terça-feira, abril 29, 2008

Café robusta ou arábica: qual é o melhor?

Interessante a nota publicada no blog Mundo Agro da Exame escrito por Fabiane Stefano sobre as duas variedades de café:

O paradoxo do café

O café tipo robusta sempre foi tratado como de segunda linha. Para muita gente, o grão de qualidade é o da variedade arábica, que produz as melhores bebidas gourmets do país. Mas quem tem investido na versão robusta, usada na produção de café instantâneo e como complemento em misturas de torrado e moído, não tem do que reclamar. Um estudo do Rabobank mostra que o faturamento de robusta passou de 2 mil dólares o hectare para mais de 5 mil dólares nos últimos três anos. No mesmo período, o tradicional arábica se manteve estável em 1 mil dólares o hectare - e mais recentemente ficou abaixo desse patamar. Historicamente, o tipo robusta era negociado pela metade do valor do arábica.

O boom de robusta é resultado de um aumento no consumo de café no mercado interno e de novas tecnologias na produção do torrado, que conseguiram eliminar características indesejáveis no sabor da bebida. Isso fez com que a quase insignificante produção de robusta na década de 70 passasse a 25% do total de café cultivado no país - sendo que boa parte dos produtores está concentrada no estado do Espírito Santo. Paradoxalmente, o atual sucesso da variedade deve incrementar as vendas de seu maior concorrente no futuro, a versão arábica. Isso porque o consumo de robusta é uma espécie de estágio inicial para os novos consumidores e abre caminho para experimentar os grãos de maior qualidade. Ou seja, quem começa com uma xicrinha de instantâneo hoje pode bebericar um café especial no futuro.

Alguns comentário sobre o mercado do açúcar

Para os menos acostumados, resolvi hoje colocar a análise publicada semanalmente pela Archer Consulting sobre o mercado de açúcar, onde o Arnaldo Corrêa comenta sobre a atuação dos fundos neste mercado:

Os Fundos na berlinda

Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado de açúcar fechou a semana com queda de mais de 100 pontos no maio e no julho. A demanda de açúcar no mercado internacional, como já dito aqui nas últimas semanas, inexiste. A grande expectativa é de quantos lotes serão entregues fisicamente na quarta-feira. A pergunta que um corretor de NY fez é "por que ninguém quer receber açúcar em Maio, mesmo com um desconto de 7% em relação a Julho?". O spread chegou a ser negociado a 89 pontos, ou quase 20 dólares por tonelada. A questão é que muitas empresas hoje trabalham da mão para a boca, usando o jargão do mercado, ou seja, se cobrem em cima da hora, mesmo correndo o risco de haver alguma ruptura na equação da oferta e demanda que possa elevar os preços exponencialmente. E aí entra a analise fundamentalista que não consegue ver o que pode motivar essa situação no açúcar hoje. Quem recebe físico tem dois riscos, o de mercado e o de base. É por isso que ninguém quer açúcar mesmo com desconto de 7%. Porque não sabe para onde pode ir o desconto no físico, vulgo risco de base.

Na Europa não se fala noutra coisa a não ser na conversa fiada para boi dormir de que a produção de bio-combustiveis está causando um aumento generalizado nos preços dos alimentos. Sem contar da total falta de conhecimento nos editoriais dos jornais que acham que a Amazônia vai virar um imenso canavial.

Uma vez mais temos que comentar o recente desastre de operações em derivativos que levou uma empresa brasileira de sementes a perder, segundo estimativas do mercado, a quantia inacreditável de US$ 300 milhões. Segundo informação de alguns traders de grãos, a operação consistia em venda de volatilidade através de straddles, ou seja, a empresa vendia opções de compra e opções de venda no mesmo preço de exercício e vencimento, apostando que a volatilidade iria cair e que os preços se manteriam nos níveis que estavam no momento da operação. Com o aumento da volatilidade e trajetória de preços, houve aumento de chamada de margem. Uma espécie de operação Barings tupiniquim.

Existe uma gritaria geral nos Estados Unidos sobre a falta de comprometimento por parte do CFTC (espécie de CVM das commodities) de regulamentar a atividade dos fundos de índice e dos especuladores que, segundo produtores e traders, estão levando o mercado a agir irracionalmente, desestimulando o hedge da produção em função do temor de irracionais chamadas de margem que comprometam o seu fluxo de caixa, além de impossibilitá-las de gerir o risco de maneira adequada. Veja o caso do açúcar, por exemplo, a demanda física do produto está pela hora da morte, no entanto, os especuladores detêm uma posição comprada de 150.000 lotes (7,5 milhões de toneladas). É muito dinheiro que vai para os fundos devido ao melhor retorno - comparado à inflação - nas aplicações em commodities, se comparado com o mercado acionário e de títulos.

Sou contra interferências diretas na posição dos fundos porque, afinal, são os especuladores que dão liquidez ao mercado. A regulamentação e controle deveriam no máximo se limitar ao aumento do depósito original, ou ainda, a limitação de financiamento de margem diária que acaba gerando uma alavancagem perigosa. Outra proposta, de gente que participou da reunião do CFTC sobre o tema, é de considerar como hedger apenas aqueles que compram o vendem a commodity no mercado físico. Todos os demais seriam tratados como especuladores. A questão é simples: estamos numa mudança de paradigma. É um mercado diferente em função de varias circunstâncias entre elas - e talvez a mais importante - a anêmica quase-esquelética condição da moeda americana. Consumidores devem aproveitar as baixas violentas e começar a formar seus estoques ou pelo menos estender a fixação ou proteção para o máximo período que puderem.

sexta-feira, abril 25, 2008

Mais comentários sobre a aginflação e o debate alimento vs combustível

O professor Antônio Márcio Buainain, pessoa que tive sorte de ter aulas de Economia Agrícola em 1989 na UNICAMP, escreveu um artigo interessante sobre o tema aginflação e os biocombustíveis que foi publicado no Estadão de 22 de abril.

AGINFLAÇÃO E BIOCOMBUSTÍVEL
Antônio Márcio Buainain

Nesta temporada de final de campeonatos estaduais vem à mente aquela imagem da bola roubada quando o gol já estava praticamente feito para caracterizar a polêmica global sobre inflação de alimentos, que coloca o biocombustível - visto até então como uma virtuosa contribuição para reduzir o aquecimento global e como alternativa para a escassez do petróleo - no papel de vilão. As declarações de personalidades mundiais (“o biocombustível é crime contra a humanidade”, Jean Ziegler, consultor da ONU; “é problema moral”, Strauss-Khan, diretor-geral do FMI) indicam o potencial explosivo do debate, cujos efeitos sobre o futuro deste promissor segmento não podem ser negligenciados.

É possível contra-atacar afirmando que “problema moral” é manter o “bolsa-vaca”, que distribui em média US$ 3,50 por dia às vacas européias, enquanto 75% da população africana vive com menos de US$ 2 por dia, e que “crime contra a humanidade” é praticar políticas protecionistas que impedem o desenvolvimento dos países mais pobres, ou destinar bilhões de dólares a guerras com pretextos mentirosos. Ainda que válidos, é provável que esses argumentos encontrem ouvidos de mercador pelo mundo afora e não sejam suficientes para evitar os efeitos negativos imediatos sobre o negócio do biocombustível.

Os fatos são relativamente claros. Os preços das commodities já se vinham elevando desde 2002, em resposta, antes de tudo, à elevação da demanda associada às mudanças estruturais na geografia comercial, à conjuntura favorável da economia mundial e ao crescimento da renda nos países em desenvolvimento. Outros fatores, como a elevação do preço do petróleo - insumo básico para a cadeia da produção e comercialização de alimentos - e a instabilidade financeira, também contribuíram. Só a partir de em 2006, e de forma mais forte em 2007, a demanda de grãos para a produção de biocombustível nos EUA e na Europa entra para reforçar a tendência de alta.

Tradicionalmente a oferta agrícola responde quase de imediato aos estímulos de mercado. A evolução recente da oferta mundial não acompanhou o ritmo da demanda, devido, entre outras razões, à incerteza que caracteriza o mercado agrícola mundial, sujeito a forte protecionismo e suscetível à influência das políticas americana e européia. Uma simples decisão da política agrícola dos EUA ou da União Européia pode mudar radicalmente o mercado, a favor ou contra, como comprova a decisão de produzir biocombustível de grãos. A agricultura moderna exige investimentos relevantes dos produtores e dos países. Como investir sem garantias de acesso aos mercados, sem recursos fiscais e sem financiamento internacional? O economista brasileiro Otaviano Canuto, vice-presidente executivo do BID, já tinha chamado a atenção para a seriedade da agflation e da assimetria dos impactos sobre a balança comercial, inflação doméstica e pobreza dos países da América Latina e do mundo (Global agflation, energy security and bio-fuels, in www.rgemonitor.com).

