terça-feira, abril 27, 2010

Os capitães da agroindústria

Gosto muito de história, por isso coloco este post. Nele Décio Zylbersztajn, professor titular da FEA/USP discorre brevemente sobre alguns capitões do agronegócio brasileiro neste século e sua importância para o desenvolvimento. O artigo foi publicado no Valor de hoje, porém encontrei-o no BrasilAgro:

Estratégias dos capitães da agroindústria brasileira
Os empresários tiveram a visão da mudança que viria transformar a agricultura.

Os primeiros capitães da agroindústria tiveram a visão da mudança de paradigma tecnológico que viria a transformar a agricultura

A mudança do controle acionário nas empresas agroindustriais atingiu desde a indústria de insumos agrícolas até processadoras e distribuidoras de alimento, causando mudanças nas lideranças empresariais com implicações estratégicas.

Vivenciamos um ciclo de aquisições de empresas agroindustriais, que trocaram o controle representado pelas famílias dos fundadores pelo capital internacional das megacorporações agroindustriais e pelos fundos de investimento.

Um olhar para o passado recente dos agronegócios nos aponta para uma geração de empresários inovadores, capitães de empresa que surgiram no pós-guerra. Quase todos já desapareceram. As empresas por eles idealizadas tiveram um ciclo de crescimento acompanhando as mudanças ocorridas na agricultura mundial. A característica comum foi o controle familiar, o negócio estruturado com base nas tecnologias do ciclo da revolução verde e o conhecimento da realidade agrícola depositada nas práticas empresariais dos seus idealizadores.

A história de empresas como a Agroceres, fundada por Antonio Secundino de São José, ex-reitor da Universidade Federal de Viçosa e depois gerida pelo seu filho, Nei Bittencourt de Araújo, exemplifica o fenômeno no campo da genética vegetal e animal. A empresa mãe foi vendida para a Monsanto, interessada na sua posição dominante no mercado de milho híbrido.

Outro exemplo foi a Manah, fundada pelo engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso, hoje ativo na área da sustentabilidade. Nos anos 60 o Brasil consumia pouco fertilizante o que motivou a ideia da adoção da tecnologia com a criação da Associação Nacional para a Difusão dos Adubos. A Manah foi adquirida pela Bunge, seguindo a mesma rota histórica da Agroceres.

No setor bioenergético o histórico das famílias que se dedicaram à produção da cana de açúcar e que avançaram no processamento do produto com os engenhos de açúcar de depois as usinas de etanol e eletricidade, nos lembram nomes como as Usina da Barra, São Martinho, Santa Elisa, entre outras. Essa indústria tem história mais remota, tendo sido a primeira a ser implantada no Brasil, entretanto a sua versão moderna se deveu aos empresários agroindustriais.

Esses empresários tiveram a visão da mudança de paradigma tecnológico que viria a transformar a agricultura. Vislumbraram as tecnologias e a necessidade da produção em escala. Compartilhavam o conhecimento do território onde as atividades de produção se realizavam.

Consta que Antonio Secundino, ao fazer seus estudos nos Estados Unidos, teve acesso ao banco de sementes de milho existente no México. As linhagens de milho são a chave para a produção do híbrido, que permitiu a implantação da empresa nos Brasil.

As empresas de fertilizantes começaram como misturadoras de produtos importados. Cresceram com a produção nacional de matérias primas e dos adubos simples, amparadas pelo programa de substituição de importações. O acesso à tecnologia era simples e enfrentou o obstáculo da baixa concentração de fosfatos, que foi removido pela pesquisa da Escola Politécnica da USP, que permitiu a concentração de teores de fosfato. Contribuíram as instituições de pesquisa agrícola como o Instituto Agronômico, as universidades e o sistema federal de pesquisa, que antecedeu a criação da Embrapa.

A pesquisa teve papel relevante no sucesso das organizações como são hoje. Seria difícil replicar o modelo, pois os materiais genéticos têm propriedade definida, o capital para projetos agroindustriais demanda parcerias internacionais e a escala de produção limita as relações pessoais nas empresas.

O capital internacional foi necessário, motivado pela melhoria da avaliação de risco do Brasil. A indústria de fertilizantes está atrelada a sistemas de comércio de commodities, o que coloca em xeque a proposta aventada pelo governo Lula de ampliar a ação do Estado na produção de fertilizantes. As estratégias de escala e escopo implicam que não basta atuar no mercado local com um único produto. É necessário comercializar ao mesmo tempo o fertilizante e o grão, além de instalar capacidade de moagem. Ganhos no campo deram espaço à logística e ao acesso ao crédito para financiar a safra.

No caso da genética, os investimentos em transgenia e as mudanças na comercialização implicaram na especialização, deixando a fase de geração das tecnologias nas mãos de poucas empresas de envergadura internacional. O setor sementeiro nacional se especializou na fase de acabamento e comercialização do produto, com o apoio da pesquisa adaptativa.

No setor sucro-alcooleiro a estrutura familiar foi substituída, e o padrão de gestão alterado, atendendo as exigências de capital para a ampliação da estrutura de produção. A entrada de empresas como a Archer Daniels Midland, a Bunge, a Cargill e a Dreifuss, em grãos, laranja e cana, são o corolário da história aqui relatada.

A história da agroindústria brasileira é muito mais ampla e tem nuances que não caberiam neste artigo. O caso da Vallée de produtos veterinários originada pelos sócios Genésio de Mello Pereira, Helvécio Alves Carneiro e Orvenor Fernandes de Uberlândia, conduzida pela segunda geração, que convive em meio aos grandes laboratórios internacionais. O caso da JBS, que foi tema de estudo na universidade de Harvard, no processamento de carnes sugere um modelo de gestão simples, eficiente e internacionalizado. A presença do empresário no chão de fábrica é ressaltada no estudo de caso de Harvard como um ponto forte.

Cabe relatar que os inovadores Antonio Secundino, Nei Bittencourt, Alcides Bocalatto, Cardoso e os sócios Genésio de Mello Pereira, Helvécio Alves Carneiro e Orvenor Fernandes, e Fernando Penteado Cardoso eram amigos de pescaria e de modas de viola, nos fazendo pensar nos tempos passados das relações pessoais que foram substituídas pelas impessoais relações de mercado. Boas ideias certamente surgiram das noites de pescaria.

A sobrevivência das empresas tem o seu custo. Os novos modelos de gestão são mais eficientes, estruturados, globalizados e impessoais. Algo me diz que a experiência do passado guarda um segredo que nos fará falta.

Evolução do consumo de carnes nos EUA

Muito interessante a notícia abaixo que encontrei no AviSite. Ela mostra a evolução do consumo per capita de carnes nos EUA. Acredito que podemos, com as devidas proporções, considerar o mesmo tipo de comportamento para o Brasil. Segue texto na íntegra:

100 anos de carnes: consumo do frango é o que mais cresceu nos EUA

Campinas, 27 de Abril de 2010 - O acompanhamento de mercado efetuado pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) mostra que nos 100 anos decorridos entre 1909 e 2008 o consumo per capita de carnes no país aumentou mais de 60%, passando de pouco mais de 70 kg no início do século XX para perto de 115 kg na primeira década do século XXI.

Porém, a participação de cada uma das três principais carnes – bovina, suína e de frango – não teve a mesma evolução. Assim, por exemplo, o consumo de carne suína registrou seu auge (40 kg per capita) nos anos 1940 (II Grande Guerra). Mas chegou em 2008 com apenas 29 kg per capita, ou seja, um volume ligeiramente menor que o registrado em 1909 (30,4 kg per capita).

