As mudanças em curso na indústria açucareira cubana possibilitaram o retorno deste país ao destaque que tinha no passado? Encontrei no Notícias Agrícolas e no NetMarinha duas notícias para ilustrar este cenário:
Abertura "açucareira" cubana vai depender de regras e embargos
Agroenergia: País é impedido de vender açúcar dentro da cota americana, que paga até 40% mais que mercado
Apesar de abrir boas perspectivas de investimento para grupos sucroalcooleiros estrangeiros, inclusive brasileiros, a reestruturação do setor açucareiro de Cuba, em curso, ainda é motivo de incertezas que tendem a deixar qualquer plano concreto para um futuro não tão imediato.
Com condições excepcionais de clima e solo para o plantio de canaviais, tradição em pesquisa e exportação e uma localização geográfica invejável, Cuba atrai potenciais interessados não só pelo açúcar, mas também pelo etanol. Em contrapartida, dizem fontes ligadas ao setor no Brasil, questões relacionadas à regulação do mercado na ilha e embargos comerciais liderados pelos EUA ainda esfriam mesmo os mais entusiasmados.
A 140 quilômetros da costa americana, Cuba parece estar abrindo de vez seu setor canavieiro, que chegou a ser o maior exportador mundial de açúcar. No auge, na década de 80, a ilha produzia 8 milhões de toneladas de açúcar por safra, mas veio a dissolução da URSS, até então sua maior parceira, e o derretimento começou.
Em 2010, mais de dez anos após o fim do apoio soviético - que comprava açúcar cubano a preços bem acima dos praticados no mercado e vendia petróleo a valores abaixo das cotações mundiais - , Cuba deverá produzir 1,3 milhão de toneladas. Daí a necessidade de abertura a investidores privados, inclusive estrangeiros.
Cuba já teve mais de 170 usinas de açúcar, mas até 2002 fechou 71. Na safra passada, apenas 44 rodaram, segundo a Organização Internacional do Açúcar (OIA). Outras 20 estão sendo mantidas em condições de funcionamento para utilização no futuro - mas de acordo com especialistas, pouco há de aproveitável nas antigas estruturas do envelhecido parque industrial cubano.
Somente para retomar a produção de 8 milhões de toneladas de açúcar, seria preciso reconstruir um parque industrial capaz de processar 60 milhões de toneladas de cana - ou seja, implantar uma estrutura com tamanho equivalente ao da brasileira Cosan, líder global do setor. Só o investimento industrial é estimado em R$ 12 bilhões - considerando um custo médio de R$ 200 por tonelada de processamento implantada.
Luiz Custódio Martins, que dirigiu por três anos o hoje extinto Geplacea (Grupo Executivo dos Países Latino-Americanos e do Caribe Exportadores de Açúcar), diz que os empresários no Brasil estão com um olho na forma como o governo cubano vai liberar a entrada de capital estrangeiro no ramo, incluindo açúcar, etanol e energia, e outro no fim do embargo de Washington ao país caribenho.
Custódio, que preside o Siamig, entidade que reúne os usineiros de Minas Gerais, reconhece o potencial agrícola, científico e logístico de Cuba, e sustenta que são armas importantes para atrair investimentos. "Mas o embargo americano terá de acabar. Além disso, em três anos os EUA terão que importar etanol de segunda geração. E o de cana não tem hoje concorrentes nessa categoria". Em 2009, Custódio fez sua 34ª viagem a Cuba, mas em decorrência de outras parcerias.
Além de ressuscitar sua indústria açucareira, o governo cubano sinaliza que quer, sim, diversificar o uso da cana-de-açúcar nos moldes brasileiros, com produção de etanol e cogeração de energia a partir do bagaço. A eletricidade que serve à população cubana é gerada a partir de fontes fósseis, e também são fósseis os combustíveis dos veículos.
Foi de olho neste potencial que a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) iniciou um estudo de mercado para implantar um projeto de cogeração em Cuba. A empresa não forneceu mais detalhes sobre a iniciativa, por estar ainda em fase incipiente, mas confirmou a existência do estudo, segundo informou sua assessoria.
À disposição de interessados brasileiros está, desde 2008, uma linha de crédito de US$ 600 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para investimentos em Cuba, dividida em quatro tranches de R$ 150 milhões. Foram recursos usados em exportações brasileiras de colheitadeiras e caminhões para a cultura da cana e de arroz, além de algumas operações no setor de fármacos.
