sexta-feira, abril 18, 2008

Depois do petróleo, Bolívia quer estatizar óleo de soja

Depois de estatizar o petróleo, nossos vizinhos bolivianos agora querem estatizar a produção de óleo de soja. Veja a notícia abaixo publicada no Valor de ontem:

BOLÍVIA AMEAÇA ESTATIZAR FÁBRICAS DE SOJA

O presidente da Bolívia Evo Morales ameaçou estatizar as esmagadoras do país se o preço do óleo de soja no mercado interno não baixar. Morales proibiu no mês passado a exportação de óleo comestível e agora acusa as esmagadoras de estarem suspendendo a produção para não ter de baixar os preços.

"Se não [baixarem os preços], vamos nacionalizar essas fábricas de óleo de soja. Não é possível que existam fábricas como essas para castigar o povo. O Estado subsidia a produção de soja. E, com esses subsídios, eles [os empresários] castigam o povo", afirmou. O governo pretende forçar a queda dos preços praticados na Bolívia para menos de 10 bolivianos (cerca de R$ 2,25) antes de liberar as exportações. Antes da suspensão das vendas para o exterior, o litro de óleo de soja na Bolívia chegou a 18 bolivianos. Segundo jornais bolivianos, ontem o litro podia ser encontrado a pouco mais de 11 bolivianos.

Estimativas do Ministério da Agricultura da Bolívia dão conta de que nos meses de janeiro e fevereiro o país exportou 366 mil toneladas de óleo de soja. Com as exportações suspensas desde meados de março, os fabricantes de óleo de soja, transportadores e comerciantes do produto afirmam que já contabilizam prejuízos acima de US$ 120 milhões.

Gabriel Dabdoub, presidente da Confederação de Empresários da Bolívia, disse que as esmagadoras estão parando suas linha de produção para não terem de operar com prejuízo. "Creio que em mais uma semana, a maior parte delas deve parar e dar férias coletivas a seus funcionários. No fim, os mais prejudicados serão os pequenos e médios produtores de soja, que vivem da colheita, os transportadores e os cidadãos que comercializam o óleo de soja".

A produção de óleo é dominada por três companhias: uma controlada pela americana ADM; outra pelo grupo peruano Romero; e outra pelo grupo boliviano Marinkovic, presidido por Branko Marinkovic, um dos principais líderes da campanha de autonomia do Departamento de Santa Cruz.

"[O governo] está transformando o país em um novo Zimbábue", criticou Marinkovic. O empresário boliviano de origem croata teve um carregamento de 26 mil litros de óleo de soja apreendido pela Alfândega, sob acusação de tentar furar a proibição de exportação e levar o produto para o Chile.

O conflito entre o governo e empresários de Santa Cruz e Cochabamba ganha maior tensão à medida que se aproximam os plebiscitos sobre maior autonomia, convocado pelos governadores de oposição para o mês que vem.

A proibição de exportação não atinge a soja em grãos, só o óleo. Atualmente, as esmagadoras usam cerca de 15% da soja boliviana para fazer óleo comestível.
Os principais mercados para o óleo de soja boliviano são os países da Comunidade Andina de Nações (CAN) - Colômbia, Peru e Equador -, além da Venezuela, que deixou recentemente a CAN, e o Chile, país com relações tumultuadas com a Bolívia. A soja é a principal commodity agrícola do país, o nono maior produtor mundial, colhendo 1,7 milhão de tonelada de soja anualmente. O Brasil produz 60 milhões de toneladas; a Argentina, cerca de 47 milhões; e o Paraguai, 3,5 milhões.

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