A carne bovina teve um comportamento bastante similar ao da carne suína na primeira metade do século XX. Mas na segunda metade, enquanto o consumo da carne suína se estabilizava, o da carne bovina continuou aumentando até se aproximar (anos 1970), dos 60 kg per capita. Mas a partir daí sofre regressão mais forte do que a carne suína, chegando a 2008 com uma evolução de 23% em relação a 1909, mas um retrocesso de quase 30% em relação ao pico dos anos 1970.

Em resumo, pois, a grande contribuição para o incremento de mais de 60% no consumo de carnes veio da carne de frango, cujo per capita aumentou 540% em 100 anos, o que significa dizer que passou de menos de 7 kg para mais de 44 kg per capita. Mas o forte dessa expansão ficou concentrado na segunda metade do século XX, o que faz da carne de frango um alimento pós-Guerra.

sábado, abril 24, 2010

Morre fundador da Jacto - Shunji Nishimura

Sem dúvida nenhuma ele foi uma pessoa muito importante no setor de máquinas agrícolas do Brasil fundando e administrando a maior empresa nacional do setor, empresa que desenvolve tecnologia genuinamente nacional e faz frente às grandes multinacionais. Segue abaixo nota da redação do Notícias Agrícolas:

Morreu nesta sexta (23) fundador da Jacto, o visionário, Shunji Nishimura

Morreu nesta sexta-feira, 23, ao 99 anos, em Pompéia, no interior de São Paulo, Shunji Nishimura, fundador da Jacto Máquinas Agrícolas, um império que hoje reúne uma dezena de empresas, emprega 3 mil trabalhadores, exporta para 90 países e fatura anualmente quase R$ 1 bilhão.

No fim dos anos 1920, o Japão enfrentava sérias dificuldades econômicas. Milhares de japoneses saíram do país, principalmente entre 1924 e 1934, em busca de novas oportunidades em países como o Brasil. Em 1932, o jovem mecânico Shunji Nishimura, então com 22 anos, estava entre eles. O começo de sua vida brasileira foi em uma fazenda de café no interior de São Paulo.

Franzino e pouco acostumado ao ritmo de trabalho com a enxada, grande demais para ele, Nishimura percebia que as coisas não seriam fáceis, mas estava determinado a vencer. Sua criatividade e seu conhecimento técnico o ajudaram a amenizar os dias difíceis na roça: fez uma enxada mais adaptada à sua estatura.

O cotidiano não era fácil e a remuneração pouco estimulava. Deixou a fazenda e foi tentar a vida no Rio de Janeiro, onde trabalhou como garçom. Conseguiu amealhar algumas economias e, voltando a São Paulo, resolveu estudar português. Trabalhou um tempo na própria escola, depois em uma fábrica como ajudante de torneador e soldador, ganhando o suficiente para se alimentar de pão com banana.

A vida se iluminou quando Nishimura conheceu Chieko, se casou e teve a primeira filha, Mitiko. Depois vieram seis meninos (Takashi, Jiro, Chikao, Shiro, Lincoln e Jorge). Decidido a melhorar de vida e com idéias de inventor na cabeça, tomou um trem com o objetivo de desembarcar apenas no fim da linha: lá seria o local do recomeço. Foi assim que se estabeleceu em Pompéia, cidade de 18 mil habitantes no interior de São Paulo.

Alugou uma casa, buscou a esposa e a filha e colocou uma placa na porta: “Conserta-se tudo”. A oficina foi, aos poucos, conquistando a freguesia. E Nishimura seguia inventando coisas. Colocou alças em latas, criando canecas. Adaptava motores. Desenvolveu um alambique para destilar mentol, que era um item importante da economia local. Daí para criar, em 1948, a primeira polvilhadeira nacional, na época feita de metal, foi só questão de tempo. Nascia a Indústria de Máquinas Jacto. No ano seguinte Nishimura já estava vendendo 30 pulverizadores por mês. Ele não parou mais de inventar e o negócio, de crescer. Já foi homenageado dezenas de vezes por associações empresariais e autoridades, incluindo o Governo japonês.

Ele fundou três escolas - o Colégio Técnico Agrícola de Pompeia, uma escola de ensino fundamental e a Escola Profissionalizante Chieko Nishimura, esta, em convênio com o Serviço Nacional da Indústria (Senai).

Também criou a Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, em cuja sede o seu corpo está sendo velado. O sepultamento será neste sábado às 17 horas no Cemitério Municipal de Pompeia.

Na sede da Fundação Shunji Nishimura, em Pompéia, há salas repletas de presentes recebidos por ele, além de um museu com objetos que contam sua trajetória e a história do grupo Jacto. Aos 98 anos, ele dizia: “Estou muito satisfeito com o que conseguiu” e que já podia “partir em paz”.

Nishimura completaria 100 anos no dia 8 de dezembro deste ano. O corpo do empresário está sendo velado em Pompeia. Shunji Nishimura deixa 7 filhos, 21 netos e 9 bisnetos.

Resposta dos produtores de frango brasileiros à Evo Morales

Depois daquelas declarações infelizes do Evo Morales, os empresários nacionais ligados à exportação de frango rebateram prontamente estas mentiras conforme podemos verificar na nota da Foilha de São Paulo de ontem que encontrei no Notícias Agrícolas:

Produtores brasileiros de frango repudiam declarações de Evo Morales

Os produtores brasileiros de frango repudiaram nesta quinta-feira as declarações do presidente da Bolívia, Evo Morales, que vinculou o consumo do produto com o homossexualismo. "A Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frango [Abef] manifesta seu repúdio às declarações do presidente da Bolívia, Evo Morales, e às críticas infundadas que fez à carne de frango industrializada", disse a instituição em comunicado.

Na terça-feira passada, na inauguração de uma cúpula social sobre a mudança climática, Morales assegurou que "o frango que comemos está carregado de hormônios femininos" e que, por isso, "quando os homens comem esses frangos, têm desvios em seu ser como homens".

O presidente boliviano também afirmou que, por culpa dos frangos e do gado bovino criado com hormônios, as meninas têm um desenvolvimento prematuro dos seios.

"Conhecido por posições notadamente polêmicas, inclusive no dia a dia de seu governo, o Sr. Morales revela desconhecimento também no que diz respeito a esta importante proteína animal, presença indispensável na mesa de todos os povos, em especial nas camadas menos favorecidas da população, das quais o presidente da Bolívia sempre se disse defensor", acrescenta a nota.

Além disso, a associação criticou os "comentários preconceituosos" de Morales em relação ao homossexualismo.

Os produtores lembraram que o Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango, abastecendo 153 países, e apontou, com certa ironia, que um de seus "grandes clientes" é a Venezuela, um dos aliados políticos estratégicos da Bolívia.

"Com relação especificamente à acusação da presença de hormônios na carne de frango, a Abef reitera que se trata de um mito. No caso do Brasil a expansão da produção dessas aves, com qualidade e sanidade, deveu-se a fatores como a alimentação exclusivamente à base de milho e soja", justificou a entidade.

Ainda de acordo com a Abef, "a ausência de hormônios é comprovada, aliás, por constantes inspeções de mercados que são os mais exigentes do mundo".

quinta-feira, abril 22, 2010

Evo Morales acha que carne de frango deixa homem gay e careca..

Veja se pode, o presidente da Bolívia disparou uma pérola em um discurso esta semana. Ele acredita que os hormônios dos frangos são culpados pela calvície e homossexualismo dos europeus. Encontrei no AviSite a notícia abaixo, leiam e se surpreendam:

Evo Morales culpa frango de granja por homossexualidade e calvície

São Paulo, SP, 22 de Abril de 2010 - O presidente da Bolívia, Evo Morales, surpreendeu sua audiência ao assegurar que os frangos de produções industriais são responsáveis pelos "desvios" dos homens para a homossexualidade e para a calvície na Europa.