Os recursos de 2010 e 2011 serão integralmente usados nas obras do porto de Mariel, a cargo da Odebrecht. "As relações entre os governos de Brasil e Cuba são favoráveis a essa parceria e os bancos estatais têm linhas de exportação de bens e serviços que podem viabilizar esses investimentos no futuro", afirma Custódio. É esperar para ver. (Fonte: Valor Econômico)
Cuba deve abrir parte de seu setor de açúcar
Cuba já foi sinônimo de açúcar. Nos anos 60 e 70, o então ditador Fidel Castro fazia campanhas para o aumento da produção em prol da revolução. Mas a situação mudou e a ilha caribenha está agora buscando investimentos para reviver o setor.
O Ministério do Açúcar de Cuba será fechado nos próximos meses e substituído por uma corporação estatal, na mais importante reorganização da outrora próspera indústria açucareira do país, desde que ela encolheu drasticamente de tamanho na última década. Segundo fontes do setor, os planos de criação da nova corporação açucareira e revitalização do setor permitirão, entre outras coisas, os investimentos estrangeiros e o fechamento de usinas de açúcar ineficientes. Esses planos devem ser aprovados em breve pelo presidente Raúl Castro. Essas fontes conhecem bem o setor e pediram para não ser identificadas.
O fim iminente do ministério parece ser o último capítulo do declínio dramático da indústria açucareira de Cuba, onde o açúcar já reinou, mas hoje responde por menos de 5% da receita cambial.
A mais nova iniciativa é parecida a outras reformas agrícolas feitas por Castro, que substituiu o irmão mais velho, Fidel, em 2008, e está tentando aumentar a produção de alimentos afrouxando o controle do governo comunista sobre a agricultura.
A queda de Cuba da posição de maior exportador de açúcar do mundo, cuja produção já atingiu 8 milhões de toneladas de açúcar cristalizado anuais, começou com o colapso da União Soviética em 1991. Desde então, o setor declinou incessantemente e a produção da atual safra deverá ficar em apenas 1,2 milhão de toneladas.
Mas, com a reorganização que se aproxima, "no médio prazo eles esperam aumentar a produção para 2,8 milhões de toneladas usando um número menor de usinas", disse uma fonte cubana com grande conhecimento do setor açucareiro. "O rendimento por hectare está atualmente em cerca de 3 toneladas e o objetivo é elevar isso para pelo menos 6 toneladas", acrescentou a fonte. O padrão internacional é de 8 toneladas por hectare.
Cuba consome atualmente um mínimo de 700 mil toneladas de açúcar por ano.
Corporações parecidas com a que está sendo planejada para cuidar da produção açucareira já operam com sócios estrangeiros na produção de níquel (Cubaniquel), e petróleo e gás (Cubapetroleo), sob o Ministério da Indústria de Base.
Ainda não está claro se a nova companhia do setor açucareiro ficará subordinada ao Ministério da Agricultura ou a alguma outra autoridade governamental.
"A nova estrutura dará àqueles responsáveis pela tomada de decisões no setor mais autonomia e permitirá a eles manter um porcentual das receitas para reinvestimentos", informou um economista cubano, pedindo, assim como as demais fontes, para não ter seu nome revelado.
Os Estados Unidos, antes da revolução cubana de 1959, e a União Soviética, posteriormente, pagaram preços inflados pelo açúcar cubano para estimular a economia da ilha, de modo que o colapso do bloco soviético atingiu duramente Cuba e sua indústria açucareira.
Hoje, as exportações de serviços técnicos são as maiores geradoras de receitas cambiais para Cuba, seguidas de outros serviços como aviação, turismo e comunicações, níquel, produtos refinados de petróleo, produtos farmacêuticos, charutos e só depois o açúcar.
Em 2002, num encolhimento dramático daquele que já foi o principal setor da ilha, Cuba fechou e desmanchou 71 de suas 156 usinas de açúcar - todas as 71 construídas antes da revolução. Em seguida, transferiu 60% das terras usadas no cultivo da cana para outros usos.
Mais de 200 mil dos 400 mil trabalhadores do setor foram transferidos para outros empregos e muitas cidades rurais que dependiam do açúcar ficaram estagnadas, com suas fábricas fechadas marcando o horizonte. Mais usinas fecharam desde então e, na atual safra, apenas 44 estão operando. Outras 20 vêm sendo mantidas em condições de funcionamento para uso futuro.
Apenas 700 mil hectares de um total de mais de 2 milhões de hectares antes controlados pelo Ministério do Açúcar de Cuba são hoje dedicados ao plantio da cana.
Sob Raúl Castro, antigas plantações de cana já foram transferidas para o Ministério da Agricultura e um grande sistema ferroviário para o transporte da cana das plantações para as usinas, e das usinas para os portos, foi transferido para o Ministério dos Transportes. (Com informações Valor Econômico)
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