domingo, junho 21, 2009

Entenda um pouco dos BRICs

O encontro entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) realizado na Rússia terça passada colocou esse assunto à tona. Apesar de não terem muita coisa em comum, exceto o fato de serem países gigantes emergentes que poderão incomodar os países ricos no médio prazo, acredito que somente o fato de iniciarem conversas conjuntas é algo positivo. Com relação ao tema do blog, o agronegócio, temos situações bem diferentes: A China não possui mais terras aráveis, o Brasil é a potência que todos conhecemos com elevado nível tecnológico, a Rússia com suas restrições de clima e a Índia um país que tem que, em alguns anos, até importar açúcar, devido ao atraso de sua agricultura.

Visando contribuir à discussão do tema, seguem abaixo duas reportagens da BBC Brasil que encontrei no site BrasilAgro sobre a reunião e uma notícia do Valor que fale especificamente sobre o tema Agricultura.

Finalizando o tema, segue no próximo post, uma análise mais profunda das agriculturas chinesas e indianas publicadas em edições especiais da AgroAnalysis, publicadas em dezembro de 2007 e janeiro de 2008, respectivamente.

Países do BRIC se reúnem em busca de uma nova ordem mundial

Os líderes dos quatro países que formam o bloco dos BRICs (sigla criada em 2001 pelo banco de investimentos Goldman Sachs para se referir a Brasil, Rússia, Índia e China) terão, nesta terça-feira, 16 de junho, sua primeira cúpula presidencial em Ecaterimburgo, cidade na região dos Montes Urais, na parte asiática da Rússia.

A pauta desse encontro inédito é vasta e inclui assuntos que refletem um interesse comum em buscar uma nova ordem global que reflita o peso que as economias emergentes ganharam nos últimos anos, e devem continuar ganhando no futuro.

Pelo menos para o economista que criou a sigla, Jim O'Neill, este futuro está mais próximo.

De acordo com suas mais recentes projeções, em 2027, a economia da China deve superar a dos Estados Unidos, contribuindo, em grande parte, para que o grupo como um todo supere as economias ricas do G7 em menos de duas décadas.

A previsão anterior era de que isso ocorresse em 2035. A revisão se deve a um crescimento da China maior do que o esperado nos últimos anos e aos efeitos da crise na economia global.

A crise será um dos principais temas da cúpula em que os quatro chefes de Estado devem chegar a um consenso sobre o caminho que deve ser trilhado para que a economia volte a crescer com estabilidade.

Eles devem discutir ainda assuntos diversos, como a reforma das instituições financeiras internacionais, o diálogo dos BRICs no futuro, o papel do G20, mudanças climáticas e questões de segurança alimentar e energética. Tudo isso em apenas quatro horas de reunião.

INTERESSES COMUNS

Apesar das grandes diferenças entre os quatro países, alguns temas são consensuais, como a visão de que é necessária uma reforma no sistema financeiro global.

Os quatro defendem o fortalecimento de mecanismos de supervisão do mercado financeiro e reformas que deem mais voz aos emergentes no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, instituições criadas no fim da Segunda Guerra Mundial para supervisionar a economia global.

O consenso ainda não está claro em outros temas. Um que promete causar polêmica é a discussão, ainda em estágio inicial, sobre uma alternativa ao dólar como moeda global de reserva e usada na maior parte das trocas comerciais. A ideia levanta várias possibilidades, mas ainda não há proposta concreta nem a certeza de que o tema é visto como prioridade pelos quatro.

No campo político, existe uma visão comum de que a Organização das Nações Unidas (ONU) deve ser aberta a uma maior participação de países emergentes e em desenvolvimento.

Mas no foro dos BRICs, no entanto, não existe posição única sobre a reforma no Conselho de Segurança defendida pelo Brasil e que inclui a ampliação do número de países com direito a um assento permanente e a veto.

A China e a Rússia fazem parte desse seleto grupo ao lado da França, da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. O Brasil e a Índia, ao lado do Japão e da Alemanha, postulam uma vaga cativa.

