quarta-feira, março 31, 2010

Commodities agrícolas - um pequeno texto para refletir

Encontrei no blog Mundo Agro o post abaixo escrito por Fabiane Stefano sobre agronegócio e commodities que achei muito interessante apesar de ser um texto curto. Serve para reflexão do momento atual do agronegócio:

Agronegócio não é sinônimo de commodity

Estive hoje num seminário promovido pelo Instituto de Economia da Unicamp. O tema era a produção de commodities e o desenvolvimento econômico. Um dos palestrantes do evento era o economista José Roberto Mendonça de Barros, um dos maiores especialistas em agronegócio do Brasil. Para ele, há uma discussão tremendamente ultrapassada no Brasil: a dicotomia entre “o agronegócio dos maus” e a “indústria dos bons”. O agronegócio seria aquele segmento que esgotaria os recursos naturais e pouco investiria em tecnologia – e a indústria o oposto disso. Mendonça de Barros aponta a cadeia do açúcar e álcool como um exemplo do segmento que está se reinventando justamente graças à tecnologia. Até os anos 70, o açúcar era o principal produto das usinas. Depois, vieram o etanol e a co-geração de energia. Agora, a aposta são os bioplásticos. A Coca acabou de anunciar que irá fabricar garrafas PET com 30% de material à base de etanol de cana-de-açúcar. “Hoje, o agronegócio está indo além da produção de commodities. E o que está acontecendo hoje na indústria de açúcar e álcool vai se repetir em outros setores do campo”, diz Mendonça de Barros.

segunda-feira, março 29, 2010

Sede de gigante francesa do açúcar vem para SP

Quem diria um dia que uma grande empresa européia fosse trazer sua sede para cá e listar suas ações na BOVESPA? Pelo visto as coisas realmente mudaram mesmo pois a Tereos, terceiro maior produtor de açúcar do mundo trouxe sua sede para SP como pode ser visto abaixo nas notícias do Valor Econômico e Brasil Econômico com informações da Reuters:

Tereos traz sede e ativos para o Brasil

É a primeira multinacional que transforma o país em seu centro financeiro

O grupo francês Tereos, dono da Açúcar Guarani, quarta maior empresa do setor sucroalcooleiro nacional, escolheu o Brasil para ser o centro financeiro de seu negócio. A companhia trará seus ativos da Europa e da região do Oceano Índico - estimados em € 1 bilhão - para uni-los com a Guarani, numa operação que totaliza € 1,7 bilhão.

Será criada a Tereos International, que abrigará os ativos estrangeiros, com exceção da produção de açúcar de beterraba na França, e terá sede no Brasil. Essa companhia vai incorporar a Guarani.

Após a combinação, o grupo estuda fazer uma oferta de ações no Novo Mercado da BM&FBovespa junto com a listagem em Paris, na Euronext. O grupo Tereos não tem ações negociadas em bolsa. É a primeira multinacional que transforma o país em seu centro financeiro. A companhia no Brasil terá cerca de 80% de todos os ativos do grupo francês.

O negócio combinado terá uma receita líquida da ordem de US$ 2,5 bilhões e um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) de US$ 366 milhões. Sozinha, a Guarani tem receita líquida anual de R$ 1,5 bilhão e lajida de R$ 244 milhões.

O objetivo, com a operação, é preparar a empresa para a consolidação do setor de açúcar e álcool, a partir do Brasil. A principal fonte de receita do negócio externo é o amido. A companhia é dona das marcas Syral, Benp Lillebone e De La Valle, produtora da vodca Grey Goose.

A Guarani tem dívida líquida de R$ 1,1 bilhão, equivalente a cerca de 4 vezes seu lajida. Como a Tereos detém 69% do capital, a empresa está com capacidade limitada tanto para ampliar alavancagem com novas dívidas como para emissões de ações, sem com isso diluir o controle do controlador francês. Após a combinação e antes de uma possível oferta de ações, a dívida deve ficar próxima de 3,2 vezes o lajida. A junção das operações também trará um fluxo de caixa estável ao volátil negócio sucroalcooleiro.

No ano passado, enquanto os demais grupos avançaram na consolidação, a Guarani ficou praticamente parada e seu maior movimento foi a compra de metade de uma pequena usina paulista.

A relação de troca para a incorporação da Açúcar Guarani pela Tereos International ainda não foi determinada. As condições serão estabelecidas por um comitê independente a ser criado.

A expectativa é que a incorporação ocorra no fim de junho. Portanto, a capitalização do negócio só poderia se realizar no segundo semestre. A operação foi assessorada pelo Rotschild (Graziella Valenti).

Grupo Tereos une Guarani com ativos na Europa e Oceano Índico

O terceiro maior produtor de açúcar da Europa, Tereos, anunciou nesta segunda-feira (29) que vai unir sua unidade Açúcar Guarani com ativos do grupo na Europa e Oceano Índico.

A operação formará a Tereos Internacional, terceira maior processadora de cana-de-açúcar do mundo, que terá ações em São Paulo e Paris.

A nova empresa terá receita líquida anual proforma de US$ 2,5 bilhões e combinará a companhia brasileira com ativos de cereais na Europa e de cana-de-açúcar no Oceano Índico. A sede da Tereos Internacional será em São Paulo.

A companhia combinada produzirá açúcar, produtos à base de amido e álcool para o setor de alimentos e outros segmentos, e também produzirá bioenergia (etanol e eletricidade), segundo comunicado divulgado à imprensa. (Por Alberto Alerigi Jr./Reuters)

domingo, março 28, 2010

Agricultura de precisão, será que agora decola?

Sempre fui um entusiasta da Agricultura de Precisão desde os seus primórdios no Brasil em 97, porém desde então tenho ouvido muito falar, mas com baixos níveis de adoção perto de seu potencial. Porém ao ler a edição de sexta do Brasil Econômico parece que aos poucos a tecnologia é adotada. Por causa disso resolvi buscar no site do Brasil Econômico o artigo e publicá-lo abaixo na íntegra:

Agricultura de precisão com GPS e computador

Produtores unem ferramentas de localização, análise do solo e PCs de bordo para diminuir em até 35% os gastos com insumos.

A agricultura de precisão é definida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) como o gerenciamento dos sistemas de produção baseado no conjunto de sinais de satélite e softwares para interpretação de dados geoprocessados.

Não entendeu? Pois o conceito é muito menos complicado do que parece e já faz com que produtores brasileiros economizem 35% com insumos em fazendas do país.

Em outras palavras, trata-se de uma análise precisa do solo que permite que cada trecho receba a quantidade exata de nutrientes que necessita por meio de ferramentas controladas por computador.

Técnicas desse tipo estão começando a ser utilizadas no Brasil, principalmente no estado do Mato Grosso.

O fazendeiro José Eduardo Macedo Soares, que cultiva soja na cidade de Salto do Rio Verde, é um dos produtores que está investindo nessa tecnologia.

Desde o ano passado, Soares utiliza um quadriciclo equipado com sistema de GPS (Global Positioning System) para aplicar os insumos no solo. O GPS faz com que o produtor saiba exatamente onde se deve aplicar cada quantidade de nutrientes, baseado nas amostras de terra analisadas anteriormente.

Os objetivos são redução dos custos de produção, diminuição da contaminação do solo e aumento da produção.

A análise do solo da fazenda de Soares é feita a cada cinco hectares de um total de 1,2 mil. "A terra não é homogênea, por isso não devemos usar a mesma quantidade de nutrientes em toda a área", diz.

Em 2009, o produtor conseguiu economizar 35% nos valores gastos com nutrientes no cultivo de soja por conta da adoção da agricultura de precisão, que demandou investimento de R$ 110 mil em equipamentos.

A meta é expandir o sistema também para os processos de adubação da terra.

Soares optou pelos equipamentos da gaúcha Stara, mas também há outras empresas brasileiras que atuam nesse mercado, como a Arvus, de Santa Catarina. Segundo o sócio Gustavo Raposo Vieira, as fazendas brasileiras ainda estão começando a adotar esse tipo de ferramenta.

O empresário estima que apenas 4% das produtoras de grão de todo o país utilizem a agricultura de precisão. A companhia, que tem dobrado de tamanho desde que surgiu, pretende triplicar o faturamento este ano com o crescimento da adoção da tecnologia no Brasil.

A empresa tem como um dos principais clientes a Fibria, resultado da união da Aracruz Celulose e da Votorantim Celulose e Papel, que tem fazenda de cultivo de eucalipto na cidade de Três Lagoas, no Mato Grosso.

Em setembro do ano passado a empresa alugou cerca de dez máquinas que fazem adubação do solo por meio da agricultura de precisão. Por enquanto, a Fibria utiliza o método em 20 mil dos 154 mil hectares ocupados pela empresa na cidade.

"Como somos uma empresa de capital aberto, é importante utilizar uma tecnologia que reduz fraudes e garante que o adubo foi aplicado", diz Caio Zanardo, coordenador de silvicultura da Fibria, que afirma também que a operação de adubação teve custo reduzido em cerca de 5%.

A meta é expandir o uso da tecnologia para terras de São Paulo e Espírito Santo em 2010. (Carolina Pereira)

quinta-feira, março 25, 2010

A desgastada questão do uso da terra para biocombustíveis

Parece que apesar do Brasil insistir em provar ao mundo que, por estas bandas, é capaz de produzir biocombustíveis sem roubar as terras para a produção de alimentos, nesta semana, em um evento da FAPESP, isso voltou a ser debatido.

O texto abaixo é da Agência FAPESP que encontrei Ethanol Brasil Blog e para complementar encontrei no site do evento, a apresentação de Rodolfo Quintero de onde tirei duas figuras bem representativas. Nelas podemos ver como a produção agrícola e a produção agrícola per capita tem crescido desde a década de 1990, chegando a crescer 10% para o mundo neste período.

Biocombustíveis: uso da terra em questão

A substituição de 25% da gasolina utilizada no planeta por biocombustíveis - dos quais o mais cotado é o etanol de cana-de-açúcar - poderá se tornar uma realidade, satisfazendo boa parte da demanda energética no futuro. Mas muita pesquisa ainda é necessária para calcular com exatidão o impacto desse novo cenário nas mudanças de uso da terra e, consequentemente, na economia.

Essas foram algumas das conclusões apresentadas nesta quarta-feira (24/3) por especialistas em bioenergia na Convenção Latino-Americana do projeto Global Sustainable Bioenergy (GSB), realizada na sede da FAPESP, em São Paulo.

