quarta-feira, janeiro 27, 2010

Grandes mineradoras e dólar fraco fazem Bunge desistir de fertilizantes

A gigante Bunge está desistindo da operação de fertilizantes no Brasil e vendendo-a para a Vale. A presença das grandes mineradoras como Vale e BHP, atrelada ao dólar fraco foram as principais motivações para isso. As notícias abaixo que encontrei no Brasil Econômico, Agência Estado e Canal Rural falam sobre o tema:

Para Bunge, fertilizante virou negócio para gigantes
Por Inaê Riveras/Reuters


O avanço de grandes mineradoras globais como a BHP Billiton e a brasileira Vale no setor de fertilizantes nos últimos anos deixou a Bunge, grande processadora de produtos agrícolas, ansiosa.

Executivos da empresa, que tem sede na cidade de White Plains, Estado de Nova York (EUA), chegaram à conclusão, então, que era o momento para mudanças em suas operações na área.

"Claro que gostamos muito de nossas operações em mineração, fizemos isso por mais de 70 anos, mas nos dois últimos anos mineradoras que fizeram muito dinheiro com ferro decidiram se expandir para o setor de fertilizantes", afirmou o presidente-executivo da Bunge, o brasileiro Alberto Weisser.

"Começamos a ficar preocupados. O jogo estava mudando e ele vai se tornar totalmente global, com companhias com fluxos de caixa diferentes do nosso", disse Weisser à Reuters poucas horas depois do anúncio da venda dos ativos de mineração e produção de fertilizantes da empresa no Brasil para a Vale por US$ 3,8 bilhões.

Então, quando a Vale fez uma oferta "muito atrativa", a decisão de vender não foi tão difícil, contou Weisser, acrescentando que o dinheiro advindo do negócio será aplicado nos setores de atividade central da empresa, como agroindústria, ingredientes alimentícios e também açúcar e álcool, área em que a empresa tem investido com força no Brasil.

O país ainda é muito importante para a empresa devido ao potencial agrícola. A Bunge é o maior operador em oleaginosas no Brasil e agora pretende usar sua base local para se tornar um líder global em açúcar.

Mas a forte apreciação do real contra o dólar, de 34% em 2009, elevou custos de produção e motivou mudanças.

A empresa nomeou no início desse ano o ex-ministro Pedro Parente como novo presidente-executivo da operação brasileira e contratou outros executivos no mercado para posições chave.

"Vamos deixar isso claro. O Brasil não é mais um país barato para operar. Temos que ser cuidadosos e manter as operações com custos baixos", disse o presidente da companhia, explicando a criação do cargo de Parente (anteriormente as unidades da Bunge no Brasil operavam praticamente de forma independente).

"Nós precisávamos de mais sinergias e eu não estava conseguindo fazer isso daqui (de White Plains)".

A elevação dos custos de produção também levou a empresa a reorganizar sua estrutura de armazenagem em áreas importantes como o Estado do Mato Grosso.

A companhia manteve a capacidade de estocagem inalterada em 5 milhões de toneladas, mas reduziu o número de silos que opera, já que elevou a velocidade de movimentação.

Weisser negou que o resultado fraco nas vendas de fertilizantes em 2009 no Brasil tenha sido a razão principal para a venda dos ativos para a Vale.

As vendas de adubos no ano passado recuaram para níveis vistos em 2004, apesar do aumento na produção agrícola, com agricultores reduzindo o uso do insumo para cortar despesas em meio ao aperto no crédito.

A Bunge adquiriu matérias-primas para seus fertilizantes a preços elevados em 2008, e quando os negócios no varejo caíram em 2009 ela acumulou perdas.

Weisser afirmou, no entanto, que os níveis de lucro na atividade deverão subir novamente em 2010.

Câmbio desmotivou Bunge a seguir com fertilizantes
Eduardo Magossi


O fortalecimento do real ante o dólar tornou o negócio de prospecção de fertilizantes menos atrativo, o que levou à venda dos ativos da Bunge neste nicho, de acordo com o presidente mundial da companhia, Alberto Weisser, em teleconferência com analistas. Segundo ele, a taxa de câmbio fez com que os custos aumentassem de forma significativa. Além disso, as atividades de prospecção operam em sua capacidade total e qualquer crescimento viria apenas de novos investimentos em minas.

Weisser considera que, diante do novo cenário mundial, em que cada vez mais empresas de grande porte estão se voltando para a mineração, inclusive algumas gigantes governamentais, as expectativas de lucratividade deste setor diminuíram. "Ficamos menos confortáveis em investir neste setor com todos esses novos riscos", disse. Segundo ele, a oferta feita pela Vale também atingiu o "pico das avaliações" realizadas.