No grupo, o tema é polêmico principalmente porque a China, apesar de defender, em tese, a democratização das organizações internacionais, é veementemente contra a inclusão do Japão.

"Mas a ONU é muito maior do que o Conselho de Segurança. A democratização da ONU passa também por uma maior participação em missões de paz, por exemplo", disse o analista indiano Nandan Unnikrishnan, que organizou recentemente na Índia um fórum de discussões sobre os BRICs com acadêmicos dos quatro países.

Unnikrishnan vê, no entanto, com mais cautela qualquer proposta de alternativa ao dólar.

"É preciso avaliar muito bem qual pode ser o efeito disso", disse o indiano, que é pesquisador-sênior do Observer Research Foundation, em Nova Déli, uma organização que defende reformas na Índia.

Andrew Wilson, especialista em Rússia do Conselho Europeu de Relações Internacionais, é ainda mais cético e identifica na defesa de uma moeda alternativa ao dólar uma retórica populista de "antiamericanismo".

"Temos que levar em conta que estão jogando para suas platéias nos países emergentes. A verdade é que não estamos perto de encontrar nenhuma alternativa ao dólar", disse Wilson.

Para o especialista indiano em relações internacionais Sukh Deo Muni, é normal que haja "suspeitas de todo tipo" na comunidade internacional sobre as intenções do grupo emergente.

"Eu vejo a futura atuação desses países como uma espécie de grupo de lobby que quer lutar pela reestruturação do sistema político e financeiro global, e isso pode causar um certo desconforto em alguns setores", disse Muni, especialista em política externa regional e, atualmente, pesquisador do Instituto de Estudos Sul-Asiáticos da Universidade Nacional de Cingapura.

VERDADEIRA ESTRELA

A união dos quatro países com o selo BRICs levanta críticas e elogios em medida semelhante. Entre as críticas, está o fato de o termo unir países tão distintos no que muitos classificam como um "conceito de marketing" criado por um banco.

Outros apontam que o BRIC é um grupo artificial e desigual em que a verdadeira estrela é a China. Atualmente, a economia chinesa é do tamanho das outras três juntas e essa distância tende a aumentar.

"Ainda que a China seja superior em alguns aspectos, não está interessada em criar um G2 com os Estados Unidos, de fazer parte de um grupo elitista", disse Xu Bin, professor de Economia e Finanças da International Business School, em Xangai.

As diferenças, no entanto, não devem impedir que o grupo consolide uma agenda consensual, ainda que modesta, mas suficiente para projetar para o mundo o objetivo comum de "reequilibrar e democratizar a ordem internacional", nas palavras da Presidência brasileira.

A cúpula ocorre na cidade onde o último czar russo foi executado, em 1918, em meio a uma reunião da Organização para a Cooperação de Xangai (SCO, em inglês), um grupo criado em 2001 e que reúne os líderes da China, da Rússia e de quatro países da Ásia central (Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão) (BBC Brasil, 16/06/09)

BRICs vão superar econômicas ricas em duas décadas, prevê pai do termo

De acordo com as projeções revisadas do economista Jim O'Neill, chefe da área de pesquisa econômica global do banco de investimentos Goldman Sachs, em 2027 a economia da China vai ultrapassar a dos Estados Unidos, fazendo com que o grupo dos países reunidos na sigla BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) superem as economias ricas do chamado G7 em menos de duas décadas.

"Isso é cerca de 10 anos antes do que quando analisamos o assunto inicialmente", escreveu O'Neill em um comentário recente no site do banco. O'Neill é o economista britânico que criou o termo em um estudo de 2001 intitulado "Sonhando com os BRIC: o Caminho para 2050".

A virada no cenário traçado pelo economista pode ocorrer mais cedo, principalmente, por conta de um crescimento da China, ao longo dos últimos anos, muito superior ao esperado por ele quando as primeiras projeções foram feitas. Além disso, ele espera que os emergentes do grupo se recuperem dos efeitos da crise antes das economias desenvolvidas.

O'Neill destaca que esse novo cenário não prevê que a elevada expansão na China e na Índia, dos últimos anos, sejam repetidas, mas sim que esses países cresçam, entre 2011 e 2050, a uma média de 5,2% e 6,3%, respectivamente.

"Para a China e para a Rússia, isso é cerca de metade da taxa de crescimento da última década", comparou.

"Apenas o Brasil vai precisar crescer com mais força do que até agora", acrescentou, referindo-se à projeção para o Brasil de crescimento médio de 4,3% entre 2011 e 2050. A expectativa para a Rússia é mais modesta, de 2,8% para o período.

O cenário considera uma média de crescimento no G7, por outro lado, de apenas 1,6% entre 2011 e 2050.

PADRÃO DE VIDA

Em 2027, o suposto ano da virada, a economia da China, segundo o cenário de O'Neill, alcançaria o valor de US$ 22,25 trilhões, assumindo o primeiro lugar no ranking das economias.

A economia dos Estados Unidos estaria em segundo lugar, com valor de US$ 21,61 trilhões. Em terceiro, a Índia (US$ 5,54 trilhões), em quarto, o Japão (US$ 5,39 trilhões), em sexto, a Alemanha (US$ 4,16 trilhões), em sétimo, a Rússia (US$ 4,02 trilhões), e em oitavo, o Brasil (3,87 trilhões), na frente da França, da Itália e do Canadá.

Os trilhões a mais na economia dos emergentes não vão significar, no entanto, que esses países alcancem padrões de vida considerados de Primeiro Mundo.

Segundo o economista, apesar de juntos, em volume de PIB, terem o potencial de superar o G7, o único país que poderia chegar perto dos níveis de riqueza dos países desenvolvidos é a Rússia.

O cenário traçado por O'Neill em seu estudo de 2001 continua recebendo críticas de vários lados. Muitos questionam a artificialidade do conceito que reúne países tão distintos no campo social, político e até mesmo de modelo econômico. Outros questionam ainda o fato de o grupo excluir outros emergentes como a África do Sul, o México e a Turquia.

Alguns destacam também que os BRICs pegam carona no verdadeiro fenômeno deste século, que é a emergência da China como potência econômica. A economia chinesa hoje é do mesmo tamanho que as dos outros três países somadas, e essa distância tende a aumentar.

O fato é que o conceito ganhou força a ponto de se transformar em uma cúpula de chefes de Estado.

"Vai ser interessante ver o que eles terão a dizer. Estão realmente interessados em formar um verdadeiro clube?", questiona O'Neill. "Como eles serão tratados pelos chamados países desenvolvidos?"

CURTO PRAZO

Para 2009 e 2010, o Goldman Sachs prevê para esses emergentes do BRIC resultados, como um bloco, bem superiores ao da economia global e que a recuperação no grupo deve ocorrer antes do que no mundo desenvolvido.

Em 2009, eles esperam que a China cresça 8,3% e a Índia, 5,8%. Números bem inferiores aos dos anos anteriores, porém fortes o suficiente para compensar as quedas de 1,5% no Brasil e 7,5% na Rússia, previstas por eles.

A média do grupo ficaria em 4,8% em 2009, contra -1,1% no mundo como um todo.

Os lanterninhas do BRIC, Brasil e Rússia, voltariam a crescer já no ano seguinte, 2010, com 3,7% de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e 3% de crescimento para o russo.

A China voltaria à expansão de dois dígitos, com alta de 10,9% e a Índia teria alta de 6,6%. Com esses resultados, a média no grupo ficaria em 8% em 2010, contra um crescimento de 3,3% da economia global (BBC Brasil, 16/06/09)

Agricultura é tema de maior interesse do Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa abordar no encontro dos Bric mais o futuro da agricultura global do que desdolarização do comércio, ainda mais diante de posições protecionistas da China, Índia e Rússia no setor, sugerem analistas.

"Dos interesses brasileiros, o mais importante para discutir no Bric é o futuro da política agrícola mundial e segurança alimentar, e não desdolarizaçào", diz o embaixador José Botafogo Gonçalves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

"O mundo vai comer mais e consumir mais energia. E nossa prioridade é como fica o futuro do comércio mundial, se vamos exportar só farelo de soja ou o produto processado, e decidir quem embolsa o valor agregado, se o Brasil ou o importador", diz Botafogo.

Para Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação dos Produtores e Exportadores de Carne Suína, o que faz o Brasil ter sucesso na cena internacional é o agronegócio e o país precisa insistir em mais abertura dentro do grupo.

A China se tornou o maior importador mundial de produtos agrícolas brasileiros em 2008, com 20% do total. Em maio, o montante de suas compras já foi três vezes maior do que o do segundo colocado, a Holanda (com o porto de Roterdã) e os EUA em terceiro lugar. Em relação à Rússia, 90% das exportações brasileiras são de produtos agrícolas, sendo % de carnes e 40% de açúcar. A Índia importa pouco.

Só que há um desequilíbrio nas relações bilaterais. "Enquanto para o Brasil a China é o mercado, para eles não há tempo para conversar com a gente e isso é delicado", afirma o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto. Em recente visita do presidente Lula a Pequim, os chineses aceitaram cumprir um acordo do ano passado e liberaram a entrada da carne de frango. Mas agora querem comprar o frango inteiro, para criar empregos no país com o corte do produto.

O Banco Mundial estima que a demanda por alimentos crescerá % até 2030, com o aumento da população, melhora na renda e a preferência da classe média pela dieta ocidental. A falta de acesso à água pode alcançar proporções críticas, principalmente para agricultura. O problema pode piorar com a rápida urbanização e os 1,2 bilhão de pessoas que vão se juntar à população mundial nos próximos 20 anos. A mudança climática exacerba a escassez de recursos.

Os países do Bric vão tentar definir uma posição comum sobre agricultura e segurança alimentar, para levar em julho à cúpula do G-8, que reúne os principais países industrializados. Devem pedir financiamento "adequado" para a produção mundial de alimentos, combate a subsídios dados pelos ricos e apoio ao etanol brasileiro como fonte limpa de energia e sem ameaça à segurança alimentar, na expectativa do chanceler Celso Amorim. (Valor Econômico 15/06/09)

Um comentário:

Probus disse...

Li muita coisa sobre o BRIC em comentários e reportagens da Rússia, que tem muita afinidade com o pensamento da Índia.

A China, tá de olho GRANDE no comércio latino, com medo do Japão e Coréia, fortíssimos em Portos e Estaleiros, sem contar, a falsa e interesseira UE, Holanda e os outros piratas.
Mas ainda acho que a Rússia vai investir pesado na América Latina de olho no Caribe, se instalou no Orinoco do Chavez, no Atlântico Sul, o tal do Ártico e, já firmou parceria com a Argentina para tal. Quanto as Malvinas... que o Brown diz que é dele... Pertinho do cabo Horns do sinistro Piñera, desejo ianque, será interessante... Queria ver a cara do Brown... E o Dmitri foi claro, vou investir na Argentina, "se "eles" falarem qualquer coisa, nós não damos a mínima!"

Assisti agora com muito desgosto, TODO o PIG trucidar o BRIC e o BIAS.
Talvez o PIG tenha razão e, saiba mais que todos os mestres de economia do mundo, inclusive, menospreza até a boa vontade dos interessados associados da cúpula supra. Como se fosse fácil reunir estes quatro líderes tão distintos, mas não fazem disso um entrave.

Será que NINGUÉM nunca notou que este quarteto é altamente prejudicado, em TODOS os aspectos mundialmente. Acho eu, que estes "emergentes" (exclue-se China) são poderosos "insurgentes"??

Faço só uma observação: Os quatro países sofrem da xenofobia, preconceito sujo e irracional dos outros países.

Que o BRIC, BIAS, CALC, MERCOSUL, ASPA e as boas relações externas do BraSil tenham vida longa!!!

Parabéns pela sua postagens!!!

Gostaria de saber o autor.