O principal desafio proposto pelo GSB consiste em responder, de forma consistente, se é possível substituir 25% do petróleo utilizado no setor de transportes por biocombustíveis, sem comprometer a produção de alimentos e os habitats naturais. etanol+vantagens+desvantagens

Para Roldolfo Quintero, professor da Universidade Autônoma Metropolitana (México), um grande número de estudos, levando em conta diferentes cenários, indica que é possível realizar a substituição de 25% de biocombustíveis em todo o mundo.

"Acredito ser mesmo possível atingir essa marca com um esforço científico que aumente a produtividade dos insumos utilizados para fazer o biocombustível. É necessário, no entanto, que nos afastemos das culturas empregadas na alimentação. Entre os biocombustíveis, o etanol é a melhor opção, mas o etanol feito de milho não é, definitivamente, uma boa resposta para o problema", disse.

Segundo Quintero, há um consenso geral em relação à capacidade dos biocombustíveis para contribuir com a segurança energética, com a mitigação das mudanças climáticas e com o desenvolvimento social e rural.

"Na minha opinião, o foco deve ser o etanol, que hoje corresponde a 77% da produção de biocombustíveis. Essa produção é liderada pelos Estados Unidos e pelo Brasil, que, juntos, dominam 81% dos biocombustíveis e 91% do etanol. No entanto, precisamos observar que a porcentagem de redução de gases de efeito estufa obtida com o etanol de cana-de-açúcar é expressivamente maior do que a obtida com o etanol de milho", disse.

Os questionamentos relacionados às mudanças no uso da terra provocadas pelo etanol - cuja produção poderia substituir o uso da terra para agricultura - são decorrentes unicamente do uso de milho para fabricação do biocombustível, na opinião do mexicano. "Só o etanol de milho ameaça a agricultura e a segurança alimentar", afirmou.

Segundo ele, os Estados Unidos são os maiores exportadores do mundo de milho, vendendo o produto para mais de 90 países. "Esses países importadores podem sofrer as consequências se a produção de etanol de milho tentar suprir a demanda mundial de etanol", disse.

O México, segundo Quintero, importa dos Estados Unidos 10 milhões de toneladas anuais de milho - o equivalente a um terço do consumo mexicano do cereal. "Em 2009, os Estados Unidos produziram 10,6 bilhões de galões de etanol, o que necessitou de 18 milhões de acres de plantio de milho, ou cerca de 21% da área total dedicada à cultura", afirmou.

Quintero acrescentou que o desenvolvimento tecnológico terá um papel crucial no futuro dos biocombustíveis. "A tecnologia tem muito potencial nesse campo. Se a segunda geração de biocombustíveis entrar em cena nos próximos anos, o cenário será consideravelmente alterado. Há grande progresso nesse sentido. O número de patentes relacionadas a biocombustíveis cresceu de 147, em 2002, para 1.045 em 2007. Já existem mais de 60 plantas piloto para testes com etanol celulósico em países como Brasil, Estados Unidos, Canadá, Espanha, Alemanha, Dinamarca, Suécia e Japão", destacou.

RELEVÂNCIA DA ECONOMIA

Para André Meloni Nassar, diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), a utilização de modelos econômicos é absolutamente necessária para avaliar de forma eficiente as mudanças de uso da terra que serão causadas pela futura produção em larga escala de biocombustíveis.

"A análise econômica é imprescindível para a análise da mudança do uso da terra, porque não é possível explicar as causas e efeitos dessas mudanças sem considerar as alterações dos preços dos produtos em questão. Por outro lado, é preciso dispor de dados locais para alimentar os modelos econométricos. Se usarmos dados genéricos de organizações internacionais, teremos um número tão grande de hipóteses que dificilmente será possível estimar as mudanças no uso da terra", afirmou.

Sob coordenação de Nassar, o Icone desenvolveu um novo modelo econométrico que, ao contrário dos utilizados anteriormente, leva em conta a realidade brasileira no que diz respeito à modificação do uso da terra pelo aumento da demanda de produção de etanol.

O modelo demonstrou que o etanol brasileiro reduz as emissões de gases de efeito estufa em 61% - e não em 26%, como estabeleciam os cálculos anteriores -, convencendo a Agência Norte-Americana de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) a reconsiderar sua avaliação sobre o etanol de cana-de-açúcar, classificando o produto brasileiro como "biocombustível avançado".

A questão dos preços, segundo Nassar, é crucial. "No caso do Brasil, a discussão sobre o impacto do aumento de produção de biocombustíveis sobre a disponibilidade de alimentos, em longo prazo, não é tão importante como parece, porque mesmo que haja substituição do uso da terra há ainda disponibilidade de terras agricultáveis e a produção de alimentos pode ser transferida. O verdadeiro problema nessa questão são os efeitos de curto prazo dessa dinâmica, decorrentes dos preços."

De acordo com Nassar, para que os modelos sejam bem-sucedidos, é preciso combinar a análise econômica a dados geoespaciais. "Construir um modelo não é tão difícil - com uma equipe de quatro pessoas conseguimos fazer em apenas dois anos um modelo bem-sucedido", disse.

"O mais difícil é conseguir os dados para explicar os padrões de mudanças do uso da terra. O principal desafio é que não se pode usar dados globais. E fazer isso em nível nacional exige grande esforço, com uso de imagens de satélite e informações georreferenciadas", afirmou.

segunda-feira, março 22, 2010

Mercado de carbono - Será que um dia pega?

O mercado de carbono ainda está em seu início apesar de tudo o que já foi falado. Espero que um dia este mercado decole pois, a agricultura brasileira tende a ganhar neste cenário. Para entender um pouco melhor a situação atual, encontrei na semana passada três notícias no BrasilAgro.

A primeira dela da Folha Online comenta sobre a opinião do famoso colunista do New York Times, Thomas Friedman que acredita é necessário taxar o carbono para que a economia verde prospere, a segunda da Agência Estado que fala sobre o anúncio de que o governo paulista criou um fundo para financiar investimentos que reduzam a emissão de gases de efeito estufa e por fim, uma notícia do DCI, que mostra que mercado de crédito de carbono deve ter giro de 6 bilhões de dólares em 2020, apesar de ter movimentado apenas 125 milhões no mundo inteiro no ano passado.

É preciso taxar carbono para ter economia verde, diz colunista do "NYT"

O jornalista norte-americano Thomas Friedman, um dos principais colunistas do "New York Times", afirma que os EUA podem "voltar aos trilhos" e recuperar sua liderança global com investimentos maciços em tecnologias de energia limpas.

Para isso, será necessária uma estrutura tributária que preveja, por exemplo, taxação sobre o preço do carbono, segundo entrevista de Natália Paiva publicada na terça-feira (16) na Folha de S. Paulo.

Essa é a ideia central do livro "Quente, Plano e Lotado" (ed. Objetiva, 605 págs.), que chega às livrarias brasileiras no dia 24 (quarta-feira).

A publicação é um aprofundamento do best-seller "O Mundo é Plano" (ed. Objetiva), que desde 2005 vendeu 85 mil exemplares só no Brasil.

Para ele, mesmo que algumas pessoas não acreditem no aquecimento global, há cada vez mais delas se juntando à classe média mundial e consumindo como americanos. Além disso, o mundo está cada vez mais "lotado", com mais pessoas no geral.

Desta forma, Friedman chama a atenção para que os países invistam em "segurança energética, nacional e econômica, companhias inovadoras e respeito global". Ele diz querer que todos aspirem a ser uma nação assim, especialmente a dele.

O entrevistado não crê em decisões tomadas em conferências globais. "Na falta disso, quero liberar meus inovadores e engenheiros para tentar o mesmo objetivo por meio da inovação", declara ele.

SP financiará empresa que reduzir emissão de gases

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), anunciou hoje a criação de uma linha de financiamento para projetos que reduzam a emissão de gases causadores do efeito estufa em empresas de médio e pequeno porte do Estado. O lançamento ocorre antes mesmo de o governo estadual concluir o inventário dos setores produtivos mais poluidores, instrumento que servirá de base para estabelecer metas setoriais de redução de emissões, como prevê a Política Estadual de Mudanças Climáticas. De acordo com a lei, sancionada em novembro, o diagnóstico seria o primeiro passo para o processo de redução das emissões do Estado em 20% até 2020.

A linha de crédito Economia Verde tem como limite o total de recursos da própria agência de fomento paulista, a Nossa Caixa Desenvolvimento, de R$ 600 milhões. Quando terminarem os aportes do Banco do Brasil pela compra do banco Nossa Caixa, o capital da agência chegará a R$ 1 bilhão. Serra prometeu destinar mais recursos para a área se necessário. "Se os recursos escassearem, por excesso de demanda, será uma grande notícia. Nós trataremos de abrir outras linhas, inclusive com financiamento externo do BNDES. A taxa de juros é ''de mãe''", definiu o governador, ao se referir à taxa de 6% ao ano.

O anúncio foi feito durante seminário sobre sustentabilidade promovido pela Nossa Caixa Desenvolvimento para um público de 600 pessoas no Auditório do Ibirapuera, na capital paulista. Serra discursou por 15 minutos sobre os feitos de sua gestão na área ambiental. "Nossa Lei de Mudanças Climáticas é a mais avançada do Brasil e, sem risco de exagero, a mais avançada do Hemisfério Sul", afirmou.

Cotado para disputar a Presidência, Serra colocou o lançamento da linha de crédito como um modelo para o País. "O projeto é inovador no nosso Estado e no Brasil. Vamos dar um belo efeito de demonstração", disse o tucano. "Sem dúvida é um programa para o BNDES fazer também." Questionado se, caso fosse eleito presidente, implantaria a ideia em âmbito nacional, sorriu, virou as costas e encerrou a entrevista coletiva à imprensa.

EMPRESAS

A linha de crédito Economia Verde anunciada hoje emprestará recursos para empresas com faturamento anual entre R$ 240 mil e R$ 100 milhões, a juros anuais de 6% corrigidos pelo IPC-Fipe e com prazo de pagamento de até cinco anos, com um ano de carência e financiamento de 100% do projeto. Os empreendedores interessados deverão submeter à Nossa Caixa Desenvolvimento, por meio de entidades de classe, projetos que resultem na redução da emissão de gases de efeito estufa de sua empresa. Serão beneficiados os setores de agroindústria, transportes, saneamento, energia, indústria, construção civil e de recuperação florestal e manejo de resíduos.

A Nossa Caixa especificou 22 projetos que podem pleitear financiamento da Linha Verde. Alguns deles: substituição de combustível fóssil por combustível alternativo, substituição de energia não renovável por energia renovável, tratamento e aproveitamento de resíduos (como reciclagem), redução de perda energética no processo produtivo, instalação de aparelhos que reduzam a geração de gases poluentes, reflorestamento, construções sustentáveis e elaboração de inventários de emissão de gases de efeito estufa.

