o produto, maior a margem que dividiremos com as usinas", afirma Collier. Assim como uma refinaria tradicional, as usinas poderão potencialmente transformar a garapa em uma vasta gama de opções, que irão muito além do açúcar e do etanol de hoje.

Os testes já vêm sendo realizados há mais de dois anos, mas é claro que ainda existem obstáculos a superar. Há competidores dentro e fora do Brasil buscando a produção de combustíveis de segunda geração usando métodos diferentes. Como em todo negócio baseado em tecnologias de ponta, a Amyris pode ficar para trás na corrida. Um exemplo da crescente procura pela cana-de-açúcar brasileira foi a joint venture recém-anunciada pela gigante Shell com a Cosan, maior grupo sucroalcooleiro do país. Entre outros interesses, a Shell, quer ter acesso à matéria-prima vegetal do país para avançar em suas pesquisas na área de novos combustíveis. John Melo, presidente mundial da Amyris, mantém o mesmo nível de otimismo demonstrado quando visitou usinas brasileiras pela primeira vez, quase três anos atrás. O que na época parecia um sonho distante e improvável - produzir gasolina e diesel de açúcar -, hoje está cada vez mais perto da realidade. "Temos uma das melhores equipes de cientistas do mundo e fizemos grandes investimentos", diz o português Melo. "Também tivemos muita sorte ao fazer algumas escolhas, como a de vir para o Brasil." Se as biorrefinarias virarem realidade, o país também poderá dizer que teve a sorte de ser escolhido pela Amyris.
Fundo compra fatia de 40% da Amyris Brasil
Gestora Stratus investe R$ 100 milhões; meta é desenvolver uma nova cadeia química da cana

A gestora de fundos de private equity Stratus está investindo aproximadamente R$ 100 milhões para adquirir uma participação de 40% na Amyris Brasil, fabricante de combustíveis e materiais químicos renováveis controlada pela companhia americana Amyris Biotechnologies.

O aporte está sendo realizado por meio do fundo Cleantech, que aplicará R$ 10 milhões, e por outros três investidores individuais trazidos pela própria Stratus. Entre eles está o grupo pernambucano Cornélio Brennand, que tem negócios nas áreas de imóveis, energia e vidros. Os demais nomes de investidores são mantidos em sigilo.

De acordo com Álvaro Gonçalves, sócio da Stratus, o interesse dos novos acionistas está em participar do desenvolvimento de uma nova cadeia química a partir da cana-de-açúcar. Desde 2006, a Stratus compra participações em empresas de tecnologias limpas, como a Brazil Timber, de manejo florestal, e a Ecosorb, de socorro a acidentes ambientais.

"Enxergamos que, no futuro, existe a possibilidade de se criar algo a exemplo do que já existe hoje na petroquímica", diz ele. Entre os produtos que estão sendo criados pela Amyris estão o diesel, matérias-primas para sabão em pó e cosméticos, além de substitutos da borracha. O diesel da cana já está sendo testado, por exemplo, pela Mercedes-Benz, maior fabricante de caminhões e ônibus do país. A companhia aérea Azul, a GE e a Embraer também estão avaliando o uso de um combustível à base de cana.

Já para a americana Amyris, o aporte permitirá fabricar em escala industrial os produtos que ela desenvolveu. Entre os projetos em desenvolvimento estão, por exemplo, uma joint venture, na qual terá 40%, com o grupo São Martinho para produção de especialidades químicas, e a conversão tecnológica de unidades da Cosan, da Bunge e da Guarani.

De acordo com John Melo, presidente da Amyris Biotechnologies, até 2014, a Amyris pretende transformar em matérias-primas renováveis 2,4 milhões de toneladas de cana no Brasil. Hoje, a produção brasileira está restrita a uma planta piloto em Campinas (SP). O executivo - um português criado nos Estados Unidos - também concluiu que era mais fácil atrair sócios brasileiros para o negócio do que estrangeiros. "Quem é do Brasil enxerga mais facilmente o potencial da cana", avalia Melo.

Isso não impediu, porém, que a Amyris Biotechnologies fosse criada a partir do investimento de diversos fundos de private equity internacionais, como Texas Pacific Group, Kleiner Perkins Caufield and Byers e Khosla Ventures no fim de 2007. Mas, desde 2008, também há um sócio brasileiro na empresa americana, a Votorantim Novos Negócios.

CTNBIO libera levedura transgênica para produção de diesel da cana
Comissão também autorizou 2 novas vacinas veterinárias e outras 2 espécies de soja geneticamente modificada.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou ontem a liberação comercial de uma levedura transgênica que permite a produção de diesel usando a cana-de-açúcar. É a primeira vez que um transgênico desse tipo é aprovado pela comissão.

Em sua primeira reunião plenária após a mudança do comando, o órgão também aprovou o uso comercial de duas espécies de soja modificada, resistentes ao agrotóxico glufosinato de amônio. As sojas foram produzidas pela Bayer.

Também houve a liberação de duas vacinas veterinárias transgênicas. Com isso, sobe para oito o número de vacinas aprovadas para liberação comercial pela comissão, formada por 27 integrantes.

A reunião de ontem foi conduzida pelo novo presidente do colegiado, o pesquisador da Embrapa Edilson Paiva.

PRODUÇÃO

Com o sinal verde da CTNBio, a Usina Boa Vista, instalada na cidade goiana de Pirenópolis, deve concluir a construção de uma linha de produção de diesel feito da cana. A expectativa é que, em 2011, sejam fabricados 2 milhões de toneladas do produto, que, a exemplo do etanol, é menos agressivo ao meio ambiente do que o combustível fóssil.

"Ele não tem enxofre, produz quantidade menor de material particulado e é renovável. Tudo isso reduz o impacto para o aquecimento global", afirma Luciana di Ciero, gerente de assuntos regulatórios e relações institucionais da empresa que desenvolveu o produto, a Amyris.

A aprovação também deve acelerar a negociação com outras usinas interessadas no desenvolvimento do novo produto. Até agora, nenhum país no mundo produz comercialmente o diesel de cana.

A levedura é um fungo, amplamente usado na produção de vinhos, cachaça e fermento de pão. A espécie aprovada ontem teve seu DNA modificado, o que a torna agora capaz de produzir um precursor do diesel, o farneseno. "A liberação aumenta a relação de produtos derivados da cana. Agora, além de açúcar, etanol também servirá de matéria-prima para o diesel e outros produtos para indústria química", diz Luciana. Nessa lista estão, por exemplo, lubrificantes.

O desenvolvimento da levedura transgênica é o desdobramento de um outro projeto, iniciado em 2004 para a produção de um medicamento para combater a malária, feito com uma planta chamada artemísia. A partir de 2006, partindo de conhecimento já acumulado, a empresa Amyris passou a investir no desenvolvimento da levedura geneticamente modificada.

