segunda-feira, junho 30, 2008

Pioneiros do agronegócio segundo Luis Nassif

O texto abaixo foi retirado do Blog do Luis Nassif (Luis Nassif Online) e apesar ser um pouco antigo (quase um ano), achei interessante postá-lo:

Os pioneiros do agro-negócio

Coluna Econômica – 24/08/2007

Essa coluna foi escrita com o auxílio dos leitores do Blog.

Há duas revoluções em curso na agricultura brasileira, pouco notadas, mas que ajudaram o agronegócio a chegar onde chegou e permitirá, nos próximos anos, saltos maiores dentro do conceito de auto-sustentabilidade. Nesse país de tantos falsos heróis, apenas os homens do campo reconhecem os pioneiros da grande revolução do agronegócio.

Uma das revoluções foi o Plantio Direto, que acabou com as queimadas na agricultura e permitiu o primeiro grande salto tecnológico nas formas de cultivo – paralelamente aos avanços da Embrapa.

Como explica o leitor Adauto, o plantio direto permite menor revolvimento do solo pela não utilização de arado ou grades contribuindo para menor erosão e menor compactação do solo. Desta forma, a palha de uma safra se acumula atrás da outra, melhorando as condições físicas e orgânicas, favorecendo a absorção de água e o aprofundamento das raízes.

Nas lavouras tradicionais, como soja e milho, diz ele, não se usa há muitos anos a queimada. O arado foi importada da Europa, onde era obrigatório devido ao inverno rigoroso. Havia a necessidade de inverter as camadas do solo para que houvesse aquecimento mais rápido.

O Brasil acabou importando um modelo que não era adequado para um país tropical.

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A revolução começou em 1972, quando o agricultor Herbert Bartz, de Rolândia (Paraná), segundo conta o leitor Walder Paula, baseado em tecnologia desenvolvida no Kentucky, importou equipamentos e iniciou o PD (plantio direto) em sua propriedade. Ao mesmo tempo Nonô Pereira e Frank Dijkstra iniciaram o PD nos campos gerais de Ponta Grossa/PR.

Antes do PD, foram cometidas verdadeiras barbaridades ecológicas, conta Walder. Em Rondonópolis, sua região, houve uma erosão eólica das piores, que acabou revertida com a propagação do Plantio Direto.

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Explica o leitor Roberto Barbosa, que o PD ajudou ao produtor rural não só a aumentar a produtividade como a diminuir a erosão do solo pela manutenção de uma camada protetora de restos vegetais das safras anteriores.

A queimada está mais ligada à pecuária, diz ele. Com a integração pecuária-agricultura o pecuarista/agricultor planta soja em PD, não queima o solo e semeia capim depois da colheita do grão.

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E aí se entra na segunda grande revolução, que é a integração lavoura-pecuária com plantio direto, cujo maior propagador é outro herói da agricultura brasileira, John Landers, coordenador de Novos Projetos e Relações Internacionais.

Estudos minuciosos realizados na área do Cerrado mostraram que havia ganhos consideráveis com a chamada rotatividade de culturas. Depois, se agregou o Plantio Direto. Finalmente, incluiu-se a rotatividade lavoura-pecuária. O modelo permite, por exemplo, plantar uma oleaginosa, tirar o óleo, usar a palha para fertilizar a terra e o bagaço para fazer ração.

Além da melhoria da rentabilidade, esse processo confere à agropecuária uma estabilidade econômica inédita em termos mundiais, mudando formato de financiamento e a própria lógica econômica do campo.

Os pioneiros

Segundo o leitor Alexandre Porto, papel relevante teve, também a agrônoma Ana Maria Primavesi que sistematizou e deu consistência teórica à técnica em seu revolucionário livro, Manejo Ecológico do Solo, lançado em 1979. Ela expôs com clareza a diferença entre as características do solo tropical e temperado. Explica ele: Nós ainda vivemos no conflito entre a técnica de aração européia e da coivara indígena, ambos relativamente danosos à conservação do solo e do meio ambiente como um todo.

Ecologia e negócios - 1

Frans Claassens é presidente da Força Tarefa Holandesa de Soja Sustentável. Junta as principais multinacionai que atuam na cadeia produtiva da soja. Faz parte também da Agência de Promoção e Informações Sobre Margarina, Gordura e Óleos. Sua preocupação maior é com as questões ambientais brasileiras, por uma razão objetiva: cada vez mais consumidores e ONGs estão definindo as regras para a compra de alimentos.

Ecologia e negócios - 2

Cada vez mais, os consumidores – especialmente os europeus – estão incluindo questões cada vez mais civilizatórias na análise das práticas das empresas. Quem define o que é politicamente correto são consumidores e ONGs, diz ele

Três temas são particularmente sensíveis:

1. Destruição da biodiversidade na Amazônia.

2. Práticas agrícolas não sustentáveis.

3. Questões sociais: como posse de terra

Nos últimos anos, foram desenvolvidas várias metodologias para certificação de fazendas ou regiões, visando qualificar fazendas ou regiões das diversas culturas.

Safra mundial de grãos ultrapassa 1 bi de toneladas

Segundo o Commodities News for Tomorrow de 26 de junho, o International Grains Council (Conselho Internacional de Grãos) divulgou relatório onde prevê uma safra mundial de grãos de 1,711 bilhões de toneladas, um milhão de toneladas abaixo de previsão do mês passado e cerca de 25 milhões de toneladas acima do ano passado.

A previsão para a safra de trigo foi elevada enquanto que houve redução para a projeção de milho, sorgo e cevada. A produção mundial de trigo foi estimada em 658 milhões de toneladas, 8 toneladas acima da projeção de maio e 50 acima da produção do ano passado. Segundo o ICG, apesar das fortes chuvas nos EUA, a safra de inverno de trigo será a maior desde 1998.

A projeção para a safra de milho é de 765 milhões de toneladas, 7 milhões de toneladas abaixo da previsão de maio e 30 milhões abaixo da safra 2007-08. “As enchentes do meio-oeste americano atrasaram o plantio”, segundo o ICG. “Os danos ainda não foram completamente avaliados, mas a estimativa da safra americana é de redução de 17 milhões de toneladas, caindo para 295 milhões”.

O ICG também reduziu a previsão da produção global de cevada em 2 milhões de toneladas com relação à previsão de maio de 146 milhões de toneladas, mas ainda superior à safra 2007-08 de 134,9 milhões de toneladas.

A previsão da produção de sorgo também foi revisada para baixo em 1 milhão de tonelada com relação à previsão do mês passado de 62,6 milhões de toneladas. A safra é menor do que a safra passada que foi de 67 milhões de toneladas.
Apesar da redução da previsão da safra mundial de grãos, o ICG elevou seus números dos estoques de passagem da safra 2008-09 para 274 milhões de toneladas. Este valor é 12 milhões de toneladas superior às projeções de maio e não difere do valor dos estoques da safra passada.

Cenário de equílibrio para o álcool segundo Roberto Rodrigues

Em artigo publicado sexta-feira (27 de junho) na Gazeta Mercantil, o ex-ministro Roberto Rodrigues faz uma análise remetendo a um cenário de equilíbrio do mercado de álcool no Brasil:

DESENHA-SE UM CENÁRIO DE EQUILÍBRIO NO ETANOL

Cerca de 88% de todos os carros vendidos mensalmente no Brasil são modelos flex. Isto se deve ao fato de o álcool ter custado na bomba, nos últimos dois anos, menos de 60% do preço da gasolina. É a lógica dos preços e da qualidade, que orienta o consumidor no melhor combustível a usar. E esta é a grande vantagem do carro flex. Apesar de os preços da gasolina serem mantidos baixos artificialmente nas refinarias, ela vem apanhando tão espetacularmente do etanol que o governo deu-lhe uma mãozinha no último aumento, via Cide.

Com efeito, para não haver aumento para o consumidor, o governo reduziu a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que é o imposto sobre a gasolina, deixando-a zerada na bomba, retirando com isso a chance do etanol melhorar ainda mais sua performance. Mesmo assim, o mercado interno vem sendo o grande aliado do etanol.