Mais informações podem ser obtidas no site da agência de fomento, no endereço www.nossacaixadesenvolvimento.com.br.

Crédito de carbono deve ter firo de US$ 6 bilhões no Brasil

A BM&F Bovespa realizará no próximo dia 8 de abril o primeiro leilão de créditos de carbono no mercado voluntário. Ao todo serão leiloadas 180 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalente (a unidade corresponde a um crédito de carbono), em três lotes de 60 mil cada um. Os dois primeiros lotes têm valor de saída de R$ 10. Para o último lote, o preço será de R$ 12. O maior lance vencerá o leilão on-line, cujo tempo máximo será de 15 minutos. A expectativa da Bolsa é captar acima de R$ 2 milhões.

A expectativa do mercado mundial é de que a venda de créditos (asset) gere US$ 170 milhões este ano, sem a entrada do governo norte-americano na conta. Ano passado, o mundo negociou US$ 125 milhões em CO2 equivalente. Em 2020, a previsão é de movimentar US$ 3 trilhão no mundo e US$ 6 bilhões no Brasil.

Segundo o Banco Mundial, os principais compradores de créditos entre janeiro de 2004 e abril de 2005 foram o Japão (21%), a Holanda (16%), o Reino Unido (12%) e o restante da União Europeia (32%). Em termos de oferta de créditos (volume), a Índia lidera o ranking, com 31%. O Brasil possui 13% do share, o restante da Ásia (inclusive China) tem 14%, e o restante da América Latina, 22%.

Para o banco, o Brasil será beneficiado como vendedor de créditos de carbono e também como alvo de investimentos em projetos engajados com a redução da emissão de gases poluentes, como é o caso, por exemplo, do biodiesel. Pela projeção da instituição, o País poderá ter uma participação de 10% no mercado de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), equivalente a US$ 1,3 bilhão em 2007.

Levantamento do mercado aponta que os projetos na área de biocombustíveis equivalem a 50% dos projetos de redução da emissão de carbono no Brasil.

O diretor executivo da Cantor CO2 - empresa de serviços financeiros para os mercados de energia e meio ambiente -, Divaldo Rezende, explica que existem dois grandes mercados mundiais: o voluntário e o regulado. O primeiro é feito por países e empresas que não têm obrigação de reduzir a emissão de CO2, como é o caso do Brasil. Por sua vez, o segundo mercado, o regulado, existe para países e empresas que são obrigados a reduzir os níveis do poluente, nos quais o não-cumprimento da meta implica multa. "A tendência é que o mercado voluntário seja incorporado antes de o mercado estar regulado."

A negociação de contratos futuros de crédito de carbono já ocorre na Bolsa de Chicago e em países como Canadá, República Tcheca, Dinamarca, França, Alemanha, Japão, Holanda, Noruega e Suécia. Futuramente, entrará em vigor o mercado regional europeu, batizado de European Union Emission Trading Scheme.

Rezende destaca que gerar créditos de carbono não é um processo simples. Ele exemplifica citando a construção de uma linha de metrô. "É preciso avaliar se o carbono foi importante ou não para executar a obra. Depois disto há a verificação de entidades independentes, para gerar o título ou não. O passo seguinte é negociar", complementa.

O diretor executivo ressaltou que a cotação do asset caiu durante a crise financeira, porque os bancos se desfizeram dos papéis, com o que o preço despencou. "A cotação era de 33 euros antes da crise; já pela cotação da terça-feira o valor era pouco mais de 11 euros. O preço, porém, deve subir em breve". Segundo ele, hoje, a exportação de carbono já ocupa a 17ª posição na pauta de comércio brasileira.

LEILÃO

Para o gerente de Produtos da BM&F Bovespa, Guilherme Fagundes, a maior dificuldade de se fazer um leilão deste tipo de ativo era a comprovação de que ele é único e a não-negociação dupla do produto. "Hoje existe um sistema que funciona de forma similar à de um banco, que garante que o título é único", afirma o gerente. De acordo com Fagundes, quando a empresa compradora utiliza o certificado para neutralizar a emissão, o contrato torna-se inválido, e nunca mais será negociado novamente. "É a grande garantia para o comprador e para o emissor."

Outra forma de utilização do título é a negociação em mercados futuros. "Muitos compradores revendem, como se faz com um título, e especulam o preço para ganhar dinheiro", explicou.

Ele projeta que quando o mercado de carbono amadurecer será possível a venda "a termo", não somente "à vista". "Hoje é preciso ter uma cesta de projetos reunidos para que a Bolsa possa efetuar o leilão. Os leilões serão feitos caso a caso, projeto a projeto. A Bovespa garante a transparência e credibilidade." Fagundes afirmou que a documentação dos interessados deve ser entregue em corretoras cadastradas na Bovespa até o dia 5 de abril.

De acordo com a Bovespa, os créditos a serem leiloados foram gerados a partir de nove projetos de biomassa renovável em cerâmicas localizadas em São Paulo (Panorama, Paulicéia), Pará (São Miguel do Guamá), Pernambuco (Lajedo, Paudalho), Sergipe (Itabaiana), Minas Gerais (Ituiutaba) e Rio de Janeiro (Itaboraí).

Pinhão manso no espaço?

Parece que cientistas estão usando o espaço para melhorar a tecnologia de produção do pinhão manso. Podemos ver isso na reportagem abaixo que encontrei no Portal Exame.

Vale tudo para melhorar a produtividade das culturas energéticas.

Biocombustível poderá vir do espaço
Com patrocínio da NASA, pesquisadores tentam encontrar formas de melhorar a produção de energia em plantas usadas para fabricação de biocombustível testando sua reação no espaço.
Paula Rothman, de INFO Online

Há algum tempo, cientistas da Universidade da Flórida vêm investigando as propriedades da Jatropha curcas, também conhecida como pinhão manso.

A planta tem capacidade de produzir uma grande quantidade de óleo, que pode ser convertido em biocombustível.

Decidida a testar os limites da planta, a equipe de cientistas planejou realizar alguns testes em um laboratório nada convencional, e enviou células de jatropha curcas à Estação Espacial Internacional. É em pleno espaço que o experimento chamado de National Lab Pathfinder-Cells 3 deve revelar se a microgravidade pode influenciar no crescimento das culturas.

Estudando os efeitos no espaço, os cientistas aqui da Terra pretendem acelerar o processo de cultivo comercial, melhorando a estrutura da célula, seu crescimento e desenvolvimento. Esse é o primeiro estudo a analisar os efeitos a microgravidade em células de uma planta biocombustível.

As culturas foram lançadas com o ônibus espacial Endeavour, durante a missão STS-130 em fevereiro. Elas foram enviadas à Estação Espacial em frascos especiais com nutrientes e vitaminas e serão expostas à microgravidade até abril, quando retornam para a Terra com a missão Discovery STS-131.

Para controle, amostras idênticas às enviadas estão sendo cultivadas na Universidade da Flórida.

domingo, março 21, 2010

ABAG faz reivindicações aos presidenciáveis

A ABAG (Asssociação Brasileira do Agronegócio) se antecipou e elaborou lista com 16 pedidos aos candidatos à presidência. Esta ação é de extrema importância e mostra ao futuro presidente algumas ações que devem ser tomadas. A notícia abaixo é da Assessoria de Imprensa da ABAG que encontrei no Portal do Agronegócio:

Abag enumera propostas a presidenciáveis
Entidade setorial entregará lista com 16 pleitos e aguardará o posicionamento dos principais candidatos

Os representantes do agronegócio reunidos sob o guarda-chuva da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) elaboraram uma lista com 16 tópicos com as reivindicações do setor para entregar aos quatro principais candidatos à presidência da República. A ideia é que os pedidos sejam analisados para que cada candidato grave um vídeo com suas respectivas propostas para o agronegócio, que serão apresentados no próximo Congresso da Abag, marcado para agosto deste ano.

Apesar de a ideia parecer nova, os pleitos do setor são basicamente os mesmos de quatro anos atrás. As propostas de mudanças partem do orçamento e papel do Ministério da Agricultura, passam pela defesa sanitária, infraestrutura e segurança fundiária e chegam ao meio ambiente e sustentabilidade. Os demais itens tratam de crédito, seguro rural, marketing, agroenergia, pesquisa e relações internacionais, além de tributação, contratos nas cadeias, certificações e montagem institucional.

"O agronegócio tem que usar sua força para trabalhar na implementação de seus anseios que não têm sido atendidos. Da lista entregue em 2006, um percentual próximo a zero foi atendido, sendo identificado uma melhora apenas na questão dos organismos geneticamente modificados", diz Carlo Lovatelli, presidente da Abag.

Mesmo com a longa lista de reivindicações, o próprio setor reconhece que as questões tributária e fundiária, a infraestrutura deficitária e o meio ambiente são os quatro principais temas mais problemáticos. "Os 16 temas apresentados podem ser reavaliados. Queremos a contribuição de todos, já que cada setor tem a sua agenda e sabemos que não existe um consenso do próprio agronegócio. Nossa intenção é chegar o mais próximo disso", diz Lovatelli.

A ideia da Abag é que o documento a ser entregue aos candidatos apresente o contexto de cada item, mostre o objetivo do setor com cada um dos pedidos e as melhores estratégias a serem adotadas. Mesmo com a intenção de detalhar ao máximo os pedidos para facilitar o entendimento dos candidatos, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues defendeu a apresentação de um número menor de propostas, que envolvam todos os pleitos do setor.

"Nosso problema não é falta de políticas para o agronegócio. O que falta é uma estratégia de Estado para o setor que envolva todos os ministérios necessários, porém, com a coordenação da [Pasta] Agricultura. Essa estratégia deve ser lastreada nas metas a serem apresentadas neste documento", disse Rodrigues.

O ex-ministro lembrou que, mesmo diante do peso do agronegócio para a economia do país, nenhum representante do setor foi chamado para compor o Grupo de Acompanhamento da Crise, criado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, no ano passado

quarta-feira, março 17, 2010

Visão de um americano das perdas na soja

Às vezes é interessante obter uma visão de fora do nosso país. Encontrei no site da DTN Progressive Farmer um blog chamado South America Calling. Neste blog Kieran Gartlan, correspondente no América do Sul, escreve sobre o setor de grãos. Na semana passada escreveu um artigo em inglês intitulado "Brazil Leaves Over 100 Mln Bushels Of Beans In the Field" onde comenta sobre a colheita no MT. Resolvi traduzir para o português e converter de bushels para toneladas porque achei ilustrativo:

Brasil deixa mais de 2,7 milhões de toneladas de soja no campo

Esta safra de soja, talvez uma safra recorde, poderia ter sido ainda maior se os agricultores brasileiros utilizavassem equipamentos melhores, ou aprendessem a regular melhor sua colhedora.