Para o projeto de diesel, a empresa recebeu, em apenas um ano, US$ 100 milhões de vários fundos de capital de risco. Entre eles, investimentos da Votorantim Novos Negócios.

Luciana afirma que não é preciso fazer alterações nos motores para o uso do novo produto. O projeto é usar, em um primeiro momento, um blend de diesel de cana-de-açúcar e diesel fóssil. Na primeira etapa, a ideia é misturar 10% do novo produto com 90% do diesel fóssil.

"Foi a solução encontrada, pois não há como garantir o abastecimento do mercado em grande escala", afirma Luciana. As usinas, por sua vez, teriam de fazer pequenas alterações em suas instalações para produção do novo diesel. "São poucas mudanças", diz.

Além do diesel de cana, a Amyris está desenvolvendo um querosene para aviação, também a partir da cana-de-açúcar. Há acordos para o uso do produto com a Força Aérea Americana, a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e a companhia Azul, que deverá fazer testes com o novo combustível em 2012. "Tudo é feito com a levedura. A plataforma de pesquisa é a mesma, o que varia é a modificação genética", diz a gerente.

SURPRESA

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) levou quatro meses para liberar comercialmente a levedura geneticamente modificada, contados a partir da apresentação do processo. A rapidez na tramitação surpreendeu até mesmo a empresa que desenvolveu o organismo geneticamente modificado. "Vamos ter de apressar a finalização da linha de produção. Não estávamos contando com tanta agilidade", afirmou a gerente da empresa, Luciana Di Ciero.

Para a liberação comercial, a empresa precisa atender uma série de quesitos, descritos numa instrução preparada pelo colegiado. A empresa tem de, por exemplo, pedir um certificado de qualidade de biossegurança, constituir uma comissão interna de biossegurança.

Ultrapassada essa etapa, a empresa apresenta à comissão, formada por 27 integrantes, um processo com todos documentos necessários. Entre eles, a descrição do produto e pesquisas comprovando sua segurança. Esse material é enviado para 4 comissões subsetoriais: humana, animal, vegetal e ambiental. Para cada uma, é nomeado um relator. Em muitos processos, é chamado mais de um relator por comissão. Há também a possibilidade de se convocar especialistas externos para dar opinião. Esse recurso é usado com bastante frequência.

Os relatores preparam pareceres, que são analisados e votados pelas subsetoriais. Somente quando o processo é aprovado em todas as comissões é que o projeto é submetido a avaliação na plenária da CTNBio. Para aprovação, é preciso pelo menos 14 votos.

Diesel de cana deve ser incorporado ao marco regulatório dos biocombustíveis, diz Goellner

Representantes da empresa Amyris, fabricante do diesel de cana, estiveram hoje no gabinete do Senador Gilberto Goellner. O diesel de cana é um combustível renovável que foi criado para substituir os combustíveis fósseis.

A produção de biodiesel convencional, feito de óleo vegetal, passa por um processo chamado transesterificação, diferentemente do processo apresentado pela empresa Amyris, que transforma a celulose contida no bagaço da cana em um produto com características de combustão semelhantes às do diesel de petróleo, o que não demanda alterações no motor. Além disso, esse combustível tem a grande vantagem de não ter enxofre na sua composição e ainda de ter uma menor emissão de materiais particulados e de NOX. A infraestrutura para a sua produção é basicamente a mesma da instalada nas usinas de cana-de-açúcar e os testes de eficiência tecnológica do novo combustível já foram todos realizados.

O novo combustível - diesel de cana - foi desenvolvido na Universidade da Califórnia e é representado, no Brasil, pela empresa Amyris, que já patenteou o processo da sua rota metabólica, tendo a ANP concedido o certificado de blend a esse combustível, uma vez que, ao dispensar, na sua produção, o processo de transesterificação, ele fica descaracterizado como biocombustível.

O senador Gilberto Goellner, membro do Grupo de Trabalho que está elaborando o Marco Regulatório dos Biocombustíveis no âmbito da Comissão de Infraestrutura do Senado, ressalta a necessidade de o novo Marco Regulatório contemplar também essas novas tecnologias de produção. "O Marco Regulatório deve ser moderno e se adequar às novas tecnologias de produção de biocombustíveis que surgirão. Devemos pensar a longo prazo, aproveitando a capacidade produtiva do país".

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Cultura do milho inviável no Brasil?

A pergunta do título do post parece até meio fora de sentido, mas segundo estudo do CEPEA-USP, UFLA e CNA isso aparentemente pode ser verdade nas principais regiões produtoras do Brasil no futuro.

O que mais nos estranha é que o Brasil é o terceiro maior produtor de milho ficando atrás apenas do EUA e China, conforme podemos verificar no gráfico abaixo elaborado por mim a partir de dados do USDA.

Segue na sequência a notícia do Jornal do Comércio, que encontrei no Portal do Agronegócio, onde o estudo é apresentado:

A cultura de milho é economicamente inviável nas principais regiões produtoras do País
Situação pode comprometer abastecimento do grão em médio prazo

A cultura de milho é economicamente inviável nas principais regiões produtoras do País, segundo levantamento feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós (Esalq) - ambos ligados à Universidade de São Paulo (USP) - e a Universidade Federal de Lavras (Ufla). Esta é a conclusão de um índice de custos e preços que, foi divulgado pela primeira vez ontem pela CNA e passará a ser publicado mensalmente. De acordo com o levantamento, o custo total (levando-se em conta insumos e depreciações, mas não os gastos com capital) para a produção de uma saca de 60 quilos de milho na região de Rio Verde (GO) é de R$ 18,68, enquanto o preço médio da mesma saca é de R$ 13,84, o que significa uma diferença negativa de R$ 4,84.

No caso de Unaí (MG), os custos somam R$ 19,42 e a comercialização é de R$ 16,80 (-R$ 2,62). Para Sorriso (MT), o estudo aponta uma defasagem de R$ 11,13 entre os custos (R$ 17,13) e o preço médio (R$ 6,00) e, para Londrina (PR), uma perda de R$ 5,07, considerando-se custos de R$ 19,63 e comercialização a R$ 14,56. Também no Paraná, a cultura foi considerada inadequada na região de Campo Mourão, já que a diferença entre o custo (R$ 18,36) e o preço médio (R$ 14,56) ficou negativa em R$ 3,80. Em Passo Fundo (RS), o prejuízo seria de R$ 4,50, levando-se em conta custos de R$ 21,66 e preço médio de R$ 17,16. As regiões escolhidas para o levantamento levam em conta, de acordo com a CNA, municípios com mais peso na formação de preço ou os maiores produtores. "Por todo esse quadro percebemos o motivo que levou os produtores a migrarem para a cultura de soja", considerou a economista da CNA, Rosemeire Santos. A expectativa da Conab é a de que a safra 2009/2010 de soja seja recorde em 66,7 milhões de toneladas. Rosemeire salientou que, além do custo maior de produção, o milho é mais sensível às variações climáticas e registra menos liquidez no mercado em relação à oleaginosa. "Isso pode significar mais endividamento para o setor. Temos que estar alertas", sugeriu a economista.

