segunda-feira, novembro 09, 2009

Texto sobre a agricultura brasileira do Financial Times

Conforme prometido, segue a tradução do texto do Financial Times sobre a agricultura brasileira publicado na semana passada e citado no post Financial Times acredita no agronegócio brasileiro:

Superpotência está pronta para alimentar o mundo

Os maltusianos que se aborrecem com a habilidade do mundo em se suprir de alimentos devem ouvir Roberto Rodrigues, um consultor de agronegócio e ex-ministro brasileiro da agricultura.

“A idéia de que ocorrerá escassez de alimento é algo claramente errado”, diz o ex-ministro. “A produção no Brasil está crescendo em todas as áreas.”

De um medíocre país agrícola, Brasil está se transformando em uma superpotência nas últimas duas décadas, tornando-se o maior exportador de carne, frango, suco de laranja, café verde, açúcar, etanol, tabaco e do complexo soja (grãos, farelo e óleo) bem como o quarto maior exportador de milho e porco.

Ao contrário de grande parte da economia do Brasil, onde a produtividade tem crescido de forma menos espetacular, a agricultura atingiu seu novo status quase que inteiramente baseado em uma gestão mais eficiente e o desenvolvimento e aplicação de tecnologia.

Entre as safras 1990-91 e 2008-09, por exemplo, a produção de grãos subiu de 58 milhões de toneladas para 144 milhões. No mesmo período, a quantidade de terra cultivada com grãos aumentou apenas 26%, de 37,9 milhões de hectares para 47,7 milhões. A produtividade, medida em toneladas por hectare, quase dobrou.

Entre 1980 e 2008, o numero de vacas leiteiras aumentou de 16,5 milhões para 21,5 milhões, enquanto que a produção de leite aumentou de 11,2 bilhões de litros para 27 bilhões – um ganho de produtividade de 86%. Entre 1994 e 2009, a produção de carne aumentou 77%, de porco 133% e de frango 217%.

Ainda que a importância do Brasil como fornecedor global baseie-se mais em seu potencial do que em desempenhos passados. De seu território de 851 milhões de hectares, cerca de 340 milhões são adequados à agricultura. Deste, 72 milhões estão com culturas e 172 milhões com pastagens. Isto deixa 96 milhões de hectares com terras agrícolas disponíveis sem tocar em uma arvore da floresta amazônica ou avançar em outras áreas sensíveis.

No entanto, os fazendeiros e pecuaristas têm cortado as florestas brasileiras a uma taxa alarmante. Embora a taxa de desmatamento na Amazônia diminuiu de 27000 km2 em 2004 para 11.200 km2 em 2007, tem tido um ligeiro aumento ultimamente.

O governo diz que o declínio total foi causado pelo melhor monitoramento e controle, embora muitos cientistas digam que os preços oscilantes das commodities tiveram um papel maior na queda e subseqüente aumento.

Muito da terra agrícola disponível está em regiões do país onde o titulo de posse da terra é relativamente bem estabelecido e a lei relativamente bem cumprida. Na maior parte da Amazônia, isso não é o caso. É mais fácil aos pequenos fazendeiros, por exemplo, limpar uma área de floresta, usá-la para pecuária de baixa intensidade por poucos anos até que seus nutrientes sejam exauridos e depois mudar-se.

Melhor monitoramento e iniciativas lideradas pelo mercado oferecem alguma esperança que a taxa de desmatamento seja menor. Enquanto isso, os fazendeiros estão concentrados em aumentar a produtividade.

O tamanho do rebanho aumentou de 78,6 milhões em 1970 para 169,9 milhões atualmente, enquanto que a terra para a pastagem aumentou muito menos, de 154,1 milhões de ha para 172 milhões.

No Estado de São Paulo, existem 1,55 cabeças de gado por hectare no pasto: se esta relação, por si só baixa segundo padrões internacionais, for repetida nacionalmente, outros 62 milhões de ha tornarão-se disponíveis para outras culturas.

Uma maior densidade das pastagens é um dos avanços tornado possível graças aos pesquisadores dos centros de pesquisa agrícola do país, que tem desenvolvido melhores variedades de capins, por exemplo. O Brasil é também ajudado por seu clima tropical, com quantidades geralmente previsíveis de radiação solar e chuva.

Maior eficiência tem levado à monocultura, especialmente de cana-de-açúcar e soja. Grandes áreas são cobertas com amplos mares de campos, pontuados por pivôs de irrigação.

Rodrigues, que vem de uma antiga geração de fazendeiros, disse que recentemente visitou a fazenda de um de seus filhos no estado do Maranhão no norte do país.

Quando ele pediu ovos frescos e salada de sua horta, seu filho disse-lhe que poderia obte-los do supermercado.

“Este é o jeito que tem ser atualmente,” ele disse. “Concentração no sistema mais eficiente de produção.” O conhecimento dos fazendeiros tem avançado significativamente, mas eles ainda enfrentam problemas externos. Péssimas rodovias e outros problemas logísticos aumentam consideravelmente os custos de levar a produção ao mercado.

Ao contrário de muitas outras nações agrícolas, o Brasil quase não possui seguro rural para proteger os agricultores contras os fatores fora de seu controle, além do clima, eles também estão à mercê das taxas de juros, taxas de cambio, negociações comerciais entre outras.

Rodrigues diz que não é verdade, como muitos no setor reclamam, que o Brasil não tem política agrícola. O que falta, segundo ele, é uma estratégia global para o setor, coordenado por mais de um ministério.

Apesar de tais problemas, Rodrigues diz que o status do Brasil como uma superpotência agrícola somente pode crescer. Ele diz saber de 22 fundos de investimentos internacionais procurando por oportunidades.

“Se eu fosse um investidor, eu colocaria meu dinheiro em logística e fertilizantes,” ele diz. “As oportunidades são fantásticas. E as pessoas estão vindo sem fazermos nada para convidá-las.”

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