domingo, janeiro 31, 2010

2010 será o ano das fusões e aquisições no setor sucroenergético?

Parece que 2010, assim como o ano passado, será um ano movimentado no setor sucroenergético com relação às fusões e aquisições. As três notícias abaixo sinalizam nesta direção.

A primeira, retirado do Portal Exame, comenta que em 2010 os setores com maior chance de movimentações de fusões e aquisições são, além do sucroenergético, os setores de infraestrutura, varejo e bancário. A segunda notícia, também do Portal Exame, fala da conclusão da fusão entre ETH e Brenco que criará um dos gigantes do setor e finalizando, segue post do Blog Mundo Agro que comenta sobre a venda da Fosfértil para a Vale, venda que disponibilizará cerca de US$ 3,8 bilhões aos cofres da Bunge, que segundo o texto, será utilizado na compra de usinas de açúcar e álcool.

Só nos restar esperar e analisar o setor novamente em dezembro.

Fusões e aquisições vão aquecer 2010
Varejo, infraestrutura, bancos e açúcar e álcool devem passar por ano de consolidação
Por Marcio Juliboni e Thiago Bronzatto

Já virou folclore dizer que, antes do Carnaval, os únicos que trabalham duro no Brasil são os próprios carnavalescos. Mas, longe dos galpões das escolas de samba, outro bloco começou 2010 em um ritmo tão ou mais frenético - o das fusões e aquisições. Em suas alas, desfilam executivos de empresas de todos os portes, investidores, fundos de private equity, consultores e advogados. Se o início do ano passado foi atravessado pelo descompasso da crise econômica, que retraiu os investimentos e fez com que as aquisições sumissem da avenida por seis meses, as primeiras semanas de janeiro mostram uma nova nota de otimismo. A compra da Quattor pela Braskem, criando a oitava maior petroquímica do mundo, e a aquisição do braço mexicano do banco ibi pelo Bradesco - ambas antecipadas pelo Portal EXAME - são apenas dois exemplos de que o mercado promete muito samba neste ano. "O apetite dos investidores por novos negócios impressiona neste começo de ano", afirma Darcy Teixeira Júnior, sócio da Tozzini Freire, escritório que participou de duas operações de peso recentemente - a fusão da Casas Bahia ao Ponto Frio, e a venda da Quattor para a Braskem.

Segundo a consultoria PricewaterhouseCoopers, a previsão para 2010 é de que 700 fusões e aquisições sejam realizadas no Brasil. Se isso for confirmado, o país ficará pouco atrás de 2007, quando bateu o recorde de operações, com 721. "Desde o início de janeiro estamos tocando uma média de 25 transações", afirma Alexandre Pierantoni, sócio da Price. É verdade que o ano passado não foi, propriamente, uma tragédia. Ao todo, foram fechados 630 negócios no país – pouco abaixo dos 643 de 2008. Entre eles, estão movimentos expressivos como a fusão da Sadia com a Perdigão, que criou a Brasil Foods, e a consolidação do setor de varejo, liderada pelo Pão de Açúcar que, em seis meses, comprou o Ponto Frio e o uniu com a Casas Bahia.

"Quase todas as negociações que estavam suspensas por causa da crise foram retomadas, e outras foram iniciadas", afirma Alexandre Bertoldi, sócio-diretor do Pinheiro Neto, cujo escritório está envolvido em 15 operações no momento. "O número de negócios em curso é totalmente atípico para janeiro", completa. A corrida para fusões e aquisições é sustentada pela resistência que o país demonstrou durante a crise mundial nos últimos 18 meses - o que lhe rendeu elogios públicos. Na edição de dezembro passado da revista EXAME, o presidente do JP Morgan, Jamie Dimon, afirmou que o Brasil não é mais um mercado emergente. "Já emergiu", enfatizou Dimon um mês depois de a revista inglesa The Economist estampar na capa a imagem do Cristo Redentor decolando como um ônibus espacial.

Private equities

Os fundos de private equity - especializados em comprar participações em empresas - devem protagonizar várias transações neste ano. Além dos tradicionais investidores americanos e europeus, novos personagens como indianos e chineses estão chegando por aqui. A consultoria Ernst & Young espera participar de cerca de 140 transações neste ano, 20% mais do que em 2009. "Desse total, cerca de 30% dos negócios devem ser gerados por private equity", estima Carlos Asciutti, sócio da Ernest & Young, que já trabalha com 18 operações desde janeiro. Ele estima que o patrimônio desses fundos seja de 10 bilhões de dólares - e parte do dinheiro ainda está disponível para novas aquisições.