Também é fato claro que o vínculo entre aginflação e biocombustível se deve à decisão americana de produzir etanol a partir de grãos, e que pouco ou nada tem que ver com a produção brasileira à base de cana-de-açúcar. Ao contrário do que ocorre no EUA, a produção do etanol no Brasil vem crescendo juntamente com a de grãos e alimentos em geral. O dinamismo do agronegócio brasileiro contribuiu para conter a elevação de preços, que teria sido maior sem soja, carne, milho, açúcar, algodão e frutas brasileiros.

Os fatos precisam ser analisados e discutidos exaustivamente. Mas não é suficiente. Aqui estamos diante da “dimensão político-cultural dos mercados”, cuja importância o sociólogo Ricardo Abramovay, professor da USP, ressalta ao analisar o papel da ciência e das inovações tecnológicas (Bem-vindo ao mundo da polêmica, jornal Valor, 1º/11/2007). A racionalidade econômica e verdades científicas precisam ser sancionadas pela sociedade para se afirmarem como inovações e romperem paradigmas. E para isso uma comunicação adequada - não confundir com propaganda - é muito importante. O estrago está feito. Basta ver a imprensa européia ou a opinião cética ou contrária do cidadão nas principais capitais do mundo. Sem presunção, será preciso reconquistar corações e mentes para o biocombustível e para isso não podemos fechar os olhos para a questão alimentar. Nossa melhor resposta terá de vir do dinamismo do nosso agronegócio (Antônio Márcio Buainain é professor do Instituto de Economia da Unicamp. E-mail: buainain@eco.unicamp.br)

BP - Integração para trás

No mesmo dia que a COSAN anunciou a compra da Esso no Brasil, a BP Biofuels anunciou a criação de joint-venture com a SantaElisa Vale e Maeda para a construção de duas usinas de etanol em Goiás. Abaixo segue nota publicada no Portal Exame:

BP anuncia investimento em etanol no Brasil

Empresa britânica, Santelisa e Grupo Maeda planejam investir R$ 1,66 bi na construção de duas usinas de etanol

A British Petroleum (BP), uma das maiores empresas de energia do mundo, anunciou nesta quinta-feira que vai investir em biocombustíveis no Brasil. A companhia planeja comprar 50% da Tropical Bio Energia S/A, uma joint-venture entre a usina Santelisa Vale e o Grupo Maeda, que investe em agronegócio e é um dos maiores produtores de algodão do mundo. A Tropical vai construir uma usina com capacidade para produzir 435 milhões de litros de etanol por ano em Edéia (GO).

Com o fechamento do negócio, que deve acontecer até junho, o capital da Tropical será dividido entre BP (50%), Santelisa (25%) e Maeda (25%). Juntas as empresas planejam também construir uma segunda usina de etanol no Brasil. As duas unidades vão exigir um investimento total de 1,66 bilhões de reais. A BP vai pagar 100 milhões de reais pela participação de 50% na Tropical e arcará também com a metade dos investimentos que serão realizados pela empresa.

“Este investimento é o maior já feito por uma empresa internacional de petróleo na indústria brasileira de etanol e representa um passo significativo na estratégia da BP que acredita em matérias-primas sustentáveis que não impactem o fornecimento de alimentos e ainda possibilitem pesquisas e desenvolvimento para obter biocombustíveis cada vez mais avançados”, comenta o presidente da BP Biofuels, Phil New.

A joint-venture estará focada na plantação de cana-de-açúcar e na produção e venda de etanol convencional e incluirá os ativos agrícolas e plantas de co-geração de energia a partir do bagaço. As operações na primeira indústria deverão começar no segundo semestre de 2008, atingindo sua capacidade total em meados de 2010. A empresa poderá suprir a demanda do mercado brasileiro e exportar para EUA, Europa e Ásia.

Além de desenvolver biocombustíveis sustentáveis, as unidades produtivas poderão vender eletricidade excedente. Cada refinaria poderá exportar pelo menos 30 MW de energia das unidades integradas de co-geração a partir do bagaço de cana. As unidades oferecerão uma plataforma para a implantação de tecnologias que estão em desenvolvimento, tais como lignocelulose e biobutanol.

Cosan - Integração para frente

A COSAN adquiriu as operações do ESSO no Brasil. Será o início do processo de integração para a frente do setor? Somente o tempo nos dirá que rumo o setor vai tomar.

Na sequência encontra-se o comunicado oficial da empresa sobre a aquisição:

COSAN S.A. ADQUIRE ATIVOS DA ESSO NO BRASIL

Operação inclui negócios de distribuição e comercialização de combustíveis e de produção e comercialização de lubrificantes e especialidades da ExxonMobil no Brasil.

A COSAN S.A. (Bovespa: CSAN3), (“Cosan”), celebrou ontem Contrato de Compra e Venda de Ações (“Contrato”) com a ExxonMobil International Holdings B.V. para a aquisição de 100% do capital social da Esso Brasileira de Petróleo Ltda.

O valor da aquisição totaliza US$ 826 milhões, além da assunção de US$ 163 milhões em endividamento financeiro líquido e US$ 35 milhões em créditos líquidos com partes relacionadas existentes ao final de 2007. Face a posição de liquidez da Cosan, a transação não está condicionada a obtenção de financiamentos. A Cosan, entretanto, buscará custear a aquisição de forma a otimizar sua estrutura de capital. Sendo assim, a Cosan pretende utilizar os US$ 310 milhões em recursos adicionais oriundos da participação de acionistas minoritários no aumento de capital por subscrição privada concluída em janeiro de 2008, e possivelmente financiar o restante. Dessa maneira, os recursos provenientes da abertura de capital da Cosan Limited serão preservados para o desenvolvimento das atividades de etanol, açúcar e co-geração de energia.

PERÍODO DE TRANSIÇÃO

Haverá um período intermediário de forma a assegurar a continuidade do negócio e uma transição gradual da operação, incluindo-se a migração dos serviços compartilhados fornecidos pela ExxonMobil a partir de outros países e da plataforma de tecnologia de informação para um ambiente exclusivo e segregado na operação do Brasil. Neste período de transição a Cosan iniciará sua estratégia de integração de forma a otimizar a configuração da cadeia de negócios. Esse período também permitirá à Cosan escolher o melhor momento para acessar os mercados de capitais nacionais e internacionais de forma a otimizar sua estrutura de capital e proteger o interesse de seus acionistas.

DESCRIÇÃO DOS ATIVOS DE DISTRIBUIÇÃO

1) Comercialização de Combustíveis: as operações contemplam as atividades de distribuição de combustíveis da Esso no mercado de varejo e no atacado, bem como o fornecimento de combustível às companhias de aviação.

• Mercado de Varejo. Em 31 de dezembro de 2007 havia mais de 1.500 postos de serviços operando sob a marca Esso em 20 estados brasileiros. Trata-se do 5º maior varejista de combustíveis do Brasil no segmento de postos de serviços, detendo aproximadamente 7,2% de participação no mercado total de distribuição de combustíveis dentre os integrantes do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (“Sindicom”). A localização da rede de postos Esso, concentrada nas principais cidades do país, com forte presença nas regiões Sul e Sudeste, resulta em uma participação de mercado ainda mais expressiva na distribuição de gasolina e etanol, de 9,7% e 9,0% respectivamente, dentre os integrantes do Sindicom, de acordo com dados de 2007. As atividades de abastecimento e distribuição de combustíveis são desenvolvidas a partir de 21 terminais, dos quais 4 são 100% controlados e operados pela Esso, enquanto 17 são joint-ventures com outras distribuidoras. Em 2007, as joint ventures e os terminais próprios foram responsáveis por 58% e 18% do volume total de combustível distribuído, respectivamente. Adicionalmente, a estrutura de abastecimento e distribuição da Esso é complementada por 21 terminais de terceiros, os quais foram responsáveis por 24% do volume total de combustível distribuído no mesmo período. A Cosan firmou contrato de longo prazo relativo ao direito de uso da marca Esso, a mais antiga e tradicional marca de combustíveis no Brasil.

• Mercado de Atacado e Clientes Industriais. A distribuição neste mercado contempla o fornecimento a (i) varejistas independentes; (ii) usinas de etanol e açúcar, (iii) revendedores e (iv) companhias transportadoras, entre outras. Esta atividade é complementar à distribuição no mercado de varejo, adicionando escala e proporcionando alto retorno sobre o capital empregado.

• Mercado de Aviação. A venda de combustíveis para companhias de aviação é realizada pela Esso em 7 dos principais aeroportos do Brasil (Guarulhos, Galeão, Campinas, Brasília, Pampulha, Recife e Curitiba), e equivale a aproximadamente 12,0% de participação no mercado em 2007 segundo dados do Sindicom.