Na abertura de uma cúpula social que realiza em seu país para discutir a mudança climática, o líder boliviano atacou a criação intensiva de aves com essas afirmações e outras, sobre os supostos prejuízos à saúde da Coca-Cola e das batatas holandesas.

Segundo o mandatário, os frangos são engordados com hormônios femininos. "O frango que comemos está carregado de hormônios femininos. Por isso, os homens que comem esses frangos têm desvios em seu ser como homens", disse Morales a milhares de pessoas na abertura da Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra.

Ele também acrescentou, às consequências desse tipo de alimento, a calvície, e profetizou: "Em cinquenta anos, todo mundo será calvo". Segundo o presidente, esses dados demonstram que o "ocidente cada vez mais traz mais e mais veneno".

A ideia de que hormônios são adicionados às aves em criações comerciais é considerada um mito sem fundamento por especialistas.

Nota da Redação:

Em matéria publicada no dia 28 de abril de 2009, o tema é comentado pelo técnico do setor Paulo César Martins, que na época enviou protestos e esclarecimentos sobre o assunto à Rede Globo, que havia divulgado a afirmação de um médico sobre a utilização do hormônio em frangos (http://www.avisite.com.br/noticias/maisnotss.asp?codnoticia=10006&mes=4&ano=2009).

quarta-feira, abril 21, 2010

Conheça o figo-roxo de Valinhos

Desde muito pequeno ouço muito do figo-roxo, visto que Valinhos, cidade vizinha de Campinas onde moro, é a capital desta fruta e a tecnologia tornou o suprimento quase contínuo desta fruta. Em minha infância só lembro de ver figo em casa no meses de verão, agora sempre encontro para comprar nos bons varejões.

Segue abaixo reportagem do Cosmo que também foi publicada no Correio Popular de 19 de abril:

Exportação de figo-roxo dispara e o lucro é certo
Certificação garante presença da fruta brasileira na mesa do exigente consumidor estrangeiro

O figo-roxo, que os imigrantes italianos trouxeram para a região de Campinas no comecinho do século passado, se firma como importante opção de agronegócio. A cultura familiar, que nasceu em pequenas roças de Valinhos, já ocupa 500 hectares de terra em municípios de toda a região. O produtor rural descobriu o potencial do mercado estrangeiro. Em 1972, quando foram feitas as primeiras exportações, foram embarcados 4 toneladas da fruta fresca. Em 2008, no entanto, mais de 1,6 mil toneladas de figo brasileiro foram saboreadas mundo afora.

A crescente participação brasileira no mercado internacional se dá por uma razão muito simples. O Estado de São Paulo (responsável por 80% da produção nacional da fruta) desenvolveu procedimentos próprios de manejo: folhas pulverizadas uma a uma, sistema racional de irrigação, podas radicais. Ao contrário de outras regiões do planeta (quando as safras são sazonais), a roça paulista produz o ano todo.

A produção apurada exige investimento: eletrificação da roça, construção de galpões com câmaras refrigeradas e instalação de redes hidráulicas. Mas o profissionalismo garante lucro. O quilo do figo exportado há quase quatro décadas rendia ao produtor 76 centavos de dólar. Hoje, o preço beira US$ 4,50. O figo roxo está presente principalmente nas mesas europeias, e as vendas justificam cada centavo aplicado na produção. O Sítio Monte Carlo, por exemplo, no bairro campineiro Pedra Branca, tem 16 alqueires tomados por 38 mil pés de figo. O produtor Salvador Orlando Brotto afirma que passou a exportar há 15 anos, mas começou a fechar contratos importantes no momento em que conquistou a certificação para as frutas.

De acordo com José Augusto Maiorano, diretor regional da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), o comércio internacional é regido pelo protocolo GlobalGap. Mas, por aqui, o Programa de Produção Integrada de Frutas (PIF), instituído pelo Ministério da Agricultura, não só estabeleceu normas brasileiras, como passou a contemplar as exigências internacionais. (Rogério Verzignasse - Agência Anhangüera de Notícia)

Credicitrus - um belo exemplo ao setor

Já tinha lido esta reportagem no final de semana na revista Exame e ela me chamou muito a atenção porque conheci a Coopercitrus ano passado quando visitei a FEACOOP, uma das feiras agrícolas mais organizadas que participei. Lá fiquei sabendo também da força da concessionária de tratores que ela possuí. Encontrei-a no BrasilAgro sem os gráficos, que elaborei e coloquei no final do texto:

Credicitrus: Um caminho para o crédito
Financiamento agrícola com pouco calote, lucrativo e com custo reduzido - sem subsídio do governo. Sim, isso é possível no Brasil. É o que mostra uma cooperativa do interior paulista, a Credicitrus.

Assim como ocorre com muitos agricultores brasileiros, a rotina do produtor Alcides Abade Filho, de 63 anos, de Terra Roxa, no interior paulista, sempre foi marcada por visitas frequentes a agências bancárias em busca de crédito agrícola. Mas, de uns tempos para cá, o dia a dia do fazendeiro mudou. Ele deixou de bater ponto nos bancos. Os pedidos de financiamento à sua produção - cerca de 1 100 hectares de cana de açúcar e de grãos plantados em São Paulo e Goiás -, que antes ficavam semanas sob avaliação das centrais bancárias e, não raramente, eram negados, passaram a ser liberados em questão de horas. "Hoje consigo todo o crédito de que preciso com mais facilidade e rapidez", afirma Abade. A vantagem foi conseguida ao concentrar suas operações financeiras na Credicitrus, cooperativa de crédito rural sediada em Bebedouro, na região norte do estado de São Paulo. "Espero nunca mais precisar recorrer aos bancos", diz Abade. Criada há 26 anos dentro da Coopercitrus, associação tradicional de produtores de laranja, a Credicitrus se tornou a maior cooperativa de crédito do país. Hoje conta com 42 filiais espalhadas por municípios de São Paulo e Minas Gerais e atende mais de 40 000 cooperados. No ano passado, seu patrimônio líquido superou meio bilhão de reais. "A Credicitrus conseguiu alcançar o sonho de todas as cooperativas, que é construir patrimônio e emprestar com recursos próprios", afirma Sílvio Giusti, executivo da Organização das Cooperativas Brasileiras. Os empréstimos com recursos próprios representaram mais de 70% do total de 2,3 bilhões de reais em operações de crédito realizadas pela Credicitrus no ano passado.

Com uma gestão eficiente e voltada para as demandas específicas do campo, a Credicitrus desponta como uma alternativa aos velhos mecanismos de crédito rural existentes no Brasil. Por lei, os bancos são obrigados a converter 30% dos depósitos à vista em recursos para o crédito rural, que são ofertados aos produtores a juros subsidiados de 6,75% ao ano. Ainda assim, o montante disponível é insuficiente, cobrindo apenas um terço do necessário para financiar a produção agrícola nacional. Além de escasso, esse volume é concentrado. Na safra atual, o Banco do Brasil responde sozinho por 61% do total de 108 bilhões de reais oferecidos. "Num cenário ideal, deveríamos diminuir nossa fatia no crédito rural brasileiro", afirma Luís Carlos Guedes Pinto, vice-presidente de agronegócio do Banco do Brasil, e ex-ministro da Agricultura. "A participação maior das cooperativas com recursos próprios é muito bem-vinda."