O consultor Luis Carlos Corrêa Carvalho, um dos maiores especialistas brasileiros neste setor, fez uma série de análises sobre as tendências deste produto estratégico para o futuro próximo, considerando o crescimento do consumo interno e também o das exportações.

Segundo ele, neste ano, as vendas mensais de etanol só no Centro-Sul estão superiores a 1,5 bilhão de litros, 30% a mais que no mesmo período do ano passado. Somando esta litragem com o consumo do resto do País, há indicações de uma demanda interna próxima a 20 bilhões de litros em 2008. Este foi o tamanho da produção nacional total em 2007.

Por outro lado, as exportações devem crescer 1 bilhão de litros este ano, chegando perto dos 4,5 bilhões de litros, devido aos altos custos do milho nos Estados Unidos e do trigo na Europa, que reduzem a margem industrial dos produtores destas regiões, nas quais a demanda também vem crescendo.

Tudo considerado, o consumo total do nosso etanol deve passar de 24 bilhões de litros em 2008, para uma produção próxima a 25 bilhões de litros. Mas esta produção, que seria um recorde, depende de a safra melhorar, porque, com as chuvas intensas que tivemos até maio, a qualidade das canas está muito baixa, com um rendimento industrial medíocre, isto é, menos açúcar e álcool por tonelada de cana. Como o volume da produção da matéria-prima cresceu 16% do ano passado para este ano só no Centro-Sul, se a qualidade tiver uma melhora, aqueles números se confirmarão.

Tudo isso ajuda a estabelecer uma safra mais alcooleira do que açucareira: os preços do etanol vão remunerar mais que os do açúcar, inclusive por causa da puxada do petróleo, cujo valor está bem acima de US$120 o barril. Os preços do açúcar, por sua vez, seguem abaixo dos custos de produção, em face dos grandes excedentes produzidos na Índia e dos elevados estoques mundiais.

Com tais variáveis, a conclusão era evidente: os baixos preços do açúcar, sem perspectiva de melhoria a curto prazo, fizeram os produtores aumentar a oferta de álcool, o que também baixou os preços para o consumidor. Como resultado perverso desta situação, a matéria-prima cana-de-açúcar vem recebendo uma remuneração abaixo dos custos de produção desde o ano passado, um verdadeiro desastre para a classe dos fornecedores de cana, aqueles agricultores que não têm indústria, mas que dependem dela. E que estão quebrando, em um inacreditável contra-senso neste momento de explosão do crescimento do setor como um todo.

Mas agora, com o cenário de equilíbrio entre oferta e demanda do etanol desenhado por Luis Carlos Corrêa Carvalho, acompanhado de menor produção de açúcar no Brasil, surge uma possibilidade de, já no segundo semestre deste ano, haver uma melhora nos preços da cana, aliviando os fornecedores independentes.

Mesmo assim, o setor como um todo precisa de políticas públicas mais efetivas, sem subsídios ou barreiras a terceiros, mas com sinais positivos ao mercado, especialmente para sustentar os preços do açúcar e reequilibrar a cadeia produtiva.

Uma possível solução seria a compra governamental do açúcar durante a safra, para revenda na entressafra, política parecida com a que se faz com grãos ou café nos momentos de preço muito ruim. É um jogo de ganha-ganha, porque os preços se estabilizam ao longo do tempo e mantêm o Brasil na rota irrecorrível de grande líder mundial da biomassa, que haverá de mudar para melhor a geopolítica do planeta. E que, sem dúvida, já está mudando o paradigma e a geografia agrícola em todos os continentes

(Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior da Fiesp, professor de Economia Rural da Unesp (Jaboticabal) e ex-ministro da Agricultura; Gazeta Mercantil, 27/06/08)

Números da expansão do agronegócio brasileiro

Encontrei, no Anuário de Agronegócios da EXAME, alguns números interessantes da evolução do Agronegócio Brasileiro nos últimos anos.

Os números de produção e exportação das principais culturas e criações (Soja, Bovinos, Suínos, Aves, Cana-de-açúcar, Milho, Algodão, Café, Leite e Laranja) mostram um crescimento considerável e encontram-se mostrados abaixo. Para cada cultura temos um gráfico com os valores da produção nas colunas e os valores das exportações na curva em amarelo.







Conforme podemos verificar em todos os gráficos, ocorre um crescimento expressivo das exportações. Com relação aos valores relativos à produção das commodities, existem algumas commodities com pequena variação, apesar do conjunto mostrar crescimento. Visando mostrar o crescimento do setor como um todo, elaborei um gráfico com a média das produções relativizadas com base em 2000 e a soma dos valores das exportações.

Neste gráfico verificamos que as exportações deram um salto no período, passando de US$ 10 bilhões em 2000 para US$ 40 bilhões em 2007, enquanto que a média das produções passou de 100 em 2000 para 123 em 2004 onde se manteve praticamente constante até 2006.

quinta-feira, junho 26, 2008

Medo do Friboi?

Segundo notícia da Agência Estado publicada abaixo, já existem movimentos no sentido de tentar frear o avanço da Friboi nos EUA

Senador dos EUA pede bloqueio de compras do Friboi

Hélio Barboza - Agência Estado

O senador democrata norte-americano Herb Kohl, do Estado de Wisconsin (EUA), recomendou que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos bloqueie a compra da processadora de carne de boi National Beef Packing e da divisão de carne Five Rivers Ranch Cattle Feeding, da Smithfield, pelo frigorífico brasileiro Friboi.

O senador, que preside o Subcomitê de Direitos do Consumidor, Políticas de Concorrência e Antitruste do Senado dos EUA, disse que as compras são anticompetitivas e poderiam causar substancial dano à concorrência e aos consumidores.

Em uma carta enviada ontem ao promotor-geral assistente Thomas Barnett, da divisão antitruste do Departamento de Justiça norte-americano, o senador lembra que o Friboi é a terceira maior empresa processadora de carne dos EUA e que a compra da National e da Smithfield, respectivamente a quarta e a quinta maiores do país, deixaria apenas três empresas do setor no mercado norte-americano, com o frigorífico brasileiro na liderança.

"Essas três empresas remanescentes terão mais de 80% de participação no mercado de abate de bois e novilhos e o Friboi sozinho controlará quase um terço do mercado", diz a carta.

Segundo o senador, tal nível de concentração em um setor já convergente reduziria de cinco para três o número de compradores de gado, e em algumas regiões até a dois, dando "enorme poder de compra às processadoras de carne restantes". Kohl afirma que os criadores de gado seriam deixados em uma posição de "pegar ou largar" nas negociações de venda do gado.

"No nível nacional, as compras do Friboi juntariam sob sua propriedade exclusiva 11 unidades de processamento de carne, agora controladas por três processadoras", diz o senador. "No nível regional, muitos fazendeiros e abatedouros ficariam com apenas uma, na melhor das hipóteses duas, unidades de processamento de carne para vender seu gado."

Kohl acrescenta preocupações relativas aos preços dos alimentos para argumentar contra o negócio que, segundo ele, aumentaria ainda mais o preço da carne nos EUA.Como alternativa ao bloqueio da transação, o senador democrata sugere que o Friboi renuncie à compra do Five Rivers, da Smithfield.

O Five Rivers, maior abatedouro dos EUA, comercializa cerca de dois milhões de cabeças de gado por ano. Segundo Kohl, a compra do Five Rivers daria ao Friboi uma enorme oferta cativa de gado e prejudicaria os produtores independentes.

quarta-feira, junho 25, 2008

Evento da BM&FBovespa mostra cenário positivo para agronegócio

Participei ontem de do Seminário "Perspectivas para o Agribusiness 2008 e 2009" em São Paulo e abaixo encontra-se a resenha elaborada pela BM&F e todas as apresentações podem ser obtidas no site da BM&F:

Brasil tem uma “janela de oportunidade” no agronegócio

As oportunidades que o País pode ter com o atual cenário das commodities agrícolas e as altas nos custos de produção foram as tônicas do seminário “Perspectivas para o Agribusiness 2008 e 2009” promovido pela BM&FBOVESPA e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em 24 de junho, em São Paulo. Na conferência de abertura do evento, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, lembrou que o mundo passa por novo momento e que o Brasil tem área suficiente para aumentar a oferta de alimentos mundiais. Em sua avaliação, o País tem pelo menos 50 milhões de hectares de áreas degradadas de pastagens a serem utilizadas pela agricultura e número semelhante ainda não explorado.