2) Lubrificantes. Os ativos adquiridos incluem uma planta industrial localizada no Rio de Janeiro e uma participação majoritária no terminal de Duque de Caxias. A ExxonMobil é líder mundial no segmento de lubrificantes, e detém 12,0% de participação do mercado global através de suas marcas, com destaque para a Mobil 1. A Cosan também firmou contrato de longo prazo relativo ao direito de revender o Mobil 1 e de utilizar outras marcas de lubrificantes da Esso e da Mobil no Brasil, bem como de suas fórmulas. A ExxonMobil alcançou participação de 11,0% no mercado brasileiro de lubrificantes em 2007 segundo dados do Sindicom.

RACIONAL DA AQUISIÇÃO

1) Motivações Estratégicas

• Consolidação do Setor de Distribuição. O setor de distribuição de combustíveis no Brasil encontra-se em forte processo de consolidação, sendo os 5 maiores players responsáveis por aproximadamente 76% do volume total comercializado, conforme dados do Sindicom para 2007. A própria fragmentação do mercado produtor de etanol, o reduzido número de grandes distribuidores que compram etanol e o acesso ao consumidor final através da rede de postos Esso são elementos chaves que tornam a presente aquisição estratégica para a Cosan;

• Diversificação e Integração do Negócio. A aquisição garantirá à Cosan uma posição de liderança nos crescentes mercados de etanol e de distribuição de combustíveis no Brasil, permitindo à empresa aumentar o seu portfolio com produtos compatíveis com seus ativos produtivos e logísticos; e

• Assegurar Canal de Distribuição para o Etanol. O volume comercializado de etanol começa a superar o volume de gasolina no Brasil. Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (“ANP”) no mês de fevereiro de 2008 foram consumidos o equivalente a 1.409 milhões de metros cúbicos de gasolina e 1.434 milhões de metros cúbicos de etanol se considerados os volumes tanto de etanol hidratado quanto de etanol anidro adicionado à gasolina. Durante o período de 2003 a 2007, o consumo de etanol hidratado alcançou o crescimento anual de 29,1% contra apenas 2,7% da gasolina. Posicionar a Cosan de forma relevante no setor de distribuição de combustíveis é um passo importante na consolidação do etanol como o principal combustível do mercado brasileiro, e a possibilidade de uma leitura mais rápida e precisa do mercado passa a ser cada vez mais estratégica.

2) Momento Positivo do Setor de Distribuição de Combustíveis no Brasil

• Evolução do Ambiente Regulatório. As diversas medidas tomadas pelos agentes reguladores têm contribuído de forma significativa na inibição de práticas pouco ortodoxas, como a comercialização de combustíveis adulterados e a evasão fiscal. Dentre elas, destacam-se (i) a Resolução nº 36, publicada pela ANP em 2005, a qual define especificações de pigmentação do etanol, (ii) as Resoluções nº 5 e 6 publicadas pela ANP em 2006, estabelecendo padrões mínimos de qualidade para a gasolina e o etanol, (iii) o lançamento do Programa Nacional do Monitoramento de Qualidade de Combustíveis pela ANP em 2006, e (iv) a Resolução nº 7 publicada pela ANP em 2007 obrigando os distribuidores a comercializar combustível apenas com agentes credenciados pela ANP e determinando que postos com bandeira adquiram combustível somente de distribuidores da mesma bandeira. O resultado tem sido um aumento de participação dos distribuidores vinculados ao Sindicom no volume de combustíveis comercializado, que subiu de 82,1% em 2006 para 83,6% em 2007, com destaque para o etanol, que apresentou forte elevação de 46,0% para 58,0% no mesmo período; e

• Crescimento na Venda de Automóveis. A expansão da economia brasileira tem promovido a venda de automóveis a níveis recordes nos últimos anos no Brasil. As vendas de veículos novos no Brasil alcançaram 2,4 milhões de unidades em 2007 segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (“Anfavea”), apresentando crescimento de 14,4% sobre 2006. Destaca-se a grande participação dos veículos bi-combustíveis, responsáveis por mais de 85% dos veículos leves vendidos nos últimos 12 meses. Apesar da forte expansão, o Brasil ainda apresenta significativo potencial para crescimento da frota. Em comparação com outros países, o Brasil apresenta índice de 8,0 habitantes por veículo, comparado a 5,7 na Argentina, 5,0 no México e 1,2 nos Estados Unidos.

3) Potenciais Sinergias

• Racionalização Logística. A Cosan buscará aproveitar sinergias já identificadas por meio da racionalização logística dada a proximidade geográfica entre suas usinas e a rede de distribuição da Esso, ambos concentrados na região Sudeste;

• Otimização da Gestão de Estoques. Atuar na distribuição de combustíveis permitirá à Cosan buscar sinergias relacionadas a gestão de seu estoque de etanol. Diferentemente da gasolina, a produção de etanol é fragmentada, apresentando maior volatilidade de preços e volumes; com esta aquisição a Cosan espera estar ainda melhor posicionada para responder aos movimentos do setor.

• Redução na Volatilidade de Margem. Através da combinação das margens de produção, distribuição e comercialização de etanol, a Cosan espera reduzir a volatilidade da margem de lucro de seus negócios, protegendo-se contra variações de preços de etanol afetados pela sazonalidade desse mercado e fragmentação do setor sucroalcooleiro. Isto é especialmente importante para a Cosan e para sua estratégia de crescimento, uma vez que oportunidades atrativas de aquisições surgem em períodos de preços baixos aos produtores de etanol.

A Cosan acredita que atingirá um novo patamar empresarial com esta aquisição, ampliando seu escopo de atuação e tornando-se o primeiro player de energia renovável explorando desde o plantio da cana-de-açúcar até a distribuição e comercialização de combustíveis no varejo e atacado.

A Cosan manterá seus acionistas e o mercado informados com relação à esta operação. Mais detalhes sobre a transação estão disponíveis na apresentação para os investidores que se encontra na página da Cosan www.cosan.com.br/ri na internet.

Alimento vs Combustível - Mais argumentos

A discussão Alimento vs Combustível tem tomado, nas últimas semanas, uma enorme proporção. Na sequência temos um artigo publicado no Estado de São Paulo de 24 de abril muito interessante:

NOVA AGRICULTURA E VELHOS MITOS
ROLF KUNTZ

Não falta comida, falta dinheiro para os muito pobres irem às compras. Isso é verdade no Brasil e na maior parte da América Latina. O presidente Lula sabe disso. Mas parece uma novidade para os grandes cérebros da FAO, o organismo das Nações Unidas para agricultura e alimentação. No final de seu convescote regional em Brasília, na semana passada, a FAO assinalou: a insegurança alimentar na região "não se deve exclusivamente a um problema de produção de alimentos". Houve, segundo o informe, um acelerado progresso na produção, nos últimos 15 anos, e "o problema principal é a falta de acesso aos alimentos para a população pobre, por causa do alto grau de desigualdade econômica". A demora em se chegar a essa conclusão mostra a força de velhos mitos e preconceitos no pensamento político latino-americano.

Esses mitos ainda estavam presentes no discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há pouco mais de cinco anos, quando ele iniciou seu primeiro mandato. Por algum tempo, ele ainda repetiu a ladainha da prioridade ao mercado interno, como se a distinção tivesse algum sentido para o produtor eficiente. Não tem. Quando a agropecuária brasileira se converteu, de fato, em agronegócio, as crises de abastecimento sumiram. Os primeiros efeitos da conversão já eram sensíveis há mais de 15 anos. O alimento ficou barato, no Brasil, porque a produção nacional se tornou competitiva.

Quem é capaz de concorrer no mercado internacional é capaz, também, de abastecer o mercado interno a preços acessíveis. Isso explica por que o custo da alimentação perdeu peso no orçamento familiar. Desde os anos 90, os principais indicadores de inflação foram reformulados mais de uma vez, não só para se adaptar aos novos padrões de consumo, mas também para refletir o barateamento da comida.

Parte da esquerda brasileira ainda não entendeu esse dado. No começo do primeiro mandato, vários assessores do presidente Lula ainda não haviam abandonado os velhos preconceitos. Alguns não os abandonaram até hoje. Por isso, atribuíam a fome dos pobres à insuficiência da oferta e defendiam a reforma agrária como forma de aumentar a produção e reforçar o abastecimento. Mas o problema não era de produção nem de acesso à posse da terra. Tinha havido uma revolução tecnológica e produtiva no País e muita gente, no Palácio do Planalto e nas suas vizinhanças, não havia notado ou não queria reconhecer esse fato. A política agrária continua dirigida como se a agropecuária brasileira não houvesse mudado e como se as condições de mercado fossem as mesmas de 30 anos atrás.

Não são, e a comemoração do 35º aniversário da Embrapa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, é uma boa ocasião para se pensar nessas mudanças, nas suas conseqüências e nas políticas necessárias para o País se ajustar às novas condições do mercado mundial.

