segunda-feira, maio 10, 2010

Agronegócio e a eleição para presidente

A campanha para presidente está em pleno vapor e achei dois textos que podem ajudar a reflexâo para esta importante decisão a ser tomada por todos nós em outubro. O primeiro texto é da Agência Estado e o segundo da Revista Época que encontrei no site da UNICA:

Agronegócio se divide entre Serra e Dilma
Presidenciáveis tentam mostrar intimidade com o setor de olho no eleitorado que responde por um quarto do Produto Interno Bruto
Márcia De Chiara - O Estado de S.Paulo

Os dois principais pré-candidatos à Presidência, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), cumpriram nos últimos dias uma intensa agenda no mundo do agronegócio. Procuraram mostrar intimidade com o setor e apresentar propostas capazes de atender às demandas dos produtores. Essa não é, porém, uma tarefa fácil para os dois - nem para qualquer outro candidato.

Ao contrário do que parece à primeira vista, existem expectativas bem distintas neste setor, que responde por cerca de um quarto do Produto Interno Bruto e garante, há alguns anos, que a balança comercial feche no azul. A insegurança jurídica no campo, que envolve questões relacionadas a leis ambientais e trabalhistas e até mesmo a propriedade da terra, é um tema muito presente nos encontros com agricultores e pecuaristas das regiões Sudeste e Sul do País.

No meio dos produtores do Centro-Oeste e das regiões de fronteira agrícola, ao Norte do País, porém, o foco principal das conversas continua sendo a falta de logística, que encarece custos e reduz a competitividade brasileira no exterior.

Isso faz com que o tucano e a petista, que visitaram há pouco as principais feiras agropecuárias do País, a Agrishow em Ribeirão Preto (SP) e a Expozebu em Uberaba (MG), sejam avaliados de maneira distinta, de acordo com a região do País. Em São Paulo, o produtor de café e pecuarista Luiz Hafers, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, considerou positiva a atuação de Serra em relação ao agronegócio, durante o governo estadual, por três razões, listadas por ele nessa ordem: "Cumpriu com rigor a lei no caso de invasões de terras, fez estradas vicinais e se declara contrário à política de valorização do real que afeta a competitividade do agronegócio exportador."

Receptividade. Já nas áreas de fronteira agrícola do Centro-Oeste, onde os produtores enfrentam problemas maiores de infraestrutura e o endividamento é alto, verifica-se maior receptividade à política atual do governo federal. Quem capitaliza isso é a candidata indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi ministra de Minas e Energia e é apresentada como a mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

"Dilma entende de logística", afirma Eraí Maggi Scheffer, de Rondonópolis (MT), um dos maiores produtores de grãos do País. Na opinião de agricultores da região, boa parte das obras de infraestrutura que começaram a andar no Centro-Oeste têm a mão da pré candidata.

No Sul e Sudeste, regiões mais bem servidas em termos de infraestrutura e com menores custos de logística, ouve-se com maior frequência comentários de preocupação em relação ao passado da ex-ministra, quando era ligada à esquerda radical. "Dilma preocupa mais, embora o atual governo tenha ajudado a agricultura familiar", afirma o produtor Ricardo Ghirghi, que cultiva 1,6 mil hectares no interior de São Paulo e 1 mil hectares com soja no Piauí.

A preocupação do produtor diz respeito às invasões do MST e à questão ambiental. Na opinião de Hafers, ambientalistas que são mais contrários ao capitalismo do que a favor do meio ambiente encontram maior receptividade na pré candidata.

Peregrinação. Isso explica o fato de Dilma estar realizando, desde antes de ser oficialmente apresentada como pré-candidata, verdadeira peregrinação pelas regiões onde a agricultura e pecuária estão consolidadas. Em junho do ano passado, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou em Londrina, região tradicional de grãos do norte do Paraná, o plano de safra 2009/2010, a melhor parte do pacote, que era o aumento no volume de crédito, não foi anunciada nem pelo presidente Lula nem pelo ministro da Agricultura Reinhold Stephanes.

Foi a então ministra chefe da Casa Civil que deu a boa nova. Ela anunciou aumento de 37% no crédito (R$ 107,5 bilhões) destinado à agricultura empresarial e familiar.

