Para os menos acostumados, resolvi hoje colocar a análise publicada semanalmente pela Archer Consulting sobre o mercado de açúcar, onde o Arnaldo Corrêa comenta sobre a atuação dos fundos neste mercado:
Os Fundos na berlinda
Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado de açúcar fechou a semana com queda de mais de 100 pontos no maio e no julho. A demanda de açúcar no mercado internacional, como já dito aqui nas últimas semanas, inexiste. A grande expectativa é de quantos lotes serão entregues fisicamente na quarta-feira. A pergunta que um corretor de NY fez é "por que ninguém quer receber açúcar em Maio, mesmo com um desconto de 7% em relação a Julho?". O spread chegou a ser negociado a 89 pontos, ou quase 20 dólares por tonelada. A questão é que muitas empresas hoje trabalham da mão para a boca, usando o jargão do mercado, ou seja, se cobrem em cima da hora, mesmo correndo o risco de haver alguma ruptura na equação da oferta e demanda que possa elevar os preços exponencialmente. E aí entra a analise fundamentalista que não consegue ver o que pode motivar essa situação no açúcar hoje. Quem recebe físico tem dois riscos, o de mercado e o de base. É por isso que ninguém quer açúcar mesmo com desconto de 7%. Porque não sabe para onde pode ir o desconto no físico, vulgo risco de base.
Na Europa não se fala noutra coisa a não ser na conversa fiada para boi dormir de que a produção de bio-combustiveis está causando um aumento generalizado nos preços dos alimentos. Sem contar da total falta de conhecimento nos editoriais dos jornais que acham que a Amazônia vai virar um imenso canavial.
Uma vez mais temos que comentar o recente desastre de operações em derivativos que levou uma empresa brasileira de sementes a perder, segundo estimativas do mercado, a quantia inacreditável de US$ 300 milhões. Segundo informação de alguns traders de grãos, a operação consistia em venda de volatilidade através de straddles, ou seja, a empresa vendia opções de compra e opções de venda no mesmo preço de exercício e vencimento, apostando que a volatilidade iria cair e que os preços se manteriam nos níveis que estavam no momento da operação. Com o aumento da volatilidade e trajetória de preços, houve aumento de chamada de margem. Uma espécie de operação Barings tupiniquim.
Existe uma gritaria geral nos Estados Unidos sobre a falta de comprometimento por parte do CFTC (espécie de CVM das commodities) de regulamentar a atividade dos fundos de índice e dos especuladores que, segundo produtores e traders, estão levando o mercado a agir irracionalmente, desestimulando o hedge da produção em função do temor de irracionais chamadas de margem que comprometam o seu fluxo de caixa, além de impossibilitá-las de gerir o risco de maneira adequada. Veja o caso do açúcar, por exemplo, a demanda física do produto está pela hora da morte, no entanto, os especuladores detêm uma posição comprada de 150.000 lotes (7,5 milhões de toneladas). É muito dinheiro que vai para os fundos devido ao melhor retorno - comparado à inflação - nas aplicações em commodities, se comparado com o mercado acionário e de títulos.
Sou contra interferências diretas na posição dos fundos porque, afinal, são os especuladores que dão liquidez ao mercado. A regulamentação e controle deveriam no máximo se limitar ao aumento do depósito original, ou ainda, a limitação de financiamento de margem diária que acaba gerando uma alavancagem perigosa. Outra proposta, de gente que participou da reunião do CFTC sobre o tema, é de considerar como hedger apenas aqueles que compram o vendem a commodity no mercado físico. Todos os demais seriam tratados como especuladores. A questão é simples: estamos numa mudança de paradigma. É um mercado diferente em função de varias circunstâncias entre elas - e talvez a mais importante - a anêmica quase-esquelética condição da moeda americana. Consumidores devem aproveitar as baixas violentas e começar a formar seus estoques ou pelo menos estender a fixação ou proteção para o máximo período que puderem.
Os Fundos na berlinda
Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado de açúcar fechou a semana com queda de mais de 100 pontos no maio e no julho. A demanda de açúcar no mercado internacional, como já dito aqui nas últimas semanas, inexiste. A grande expectativa é de quantos lotes serão entregues fisicamente na quarta-feira. A pergunta que um corretor de NY fez é "por que ninguém quer receber açúcar em Maio, mesmo com um desconto de 7% em relação a Julho?". O spread chegou a ser negociado a 89 pontos, ou quase 20 dólares por tonelada. A questão é que muitas empresas hoje trabalham da mão para a boca, usando o jargão do mercado, ou seja, se cobrem em cima da hora, mesmo correndo o risco de haver alguma ruptura na equação da oferta e demanda que possa elevar os preços exponencialmente. E aí entra a analise fundamentalista que não consegue ver o que pode motivar essa situação no açúcar hoje. Quem recebe físico tem dois riscos, o de mercado e o de base. É por isso que ninguém quer açúcar mesmo com desconto de 7%. Porque não sabe para onde pode ir o desconto no físico, vulgo risco de base.
Na Europa não se fala noutra coisa a não ser na conversa fiada para boi dormir de que a produção de bio-combustiveis está causando um aumento generalizado nos preços dos alimentos. Sem contar da total falta de conhecimento nos editoriais dos jornais que acham que a Amazônia vai virar um imenso canavial.
Uma vez mais temos que comentar o recente desastre de operações em derivativos que levou uma empresa brasileira de sementes a perder, segundo estimativas do mercado, a quantia inacreditável de US$ 300 milhões. Segundo informação de alguns traders de grãos, a operação consistia em venda de volatilidade através de straddles, ou seja, a empresa vendia opções de compra e opções de venda no mesmo preço de exercício e vencimento, apostando que a volatilidade iria cair e que os preços se manteriam nos níveis que estavam no momento da operação. Com o aumento da volatilidade e trajetória de preços, houve aumento de chamada de margem. Uma espécie de operação Barings tupiniquim.
Existe uma gritaria geral nos Estados Unidos sobre a falta de comprometimento por parte do CFTC (espécie de CVM das commodities) de regulamentar a atividade dos fundos de índice e dos especuladores que, segundo produtores e traders, estão levando o mercado a agir irracionalmente, desestimulando o hedge da produção em função do temor de irracionais chamadas de margem que comprometam o seu fluxo de caixa, além de impossibilitá-las de gerir o risco de maneira adequada. Veja o caso do açúcar, por exemplo, a demanda física do produto está pela hora da morte, no entanto, os especuladores detêm uma posição comprada de 150.000 lotes (7,5 milhões de toneladas). É muito dinheiro que vai para os fundos devido ao melhor retorno - comparado à inflação - nas aplicações em commodities, se comparado com o mercado acionário e de títulos.
Sou contra interferências diretas na posição dos fundos porque, afinal, são os especuladores que dão liquidez ao mercado. A regulamentação e controle deveriam no máximo se limitar ao aumento do depósito original, ou ainda, a limitação de financiamento de margem diária que acaba gerando uma alavancagem perigosa. Outra proposta, de gente que participou da reunião do CFTC sobre o tema, é de considerar como hedger apenas aqueles que compram o vendem a commodity no mercado físico. Todos os demais seriam tratados como especuladores. A questão é simples: estamos numa mudança de paradigma. É um mercado diferente em função de varias circunstâncias entre elas - e talvez a mais importante - a anêmica quase-esquelética condição da moeda americana. Consumidores devem aproveitar as baixas violentas e começar a formar seus estoques ou pelo menos estender a fixação ou proteção para o máximo período que puderem.
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