De acordo com um estudo recente realizado pela Embrapa, cerca de 55 kg de soja são perdidos por hectare nos campos, devido à utilização de colhedoras velhas ou mal reguladas.

Isso equivale a mais de 2,7 milhões de toneladas de grãos. Dada uma estimativa de safra para este ano de 66,7 milhões de toneladas, divulgada pelo Ministério da Agricultura nesta semana, poderiam ter alcançado perto de 70 milhões caso os agricultores aprendessem a regular melhor suas colhedoras.

Segundo a Embrapa, mais de 80 por cento das perdas são devido ao fraco desempenho da plataforma de corte, ou velocidade inadequada da colhedora com relação à velocidade de rotação da plataforma.

Idealmente, plataforma deve estar o mais próximo possível do chão possível, enquanto que a velocidade da colhedora deve estar sincronizada com a velocidade de rotação da plataforma.

Assim como as perdas no campo, estima-se que o Brasil perde mais de 200 mil toneladas de soja devido às estradas ruins e as perdas de grãos nos caminhões a caminho do porto.

domingo, março 14, 2010

Espuma assassina de frangos - tecnologia macabra

Li esta noticia na versão em papel do Brasil Econômico da sexta-feira e acabei encontrando-a no site do jornal. Parece algo macabro, mas quando vemos o benefício que se obtém com ela, acaba ficando quase normal (que me perdoem os mais sensíveis):

Espuma assassina abate frangos doentes em SC
Acaba de chegar a Santa Catarina uma espuma capaz de dizimar mil frangos em apenas 1 minuto.

Suas primeiras vítimas no Brasil foram 400 aves de um aviário de Arabutã (SC), que morreram asfixiadas pela espuma no início do mês.

A cena, um tanto quanto sinistra, foi acompanhada com entusiasmo por representantes das indústrias e dos avicultores.

Entusiasmo, não sadismo. A espuma é gerada por uma máquina importada por um grupo de grandes indústrias avícolas, como Brasil Foods e Marfrig, por meio da Associação Catarinense de Avicultura (Acav). Mas ela só entrará em operação em caso de ocorrências sanitárias que exijam a rápida eliminação e desinfecção de aves, para evitar a disseminação de doenças.

O investimento no equipamento foi de R$ 170 mil, mas seus benefícios fazem valer a pena. Muito embora, é preciso ressaltar, ninguém espera ter que usá-lo. "É como um seguro, temos mas não queremos usar", afirma o diretor executivo da Acav, Ricardo Gouvêa.

Santa Catarina tem o melhor status sanitário do país, e não registra foco de doenças avícolas perigosas há mais de uma década.

Até hoje, as indústrias e produtores precisariam realizar o abate manual das aves potencialmente infectadas, uma a uma, no caso da identificação de um foco de gripe aviária, por exemplo. Além de correrem risco de se infectar, as pessoas ainda poderiam transmitir a doença a outras aves.

O produto utilizado na espuma não é tóxico ou nocivo ao homem. Uma espécie de ventilador espalha rapidamente a nuvem branca e densa. Pequenas partículas entram no sistema respiratório e asfixiam os Gouvêa e o fabricante garantem que não há sofrimento.

A espuma e os frangos mortos devem ficar no aviário por três dias, para que os desinfetantes presentes na fórmula façam efeito.

A espuma reduz também o tempo necessário para a eliminação dos frangos. A rapidez na resposta a um foco de uma doença contagiosa é essencial para minimizar os danos econômicos, especialmente considerando que males como a gripe aviária podem exigir a eliminação de todas as aves em um raio de quilômetros.

O aparelho ficará na sede da Sadia, em Concórdia (SC), de onde poderá chegar a qualquer localidade do estado em até cinco horas, rebocado por uma caminhonete ou caminhão.

Todos os anos, 700 milhões de aves são abatidas no estado, e o principal destino é a exportação. "Estaremos prontos para dar uma resposta muito mais rápida a um evento sanitário, o que é importante para a imagem do produto catarinense", explica o executivo da Acav.

Agricultura e cemitérios

A máquina da espuma assassina foi lançada há dois anos pela Kifco, uma fabricante de equipamentos para irrigação de Havana.

Não em Cuba, mas no estado americano de Illinois. Os principais negócios da Kifco são sistemas de irrigação móveis para agricultura, campos esportivos e jardins. Há também uma linha só para cemitérios. (Luiz Silveira)

Um teste com 400 frangos mostrou a eficiência da máquina, cuja espuma elimina os animais e desinfeta os cadáveres e os aviário

Sofisticado e patinho "bonito". A situação atual do agronegócio brasileiro

Em artigo publicado no Estado de São Paulo domingo passado, o economista José roberto Mendonça de Barros coloca com propriedade o que é o atual agronegócio brasileiro, que deixou de ser o patinho feio da economia. Em complemento, o Ministro Stephanes, em matéria da Gazeta do Povo de Curitiba de 12/março fala que a agricultura é o patinho "bonito" da economia.

Estes dois artigos, o primeiro encontrado no BrasilAgro e o segundo no Notícias Agrícolas, mostram a mesma visão que tenho do agronegócio brasileiro: um setor dinâmico com extremo potencial para nosso país:

Agroindústria: Muito mais sofisticação do que se imagina

Existe uma longa tradição analítica na qual se divide a economia em três setores: primário (atividades agropecuárias), secundário (indústrias extrativas, de transformação, construção civil e utilidades públicas) e terciário (que inclui todos os tipos de serviços públicos e privados).

Até aí tudo bem. Entretanto, há também uma tradição em se associar as atividades primárias a baixas produtividades, pouca tecnologia e reduzida interconexão (bolsões) com o resto da economia, além de reduzida eficiência organizacional. Ao mesmo tempo associa-se a indústria qualidades opostas, ou seja, elevada produtividade, maiores níveis tecnológicos e sofisticada organização.

Historicamente isso certamente é correto, pelo menos até há pouco tempo, o que resultou em uma proposição ainda hoje extraordinariamente difundida e aceita que mais indústria é bom e mais agricultura é ruim do ponto de vista do crescimento. Um corolário imediato é também derivado na área de comércio exterior: mais exportações agrícolas (e minerais) pouco contribuem para o crescimento de longo prazo, pois provocam valorização cambial e pouca expansão do emprego, prejudicando a indústria, a chave do crescimento.

Essa dicotomia tem hoje muitos problemas para ser usada sem muita cautela, por algumas razões.

Uma parte crescente das novidades tecnológicas não está na indústria, mas sim nos serviços, onde se destacam a Tecnologia de Informação (TI), as comunicações, o "cluster" da saúde, os serviços criativos, etc. Esse fenômeno é tão poderoso que se reconhece que vivemos uma revolução de software, onde se gera a maior parte do valor, que coloca o hardware (máquinas e equipamentos), como caudatários do processo.

Vi nesses anos essa evolução, pois quando trabalhei como consultor do IPT, em 1979, os tornos estavam recebendo os primeiros controles numéricos; as máquinas de hoje são incrivelmente mais elaboradas do que então. Outro exemplo singelo vem da pergunta: o que vale mais, o aparelho de telefone ou os mais de 300 mil aplicativos que se projetam como disponíveis em 2010 para o iPhone?

Por outro lado a TI permitiu uma ampla modificação no sistema de produção onde, entre outras coisas, se busca cada vez mais foco e especialização para o que desverticaliza a cadeia de produção, inclusive entre países.

Como consequência as atividades produtivas se organizam de maneiras diferentes, formando cadeias muito mais complexas que no passado e tornando a meu juízo envelhecidas as contraposições do tipo agricultura versus indústria.

Lembremos mais uma vez que a questão do desenvolvimento tem a ver com a expansão das atividades de alta produtividade e de geração de valor (função da utilização de maiores doses de capital, mais trabalho qualificado e mais conhecimento) para as quais exista um mercado amplo e não de segmentos distantes como no passado.

A propósito, Pedro Cordeiro, da Bain & Co, colocou em recente apresentação na MB que muitas evidências sugerem que afora a área de TI, três setores se destacam em termos de esforços e geração de novas tecnologias: a aeronáutica/astronáutica, o petróleo de águas ultraprofundas e a biotecnologia.

Entre as cadeias de recursos naturais, nada mais ilustra as observações feitas até aqui do que a evolução e as perspectivas do setor de cana-de-açúcar. Há 30 anos o setor produzia essencialmente açúcar. A partir de então uma intensa transformação se inicia tanto na produção agrícola como nos processos produtivos e, especialmente, na estrutura de produtos. O gráfico nessa página auxilia a acompanhar essa evolução.

A primeira grande modificação, como se sabe, foi a introdução da utilização do etanol em veículos, que resultou na evolução do carro flex. Embora a mudança tecnológica nos veículos não seja dramática, ela foi original ao produzir veículos competitivos com a gasolina em larga escala. Esse é um feito considerável e um belo estímulo ao setor automotivo só possível pela elevação da produtividade na cadeia da cana como um todo.

Mais recentemente novos usos para o etanol estão em desenvolvimento, como para aviões, ferrovias e termoelétricas. Finalmente, a decisão da agência americana de meio ambiente (EPA) classificando nosso álcool como avançado abre um espaço efetivo para exportações.

O terceiro grande avanço foi o da cogeração de energia elétrica. O setor caminha para produzir 10 mil MW nos próximos quatro anos. O que muita gente não sabe é que para produzir energia elétrica é necessário realizar uma alteração fundamental no tipo de equipamento utilizado na geração de vapor, pois a otimização da queima do bagaço implica na necessidade de se trabalhar com altas pressões.

O impacto da indústria de bens de capital, incluindo todo o sistema de transmissão de energia é significativo. Além dessas inovações consolidadas estamos entrando em duas áreas novas resultantes de inovações tecnológicas e que terão uma grande produção daqui pra frente. Falamos da produção de bioplásticos e outras matérias-primas para a alcoolquímica, como solventes, e dos bicombustíveis de segunda geração.

No caso de bioplásticos, o projeto pioneiro é o da Braskem, que está construindo uma nova planta de eteno de etanol, com capacidade de produção de 200 mil toneladas/ano, com início de operação previsto para o fim de 2010. Toda a produção já está posta e uma ampliação da capacidade ocorrerá em seguida. Em outra frente, vale mencionar o projeto da Usina da Pedra para produção de bioplásticos degradáveis. Esse é um desenvolvimento de alto impacto que traz a possibilidade de forte expansão da alcoolquímica.