Stephanes acredita que os patamares de preços mundiais dos alimentos continuem nos níveis atuais em 2009, podendo ter “novo choque” no ano seguinte. Quanto aos custos elevados de produção, o ministro disse que o Brasil tem dependência grande da importação de alguns insumos, mas espera em cinco a 10 anos ser auto-suficiente na produção de fósforo.

O presidente do Conselho de Administração da BM&FBOVESPA, Gilberto Mifano, destacou, na abertura do evento, o tamanho do agronegócio brasileiro, que responde por 23% do Produto Interno Bruto (PIB) e 36% das exportações, lembrando que o atual cenário de preços mais altos dos alimentos é, na verdade, uma oportunidade. Acrescentou que “a agricultura é uma ilha, cercada de riscos por todos os lados” e, nesse sentido, que a cobertura de hedge ainda é muito pequena em face do tamanho do agronegócio. Por sua vez, o vice-chairman do CME Group, Charles Carey, também destacou as oportunidades de negócios no País: “O Brasil é um mercado muito atrativo.”

Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), apoiadora do seminário, disse que “tudo se desenha para um recorde em 2008/09”. Mas se mostrou preocupado com a questão do crédito para o financiamento do setor, uma vez que os custos estão mais altos. Segundo ele, será importante uma compensação do governo (via instrumentos de comercialização), além da necessidade de desoneração tributária do setor.

O otimismo frente ao cenário mundial só foi desfeito pelo economista Paulo Rabello de Castro, sócio-diretor da RC Consultores. De acordo com ele, a recessão nos Estados Unidos pode provocar um freio na expansão da economia de outros países e, por conseqüência, os preços das commodities teriam queda de 7%.

O secretário de Política Agrícola do ministério, Edílson Guimarães, destacou a importância do aporte do seguro rural e também do desenvolvimento de novos mecanismos de financiamento do agronegócio, como os títulos agropecuários.

O diretor de Produtos de Agronegócio e Energia da BM&FBOVESPA, Ivan Wedekin, disse que o setor ainda tem grande possibilidade de crescimento, lembrando que os contratos futuros financeiros giram oito vezes o PIB nacional, enquanto os agropecuários apenas 4,5 vezes. Wedekin acredita que a parceria da BM&FBOVESPA com o CME Group possibilitará a expansão desses contratos e anunciou novos papéis criados para o setor, em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Esses contratos foram detalhados pela gerente de Pecuária e Energia da BM&FBOVESPA, Fabiana Perobelli. Segundo ela, o contrato de milho terá base local (seis praças) e o do algodão formação de preço em Santos (SP). Também será lançado o contrato do Índice de Commodities Agrícolas.

O encontro foi encerrado por Gustavo Franco, da Rio Bravo Investimentos, que destacou a importância de o País fazer a lição de casa e reduzir os gastos, sem aumentar os juros.

Setoriais

O seminário teve palestras setoriais à tarde. Quanto aos produtos milho, aves e suínos, a avaliação de Leonardo Sologuren, sócio-diretor da Céleres, é que o Brasil tem condições de aumentar a área plantada e, se os Estados Unidos se focarem no etanol deste grão, haverá oportunidade de exportação para o Brasil. A consultoria prevê 24,1 milhões em 2017/18. Fernando Pereira, da Agroceres, estima que as exportações de suínos cresçam, em volume, 8% este ano. “Estamos em um cenário único tanto para aves quanto para suínos, mas dependemos da produção de grãos”, lembrou. Por sua vez, Fernando Pimentel, da AgroSecurity, afirmou que o milho se “commoditizou” tanto quanto a soja e, portanto, os consumidores (indústrias de frango e suíno) devem usar mecanismos de proteção e compras antecipadas.

Para o algodão, Eduardo Figueiredo, da Tradeagro, disse que o Brasil precisa aproveitar a oportunidade de queda de produção em outros países, em detrimento dos grãos, para expandir sua exportação. Nesse sentido, diante da maior rentabilidade dos grãos, ele insistiu em intervenção estatal que estimule o plantio da fibra.

Para o café, de acordo com Aguinaldo José de Lima, do Mapa, o cenário é de uma safra menor no ano que vem. Segundo ele, a bianualidade, em relação à produção atual, que é grande, seria entre 10% e 20% menor. Ele lembra também que apesar da safra atual maior, os preços não tendem a cair significativamente porque os estoques estão baixos. Mas alertou que o câmbio irá reduzir a rentabilidade do setor.

A questão climática nos Estados Unidos foi ponto central do cenário para a soja. O diretor da Agroconsult, André Pessôa, lembrou que os estoques da oleaginosa estão baixos nos EUA e que há chance de que caiam ainda mais diante das perdas que aquele país deve ter em função das inundações. Informou que, apesar de um cenário de preços mais altos, os custos também se elevaram, ressaltando a importância da necessidade de financiamento. Segundo ele, a migração, no Brasil, do milho para a soja ou vice-versa dependerá do emprego de tecnologia.

Para a pecuária, os especialistas destacaram a continuidade do ciclo de alta, com a capacidade de abate brasileiro superior à oferta.

Para açúcar e álcool, os especialistas afirmaram é que a tendência é a safra continuar mais alcooleira. O cenário, de acordo com Arnaldo Corrêa, da Archer Consulting, é de 70% para o álcool a 30% para o açúcar em cinco anos.

segunda-feira, junho 23, 2008

Biocombustível em avião

Em nota publicada no Valor, verificamos o ínicios dos testes por parte da JAL de biocombustíves em sua frota comercial:

Japan Airlines anuncia vôo teste com biocombustível

A companhia aérea Japan Airlines informou hoje que planeja realizar, antes de março de 2009, o primeiro vôo comercial da Ásia utilizando biocombustível no avião.

A iniciativa é parte da política internacional de redução de emissões de CO2 pelas empresas do setor aéreo. O teste será realizado em um Boeing 747 equipado com reatores da norte-americana Pratt & Whitney, sendo um deles alimentado com uma mescla de biocombustíveis de vegetais não-comestíveis.

A empresa japonesa será a primeira asiática e a quarta do mundo a realizar esse tipo de teste, já feito por Virgin Atlantic (Inglaterra), Air New Zealand (Nova Zelândia) e Continental Airlines (EUA). "Acredito que nós podemos promover o desenvolvimento dos biocombustíveis e contribuir para o encaminhamento do seu uso prático", disse o presidente da Japan Airlines, Haruka Nishimatsu, durante conferência em Tóquio.

O preço crescente do barril de petróleo vem colocando uma importante pressão de custos sobre as companhias aéreas. "É problemático depender de combustíveis derivados do petróleo também em termos de sustentabilidade", completou o executivo.

Mercado financeiro com olhos no agronegócio

As ações de empresas do agronegócio estão atraindo os investidores, conforme podemos verificar na reportagem abaixo do Wall Street Journal publicada em 03 de junho no BrasilAgro:

AÇÕES AGRÍCOLAS ATRAEM MAIS ATENÇÃO

Não são só empresas grandes e conhecidas como a americana Monsanto Co. que têm ações ligadas à agricultura beneficiadas pela alta dos preços de alimentos: a fabricante alemã de sementes de milho e beterraba KWS Saat AG viu sua ação dar um salto de 50% nos últimos nove meses.Se você nunca ouviu falar da KWS Saat, não está sozinho.

Ela é uma de dezenas de companhias relacionadas a alimentos ou agricultura pouco conhecidas que os investidores e analistas internacionais abraçaram na tentativa de pegar carona na onda das ações agrícolas.Empresas com grandes plantações ou criações de gado têm maior potencial, mas também são mais arriscadas - porque, afinal, é agropecuária.