De acordo com a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), a entidade buscou parcerias para que o dado fosse considerado imparcial pela sociedade. Ela enfatizou que todos os números, metodologia e contatos estarão à disposição dos interessados que desejarem realizar auditoria no levantamento. Além de servir como um norte para o produtor, a intenção da CNA ao compilar esses dados é a de tornar o setor mais propício a obter financiamentos em bancos e a de embasar o governo na confecção de políticas públicas. "Esse chororô vai ser contínuo, pois a margem (de lucro) é mínima. Quando sobe a arroba do boi, não se vê quantos anos de perda houve, que não há recuperação. É triste, é terrível a situação", argumentou a senadora.

A presidente da CNA disse como exemplo que o Ministério da Fazenda possui muitos setores para acompanhar e que não pode se ater apenas ao segmento agropecuário. "Agora vão ter esse acompanhamento. Será de uma utilidade nacional", garantiu. Ela também enfatizou que o dado será útil quando produtores não conseguirem honrar suas dívidas com o setor financeiro. "Alguns nos chamam de caloteiros, pensam que não queremos pagar contas, mas queremos mostrar à sociedade que temos transparência", defendeu. "Que não seja uma surpresa o não-pagamento aos bancos", continuou.

Outro objetivo dos indicadores é o de antecipar a percepção de períodos de crise. Kátia Abreu disse que os preços dos produtos estão sempre disponíveis à sociedade, mas que o custo de produção é desconhecido, por isso a CNA resolveu investir nessas pesquisas. "A ideia é poder anunciar alguma ocorrência de crise", considerou.

Fertilizantes - uso de resíduos pode suprir 1/5 da demanda

O Brasil é um grande importador de fertilizantes, importando cerca de 90% do total que consome e com isso exportando divisas, além de ficar com um importante insumo dependente da cotação cambial. Visando diminuir esta dependência, a rede de pesquisa FertBrasil está estudando várias formas para redução, substituição e/ou otimização dos fertilizantes. A reportagem abaixo do Canal Rural fala sobre isso e mostra que somente com a utilização de rejeitos de suínos e aves, podemos suprir 20% da demanda nacional:

Melhor aproveitamento de fertilizantes pode suprir 20% da demanda nacional, diz pesquisador
Estudos desenvolvidos pela Rede FertBrasil atuam em três frentes

Pesquisas realizadas pela Rede FertBrasil podem ajudar a suprir 20% da demanda nacional de fertilizantes, afirmou José Carlos Polidoro, um dos líderes da rede, coordenada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A FertBrasil é formada por mais de 200 pesquisadores de instituições de pesquisa, universidades e empresas privadas do setor.

O Brasil é o segundo maior produtor de grãos do mundo e o terceiro maior consumidor de fertilizantes. De acordo com Polidoro, a indústria nacional de fertilizantes estagnou na década de 90 e a demanda cresceu, a ponto de o país importar mais de 90% do produto.

— Hoje, consome-se 22,5 milhões de toneladas de fertilizantes, mas 92% é importado — afirmou.

Estudos desenvolvidos pela rede de pesquisadores atuam em três frentes. A primeira objetiva ensinar os agricultores a aproveitar melhor os fertilizantes e os corretivos agrícolas para que, com a mesma quantidade, se produza mais.

A segunda frente visa a viabilizar fontes alternativas de nutrientes de resíduos agroindustriais (dejetos suínos e de aviários) ou resíduos minerais (fontes de potássio e fósforo de baixo teor não aproveitados pela indústria) para utilização na produção de fertilizantes.

— Se pegarmos 60% dos dejetos de suínos e 80% dos de aviários nos polos produtores [Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Goiás e Mato Grosso] e montarmos algumas fábricas que produzam fertilizantes agrominerais, temos potencial para atender até 20% da necessidade do país — explicou Polidoro.

A terceira linha de trabalho é reduzir a perda dos nutrientes dos fertilizantes, agregando tecnologias que possam diminuir as perdas, utilizando a mesma quantidade.

O pesquisador disse que a Rede Fert Brasil é responsável pela parte da pesquisa do Plano Nacional de Fertilizantes, que deve ser concluído até o final de março e tem o objetivo de tornar o Brasil autossuficiente até 2020.

Ele afirmou que para aumentar a produção nacional é necessário ampliar a produção das jazidas já existentes, de onde se extraem fósforo e potássio, e explorar novas.

— Foram contatadas indústrias produtoras e muitas já se manifestaram e estão montando novas fábricas no país — disse.

De acordo com a coordenadora de Assuntos Econômicos, da Confederação Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rosimeire Santos, cerca de 30% do custeio da safra é gasto com fertilizantes, um montante que varia entre R$ 18 bilhões e R$ 19 bilhões.

— É extremamente importante que seja criada uma política nacional [para a produção de fertilizantes]. Sabemos que não resolverá o problema a curto prazo, mas é estratégico para o país, já que abordará desde o marco regulatório de fertilizantes até questões tributárias que desonerarão a tributação para as empresas — destacou Rosimeire.

domingo, fevereiro 14, 2010

Resíduo de coco é bem aproveitado no ES

O agronegócio tem durante sua cadeia produtiva o descarte de vários resíduos que normalmente não são aproveitados e até se transformam em problemas ambientais. O setor sucroalcooleiro é mestre na utilização de sub-produtos, como por exemplo, o bagaço, vinhaça e torta de filtro.

Na notícia abaixo do Canal Rural, um empresário do ES descobriu um jeito de aproveitar os cocos jogados no lixo das cidades praianas. Sem dúvida, esta descoberta é muito interessante pois a quantidade de cocos destinados aos aterros sanitários deve ser bem grande.

Coco pode ser usado para recuperar áreas degradadas e fabricar adubo
Empresa capixaba recicla a fruta que é descartada nas praias

Tomar água de coco, um hábito muito frequente no verão, tem gerado muita poluição em praias e outros locais de lazer e entretenimento do país. Depois de descartada, a fruta, vendida principalmente no litoral, vira um grave problema para o meio ambiente e impõe mais um desafio para as autoridades de serviços de limpeza urbana, aterros sanitários e lixões.

No Espírito Santo, a crescente quantidade de cocos descartados nas praias sempre intrigou o técnico de informática Sebastião Martins Gomes. Quando se aposentou, em 2007, a inquietação o levou a pensar em abrir uma empresa que pudesse transformar as sobras da fruta em um negócio rentável.

Na época, ele procurou por informações a respeito do reaproveitamento do coco, mas o tema ainda era incipiente no Brasil.

— A única literatura que encontrei foi a desenvolvida pela Embrapa. Mantive muitos contatos e conversas com técnicos e especialistas da instituição — revela.

