segunda-feira, dezembro 15, 2008

Cana: Crescimento da moagem e muita cana deixada em pé

Duas notícias da Agência Estado publicadas hoje mostram o cenário atual do setor sucroalcooleiro. A primeira notícia disponibilizada às 12 horas e disponível na íntegra aqui, fala sobre a projeção da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que mostra um crescimento de cerca de 14% na cana moída nesta safra, totalizando 570 milhões de toneladas em 8,5 milhões de hectares.

E uma segunda notícia disponibilizada às 15 horas (disponível originalmente aqui) mostra que cerca de 320 mil hectares serão deixadas em pé nesta safra. Isso pode ter ocorrido devido à queda de demanda que favoreceu a decisão de não cortar a cana, problemas na montagem de usinas que atrasou a safra em algumas usinas e também a problemas de clima no início da safra.

Abaixo seguem as notícias na íntegra:

Conab: esmagamento de cana deve atingir 571,4 mi/t em 2008

Brasília, 15 - A indústria sucroalcooleira vai processar neste ano 571,4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, volume 13,9% superior ao processado no ano passado. A área cultivada com canaviais é de 8,5 milhões de hectares. A região Centro-Sul será responsável pela moagem de 87,9% da cana e o restante (12,1%) será processado nas regiões Norte e Nordeste. Os dados fazem parte do último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra de cana 2008, divulgado hoje.

Segundo o levantamento, as usinas irão processar 246,9 milhões de toneladas de cana para produção de 32,1 milhões de toneladas de açúcar. A produção de etanol vai consumir 325,3 milhões de toneladas de cana. A Conab estima a produção de álcool combustível em 26,6 bilhões de litros, sendo 10,1 bilhões de anidro e 16,5 bilhões de hidratado. Do total de cana processado pelo setor sucroalcooleiro, o volume destinado a produção de açúcar cresceu 6,7% e para o álcool, 20,1%.

O presidente da Conab, Vagner Rossi, avaliou que apesar da instabilidade registrada nos últimos meses, a valorização do dólar ajudou em parte o produtor a recuperar o preço de venda, estimulando as exportações. "Somos um dos maiores produtores de açúcar do mundo e referência na fabricação de combustível a partir de matrizes de energia renováveis", afirmou.

A produção total de cana-de-açúcar no País neste ano somará 651,5 milhões de toneladas. Para cachaça, rapadura e ração animal serão destinadas 80,1 milhões de toneladas de cana.

A Conab informou ainda que a matéria-prima plantada em 315,9 mil de hectares só irá para indústria no início do próximo ano, porque com as chuvas ocorridas em abril e maio na região Centro-Sul e o atraso do início de operação de novas unidades de produção, os usineiros não tiveram tempo suficiente para moer toda a cana. (Fabíola Salvador)

Cana deixada em pé reflete crise no setor, avalia Conab

Brasília, 15 - O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Wagner Rossi, afirmou hoje que a crise financeira internacional reduziu a demanda por açúcar e álcool e influenciou na decisão da iniciativa privada de deixar de colher 315,9 mil hectares de cana-de-açúcar na safra atual. Ele disse que as chuvas verificadas nos meses de abril e maio no Centro-Sul também determinaram esse quadro.

O diretor de Cana-de-açúcar e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Alexandre Strapasson, informou que o volume de cana que não foi cortado vai acabar favorecendo o mercado de açúcar e álcool no ano que vem. "As unidades vão antecipar o esmagamento", comentou ele, ao lembrar que a entressafra da cana termina em abril.

Strapasson afirmou que o governo esperava volume maior de cana "bisada", que é um termo técnico para o canavial que não é cortado no ano-safra em que deveria ser tido colhido. De acordo com ele, o volume ficou abaixo do previsto pelo governo porque muitas usinas continuaram esmagando a safra além do período normal. Ele observou que muitas usinas do Centro-Sul ainda estão esmagando a cana, quando o normal seria a paralisação das atividades nesta época do ano.

O presidente da Conab ressaltou que a crise internacional, que resultou na falta de crédito, prejudicou o ritmo de instalação de novos projetos de usinas sucroalcooleiras. A falta de recursos também deve comprometer a adubação dos canaviais, o que pode reduzir a produtividade da cana no ano que vem. "A euforia não é bom conselheiro para os negócios. É preciso fazer negócios com segurança", afirmou Rossi.

O presidente da Conab acrescentou que, antes da crise, havia disponibilidade de dinheiro no mercado internacional, o que facilitava a construção de novas usinas. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, existem 417 usinas instaladas no Brasil, das quais 30 foram inauguradas este ano. O número de inaugurações é similar ao do ano passado.

Strapasson informou que existe potencial para exportação de etanol, mas que muitos mercados ainda não foram efetivamente abertos. O diretor comentou também sobre o abastecimento de álcool na entressafra na Região Centro-Sul, que vai de janeiro a março. Nesse período, ele acredita que haverá pequena elevação dos preços do álcool. "Há um custo para carregar estoques e a iniciativa privada vai repassá-lo aos preços". Ele não falou sobre níveis de preço, mas lembrou que a variação está diretamente relacionada ao preço da gasolina.

Estoque

O diretor do Ministério da Agricultura disse que a expectativa é de estoque ajustado à demanda no início de 2009. Hoje o estoque soma cerca de 5,2 bilhões de litros de álcool e a variação até o período de entressafra dependerá da relação de preço entre álcool e gasolina.

Strapasson observou que este ano o mercado foi de preço baixo para o consumidor, o que favorece a população, mas impede novos investimentos. Ele salientou que o cenário é positivo para o mercado de açúcar, já que as projeções indicam crescimento da demanda mundial. Ele disse que as projeções indicam déficit de 3 milhões a 7 milhões de toneladas de açúcar no mercado internacional. Parte desse déficit é justificada pela queda na produção da Índia.

O Brasil é responsável, segundo Strapasson, por cerca de 40% do mercado mundial de açúcar. Apesar da aposta no mercado externo, ele disse que no caso do álcool o grande potencial de venda está no mercado doméstico, onde a demanda por carros flex (bicombustível) é cada vez maior.

Sobre o mecanismo de apoio à produção de açúcar e álcool do Nordeste, prevista na Medida Provisória 449, Strapasson comentou que a expectativa é que o modelo de apoio seja definido e aprovado nas próximas semanas. (Fabíola Salvador)

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