O executivo afirmou que a venda dos ativos em minas e da participação na Fosfertil irá permitir que a Bunge concentre seu foco no setor de alimentos. Segundo ele, duas grandes apostas são o setor de açúcar e óleo de palma. No Brasil, o executivo disse que o setor de açúcar é muito mais lucrativo que os outros setores. "O preço do açúcar é formado pelo Brasil, o que faz com que o impacto de qualquer variação cambial seja menos relevante que no setor de fertilizantes, por exemplo", disse ele.

Segundo ele, os ativos levantados pela venda para a Vale, de US$ 3,8 bilhões, não serão utilizados para retomar a compra da Corn Products International (CPO), negócio que foi planejado pela Bunge, mas abandonado no final de 2008. "Os ativos serão direcionados para a área de alimentos e de agribusiness", disse.

Varejo

A Bunge manterá seu negócio de varejo em fertilizantes no Brasil mesmo com a venda de seus ativos relacionados à produção, incluindo nutrientes e a participação da empresa na Fosfertil Fertilizantes Fosfatados, pelo valor de US$ 3,8 bilhões. A Bunge informou, em nota, que firmará um acordo de suprimento com a Vale até 2012, com opção de prorrogação por mais um ano. A Bunge também manterá suas operações de fertilizantes na Argentina e nos Estados Unidos, e sua participação de 50% na joint venture com a Office Cherifien des Phosphates (OCP), no Marrocos.

Sob os termos do acordo, a Vale adquirirá a participação de 42,3% que a Bunge detém na Fosfertil, bem como as minas de fosfato integralmente pertencentes à Bunge e suas instalações produtivas no Brasil. A capacidade anual de produção de rocha fosfática e sua participação na Fosfertil correspondem a aproximadamente 3 milhões de toneladas.

Segundo Weisser, "é um momento oportuno para deixarmos a produção de fertilizantes no Brasil. Para manter o crescimento, teríamos que fazer investimentos de capital significativos. Com as incertezas relacionadas aos preços internacionais e ao câmbio local, acreditamos que será melhor investir em outras oportunidades. Além disso, grandes mineradoras globais estão ingressando no setor e diversificando seus portfólios de mineração. Ficamos felizes que este negócio passe para a Vale, que compartilha com a Bunge o compromisso de longo prazo com o Brasil".

Vale compra participação da Bunge na Fosfertil
Transação não envolve negócios de varejo nem distribuição de fertilizantes

A Vale adquiriu a participação da Bunge Participações e Investimentos (BPI) na Fosfertil, em negócio realizado nesta quarta, dia 26. O acordo inclui os negócios de mineração de fertilizantes da Bunge no Brasil, inclusive a participação direta e indireta da Bunge na Fosfertil. A Vale informou ainda que realizará oferta pública para aquisição de ações ordinárias detidas pelos demais acionistas da Fosfertil.

A Vale concordou em pagar US$ 3,8 bilhões, em dinheiro, para adquirir 100% dos ativos da BPI, que detém portfólio de ativos de fertilizantes no Brasil composto por minas de rocha fosfática e plantas de processamento de fosfatados, além de participação direta e indireta de 42,3% no capital total da Fosfertil correspondendo a 53,8% das ações ordinárias e 36,4% das ações preferenciais. A transação não envolve negócios de varejo nem distribuição de fertilizantes.

Na transação, serão pagos US$ 1,65 bilhão pelos ativos de rocha fosfática e fosfatados da BPI. O valor restante, de US$ 2,15 bilhões, refere-se às ações detidas direta e indiretamente pela BPI na Fosfertil.

Segundo fato relevante divulgado pela Vale, após a aprovação do negócio pelos órgãos governamentais competentes e a conclusão da transação, a empresa lançará uma oferta pública obrigatória para comprar as ações ordinárias detidas pelos acionistas minoritários da Fosfertil.

Fertifos

A Vale informou ainda que celebrou, através de sua subsidiária Mineração Naque, contratos de opção de compra e venda de ações de emissão da Fertifos Administração e Participações (Fertifos). Esses contratos de opção fazem parte do processo de aquisição de 100% do capital da Bunge BPI.

A Fertifos é uma empresa de capital fechado que detém 56,73% do capital da Fosfertil. Os contratos de opção foram celebrados com Fertilizantes Heringer e Fertilizantes do Paraná (Fertipar). Segundo a Vale, eles estão sujeitos a determinadas condições, entre as quais a efetiva aquisição do negócio de fertilizantes do grupo Bunge no Brasil. Esses contratos concedem à subsidiária da Vale o direito de adquirir até 1,46% das ações de emissão da Fertifos. O preço de exercício do contrato de opção com a Fertipar é de US$ 39.553.130,99, enquanto o preço do exercício do contrato com a Heringer é de US$ 2.390.396,79, totalizando US$ 41.943.527,78. (Agência Estado)

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