A gaúcha SLC Agrícola SA, com valor de mercado de US$ 1,7 bilhão, planta milho, algodão e soja numa área de 165.000 hectares.A NZ Farming Systems Uruguay Ltd., cuja ação está registrada em Wellington, na Nova Zelândia, e tem valor de mercado de US$ 355,8 milhões, acumulou 40.000 hectares no Uruguai para pecuária leiteira.

Ela está colocando em prática suas próprias técnicas, como fertilizar o pasto e deixar água disponível para o gado a todo momento. A empresa espera ter seu primeiro lucro no ano que vem.Ainda mais arriscadas são empresas como a Landkom International PLC, listada em Londres e com valor de US$ 340 milhões, e a Black Earth Farming Ltd. (Frankfurt, US$ 1,2 bilhão). Elas cultivam trigo e colza na ex-União Soviética.

A PrimeAg Australia Ltd., registrada em Sydney e com capitalização bursátil de US$ 254 milhões, é mais segura na frente legal, mas vulnerável às secas episódicas da Austrália.Os beneficiários do boom para tratores, colheitadeiras e enfardadeiras são titãs mundiais como Deere Co. e CNH Global NV, ambas registradas na Bolsa de Nova York - assim como empresas menores como a Kverneland Group, listada em Oslo.

As receitas dela subiram 24% no primeiro trimestre, para 159 milhões de euros (US$ 247 milhões).A tecnologia de satélite pode ajudar os fazendeiros a cortar o uso de combustível tornando as rotas de plantação e colheita mais eficientes. Isso está beneficiando empresas como a Hemisphere GPS Inc., que é negociada em Toronto.

Apesar de uma recente queda em parte por causa da queda do dólar, suas ações estão sendo negociadas entre US$ 25 e US$ 30, quatro vezes a cotação de alguns anos atrás."Os altos custos do combustível e a inflação de alimentos são uma situação de sonho para essa turma", diz Barry Richards, analista da Paradigm Capital Inc., de Toronto.Por causa da natureza cíclica e volátil da agricultura, essas não são ações para deixar paradas na carteira.

A Deere, que já foi uma opção de compra popular, caiu 15% recentemente por causa de perspectivas ruins de lucro. Dados os riscos, os sinais de venda são cruciais. Robert Koort, analista da Goldman Sachs em Houston, fez recentemente um levantamento aprofundado com três fazendeiros americanos do que eles enxugariam das despesas se as receitas caíssem. Primeiro seriam equipamentos. Depois químicos e fertilizantes. Por último, sementes.

Anuário do Agronegócio – as 10 maiores

Foi lançada na semana passada a edição 2008 do Anuário de Agronegócios da Exame. Neles estão vários dados interessantes sobre o agronegócio brasileiro que, aos poucos, disponibilizarei aqui na forma resumida.

Abaixo segue a lista com as 20 maiores empresas e seus respectivos faturamentos em milhares de reais (base 2007):

1. Bunge Alimentos - 14.384,8
2. Cargill - 11.656,0
3. Souza Cruz - 10.385,7
4. Unilever - 10.199,5
5. Sadia - 9.592,7
6. Perdigão - 6.799,8
7. Nestlé - 6.613,9
8. Bunge Fertilizantes - 6.167,4
9. Basf - 4.949,2
10. Copersucar - 4.713,9
11. JBS Friboi - 4.668,7
12. ADM - 4.605,8
13. LDC Brasil - 4.423,9
14. Bracol Holding - 4.123,7
15. Suzano - 3.984,7
16. Kraft Foods - 3.826,3
17. Klabin - 3.528,4
18. Coamo - 3.494,8
19. Bayer - 3.236,8
20. Dupont - 3.014,6

Conforme podemos observar, apenas três empresas brasileiras fazem parte das 10 maiores: Sadia, Perdigão e Copersucar.

Isto mostra o grau de internacionalização de nosso agronegócio, devido principalmente ao tamanho de nosso mercado e da nossa aptidão.

terça-feira, junho 17, 2008

UNICA lança cartilha para desmitificar álcool de cana

A UNICA acaba de lançar, em inglês, uma cartilha para desmitificar a produção de álcool no Brasil. São sete MITOS rebatidos por sete FATOS:

Mito 1 - O etanol brasileiro de cana-de-açúcar leva ao desmatamento da Amazônia;

Mito 2 - A expansão da cana-de-açúcar desloca outras culturas para a Floresta Amazônica;

Mito 3 - O Brasil está sendo tomado por plantações de cana-de-açúcar em detrimento da produção de alimentos;

Mito 4 - O uso e produção do álcool causa mais dano ao meio-ambiente do que os combustíveis fósseis;

Mito 5 - A produção de álcool consome mais energia do que gera;

Mito 6 - Os preços da gasolina não são reduzidos pelo uso do álcool;

Mito 7 - O álcool de cana-de-açúcar é uma solução única na qual apenas o Brasil pode se beneficiar.

A publicação pode ser encontrada aqui:

Políticos americanos querem regular especulação com commodities

A participação dos fundos de investimentos nos mercados de commodities está atraindo a ira dos políticos nos EUA, conforme podemos verificar pela notícia publicada pelo New York Times.

ALTA DAS COMMODITIES GERA REAÇÃO CONTRA ESPECULAÇÃO NO MERCADO

Em Washington, os especuladores financeiros parecem todos ter alvos colados às costas. Eles estão sendo culpados pelos altos preços da gasolina, pela disparada dos custos dos alimentos e pela instabilidade nos mercados de commodities.

Os legisladores estão criticando as autoridades regulatórias por não os estarem reprimindo de maneira mais vigorosa. "Vocês estudam o que acontece, mas não tomam providências contra esse crescimento incrível na especulação", disse o senador Carl Levin a um importante funcionário da CFTC (Commodity Futures Trading Commission), em recente audiência no Senado. "A menos que a CFTC se disponha a agir contra a especulação, não temos um policial de patrulha", disse Levin.

O senador Joseph Lieberman, do Connecticut, sem partido, disse que estava trabalhando em uma proposta que proibiria qualquer atuação de grandes investidores institucionais nos mercados de commodities. No mesmo dia, o governo Bush aprovou proposta do Senado para criar um grupo de trabalho interagências, no governo federal, que investigaria as especulações com commodities. Ao menos quatro audiências públicas trataram do tópico nos dois últimos meses, e o senador Lieberman conduzirá mais uma sessão no dia 24.

Embora as autoridades regulatórias dos mercados de commodities observem regularmente as transações em busca de manipulações, a CFTC nas últimas semanas decidiu adotar a incomum providência de confirmar publicamente que estava conduzindo investigações, em busca de atividades ilegais tanto no mercado de energia quanto nos agrícolas. Com a intensificação da pressão política, as autoridades regulatórias reforçaram suas demandas por informações mais detalhadas de parte das Bolsas de commodities, a fim de melhorar sua capacidade de monitorar os mercados.

Em comunicado divulgado recentemente, Walter Lukken, presidente da CFTC, afirmou que a comissão estava determinada a garantir que os preços das commodities "sejam estabelecidos pelas forças fundamentais de oferta e procura, e não por práticas abusivas ou manipulativas".

Ainda que seja comum culpar os especuladores, nos momentos de dificuldade financeira, a hostilidade crescente contra eles começa a preocupar pessoas com anos de conhecimento sobre como funciona o mercado de commodities. Porque, dizem essas pessoas, sem especuladores, os mercados simplesmente não funcionam. Os especuladores, pessoas dispostas a arriscar seu capital em busca de lucros elevados, têm posição central em mercados de commodities saudáveis, dizem esses observadores.

Restrições amplas à atuação deles poderiam prejudicar mercados que já estão sob pressão devido à crescente demanda mundial por alimentos e combustível. Mesmo em Washington existe acordo generalizado quanto a que não existe um fator único que se possa responsabilizar pela alta nos preços do alimento e da energia.

As economias famintas e de alto crescimento da Índia e da China estão afetando a demanda mundial de maneira fundamental, e problemas climáticos e políticas governamentais quanto ao comércio e a produção de álcool são apenas alguns dos muitos fatores que afetam a oferta.

