A introdução da TI (Tecnologia da Informação) é algo fundamental ao agronegócio, pois em muitos casos ela possibilita ganhos tecnológicos e gerenciais às cadeias produtivas. Encontrei nesta semana três notícias relativas ao assunto que considerei interessante.
A primeira delas mostra a percepção do governo sobre a importância da disponibilização de internet banda larga em áreas rurais, algo fundamental para a melhor utilização da TI.
A segunda mostra a importância do rastreamento na cadeia da carne e a última fala sobre o desenvolvimento de ferramentas computacionais para os produtores de café em MG.
As fontes destas notícias são o site Notícias Agrícolas, para a
notícia 1 e
notícia 2 e o
Portal do Agronegócio para a última:
Governo quer internet banda larga em toda área rural até 2014
O Ministério das Comunicações publicará nas próximas semanas portaria instituindo o Programa Nacional de Telecomunicações Rurais. Com isso, abrirá caminho para a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) licitar frequências para as empresas oferecerem telefonia celular e internet banda larga nas áreas rurais.
De acordo com a minuta da portaria, divulgada nesta terça-feira pelo ministro Hélio Costa, uma das condições para que as empresas comprem as frequências é que elas ofereçam os serviços em toda a área rural de sua prestação em cinco anos. O documento determina ainda o início do atendimento já em 2010.
As empresas terão ainda que atender gratuitamente os usuários de todas as escolas públicas rurais. De acordo com o ministro, a ideia é vender as frequências a preços mais baixos para que as empresas possam atender os requisitos.
Costa disse, no entanto, que o governo não oferecerá desoneração tributária para tornar a licitação mais atraente. "Não vejo a menor chance de reduzir tributos enquanto não houver redução de tarifas", completou. (Folha de S. Paulo)
Rastreamento pode ir além da pecuária
Pequenos produtores já começam a adotar sistemas de rastreabilidade da produção de alimentos como frutas, verduras e pescados
Os recentes acontecimentos envolvendo a cadeia de produção da carne, como o embargo das redes de varejo aos produtos vindos de áreas de desmatamento, colocaram o tema do rastreamento de alimentos na ordem do dia. Agora, uma nova tendência que surge é de que os sistemas de verificação de origem sejam ampliados para outras cadeias produtivas, como de frutas, legumes, pescados e frutos do mar. A adoção de sistemas de rastreabilidade pode ser uma ferramenta para aumentar os ganhos de pequenos produtores e estimular iniciativas de comércio justo.
É o que aponta O Livro Verde de Rastreamento, obra de autoria do engenheiro Thomas Eckschmidt, lançada este mês pela Varela Editora. Eckschmidt é sócio da Pari Passu Aplicativos, empresa que desenvolveu um software de rastreamento voltado especialmente para pequenos produtores e cooperativas agrícolas.
Ex-executivo da área de finanças, Eckschmidt passou 15 anos viajando por mais de 20 países, ajudando empresas a fazerem gestão de fluxo de caixa. Viu o impacto que embargos comerciais causados por eventos como a doença da vaca louca, no início da década, causaram nos negócios de pequenos produtores rurais. "Muitos quebraram porque não tinham acesso a informações sobre novas barreiras comerciais e sanitárias, em um mercado que já vinha se globalizando", diz.
Hoje, segundo Eckschmidt, as demandas sobre os produtores de alimentos estão crescendo. "Além de qualidade e segurança, os produtores estão sendo questionados sobre os aspectos socioambientais da produção: se envolveu trabalho infantil ou escravo, ou danos ao ambiente." O desafio é convencer os produtores de que o investimento em rastreabilidade pode trazer ganhos de mercado.
"O consumidor brasileiro ainda não exige essa informação, como o europeu. Mas a velocidade com que as notícias circulam nas redes sociais já faz com que um novo perfil de consumidor, mais consciente, seja moldado."
Grandes redes varejistas já estão apostando na tendência. É o caso do Pão de Açúcar, que investiu R$ 3 milhões na rastreabilidade dos fornecedores de hortifrúti. O Wal-Mart concentrou esforços na rastreabilidade da cadeia da carne e manteve o embargo aos frigoríficos do Pará. "Só vamos comprar carne da região quando os frigoríficos apresentarem um sistema de rastreamento que seja confiável", diz Daniela de Fiori, gerente de sustentabilidade do Wal-Mart. (O Estado de S. Paulo)
Computação agrícola
Até meados de 2010 a Cooxupé, testará novas ferramentas computacionais que estão sendo desenvolvidas por uma pesquisa conjunta entre as áreas de computação e ciências agrárias
Até meados de 2010 a Cooperativa de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), que tem cerca de 11 mil associados, principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais, testará novas ferramentas computacionais que estão sendo desenvolvidas por uma pesquisa conjunta entre as áreas de computação e ciências agrárias no âmbito do Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research.
Coordenado pela professora Claudia Maria Bauzer Medeiros, do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o projeto “eFarms, uma estrada de mão dupla de pequenas propriedades rurais para o mundo em rede” foi um dos selecionados na primeira chamada do convênio, em 2007.