A relação estreita com os cooperados é um dos trunfos da Credicitrus. Apesar de oferecer serviços semelhantes, as agências da cooperativa pouco se parecem com as dos bancos. Na matriz, em Bebedouro, há apenas um caixa automático - na agência do Banco do Brasil, que fica do outro lado da praça central da cidade, há nove terminais. Os cooperados são atendidos pessoalmente por dezenas de funcionários e tratados como se fossem donos do lugar. Nessa agência, Abade é cumprimentado pelo nome por onde passa. Sempre participa das assembleias e já viajou em excursões de turismo organizadas pela cooperativa. "Somos uma comunidade", diz. Como a Credicitrus conhece cada um de seus clientes, resulta que a inadimplência é baixíssima - uma média de 0,97% de atrasos acima de 90 dias, ante 5,3% na rede bancária. É um índice que contrasta com a má fama geral dos agricultores brasileiros. Calotes frequentes e rolagens de dívidas que ultrapassam 20 anos geraram um passivo total estimado em 87,5 bilhões de reais no campo. "O produtor rural brasileiro não é mau pagador", afirma Raul Huss de Almeida, presidente da Credicitrus. "A questão é oferecer a ele condições compatíveis com suas necessidades." A administração do relacionamento com os financiados permite à cooperativa oferecer, sem ajuda do governo, empréstimo a um custo 30% abaixo da média do mercado. As agências de classificação de risco elevaram sua nota no ano passado para A2, sinal de uma operação segura. Com a riqueza que conseguiu acumular - em 2009, o lucro foi de 64 milhões de reais -, a Credicitrus ainda é uma exceção no cenário das cooperativas de crédito brasileiras. A maioria delas, com patrimônios irrisórios, funciona meramente no repasse do crédito rural subsidiado. Mas é possível seguir um caminho diferente - melhor para os produtores e para o país.

Cana - novos desafios relacionados à planta

Na edição de domingo do Estado de São Paulo foram publicadas três notícias sobre os futuros desenvolvimentos necessários para que a cana-de-açúcar produza ainda mais e possibilite a obtenção de etanol de segunda geração. Encontrei os artigos no BrasilAgro e resolvi postá-los devido ao grande interesse da atividade canavieira:

Na busca por mais etanol, ciência tenta reinventar a cana

Pesquisadores querem voltar às raízes genéticas da planta para gerar um tipo com mais fibra e menos sacarose, que vem sendo chamado de 'cana-energia'.

Que tal uma cana-de-açúcar com pouco açúcar? Pode soar contraditório - algo na linha de um cheeseburger sem queijo -, mas é justamente nisso que pesquisadores brasileiros estão trabalhando para a próxima geração de biocombustíveis no País.

Depois de séculos selecionando e cruzando variedades de gramíneas ricas em sacarose, para chegar ao que hoje chamamos de cana-de-açúcar, os cientistas agora se veem diante de um novo desafio biotecnológico: voltar às raízes genéticas da planta e gerar um novo tipo de cana, com mais fibra e menos sacarose, voltada para a produção de etanol celulósico.

Essa nova espécie ainda não existe no campo, mas seu nome já pode ser ouvido em todas as reuniões científicas que falam de biocombustíveis: "cana-energia". O objetivo é fazer uma planta geneticamente otimizada para a produção de biomassa (matéria orgânica vegetal), em vez de sacarose (açúcar). Para isso, será preciso reprogramar a maneira como a cana distribui os carboidratos que produz via fotossíntese. Ou, como dizem os cientistas, alterar a "partição de carbono" da planta.

Depois de ser sugado da atmosfera e fixado quimicamente na forma de carboidratos, esse carbono (proveniente do CO2) pode seguir dois caminhos: síntese de sacarose ou síntese de celulose. Nas suas raízes, a cana foi uma planta desenvolvida para produção de sacarose. "Por acaso, agora, a gente usa a sacarose também para fazer etanol, mas a planta foi feita para produzir açúcar, e não energia", explica a pesquisadora Glaucia Souza, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP).

Historicamente, portanto, as variedades selecionadas para cultivo foram aquelas que direcionavam a maior parte do carbono para a síntese de sacarose. Agora, com o etanol celulósico despontando no horizonte, a prioridade é outra. "Antes, quando aparecia uma cana parruda, com muita fibra e pouco açúcar, a gente jogava fora. Hoje são justamente essas variedades que procuramos", completa Glaucia, que coordena o Programa de Bioenergia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Bioen-Fapesp).

O projeto é um dos pilares do esforço brasileiro para dominar a tecnologia do etanol celulósico, que permitiria até triplicar a produtividade de biocombustível dos canaviais. Hoje, o bioetanol é produzido por meio da fermentação do açúcar do caldo de cana, que representa apenas um terço do carbono - ou seja, da energia - presente na planta. Os outros dois terços estão embutidos na biomassa, divididos entre as folhas e o bagaço do colmo.

Uma opção seria desenvolver uma cana com mais açúcar e mais biomassa ao mesmo tempo. Mas há um limite para isso, pois a quantidade de carboidratos que a planta produz pela fotossíntese é finito. Ou ela vai fazer mais sacarose ou ela vai fazer mais celulose. As duas coisas ao mesmo tempo, para sempre, não dá.

Aí surge a segunda opção, da cana-energia, voltada especificamente para o etanol celulósico. Que é possível, os cientistas não têm dúvida. O desafio é chegar lá numa fração do tempo que levou para fazer a cana-de-açúcar.

Entra em cena a genética. No laboratório de Glaucia, pesquisadores trabalham com um portfólio de 40 genes da cana, ligados a características como aumento de biomassa, aumento de açúcar, tolerância a seca e estrutura da parede celular. Dez já estão no "pipeline", sendo testados em plantas transgênicas, que crescem dentro de uma salinha climatizada no canto do laboratório. As expectativas são boas, mas é sempre arriscado fazer prognósticos com uma planta que tem oito a dez cópias de cada cromossomo.

Três vezes maior que o genoma humano, com 10 bilhões de letras químicas, organizadas em 120 cromossomos, o genoma da cana é um pesadelo biotecnológico. Vários pesquisadores no mundo já tentaram produzir canas transgênicas, sem sucesso. No laboratório, até que a coisa funciona. As plantas crescem melhor, resistem ao ataque de insetos, produzem mais açúcar ou seja lá o que for o objetivo da transgenia. Mas basta colocar as plantas no campo, para produção em larga escala, que o efeito da transformação genética desaparece misteriosamente.

Como a cana tem muitos cromossomos, há muita recombinação de material genético à medida que a planta cresce e suas células se multiplicam. A suspeita é que, em meio a todos esses rearranjos genômicos, o efeito da modificação genética acaba se diluindo, até desaparecer. Na linguagem dos cientistas, o transgene é "silenciado". "Tudo que já é difícil nas outras plantas é muito mais difícil na cana", resume a pesquisadora Helaine Carrer, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, no interior paulista.

Produção

Financiado pelo Bioen e associado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol, o laboratório de Helaine está empenhado na produção de plantas transgênicas. Duas salas climatizadas guardam centenas de vidrinhos com mudas de cana geneticamente modificadas para aumento de biomassa. Em alguns casos, os cientistas querem aumentar a expressão de um determinado gene, inserindo mais cópias dele no genoma. Em outros, querem silenciá-lo. Depois veem o que acontece com a planta.

"Para saber o que um gene faz, temos de modificá-lo", explica Helaine, ressaltando que os genes usados na pesquisa são da própria cana-de-açúcar. O objetivo é acelerar o processo de melhoramento, identificando características genéticas específicas que possam ser de interesse para a cana-energia. Nesse momento, a equipe trabalha com 12 genes ligados a aumento de fotossíntese, aumento de biomassa e transporte de água para as células.

"A cana é uma planta incrível. Sabemos que ela é muito produtiva, mas pouco sabemos sobre como ela faz isso. Precisamos de muita ciência básica ainda", ressalta Helaine. Sem entender como uma fábrica funciona, diz ela, não há como aprimorar seus processos. E a cana é, essencialmente, uma fábrica de açúcar - que, agora, se quer transformar numa fábrica de celulose.