Os maiores fundos também estão se movimentando. O americano Carlyle, gestora de 85 bilhões de dólares de ativos no mundo, tem direcionado o seu radar para o Brasil. Seu lance mais recente foi a compra de 63,6% das ações da CVC Turismo, anunciada no começo deste mês. A expectativa é que a empresa dobre de tamanho até 2015. A compra da CVC reflete a confiança do fundo na expansão da classe média - e deve fomentar negócios também em outras áreas. O Carlyle pretende investir cerca de um bilhão de dólares em cerca de dez negócios na América Latina. "Os setores de varejo e de alimentos são muito interessantes", diz Fernando Borges, representante do fundo na América do Sul.

Outro grupo que vai movimentar o mercado são as empresas de capital aberto. "O ano começou com muitas operações envolvendo o mercado de capitais", afirma Marcelo Cosac, sócio da Felsberg, Pedretti, Mannrich e Aidar Advogados. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) analisa, neste momento, sete pedidos de emissão de ações - três aberturas de capital e quatro captações de empresas já listadas. Ao todo, essas ofertas podem atingir seis bilhões de reais. Parte desse dinheiro deve ser usado pelas companhias para comprar rivais e liderar processos de consolidação. Além disso, a bolsa de valores em alta também facilita fusões e aquisições baseadas em troca de ações. "É um mecanismo pouco usado no Brasil, mas muito recorrente no mundo", afirma Reinaldo Grasson, sócio da consultoria Deloitte.

Internacionalização

As empresas brasileiras não devem se restringir a comprar apenas rivais que atuam por aqui. Com o câmbio estável e a volta da liquidez ao mercado financeiro, os especialistas acreditam que o processo de internacionalização continuará forte. Para os próximos dois anos, uma das apostas mais frequentes é de que os bancos brasileiros iniciem a sua expansão mundial, já que o setor viveu uma intensa consolidação interna nos últimos anos. Um exemplo seria o banco Bradesco que adquiriu em janeiro deste ano todo o serviço financeiro do banco Ibi no México. "Há uma tendência no setor financeiro de crescer em outros países antes que seja engolido por concorrentes que têm os mesmos objetivos", afirma Ricardo Veirano, sócio do escritório Veirano Advogados.

Mas setores tradicionais também devem continuar buscando oportunidades lá fora. Prevendo uma disputa ferrenha na exploração das reservas do pré-sal e a corrida pela conquista do mercado global de petróleo, a companhia petroquímica Braskem tem procurado se tornar uma gigante em seu setor. Depois de incorporar a Quattor, com a ajuda da Petobras, a oitava maior produtora de resinas do mundo está com fôlego para fazer alianças estratégicas para se tornar líder na América - hoje ela está atrás apenas da americana Dow Chemical, com quem tem mantido conversas sobre uma provável fusão. "Crescer internacionalmente está na agenda do Brasil. A médio prazo, será uma ação importante para a economia do país. Mas no mercado doméstico ainda há muitos espaços de expansão", diz Barbara Rosenberg, Barbosa Mussnich & Aragão.

Mercado interno

No mercado interno, o candidato disparado à consolidação é o setor de açúcar e álcool, que conta com cerca de 50 usinas à venda. Pouquíssimos grupos nacionais do setor teriam condições de fechar muitos negócios, já que a maioria acumula dívidas exorbitantes, decorrentes da crise mundial que acabou com o crédito. Por isso, os especialistas afirmam que o setor viverá um intenso desembarque de estrangeiros. "Há diversos investidores no exterior interessados em aportar capital nesse ramo que cresce de 10% a 15% ao ano", afirma o advogado alemão Christian Roschmann, sócio do escritório Lefosse. Além das gigantes do setor - ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus -, grupos estrangeiros estão consultando assessores locais em busca de negócios, já que o Brasil será beneficiado neste ano por preços elevados da cana em função da menor produção na Índia, na China e no Paquistão.