O presidente Lula causou certa estranheza, há poucos dias, ao descrever como "boa" a atual crise no mercado global de alimentos. Mas ele se referia principalmente às condições da demanda, alteradas em grande parte pela emergência de grandes massas consumidoras na China e em vários outros países. Ele mencionou também o Brasil, e exagerou nesse ponto, mas isso não afeta o sentido geral do argumento. As novas massas não só estão comendo mais. Estão também demandando maiores volumes de comida rica em proteínas e isso abre enormes oportunidades para a produção de carnes e de vegetais conversíveis em rações. O Brasil é um dos países com melhores condições para suprir essa demanda.

Naturalmente, poderá cumprir essa tarefa com maior facilidade se a Rodada Doha for concluída e propiciar a liberalização do comércio agrícola. Também esse fato é desconhecido ou menosprezado por uma parte do governo brasileiro, mais propensa a apoiar a manutenção de esquemas protecionistas, em nome de concepções obscuras de segurança alimentar e soberania alimentar. Os protecionistas europeus provavelmente vibram de alegria quando escutam discursos desse tipo.

Para bem aproveitar a oportunidade, o País terá de resolver com clareza se vai levar adiante a modernização produtiva, com a incorporação de grandes, médios e pequenos produtores num agronegócio orientado para a eficiência. Se for incapaz de fazê-lo, continuará desperdiçando recursos com uma política ambígua e parcialmente comprometida com o atraso. O reforço do orçamento da Embrapa, anunciado esta semana pelo presidente Lula, é um lance na direção correta. Mas não é o fim da ambigüidade.

Diesel de Etanol? A cana fornecendo mais um combustível

Depois do álcool combustível e da bioeletricidade através da cogeração a partir da queima do bagaço, está em desenvolvimento segundo nota da UNICA publicada no BrasilAgro o diesel da cana.

A cana-de-açúcar que já é cana-de-etanol e cana-de-eletricidade tem mais um passo em desenvolvimento. A partir de 2010, será a cana-de-diesel.

A Amyris, empresa americana especializada em desenvolvimento de biocombustíveis, e a Crystalsev, uma das maiores comercializadoras de etanol do Brasil e associada à UNICA, anunciaram nesta quarta-feira (23/04/08) planos para comercializar diesel, combustível de aviação e gasolina fabricados a partir da cana.

A previsão é de que em 2010 seja lançado o primeiro produto: um diesel renovável para motores que já estão sendo usados hoje. Segundo as empresas, as pesquisas indicam que o diesel de cana terá escala comercial mais rápida e econômica do que os biocombustíveis já disponíveis no mercado, com uma redução de 80% nas emissões em comparação com o diesel de petróleo.

"A tecnologia inovadora se baseia na conversão de açúcares por bactérias em hidrocarbonetos", explica Alfred Szwarc, consultor de emissões e meio ambiente da UNICA. "O processo está em fase de desenvolvimento e o combustível resultante poderá ser uma alternativa renovável para o óleo diesel, contribuindo desta forma para a sustentabilidade energética e ambiental dos sistemas de transporte".

A joint venture Amyris-Crystalsev trabalhará com produtores brasileiros de etanol para expandir a base de produção do diesel renovável. A Amyris terá participação majoritária na joint venture e a Crystalsev entrará com sua expertise na comercialização.

A Santelisa Vale, segunda maior produtora de etanol e açúcar do Brasil, acionista majoritária da Crystalsev e associada à UNICA, destinará dois milhões de toneladas de cana-de-açúcar para o projeto e adotará a nova tecnologia na sua principal planta, a usina Santa Elisa.

O Grupo Santelisa Vale também oferecerá a experiência técnica e industrial para acelerar o desenvolvimento e produzir o combustível da Amyris em escala comercial. A Amyris-Crystalsev planeja envolver outros produtores de cana no empreendimento.

“Essa é uma parceria histórica para a indústria mundial de combustíveis. Ao garantir um fornecimento significativo de matéria-prima e colaborar com nossos renomados parceiros mundiais, Crystalsev e Santelisa Vale, podemos agora levar a nossa tecnologia, que é pioneira, do laboratório para produção em larga escala, abastecendo as necessidades do emergente mercado mundial de combustíveis renováveis”, disse o CEO da Amyris, John Melo.

O novo tipo de combustível renovável deverá funcionar nos motores atualmente utilizados em automóveis e aviões sem causar perdas em relação ao desempenho, oferecendo redução significativa de emissões.

“Com o acesso a essa tecnologia, os produtores de etanol terão uma oportunidade única para expandir seus portfólios de negócios e criar novas frentes de crescimento, com um produto necessário ao nosso País e ao mundo, oferecendo importantes benefícios ambientais. Estamos muito satisfeitos pela parceria com a Amyris e poder trazer essa promissora tecnologia ao Brasil”, afirmou o CEO da Crystalsev, Rui Lacerda Ferraz.

Como parte do processo de produção em escala, a joint venture abrirá um centro de pesquisa e desenvolvimento, em junho, no Technopark, em Campinas, região conhecida por ser um pólo de inovação e pela sua localização estratégica, entre São Paulo e o principal centro sucroalcooleiro brasileiro, Ribeirão Preto. O mesmo local hospedará uma instalação piloto que deve começar a funcionar no início de 2009.

quinta-feira, abril 24, 2008

Batata: salvadora do mundo. Novamente!!!

Em artigo publicado em inglês pelo site FoodNavigator.com, a batata é descrita como a solução para o problema do aumento dos preços dos alimentos.

Ela seria um substituto dos cereais, atualmente em grande alta de preços. Na verdade isto não seria novidade, visto que na Idade Média, a batata salvou a Europa da fome.

Abaixo segue a tradução do artigo que originalmente encontra-se aqui:

As batatas são vistas como a “comida do futuro”
Por Dominique Patton

08-Abril-2008 - As batatas e seus derivados, estão crescendo em importância conforme aumentam os preços dos cereais.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) da ONU está promovendo atualmente o tubérculo como uma cultura mais eficiente, que pode melhorar a segurança alimentar nos países em desenvolvimento. Cerca de 80% da colheita da batata pode ser usada para o consumo humano, significativamente mais do que em cereais como o milho e trigo.

Os agricultores também podem produzir uma quantia muito maior na mesma quantidade de terra do que em cereais, e em menos tempo, disse NeBambi Lutaladio, responsável por tubérculos da FAO.

“A eficiência na utilização da água e do solo é superior”, disse ao FoodNavigator.com. “Você pode produzir 20 toneladas por hectare em 50 dias. Na mesma área seria possível produzir apenas 10 toneladas de cereais após um maior período de tempo.”

É esperada forte demanda para novos ingredientes baseados em batata por parte dos produtores de alimentos, que atualmente enfrentam aumento dos custos de matérias-primas, segundo fontes da indústria.

”Dado o aumento significativo nos custos das matérias-primas lácteas, as pessoas estão procurando alternativas. Esperamos significativo crescimento para as proteínas de batata,”disse Frank Goovaerts, diretor da Solanic, uma nova empresa criada para comercializar proteína de batata para a indústria de alimentos.

Os preços dos grãos têm atingido recordes nos últimos meses, acompanhando as pobres colheitas que comprometeram os já baixos estoques globais graças ao aumento do consumo na Ásia.

Algumas iniciativas têm sido tomadas para encorajar os consumidores a trocarem os alimentos baseados em cereais por produtos a base de batata. No Peru, o governo está incentivando as pessoas a comer pão feito de farinha de batata para tentar reduzir as caras importações de trigo e manter baixa a inflação nos alimentos.

A FAO também está organizando uma série de eventos e conferências para o Ano Internacional da Batata para ampliar o conhecimento sobre a cultura. Deseja juntar cientistas para compartilhar descobertas em variedades mais produtivas e como usar o tubérculo em alimentos processados.

A produção de batata está crescendo mais rapidamente do que a de grãos, em particular em paises em desenvolvimento. A produção global alcançou um recorde de 320 milhões de toneladas em 2007, com os países em desenvolvimento representando mais da metade da produção mundial comparado à um terço em 1990.

Na China, o maior produtor mundial de batatas, responsável por 72 milhões de toneladas ano passado, os especialistas em agricultura disseram que a batata tornará-se a principal cultura em grande parte das terras agrícolas. Em 2020, a taxa anual média de crescimento da batata será de 2,7%, prevê a FAO, comparada com 1,8% do milho, 1,5% para o trigo e 1,3% para o arroz.

Os usuários dos ingredientes baseados em batata ainda enfrentam desafios. A batata é fácil de cultivar, tornando-a uma cultura valiosa para milhões de agricultores do mundo em desenvolvimento, mais também ainda é altamente intensiva em mão-de-obra. As batatas requerem uma média de 25 horas de trabalho por hectare contra 8 horas para os cereais.