Rogério Baggio, que tem 5 mil hectares em Paranavaí (PR) ocupados com soja, milho, laranja, pecuária e cana-de-açúcar, diz que cada pré candidato tem de mostrar seu plano. Para ele, o mais importante é a redução de tributos: "Quero saber qual imposto eles vão diminuir."

O presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Sawaya Jank, observa que, nos últimos 20 anos, houve uma mudança radical nas principais reivindicações do agronegócio. "Antes tudo se resumia a crédito, preço mínimo e política de intervenção do governo", lembra. Hoje, o maior problema seria a insegurança jurídica, segundo a análise de Jank.

Uma das principais preocupações do setor envolve o Código Florestal - especialmente a questão das reservas florestais que devem ser obrigatoriamente mantidas nas propriedades, sob pena de multas aplicadas diariamente. Elaborada na década de 30, a lei determina que os agricultores devem recompor a vegetação nativa em 20% da área de cada propriedade agrícola.

"A interpretação retroativa que vem sendo dada à reserva legal tem o potencial de comprometer 3,7 milhões de hectares de terras férteis cultivadas há mais de um século no território paulista, representando perdas de receita de R$ 5,6 bilhões ao ano e aumentos exponenciais nos custos de produção e no preço da terra", diz Jank.

Segundo o presidente da Unica, Serra tem dito que vai resolver esse problema em seis meses e Dilma ainda não se posicionou sobre a questão.

O agropetismo
Dilma tenta colher os frutos da aproximação do governo Lula com o agronegócio e provoca reação de Serra
Alberto Bombig

Acostumados a ganhar o voto dos representantes do agronegócio brasileiro quase por inércia, o PSDB e seu principal aliado, o DEM, iniciaram a disputa eleitoral deste ano com uma preocupação diferente. Resolveram dar prioridade aos contatos com o setor que emprega cerca de 26 milhões de pessoas e responde por aproximadamente 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O candidato da oposição à Presidência, José Serra, nasceu no bairro operário da Mooca, em São Paulo, e sua intimidade com o setor pode ser aferida por uma brincadeira contada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “O Serra viu pela primeira vez uma vaca na vida aos 50 anos de idade”, diz FHC, em tom de piada. Mesmo com essas credenciais, Serra, em apenas um mês de campanha, já visitou duas importantes feiras agrícolas e se encontrou com grandes produtores de café, carne, grãos, frutas e cana-de-açúcar.

TERRA ARADA

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, durante visita à feira agrícola. Ela não perde uma chance de falar contra as invasões de terraPara entender o motivo desse “privilégio” dado pelo PSDB ao agronegócio até agora, basta conferir a agenda da principal adversária do partido, a ex-ministra Dilma Rousseff, a candidata do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma praticamente fez os mesmos movimentos do tucano em direção aos empresários do setor e visitou as mesmas feiras que ele, a Agrishow, em Ribeirão Preto, São Paulo, e a ExpoZebu, em Uberaba, Minas Gerais, com uma diferença de poucas horas em relação ao concorrente.

Até 2002, o PT e seus candidatos encontravam dificuldades para transitar nos círculos dos grandes produtores rurais brasileiros, tradicionalmente ativos na doação de recursos financeiros aos candidatos, mas hostis aos petistas por causa de laços históricos de facções do partido com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). O governo Lula, iniciado em janeiro de 2003, começou a melhorar essa relação. Apesar disso, na eleição presidencial de 2006, Lula foi derrotado pelo tucano Geraldo Alckmin em Estados onde o setor agrícola é forte: São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

De lá para cá, o número de interlocutores do PT no agronegócio cresceu e as condições no campo se mostram mais favoráveis a Dilma neste ano do que as enfrentadas por Lula nas duas eleições presidenciais anteriores. A aproximação veio a reboque dos bons resultados da produção brasileira. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projeta para este ano uma safra recorde de cereais, leguminosas e oleaginosas de 146,5 milhões de toneladas – 0,4% maior que o recorde anterior em 2008. O diálogo melhorou também por causa da mediação do ex-governador de Mato Grosso Blairo Maggi (PR), hoje um dos coordenadores da campanha de Dilma na Região Centro-Oeste. Na disputa presidencial de 2002, Maggi ficou em cima do muro na disputa entre Lula e Serra no segundo turno. Na de 2006, Maggi só aderiu a Lula na disputa contra Alckmin no segundo turno.

