segunda-feira, maio 12, 2008

O que os alemães pensam do biocombustível brasileiro

Encontrei a reportagem abaixo no Der Spiegel em inglês. Nele podemos verificar como os alemães enxergam a nossa produção de biocombustível e fazem um "mea culpa" com relação aos subsídios:


Carne Barata é mais ameaçadora para a Amazônia do que os biocombustíveis?
Por Christian Schwägerl

Brasil planeja expandir consideravelmente sua produção de biocombustíveis, mas os ambientalistas preocupam-se com os efeitos disso na floresta amazônica. O Ministro do Meio Ambiente alemão, que recentemente visitou o país, pensa que a demanda por carne barata representa um perigo ainda maior.

Quando o Ministro do Meio Ambiente Minister Sigmar Gabriel visitou um Centro de Pesquisa na Amazônia em Belém, se viu repentinamente no meio da discussão sobre os perigos que a floresta amazônica enfrenta. “Abaixo os preços dos alimentos!” gritava uma multidão de pessoas, quando elas marchavam em frente ao Museu de História Natural Goeldi, balançando bandeiras vermelhas. Naquele momento, Gabriel viu com seus próprios olhos porque sua visita ao Brasil é tão politicamente explosiva.

Os biocombustíveis – foco das negociações de Gabriel com o governo brasileiro durante sua visita de uma semana - ultimamente tem sido os culpados pela carência global de alimentos e a destruição da floresta.

Como o gigante verde, Brasil que subir ao conjunto de potências energéticas, usando o bioetanol produzido da cana-de-açúcar. Cerca de 70.000 quilômetros quadrados (7 milhões de hectares) já está sendo utilizados com esta cultura de rápido crescimento. No período de quatro anos está área está prevista para crescer para 120.000 quilômetros quadrados (12 milhões de hectares) e em 2025 para 210.000 quilômetros quadrados (21 milhões de hectares) – cerca do tamanho da Grã-Bretanha.

O bioetanol poderá tornar o Brasil independente de importações de petróleo e ser capaz de suprir 5% da demanda mundial de combustíveis. Para uma país emergente, isso é um cenário promissor – uma chance de adquirir um acento na mesa dos grandes e poderosos. Infelizmente estes sonhos estão agora sob ameaça conforme a euforia inicial dos biocombustíveis tem dado lugar ao ceticismo e em alguns casos até mesmo a pura rejeição.

Políticos têm medo que a demanda por áreas para a produção de biocombustíveis esteja diminuindo a produção agrícola e, como resultado, continuando a pressionar os preços dos alimentos para cima. Grupos ambientalistas, como o Greenpeace da Alemanha, dizem que embora a expansão do cultivo da cana-de-açúcar esteja ocorrendo em áreas longe da floresta amazônica, pode deslocar a produção de soja e a pecuária para áreas sensíveis do ponto de vista ecológico. No topo destes, os cientistas calcularam que o bioetanol produz mais gases do efeito estufa do que a gasolina normal.

Defendendo os Biocombustíveis

Na capital, Brasília, a Ministra do Meio Ambiente Marina Silva está montando a defesa dos biocombustíveis. Ela é considerada uma política com muita credibilidade, alguém que conhece as necessidades dos pobres. Depois de ter nascido em condições de muita pobreza, somente aprendendo a ler e escrever quando adolescente.
A proteção da floresta amazônica está em seu coração. Como filha de um seringueiro, ela cresceu na floresta. O líder da sua organização de proteção da floresta, Chico Mendes, foi morto como resultado de suas atividades.

Silva apresentou a Gabriel dados que faz com que os biocombustíveis pareçam verdes e ela lhe garantiu que o governo não esta está enganando. A expansão do cultivo da cana-de-açúcar está sendo regulado, ela disse, de forma que as savanas não estão sacrificadas e o plantio será feito principalmente em áreas de pastagens degradadas.
De acordo com Silva, no momento somente 1% do país é plantado com cana-de-açúcar – de forma que não possível estar competindo com a produção de alimentos. Ela adicionou que o banimento da utilização de soja para a produção de biocombustível está em previsão. E para proteção da floresta Amazônica, ela disse, o governo tem passado regras duras, que permite o bloqueio de empréstimos bancários para pecuaristas ilegais.

Gabriel pareceu confiante: “Do que eu ouvi, podemos aderir à importação”, disse o Ministro. Será dada aos brasileiros a “chance de provar que isto é possível”. A obrigação de demonstrar uma estratégia agrícola ambientalmente correta será parte do pacto de energia Alemanha-Brasil a ser assinado pela Primeira Ministra Ângela Merkel em breve em Brasília.

Em uma viagem pela Amazônia, o porta voz do Greenpeace expressou apoio aos planos governamentais. “Agora a cana-de-açúcar não é um problema. Ao contrário disso, ela pode ser parte da solução,” ela disse. Ainda, uma pesquisa do ministério do Meio Ambiente mostra como é tênue a linha para as importações de etanol: Somente quando a cana-de-açúcar é cultivada em áreas degradadas ela cria um balanço positivo de CO2. Mas os custos de fertilizar este tipo de solo podem estar entre US$ 400 e 500 por hectare.

Gabriel também está preocupado com os planos do Brasil em expandir sua produção de biodiesel. O Presidente Lula da Silva não quer utilizar soja como combustível, porque é uma importante fonte de alimento. Entretanto, o governo tem menores restrições quando se utiliza óleo de palma, mesmo que ele esteja consumindo florestas tropicais na Indonésia e Malásia como uma doença infecciosa.

Entretanto, o ministro alemão do Meio Ambiente não parece ver os biocombustíveis posando com o maior perigo para as florestas tropicais. Ele percebeu algo desconfortável: o grande problema relaciona-se com a soja que a Europa importa como ração animal, e os subsídios que são dados aos fazendeiros europeus. “Agricultores alemães estão lucrando com a derrubada da floresta tropical muito mais do que os brasileiros”, disse Gabriel. Ele argumenta que a sociedade alemã deve dar um olhar duro ao seu consumo de carne.

De seu ministério em Berlin, Gabriel está trabalhando em colocar um índice de sustentabilidade na ração animal e em outros produtos. Isto pode ter sérias conseqüências para empresas e consumidores em ter carne barata graças ao desmatamento da floresta tropical.

Mas após suas conversas em Brasília, Gabriel está agindo cuidadosamente com seus planos para certificar todos os produtos. “Quando algo vai muito rapidamente, a oportunidade de negociar é perdida”, ele disse. Mas esperar muito pode ser muito tarde para a Amazônia e Ásia.

Nenhum comentário: