sexta-feira, novembro 20, 2009

O Apagão e a Bioeletricidade

Aproveitando o apagão acontecido na semana passada, eu como fã incondicional da bioeletricidade a partir do bagaço e em um futuro muito próximo, da palha de cana-de-açúcar, encontrei farto material para discussão.

O material foi totalmente encontrado no BrasilAgro e consiste de uma matérias mostrando a importância da bioeletricidade, seu custo que torna-se cada dia mais barato e a importância para tornar o sistema menos vulnerável.

Além do material encontrado na imprensa, resolvi colocar no final alguns gráficos de uma publicação recente da UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) intitulada “Etanol e Bioeletricidade: A Cana-de-Açúcar na Matriz Energética Brasileira”, que é o resumo de nove estudos apresentados no dia 14 de outubro na Câmara Federal no seminário “O Setor Sucroenergético e o Congresso Nacional: Construindo uma Agenda Positiva". O material pode ser acessado na íntegra clicando aqui.

Nestas figuras podemos verificar que o potencial teórico para 2020/21 é cerca de 1,5 vezes a capacidade de Itaipu, ou seja, 16 GW médio, além disso dentre os principais benefícios temos que a geração é distribuída que minimiza perdas por transmissão e também riscos de queda das grandes linhas de transmissão, tempos de construção menores e menores investimentos, além da complementaridade com relação à hidroeletricidade. Para complementar a última figura mostra que apenas 5% da energia elétrica em 2008 foi gerada a partir da biomassa.

Termoelétricas podem responder por 20% da energia no Brasil

As termoelétricas, que produzem energia através do bagaço da cana-de-açúcar, poderão gerar 20% da energia consumida no Brasil até 2017, segundo a União da Indústria da Cana-de-Áçucar (Única). Esse é o mesmo número que a usina hidrelétrica de Itaipu produz atualmente no país.

Hoje, já são 88 termoelétricas no Brasil, 54 somente no estado de São Paulo. Juntas, elas produziram três mil gigawatts, o equivalente a 3% da produção de Itaipu e menos de 10% do que poderiam produzir. Atualmente, o bagaço de cana é responsável por 4% de toda a energia elétrica produzida no país.

O bagaço é queimado em fornalhas para aquecer as caldeiras de vapor, que movem turbinas e geram eletricidade. Como produzem mais do que consomem, as usinas vendem o excedente para as companhias de eletricidade. A primeira a entrar no esquema foi uma termoelétrica de Sertãozinho, em 1987.

Em 2001, uma termoelétrica de queima de bagaço da cana foi construída em Ribeirão Preto como emergência para casos de apagão. Ela começou a funcionar em 2006, mas, em julho deste ano, foi desligada porque os reservatórios do sistema de furnas estão superlotados. "O problema é que a turbina não se liga de uma hora para a outra. Ela demanda um mínimo de 12 horas para aquecimento de seu sistema para entrar em operação", afirma o diretor da usina, Hilário Cavalheiro.

Como a produção se concentra em São Paulo, os especialistas acreditam que esta energia do bagaço da cana pode ser uma importante reserva para o sistema elétrico nacional, inclusive nos casos de quebra de fornecimento. "Nós temos alguns gargalos. Os principais são os custos de conexão, porque geralmente a usina está distante do ponto de conexão com o sistema elétrico. Isso torna muito caro o investimento em cogeração, em venda de energia para a rede elétrica. Este potencial não pode deixar de ser aproveitado", diz o professor de agroenergia da Fundação Getúlio Vargas Zilmar José de Souza (EPTV, 12/11/09)

Custo de energia renovável é cada vez mais similar ao das termoelétricas

Em tempos de apagão, o tema energia volta a circular com força nas principais rodas de debate. Como o consumo só tende a aumentar, está na hora de pensar em outras possibilidades, como fontes de energia renovável, uma alternativa cada vez mais viável.

O livro "Como Combater o Aquecimento Global", de Joanna Yarrow, explica o que é energia renovável, oriunda de diversas fontes naturais diversas, como o sol, o mar e o solo. Ainda mostra como evitar o desperdício e reduzir a pegada de carbono com sugestões práticas e acessíveis, que não prejudicam o meio ambiente.

Já no primeiro capítulo, a autora analisa a energia solar, de custo cada vez mais similar ao das termelétricas e do carvão. Você sabia que pode utilizar a energia gerada pelas ondas do mar? Saiba mais no trecho a seguir:

Por mais que você reduza seu gasto de energia, ainda vai precisar dela. Ao aproveitar a crescente quantidade disponível de energia renovável, você manterá sua pegada de carbono a menor possível com o consumo de energia.

A tecnologia fotovoltaica (FV) utiliza energia dos raios solares para gerar eletricidade. Os painéis FV precisam apenas da luz do dia (não necessariamente da luz do sol direta) para gerar eletricidade e, portanto, podem gerar energia mesmo em um dia nublado. Os preços dos painéis estão caindo rapidamente: prevê-se que a energia solar terá custo similar ao da energia das termelétricas e carvão em 2010. A instalação de painéis fotovoltaicos no telhado fornecerá energia elétrica gratuita às casas. Se for um investimento muito alto, experimente equipamentos que funcionam com energia solar - de carregadores de celulares a aparelhos de rádio - que já estão no mercado.

O preço da energia eólica caiu cerca de 90% nas duas últimas décadas, e em algumas regiões essa tecnologia está progredindo muito. Por exemplo, no norte da Alemanha, a energia eólica é responsável por mais de 20% da energia utilizada, e sua capacidade instalada de geração vem crescendo 28% ao ano. Você pode usar uma pequena turbina para recarregar um sistema de baterias em sua casa, o que reduziria sua conta de eletricidade em um terço e a sua pegada de carbono doméstica em até metade de 1 tonelada de CO2 por ano. No Reino Unido, se você gerar eletricidade excedente, poderá inclusive vendê-la para a rede elétrica nacional.

A energia contida nas ondas, correntes, marés e diferenciais de temperatura dos oceanos pode ser utilizada pelo homem. A maioria das tecnologias nessas áreas ainda está em estágio experimental, mas algumas instalações importantes e bem-sucedidas de energia das marés já estão funcionando. Austrália, Portugal e Escócia fazem parte de uma crescente lista de países que investem em tecnologias de energia oceânica - a Escócia concluía a maior "fazenda de ondas" em 2008, capaz de fornecer energia a 2 mil lares. Descubra mais a respeito e, se você for favorável a essa fonte de energia neutralizadora de carbono, apóie propostas de instalações em seu país.

O solo absorve e armazena o calor solar. A troca de calor geotérmico inclui uma série de canos embutidos no solo para utilizar o calor natural, que pode ser usado para aquecer ou resfriar prédios.

A biomassa produzida de materiais orgânicos, seja diretamente das plantas, de produtos oriundos da indústria ou da agricultura, tem enorme potencial como fonte de energia renovável. Por exemplo, ela pode ser usada para aquecer as casas ou como combustível de motor, embora haja limitações em matéria de terras disponíveis para o cultivo de novas plantações.

A forma de energia renovável mais utilizada é a hidrelétrica. Mas nos países desenvolvidos quase todos os locais passíveis de extração de energia hidrelétrica já foram explorados, portanto chegou a vez da energia solar e da eólica.

POR QUE PRECISAMOS DE ENERGIA RENOVÁVEL?

Em 2030, o consumo de energia global deve ser pelos menos duas vezes maior do que hoje. A Agência Internacional de Energia acredita que 80% desse novo crescimento será atingido pelos combustíveis fósseis - 52% de aumento na emissão de gases-estufa ao redor do mundo.

Enquanto isso, conforme o estoque de combustíveis fósseis se torna cada vez mais escasso, as contas de energia irão aumentar a níveis estrondosos - no Reino Unido elas aumentaram 30% em apenas um ano -, e o estoque de energia deve se tornar uma fonte crescente de tensão política.

As fontes de energia renovável estão se tornando cada vez mais uma alternativa viável. Elas não apenas neutralizam o carbono, emitindo quantidades insignificantes de CO2 na atmosfera, mas apresentam numerosas outras vantagens. Elas dependem de combustíveis gratuitos, por isso seus custos operacionais são baixos e previsíveis, evitando o caos econômico das flutuações de preço dos combustíveis. Há uma grande quantidade de fontes de energia renovável no mundo, e elas estão bem menos suscetíveis a ataques terroristas que as fontes de combustíveis convencionais.

Os recursos renováveis com frequência fornecem apenas uma pequena parte da produção de energia global, mas a energia eólica e a solar são as fontes energéticas que crescem mais rapidamente no mundo. Os custos dessas e de outras fontes de energia renovável estão caindo rapidamente com o desenvolvimento da tecnologia, a automatização da manufatura e a consolidação das economias de escala.

Se o progresso nesse setor continuar com as taxas atuais, até 1 bilhão de pessoas poderão usar energia renovável na próxima década, e as fontes de energia renovável poderão ser responsáveis por até metade da produção de energia em 2050.

OPTE PELA ENERGIA RENOVÁVEL

Mesmo que você não possa gerar sua própria energia em casa, no Reino Unido já se podem preencher as necessidades de eletricidade doméstica usando energia renovável por meio das companhias fornecedoras de energia renovável. Cidadãos de outros países podem pressionar seus governos para que invistam em ampliar a capacidade de energia renovável, diminuindo - ou pelo menos não aumentando - a parcela de energia elétrica gerada com a queima de combustíveis fósseis. Existem muitas maneiras de participar do movimento global por mais energia renovável.

Os combustíveis fósseis estão se esgotando 100 mil vezes mais rápido do que são gerados (Folha Online, 11/11/09)

Bioeletricidade e a sua contribuição para tornar o sistema menos vulnerável
Zilmar Souza

Somente no Estado de São Paulo há 54 usinas sucroenergéticas vendendo energia elétrica, contribuindo para fortalecer o sistema e mitigar eventos como o blecaute.

O blecaute ocorrido na noite de terça-feira, dia 10/11, aparentemente mostra a vulnerabilidade do sistema elétrico brasileiro, independentemente das causas a serem apontadas como responsáveis pelo desabastecimento de energia elétrica. Futuros eventos no Brasil, como a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e as Olimpíadas em 2016, indicam a necessidade de os órgãos planejadores do setor elétrico adotar ações que torne o sistema mais robusto, menos suscetíveis a acontecimentos como o blecaute, mesmo que acidentais. Nesta linha, com certeza a bioeletricidade sucroenergética (energia advinda da queima de resíduos da cana), principalmente por ser caracterizada como uma geração distribuída será uma fonte de grande auxílio ao planejamento setorial.

A bioeletricidade, mesmo sem uma política setorial dedicada e com participação restrita nos atuais leilões regulados, já representa significativos 5% da capacidade instalada no país. Em termos somente de venda de energia elétrica, dados do Ministério de Minas e Energia apontam que há mais de 80 usinas sucroenergéticas exportando energia elétrica para a rede, fornecendo uma energia complementar à fonte hídrica e de qualidade ambiental ímpar. Em 2008, somente no Estado de São Paulo, 54 usinas estavam conectadas ao sistema elétrico nacional, ajudando no abastecimento ao principal centro consumidor do país.

Considerando que temos 434 usinas sucroenergéticas, o pequeno número de usinas que atualmente comercializam energia elétrica mostra o potencial que tem esse setor, sendo capaz de, obviamente, não evitar eventos como o último blecaute, mas mitigar seus efeitos danosos sobre a sociedade civil. Estimativas apontam que a bioeletricidade sucroenergética poderá atingir 10.158 MW médios exportados até a safra 2017/18, o que sinalizaria uma reserva de energia para o sistema elétrico superior ao produzido por ano em Itaipu.

Tirar do papel toda essa reserva de bioeletricidade sucroenergética requer adotarmos iniciativas que sejam consolidadas em uma política setorial adequada. Entre essas iniciativas está a regularidade nos leilões específicos para a fonte bioeletricidade no ambiente regulado (ACR), com atenção aos projetos de modernização das instalações térmicas (chamados retrofits) em usinas mais antigas, que, em sua maioria estão localizados no Estado de São Paulo, principal estado produtor do setor sucroenergético, responsável por 60% da cana-de-açúcar moída no país.

O Estado de São Paulo é o “coração” do mercado consumidor de energia elétrica no Brasil, e a bioeletricidade representa uma oportunidade única para o Estado de São Paulo. Somente naquele estado, o potencial da bioeletricidade atinge aproximadamente o equivalente a duas vezes a capacidade de geração do Complexo da CESP, maior empresa de produção de energia elétrica do Estado de São Paulo e terceira maior do país.

No entanto, para aproveitamento desse potencial, há dificuldades com a conexão e o reforço das redes de transmissão e seria necessário adotar um preço-teto nos leilões regulados que incorpore os benefícios da bioeletricidade, sobretudo a complementaridade com a geração hidrelétrica e o balanço ambiental positivo, pois a bioeletricidade proporciona um considerável volume evitado de emissões de gases causadores do efeito estufa na matriz de energia elétrica.

Esses entraves têm para um desempenho tímido da bioeletricidade nos leilões regulados, promovidos no âmbito do ACR. Exemplo disto é o ocorrido no último leilão de energia nova A-3, realizado no fim de agosto deste ano, quando foram comercializados 10 MW médios provenientes de apenas um empreendimento de bioeletricidade, apesar de o setor sucroenergético ter cadastrado 20 projetos, totalizando 995 MW em potência.

Um dos principais fatores para ocorrer essa diferença entre o cadastrado e o efetivamente comercializado em leilão teria sido a divulgação do preço-teto admitido, posteriormente à etapa do cadastramento.

Apesar do esforço do setor sucroenergético em cadastrar uma oferta significativa, a posterior divulgação de um preço-teto, relativamente baixo, tem provocado desestímulos aos investidores em bioeletricidade. O que aconteceu no último leilão mostra que o setor tem condições de contribuir significativamente para a garantia de suprimento energético limpo para a sociedade, mas há necessidade de discutirmos uma política setorial que inclua um preço remunerador e condições adequadas para a expansão da bioeletricidade.

As qualidades da bioeletricidade sucroenergética, complementar à fonte hidráulica – já lhe conferem posição de destaque no Sistema Interligado Nacional e em seu planejamento: proveniente de fonte renovável contribui com a matriz energética limpa; sendo geração distribuída, proporciona economias na estrutura de transporte e confiabilidade na segurança do suprimento; seus projetos, com prazos para instalação e operação reduzidos, prontamente acompanham o desenvolvimento econômico e a oferta, proveniente de diversos pequenos e médios produtores, portanto, contribuindo com a competição no setor elétrico. Certamente, o aproveitamento desse potencial de geração distribuída contribuirá para tornar nosso sistema elétrico menos vulnerável e na consecução de cenários otimistas de expansão econômica para nosso país, que estão sendo delineados, ajudando tanto no planejamento do setor elétrico quanto na condução das políticas macroeconômicas brasileiras (Zilmar José de Souza é assessor em bioeletricidade da Unica e professor de pós-graduação em Agronegócios da FGV-SP; CanalEnergia, 11/11/09)



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