Quando conheceu o trabalho diferenciado do aterro sanitário privado Marca Ambiental, em Cariacica, na região metropolitana de Vitória, que prima pela destinação e reaproveitamento sustentável dos resíduos lá depositados, a perspectiva de abrir uma empresa para reciclar coco começou a virar realidade.

— A carcaça do coco é um material nobre demais para ser simplesmente tratado como lixo. Seria um desperdício apenas pensar em enterrá-lo para a decomposição. Esta não é a melhor opção em termos ambientais e econômicos — diz Gomes.

A direção do aterro demonstrou total interesse em viabilizar a experiência e a parceria foi fechada no final de 2007. Em janeiro de 2008, a empresa Biococo foi implantada na Incubalix, primeira incubadora de econegócios do país, sediada no aterro Marca Ambiental.

O empresário investiu cerca de R$ 180 mil para abrir o negócio e atualmente processa, todos os meses, 60 toneladas, descartadas no aterro sanitário pela prefeitura. O reaproveitamento começa com o processo de desfiagem e secagem. Depois, as fibras são trançadas e recebem látex, transformando-se em biomanta, que pode ser utilizada principalmente na recuperação de áreas degradadas.

Ao todo são produzidos quatro mil metros quadrados por mês de fibra de coco, vendidos a R$ 3 o metro quadrado, tanto para o aterro sanitário quanto para empresas de outros Estados.

— Esse material biodegradável funciona como um forro nas partes desmatadas, ajudando a fixar e manter a umidade da terra, após a semeadura das árvores e vegetação, que se pretende fazer renascer — explica Sebastião.

Apesar do pouco tempo de experiência e incubação, a Biococo já está no mercado. A empresa e sua biomanta de fibra de coco e látex são consideradas o carro-chefe da Incubalix.

Gomes revela que conta com o programa de fomento do Sesi e Senai para desenvolver os equipamentos que serão utilizados na produção da biomanta. Por enquanto, o processo é todo artesanal. Com esses equipamentos, que deverão ficar prontos até o final do ano, a expectativa do empresário é de que a produção salte para cinco mil metros quadrados de fibras por dia.

— Contamos, também, com o apoio do Sebrae no Espírito Santo, parceiro da Incubalix, que coloca consultores e técnicos à disposição para a parte de gestão, acesso a mercado, etc — ressalta. (Fonte: Agência SEBRAE)

Até Bill Gates defende tecnologia na agricultura

A notícia abaixo, que encontrei no Notícias Agrícolas, resume bem o que vem acontecendo com a agricultura nos últimos tempos principalmente aqui no Brasil. O agronegócio (agricultura deixou de ser o termo) tem sido elevado como atividade essencial, panorama bem diferente da década de 1980. Senti isso na pele, ao escolher no final de 1985 o curso de Engenharia Agrícola. Meus colegas de escola não acreditava que iria estudar neste setor tão atrasado, ainda mais que em Campinas o must era informática,eletrônica e indústria química.

Porém o tempo passou e hoje até o Bill Gates defende novas tecnologias para aplicação na agricultura:

Bill Gates defende novas tecnologias na agricultura

Bill Gates, presidente da Microsoft e criador da Fundação Bill & Melinda Gates, escreveu sobre a importância de se obter tanto a produtividade agrícola quanto a sustentabilidade. A fundação assumiu um compromisso de US$ 1,4 bilhão com pequenos fazendeiros na luta pela redução da fome global, por meio de abordagens que incluem tecnologia na agricultura. “Ajudar fazendeiros pobres a aumentar a produtividade é um passo crucial na redução global da fome”, disse Gates.

O empresário afirmou que tem visto provas de que a ciência na agricultura tem feito a vida das pessoas melhorar. Ele aponta como exemplos avanços como o arroz indiano geneticamente modificado Swarna – sub 1, uma variedade que é capaz de sobreviver submersa na água por mais de duas semanas, ajudando fazendeiros que plantam em terras sujeitas a inundações.

Ainda de acordo com Bill Gates, a próxima “revolução verde” deve ajudar a alimentar bilhões de pessoas usando tecnologias modernas de uma forma sustentável. (Fonte: The Gates Notes)

Consumo de café cresce no Brasil

Parece que o brasileiro, um apaixonado por café, ainda é mercado potencial para nosso café. Um café que não é tão badalado quanto o colombiano, mas que ano a ano melhora de qualidade.

Abaixo seguem dois artigos sobre o café que encontrei no Notícias Agrícolas. O primeiro de autoria da Folha de São Paulo, comenta sobre o consumo per capita brasileiro que, apesar de ser alto como alguns países europeus, é menor do que a metade do consumo do países nórdicos, enquanto que o segundo, de autoria do SINCAL - Associação Nacional dos Sindicatos Rurais das Regiões Produtoras de Café e Leite que descreve os números da produção, exportação e o estoque de café de 2004 a 2008. Ao final do texto, seguem gráficos elaborados por mim com base em tabelas do artigo original

Consumo per capita de café se aproxima do recorde

Em 2009, foram consumidos no Brasil 4,65 kg per capita do grão torrado, contra a marca histórica de 4,72 kg registrada em 1965

Este ano poderá ficar marcado como o da virada para a indústria do café no Brasil. O setor comemorou no ano passado o crescimento do consumo anual per capita de café torrado (4,65 kg). A marca ficou bem próxima do recorde de consumo, de 45 anos atrás.

Em 1965, o consumo médio por habitante foi de 4,72 kg, segundo a Abic (a associação que reúne a indústria cafeeira). Portanto, se os brasileiros consumirem 71 gramas a mais de café ao longo de 2010, baterão a marca histórica. Os 4,65 kg equivalem a 78 litros da bebida.

Nos anos 90, a média do crescimento per capita de café torrado foi de 100 g. Nos anos 2000, é de 93 g.

Em 2009, o consumo de café no Brasil cresceu 4,15%, superando a expectativa da indústria. O relatório anual da Abic mostra que entre novembro de 2008 e outubro de 2009 foram consumidos internamente 18,39 milhões de sacas de café -ante 17,65 milhões no período anterior.

"O resultado excedeu as expectativas iniciais da Abic, que eram de um crescimento de 3%, levando em conta a crise econômica mundial iniciada em 2008. A crise (...) não afetou o consumo de café", diz o relatório da entidade.

O crescimento do consumo está relacionado não apenas ao número maior de xícaras de café que o brasileiro anda bebendo mas também às diversificações na hora de tomar a bebida, seja na forma de cappuccinos e outras combinações com leite.

A indústria credita essa situação à melhora da qualidade do produto oferecido, além da maior oferta de cafés superiores e gourmet e ao incremento do número de cafeterias.

Campeões

Embora seja o maior produtor mundial de café, o Brasil está ainda bem distante dos maiores consumidores. Na comparação feita em grão cru, o consumo per capita no Brasil é de 5,81 kg por ano.