Planta ainda está longe dos limites

Seja para obtenção de celulose, seja para obtenção de sacarose, a produtividade da cana-de-açúcar no Brasil ainda pode aumentar muito, segundo a pesquisadora Glaucia Souza, da USP. A média obtida hoje no País é de 80 toneladas de cana por hectare/ano. Em condições ótimas de clima, solo e nutrição, há produtores que conseguem colher quase o dobro disso: 150 toneladas por hectare/ano. E em condições experimentais controladas, já se produziu mais de 200 toneladas por hectare.

Mas qual seria o limite máximo teórico de produtividade da cana? Essa é pergunta que Glaucia e um grupo de colaboradores tentam responder em um trabalho publicado no início deste ano na revista Plant Biotechnology Journal. Segundo eles, a cana tem capacidade fisiológica para produzir até 381 toneladas por hectare/ano - com uma ajudinha da biotecnologia.

Talvez nunca seja viável atingir essa produtividade em larga escala, no campo. As variedades que já produzem na faixa das 200 toneladas por hectare, em condições experimentais, são plantas enormes, com colmos que ultrapassam os 10 metros de comprimento. Resultado: a cana não consegue parar em pé e tomba, tornando inviável a colheita em larga escala.

Para uma geneticista como Glaucia, porém, o genoma dessas plantas representa uma mina de genes interessantes que podem ser usados no melhoramento genético de variedades comerciais. O estudo mostra que, se os melhores genes fossem combinados numa única planta, cultivada nas melhores condições ambientais possíveis, livre de pragas e doenças, sua produtividade poderia chegar, teoricamente, às 381 toneladas por hectare/ano.

Olhando apenas para a biomassa, a produtividade média atual de 39 toneladas por hectare/ano poderia saltar, teoricamente, para 177 toneladas por hectare/ano.

Para chegar ao açúcar da celulose, cientistas precisam ruir a 'muralha' de defesa da célula

Se a busca por um novo tipo de cana, com alto teor de biomassa, exige um trabalho de reconstrução genômica, a eventual utilização dessa biomassa para produção de etanol celulósico passa, obrigatoriamente, por um serviço de demolição molecular. Cada célula da cana, assim como de outros vegetais, é revestida por uma malha de fibras de celulose e outros polímeros de açúcar que, juntos, funcionam como uma muralha, dando sustentação à planta e protegendo-a contra o ataque de fungos e bactérias. Para acessar os açúcares que compõem essa celulose e transformá-los em biocombustível, os cientistas terão de aprender a desmontar essa parede, molécula por molécula ou até átomo por átomo. Um trabalho nada trivial, que requer desfazer em alguns anos de pesquisa algo que a natureza levou milhões de anos para construir.

"Os tecidos vegetais evoluíram para não serem decompostos. As árvores não têm como fugir dos predadores, então elas precisam se proteger de alguma forma para evitar que fungos penetrem nas suas células e as devorem vivas", explica Igor Polikarpov, pesquisador do Instituto de Física de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP). Ele é um de vários cientistas brasileiros, espalhados por várias disciplinas, empenhados em descobrir e desenvolver enzimas naturais capazes de quebrar essa muralha biológica. Sem isso, a cana-energia não servirá para nada.

Essa tecnologia, na verdade, já existe. A natureza está cheia de fungos e outros microrganismos capazes de digerir biomassa vegetal, e várias enzimas já foram isoladas deles para uso industrial. Detergentes para lavar louça, por exemplo, são cheios de enzimas que degradam os resíduos de comida em pratos e panelas. Da mesma forma, há misturas enzimáticas (chamadas coquetéis) no mercado que já podem ser usadas para produção de etanol celulósico em laboratório, mas o custo ainda é alto demais para aplicação em escala industrial e falta especificidade para o bagaço de cana, que é a principal fonte de biomassa disponível no Brasil.

"Quem planta cana somos nós e quem entende de cana somos nós. Então quem tem de desenvolver essa tecnologia somos nós", diz o microbiólogo Gustavo Goldman, pesquisador da USP de Ribeirão Preto e do recém-construído Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas. Ele é especialista em fungos do gênero Aspergillus e quer entender como esses organismos controlam geneticamente a produção de suas enzimas. "Não é por falta de gente que não fazemos etanol celulósico ainda; é porque o problema é difícil mesmo", diz. "Precisamos de muita pesquisa. Muita pesquisa mesmo."

O desafio é desenvolver um coquetel enzimático brasileiro, mais barato, mais eficiente e específico para demolição de bagaço de cana, que torne a produção de etanol celulósico economicamente viável em escala industrial. "Claro que há enzimas no mercado que degradam celulose, mas elas foram desenvolvidas para outras aplicações", destaca o pesquisador Richard Ward, do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto. Ele trabalha com o melhoramento de enzimas que são identificadas na natureza por sua colega Maria de Lourdes Polizeli, do Departamento de Biologia, ambos associados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) do Bioetanol.

Maria de Lourdes é outra especialista em fungos - que, por sua vez, são especialistas em digerir celulose. "Quando você vê uma madeira em decomposição, é porque tem algum microrganismo lá produzindo enzimas e se alimentando dessa madeira", diz a pesquisadora, que guarda em sua sala uma geladeira com mais de 200 espécies de fungos, coletados de várias regiões e ambientes do Estado de São Paulo - de amostras de solo, de esterco de vaca, de cascas de árvore, folhas, fontes de águas termais, canaviais, laranjais. É a maior biblioteca de fungos do País.

O dia a dia de seu laboratório consiste em identificar, isolar e estudar a atividade de enzimas presentes nesses fungos, visando a possíveis aplicações industriais - incluindo a produção de etanol celulósico. Uma das espécies mais promissoras identificadas até agora é o Aspergillus niveus, isolado de uma manga podre que um aluno pegou do chão ali mesmo, no câmpus da universidade. Ensaios feitos no laboratório mostraram que o fungo é um ótimo produtor de enzimas degradadoras de parede celular e que ele resiste bem em temperaturas de até 50 graus Celsius - uma característica importante para eventuais aplicações industriais.

Uma vez que uma enzima promissora é identificada por Maria de Lourdes, cabe a Ward desvendar a estrutura atômica da molécula e fazer os "ajustes" necessários para que ela funcione da melhor maneira possível. O processo envolve a substituição de aminoácidos em pontos específicos da enzima, principalmente naqueles em que ela interage com as moléculas da parede celular, chamados "sítios ativos". As enzimas funcionam como picaretas biológicas, quebrando as ligações químicas quem mantêm as moléculas da parede unidas. Os sítios ativos são a ponta da picareta.

Mas uma picareta só não basta. É preciso uma caixa inteira de ferramentas. A arquitetura da parede celular é bastante complexa e extremamente resistente, formada por um emaranhado supercompacto de fibras de celulose, hemicelulose e lignina (veja gráfico nesta página), conformado revelam pesquisas capitaneadas pelo biólogo Marcos Buckeridge, professor da USP, diretor científico do CTBE e uma das principais lideranças científicas do País no campo do etanol celulósico. Enquanto outros procuram pelas ferramentas de demolição, seu grupo se dedica à ciência básica de desvendar e entender a estrutura da parede celular - procurando, assim, por pontos fracos que permitam desmontá-la com maior eficiência. "Não adianta ter enzimas se não soubermos o que elas precisam atacar", resume.

A celulose, na linguagem química, é um polímero polissacarídeo - uma longa corrente de moléculas de glicose grudadas umas nas outras. Ou seja, é uma cadeia de açúcares. O objetivo final é romper os elos dessa corrente, deixando as moléculas de glicose livres para serem fermentadas por leveduras, como já é feito tradicionalmente com a sacarose do caldo de cana. Só que, para isso, é preciso quebrar a parede inteira.