A intensa consolidação de alguns setores no ano passado ainda deve repercutir em 2010. Os concorrentes não devem assistir impassíveis à fusão do Ponto Frio. com a Casas Bahia, liderada pelo Pão de Açúcar no ano passado. Os especialistas acreditam que os principais concorrentes, como Walmart, Carrefour e Magazine Luiza, tentarão adquirir redes menores para não perderem mais participação de mercado. O que põem pilha nessa disputa são a expansão de renda, a queda na taxa de desemprego e a disponibilidade do crédito que alçam novos consumidores à classe média. "Ao contrário do que todo mundo pensa, o comércio varejista ainda é muito pulverizado, principalmente nas áreas têxtil e supermercados", avalia Nazir Takieddine, sócio do escritório Trench, Rossi e Watanabe.

Na opinião de especialistas, o que pode fazer a diferença nesse setor é o comércio eletrônico aliado ao crédito para pessoa física. Com a inclusão digital e a popularização das vendas on line - cujo crescimento é de 30% ao ano -, a plataforma virtual deverá imantar novos consumidores nos próximos anos. Mas, para atender essa demanda, as empresas deverão estar prontas para parcelar seus produtos no cartão. "Neste ano, haverá uma expansão do crédito de aproximadamente 15%", calcula Veniltom Tadini, diretor-sócio da área de investimento bancário do banco Fator. Redes como a B2W (fusão entre Americanas e Submarino) e a Extra.com perderão participação por conta da entrada - ou do fortalecimento - de novos concorrentes. "Esse quadro estimulará novas operações no mercado", acrescenta Tadini.

Infraestrutura

O aquecimento da economia brasileira deixará o setor de infraestrutura borbulhando nos próximos anos. Os dois maiores eventos esportivos do mundo vão mexer com a economia do país. Tanto para a Copa do Mundo, em 2014, como para as Olimpíadas de 2016, será destinada uma quantia de dinheiro extraordinária para os setores de construção civil, energia elétrica, siderurgia e mineração. Nesse pacote de investimento bilionário, novos estádios serão construídos, reformas em aeroportos serão feitas, terminais de ônibus ganharão mais frotas de veículos, unidades hoteleiras vão pipocar em volta das principais capitais do país e nas rodovias será proclamada uma caça aos buracos - pelo menos nos acessos aos grandes centros urbanos. "Independente de quem será o nosso próximo presidente, esse segmento continuará recebendo investimentos. Com essa estabilidade, investidores vão buscar consolidações", afirma Marcos Flesch, do escritório Souza, Cescon, Barrieu & Flesch.

No ramos de minério e energia, ambos muito consolidados, há quem aposte num movimento novo nas próximas transações. As empresas prestadoras de serviços auxiliares terão as suas atividades fundidas, ou completamente incorporadas, para facilitar, por exemplo, o escoamento de importação e exportação no segmento de siderurgia. "As unidades terceirizadas ainda são muito fragmentadas no Brasil. Por isso, elas têm um alto potencial de crescimento e de consolidação", defende Carlos Motta, sócio do escritório Machado Meyer, Sendaz e Opice.

Há, é claro, outras carteiras de recomendações como as áreas de saúde, educação, cosméticos, logística e indústria farmacêutica. "Fomos até buscar na Europa um advogado brasileiro para atuar no segmento de bio direito, já que o setor necessita de um profissional especializado para atender à demanda", conta Alberto Murray Neto, do escritório Paulo Roberto Murray. Porém, alguns especialistas são cautelosos quanto à euforia do momento sugestivo para fusões e aquisições. “Será um ano melhor do que o anterior, mas não chegará ao ponto de ser atípico. Ainda há muitas incertezas no cenário mundial", alerta Moacir Zilbovicius, sócio do escritório Mattos Filho Veiga Filho Marrey Jr. e Quiroga Advogados.

É sempre bom lembrar que estamos no Brasil, onde o ambiente de negócios melhorou depois da crise financeira mundial, mas ainda não é uma maravilha. "A incerteza na legislação de alguns setores ainda preocupa os estrangeiros", afirma a advogada Daniela Tavares, do Leite, Tosto, Barros e Associados. De certa forma, o que tranquiliza consultores, advogados, banqueiros de investimento e analistas é a frase cômica do milionário Warren Buffet: "Eu seria um mendigo na rua com um copo de lata se os mercados fossem sempre eficientes".