Porta-voz da produtora de amido Avebe disse que os amidos tanto de cereais quanto de batata tem tornado-se mais caros. “Os preços crescentes dos cereais tem nos forçado a aumentar o preço da batata de forma a manter os fazendeiros interessados em produzir batata,” disse ao FoodNavigator.com.

Entretanto os preços da batata não têm crescido na mesma proporção que os preços dos cereais, disse Goovaerts. A companhia também está trabalhando no desenvolvimento de ingredientes derivados da batata de maior valor como, por exemplo, enzimas.

Commodities em alta, só o Fed pode resolver

O aumento descontrolado das commodities tem atraido interesse de vários setores da economia mundial. Segundo a Merril Lynch é necessária a intervenção dos Bancos Centrais para alterarem este cenário. Vejam a notícia abaixo publicada no site Exame:

Fim do rali das commodities depende do Fed, diz Merrill Lynch

Alta das matérias-primas só deve arrefecer quando os BCs mundiais agirem para controlar os preços ou o dólar voltar a subir

Os preços das commodities dispararam nos últimos meses e levaram consigo as cotações das ações de empresas do setor. Nos principais países emergentes, papéis de grandes produtores de commodities tiveram uma rentabilidade bastante superior à média das bolsas onde são negociados. No caso do Brasil, as altas de Vale do Rio Doce e Petrobras são emblemáticas para elucidar esse fenômeno: as ações da petrolífera avançaram 87,5% nos últimos 12 meses, a mineradora subiu 48,5% e o Ibovespa teve alta de 33%.

Já não são raros, entretanto, os investidores que começam a enxergar um certo exagero no recente rali das matérias-primas. O megainvestidor George Soros, por exemplo, afirmou em recente entrevista à Money Magazine que, após o fim da bolha imobiliária, há “uma nova bolha em desenvolvimento nas commodities”. Por outro lado, ainda são fartas as análises contrárias à de Soros no mercado global – vide o ingresso na Bovespa de 4,5 bilhões de reais de estrangeiros nos 17 primeiros dias deste mês, impulsionado pela busca de ações da Vale e da Petrobras. Mas é inegável que cada vez mais gente se pergunta quando o boom das commodities vai terminar.

Em relatório, o banco de investimentos Merrill Lynch afirma que só dois fatores poderiam determinar o fim da supremacia das ações de empresas ligadas a commodities nos mercados emergentes. O primeiro seria a alta sustentável da cotação do dólar – após vários meses seguidos de queda generalizada nos mercados globais. O outro partiria dos bancos centrais mundiais, que precisariam tomar medidas para conter o rali das commodities.

Para o estrategista global de mercados emergentes do Merrill Lynch, Michael Hartnett, os seis cortes de juros determinados pelo Federal Reserve (banco central dos EUA) desde o início da crise do subprime foram “brilhantes” para o mercado de commodities. Além da pressão sobre os preços causada pela escassez mundial de matérias-primas, a redução dos juros nos EUA ajudou a desvalorizar o dólar – e há uma relação direta entre a valorização de commodities como o petróleo e a alta do euro.

Na próxima semana, o Fed volta a se reunir para tratar de juros. Com taxas reais já negativas no país, a maioria dos analistas acredita que o BC americano terá de frear o ritmo de queda e reduzir a taxa básica em apenas 0,25 ponto percentual, para 2% ao ano. Mas já há economistas que acreditam que o Fed deveria parar imediatamente de baixar os juros porque a alta dos preços do petróleo e dos alimentos começam a pressionar mais fortemente a inflação. Em entrevista à revista Fortune, James Hamilton, professor de economia da Universidade da Califórnia, diz que uma pausa do Fed poderia reverter a queda do dólar e os ganhos no mercado de commodities – provocando venda em massa de ações de empresas ligadas a esse setor.

A opinião de Hamilton ainda é minoria no mercado, tanto em relação à pausa dos juros quanto sobre o impacto nas commodities. A maioria dos analistas lembra que as matérias-primas estão em alta devido ao aumento da renda em países como China e Índia – que elevam a demanda por bens primários. Outra fonte de pressão seria o uso de produtos agrícolas para a produção de biocombustíveis. Ambos os fatores não seriam afetados diretamente pela decisão do Fed. Além disso, apesar de a alta das commodities seguir a valorização do euro ante o dólar, a proporção das valorizações não é a mesma. Enquanto o dólar caiu apenas 11% desde setembro, a valorização do petróleo alcançou 70%.

Se há divergências sobre a direção a ser seguida pelo preço das commodities num futuro distante, a Merrill Lynch aposta que as matérias-primas devem continuar em alta pelo menos no curto prazo. Mas, quando chegar o momento da virada, o banco aconselha os investidores a procurar investimentos na China e na Índia - desde agosto, a Bovespa tem oferecido os melhores retornos. Além disso, será a hora de trocar ações de commodities por papéis ligados ao crédito e a empresas com baixo valor de mercado – justamente as que mais têm apanhado nos últimos meses.

quarta-feira, abril 23, 2008

Estamos preocupando até a Arábia Saudita

Leiam abaixo o ponto em que o nosso etanol chegou no cenário mundial

AVANÇO DO ÁLCOOL PREOCUPA, DIZ ARÁBIA SAUDITA

A Arábia Saudita reconheceu ontem que os países produtores de petróleo estão preocupados com a concorrência dos combustíveis alternativos e com a ambição de países em alcançar sua independência energética.

Essa intranqüilidade das nações produtoras de petróleo freiam os investimentos na indústria do setor, afirmou ontem o ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al Al-Naimi, durante o Fórum Internacional de Energia (Folha de S.Paulo, 23/04/08)

sexta-feira, abril 18, 2008

Depois do petróleo, Bolívia quer estatizar óleo de soja

Depois de estatizar o petróleo, nossos vizinhos bolivianos agora querem estatizar a produção de óleo de soja. Veja a notícia abaixo publicada no Valor de ontem:

BOLÍVIA AMEAÇA ESTATIZAR FÁBRICAS DE SOJA

O presidente da Bolívia Evo Morales ameaçou estatizar as esmagadoras do país se o preço do óleo de soja no mercado interno não baixar. Morales proibiu no mês passado a exportação de óleo comestível e agora acusa as esmagadoras de estarem suspendendo a produção para não ter de baixar os preços.

"Se não [baixarem os preços], vamos nacionalizar essas fábricas de óleo de soja. Não é possível que existam fábricas como essas para castigar o povo. O Estado subsidia a produção de soja. E, com esses subsídios, eles [os empresários] castigam o povo", afirmou. O governo pretende forçar a queda dos preços praticados na Bolívia para menos de 10 bolivianos (cerca de R$ 2,25) antes de liberar as exportações. Antes da suspensão das vendas para o exterior, o litro de óleo de soja na Bolívia chegou a 18 bolivianos. Segundo jornais bolivianos, ontem o litro podia ser encontrado a pouco mais de 11 bolivianos.

Estimativas do Ministério da Agricultura da Bolívia dão conta de que nos meses de janeiro e fevereiro o país exportou 366 mil toneladas de óleo de soja. Com as exportações suspensas desde meados de março, os fabricantes de óleo de soja, transportadores e comerciantes do produto afirmam que já contabilizam prejuízos acima de US$ 120 milhões.

Gabriel Dabdoub, presidente da Confederação de Empresários da Bolívia, disse que as esmagadoras estão parando suas linha de produção para não terem de operar com prejuízo. "Creio que em mais uma semana, a maior parte delas deve parar e dar férias coletivas a seus funcionários. No fim, os mais prejudicados serão os pequenos e médios produtores de soja, que vivem da colheita, os transportadores e os cidadãos que comercializam o óleo de soja".

A produção de óleo é dominada por três companhias: uma controlada pela americana ADM; outra pelo grupo peruano Romero; e outra pelo grupo boliviano Marinkovic, presidido por Branko Marinkovic, um dos principais líderes da campanha de autonomia do Departamento de Santa Cruz.

"[O governo] está transformando o país em um novo Zimbábue", criticou Marinkovic. O empresário boliviano de origem croata teve um carregamento de 26 mil litros de óleo de soja apreendido pela Alfândega, sob acusação de tentar furar a proibição de exportação e levar o produto para o Chile.

O conflito entre o governo e empresários de Santa Cruz e Cochabamba ganha maior tensão à medida que se aproximam os plebiscitos sobre maior autonomia, convocado pelos governadores de oposição para o mês que vem.