As commodities, cotadas em dólares, tendem a subir de preço à medida que a moeda americana cai, o que as torna um refúgio popular para os investidores temerosos de inflação. Ao contrário dos praticantes do hedge -agricultores, mineradoras, refinarias e outros interesses comerciais que produzem ou utilizam as commodities-, os especuladores, como os investidores conhecidos como "day traders" nos mercados de ações, estão simplesmente tentando lucrar com as variações nos preços.

Alguns especuladores acompanham as tendências do mercado, comprando na alta dos preços e levando-os a subir ainda mais. Mas outros compram quando acreditam que os preços caíram demais, vendem quando consideram que os preços estão altos demais ou fazem apostas que darão lucro apenas caso os preços venham a cair.

Quanto mais dinheiro o especulador estiver disposto a colocar em ação no mercado, maior a liquidez que este apresenta e mais fácil se torna comprar e vender sem causar grande oscilação de preço. Qualquer operador, especulador ou praticante de hedge pode tentar manipular mercados. Mas, porque o mau humor quanto à especulação cresce tanto quanto os preços do combustível e dos alimentos, alguns estudiosos estão preocupados com a possibilidade de que as pessoas estejam começando a considerar especulação, que é a busca legal de lucros no mercado, como sinônimo de manipulação -transações secretas e conspiratórias que têm por objetivo causar movimentos deliberados nos preços a fim de gerar lucros ilegais.

Certamente aconteceram saltos incomuns de preços nos mercados de commodities, como a abrupta e íngreme viagem de montanha-russa do mercado do algodão no começo de março e as mais recentes oscilações nos mercados de petróleo, que alarmaram alguns dos participantes do mercado.

quinta-feira, junho 12, 2008

Exportações de álcool continuam

Apesar dos baixos preços, o setor sucroalcooleiro continua exportando etanol, conforme podemos verificar na notícia abaixo publicada na Gazeta Mercantil no dia 10 de junho:

Mesmo com preço em queda, usinas exportam mais etanol

As usinas brasileiras exportaram 1,543 bilhão de litros de etanol de janeiro a maio de 2008, 15,8% mais que no mesmo período de 2007, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Mais 1 bilhão de litros está contratado para os próximos meses e nem mesmo o recuo do preço no mercado norte-americano, principal comprador do álcool brasileiro, deve comprometer a meta de embarcar 4 bilhões de litros este ano, ante os 3,2 bilhões de 2007, afirma Tarcilo Rodrigues, diretor da consultoria Bioagência.

Os exportadores que negociaram até março conseguiram preços de US$ 500 pelo metro cúbico no mercado spot (físico) e de US$ 440 para entrega em junho e julho. "O preço para quem está negociando agora é de US$ 410. Além disso, o câmbio em março estava mais favorável (R$ 1,70) que o atual (R$ 1,63)", diz Miguel Biegai, analista da Safras & Mercado. Os preços estão sob pressão do aumento da produção nos EUA. A cotação em 29 de maio na Bolsa de Chicago era de US$ 2,40 o galão (3,785 litros).

Nesta semana caiu para US$ 2,27, com alguma recuperação ontem, para US$ 2,34, segundo a Safras & Mercado. Desde meados de abril, o preço do combustível na Bolsa recuou 8,1%.Mas, deve ocorrer um ajuste na superoferta norte-americana, razão da derrubada dos preços, afirma o diretor técnico da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Antônio de Pádua. "Com as atuais cotações do milho, nenhuma refinaria nos Estados Unidos está obtendo margem positiva com o etanol. É provável que ocorram paralisações pontuais dessas refinarias, reduzindo a oferta. O ajuste deve ocorrer rapidamente. As refinarias locais não têm estoques altos. Os volumes são suficientes para menos de um mês de consumo", afirmou.

Empresas de alimentos nos EUA são contra biocombustíveis

A discussão alimentos vs combustíveis está se acirrando nos EUA pois as empresas produtoras de alimentos iniciaram uma campanha contra o uso de milho para a produção de etanol. A notícia publicada hoje no Valor Econômico sobre isso encontra-se, na íntegra, abaixo:

Setor de alimentos dos EUA se mobiliza contra os biocombustíveis

Associações da indústria alimentícia americana que representam empresas como a Kellogg, a Tyson Foods e a Kroger estão coordenando seus esforços para reduzir a exigência referente ao uso de bioconibustíveis pelos EUA por meio da nova campanha de lobby "Food Before Fuel" (Alimentos Antes dos Combustíveis).

A Associação de Fabricantes de Produtos Alimentícios (GMA, pelas iniciais em inglês), o Instituto Americano da Carne, a Associação Nacional dos Restaurantes e outros grupos dizem que o aumento da produção de etanol a partir do milho está elevando os preços dos alimentos. O setor alimentício combate da exigência federal que estabelece o aumento da produção de etanol para 5,6 bilhões de litros - quase o dobro da atual até 2015. A queda dessa exigência pode desacelerar a alta dos preços, auxiliando os lucros das empresas e diminuindo os preços para os consumidores, disse o presidente e principal executivo da Associação de Fabricantes de Produtos Alimentícios, Cal Dooley.

"Nós estamos pedindo ao Congresso para que recue e volte a avaliar nossa política de biocombustíveis, que está distorcendo o mercado e prejudicando o meio ambiente e os consumidores", disse Dooley, ex-deputado democrata pela Califórnia.

Segundo Dooley, a coalizão tentará persuadir os membros do Congresso americano a relaxar as normas relativas ao uso do etanol, reduzir os incentivos fiscais para as usinas responsáveis pela mistura do etanol americano e diminuir uma tarifa que incide sobre as importações de etanol.

A GMA - que representa a Kellogg, a maior fabricante de cereais matinais dos EUA, e a Kroger, a maior rede de comercialização de alimentos do país, além da Coca-Cola, da Kraft e da ConAgra - e os outros grupos também poderão comprar anúncios na mídia para transmitir sua mensagem, disse.

O etanol pode contribuir com até 25% da alta mais acelerada do que o normal dos preços dos alimentos nos EUA, disse o Departamento da Agricultura do país. A inflação gerada pelos alimentos nos EUA poderá somar 5,5% este ano, a mais elevada desde 1989, disse o departamento no mês passado.

domingo, junho 08, 2008

Um pouco sobre o agronegócio na China

Sempre tive curiosidade pelo agronegócio chinês. Achar informações interessantes sobre este tema é difícil, mas encontrei algo legal no AviSite que está disponível na íntegra abaixo:

China: “Da fome ao fast-food em duas gerações”

Campinas, 3 de Junho - Em matéria para o The Guardian, o jornalista Jonathan Watts, correspondente do jornal britânico no leste asiático, escreve que graças a duas décadas de crescimento “de dois dígitos”, centenas de milhões de chineses saíram do nível de subsistência: “Duas gerações atrás, a China enfrentava a estagnação. Uma geração atrás, as carnes eram reservadas apenas para as ocasiões especiais. Agora se tornou comum. Em todo o mundo, o consumo de proteínas tende a crescer com a riqueza. Na China, de 1980 para cá, o consumo per capita de carnes cresceu de uma média anual de 20 kg para 54 kg”.

Conforme o jornalista, entre os fatores envolvidos estão a urbanização – que transforma trabalhadores rurais em operários – e a industrialização – que faz as fábricas ocuparem o lugar de fazendas. A cada ano, 8,5 milhões de pessoas se transferem do campo para as cidades. O lado bom do processo é o aumento da eficiência produtiva e das atividades econômicas. O lado ruim é a explosão do consumo e... de lixo. A transformação de áreas agrícolas em áreas industriais vem sendo tão intensa que, só no ano passado, a área de terras agricultáveis caiu para cerca de 121,7 milhões de hectares, um número muito próximo do mínimo necessário para alimentar a população chinesa – informa o correspondente do The Guardian.

