Em artigo publicado sexta-feira (27 de junho) na Gazeta Mercantil, o ex-ministro Roberto Rodrigues faz uma análise remetendo a um cenário de equilíbrio do mercado de álcool no Brasil:
DESENHA-SE UM CENÁRIO DE EQUILÍBRIO NO ETANOL
Cerca de 88% de todos os carros vendidos mensalmente no Brasil são modelos flex. Isto se deve ao fato de o álcool ter custado na bomba, nos últimos dois anos, menos de 60% do preço da gasolina. É a lógica dos preços e da qualidade, que orienta o consumidor no melhor combustível a usar. E esta é a grande vantagem do carro flex. Apesar de os preços da gasolina serem mantidos baixos artificialmente nas refinarias, ela vem apanhando tão espetacularmente do etanol que o governo deu-lhe uma mãozinha no último aumento, via Cide.
Com efeito, para não haver aumento para o consumidor, o governo reduziu a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que é o imposto sobre a gasolina, deixando-a zerada na bomba, retirando com isso a chance do etanol melhorar ainda mais sua performance. Mesmo assim, o mercado interno vem sendo o grande aliado do etanol.
O consultor Luis Carlos Corrêa Carvalho, um dos maiores especialistas brasileiros neste setor, fez uma série de análises sobre as tendências deste produto estratégico para o futuro próximo, considerando o crescimento do consumo interno e também o das exportações.
Segundo ele, neste ano, as vendas mensais de etanol só no Centro-Sul estão superiores a 1,5 bilhão de litros, 30% a mais que no mesmo período do ano passado. Somando esta litragem com o consumo do resto do País, há indicações de uma demanda interna próxima a 20 bilhões de litros em 2008. Este foi o tamanho da produção nacional total em 2007.
Por outro lado, as exportações devem crescer 1 bilhão de litros este ano, chegando perto dos 4,5 bilhões de litros, devido aos altos custos do milho nos Estados Unidos e do trigo na Europa, que reduzem a margem industrial dos produtores destas regiões, nas quais a demanda também vem crescendo.
Tudo considerado, o consumo total do nosso etanol deve passar de 24 bilhões de litros em 2008, para uma produção próxima a 25 bilhões de litros. Mas esta produção, que seria um recorde, depende de a safra melhorar, porque, com as chuvas intensas que tivemos até maio, a qualidade das canas está muito baixa, com um rendimento industrial medíocre, isto é, menos açúcar e álcool por tonelada de cana. Como o volume da produção da matéria-prima cresceu 16% do ano passado para este ano só no Centro-Sul, se a qualidade tiver uma melhora, aqueles números se confirmarão.
Tudo isso ajuda a estabelecer uma safra mais alcooleira do que açucareira: os preços do etanol vão remunerar mais que os do açúcar, inclusive por causa da puxada do petróleo, cujo valor está bem acima de US$120 o barril. Os preços do açúcar, por sua vez, seguem abaixo dos custos de produção, em face dos grandes excedentes produzidos na Índia e dos elevados estoques mundiais.
Com tais variáveis, a conclusão era evidente: os baixos preços do açúcar, sem perspectiva de melhoria a curto prazo, fizeram os produtores aumentar a oferta de álcool, o que também baixou os preços para o consumidor. Como resultado perverso desta situação, a matéria-prima cana-de-açúcar vem recebendo uma remuneração abaixo dos custos de produção desde o ano passado, um verdadeiro desastre para a classe dos fornecedores de cana, aqueles agricultores que não têm indústria, mas que dependem dela. E que estão quebrando, em um inacreditável contra-senso neste momento de explosão do crescimento do setor como um todo.
Mas agora, com o cenário de equilíbrio entre oferta e demanda do etanol desenhado por Luis Carlos Corrêa Carvalho, acompanhado de menor produção de açúcar no Brasil, surge uma possibilidade de, já no segundo semestre deste ano, haver uma melhora nos preços da cana, aliviando os fornecedores independentes.
Mesmo assim, o setor como um todo precisa de políticas públicas mais efetivas, sem subsídios ou barreiras a terceiros, mas com sinais positivos ao mercado, especialmente para sustentar os preços do açúcar e reequilibrar a cadeia produtiva.