Para facilitar o trabalho das enzimas, a biomassa é antes submetida a um pré-tratamento químico ou físico que fragmenta a parede e "esgarça" parcialmente as fibras. Mas, ainda assim, é um osso duro de roer. Por isso os cientistas sabem que vão precisar de muitos fungos e muitas enzimas para montar a equipe de demolição ideal. "Não existe o fungo perfeito", diz Polikarpov. "Se houvesse um único fungo superpoderoso, capaz de degradar tudo sozinho, não existiriam mais plantas, porque ele já teria acabado com todas."

O mais provável é que o coquetel ideal para o bagaço de cana será uma mistura de diversas enzimas, isoladas de diferentes organismos. Especialista em desvendar a estrutura molecular de proteínas, Polikarpov estuda agora o funcionamento de várias delas para tentar entender como elas interagem com a biomassa.

"Para fazer uma boa sopa, você tem de conhecer o sabor de cada ingrediente; da carne, da batata, etc. No coquetel enzimático é a mesma coisa. Para montar a receita ideal, precisamos conhecer a atividade de cada enzima individualmente", compara o cientista.

domingo, abril 18, 2010

Jornal Nacional se engana com relação ao desmatamento da soja no MT

Ao ler a notícia abaixo no Notícias Agrícolas, resolvi colocá-la aqui porque sei do alcance do Jornal Nacional e cada pequeno espaço de divulgação que pudermos usar para corrigirmos os dados sobre o tema deve ser utilizado.

A questão é que o Jornal Nacional divulgou no dia 15 de abril uma reportagem com o título “Lavouras de soja no MT devastam 40% da Floresta Amazônica”. No dia seguinte, três importantes associações do setor lançaram um comunicado que encontra-se abaixo na íntegra.

É uma pena um veículo do porte do Jornal Nacional cometer um erro desta magnitude contra o agronegócio....

Nota de esclarecimento sobre reportagem do Jornal Nacional

A ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE SOJA E MILHO DO ESTADO DE MATO GROSSO – APROSOJA | MT, a ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE SOJA DO BRASIL – APROSOJA BRASIL, e a FEDERAÇÃO DE AGRICULTURA E PECUÁRIA DO ESTADO DE MATO GROSSO vêm a público esclarecer um dado incorreto divulgado na reportagem do Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão em 15 de Abril de 2010 com o título “Lavouras de soja no MT devastam 40% da Floresta Amazônica”.

O estado de Mato Grosso é contemplado por três diferentes tipos de vegetação: floresta, transição e cerrado. Neste contexto, a vegetação de floresta representa menos da metade da área do estado e a soja ocupa somente 4% desta área, e não 40% como foi divulgado na reportagem.

A tabela abaixo apresenta de forma simplificada os números de ocupação do estado.

Mato Grosso possui 36% de sua área de floresta já ocupada – 4% por lavouras de soja e 32% por outros usos. Dentre os outros usos e ocupações, encontram-se cidades e benfeitorias, assentamentos rurais, pastagens e outras atividades.

As lavouras de soja ocupam apenas 7% da área total do estado, num total de 6,2 milhões de hectares ante uma área total de 90,3 milhões de hectares.

Conforme veiculado na reportagem, são significativos os avanços do setor na redução do desmatamento. Destacamos que, dentre as principais ações que resultaram na redução de 90% do desmatamento no estado, estão ações pró-ativas de parceria entre o governo do estado, produtores e organizações não governamentais, como Projeto Lucas Legal, Pacto da Soja e Projeto Soja + Verde.

A série de reportagens sobre a exploração econômica da Amazônia que está sendo veiculada pelo Jornal Nacional é muito importante para esclarecer a complexidade da questão. Assim, solicitamos à Rede Globo a revisão deste dado para garantir equilíbrio na cobertura do tema.

Cuiabá, 16 de Abril de 2010

ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE SOJA E MILHO DE MATO GROSSO – APROSOJA | MT

ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE SOJA DO BRASIL – APROSOJA BRASIL

FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO ESTADO DE MATO GROSSO - FAMATO

sábado, abril 17, 2010

Energia solar ou biomassa? Veja duas aplicações

Ao ler a edição de terça-feira passada (13 de abril) do Brasil Econômico me deparei com uma foto na seção Encontro de Contas que mostra uma área gigantesca com painéis solares.

Abaixo da imagem tinha um texto onde dizia o texto que coloco abaixo, abrindo aspas:

Energia que não acaba mais

Foi inaugurado em Hasborn, na Alemanha, o maior sistema de energia solar do mundo. São cerca de 147 mil placas, espalhadas por uma área de 40 hectares, que vão fornecer energia para aproximadamente 3.400 famílias.

Construído com a ajuda da companhia PowerLight, o sistema tem potência de 10 megawatts. Além das placas, o complexo também tem moinhos de vento.

A Alemanha é o país número um no mercado mundial de energia solar e representa 55% da produção de eletricidade solar global. O país é considerado o mais bem sucedido em mecanismo de incentivo às fontes renováveis de energia.

Consegui na internet no site CicloVivo as figuras que encontram-se abaixo que mostram este sistema.



O interessante de tudo é que uma área gigantesca dessas tem uma potência muito pequena quando comparamos às utilizações de biomassa para produção de energia elétrica em termoelétricas.

Somente para comparação, a união da CPFL com o Grupo Pedra Agroindustrial irá produzir 145 MW, ou seja, quase 15 vezes mais energia. Abaixo segue a notícia desta união publicada no site da UNICA em 29 de março

Acordo Pedra-CPFL para cogeração é "importante sinalizador" para futuro do setor

Um acordo anunciado esta semana entre o Grupo Pedra Agroindustrial e a CPFL Energia para o fornecimento de eletricidade gerada a partir de biomassa de cana-de-açúcar abre portas e incentiva a entrada de novos agentes do setor elétrico nessa atividade. A avaliação é do assessor de Bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Zilmar de Souza.

Dentro do acordo, a CPFL Energia deterá o controle das unidades geradoras CPFL Bio Buriti, CPFL Bio Ipê e CPFL Bio Pedra, projetos que juntos tem investimentos previstos totalizando R$366 milhões. A potência instalada dos três projetos totaliza 145 MW, sendo 50 MW da Bio Buriti, 25 MW da Bio Ipê e 70 MW da Bio Pedra. Um total de 88,63 MW serão exportados para a CPFL (30,00 MW da Bio Buriti, 14,37 MW da Bio Ipê e 44,26 MW da Bio Pedra) ao longo da safra 2010/2011.

Zilmar de Souza lembra que a CPFL é a maior companhia privada do setor elétrico brasileiro, com mais de 90 anos atuando nesta área. "É preciso lembrar que a venda de bioeletricidade pelo setor sucroenergético é uma atividade relativamente nova, que existe a partir de 1987. Assim, o que temos é uma sinergia benéfica com o casamento das empresas na complexa tarefa de produzir e comercializar bioeletricidade,” avaliou.

A entrada em operação comercial das unidades Bio Buriti e Bio Ipê está prevista para junho de 2011, enquanto a Bio Pedra deve iniciar suas atividades em abril de 2012.

Retrofit

Para o assessor da UNICA, a parceria com a CPFL Energia mostra o potencial que o setor sucroenergético apresenta quando se avalia a perspectiva de reforma de seu parque de cogeração, o chamado “retrofit”. De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, em 2008 apenas 88 das mais de 430 usinas sucroenergéticas exportaram bioeletricidade, revelando que há oportunidades significativas para o parque sucroenergético existente.