Estima-se que cerca de 150 milhões de chineses tenham renda superior a 20 mil iuanes anuais (cerca de R$4.700), o que, frente aos padrões chineses de consumo, deixa alguma renda disponível. Isso correspondeu ao surgimento de uma nova classe média, que quase dobrou em uma década e fez crescer o consumo de proteínas. Grandes cadeias estrangeiras de supermercados vêm se instalando no país. À frente delas, as cadeias de fast-food.

Analisando individualmente o consumo dos chineses, Watts observa que está aquém do registrado em países desenvolvidos. Afirma, por exemplo, que os americanos consomem em média 124 kg de carne por ano, “principalmente bovina, menos eficiente como conversora de grãos em proteína, pois requer quatro vezes mais alimentos que o frango”, enquanto os europeus se encontram em um nível mais baixo – cerca de 89 kg/ano. Apesar, porém, de se encontrar nos 54 kg/ano, a China é o maior consumidor mundial – graças ao seu bilhão de habitantes e à economia em rápido crescimento.

O correspondente do The Guardian na Ásia encerra sua matéria lembrando que embora a China não seja a responsável pela atual escalada mundial de preços dos alimentos – petróleo, biocombustíveis, mudanças climáticas e expansão da economia estão entre os principais fatores – também vem ajudando a aumentar os preços na medida em que expande o consumo e enfrenta problemas de produção em decorrência de doenças animais: “não é por menos que as carnes vêm, desde o ano passado, ficando cada vez mais cara para os chineses”. Tais acontecimentos sinalizam que a China continuará a desempenhar importante papel no comércio mundial de alimentos – mas não mais como exportadora e, sim, como grande importadora. Conforme Jonathan Watts, há indicações de que em 2008 se esgotará a auto-suficiência chinesa na produção de proteínas.

O Agronegócio Brasileiro atraindo capital internacional

Nosso agronegócio tem atraído muitas empresas estrangeiras. Prova disso é a busca por terra.

Na reportagem de hoje da Folha de São Paulo podemos ver este interesse:

Mato Grosso tem maior área registrada por estrangeiros

São 1.377 propriedades rurais espalhadas numa extensão de 754,7 mil hectares

São Paulo é o campeão em número de propriedades em nome de pessoas de outros países: 11.424 terrenos em 504,7 mil hectares


Fernanda Odilla e Hudson Correa

Estrangeiros estão comprando propriedades rurais em todos os Estados do Brasil. Levantamento inédito do Incra revela que o interesse estrangeiro vai muito além da Amazônia. Com 1.377 propriedades espalhadas numa área de 754,7 mil hectares, Mato Grosso é o Estado que tem a maior área de terras em nome de empresas e pessoas de outros países.

São Paulo, por sua vez, é o campeão em número de propriedades em nome de pessoas de outras nacionalidades. São 11.424 terrenos, que, somados, representam 504,7 mil hectares do território paulista. Mato Grosso do Sul, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Goiás também estão no topo da lista do Incra como os Estados com maior área nas mãos de estrangeiros.

Somente 3,8 milhões de hectares dos 5,5 milhões registrados em nome de estrangeiros já foram organizados por Estado, número de propriedades e tamanho de área. O mapeamento do Incra revela a situação dos imóveis até dezembro de 2007.

Desde 1998, o órgão controla só a aquisição de imóveis rurais por empresas sem sede no país ou pessoas físicas não residentes no Brasil. O presidente do Incra, Rolf Hackbart, espera parecer da Advocacia Geral da União para contabilizar e monitorar a ação de estrangeiros que se associam a empresas nacionais para investir aqui.

Os números do Banco Central comprovam que a ação internacional aqueceu o mercado local. Os investimentos diretos estrangeiros em atividades imobiliárias aumentaram 347% entre 2003 e 2007.

"O presidente Lula esqueceu que temos Constituição e abriu o país à ganância estrangeira", disse d. Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da Terra. Balduíno acompanha com preocupação o crescente investimento estrangeiro e a especulação imobiliária, impulsionados pela fartura de terras brasileiras propícias a minimizar a crise mundial de alimentos e a impulsionar a produção de biocombustível.

Plantações de soja, cana-de-açúcar e eucalipto são as atividades que hoje mais atraem os estrangeiros, em especial nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. "Mato Grosso ainda é um lugar onde se pode expandir [a produção]. Tem boas terras. E o preço ainda é acessível. Então, os produtores mato-grossenses estão endividados e estão vendendo", diz o presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso), Glauber Silveira da Silva.

Silva cita o grupo argentino El Tejar, há seis anos no Estado e em expansão. O grupo mantém a empresa O Telhar Agropecuária, que planta milho e soja em 35 mil hectares no Estado. Ele também destaca a expansão da SLC Agrícola, grupo brasileiro que é o maior produtor de algodão do país e capta recursos no exterior.

A empresa assinou em março contrato de financiamento com o IFC (International Finance Corporation), braço de investimento do Banco Mundial, no valor US$ 40 milhões para aquisições e arrendamentos de terras. Na quinta-feira passada, a SLC comunicou a compra de 10.635 hectares em Campos de Júlio (MT), por R$ 82,9 milhões.
Na lista do Incra, os Estados da região amazônica não ocupam lugar de destaque.

Secretário do Meio Ambiente do Amazonas até março passado, Virgílio Viana disse que, "do ponto de vista racional, é muito mais grave a ameaça estrangeira em controlar as praias do Nordeste brasileiro". "Você saiu de uma praia e entra em outra comprada por gringos, quilômetros e quilômetros. Em termos de presença estrangeira, é muito mais grave." Ele foi consultado pelo empresário sueco-britâncio Johan Eliasch em 2005 sobre a compra de 160 mil hectares no Amazonas.

Eliasch usou uma estratégia comum entre estrangeiros: associar-se a uma empresa nacional ou abrir uma empresa no Brasil, mesmo que seja controlada por capital externo. É o que japoneses e norte-americanos têm feito em Correntina, oeste baiano, numa área de 60 mil hectares adquirida para produção de algodão e instalação de usina sucroalcooleira.

O superintendente de política de agronegócio da Bahia, Eujácio Simões, afirma que o Estado incentiva o investimento de empresas nacionais com aporte estrangeiro. Mas diz que, em alguns casos, o governo se preocupa em conter a expansão. "Os finlandeses comandam a produção de celulose no extremo sul do Estado e estão esperneando para aumentar a área de plantio." No Brasil, é necessário esperar seis anos para o corte das árvores. Na Finlândia, são 15 anos, diz ele.

sexta-feira, junho 06, 2008

Histórico da colheita mecanizada da cana-de-açúcar

Para comemorar a produção da 1000ª colhedora de cana picada, a Case IH lançou um site comemorativo onde apresenta a evolução das colhedoras de cana picada no mundo.

É um site muito interessante com diversas fotos de colhedoras, iniciando-se em 1890 e chegando até o modelo atual.

A apresentação está disponível:

Ações para garantir oferta de alimentos

O problema de oferta de alimentos é uma preocupação atual das principais lideranças mundiais.

Na Conferência sobre Segurança Alimentar organizada pela FAO (Fundo para Alimentação e Agricultura da ONU) realizada nesta semana em Roma propõe, em um documento, ações no sentido de garantir a alimentação das populações pobres no Mundo.

O artigo abaixo foi retirado, na íntegra, do site da BBC:

FAO indica como garantir segurança alimentar

Depois de muitas controvérsias e insatisfações, representantes de 183 países aprovaram nesta quinta-feira o documento final da Conferência sobre Segurança Alimentar organizada pela FAO (Fundo para Alimentação e Agricultura da ONU) em Roma.

O documento confirma o objetivo estabelecido em 1996 de reduzir pela metade, até 2015, o número de pessoas que passam fome no mundo - atualmente estimado em 862 milhões - e recomenda medidas de curto, médio e longo prazos para enfrentar a crise causada pela alta dos preços dos alimentos.

A conferência ainda concluiu que é preciso dobrar a produção de alimentos até 2030 e ajudar os fazendeiros dos países pobres.

O documento também não aponta o etanol como um dos culpados pela crise, depois da bem sucedida negociação do governo brasileiro.