DESENHA-SE UM CENÁRIO DE EQUILÍBRIO NO ETANOL
Cerca de 88% de todos os carros vendidos mensalmente no Brasil são modelos flex. Isto se deve ao fato de o álcool ter custado na bomba, nos últimos dois anos, menos de 60% do preço da gasolina. É a lógica dos preços e da qualidade, que orienta o consumidor no melhor combustível a usar. E esta é a grande vantagem do carro flex. Apesar de os preços da gasolina serem mantidos baixos artificialmente nas refinarias, ela vem apanhando tão espetacularmente do etanol que o governo deu-lhe uma mãozinha no último aumento, via Cide.
Com efeito, para não haver aumento para o consumidor, o governo reduziu a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que é o imposto sobre a gasolina, deixando-a zerada na bomba, retirando com isso a chance do etanol melhorar ainda mais sua performance. Mesmo assim, o mercado interno vem sendo o grande aliado do etanol.
O consultor Luis Carlos Corrêa Carvalho, um dos maiores especialistas brasileiros neste setor, fez uma série de análises sobre as tendências deste produto estratégico para o futuro próximo, considerando o crescimento do consumo interno e também o das exportações.
Segundo ele, neste ano, as vendas mensais de etanol só no Centro-Sul estão superiores a 1,5 bilhão de litros, 30% a mais que no mesmo período do ano passado. Somando esta litragem com o consumo do resto do País, há indicações de uma demanda interna próxima a 20 bilhões de litros em 2008. Este foi o tamanho da produção nacional total em 2007.
Por outro lado, as exportações devem crescer 1 bilhão de litros este ano, chegando perto dos 4,5 bilhões de litros, devido aos altos custos do milho nos Estados Unidos e do trigo na Europa, que reduzem a margem industrial dos produtores destas regiões, nas quais a demanda também vem crescendo.
Tudo considerado, o consumo total do nosso etanol deve passar de 24 bilhões de litros em 2008, para uma produção próxima a 25 bilhões de litros. Mas esta produção, que seria um recorde, depende de a safra melhorar, porque, com as chuvas intensas que tivemos até maio, a qualidade das canas está muito baixa, com um rendimento industrial medíocre, isto é, menos açúcar e álcool por tonelada de cana. Como o volume da produção da matéria-prima cresceu 16% do ano passado para este ano só no Centro-Sul, se a qualidade tiver uma melhora, aqueles números se confirmarão.
Tudo isso ajuda a estabelecer uma safra mais alcooleira do que açucareira: os preços do etanol vão remunerar mais que os do açúcar, inclusive por causa da puxada do petróleo, cujo valor está bem acima de US$120 o barril. Os preços do açúcar, por sua vez, seguem abaixo dos custos de produção, em face dos grandes excedentes produzidos na Índia e dos elevados estoques mundiais.
Com tais variáveis, a conclusão era evidente: os baixos preços do açúcar, sem perspectiva de melhoria a curto prazo, fizeram os produtores aumentar a oferta de álcool, o que também baixou os preços para o consumidor. Como resultado perverso desta situação, a matéria-prima cana-de-açúcar vem recebendo uma remuneração abaixo dos custos de produção desde o ano passado, um verdadeiro desastre para a classe dos fornecedores de cana, aqueles agricultores que não têm indústria, mas que dependem dela. E que estão quebrando, em um inacreditável contra-senso neste momento de explosão do crescimento do setor como um todo.
Mas agora, com o cenário de equilíbrio entre oferta e demanda do etanol desenhado por Luis Carlos Corrêa Carvalho, acompanhado de menor produção de açúcar no Brasil, surge uma possibilidade de, já no segundo semestre deste ano, haver uma melhora nos preços da cana, aliviando os fornecedores independentes.
Mesmo assim, o setor como um todo precisa de políticas públicas mais efetivas, sem subsídios ou barreiras a terceiros, mas com sinais positivos ao mercado, especialmente para sustentar os preços do açúcar e reequilibrar a cadeia produtiva.
Uma possível solução seria a compra governamental do açúcar durante a safra, para revenda na entressafra, política parecida com a que se faz com grãos ou café nos momentos de preço muito ruim. É um jogo de ganha-ganha, porque os preços se estabilizam ao longo do tempo e mantêm o Brasil na rota irrecorrível de grande líder mundial da biomassa, que haverá de mudar para melhor a geopolítica do planeta. E que, sem dúvida, já está mudando o paradigma e a geografia agrícola em todos os continentes
(Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior da Fiesp, professor de Economia Rural da Unesp (Jaboticabal) e ex-ministro da Agricultura; Gazeta Mercantil, 27/06/08)
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