A quarta e última área relevante é a dos biocombustíveis de segunda geração. O projeto mais conhecido é o da Amyris que já está chegando à escala industrial, onde com o caldo da cana e o uso de certas leveduras é possível produzir diesel (que não contém enxofre como o diesel mineral) e outros combustíveis, bem como especialidades químicas diversas. Essa é uma rota revolucionária que agrega enorme valor, beneficiando o meio ambiente e cujos mercados potenciais são gigantescos.

Existem outros projetos na mesma área, como o da ETBE da Braskem e o do biobutanol da BP/DuPont.

Finalmente existem as rotas de utilização do bagaço para a produção de biocombustíveis, como a gaseificação e a rota celulósica. Nesse caso os projetos comerciais só ocorrerão mais adiante.

O importante a ressaltar é que o complexo industrial em torno da cana está se alargando com as inovações tecnológicas de grande envergadura, que poderão dobrar o tamanho do sistema como um todo em poucos anos, beneficiando o investimento, o emprego e o meio ambiente.

Para encerrar, faço duas observações: no plano da produção agrícola também observamos elevação de produtividade, sofisticação do processo produtivo e grande impacto na indústria de insumos e equipamentos.

Por outro lado, o processo de inovações tecnológicas continua. Além dos novos produtos acima descritos vale mencionar que as novas variedades já desenvolvidas pela pesquisa permitem elevar de 30 a 50% a produtividade média da cana em poucos anos, acentuando a competitividade de todo o sistema.

As cadeias de recursos naturais são hoje muito mais sofisticadas do que em geral se imagina. Voltaremos a isso em próxima ocasião (José Roberto Mendonça de Barros é economista e sócio da MB Associados)

Agricultura continua sendo o “patinho bonito” da economia, diz Stephanes

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse nesta quinta-feira (11) que, mesmo sendo o setor com a segunda maior queda (-5,2%) do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, melhor apenas que o industrial (-5,5), de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a agropecuária continua sendo o “patinho bonito” da economia.

Segundo Stephanes, o principal motivo para a queda foi a redução de mais de 6% no volume de grãos produzidos no ano passado. Além disso, ele ressaltou que é preciso observar a variação de preços na agropecuária, que têm oscilações maiores do que em outros setores,

Para este ano, porém, o ministro acredita num bom crescimento. Ele destacou os dados divulgados pelo IBGE e pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que indicam, respectivamente, crescimento de 8% e 6,5% na produção de grãos.

“No horizonte dos últimos 20 anos, o crescimento da agricultura é 50% superior que a média dos demais setores da economia. Então, ela é o patinho bonito”, afirmou. Stephanes disse que as quedas são cíclicas e deu como exemplo a seca na Região Sul, que levou à perda de mais de 6 milhões de toneladas de grãos em 2009.

sábado, março 13, 2010

Logística vergonhosa penaliza soja de MT

Apesar de não ser uma notícia recente, ela é de 7 de março, acho que ela é digna de nota, pois o que acontece com a logística, principalmente, da produção de grãos no Brasil é algo vergonhoso. Assim fica difícil concorrer com os americanos. Tem que ter muita produtividade...A notícia foi encontrada no Canal Rural:

Frete custa quase 50% da safra de soja de MT
Custos do transporte até o porto representam oito milhões de toneladas, quase a metade da produção

De cada dez sacas de soja colhidas nesta safra no Estado de Mato Grosso, quase cinco serão consumidas pelo frete. Os custos do transporte até o porto representam oito milhões de toneladas, quase a metade da produção do Estado que responde por 62% da soja produzida no Brasil.

O frete está 25% mais caro este ano, e ainda faltam caminhões. Os produtores culpam a precariedade das estradas de Mato Grosso e o aumento no custo do pedágio no Paraná e em São Paulo pelo que chamam de "apagão logístico".

Quem leva a soja para o Porto de Santos paga R$ 1.095,50 por viagem só de pedágio, média de R$ 2 por saca. É como deixar 42 sacas nas praças de cobrança.

— Temos o frete mais caro do mundo — reclama o empresário Eraí Maggi Scheffer, de Rondonópolis, um dos maiores produtores do país.

O Estado já colheu mais da metade das 18,4 milhões de toneladas previstas. Como grande parte da produção foi negociada no mercado futuro, os produtores têm pressa de embarcar a produção. Muitos estão com os silos abarrotados com o milho que não foi vendido por causa dos preços baixos.

O aumento na produção da soja e a coincidência da colheita com outras regiões produtoras fizeram crescer a demanda pelo transporte. Na semana passada, apenas na região de Rondonópolis cinco mil carretas circulavam. (José Maria Tomazela - Agência Estado).

terça-feira, março 09, 2010

Vinho argentino com problemas na Europa

Parece que vai faltar vinhos sul-americanos no Brasil. Primeiro foi a queda na oferta dos vinhos chilenos por causa do terremoto, fato comentado no post "Má notícia aos apreciadores dos vinhos chilenos" e agora um post do Blog Primeiro Lugar da Exame de Marcelo Onaga parece que, se as autoridades brasileiras repetirem o procedimento europeu, também vai faltar vinho argentino por aqui.

Vinhos argentinos proibidos na Europa

Os vinhos argentinos, que vêm fazendo tanto sucesso no Brasil nos últimos anos, entraram em uma lista negra na Europa. Autoridades alemãs encontraram, após análises, a presença de um fungicida em dez vinhos argentinos de diversas regiões do país. Mais de 100 000 garrafas foram retiradas do mercado, mas o dano à imagem dos produtos argentinos deve afetar todo o estoque que existe na região.

Além disso, os vinhos argentinos que têm o mercado europeu como destino estão embargados e não poderão ser liberados. A contaminação ocorreu no fim do ano passado. O fungicida é um produto tóxuico que foi usado na limpeza de diversas vinícolas argentinas.

No Brasil ainda não houve nenhuma sanção aos vinhos do país vizinho.

domingo, março 07, 2010

Brasil passa Canadá e já 3º maior exportador agrícola

O Brasil conseguiu ultrapassar o Canadá e agora só fica atrás dos EUA e da União Européia (que para mim não devia estar nesta lista) em exportações agrícolas no ano passado. A reportagem abaixo da Agência Estado que encontrei no Cosmo mostra como e porque isso aconteceu:

Segundo OMC, Brasil é o 3º maior exportador agrícola
Hoje, apenas Estados Unidos e União Europeia vendem mais alimentos no planeta que produtores brasileiros

Brasil ultrapassou o Canadá e se tornou o terceiro maior exportador de produtos agrícolas do mundo. Na última década, o País já havia deixado para trás Austrália e China. Hoje, apenas Estados Unidos e União Europeia vendem mais alimentos no planeta que os agricultores e pecuaristas brasileiros

Dados da Organização Mundial de Comércio (OMC), divulgados este ano, apontam que o Brasil exportou US$ 61,4 bilhões em produtos agropecuários em 2008, comparado com US$ 54 bilhões do Canadá. Em 2007, os canadenses mantinham estreita vantagem, com vendas de US$ 48,7 bilhões, ante US$ 48,3 bilhões do Brasil

O ritmo de crescimento da produção brasileira de alimentos já deixava claro que a virada estava prestes a ocorrer. Entre 2000 e 2008, as exportações agrícolas do Brasil cresceram 18,6%, em média, por ano, acima dos 6,3% do Canadá, 6% da Austrália, 8,4% dos Estados Unidos e 11,4% da União Europeia. Em 2000, o País ocupava o sexto lugar no ranking dos exportadores agrícolas

Uma série de fatores garantiu o avanço da agricultura brasileira nos últimos anos: recursos naturais (solo, água e luz) abundantes, diversidade de produtos, um câmbio relativamente favorável até 2006 (depois a valorização do real prejudicou a rentabilidade), o aumento da demanda dos países asiáticos e o crescimento da produtividade das lavouras

“Houve uma mudança nas vantagens comparativas em favor do Brasil que teve um custo de produção baixo para vários produtos nesse período graças aos seus recursos naturais e ao câmbio”, disse o analista sênior da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Garry Smith

Para o sócio-diretor da MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros, “o Brasil é hoje a única grande agricultura tropical do planeta”. Ele ressalta que o aproveitamento da terra é melhor na zona tropical. Em algumas regiões do Brasil, é possível plantar milho depois de colher soja, o que significa duas safras no mesmo ano.

sábado, março 06, 2010

FAO de olho na pecuária

Parece que, depois da onda dos biocombustíveis, a pecuária parece ser o grande vilão da guerra pela produção dos alimentos.

Recentemente, a FAO (Food and Agriculture Organization da ONU) lançou o estudo anual chamado Estado da Alimentação e Agricultura, cujo tema este ano foi a pecuária. O estudo na íntegra pode ser obtido, em inglês, clicando aqui. Neste relatório é publicada a condição atual e as necessidades futuras do setor.

A publicação deste relatório fez com que houvessem várias notícias sobre o tema em jornais brasileiros. Achei três notícias interessantes que postei abaixo. A primeira dela é Valor Econômico que encontrei no AviSite, a segunda do IG que encontrei no Notícias Agrícolas e a última também encontrada no Notícias Agrícolas com texto original da Folha Online:

FAO quer taxa ambiental na pecuária

A pecuária deveria ser taxada para reduzir os estragos ao ambiente causados pela produção de carnes. Polêmica, a proposta da Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) afeta grandes exportadores de carnes como o Brasil e pode ser considerada o "contrapeso" do cenário de crescimento contínuo da demanda internacional sinalizado em amplo estudo divulgado na quinta-feira.

A agência da ONU estima que a produção mundial de carnes dobrará até 2050 para atender a uma demanda que cresce de maneira vertiginosa. E alerta que a elevação constante da produção animal "se traduzirá em enormes pressões sobre a saúde dos ecossistemas, a biodiversidade, os recursos em terras e florestas e na qualidade da água, além de contribuir de maneira significativa para o aquecimento do planeta".

Nesse cenário, a FAO sugere que os governos adotem medidas para reduzir o custo ambiental da expansão da pecuária, e uma dessa medidas poderia ser a imposição de "taxas ou direito de utilização de recursos naturais" pelos pecuaristas, para levá-los a "internalizar os custos dos estragos ambientais causados pela produção animal". Segundo a agência, impor taxações é necessário sobretudo porque "os preços atuais das terras, da água e dos alimentos usados na produção dos rebanhos frequentemente não refletem o verdadeiro valor desses recursos, o que provoca seu excesso de consumo".