“Conseguimos entender bem a dimensão do problema da fome no mundo. Desta vez percebemos que não é uma questão humanitária, mas um problema mundial, que atinge todos os países indistintamente”, disse o diretor geral da FAO, Jacques Diouf, ao encerrar o encontro.

Prioridade

No documento, os governos dos países participantes se comprometem a assumir a segurança alimentar como política nacional permanente e definem como prioridade imediata a ajuda alimentar aos países mais afetados pela crise da alta dos preços.

Diouf anunciou que a agência da ONU recebeu doações de cerca 6 bilhões de dólares, que irão financiar os sistemas de produção agrícola de países menos favorecidos e a distribuição de sementes e fertilizantes.

A segunda linha de ação da FAO prevê medidas de apoio imediato à produção e ao comércio agrícola. Um dos itens desse parágrafo provocou reações negativas da Argentina, por afirmar que “é necessario reduzir ao mínimo a adoção de medidas restritivas que podem incrementar a volatilidade dos preços internacionais”.

Os representantes do governo argentino queriam que os termos “medidas restritivas” fossem retirados do texto final. Recentemente, a Argentina aumentou os impostos para a exportação de grãos do país, principalmente a soja.

“Quando se parte de um diagnóstico errado, não é possível encontrar remédios apropriados. Isto é o que ocorreu com esta declaração”, disse um dos negociadores argentinos, que cobrava uma crítica contundente contra os subsídios agrícolas da Europa e dos Estados Unidos no documento.

Liberalização do comércio

O texto pede genericamente a continuação dos esforços para liberalizar o comércio agrícola internacional, reduzindo as barreiras comerciais e as políticas que “distorcem os mercados”.

“Subsídios são discutidos no âmbito OMC”, disse Diouf no final da conferência.

O diretor geral da FAO disse que esses problemas serão resolvidos em Genebra, na sede da Organização Mundial do Comércio.

A posição argentina teve apoio do bloco latino-americano e isso atrasou as negociações. No final, o termo “medidas restritivas” permaneceu no texto, que terá um apêndice para explicar a posição do país.

Etanol

Dos 9 parágrafos do documento final, apenas 1 é dedicado aos biocombustiveis, um dos pontos mais discutidos da conferência cujo título era “Segurança alimentar mundial: os desafios das mudanças climáticas e a bioenergia".

O governo brasileiro negociou, com sucesso, para que o etanol não fosse apontado como o principal culpado da alta dos preços dos alimentos.

“Considerando as necessidades mundiais em matéria de segurança alimentar, energia e desenvolvimento sustentável, é preciso enfrentar os desafios e oportunidades dos biocombustíveis”, diz o texto que sugere “estudos aprofundados para garantir que a produção e a utilização dos biocombustíveis sejam sustentáveis e levem em conta segurança alimentar” .

Na avaliação de Diouf “era o que se esperava”. Segundo o diretor da FAO, alguns países ressaltaram o fato de que os biocombustíveis podem ser uma oportunidade se não forem um obstáculo à segurança alimentar.

No final do documento, há o compromisso de usar todos os meios para diminuir o sofrimento criado pela crise atual, estimular a produção de alimentos e aumentar os investimentos na agricultura, usando os recursos do planeta de modo sustentável.

segunda-feira, junho 02, 2008

Álcool - ações para enxugar o mercado

O mercado do álcool está em turbulência e algumas ações estão sendo discutidas para melhorar este cenário, conforme podemos ver nesta nota da Agência Estado:

Usinas discutem ações para enxugar mercado de álcool
02/06 - 12:46

Com o preço do álcool hidratado abaixo do custo de produção, usineiros articulam ações para enxugar o mercado do combustível. Hoje o custo do litro do hidratado para as usinas seria de R$ 0,65, mas o combustível foi negociado, na semana passada, em média, a R$ 0,6392 nas usinas paulistas, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq).

Entre as medidas avaliadas está a restrição, pelas destilarias, da oferta do combustível. Mas a proposta esbarra na venda desenfreada de etanol por algumas unidades que precisam de capital de giro, justamente o motivo apontado para a queda do preço. Há pelo menos uma semana, após a reunião plenária da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), em São Paulo, outras ações são estudadas pelos usineiros, até para evitar que "a situação desesperadora se transforme em quebra de usinas", como disseram à reportagem fontes que estiveram no encontro.

Uma saída para a retirada de álcool do mercado seria a compra do combustível dessas unidades que precisam de capital imediato, por parte de grandes e capitalizados grupos do setor. Com isso, imaginam os usineiros, haveria a redução da oferta às distribuidoras e o preço reagiria naturalmente. A operação seria como um "hedge físico", com o escoamento mais lento, tanto no mercado interno como no externo, desse álcool negociado.

Ao contrário da safra passada, as instituições financeiras teriam restringido os créditos aos quais os usineiros poderiam utilizar como um capital de giro que possibilitasse a retenção do álcool. Muitas usinas então passaram a vender o álcool a preços baixos para honrarem seus compromissos imediatos e forçaram ainda mais o recuo nos preços, principalmente do hidratado, utilizado nos carros a álcool nos flex fuel.

Agência Estado

Brasil ganha dos EUA no algodão

O Brasil ganhou dos EUA, de novo, na OMC. Agora foi o algodão. Vamos ver se a medida é acatada. Segue abaixo notícia do G1 publicada na íntegra:

Brasil ganha disputa com EUA sobre algodão na OMC

Decisão abre caminho para possível retaliação do Brasil aos EUA.
Brasil reclama de subsídios oferecidos pelo governo norte-americano aos produtores

A Organização Mundial do Comércio (OMC) condenou nesta segunda-feira (2) os subsídios norte-americanos ao algodão, em uma disputa aberta pelo Brasil. A decisão abre caminho para um possível pedido de sanção por parte do Brasil, suspendendo direitos de patentes e interrompendo parte do comércio.

Em um painel de apelação, a OMC decidiu manter a decisão de dezembro, quando a organização considerou que os Estados Unidos burlavam as regras comerciais com seus subsídios aos fazendeiros de algodão. Na despacho, a OMC sustenta os Estados Unidos agem em discordância com as obrigações assumidas em acordos internacionais e que os subsídios constituem "sérios prejuízos presentes aos interesses do Brasil".

Nos últimos meses, a Casa Branca vem tentando convencer os estados do Sul de que o Partido Republicano não abandonará os produtores de algodão. O setor é um dos importantes doadores de recursos aos candidatos. A estratégia, portanto, foi a de arrastar o quanto pôde a disputa com o Brasil nos tribunais da OMC.

A guerra entre os dois países já durava cinco anos, sem qualquer resultado concreto na redução dos subsídios, apesar das inúmeras derrotas dos americanos. O Brasil se queixava em 2003 de que os subsídios agrícolas dos Estados Unidos estavam prejudicando os produtores nacionais de algodão.

Distribuindo volumes bilionários, os americanos acabavam distorcendo os preços internacionais do produto, ferindo a competitividade dos concorrentes e ainda deprimindo os preços do algodão e vários mercados.

O Itamaraty entrou com um processo na OMC e a entidade acabou acatando a posição do Brasil, exigindo que os americanos reformassem seus programas de ajuda aos produtores.

Dois anos depois, Washington não fez as modificações necessárias e continua dando os subsídios ilegais. Segundo o Brasil, US$ 12,5 bilhões foram dados ao setor desde 1999, o que explicaria a competitividade das exportações americanas.

Com informações da Reuters e da France Presse

domingo, junho 01, 2008

Freakonomics no agronegócio - Como a obesidade aumenta a emissão de CO2

Encontrei no site UOL na coluna Freakonomics um artigo interessante publicado em 20 de maio sobre o consumo excessivo de alimentos, o gasto destas calorias e a emissão de CO2.

Nesta coluna editada pelos mesmos autores do livro Freakonomics - O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta, o economista Steven Levitt, Ph.D. pelo MIT e o jornalista Stephen J. Dubner defendem teses econômicas polêmicas, mostrando uma linha de pensamento diferente da maioria dos economistas onde aplica princípios econômicos às mais variadas situações da vida cotidiana.