Ele lembra que a CPFL Energia tem importante foco de atuação no interior de São Paulo, justamente onde está localizada a maioria das usinas sucroenergéticas da Região Centro-Sul. "Se considerarmos que apenas 54 usinas das 182 usinas paulistas comercializaram energia para a rede elétrica em 2008, vemos que o sucesso dessa parceria chamará a atenção para novos players do setor elétrico e a oportunidade que o `retrofit´ representa no coração do sistema elétrico nacional,” conclui Souza.

Uma outra aplicação interessante vem da Espanha, onde uma termoelétrica do grupo Acciona localizada em Sanguesa, tem a potência de 25 MW para queimar cerca de 160.000 toneladas anuais de palha oriunda de restos de culturas, principalmente trigo e milho. Encontrei um vídeo no Youtube em espanhol que pode ser acessado clicando aqui.

Abaixo coloquei uma foto e o esquema de funcionamento da termoelétrica que tirei do catálogo em PDF que encontrei neste link:


sexta-feira, abril 16, 2010

Custo da produção de café

A apuração é sempre muito difícil, por isso ao encontrar a notícia abaixo no Valor Econômico resolvi postá-la. Na figura podemos ver como a margem está caindo nos últimos tempos, chegando a ficar negativa nas duas últimas safras e os custos relativos à mão-de-obra são maiores nas regiões tradicionais de Minas e São Paulo. Segue abaixo artigo na íntegra:

Mudanças na colheita podem elevar a rentabilidade no café
Alexandre Inacio, de São Paulo

O aumento da rentabilidade da cafeicultura no Brasil e no mundo e o futuro da atividade passam necessariamente por mudanças no sistema de colheita do café. Por ser uma cultura perene, o processo de colheita representa pelo menos 50% dos custos de produção do café. A outra metade do custo fica dividida entre fertilizantes (30%) e demais despesas como água, energia, entre outros custos.

A conclusão de que a colheita é a peça-chave para a rentabilidade da cafeicultura é de um estudo elaborado pela P&A Consultoria, especializada no setor cafeeiro. Segundo o levantamento, a colheita seletiva dos grãos - processo em que os trabalhadores retiram dos pés apenas os grãos maduros - permite um elevado grau de seleção. Esse, porém, é o sistema de maior custo para os cafeicultores.

Levando-se em consideração uma mesma área, com a mesma quantidade de cafeeiros e dentro de um mesmo período de tempo, o sistema de derriça manual - em que o trabalhador retira todos os grãos de café do pé com as mãos - permite a colheita de um volume de três a cinco vezes maior do que no processo seletivo dos grãos.

"Diferentemente do que foi colocado historicamente pelos colombianos, a colheita seletiva do café não interfere na qualidade do produto final. Para se ter um café de alta qualidade na xícara você precisa de grãos 100% maduros, mas não que tenham sido 100% colhidos de forma seletiva", afirma Carlos Brando, diretor-presidente da P&A.

Há outras desvantagens no sistema de colheita seletiva, segundo ele. Quando se leva em consideração a chamada derriça mecânica - sistema que utiliza um instrumento em forma de garras para realizar a colheita - , além de haver uma substituição da mão humana pela "mão" mecânica, os volumes colhidos superam em 20 vezes o sistema seletivo e em até quatro vezes a derriça manual.

Quando a avaliação da consultoria leva em conta a colheita feita com colheitadeiras mecânicas as diferenças são maiores. Além de ser um trabalho menos desgastante para o agricultor, permitir uma colheita seletiva e ter um baixo custo, a máquina colhe um volume 500 vezes maior que o sistema seletivo, 100 vezes superior à derriça manual e 25 vezes maior que a derriça mecânica.

Hoje, no Brasil, apenas 1% da colheita do café é feita de forma seletiva. Na maior parte dos casos, o processo é feito por meio da derriça, seja ela mecânica (15%) ou manual (61%), sendo que aproximadamente 18% é feito por meio de colheitadeiras. "Essa sempre foi a vantagem competitiva que o Brasil teve. O café chegava mais barato porque o sistema de colheita utilizado era mais eficiente, só que isso está mudando", afirma Brando.

O consultor avalia que a vantagem brasileira está sendo consumida pelo desvalorização do real em comparação com o dólar. Por esse motivo, Brando defende que haja uma migração da colheita por derriça manual para a derriça mecânica e, quando possível, para a colheita mecanizada com um sistema de irrigação.

As alterações no sistema de colheita podem fazer bastante diferença. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que na Bahia, onde predomina a colheita mecanizada e o uso de irrigação, os custos de mão de obra representam apenas 9%, enquanto defensivos e fertilizantes somam 41%. Já em Guaxupé, no sul de Minas Gerais, onde as colheitadeiras são raras, o gasto com mão de obra, fixa e temporária, representa quase 50% do custo de produção.

Na Colômbia, praticamente toda a colheita do café é feita de forma seletiva, o que consequentemente exige um elevado volume de mão de obra. Apesar disso, Brando afirma que é possível identificar cerca de 3% de grãos verdes no café colombiano, quando não deveria existir nenhum. "O que é preciso ficar claro é que existe mercado para todos os tipos de café, tanto para os grãos maduros quanto para os verdes", afirma o consultor.

Geralmente, os grãos maduros são utilizados para a produção dos cafés finos e especiais, consumidos nos expressos. Já os grãos verdes, que não atingiram o ponto ideal de maturação e, por isso, não absorveram as melhores características da planta, são utilizados para a produção de bebidas tradicionais, consumidas em casa, com coador e também para café solúvel.

Especialistas consideram que mudanças são realmente necessárias. Dados da Conab mencionados em um estudo do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Banco Brasdesco mostram que o setor, especialmente o de café arábica, enfrenta problemas de rentabilidade. Em Guaxupé, por exemplo, o setor fechou 2009 com um prejuízo operacional de 9%, considerando um custo médio de R$ 281,10 por saca e um valor médio recebido pelo produtor de R$ 256,18 por saca.

quarta-feira, abril 14, 2010

Depois dos indianos, será que os russos aparecerão por aqui?

Depois da chegada de grupos indianos, um que acertou a compra da Equipav e outro que namora com a Usina Furlan, parece que os russos também estão desembarcando por aqui. Para completar os BRICs, só faltam os chineses.

As reportagens abaixo encontrei no Agromundo e BrasilAgro com notícias da Folha de São Paulo:

Carol fecha acordo com grupo da Rússia

Maior cooperativa agrícola do Estado e a 5ª maior do país está prestes a consolidar joint venture com o Sodrugestvo. Empresa europeia é a mais importante negociadora e esmagadora de soja da Rússia; acordo depende de aval dos cooperados.

O capital russo está desembarcando na região e terá a Carol (Cooperativa de Agricultores da região de Orlândia) como seu porto de entrada. Maior cooperativa agrícola do Estado e uma das cinco grandes no país, a Carol informou ao mercado na última quinta-feira que está prestes a se unir ao grupo russo Sodrugestvo.

Pelo acordo, que ainda depende de aprovação em assembleia dos 4.000 agricultores ligados à cooperativa, Carol e Sodrugestvo, maior negociadora e esmagadora de soja da Rússia, irão formar uma nova empresa, a Carol Sodru, por meio de uma joint venture.

No novo negócio, os russos terão 51% do capital, enquanto a Carol fica com os 49% restantes. Os europeus também estarão em maioria no conselho da nova companhia: quatro membros serão indicados pelos russos e três pela cooperativa.

Para ficar com o controle da Carol Sodru, o grupo russo terá de fazer um aporte de capital cujo valor não foi revelado.

De acordo com o CEO da Sodrugestvo, Stéphane Frappat, o grupo pretende elevar de um milhão para três milhões a captação de soja da Carol no país até 2015. O segundo passo, disse Frappat, é montar no Brasil um sistema de transformação e distribuição de fertilizantes importados da Rússia.