A proibição de exportação não atinge a soja em grãos, só o óleo. Atualmente, as esmagadoras usam cerca de 15% da soja boliviana para fazer óleo comestível.
Os principais mercados para o óleo de soja boliviano são os países da Comunidade Andina de Nações (CAN) - Colômbia, Peru e Equador -, além da Venezuela, que deixou recentemente a CAN, e o Chile, país com relações tumultuadas com a Bolívia. A soja é a principal commodity agrícola do país, o nono maior produtor mundial, colhendo 1,7 milhão de tonelada de soja anualmente. O Brasil produz 60 milhões de toneladas; a Argentina, cerca de 47 milhões; e o Paraguai, 3,5 milhões.

quinta-feira, abril 17, 2008

Brasil se defende em Haia

Um acontecimento inusitado ocorreu em Haia na semana passada. Maurílio Biagi, voz ativa no setor sucroalcooleiro, disse umas verdades aos europeus que precisam ser ditas. Na sequência reportagem na Gazeta Mercantil de 16 de abril sobre o assunto:

O ministro, o usineiro e o padre, na Holanda

Eny Sacchi

A passagem da comitiva do presidente Lula pela Holanda na semana passada foi tão devastadora quanto a imagem que a Europa faz da devastação da Amazônia. Na conferência de Haia, capital administrativa do País, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, atropelou o protocolo, deixou de lado o programado apelo por investimentos no Brasil e achou melhor iniciar "uma campanha de esclarecimentos neste momento de tantos ataques da Europa contra a produção de cana-de-açúcar".

O usineiro Maurílio Biagi Filho tinha atrás de si um telão com o mapa do Brasil - nem se preocupou se estava ou não Holanda: "A cana devasta a Amazônia? A floresta amazônica fica aqui", e apontou para ela; "aqui, fica o Nordeste, que vocês invadiram duas vezes, no século 17. Se vocês tivessem invadido a Amazônia, aí sim, ela não existiria mais!". Com essa alfinetada, o empresário acordou a platéia, que voltara do almoço e não teve tempo para se indignar, porque ele emendou: "Os canaviais estão distantes daquela região e não somos nós que vamos lá cortar madeira para fazer móveis e vender na Europa", cutucou Biagi, olhando em volta para ver se não tinha nada feito de madeira brasileira.

Silêncio...

Miguel Jorge. surpreso, esperou pela avalanche de críticas contra a produção do etanol. Segundo ele, esse fenômeno se deve à falta de informação e ao protecionismo europeu. Na viagem, tanto ele como Lula destacaram a importância do etanol. Exibindo mapas, insistiram que as principais áreas produtoras de cana estão longe da fronteira agrícola e da Amazônia e que o Brasil não substitui plantações de alimentos por outras destinadas à produção de biocombustível, como nos EUA, e que o uso do etanol nos carros flex reduz a poluição do ar.

O ministro informou que o "ataque explicativo" começará in loco nesta semana, quando chegará ao Brasil o ministro do Comércio Exterior da Holanda, Frank Heemskerk. De improviso, o presidente Lula disse que o ministro holandês já será pego no aeroporto com um carro movido a etanol, "sem aquele cheiro ruim e poluidor da gasolina", e passará o dia só se locomovendo com este tipo de veículo.

Maurílio Biagi informou que sempre espanta estrangeiros: "O consumidor brasileiro é o único do planeta que no posto pode escolher entre o etanol e a gasolina. E o que fala mais alto para qualquer um é o bolso. Atualmente, 90% dos carros brasileiros são flex." E concluiu: "A cana só aumenta a produção de alimentos no Brasil, pois onde ela é plantada há uma renovação do solo, com a plantação de leguminosas."

Depois de 48 horas, a passagem dos brasileiros ainda repercutia. No jornal da noite, a TV holandesa pedia ao governo que não aderisse ao consumo de biocombustível. Pela manhã, na missa das 10h30 o padre Gerard Bruggink, da paróquia de St. Vitus, em Hilversum, a 85 quilômetros do local da conferência, parecia bravo com a fome do mundo e com o encarecimento da comida.

terça-feira, abril 15, 2008

"Besteirol" do Etanol de Cana - mais ataques

O protecionismo agrícola mascarado por preocupações ambientais ataca o álcool brasileiro que não compete contra os alimentos e muito mesmo avança na Amazônia. A notícia da BBC publicada no G1:

Brasil é exemplo de desvantagem do etanol, diz jornal britânico

'The Independent' diz que indústria está ligada à poluição e ao desmatamento.

Da BBC

A experiência do Brasil com o etanol pode servir como um exemplo para o mundo das desvantagens apresentadas pela suposta "revolução energética" criada pelos biocombustíveis, segundo uma análise publicada pelo jornal britânico The Independent nesta terça-feira.

O jornal diz que apesar de os biocombustíveis serem quase irresistíveis aos políticos que querem ser vistos como preocupados com os efeitos da mudança climática, a produção do etanol no Brasil tem, no fim das contas, um efeito negativo no combate ao problema porque tem gerado desmatamento e poluição.

"A indústria do etanol no Brasil está ligada à poluição do ar e da água em uma escala épica, ao desmatamento da floresta amazônia e da mata atlântica e à destruição da savana na América Latina", diz o vice-editor de assuntos internacionais do jornal, Daniel Howden.

Segundo o Independent, as conseqüências da "modesta redução" provocada pelo etanol na emissão de dióxido de carbono nas ruas das cidades brasileiras podem ser vistas nas "gigantescas cicatrizes das plantações de soja na Amazônia" e nas "nuvens negras dos campos de cana-de açúcar em chamas".

O jornal diz que o efeito final do etanol no combate às emissões que provocam as mudanças climáticas é negativo.

"Apesar dos níveis modestos de industrialização na maior nação da América Latina, o Brasil passou a ser o quarto país do mundo em emissão de gases de efeito estufa", afirma o Independent.

Segundo o jornal, isso está sendo causado por um desmatamento desenfreado, um fenômeno que, por sua vez, segue os passos do aumento no preço dos produtos agrícolas.

"Enquanto os preços dos produtos usados na produção de biocombustíveis aumentavam nos últimos 18 meses, as taxas de desmatamento quebraram todos os recordes", afirma o jornal.

O Independent diz que, ao mesmo tempo em que o mundo acorda para as ameaças da mudança climática, "incentivos perversos causam um ataque aos pulmões do planeta".

Howden diz que o ambientalista brasileiro Fábio Feldman, que ajudou a passar a lei estipulando o mínimo de 23% de etanol a ser adicianado a todos os combustíveis, está agora preocupado com o legado da decisão.

"Algumas plantações de cana-de-açúcar são do tamanho de países europeus - essas monoculturas imensas têm substituído ecossistemas importantes", diz Feldman, segundo o jornal.

O jornal conclui dizendo que a razão pela qual o argumento de que o mundo pode "plantar" o combustível que precisa parece muito bom para ser verdade é porque realmente é muito bom para ser verdade.

Goiverno brasileiro cria adidos agrícolas no exterior

O governo brasileiro resolve criar adidos agrícolas em oito países para aumentar a atuação nesta área. Isto é de fato interessante pois coloca pessoas com conhecimento técnico para negociar e compreender os mercados internacionais. Na sequência a notícia publicada hoje pela Folha de São Paulo:

PAÍS CONTARÁ COM ADIDO AGRÍCOLA EM 8 EMBAIXADAS

Pesquisa de mercados e negociações de temas sanitários serão prioridades. Cargos serão criados por decreto presidencial após meses de negociação nos bastidores entre Itamaraty e Ministério da Agricultura.

Após meses de negociação nos bastidores entre os ministérios das Relações Exteriores e da Agricultura, o governo decidiu criar o cargo de adido agrícola em oito embaixadas no exterior para pesquisar mercados e facilitar negociações sobre temas sanitários.

Os cargos serão criados por meio de um decreto presidencial, cujo texto está na Casa Civil da Presidência e será publicado no "Diário Oficial" da União nos próximos dias.
Os destinos escolhidos foram as embaixadas brasileiras na Argentina, na China, no Japão, na Rússia, nos Estados Unidos, na África do Sul, em Bruxelas -por ser a capital da União Européia- e em Genebra, onde fica a sede das Nações Unidas na Europa.

O Itamaraty não comenta o assunto oficialmente. A assessoria de imprensa do ministério confirmou apenas que o texto do decreto presidencial já passou por lá, e que o diálogo técnico foi concluído.

Segundo a Folha apurou, os diplomatas brasileiros resistiram à idéia, não queriam o título de "adido" e insistiam para que os ocupantes dos postos recebessem algum treinamento em diplomacia. O Itamaraty também tinha o receio de nomeações políticas.
Para resolver esses detalhes, ficou acertado que os futuros adidos agrícolas deverão ser funcionários concursados do Ministério da Agricultura -veterinários ou engenheiros agrônomos. Depois de escolhidos, eles ainda passarão por treinamento no Instituto Rio Branco durante seis meses, antes de assumir as funções.

O Ministério da Agricultura espera que os primeiros adidos agrícolas iniciem o trabalho dentro de no máximo nove meses, provavelmente ainda neste ano.

Um dos maiores produtores mundiais de grãos, o Brasil entra atrasado nessa seara. Muitas embaixadas estrangeiras localizadas em Brasília, por exemplo, contam com especialistas nessa área há décadas.