ETH Bioenergia conclui fusão com Brenco
Transação, que deve ser anunciada na semana que vem, criará a maior produtora de etanol do mundo
Thiago Bronzatto, de EXAME.com

SÃO PAULO - Agora, é para valer. As empresas sucroalcooleiras ETH Bioenergia, do grupo Odebrecht, e a Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco) devem anunciar a fusão na próxima semana. O negócio, que envolve troca de ações, criará a maior produtora de etanol do mundo, com valor estimado em cinco bilhões de reais. Segundo apurou o Portal EXAME, a Odebrechet será dona de 65% da união dos ativos e da operação.

Essa transação permitirá que as duas empresas juntas produzam anualmente cerca de três bilhões de litros de etanol e 2.500 gigawatts-hora (GWh) de energia elétrica a partir da biomassa. Segundo fontes ligadas à operação, esse negócio veio num momento oportuno, quando a Brenco precisava sanar o déficit em seu caixa resultante da crise de crédito no setor. Além disso, o objetivo dessa fusão é preparar a empresa líder em bioenergia para um IPO (oferta pública de ações, na sigla em inglês) entre este ano e o próximo.

O conselho administrativo dessa nova empresa terá dez assentos, dentre os quais sete serão ocupados pelo Grupo Odebrechet e três pertencerão à Brenco. Na fatia menor do bolo, os representantes serão designados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), pelo fundo de investimento americano Ashmore e pelo indiano Vinod Khosla. O atual presidente da Brenco, Henri Phillipe Reichstul, sairá da gestão do negócio.

A Brenco foi criada em 2007 com a intenção de se tornar líder global. Para bancar o negócio ambicioso, o executivo Henri Phillipe Reichstul, ex-presidente da Petrobras durante o governo Fernando Henrique Cardoso, assumiu a gestão da empresa. Na sua retaguarda, estavam sócios de peso como o indiano Vinod Khosla (da Sun Microsystems), o ex-presidente do Banco Mundial James Wolfensohn, o americana Ashmore, o fundo Tarpon e o BNDESPar (subsidiário do BNDES).

No entanto, a chegada da crise financeira mundial frustrou os objetivos de Reichstul de construir até 2015 cerca de dez usinas de etanol com capacidade de gerar energia a partir do bagaço da cana. Alguns empréstimos foram feitos na tentativa de retomar o fôlego inicial do projeto de expansão da Brenco. Mas o dinheiro que entrou no caixa não foi suficiente para evitar a incorporação da empresa. Desde outubro do ano passado, foi instalada a auditoria da fusão para analisar a melhor forma de efetuá-la. A expectativa é de que, até sexta-feira da semana que vem, a fusão seja anunciada.

Vale nos fertilizantes
Por Fabiane Stefano

A Vale comunicou hoje ao mercado a compra dos ativos da Bunge na área de fertilizantes - que detinha 42% das ações da Fosfértil, líder no mercado de fertilizantes no Brasil. O negócio de 3,8 bilhões de dólares traz de volta uma das maiores empresas do país para a produção de insumos essenciais para o campo. Em 2003, a Vale vendeu 11,3% da Fosfértil para a Bunge, uma das maiores na comercialização de grãos no Brasil. O desfecho também põe fim a uma das mais duras batalhas entre acionistas do país: Bunge versus Cargill. As duas empresas eram acionistas da Fosfértill e disputavam poder palmo a palmo dentro da empresa. Na briga, a Bunge se saiu melhor. Ela destituiu conselheiros da Cargill e colocou executivos de sua confiança em postos estratégicos na companhia. Também uniu suas operações em fertilizantes as da Fosfértil, à revelia de outros acionistas minoritários. Nesse sentido, a chegada da Vale põe fim à falta de consenso dentro da empresa - e cria uma nova perspectiva para a maior fabricante de fertilizantes do país. Ninguém sabe ainda qual será a postura da Vale no agronegócio - e provavelmente a empresa será tão agressiva como ela é em outros mercados. Mas esse é um capítulo que a mineradora ainda vai escrever.

Agora, fica a pergunta: o que a Bunge vai fazer com 3,8 bilhões de dólares em caixa? Será que finalmente a empresa vai estrear no setor sucroalcooleiro em grande estilo como tanto deseja? Façam suas apostas.

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