A FAO sugere, também, políticas que favoreçam o consumo de carnes suína ou de frango em vez de carne bovina - isso porque são necessárias menos calorias vegetais para produzir uma caloria animal. A FAO, na prática, incorpora uma posição de vários países desenvolvidos nos ultimos tempos, que visa a frear a produção de carne bovina.

A instituição igualmente defende que os governos estimulem os pecuaristas a melhorarem a alimentação dos rebanhos para reduzir as emissões de metano. Isso poderia ser feito, por exemplo, com mais aditivos.

Para a FAO, todo o custo "externo" deve ser incorporado nas políticas pecuárias "para levar em conta o custo integral da poluição e outros aspectos ambientais negativos". Com isso, acredita o braço da ONU, os produtores serão impelidos "a fazer escolhas de gestões menos custosas para o meio ambiente e para a sociedade como um todo". Por sua vez, os pecuaristas que protegem o ambiente devem ser indenizados através de "benefício imediato" - como ajuda para melhorar a quantidade e qualidade da água, por exemplo.

A FAO procura mostrar que o custo ambiental é enorme: a pecuária é responsável por 18% das emissões totais de gases de efeito estufa, mais do que o setor de transportes. Na América Latina e no Sudeste da Ásia, os bovinos são responsáveis por 85% das emissões do setor, pelo metano.

Segundo o relatório, a pecuária, que contribui com 40% do valor total da produção agropecuária global e assegura a subsistência de um bilhão de pessoas, é a atividade que mais se utiliza dos recursos do planeta e ocupa 80% da superfície agrícola total. O setor é responsável por 8% do consumo mundial de água.

Outro desafio é a saúde pública, já que 75% das novas doenças que afetaram os serem humanos nos últimos dez anos são causadas por patologias provenientes de animais ou de produtos de origem animal. Além disso, em muitos países em desenvolvimento explorações intensivas situam-se perto de centros urbanos para baratear o transporte.

Se a proposta de taxação avançar junto aos governos, o impacto sobre o Brasil será evidente. O país é o maior exportador mundial de carne bovina, e é brasileira a maior empresa de proteínas do mundo, a JBS.

A própria FAO projeta que a produção do campo brasileiro (grãos e pecuária), que a agência estima já ter crescido 50% desde 2000, poderá ter novo salto de 50% nos próximos dez anos, o que também alimenta a demanda para atenuar questões ambientais e de saúde.

A melhora de renda, sobretudo em países emergentes, o crescimento demográfico e a urbanização são os principais fatores para a crescente demanda global por produtos à base de carnes. E continuarão a sê-lo, ampliando mudanças no consumo, conforme o relatório divulgado. Em 2005, um chinês comia 59,5 quilos de carnes por ano - eram 13,7 em 1980. No mesmo período, o país asiático multiplicou seu consumo de lácteos por dez. Também a demanda brasileira por produtos animais registrou forte incremento: o consumo per capita de carne quase dobrou, e o de leite aumentou 40%.

Globalmente, o consumo de carnes passou para 41,2 quilos por pessoa em 2005, ante 30 quilos em 1980. Apesar de campanhas apontando o consumo de carnes como um fator de obesidade e de doenças cardiovasculares, a FAO diz, por outro lado, que os produtos animais são "excelente fonte de proteína de alta qualidade".

Para atender ao aumento da demanda, a produção global de carnes terá de dobrar até 2050, de 228 milhões de toneladas para 463 milhões. O número de bovinos passará de 1,5 bilhão para 2,6 bilhões, e o de caprinos e ovinos, de 1,7 bilhão para 2,7 bilhões de cabeças.

Em 2007, os países em desenvolvimento superaram as nações desenvolvidas na produção de carnes e ovos e eliminaram seu atraso na produção de leite. O aumento da produção reflete, em grande, parte a alta do consumo. A China e o Brasil têm os crescimentos mais importante, sobretudo para carnes. Entre 1980 e 2007, a China multiplicou sua produção por seis e hoje responde por 50% do total produzido nos países em desenvolvimento e por 31% da produção mundial. O Brasil multiplicou sua produção por quatro e tem mais de 11% da produção de carnes dos países em desenvolvimento e 7% da global.

O relatório da FAO corrobora o domínio do Brasil nas exportações mundiais de carnes. Em dez anos, o país multiplicou as exportações de frango por cinco, as de carne bovina por oito e as de carne suína, por dez. A FAO diz que o país explorou progressivamente os custos mais baixos de grãos para alimentação animal para desenvolver sua pecuária industrial. Terras abundantes e mais infraestrutura em Mato Grosso e no Cerrado reforçam a projeção de que o país continuará avançando.(Assis Moreira)

Pecuária cresce no mundo e precisa de investimentos, diz FAO

A demanda global por produtos pecuários deve apresentar um forte crescimento até 2050 em meio a aumentos de população, e investimentos substanciais no setor são necessários para ampliar a produção, afirmou a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

A pecuária, que contribui com 40% do valor global da produção agropecuária e tem crescido rapidamente, deve se ampliar impulsionada pela demanda em países em desenvolvimento já que a renda das pessoas aumenta e elas se mudam para as cidades, de acordo com a FAO.

A produção global anual de carne deve subir para 463 milhões de toneladas até 2050 ante 228 milhões de toneladas agora, disse a FAO em seu relatório anual sobre a Situação da Agricultura e dos Alimentos, que avalia o setor pecuário pela primeira vez desde 1982.

O rebanho de bovinos deve subir de 1,5 bilhão de cabeças para 2,6 bilhões, e o de cabras e ovelhas passaria de 1,7 bilhão para 2,7 bilhões, disse a FAO.

Isso por sua vez vai ampliar a demanda por grãos para ração em 553 milhões de toneladas no período, o que responderia por cerca de metade do aumento total de demanda, disse a agência.

Fortes investimentos e governança são necessários para que a produção pecuária atenda à crescente demanda e garanta a segurança alimentar, a sustentabilidade ambiental e a saúde humana, disse a FAO.

"A rápida transição da pecuária está acontecendo em um vácuo institucional...A questão da governança é central", disse o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf.

Mudança climática

A pecuária tanto contribui quanto sofre com a mudança climática e deve ser desenvolvida de uma maneira ecologicamente correta, ou vai elevar a pressão sobre o uso de terras, água, ar e sobre a biodiversidade, disse a FAO.

A pecuária é um dos maiores emissores de gases do efeito estufa e o maior usuário mundial de recursos da terra, com os pastos e as terras usadas para produção de ração respondendo por quase 80 por cento de toda a terra agrícola, disse a FAO.

Alguns países fizeram avanços na redução da poluição e do desmatamento ligados à produção pecuária, mas muitos outros precisam adotar políticas apropriadas e mecanismos baseados no mercado, como taxas para uso dos recursos naturais ou pagamentos por serviços ambientais, disse a agência.

Consumo de carnes e peixes representa desperdício, diz relatório da ONU

Acostumados ao título de "topo absoluto da cadeia alimentar", os seres humanos se dão ao luxo de comer de tudo, mas a um preço elevado: a pesca massiva está levando as espécies marinhas à extinção, e a piscicultura polui a água, o solo e a atmosfera. São importantes motivos para mudança de hábitos.

Alimentar a humanidade --nove bilhões de indivíduos até 2050, segundo as previsões da ONU-- exigirá uma adaptação de nosso comportamento, sobretudo nos países mais ricos, que precisarão ajudar os países em desenvolvimento.

Segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), publicado nesta terça-feira (23), a produção mundial de carne deverá dobrar para atender à demanda mundial, chegando a 463 milhões de toneladas por ano.

A situação se agrava com a ocidentalização de hábitos e o enriquecimento: um chinês que consumia 13,7 kg de carne em 1980, por exemplo, hoje come em média 59,5 kg por ano. Nos países desenvolvidos, o consumo chega a 80 kg per capita.

"O problema é como impedir que isso aconteça. Quando a renda aumenta, o consumo de produtos lácteos e bovinos segue o mesmo caminho: não há exemplo em contrário no mundo", destacou o cientista Hervé Guyomard.

Ele é diretor científico em Agricultura do Instituto Nacional de Pesquisa Agrônima da França (INRA), responsável pelo relatório Agrimonde sobre "os sistemas agrícolas e alimentares mundiais no horizonte de 2050".

Desperdício com ração

Atualmente, a agricultura produz 4.600 quilocalorias por dia e por habitante, o suficiente para alimentar seis bilhões de indivíduos.

Deste total, no entanto, 1.500 são dedicadas à alimentação dos animais --que só restituem em média 500 calorias na mesa--, 800 se perdem no campo (pragas, insetos, armazenamento), e 800 são desperdiçadas nos países desenvolvidos de outras formas.

O desperdício é grande, pois mais de um terço (37%) da produção mundial de cereais serve para alimentar o gado --56% nos países ricos-- segundo o World Resources Institute.

O gado custa caro ao ambiente: 18% das emissões de gases causadores do efeito estufa, segundo a FAO (mais que os transportes) ou 51%, segundo o World Watch Institute (mais que a geração de energia).

A pecuária também custa 8% do consumo de água e 37% do metano, que colabora para o aquecimento global 21% mais que o CO2 emitido pelas atividades humanas.

Não rentável

E, mesmo que seja uma possível fonte de proteínas, a carne bovina não é "rentável" do ponto de vista alimentar: "são necessárias três calorias vegetais para produzir uma caloria de carne de ave, sete para uma caloria de porco e nove para uma caloria bovina", explicou Guyomard.

Substituir o consumo de carne de animais terrestres pela carne de peixe não seria ainda uma alternativa adequada.

"Os oceanos não podem ser considerados uma despensa inesgotável", estimou Philippe Cury, diretor de pesquisas do Instituto de Pesquisas para o Desenvolvimento (IRD).

O número de pescadores é duas a três vezes superior à capacidade de reconstituição das espécies.

No atual ritmo, a totalidade das espécies comerciais terá desaparecido em 2050.

Ativistas como do grupo paulista Veddas defendem como solução o veganismo, abstenção de todo tipo de produto derivado de animais.

Justificam que, além de haver o impacto ambiental gerado pela pecuária, "animais têm o direito à vida e à liberdade, livres da exploração humana".

Carros flex chegam a 10 milhões

Notícia da UNICA publicada ontem fala da impressionante marca que a frota flex alcançou em sua curta vida, 10 milhões de carros. São números impressionantes principalmente pela sua taxa de adesão, mostrada na figura ao final do texto.