O eFarms já conta com vários módulos funcionando, disponibilizados pela internet. Outros ainda estão em fase preliminar e serão integrados ao longo de 2009 e 2010. A Cooxupé testará as soluções que estão sendo desenvolvidas para que, até meados de 2010, sejam levadas para propriedades rurais indicadas pela cooperativa.
Claudia tem desenvolvido trabalhos conjuntos com pesquisadores de ciências agrárias desde 1996. “Com o edital do Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research vislumbrei a oportunidade de realizar pesquisa em computação e em ciências agrárias, combinando os resultados de modo a apresentar soluções inovadoras para problemas reais”, disse à Agência FAPESP.
O projeto eFarms consiste na especificação e no desenvolvimento de ferramentas de software – para acessar bancos de dados heterogêneos – e de redes sem fio de baixo custo de implantação, para comunicação de dados entre pequenas propriedades rurais, permitindo, inclusive, acesso à internet.
Com os softwares se pretende facilitar simulações, gerenciamento de dados e execução de modelos, sempre visando a apoiar pequenos proprietários rurais em decisões na área de planejamento e acompanhamento de safra.
Com as redes, o objetivo é interligar propriedades rurais à cooperativa, com acesso à internet. Será possível a cada proprietário cruzar dados relativos à sua propriedade com características de clima, produção ou variações meteorológicas captadas por sensores (desde microssensores instalados nas propriedades até dados fornecidos por satélites).
O cruzamento de informações permitirá aos agricultores e cooperativas acompanhar a evolução da safra para aprimorar as atividades do ciclo de vida de culturas, desde a decisão do que plantar, onde, como e quando, até estratégias para organizar a colheita.
“Muito do que estamos fazendo é também inédito em outros países, pela combinação de dados de sensores a imagens de satélites, e pelas características dos usuários que queremos atender”, explicou Claudia, que membro da coordenação da área de Ciência e Engenharia da Computação da FAPESP.
Estudo multidisciplinar
Do lado de pesquisa em computação, o grupo tem que lidar com a questão de tratamento de vários tipos de dados – principalmente de sensores – e sua integração. De parte da pesquisa em ciências agrárias existe, por exemplo, a necessidade de desenvolver novos modelos matemáticos de previsão de safra e monitoramento de culturas com sensores.
“Se combinarmos esses dois problemas, que são alvo de pesquisa de ponta em nível mundial, temos uma questão muito interessante: a especificação de modelos que sejam baseados em dados de sensores, enquanto que grande parte dos modelos utiliza outros tipos de dados. Ao mesmo tempo, estamos atendendo demandas de relevância social, neste caso, de pequenos proprietários rurais”, disse Claudia Bauzer Medeiros.
A parte relativa a redes de sensores exige um grande trabalho de engenharia para sua implantação. Os sensores foram inicialmente testados em laboratório para, em seguida, serem levados a ambientes externos. Agora, estão sendo montadas várias pequenas redes, que enviam dados de vários locais da Unicamp para um computador central, que os retransmite para outros computadores.
Tudo isso está sendo feito com uso de tecnologia sem fio, o que também é um desafio – muitos projetos envolvendo sensores usam simulações pela dificuldade de instalação.
Na fase em que o eFarms será levado para teste em propriedades rurais indicadas pela cooperativa, surgirão novos desafios associados a problemas de ligação de rede sem fio, tendo em vista, por exemplo, dificuldades de relevo, altura da plantação e visibilidade entre propriedades.
Esses desafios exigirão medições demoradas em campo, para planejamento de colocação adequada de antenas. Nos experimentos realizados na Unicamp foram feitas medições desse tipo, em uma plantação de milho, para verificar a influência das plantas nos sinais.
A partir dessa experiência será possível testar efetivamente toda a parte de infraestrutura em uma plantação de café e verificar o desempenho de comunicação de dados entre fazenda e cooperativa.
A parte de software funciona independentemente dessa migração. “Do ponto de vista de pesquisa em computação, estamos obtendo resultados muito bons, por exemplo, com novos algoritmos de processamento de imagens de satélite e de análise de séries temporais”, explicou Claudia.
O grupo que está desenvolvendo o trabalho no eFarms é composto de uma equipe multidisciplinar das áreas de computação (bancos de dados, processamento de imagens, redes de computadores e integração de sistemas) e ciências agrárias (sensoriamento remoto, agricultura de precisão e ciência dos solos).
O eFarms atua em três eixos: pesquisa (com os resultados tradicionais associados), formação de recursos humanos de qualidade (que aprendem a trabalhar com metodologias e vocabulário de grupos de pesquisa distintos) e desenvolvimento de infraestrutura de redes sem fio em vários níveis. Mais informações sobre o eFarms:
http://proj.lis.ic.unicamp.br/efarms.
A coordenadora do eFarms será uma das convidadas de um painel que debaterá “Computação e Agricultura” durante o Seminário sobre Computação na Universidade, um dos eventos do 29º Congresso da Sociedade Brasileira de Computação. O congresso, que tem início nesta segunda-feira (20/7), em Bento Gonçalves (RS), terá a participação da FAPESP entre os expositores. O painel está programado para as 14 horas desta terça-feira (21/7). (Agência FAPESP)