O país supera o consumo per capita na França e na Itália e se aproxima do consumo na Alemanha -de 5,86 kg por ano.

"Os campeões de consumo ainda são os países nórdicos -Finlândia, Noruega, Dinamarca-, com um volume próximo dos 13 kg por habitante/ano", informa a Abic.

A entidade pretende estimular ainda mais o consumo do café, inclusive com a maior oferta de cafés diferenciados, ancorados nos selos de pureza da Abic, que, conforme a entidade, têm contribuído de forma importante para a expansão.

A partir das certificações, o Brasil começou, no início dos anos 2000, a exportar café torrado e moído, que agrega mais valor. O estímulo continua, embora a exportação desse tipo de produto ainda seja pequena.

De acordo com o Departamento do Café do Ministério da Agricultura, do total das exportações de café (1,715 milhão de toneladas) em 2009, apenas 5.419 toneladas foram de café torrado e moído. As vendas externas do café verde totalizaram 1,639 milhão de toneladas; do solúvel, 64,8 mil toneladas.

A produção foi de 39,4 milhões de sacas, sendo 18,4 milhões para o mercado interno. A estimativa para este ano é que o consumo interno atinja 19,3 milhões de sacas (5%).

Café – O que estamos bebendo?

O consumo de café no Brasil vem crescendo substancialmente nos últimos anos segundo a ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café) e está previsto um consumo de 19 milhões de sacas para o presente ano. Estamos praticamente igualando ao consumo norte americano.

Esta grande evolução vem contribuindo em muito com a cafeicultura nacional, mas infelizmente o café que estamos consumindo não demonstra a qualidade preconizada pelo setor industrial. Esta afirmativa podemos demonstrar através dos números da produção, consumo e exportação, vejamos:

Considerando que de 2004 a 2008 produzimos 196,8 milhões de sacas (fonte: MAPA/Conab), exportamos 137 milhões de sacas (fonte: MDIC/DECEX) e, consumimos 81,5 milhões de sacas (fonte - ABIC) temos uma média de 16,3 milhões de sacas/ano. Portanto nesses cálculos, faltam 22,4 milhões de sacas que seria provavelmente o estoque em 31/12/2003.

Segundo o MAPA/Conab o Brasil produziu 47,7 milhões de sacas de robusta/conilon e exportamos nesse período 6,5 milhões de sacas (fonte - MAPA), em forma de café verde e, como desconhecemos a realidade da composição do solúvel onde alegam segredo industrial imaginamos que fica de bom tamanho o fifty-fifty (50% de arábica e 50% de robusta ).

Com isso teremos no período de 2004 a 2008 uma produção industrial de solúvel exportado, equivalente a 15,7 milhões de sacas (fonte - MAPA); sendo assim aproximadamente 8,0 milhões de sacas como robusta. Pelos cálculos subtraímos do total produzido de robusta 6,5 milhões de sacas em forma de verde exportado e, 8,0 milhões de sacas na composição do solúvel sobrando portanto 33 milhões de sacas consumidas internamente de robusta, onde temos uma média de 6,6 milhões sacas/ano.

Sabemos que aproximadamente 10% da produção refere-se ao PVA (Preto, Verde e Ardido) que no período somam 19,6 milhões de sacas, que é consumido no mercado interno, pois, não conseguimos exportar resíduo e isso dá uma média aproximada de 4 milhões de sacas/ano.

Senhores cafeicultores e consumidores entre robusta/conilon e PVA, estamos consumindo uma média de 10,6 milhões de saca/ano sobrando tão somente 5,7 milhões de sacas/ano de arábica para o nosso consumo, ou seja, estamos bebendo tão somente 35% do café que dá a palatabilidade, aroma e outras propriedades organolépticas que caracterizam o café de qualidade.

Não estamos fazendo apologia contra o conilon que é produzido por cafeicultores sofridos e honrados, mas alertamos que essa quantidade desproporcional de conilon no consumo interno poderá trazer sérios reflexos no desenvolvimento normal do mercado. Isso se, já não está impactando, pois, pelo aumento do poder aquisitivo e da renda per capita das classes sociais brasileiras, o aumento de consumo preconizado pela ABIC está muito aquém do ideal.

O povo brasileiro é aguerrido ao café e, prova disso que em qualquer recanto desse nosso país, quando chegamos numa residência a primeira ação de sociabilidade é oferecer um cafezinho mesmo antes d água. Graças a Deus o povo brasileiro que tem esse excelente glamour com o café, mas, por outro lado esse mesmo consumidor é maltratado pela indústria nacional que empurra “GUELA ABAIXO” um café misturado até com resíduos que deveria ser descartado como matéria orgânica para estercar nossos cafezais ou servir como fonte de biodiesel já ventilado pela UFV (Universidade Federal de Viçosa)

A SINCAL, como legitima representante dos cafeicultores, toma a liberdade de aconselhar a ABIC a segmentar e diferenciar, enfaticamente como se faz o bom marketing em praticamente todos os segmentos da economia desde as bebidas, indústria alimentícia, até as indústrias mais pesadas como de carros e aviões.

O café como o vinho oferece nuâncias muito particulares que proporciona uma segmentação com agregação de valor numa escala extraordinária. Para os mais velhos, basta lembrar da infância, dos vinhos importados em tonéis oriundos do velho continente ou mesmo dos garrafões do vinho nacional. Acabou-se toda essa lambança comercial com a cadeia do vinho, trazendo vastíssima e rica segmentação, sendo um dos maiores exemplos de agregação de valor. Senhores industriais e representantes da ABIC, precisamos melhorar o nosso café, valorizar este precioso produto, tirando o PVA, o excesso de robusta e atender as riquíssimas nuâncias de palatabilidade.

Outro ponto é a rotulagem do café, defendido veementemente pela APAC (Associação dos Produtores de Café do Paraná) mais especificamente pelo Dr. Ricardo Strenger. É uma medida justa, racional, inteligente e salutar. O consumidor tem o direito de saber o que está bebendo e, num marketing verdadeiro, aberto e claro, teremos que segmentar e agregar e lá não escapa a citação de todas as características mostrando ao consumidor o seu direito de escolha com conhecimento e diferenciação. A partir do momento que a indústria nacional e multinacional, que atuam no Brasil, nos ramos industrial e comercial do café partirem para o marketing da qualidade, teremos uma explosão de consumo e servirá como exemplo de sucesso para as melhores teses. “O respeito ao consumidor pela qualidade de um produto é o grande sucesso do negócio”.

Precisamos incentivar o povo brasileiro a beber café de qualidade. Vamos abolir esse PVA o qual já definimos, vamos rotular e claro, vamos ganhar dinheiro, pois esse mercado é riquíssimo e está padecendo de inovações, de quebras de paradigmas e, assim estaremos contribuindo com a cadeia do agronegócio café, apoiando esses esquecidos 320.000 cafeicultores por esses rincões brasileiros.