Isto só corroba a idéia de que o carro flex é um produto muito bom de fácil aceitação. Imagine se isto se difunde pelo mundo.

10 milhões de carros flex é marco histórico para a indústria

A produção do veículo Flex-Fuel atingiu o número de 10 milhões pela indústria automobilística brasileira, anunciada na quinta-feira (04/03) pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), é um marco histórico para a indústria e para o próprio país, e deve servir de estímulo para que as montadoras invistam mais na disseminação global do que foi realizado no Brasil, inclusive em seus países de origem. Essa é a avaliação da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), que vê motivos de sobra para que o mundo conheça e adote essa verdadeira história de sucesso “made in Brasil”.

“Parabenizamos a indústria automobilística instalada no Brasil pela visão e pelo arrojo demonstrado ao investir fortemente nessa tecnologia, a ponto de muitas dessas indústrias não produzirem mais veículos movidos apenas a gasolina. O próximo passo é levar esse projeto, consolidado tecnicamente e altamente bem-sucedido, ao resto do mundo, já que todas as principais montadoras que estão no Brasil têm presença global,” comentou o presidente da UNICA, Marcos Jank.

Apesar do sucesso indiscutível no Brasil, a tecnologia Flex ainda é oferecida de forma muito tímida em outras partes do mundo, em grande medida porque faltam compromissos com a produção, uso e distribuição do etanol. E onde existem interesse e produção crescente do etanol, em geral existem também obstáculos, principalmente tarifas, que impedem a entrada do produto importado.

O etanol brasileiro de cana-de-açúcar, um produto mais eficiente, de menor custo e reconhecido por sua capacidade de redução de emissões causadoras do efeito estufa, acaba, também, enfrentando dificuldades para penetrar nos principais mercados do mundo de forma competitiva. Isso mantém de pé uma situação irônica: enquanto combustíveis fósseis circulam livremente pelo mundo, os renováveis, capazes de impactar positivamente na luta contra o aquecimento global, são bloqueados.

Globalização do Flex

“Sabemos que não se trata de um processo simples ou rápido, mas a chegada do carro Flex ao resto do mundo é algo que precisa começar e ter apoio decisivo das montadoras, algo que foi fundamental para que a idéia desses resultados tão positivos fossem atingidos no Brasil. Em outros países não será diferente, portanto o papel das montadoras também precisa ser cumprido no resto do mundo,” acrescentou Jank.

Para o consultor em tecnologia e emissões da UNICA, Alfred Szwarc, não há motivo para que as montadoras deixem de apresentar sua tecnologia Flex, e relatem seu sucesso no Brasil, nos grandes encontros globais da indústria automobilística: “É o caso de levar esses veículos e informações sobre eles a feiras de grande penetração, como as de Frankfurt, Detroit e Genebra. É uma pena que nem mesmo no Salão do Automóvel aqui no Brasil se veja algum destaque para o Flex, que deveria ser motivo de orgulho para a indústria, o país e o próprio consumidor,” completou.

O presidente da UNICA lembrou que a entidade hoje acompanha e participa diretamente de discussões e iniciativas envolvendo a produção e uso do etanol em várias partes do mundo, e é surpreendente constatar a falta de informação sobre a presença, o sucesso e a importância do Flex no Brasil. “As montadoras deveriam apresentar o sucesso que conquistaram no Brasil como exemplo perfeitamente viável em outras partes do mundo. O custo para oferecer essa opção ao consumidor não é elevado, e o consumidor ganha a opção de utilizar um combustível renovável e de muito menos impacto para o meio-ambiente do que qualquer combustível fóssil,” comentou Jank. Para ele, a presença de mais carros Flex em mais mercados seria um grande estímulo para que a produção e a oferta ampla do combustível também ocorressem, a exemplo do que já é realidade antiga no Brasil.

quinta-feira, março 04, 2010

Novo modelo para a agricultura

Muito interessante este artigo do ex-ministro Furlan e do Virgílio Viana, onde comentam a importância de uma nova visão para a agricultura para que ela seja capaz de aumentar a crescente população mundial. Dentre as 4 principais estratégias para a criação de um novo modelo de agricultura, eles citam: a redução das perdas pós-colheita, desenvolvimento de ferramentas financeiras que possam remunerar os custos ambientais aos produtores, ampliar investimentos em P&D e por último aprimorar logística e comercialização dos alimentos. Sem dúvida nenhuma, são ações uqe facilmente podem ser tomadas deste que exista interesse.

O artigo foi publicado no Valor Econômico de ontem e disponibilizado no BrasilAgro:

Davos e uma nova visão para a agricultura

Sem perdas pós-colheita garante-se uma maior oferta de alimentos.
Novo modelo deve somar o aumento da produtividade com a melhoria ambiental e o combate à pobreza.

O último encontro anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, em janeiro, teve como tema geral "repensar, redesenhar e reconstruir". E um dos temas que recebeu grande atenção foi "uma nova visão para a agricultura". Foram inúmeras discussão, envolvendo os presidentes das principais empresas de alimentos e insumos do mundo, alguns presidentes, ministros, chefes de organismos internacionais, lideranças de vários segmentos e especialistas convidados. O objetivo era propor novos caminhos diante dos próximos desafios.

Para atender à demanda de uma população global crescente, que em 2050 atingirá 9,2 bilhões de pessoas, a produção de alimentos deve aumentar em 50%. Por outro lado, é preocupante a escassez de recursos naturais, especialmente água. Some-se a isso a crescente degradação ambiental decorrente da erosão dos solos, poluição, contaminação por agroquímicos, desmatamento e perda da biodiversidade. Para aumentar o desafio, estamos em um processo de mudanças do clima, com o aumento da frequência de eventos extremos, como vendavais, secas e enchentes.

A agricultura participa com 3% a 6% do PIB global, mas é a principal fonte de renda para mais de 65% da camada mais pobre da população mundial. Portanto, a agricultura tem um papel importante para a redução da pobreza rural. Por outro lado, a produção de alimentos é essencial para os habitantes dos grandes centros, que hoje responde por aproximadamente 50% da população global, de 6,9 bilhões de habitantes. Como aumentar a produção de alimentos e melhorar a qualidade nutricional da população? Como combinar isso com a redução da pobreza, a conservação dos mananciais de água e o estancamento da degradação ambiental? Não são desafios simples. Porém, são essenciais e urgentes.

Algumas estratégias gerais puderam ser delineadas em Davos. Primeiro, o aumento da produção de alimentos deve ser baseado em ganhos de produtividade e redução das perdas pós-colheita. As perdas pós-colheita alcançam a cifra global de 50% e podem ser drasticamente diminuídas. A produtividade na África pode ser aumentada em até 4 vezes, apenas com o uso de tecnologias já disponíveis e testadas. Entretanto, o aumento da produção não deve estar baseado na ampliação da área desmatada. A conversão de áreas de florestas, cerrado e outros ecossistemas naturais em agricultura deve ser reduzida a zero no mais curto espaço de tempo possível.

Segundo, devem ser criados instrumentos financeiros para internalizar os custos dos serviços ambientais. Isso significa que as áreas de florestas e outros ecossistemas naturais devem receber pagamentos pelos serviços que prestam - armazenamento e sequestro de carbono, conservação da biodiversidade, conservação dos mananciais de água etc. Uma das oportunidades mais promissoras é a valorização do carbono florestal por meio do chamado REDD+ (redução de emissões por desmatamento e degradação, mais conservação, manejo e enriquecimento florestal). Outro caminho é a redução das emissões de gases efeito estufa nas cadeias produtivas de alimentos.

Terceiro, devem ser ampliados os investimentos em ciência e tecnologia, com o objetivo de redesenhar os sistemas de produção agropecuária. Isso significa não apenas aprimorar as bases tradicionais da revolução verde - melhoramento genético, adubação, irrigação e manejo de pragas e doenças. Deve ser dada ênfase para sistemas de produção mais eficientes ecologicamente e capazes de conservar os solos, sequestrar carbono e conservar a biodiversidade - além de produzir alimentos de melhor qualidade (menos agroquímicos) e baixo custo. Exemplos disso são sistemas agroflorestais e permacultura.

Quarto, deve ser aprimorado o sistema de logística e comércio de alimentos. É necessário reduzir custos e perdas. Isso envolve investimentos em infraestrutura de transporte e armazenamento. Por outro lado, são necessárias práticas de comércio mais justas e solidárias, incluindo a redução de barreiras e subsídios, concluindo a Rodada de Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Para que essas estratégias tenham sucesso é necessária a formulação de políticas públicas inovadoras e investimentos privados arrojados. Não é mais possível manter a trajetória atual da agricultura no mundo: não é sustentável. A boa notícia é que existe uma compreensão cada vez mais clara dos desafios por parte de expressivas lideranças internacionais. Repensar, redesenhar e reconstruir a agricultura do século 21 deve ser uma prioridade de todos.

O Brasil é uma potência agrícola e ambiental que tem um papel estratégico no cenário global do século 21. Entretanto, se observarmos os debates de 2009 no Congresso Nacional envolvendo agricultura e meio ambiente, o quadro é desanimador. Os embates de agricultura x conservação ambiental, desenvolvimento x sustentabilidade, são anacrônicos e ultrapassados. O debate deve ser sobre como repensar a agricultura para que ela seja redesenhada diante dos novos desafios deste século. Devemos construir um processo de alinhamento de intenções em torno de uma visão estratégica de sustentabilidade. Ao inserirmos a dimensão ambiental como um dos objetivos da agricultura, não estaremos perdendo competitividade internacional. Ao contrário, ao nos alinharmos com o pensamento estratégico global, aumentaremos nossa competitividade, pois teremos mais oportunidades de acesso aos mercados ao reduzir o risco de barreiras comerciais.

O Brasil deve internalizar esse debate com urgência. O posicionamento do Brasil na CoP-15, em Copenhague, indica uma mudança estratégica importante. Devemos deixar de lado o embate infrutífero e partir para um debate inteligente entre ruralistas e ambientalistas. Devemos repensar a agricultura, criando uma visão capaz de agregar convergências entre o aumento da produtividade e a melhoria ambiental e o combate à pobreza. A partir disso, delinear planos de curto, médio e longo prazos, envolvendo toda a sociedade relacionada com a questão. O debate presidencial é uma boa oportunidade para catalisar esse processo.