Por enquanto, as principais entidades de produtores rurais evitam declarações de apoio porque negociam entre elas uma plataforma comum de reivindicações a ser apresentada aos candidatos. No entanto, mesmo integrantes da campanha de Serra reconhecem que há segmentos, como o dos usineiros de álcool e açúcar, que são mais simpáticos a Dilma que ao tucano. Lula, com sua defesa incansável do álcool como combustível, abriu as portas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os usineiros e se tornou uma espécie de garoto-propaganda desse grupo. “Não declaro voto em ninguém, mas nunca tive preconceito com o PT porque conhecia Lula, e ele foi ótimo para o setor”, diz o usineiro paulista Maurílio Biagi Filho, do Grupo Maubisa.

Serra, em contrapartida, enfrenta resistências entre os usineiros. À frente do governo de São Paulo (de 2007 até março deste ano), o tucano manteve uma carga de impostos baixa para o setor (a menor do país), mas apertou o cerco contra a sonegação e a elisão fiscal. Isso gerou descontentamentos. A visita de Serra à Agrishow, uma feira de máquinas agrícolas em Ribeirão Preto, coração de uma das mais importantes regiões sucroalcooleiras do país, foi um importante gesto do tucano para se reaproximar dos usineiros. Na tentativa de manter a dianteira entre os empresários do agronegócio, Serra conta com o auxílio dos ex-ministros da Agricultura Pratini de Moraes e Francisco Turra e dos secretários de Meio Ambiente, Xico Graziano, e de Agricultura de São Paulo, João Sampaio Filho. Eles foram encarregados de elaborar o programa de governo de Serra para o setor. “A agricultura tem sido o sustentáculo econômico do país desde 1994”, diz Sampaio Filho. Do lado do DEM, Serra conta também com o apoio da senadora Kátia Abreu (TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura, que sonha com a possibilidade remota de virar a candidata a vice-presidente da chapa de oposição ao atual governo.

COLHEITA FARTA

O usineiro paulista Maurílio Biagi Filho. O setor sucroalcooleiro não poupa elogios para o governo LulaPara angariar votos no meio ruralista, outra arma dos tucanos é a exploração da desconfiança que alguns segmentos veem em Dilma. “Ninguém pode se esquecer de que Dilma não é o Lula”, diz o deputado federal Duarte Nogueira (PSDB), cuja base eleitoral é Ribeirão Preto. Contra esse tipo de ataque, Dilma conta com o aval da companhia do deputado federal e ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. Ex-prefeito de Ribeirão Preto, Palocci tem bom trânsito com os empresários do agronegócio e esteve ao lado de Dilma durante a visita da candidata à Agrishow. Para afastar temores, Dilma também não perde uma oportunidade para dizer que é contra as invasões de terra. Questionada sobre o tema, afirma, mesmo sem citar o MST, que a “ilegalidade não pode ser premiada” e que “governo é governo, movimento social é movimento social”.

Nos Estados Unidos, onde a produção industrial e os serviços respondem pela maior parte das riquezas geradas pelo país, os candidatos à Presidência se desdobram para não criar problemas com o agronegócio, setor tradicionalmente protegido por pesados subsídios governamentais. Na Europa, onde praticamente não há terra disponível, o mesmo tipo de preocupação é mantido pelos governos na relação com os produtores. No Brasil, mesmo respondendo por um quarto do PIB nacional, o agronegócio sofre com a insegurança no campo, o aparelhamento político de órgãos públicos, a falta de planejamento e a infraestrutura precária. Segundo o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), o engenheiro agrônomo Marcos Jank, outro problema é a “confrontação absurda entre agricultura e meio ambiente”. “O Brasil precisa preservar suas florestas, mas sem atrapalhar a agricultura”, diz Jank. Os desejos dos produtores rurais, em resumo, se confundem com os da maioria dos brasileiros. Que a atenção dos candidatos dispensada a eles agora na campanha não acabe depois de abertas as urnas.

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