segunda-feira, dezembro 22, 2008

Aumenta internacionalização na produção de álcool no Brasil

Conforme era esperado devido aos grandes investimentos realizados por empresas internacionais no setor sucroalcooleiro, o Valor Econômico de hoje noticia o aumento da participação destas empresas na produção canavieira. Abaixo segue a notícia na íntegra:

Cresce a participação dos estrangeiros na moagem de cana
Mônica Scaramuzzo, de São Paulo

A participação de grupos estrangeiros na moagem de cana no Brasil deverá crescer de forma expressiva na safra 2009/10, que terá início a partir de março de 2009. A fatia saltará dos 12,4% neste atual ciclo para 14,4%, segundo levantamento da consultoria Datagro. No início dos anos 2000, o capital internacional respondia por pouco mais de 1% da produção nacional.

O crescimento do capital estrangeiro no setor sucroalcooleiro deve-se, sobretudo, aos novos projetos "greenfield" (construção a partir do zero) que estão entrando em operação no país, e aos recentes investimentos de grupos internacionais.

Nesta safra, a 2008/09, os grupos estrangeiros deverão moer cerca de 70 milhões de toneladas de cana, aumento de 24% sobre o ciclo passado (de 56,25 milhões de toneladas). Para 2009/10, a expectativa é de que o processamento da cana de usinas controladas por capital internacional atinja 85 milhões de toneladas.

O avanço do capital externo no setor começou a se intensificar a partir do ano passado, com fortes aportes de grupos e fundos de investimentos no país. No início de 2007, o grupo francês Louis Dreyfus comprou, de uma só tacada, comprou cinco usinas, totalizando oito unidades. Para 2009/10, a companhia planeja processar 20 milhões de toneladas, um aumento de 30% sobre 2007/08.

Neste ano, a Bunge anunciou aquisições e projetos de construção de usinas, aumentando sua fatia no setor. Fundos estrangeiros, como a CEB (Clean Energy Brazil), também aportaram recursos em usinas nacionais.

Segundo Plínio Nastari, presidente da Datagro, o balanço também inclui a fatia de investidores estrangeiros em grupos nacionais, como a Cosan, São Martinho e Tereos, controlador da Açúcar Guarani. A trading japonesa Sojitz também adquiriu participação na ETH Bionergia, da Odebrecht. Em 2009, a ETH, com duas usinas em operação, planeja dar início às operações de três novas unidades.

Para a safra 2009/10, a Datagro prevê uma moagem de 588 milhões de toneladas de cana no Brasil, um aumento de 4,2% sobre o atual ciclo, de 564 milhões de toneladas. No Centro-Sul, onde estão concentrados os principais grupos estrangeiros, o processamento de cana está estimado em 520 milhões de toneladas, aumento de 4,4% sobre o atual ciclo (498 milhões de toneladas).

A moagem de cana poderia ser maior no país, caso as usinas processassem toda cana disponível nas lavouras. A Datagro prevê que entre 20 milhões e 30 milhões de toneladas deverão ficar em pé nos canaviais em 2008/09. Em 2009/10, esse volume poderá atingir até 40 milhões de toneladas.

Com escassez de crédito, boa parte das usinas deverá renovar pouco os canaviais e reduzir os reparos em equipamentos industriais. "Não acho que essa seja a pior crise de todos os tempos para o setor. Apesar da turbulência, a demanda para açúcar e álcool é crescente, diferentemente de outros setores, como mineração, por exemplo", disse Nastari.

Segundo Nastari, a pior crise do setor ainda é a de 1999. "O setor iniciou a safra 2000/01 com estoques de 1,8 bilhão de litros de álcool nas mãos das usinas. Foi um período muito difícil, logo após a desregulamentação do governo sobre os preços. O setor não tinha experiência na comercialização independente de álcool", observou. Àquela época, as cotações do álcool no mercado estavam três vezes abaixo dos custos de produção.

Nesta safra, os preços do álcool também operaram abaixo dos custos durante o pico da colheita. Na sexta-feira, o litro do anidro fechou a R$ 0,,879 (sem imposto), queda de 0,28% sobre a semana anterior; o hidratado fechou a R$ 0,7386, alta de 0,36% sobre a semana anterior, segundo o Cepea.

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