Vamos esquecer o drawback. Precisamos vender e não comprar. O Brasil possui a maior gama de tipos e qualidade de café do mundo. Produzimos cafés nos mais diferentes tipos de solo, altitude, latitude, longitude numa extensão territorial quase que continental dando a maior diversidade do mundo e não justifica importar café. Por quê? Pelo preço? Não é verdade, somos vendedores amadores no mercado mundial de café.

Vendemos sempre muito barato detonando com os preços do mercado mundial. Chega de Commodity, vamos segmentar, diferenciar, agregar e valorizar o nosso precioso CAFÉ como é feito pelos mercados desenvolvidos.



sábado, fevereiro 13, 2010

Um quinto do faturamento do agronegócio vira imposto

A fúria por impostos de nossos governos aumenta dia a dia e atualmente "come" cerca de um quinto do total da receita bruta do agronegócio, conforme podemos ver nesta notícia do Canal Rural que pode ser acessada na íntegra aqui com disponibilidade da reportagem de TV:

Impostos comprometem 19% do faturamento do agronegócio
Além de encarecer o custo, o peso da tributação dificulta até a venda do que é produzido no campo
Letícia de Oliveira | Planaltina (DF)

No agronegócio, 19% do faturamento bruto vão para taxas, tributos e impostos, segundo estimativa de entidades ligadas a produtores rurais. É uma carga proporcionalmente muito superior à da indústria e do comercio, na análise de alguns economistas. Além de encarecer o custo, o peso da tributação dificulta até a venda do que é produzido no campo.

Uma cooperativa do Distrito Federal produz 21 mil toneladas de soja por ano. Dos R$ 1,5 mil gastos, em média, para o cultivo de um hectare, R$ 570 são destinados ao pagamento de impostos.

— Quando o agricultor compra os insumos, já estão embutidos, na maioria das vezes, os impostos. Então, você paga INSS para funcionários e o ICMS em cima dos produtos, que já está embutido. O produtor já não tem renda, quem tem renda no final é o governo que tem esses impostos todos a recolher — avalia o presidente da cooperativa, João Carlos Werlang.

O sistema tributário atual prejudica até a comercialização, diz a economista Rosemeire dos Santos, uma das responsáveis pela pesquisa que avaliou os gastos do setor agropecuário com tributos e taxas. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil negocia com a área econômica do governo federal o fim da cobrança de Pis e Cofins para toda a cadeia de alimentos.

— Se nós tomarmos, por exemplo, o café, o produtor pessoa física tem dificuldades em vender para agroindústria, porque ela prefere comprar das cooperativas. Comprando de cooperativas ela consegue restituir crédito. Se comprar do produtor, não — explica a economista.

A especialista defende que a isenção deve começar pelos produtos que compõe a cesta básica. A medida diminuiria o preço nos supermercados, aliviando o bolso de quem ganha pouco e gasta muito com alimentação e incentivando os agricultores a investir.

— Essa política tem um forte conteúdo de justiça social, de redistribuição e além de favorecer o aumento do consumo, a satisfação das necessidades básicas, se constituiria em fator de grande estímulo para produção agrícola. Esse é o grande desafio: conseguir, talvez iniciar um processo de reforma tributária não querendo fazer tudo de uma vez só — diz o economista Roberto Piscitelli.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Mecanização da cana - momento atual e um pouco de história

A colheita mecanizada de cana picada sem queima prévia é um tema recorrente na mídia nos últimos tempos pelo fato dela ser a mola propulsora da eliminação das queimadas do canavial, entretanto o que acontece quando ocorre a substituição da cana inteira queimada pela cana picada sem queima é pouco divulgado.

Visando contribuir para o melhor entendimento desta importante operação na produção de açúcar e álcool encontrei quatro artigos, que resolvi disponibilizá-los abaixo.

O primeiro deles retirado do Ethanol Brasil Blog, de autoria da Campo News, comenta sobre a geração de vagas que acontece quando uma colhedora é comprada. O segundo deles comentada sobre a evolução da colheita mecanizada em São Paulo que alcançará 60% do total, o terceiro sobre a sensação de um ex-cortador de cana ao "pilotar" uma máquina e no quarto, um pouco de história da mecanização de cana, um artigo sobre a introdução da carregadora de cana, fato que ocorreu na década de 1960 e trouxe mudanças profundas na operação de corte e carregamento da cana. Todos estes três artigos foram encontrados no BrasilAgro e publicados no Valor de 01 de fevereiro e o último deles comenta um aspecto negativo que tem que ser revertido em pouco tempo: a baixa qualificação dos operários rurais, artigo foi tirado do Ethanol Brasil Blog e publicado no Estado de São Paulo em 25 de janeiro:

Colheita mecanizada da cana gera até 30 vagas por máquina

Ao contrário do resto do mundo, o Brasil - mais especificamente o Estado de São Paulo - vem investindo maciçamente em programas que visam a redução das emissões de CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera.

Entre essas propostas está a assinatura de um protocolo de intenções pelo setor sucroalcooleiro, que estipula que até 2014 toda a área com declividade inferior a 12% tenha a colheita da cana-de-açúcar mecanizada, evitando a queima da palha, que hoje ocorre em uma área equivalente a 700 mil campos de futebol. O protocolo também reza que até 2017 todo o plantio de cana-de-açúcar paulista seja mecanizado, independentemente da topografia.

"Uma máquina no campo faz o trabalho de 80 trabalhadores braçais, mas para cada máquina trabalhando na linha de frente dos canaviais, 30 postos de trabalhos são gerados. Essas vagas são ocupadas por profissionais melhor remunerados, como operadores de máquinas, de comboios, operador de carro pipa, mecânicos, tratoristas, operador de transbordo", explica Antonio Cesar Salibe, presidente executivo da UDOP (União dos Produtores em Bioenergia).

Segundo Salibe, um estudo feito pela Pastoral do Imigrante apontou que 75% dos trabalhadores do corte da cana não são originários da região em que estão trabalhando temporariamente. "Apenas 25% são trabalhadores locais e esta migração de mão de obra deixa caótico os sistemas de saúde e educacional dos pequenos municípios que têm sua economia voltada para o setor sucroalcooleiro", argumenta.

Para que o fechamento de postos de trabalho não gere um grande problema social, diversas ações estão sendo conduzidas pelo setor sucroalcooleiro, entre elas a formação de cursos profissionalizantes aos `ex-cortadores de cana´, que podem ser recolocados em funções melhor remuneradas, como a de operador de colhedeira, por exemplo.

Ainda, segundo o presidente executivo da UDOP, mesmo com a colheita mecanizada, o setor espera gerar até 2017, mais de 17 mil postos de trabalho. "Na última safra colhemos 346 milhões de toneladas e considerando um aumento na produtividade até 2017, estaríamos colhendo 450 milhões de toneladas", explica.