(Virgilio Viana é PhD. pela Universidade de Harvard e superintendente geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS); Luiz Furlan é presidente do conselho de administração da FAS e co-presidente do conselho de administração da BrasilFoods)

Má notícia aos apreciadores dos vinhos chilenos

Parece que a tragédia ocorrida no Chile pode trazer consequências aos apreciadores brasileiros dos vinhos chilenos, conforme podemos verificar na notícia abaixo da Folha de São Paulo que encontrei no Notícias Agrícolas:

Sismo pode afetar fornecimento de vinho ao Brasil

As vinícolas do Chile continuam fazendo as contas dos estragos causados pelo terremoto do sábado passado. Mas não são só os chilenos que fazem essas contas. Os brasileiros, que têm o Chile como o maior fornecedor de vinho, também veem um cenário incerto a curto prazo.

Informações preliminares indicam que as perdas das vinícolas chilenas podem superar US$ 250 milhões, já que ao menos 75% da produção do país está nas áreas mais afetadas.

As maiores perdas ocorreram nos tanques de inox que racharam e deixaram vazar pelo menos 125 milhões de litros que estavam em preparação -a capacidade instalada do país é de 1,8 bilhão de litros. Outras 100 milhões de garrafas quebraram, segundo a Corporação Chilena de Vinho.

"Já os barris de carvalho, onde estão os vinhos mais caros, foram os menos afetados", segundo Adílson Carvalhal Junior, diretor comercial da Casa Flora, importadora dos vinhos da Santa Carolina, 1 das 3 principais produtoras do Chile.

"Não sabemos o tamanho e a magnitude dos estragos, assim como não se sabe quando a produção volta ao normal", diz. As indústrias podem ter dificuldades inclusive na obtenção de insumos, como garrafas. "É um cenário preocupante."

Será uma luta contra o relógio, já que o setor começa a colher as uvas a partir de agora e precisa de toda a linha de produção em ordem, diz Phillip Merlo Thompson, gerente de marcas do setor de vinhos da Interfood Importação, responsável pelas importações dos vinhos da Santa Helena, também uma das principais do setor.

O mercado brasileiro ainda tem estoques para uns 40 ou 50 dias, na avaliação de Carvalhal, mas pode ter problemas na recomposição desses estoques para o inverno, período de maior consumo no Brasil. O país importou 30 milhões de garrafas do Chile em 2009, segundo a Uvibra (União Brasileira de Vitivinicultura).

Francisco da Silva Araújo Filho, somelier do hotel Intercontinental São Paulo, diz que essa dificuldade vai recair sobre os preços, e o consumidor poderá pagar mais pelo vinho.

Projeções para o agronegócio brasileiro

Hoje ao voltar do trabalho ouvi duas notícias no rádio que me chamaram a atenção. Elas falam sobre algumas projeções do agronegócio brasileiro para 2020 realizadas pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Ao chegar em casa, entrei no site do MAPA e encontrei as seguintes notícias:

Agropauta: Mapa divulga projeções do agronegócio para safra 2019/20 (Atualizada)

Brasília (4.3.2010 10:49) - Hoje, às 11h30, os cenários de produção, a participação brasileira no mercado mundial, a produção regional de produtos da pauta agropecuária do País na safra 2019/2020 serão apresentados, pelo coordenador-geral de Planejamentos Estratégico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), José Gasques. O estudo foi realizado pela Assessoria de Gestão Estratégica e aponta, ainda, as perspectivas para exportações e consumo interno brasileiro.

Produção de grãos e carnes deve crescer 37% nos próximos dez anos

Brasília (4.3.2010 11:37) - Estudo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) aponta que soja, carne de frango, açúcar, etanol, algodão, óleo de soja e celulose serão os produtos com maior potencial de crescimento nos próximos onze anos. A pesquisa realizada pela Assessoria de Gestão Estratégica (AGE) indica cenários de produção, participação no mercado mundial, exportação e consumo de 23 produtos da pauta agropecuária do País.

A safra de grãos - soja, milho, trigo, arroz e feijão - deverá crescer 36,7%, passando de 129,8 milhões de toneladas em 2008/2009 para 177,5 milhões em 2019/2020. As carnes bovina, suína e de aves deverão seguir percentual parecido, com aumento de produção estimado em 37,8%, incremento de 8,4 milhões de toneladas. Três outros itens com elevado crescimento previsto são açúcar (mais 15,2 milhões de toneladas), etanol (35,2 bilhões de litros) e leite (7,4 bilhões de litros).

O óleo de soja e a celulose merecem atenção, na opinião do coordenador-geral de Planejamento Estratégico do Mapa, José Garcia Gasques. “O óleo de soja segue tendência mundial, pois a demanda tem crescido nos mercados interno e externo, inclusive, para a utilização como biocombustível. No caso da celulose, o crescimento será expressivo, pela substituição de florestas nativas por plantadas”, afirma.

Tendências - De acordo com a pesquisa, o crescimento agrícola no Brasil deve ocorrer com base na produtividade. Os resultados revelam maior acréscimo da produção agropecuária que de área plantada. As projeções indicam que, de 2010 a 2020, a taxa anual média de crescimento das lavouras deve ser de 2,67%, com incremento de 0,45% na área.

As estimativas para o período 2019/2020 apontam que a área total de lavouras deve passar de 60 milhões de hectares em 2010, para 69,7 milhões em 2020, incremento de 9,6 milhões de hectares. Essa expansão concentra-se na soja (mais 4,7 milhões de hectares) e cana-de-açúcar (mais 4,3 milhões). O milho deve ocupar mais um milhão de hectares e as demais lavouras analisadas mantêm-se praticamente sem alteração ou até perdem área, como as culturas de café, arroz e laranja.

Apesar da tendência de aumento das exportações, nos próximos anos, o mercado interno será um forte fator de crescimento. Do aumento previsto para a soja e o milho, 52% e 80%, respectivamente, serão dirigidos ao mercado interno.(Eline Santos)

Brasil deverá ter 44,5% do mercado mundial de carnes em 2020

Brasília (4.3.2010 11:42) - A produção nacional de carnes deverá suprir, até 2020, 44,5% do mercado mundial, segundo projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), relativas a cenários de produção, participação no mercado mundial, exportação e consumo de produtos agropecuários. A pesquisa realizada pela Assessoria de Gestão Estratégica (AGE) mostra ainda que, em 2010, a participação do Brasil nas exportações mundiais de carne bovina, suína e de frango será de 37,4 %.

Haverá expressiva mudança de posição do País no mercado internacional. A relação entre as exportações brasileiras e o comércio mundial mostra que, em 2019/2020, as vendas de carne bovina representarão 30,3% do mercado, contra os 25% atuais. A participação da carne suína passará de 12,4%, em 2009/2010, para 14,2%, em 2019/20. A carne de frango terá 48,1%, das exportações mundiais. Atualmente, o percentual é 41,4%. Os resultados indicam que o Brasil continuará a manter posição de primeiro exportador mundial de carnes bovina e de frango.

A carne bovina, um dos principais itens na pauta exportadora do Brasil, ficou com patamar inferior em comparação aos estudos anteriores. O coordenador-geral de Planejamento Estratégico do Mapa, José Garcia Gasques, explica que a crise financeira internacional, em setembro de 2008, impactou as exportações, refletindo na dinâmica do produto.

De acordo com Gasques, até 2020, o agronegócio brasileiro sofrerá dupla pressão. “Haverá aumento do consumo interno, por conta do crescimento da renda, e grande demanda do mercado mundial”, comenta.

Embarques - Os embarques de etanol têm estimativa de crescimento de 222,9%, passando de 4,6 bilhões de litros, na safra 2008/2009, para 15,1 bilhões de litros, no período 2019/2020. Também devem apresentar expressivo aumento nas exportações de algodão (91,6%), leite (84,3%), carne bovina (82,8%), milho (80,3%), carne de frango (71,5%) e óleo de soja (52,8 %). (Eline Santos)

Projeções 2020: produção de milho e soja deve crescer 94,3% e 55,6% em Mato Grosso

Brasília (4.3.2010 11:46) - A produção mato-grossense de milho e soja deverá crescer, até 2020, 94,3% e 55,6%, respectivamente. As projeções são do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e fazem parte de pesquisa realizada pela Assessoria de Gestão Estratégica (AGE) que aponta cenários de produção, participação no mercado mundial e dados regionais de 23 produtos da pauta agropecuária do País.

Na safra 2008/2009, o cultivo de milho em Mato Grosso era de 8, 08 milhões de toneladas e passará, em 2019/2020, para 17,7 milhões de toneladas. A soja, por sua vez, sairá de 17,9 milhões de toneladas para 27, 9 milhões de toneladas. A área de soja em Mato Grosso deverá ocupar mais 2,46 milhões de hectares, quase metade da expansão do cultivo da commodity no Brasil, que deverá crescer cinco milhões de hectares em 10 anos.

O coordenador da pesquisa, José Garcia Gasques, explica que os motivos desse desenvolvimento no estado serão as novas áreas e a introdução da soja em superfícies de pastagens degradadas. No Paraná, a soja deve ganhar aproximadamente um milhão de hectares e o Rio Grande do Sul deve manter a área quase inalterada.

Milho - No Paraná, a produção de milho indica possível incremento de 50,2%. Em 2008/2009 o resultado foi de 11,1 milhões de toneladas e as projeções indicam que passará a 16,7 milhões, na safra 2019/2020. De acordo com as estimativas, o crescimento da área no estado sulista será de 17%, saindo de 2,78 milhões hectares para 3,25 milhões. Minas Gerais deve registrar aumento de 32,9% na quantidade produzida, passando de 6,45 milhões de toneladas para 8,57 milhões. A produção mineira, no entanto, terá a área reduzida em 7%, caindo de 1,28 milhão para 1,18 milhão.

Cana-de-açúcar - As projeções para 2020 mostram que o estado de São Paulo deverá expandir a produção de cana-de-açúcar em 50,3%, passando de 400,5 milhões de toneladas em 2008/09 para 602 milhões em 2019/2020. Por sua vez, a área com cana nesse estado deve expandir-se em 46%: deverá passar de 4,7 milhões de hectares em 2008/2009 para 6,8 milhões em 2019/2020.

Destaque para a cana-de-açúcar, que vem crescendo em estados sem tradição no cultivo, como Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais. Esse último deve registrar incremento de 75% na cultura, passando de 56 milhões de toneladas, obtidas na safra 2008/2009, para 98,15 milhões, em 2019/2020.

As projeções regionais para produção e área plantada indicam as tendências nas principais regiões agrícolas. Foram analisados o arroz no Rio Grande do Sul; milho em Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais; soja em Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná; trigo, no Paraná e Rio Grande do Sul; e cana-de-açúcar em São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás. (Eline Santos)