FUNÇÕES

Na prática, os adidos não serão apenas auxiliares dos diplomatas. A idéia é dar autonomia a esses técnicos para um trabalho independente.

Sozinhos, deverão fazer a prospecção de mercado para setores específicos da agricultura, para identificar produtos do agronegócio brasileiro que não entram em determinados países ou cuja exportação pode aumentar.

Como haverá apenas oito adidos inicialmente, serão responsáveis por uma série de assuntos e regiões. De Pretória o técnico acompanhará todo o mercado africano, por exemplo. Em Genebra, vai monitorar discussões e mudanças em regras sanitárias.
Uma outra função importante será auxiliar grupos do agronegócio brasileiro em compras internacionais, fornecendo informações gerais sobre o mercado de tratores ou colheitadeiras, por exemplo, em determinado país.

"É uma reivindicação histórica do setor, há muito tempo estamos pedindo isso porque é uma absoluta necessidade. O embaixador e a sua equipe diplomática não têm obrigação de conhecer a rotina do comércio e entender a linguagem do mercado", disse Gilman Viana Rodrigues, secretário de Agricultura de Minas Gerais e presidente do Conseagri (Conselho Nacional dos Secretários de Estado de Agricultura).

sexta-feira, abril 11, 2008

Consumo de álcool ultrapassa ao de gasolina

As previsões diziam que o consumo de álcool hidratado e anidro ultrapassaria o consumo de gasolina no Brasil apenas em abril, mas diante do crescimento dos veículos flex e da queda do preço, este resultado aconteceu em fevereiro conforme podemos verificar na notícia do Valor:

Consumo de álcool supera o de gasolina pela primeira vez em 20 anos

Resultado, alcançado em fevereiro, era previsto somente para abril. Alta foi atribuída à queda do preço nas bombas e ao aumento das vendas de carros 'flex'.

O consumo de álcool (anidro e hidratado) superou o de gasolina primeira vez desde o final da década de 80, no auge do Pró-Álcool. Em fevereiro, o país consumiu 1,432 bilhão de litros, contra 1,411 bilhão de litros de gasolina, uma diferença de 21 milhões.

A informação é do superintendente de Abastecimento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Edson Silva, ao lembrar que a previsão era de chegar a essa diferença somente em abril. Ele atribuiu o resultado à queda no preço do álcool comercializado nas bombas, aliada ao aumento das vendas de carros do tipo bicombustível (flex).

Segundo a ANP, o consumo de álcool hidratado fechou o primeiro bimestre do ano com crescimento de 56%, em relação a igual período do ano passado, enquanto o de gasolina cresceu apenas 2,9% e o do diesel, 11,5%.

Em janeiro do ano passado foram consumidos no país 1,520 bilhão de litros de gasolina e 1,088 bilhão de litros de álcool (anidro e hidratado). Já em dezembro, a diferença no consumo dos dois combustíveis chegava a menos de 100 milhões de litros, com 1,703 bilhão para gasolina e 1,604 bilhão para o álcool. Em janeiro deste ano, era de apenas 49 milhões, com 1,515 bilhão de gasolina consumida e 1,466 bilhão de álcool.

Para Edson Silva, esta é uma realidade que veio para ficar e com isso o país passa a consumidor em maior escala de um combustível ecologicamente mais limpo e proveniente de fonte renovável .

Grãos - Aperto na oferta

O cenário atual de diminuição da oferta de grãos e o consequente aumento de suas cotações foi confirmado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) segundo nota publicada ontem pelo Valor:

USDA CONFIRMA APERTO NA OFERTA E IMPULSIONA GRÃOS

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) confirmou ontem o cenário de aperto na oferta global de commodities agrícolas. Não era o relatório mais esperado e as alterações já eram eram razoavelmente esperadas pelo mercado, mas isso não impediu fortes altas dos preços de milho e soja. O trigo, que chegou a registrar avanço, encerrou sem tendência linear.

Os estoques finais de milho devem chegar a 102,9 milhões de toneladas na safra 2007/08, abaixo das 108,2 milhões de toneladas da safra 2006/07. A demanda total deverá crescer de 722,2 milhões de toneladas para 777,3 milhões de toneladas, segundo o USDA. "Os dados não são grandes novidades e já estavam precificados", afirmou Vinicius Ito, da corretora Newedge, com sede em Nova York - que ressalta, por outro lado, o reforço do cenário de aperto na oferta do grão.

Sob a influência do relatório do USDA, os contratos de milho com vencimento em julho subiram 13,75 centavos de dólar, a US$ 6,18 por bushel. Mais aguardado que o relatório de ontem, afirma Ito, é a projeção sobre a temporada 2008/09, que será apresentada no próximo mês.

Para a soja, além da projetada redução dos estoques finais, teve papel relevante para a alta de ontem o rumor de falta de consenso nas negociações que tratam das taxas de exportação na Argentina. O temor do mercado é de que as negociações, ocorridas após a trégua da greve dos produtores argentinos, não estão andando a contento, de acordo com Ito.

Os contratos de soja com vencimento em julho subiram 61,25 centavos de dólar, para US$ 13,30 por bushel. Os estoques finais da commodity projetados pelo USDA para a safra 2007/08 são de 49,3 milhões de toneladas, abaixo das 63,2 milhões de toneladas da safra 2006/07.

Influenciado pelo desempenho de milho e soja, o trigo chegou a ser negociado em alta, mas, com as notícias de melhora nas condições climáticas em regiões produtoras dos EUA, a commodity recuou em Chicago. Os papéis para julho caíram 0,75 centavo de dólar, para US$ 9,4675 o bushel. Em Kansas, onde é negociado o trigo de melhor qualidade, os contratos que vencem em julho subiram 5 centavos de dólar, para US$ 9,99 por bushel.



quarta-feira, abril 09, 2008

Aplicação para a glicerina

A glicerina produzida na esterificação do biodiesel ainda é um problema, devido às grandes quantidades envolvidas. Agora segundo Gás Virtual surge uma possível aplicação deste sub-produto através do uso da biotecnologia:

Biotecnologia brasileira transforma rejeito de glicerina em energia

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) identificou bactérias que degradam a glicerina para sua transformação em biogás. O trabalho utiliza o resíduo bruto da glicerina gerado pela produção de biodiesel que, por não poder ser vendido como matéria-prima para indústrias como a de cosméticos, acaba sendo descartado em aterros industriais.

Bactérias produzem biogás

De acordo com a coordenadora do estudo, Maria de Los Angeles Palha, professora do Departamento de Engenharia Química da UFPE, o biogás é produzido quando um aglomerado bacteriano, presente no esterco bovino e composto por várias espécies de microrganismos, é colocado em contato com a glicerina bruta em equipamentos biodigestores.

"O biogás gerado é o metano, que pode ser utilizado como combustível para a produção de energia elétrica. A partir de bactérias existentes nos dejetos do gado, o processo de biodigestão faz com que a biomassa seja fermentada, em diferentes etapas, para a obtenção do biogás", disse a pesquisadora à Agência FAPESP.

"Os microrganismos se alimentam dos nutrientes do esterco, que é colocado em contato com a glicerina líquida, para transformá-la em metano por meio de reações bioquímicas", disse Maria, que é coordenadora do curso de engenharia química da UFPE. A reação química ocorre na ausência do oxigênio, uma vez que as bactérias empregadas são anaeróbicas.

Rejeitos de glicerina

Calcula-se que para cada litro de biodiesel produzido sejam descartados, aproximadamente, 300 mililitros de glicerina. A preocupação dos pesquisadores é com o aumento dessa quantidade de rejeito depois que o país adotar a adição de 5% de biodiesel ao diesel, prevista para ocorrer em 2013. Com isso, poderá haver mais glicerina do que as indústrias são capazes de utilizar.

"Já a partir de julho as indústrias deverão começar a adicionar 3% de biodiesel ao diesel, o chamado B3. O excedente de glicerina bruta no mercado, por conta da maior produção nacional do biocombustível, leva a investir em tecnologias dessa natureza, levando em conta as concentrações ótimas de todas as substâncias envolvidas no processo", afirmou Maria.

Além do biodiesel produzido a partir de oleaginosas, outras pesquisas indicam a possibilidade de produzi-lo a partir de óleos que sobram em cozinhas industriais, por exemplo. "Nesse caso, a glicerina resultante não é nobre, como a utilizada pela indústria de cosméticos e fármacos. E o foco de nosso trabalho é justamente esse subproduto mais bruto, que polui o meio ambiente quando descartado incorretamente", disse.

Glicerina e esterco

Após a identificação do consórcio de bactérias que degrada a glicerina, o próximo passo do estudo é analisar a relação entre os teores de glicerina e esterco empregados no processo de biodigestão com a quantidade e a qualidade do gás metano gerado.