"Acredito que a qualificação dessa mão de obra ociosa seja a grande solução para o desemprego. É importante que os trabalhadores vindos das regiões Norte e Nordeste - que são a maioria - recebam esse treinamento em seus Estados de origem, para não aumentar os problemas sociais que algumas regiões já enfrentam", orienta Salibe.

Pé no freio

A crise na economia mundial que pairou no final de 2008 e por parte de 2009 agiu como um `freio´ nos investimentos, principalmente nas linhas de crédito. As colhedeiras de cana-de-açúcar são equipamentos com alto valor agregado e em sua maioria são financiadas pelas usinas e produtores de cana.

"Estávamos adiantados com o cronograma de mecanização. Em 2008, 48% da área já estava mecanizada. Do ano passado, não temos os números finais, mas acreditamos que ultrapassamos 50% dessa mecanização, que foi retardada pela falta de crédito na praça".

O executivo da UDOP reclama do `desaparecimento´ de linhas de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento). "Antes da crise havia boas linhas de crédito, que sumiram", diz, alegando que novas linhas estão voltando ao mercado timidamente, mas com mais entraves burocráticos, dificultando sua contratação.

Pró-Mecanização

Salibe acha interessante que o governo crie uma linha de crédito especial similar ao Pró-Trator, para o financiamento da compra de novos equipamentos para a mecanização da colheita, uma espécie de "Pró-Mecanização".

"Não basta apenas comprar a colhedeira de cana-de-açúcar, é preciso alterar todo o modo de produção. Temos que investir em tratores, transbordos e até plantadeiras mecânicas de cana, que passam a ser necessárias caso o produtor opte pela colheita mecanizada", alega o representante da UDOP, justificando os altos investimentos.

"Queremos novas linhas de crédito, tanto faz se forem governamentais ou privadas, mas com taxas compatíveis com o mercado", finaliza.

Colheita mecanizada de cana cobrirá 60% do total em São Paulo

Mesmo com a crise, os projetos novos já tinham feito os investimentos e sustentam expansão.

De forma mais intensa, o processo começou na safra 2006/07. Até aquele momento, 34% dos 3,2 milhões de hectares de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo já eram colhidos por máquinas. A preocupação era com a eficiência, que se expressava nos ganhos de escala e na redução de custos. Mas quando o componente ambiental entrou em cena, a dimensão mudou. O movimento, que corria silencioso e era visível apenas em terras paulistas, ganhou proporção nacional e passou a envolver toda a cadeia sucroalcooleira.

De fato, o apelo ambiental criou a necessidade do segmento sucroalcooleiro nacional de fazer mais e em um tempo menor do que dita a lei. Desde então, as usinas investiram R$ 1,2 bilhão somente em São Paulo para ampliar a mecanização em mais de 20 pontos percentuais e atingir 53,4% na temporada que chega ao fim (2009/10). Outros R$ 300 milhões estão sendo aplicados para cumprir a meta de encerrar 2010/11 com 60% dos 4,3 milhões de hectares colhidos com máquinas.

Ao longo do processo, houve uma antecipação às exigências legais. Assim, enquanto a lei determina o fim da queima em áreas mecanizáveis (declive de até 12%) até 2021, as usinas encurtaram essa meta para 2014. Da mesma forma, a exigência legal de pôr fim à queima até 2031 em 100% das áreas foi antecipada para até 2017. Ambas as antecipações foram oficializadas por meio do Protocolo Agroambiental, um compromisso firmado entre usinas e governo paulista em 2007.

Apesar da pressão internacional por uma produção sustentável, esse empenho tem muitos motivadores econômicos. O segmento sucroalcooleiro tem dois terços de sua produção de açúcar comercializada no mercado internacional, cada vez mais atento à sustentabilidade da atividade. Além disso, apesar de os volumes embarcados ao exterior de etanol ainda não terem essa proporção, é no mercado externo que se baseia grande parte do que se projeta de expansão futura para o biocombustível.

Ainda no viés econômico, pesam outros fatores. O custo de produção de uma usina que colhe manualmente a cana é 20% a 25% maior. Uma máquina colheitadeira substitui os braços de 80 a 100 trabalhadores. O diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Eduardo Leão de Sousa, lembra da pegada de carbono da iniciativa. "Ao deixar de queimar a palha da cana e utilizando-a para cogeração de energia juntamente com o bagaço, o setor evitará a emissão de 60 milhões de toneladas de CO2 equivalente entre 2007 e o fim da queima em 2017", diz Leão. Até aqui há ganhos econômicos, na medida em que mais energia será produzida pelas usinas para ser comercializada no mercado, usando matéria-prima antes descartada, a palha.

Apesar de todos esses números refletirem o que acontece em São Paulo, a mecanização da colheita está avançando em todos os Estados produtores de cana, inclusive no Nordeste e em suas terras íngremes. Mas, obviamente, o território plano do cerrado, onde está grande parte das áreas novas de expansão, a tecnificação cresce em velocidade maior do que a nordestina.

Em Mato Grosso do Sul, onde a maior parte dos projetos novos já nasce com colheita mecanizada, o nível de tecnificação já atingiu 40% (de 400 mil hectares) em 2009/10. Para o próximo ciclo, o percentual deve avançar para 50% em uma área 200 mil hectares maior. Em 2010/11, a área deve ser ampliada para 600 mil hectares, e a parte mecanizada deverá representar 50%. "Esse avanço veio das unidades novas, que foram construídas nos últimos dois anos", diz Roberto de Hollanda Filho, presidente da Associação dos produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul). No Estado, a lei prevê a extinção da queima em áreas mecanizáveis até 2016.

Em Minas Gerais, outro importante Estado produtor, a colheita com máquinas saiu de 32%, em 2008/09, avançou para 43% no ciclo seguinte e, na próxima safra deve atingir 50%, conforme a Associação das Indústrias de Açúcar e Álcool do Estado (AIAA-MG).
Apesar de todo o avanço, a colheita manual não deve ser 100% eliminada, ainda que a queima, sim, explica o diretor da Unica. Isso porque sempre haverá áreas não mecanizáveis que, em São Paulo, atingem 5% do plantio de cana. Além disso, os investimentos para adotar a tecnologia são um entrave às usinas e fornecedores de cana de menor porte, que representam cerca de 15% da área cultivada com o produto no Estado de São Paulo.

Uma colheitadeira custa pelo menos R$ 500 mil, mas o problema é que ela sozinha não basta. Secretário da Agricultura de São Paulo e fornecedor de cana, João Sampaio explica que o negócio é mais complexo. "É preciso agregar mais caminhões para transportar a cana, que passa a ser colhida em um tempo menor. Também é preciso um caminhão pipa para prevenir percalços de um excesso de aquecimento da colheitadeira, além de um aparato móvel de manutenção e lubrificação da máquina", diz.