O texto completo em português segue na íntegra:

Comendo mais, comendo menos e comendo torta de humildade
De Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt

Para combater o aquecimento global devemos taxar todo exercício recreativo

Um recente artigo na publicação médica do Reino Unido "Lancet" afirmou que a obesidade está contribuindo para o aquecimento global porque as pessoas com excesso de peso consomem mais calorias.

Como a produção de comida libera carbono, isso significa que uma pessoa que come demais é, em média, pior para o aquecimento global do que uma pessoa que não o faz. Para pôr esses argumentos em perspectiva, eu fiz alguns cálculos simples para os EUA.

Digamos que a produção de comida seja responsável por 20% das emissões de gases do efeito estufa -embora eu suspeite que o índice seja alto demais. Segundo o Departamento de Energia dos EUA, as emissões de gases do efeito estufa do país em 2006 foram equivalentes a aproximadamente 7 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono. Se a produção de alimentos representasse 20% dessas emissões, resultariam na emissão de 1,4 bilhão de toneladas de CO2.

Segundo a Wikipedia, o custo social -ou o custo para os indivíduos e a sociedade- de uma tonelada de CO2 é US$ 12. Então os gases do efeito estufa liberados para fazer os alimentos que os americanos comeram em 2006 tiveram um custo social de US$ 16,8 bilhões.

Existem cerca de 300 milhões de americanos que consomem cerca de 1.500 calorias por dia. Se meus cálculos estiverem corretos, o imposto de aquecimento global adequado seria de cerca de US$ 1 para cada 10 mil calorias consumidas.

Segundo o artigo da "Lancet", os indivíduos obesos consomem cerca de 400 calorias a mais por dia. Por isso o imposto apropriado para os obesos sobre seu impacto extra para o aquecimento global seria um pouco mais de US$ 1 por mês. Em outras palavras, o efeito é pequeno demais até para se discutir.

Mas como estamos tendo uma conversa sobre a quem culpar pelo aquecimento global, certamente também deveríamos apontar o dedo para aqueles que se dedicam a exercícios recreativos como correr ou pedalar por prazer. Afinal, alguém que corre regularmente durante uma hora queima mil calorias a mais por dia -muito mais que uma pessoa obesa. Essa queima de calorias excedente deve ser desencorajada se quisermos salvar o planeta.

Por meio deste, peço que o próximo presidente dos EUA aprove leis aplicando um imposto de carbono de US$ 0,10 por hora sobre toda a queima de calorias recreacional. Para salvar o planeta devemos incentivar as pessoas a ficar em casa e queimar o mínimo de calorias possível.

Mudança em cálculo de carbono quase quebra empresa

O mercado de crédito de carbono está em seu início e por isso, em constante mudança. A notícia abaixo, publicada no Valor Econômico de 30 de maio, mostra como pode ser complicado depender de um mercado ainda não muito estável:

Mudança técnica esvazia caixa de líder em crédito de carbono

Uma modificação técnica no mercado de crédito de carbono para a suinocultura pode ter forçado uma das maiores empresas internacionais do setor a recorrer à Justiça para resolver um problema de caixa estimado em pelo menos ? 90 milhões de euros.

A AgCert International, sediada em Dublin, pediu ajuda à Alta Corte irlandesa após ver seus papéis negociados em Londres despencar do patamar de 200 libras esterlinas pelo lote de cem ações em 2007 para quase 1 libra no começo deste ano. O motivo: a empresa vendeu um volume muito superior de créditos de carbono do que tem agora para entregar.

Com cerca de 80 projetos no México e no Brasil, a AgCert afirma ter sido prejudicada pelo ajuste de metodologia previsto no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), pelo qual projetos limpos geram créditos para países ricos, obrigados a reduzir suas emissões de gases-estufa sob o Protocolo de Kyoto.

Em entrevista ao Valor, o gerente-geral da AgCert Brasil, Álvaro Palermo, afirmou que a alteração na metodologia realizada em meados do ano passado reduziu significativamente o volume de créditos calculados pela empresa. Segundo ele, cerca de 7,2 milhões de créditos de carbono deveriam ser entregues neste ano. "Mas por enquanto só temos 1,2 milhão de créditos", afirma.

A AgCert, que havia feito IPO em 2005, voltou a fechar o capital. Desde fevereiro, está em processo de "examinership", um mecanismo introduzido na Irlanda nos anos 90 para evitar a liqüidação das empresas do país. Assim como na nova lei de falências brasileira, um administrador judicial é selecionado para negociar com os credores de forma a garantir a continuidade da empresa. No caso da AgCert, um representante da Ernst & Young, David Hughes, foi selecionado.

Uma decisão deverá sair nos próximos dias. A questão é como conciliar a continuidade da empresa e os direitos dos credores internacionais, formados por bancos, empresas e governos.

Palermo afirma que seus clientes - pouco mais de 370 produtores brasileiros de suínos - continuam recebendo normalmente sua parte no negócio. No caso, 10% da receita da AgCert. Mas o executivo prefere não comentar sobre o futuro da empresa. "Qualquer coisa que eu fale neste momento é boato", diz Palermo.

Mas uma notícia divulgada pelo site "Thomson Financial News" aponta que a AES Corporation - a multinacional americana controladora da Eletropaulo - teria interesse na empresa. A multi iniciou há três anos um braço para soluções climáticas, que prevê investimentos em projetos limpos para a redução de mais de 34 milhões de toneladas de gases-estufa até 2012. No início deste mês, ela comprou os créditos gerados por um lixão em El Salvador.

A questão agora é como conciliar a continuidade da empresa e os direitos dos credores, como bancos e companhias. Segundo o site, a AES teria concordado em baixar dos livros cerca de 20 milhões de euros devidos pela AgCert e outros 7 milhões de euros para pagamento a credores. Se aprovado, os credores receberiam até 10% do que lhes é devido, em pagamentos parcelados. Segundo o "TFN", isso representaria um montante mais alto se comparado com o que os credores receberiam se a empresa quebrasse.

A mudança na metodologia para suinocultura foi realizada pelo chamado Conselho Executivo da ONU, o órgão que regula o mercado de vendas de créditos de carbono. É um procedimento de praxe, realizado para todos os setores, e tem como finalidade aprimorar os projetos de MDL.

Em geral, as fazendas de suínos destinam os dejetos dos animais para piscinas cobertas com lona. O metano, emitido pelos dejetos, é enviado através de dutos para os biodigestores. Ali, ele é queimado e transformado em dióxido de carbono (CO2), um gás menos nocivo ao ambiente. Cada tonelada de CO2 produzida equivale a um crédito de carbono, que posteriormente é vendido no mercado internacional.

Com o ajuste na metodologia, além de informar quanto biogás será emitido pelos dejetos, o projeto deve ainda quantificar o gás efetivamente queimado. Isso é possível através de um gravador de dados, o "data logger", introduzido no processo. E aí está o problema: em muitos casos, as contas não fecham. "Podemos produzir de mil toneladas de metano e por alguma razão queimar 950 toneladas. A ONU só considera o menor valor", diz Palermo. "Quanto menos gás queimado, menor o volume de créditos gerados e a receita da empresa".

O tombo da AgCert pode ser explicado, em parte, pela concentração em um único negócio. As demais empresas do setor costumam diversificar seus portfólios, com projetos em PCHs e em aterros sanitários, por exemplo.

Outra explicação é o risco inerente ao mercado de carbono. Para agilizar o processo, as empresas costumam decidir investimentos antes do sinal verde da ONU - a aprovação do projeto. "Não dá para ficar esperando as autoridades porque o processo é demorado. Além disso, são mais seis meses para construir o biodigestor. Seria um ciclo muito grande", explica Palermo.

Mas chama a atenção o fato de as concorrentes, por ora, terem sentido menos o baque da metodologia. Pessoas ouvidas pelo Valor acreditam que a AgCert sofreu também problemas de administração de projetos.

Palermo refuta. "Como tínhamos capital aberto, os números eram expostos. Os concorrentes são fechados, então não temos como saber a posição deles".