"Estamos estudando as concentrações ideais para estabelecer parâmetros de produção do biogás em larga escala. Os primeiros resultados dessa linha de pesquisa devem ser divulgados em meados de 2009", disse Maria de Los Angeles Palha. O estudo conta com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

terça-feira, abril 08, 2008

Turbulências na Bolsa adia IPO da Santelisa Vale

O atual panorama instável no mercado de ações fez com que a Santelisa adiasse seu IPO para 2009. A notícia abaixo publicado no Agência Estado semana passada:

SANTELISA VALE ADIA ABERTURA DE CAPITAL PARA 2009

A turbulência global e a crise no mercado de capitais de risco obrigaram o Grupo Santelisa Vale, segunda maior companhia sucroalcooleira do País, a adiar para 2009 abertura do capital e a negociação de suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), previstas para este ano. "O IPO (sigla em inglês para oferta pública inicial de ações) só vai ocorrer no ano que vem em virtude do conturbado mercado de capitais e das crises nas bolsas", disse o empresário Luiz Biagi, acionista e membro do conselho da companhia.

Nascido no ano passado, após a fusão da Companhia Açucareira Vale do Rosário e da Companhia Energética Santa Elias, o Grupo Santelisa Vale tem cinco usinas em São Paulo, que devem processar 18 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2008/2009. O volume é 8% maior que as cerca de 16,6 milhões de toneladas moídas em 2007/2008. A produção de açúcar deve atingir 25 milhões de sacas de 50 quilos, ou 1,25 milhão de toneladas; e a de álcool deve chegar a 770 milhões de litros. Também devem ser co-gerados 420 mil megawatt-hora (MWh) de energia elétrica no ano, a partir do bagaço da cana, que é suficiente para abastecer uma cidade de 1 milhão de habitantes.

A Santelisa Vale projeta ainda investimentos de R$ 2,2 bilhões para os próximos anos, com a implementação de quatro unidades, em parceria, por meio da Companhia Nacional de Açúcar e Álcool (CNAA), e com fundos de investimentos internacionais.

segunda-feira, abril 07, 2008

Comida vs Combustível

O embate Comida vs Combustível, algo que parece ser impossível no cenário brasileiro, parece estar em ação na África. A utilização de grandes quantidades de milho para etanol está fazendo com que as commodities agrícolas explodam de preço e consequentemente inviabilizem a sua aquisição por parte dos países pobres.

Por isso que o etanol de cana parece ser a melhor solução para biocombustível.

O artigo abaixo foi publicado no Le Monde de 1 de abril:

África cai na armadilha da explosão dos preços dos alimentos

Nas ruas do continente africano, só se fala nisso: os preços dos gêneros alimentícios de primeira necessidade enlouqueceram de vez. No espaço de poucos meses, uma combinação de fatores envolvendo aumentos dos preços do trigo, do arroz e do óleo nos mercados mundiais; medíocres colheitas locais; além da inexistência de qualquer controle dos preços, conduziu a um recrudescimento das tensões sociais e comprometeu a estabilidade política em muitos países.

Espetacular nas cidades africanas, a explosão dos preços também está no processo de se impor com força na Ásia. Esta evolução vem confirmar as declarações de Jacques Diouf, o diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que havia profetizado, já em outubro de 2007, que "motins da fome" não tardariam a acontecer. De fato, o preço médio de uma refeição básica aumentou em 40% no espaço de um ano. "Muitas são as pessoas que passaram a não poder comer mais do que uma refeição por dia", dizem os populares em Dakar (Senegal). "Com 1.500 francos CFA (pouco mais de R$ 6,00) para alimentar a minha família, eu não sei mais o que fazer", diz uma dona de casa num mercado de Bamako, no Mali.

De Douala (Camarões) a Abidjã (Costa do Marfim) e do Cairo (Egito) a Dacar (Senegal), as manifestações de ruas vêm sacudindo as capitais africanas e estão obrigando os governantes a tomarem medidas de emergência para controlarem os preços.

"Gbagbo, o mercado está caro demais", "Gbagbo, estamos com fome", clamavam, na segunda-feira, 31 de março, mulheres em Abidjã, dirigindo-se ao presidente marfinense Laurent Gbagbo. Alguns enfrentamentos com a polícia causaram a morte de pelo menos duas pessoas. De fato, na Costa do Marfim, o preço do quilo de arroz passou de 250 para 650 francos CFA (de R$ 0,59 a R$ 2,62) no decorrer do ano, enquanto aquele do óleo aumentou em mais de 40%. O sabão, o leite e a carne bovina acompanharam o movimento, configurando uma tendência à alta, a qual os números oficiais não estão refletindo (8% de inflação em 2007 para o continente negro como um todo).

"Nos países da zona CFA (espaço monetário e econômico que reúne 15 Estados no oeste da África), os aumentos seriam ainda mais importantes se o franco CFA não estivesse atrelado ao euro, uma divisa forte. Com isso, para esses países, o custo das importações acabou diminuindo na mesma proporção. Os países cuja moeda está atrelada ao dólar estão sofrendo muito mais", assegura um economista da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD).

Ao optar pela supressão dos direitos alfandegários e por uma redução da TVA (taxa sobre produtos e serviços), o chefe do Estado marfinense, da mesma forma que os seus homólogos camaronês, senegalês e egípcio que estão igualmente confrontados ao clamor das ruas, comprometeram-se a forçar uma redução dos preços, acionando algumas das raras alavancas que o Estado ainda controla. A receita não faz parte daquelas que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial preconizam, pois ela pesa sobre as finanças públicas.

Foi tanto e somente a gravidade da situação que conduziu as instituições financeiras a se mostrarem mais acomodatícias em relação aos países em desenvolvimento. O governo egípcio acrescentou ao seu pacote uma medida mais radical: a proibição temporária de se exportar o arroz produzido localmente.

Nenhum país está imune às confusões. Em Dakar, uma manifestação proibida "contra a vida cara" degenerou, no domingo, 30 de março, três meses depois do anúncio de medidas para conter a inflação. Estas incluíram a supressão de taxas sobre o arroz, a criação de um selo destacando "comércios modelos", exemplares pela moderação dos seus preços, a diminuição das remunerações dos ministros e até mesmo da do chefe do Estado. Mas as medidas não produziram os efeitos esperados. "Os comerciantes não se adequaram às novas regras do jogo e o Estado não tem mais condições para controlar os preços", constata Mamadou Barry, da ONG senegalesa Enda.

No Marrocos, que também vem sendo sacudido por manifestações "contra a vida cara", vários atos de protestos estão previstos para abril. A margem de manobra do governo está mais do que reduzida. No que vem a ser um caso raro na África, uma "reserva de compensação" foi instituída no Marrocos para compensar parcialmente os aumentos que incidem sobre os produtos de primeira necessidade, mas a totalidade da verba disponível, que foi aumentada no orçamento de 2008, estará esgotada até meados do ano.

Na Mauritânia, onde a auto-suficiência alimentar não ultrapassa 30%, a situação revela ser ainda mais dramática. Incapaz de financiar a importação de gêneros agrícolas, o país vai conhecer "uma crise alimentícia muito séria em 2008", conforme avisou o Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas.

Em Burkina Faso, uma comissão parlamentar "contra a vida cara" foi instalada depois das manifestações que ocorreram em meados de março em várias cidades. Os sindicatos convocaram uma "greve geral" nos dias 8 e 9 de abril com o objetivo de reclamar aumentos de salários, o controle dos preços e a redução das taxas sobre os combustíveis.

Eugène Nyambal, um conselheiro para assuntos africanos no Fundo Monetário Internacional (FMI), estima que a situação nada mais é que o resultado das políticas que têm sido preconizadas pelas instituições financeiras internacionais. Ao longo das últimas décadas, elas incentivaram as culturas de exportação tais como a do algodão, em detrimento das culturas alimentícias, cuja aquisição, na época, era mais vantajosa, pois os preços no mercado internacional estavam bastante acessíveis. Essas políticas também exerceram pressões no sentido de favorecer o desmantelamento das estruturas de controle dos preços.

"Em sua maior parte, esses países em situação difícil estão aguardando soluções do Banco Mundial ou do FMI, os quais, por sua vez, estão totalmente desnorteados pelas evoluções recentes", acrescenta Nyambal, que enfatiza a gravidade das conseqüências dos atuais distúrbios sociais sobre os regimes no poder que não desenvolveram nenhuma política para apoiar a agricultura local. Nesse sentido, na noite de quinta-feira, por ocasião da festa da independência, o presidente senegalês Abdoulaye Wade anunciou que um "programa nacional de auto-suficiência" agrícola voltaria a ser implantado.

Em seu mais recente relatório anual, o Banco Mundial reconheceu o erro que ele havia cometido, e enfatizou que era preciso priorizar o renascimento das culturas alimentícias. Mas serão necessários muitos anos para modificar o modelo de desenvolvimento.

Tradução: Jean-Yves de Neufville (Le Monde)