Com a crise financeira e os baixos preços do etanol no ano passado, mesmo médios e grandes pisaram no freio nessa frente. Tanto que houve pouca conversão do corte manual já existente. "Poderia ter sido maior, mas, apesar da crise, a mecanização avançou de forma satisfatória, em cerca de 400 mil hectares de área nova", afirma Leão.

"Bom é que hoje minha filha não quer mais ser cortadora"

Quando "montou" pela primeira vez em uma máquina de colher, a ex-cortadora de cana, Isaura Freitas de Souza, de 38 anos, pensou que não ia conseguir aprender. O tamanho da engenhoca e a quantidade de botões a intimidaram. Depois de 21 anos de lida no canavial, Isaura foi convidada pela usina onde trabalha, pertencente ao grupo Cosan, para fazer um curso de operador de colheitadeira.

Há dois anos ela exerce a nova profissão, com salário até três vezes maior para um trabalho que exige esforço, mas infinitamente menor do que o de cortar cana. "O bom de tudo isso é que hoje minha filha não quer mais ser cortadora de cana. Quer operar máquina", comenta Isaura sobre os planos de sua primogênita, de 12 anos.

Desde a safra 2006/07 foram 30 mil vagas de cortador de cana fechadas somente em São Paulo - que atualmente emprega 140 mil trabalhadores na função. No próximo ciclo, esse número não vai cair, mas 10 mil vagas deixarão de ser criadas porque os projetos novos que entrarão em operação já nascem mecanizados. "Em torno de 20% do contingente total será reabsorvido pela mecanização", diz Eduardo Leão de Sousa, diretor-executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

O treinamento pelo qual Isaura passou é um dos cerca de 154 programas desenvolvidos pelas usinas do Centro-Sul que já existiam em 2008, quando a Unica fez seu primeiro levantamento socioambiental. Apesar do esforço para conter o impacto social do fim do corte manual, os programas têm limitações. "Quanto mais escolaridade o cortador tem, mais chances ele tem de crescer na usina", afirma Luiz Veguin, diretor de Recursos Humanos do grupo Cosan.

A Unica, juntamente com o governo de são Paulo e associações de trabalhadores rurais iniciam em fevereiro um amplo programa de treinamento, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para qualificar tanto cortadores que estão nas usinas quanto os que já saíram do mercado, com meta de qualificar 7 mil pessoas por ano.

Máquina de carregar, a grande revolução dos anos 60

Na época dele, fim dos anos 50, cortador de cana era aquele que morava na fazenda, muitas vezes trabalhava desde criança e ia para casa na hora do almoço. Luiz Antônio Lazarim, hoje com 63 anos, lidou com canavial entre os 11 e os 16 anos. Seu pai era trabalhador da usina Costa Pinto, a primeira construída pela família Ometto, em meados da década de 30. Depois foi trabalhar no escritório da indústria como auxiliar, chegou ao departamento pessoal e formou-se advogado. Assumiu a função na empresa, até que entrou na magistratura e atualmente é desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15ª região.

Mas, o fato, relembra ele, é que eram outros tempos. Não tinha queima de canavial. O mesmo cortador que colhia a cana, também classificava e transportava a matéria-prima em uma época em que as escalas de uma usina eram diferentes. A primeira mudança, relata, ocorreu na década de 60, quando uma máquina de carregar a cana foi inserida na lavoura. "Isso trouxe uma mudança radical, pois o cortador passou apenas a cortar e isso trouxe possibilidade ganhos de escala às usinas", conta.

A queima do canavial foi inserida no processo para eliminar a folhagem e possibilitar ao cortador mais agilidade. O maquinário da indústria foi se aperfeiçoando, as escalas aumentando, e as casas onde os antigos cortadores moravam tiveram que abrir espaço a mais canaviais.

De lá pra cá, a história já é mais conhecida. Mas, apesar da mecanização em curso em todo o país, há regiões que ainda continuarão usando mão-de-obra no corte da cana. Na região Nordeste, por exemplo, se as pesquisas em curso avançarem será possível mecanizar 30% do corte em cinco anos, espera Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Pernambuco. O percentual atual é de 15% para uma área de 1 milhão de hectares e que emprega no corte manual 330 mil cortadores.

Subsidiado por um fundo privado, bancado por onze usinas e que deve reunir aproximadamente R$ 2 milhões, as pesquisas hoje focam em duas colheitadeiras adaptadas para regiões íngremes - uma trazida da África do Sul e outra, da China. As máquinas prometem um avanço sem igual nos canaviais nordestinos. Estão cortando de 15 a 20 toneladas por ano, enquanto por dia o corte manual rende 3 toneladas por pessoa.

Na lavoura mecanizada, desafio é encontrar gente qualificada

Desde os 14 anos, quando chegou ao interior de São Paulo, o cearense José Alcides do Nascimento corta cana de açúcar. Mas os dias de bóia-fria ficaram para trás. Hoje ele dirige orgulhoso uma colheitadeira, que faz todo o trabalho pesado.

"É um sonho realizado. No corte de cana, o desgaste físico é grande. Eu não conseguia estudar, não conseguia fazer nada", diz Nascimento. Aos 31 anos, ele comprou uma casa e prepara o casamento com a namorada de oito anos.

Mas não foi fácil mudar de vida. Sempre que tinha uma oportunidade, Nascimento ficava de olho no trabalho dos operadores de colheitadeiras. Ele se esforçou para completar os estudos e tirar a carteira de habilitação. "É preciso ser esperto." Na entressafra, está aprendendo uma nova profissão - trabalha de ajudante dos mecânicos de tratores.

Trabalhadores com a iniciativa do ex-bóia-fria ajudam a resolver um problema grave para o agronegócio: a falta de mão de obra qualificada, cada vez mais necessária à medida que avança a mecanização na lavoura.

O Grupo Usina São João, onde Nascimento trabalha, surgiu no interior de São Paulo, em Araras. Há alguns anos, adquiriu uma nova propriedade em Quirinópolis, no sudoeste de Goiás. Segundo o diretor de gestão de pessoas da empresa, Miguel Feres, a colheita é 100% mecanizada, o que torna complicada a tarefa de encontrar mão de obra.

Quinta-feira, o Senai, em parceria com a empresa e a prefeitura, inaugurou uma escola profissionalizante na região. O grupo USJ está construindo uma nova usina de cana de açúcar em Cachoeira Dourada (GO) e vai precisar de trabalhadores qualificados.

"Não é fácil encontrar pessoas para manejar tratores e colheitadeiras modernas. Ou você forma internamente ou tira de alguém", disse Feres. Ele contou que a empresa acaba trazendo profissionais de Goiânia, o que aumenta o custo.

Em Araras, apesar da maior disponibilidade de mão de obra qualificada, também não é fácil contratar gente. "Os jovens não querem trabalhar na agricultura", diz o executivo