A elevação da captação de soja deve priorizar os Estados onde a Carol já atua -São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Tocantins. Além de ganhos em produtividade, a Carol Sodru irá trabalhar nesses locais para ampliar sua base de associados.

O atual presidente da Carol, José Oswaldo Galvão Junqueira, disse que a decisão de procurar um sócio foi tomada “há alguns anos”. A cooperativa foi sondada por outros grupos, mas nenhum fez proposta “tão fechada” e financeira semelhante à da Sodru, disse ele.

Junqueira afirmou considerar a negociação do controle da Carol necessária para prepará-la para o novo momento da economia brasileira. “Os bancos estão se unindo, as redes de lojas estão se unindo, as usinas estão se unindo. Faz sentido também nos unirmos”, disse.

Segundo ele, o modelo de cooperativismo não será mudado, e os cooperados devem se beneficiar com a nova empresa. “Agora eles vão ter 49% de uma empresa maior”, afirmou o presidente da cooperativa.

Nas instalações da Carol em Orlândia e em São Joaquim da Barra, as diretrizes a serem implantadas pelos novos controladores gera apreensão, segundo funcionários que não quiseram se identificar.

Há tanto os que esperam demissões para enxugar a estrutura da empresa e torná-la mais lucrativa quanto aqueles que acham que os russos vão interferir mais nos altos escalões da empresa do que no cotidiano da companhia.

Para o analista do mercado de soja da Scot Consultoria, Rafael de Lima Filho, a Carol pode ampliar sua capacidade de captação. Hoje, a cooperativa é mais forte na distribuição de insumos, e a Sodru poderá abastecer com fertilizantes russos os cooperados da Carol.

Brasileiros têm 30 anos a mais de história

Trinta anos de diferença e milhares de quilômetros separam as histórias da Carol e do Sodrugestvo Group, que em breve deverão se unir para competir no mercado global de soja.

A Carol foi fundada em 1963 por um grupo de 59 agricultores da região de Orlândia. O modelo escolhido para diminuir o custo dos insumos e melhorar a produtividade das lavouras de soja foi o cooperativismo. Quase 47 anos depois, o número de associados chega a 4.000. No ano passado, a Carol teve receita de R$ 750 milhões.

Além da captação, a Carol tem uma processadora de grãos em São Joaquim da Barra e arrenda outra em Ipameri (GO). Atua nos ramos de insumos, ração animal, sementes, assistência técnica, varejo e financeiro. Lojas, assistência técnica e sementes forrageiras não foram incluídas no negócio.

Fundado em 1994, o Sodrugestvo processou 1,1 milhão de toneladas de soja no ano passado, com faturamento de US$ 900 milhões. Além da transformação, atua na comercialização e gestão logística do grão. É controlado pela família Lutsenko, que detém 85% das ações.

Terá o Brasil a chefia da FAO?

Nasce o desejo do Brasil em ocupar a chefia da FAO devido à importância do agronegócio brasileiro. A notícia abaixo é do Valor de hoje que encontrei no BrasilAgro:

Nasce uma campanha pela chefia da FAO

O Brasil deveria aproveitar sua posição de destaque no tabuleiro agrícola global e apresentar um candidato à direção-geral da FAO, o braço das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação cujas eleições estão previstas para 2011. A posição foi defendida por ex-ministros da Agricultura do país durante evento de lançamento do World Agricultural Forum (WAF), ontem em São Paulo. O WAF será realizado em Brasília no mês que vem.

Para os ex-ministros, um sul-americano no comando da FAO permitiria que a região, que já é uma produtora agrícola das mais expressivas e tem grande potencial para ampliar a oferta, tivesse um representante no órgão da ONU à altura de sua importância. "Faz 16 anos que um senegalês [Jacques Diouf] está à frente da FAO. Antes disso, foram 16 anos de um libanês [Edouard Saouma]. São pessoas competentes, mas não são de países agrícolas", afirmou Roberto Rodrigues, que foi ministro nos primeiros anos do governo Lula.

"Caberia ao WAF propor que um brasileiro seja o novo presidente [da FAO]", acrescentou Rodrigues, lembrando que essa é uma decisão de governo. O evento de maio, o primeiro promovido pela organização não-governamental na América Latina, deverá discutir metas de produção agropecuária em um contexto que inclui a região, especialmente a América do Sul, como aquela capaz de dar uma resposta à crescente demanda global por alimentos.

Rodrigues disse já ter conversado com representantes do governo brasileiro sobre o assunto. "Aparentemente, houve uma aceitação razoável". Para Rodrigues, seria necessário "melhorar a gestão da FAO, reformá-la e transformá-la naquilo para o que ela foi criada: um organismo que trate de agricultura e alimentação".

Segundo a FAO, a demanda global por alimentos crescerá 70% até 2050. E a entidade ainda prevê que os países sul-americanos e a África subsaariana serão as regiões com maior capacidade de atender aos novos consumidores de países emergentes, que liderarão o crescimento da população global - que deve saltar dos atuais 6,7 bilhões para 9 bilhões de habitantes período.

"Queremos criar uma nova FAO, é isso que eu pretendo, ou melhor, o que eu proponho", declarou Rodrigues, ressaltando que já tem um candidato para sugerir: o pesquisador e ex-presidente da estatal Embrapa, Silvio Crestana.

Também presente, Pratini de Morares, ex-ministro da Agricultura no governo Fernando Henrique Cardoso, afirmou que o Brasil teria pelo menos seis nomes em condições de disputar a direção da FAO. Pratini reforçou que é preciso reformar a FAO, que "gasta 42% de seu orçamento com a sua sede".

Segundo Rodrigues, se o Brasil quiser mesmo ocupar a cadeira mais importante da FAO, é importante que o Brasil estruture logo sua candidatura. "Os conchavos começam no segundo semestre deste ano", disse ele. O diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, por sua vez, afirmou que um órgão como a FAO poderia ter uma atuação mais forte em questões relacionadas ao comércio mundial, visando à queda de barreiras.

E para Miguel Campos, ex-ministro da Agricultura da Argentina, o fórum internacional de maio pode ser um bom momento para a região lançar o seu candidato. "A conferência tem que ter algo de impacto", destacou o político.

domingo, abril 11, 2010

Somente ciência não acabará com fome no planeta

Em artigo do Valor de 31 de março que encontrei no BrasilAgro, comenta-se o fato que muitos especialistas acreditam que somente reformulação da agricultura trará um ambiente que possibilitará alimentar os 9 bilhões de homens que se estima para 2050. Tenho a mesma percepção que o problema não é a produção, mas sim a distribuição de alimentos:

Só ciência não basta para elevar oferta de alimentos

Alimentar uma população global em crescimento acelerado em vista da mudança climática e das estagnadas verbas para ajuda alimentar e pesquisa agrícola exigirá uma reformulação básica da agricultura, dizem especialistas.

Ao contrário da "Revolução Verde" que aumentou dramaticamente a produção agrícola na América Latina e Ásia a partir dos anos 1950, porém, uma nova reestruturação precisará se concentrar tanto em novas variedades de sementes como em governança adequada, capacitação de mulheres e em colocar limites à especulação com commodities, acrescentaram.

"Não podemos abordar os riscos da segurança alimentar mundial unicamente através de uma ciência e de uma agenda tecnológica", disse Joachim von Braun, ex-diretor-geral do Instituto Internacional de Pesquisa de Políticas Públicas para Alimentação, numa conferência realizada domingo.

"Precisamos conseguir as regulamentações de mercado apropriadas para impedir a especulação excessiva", acrescentou, na conferência, realizada no sul da França para discutir um caminho para reformar a pesquisa agrícola a fim de atender metas de desenvolvimento. A especulação nos mercados de alimentos contribui para fomentar oscilações de preços que podem minar a capacidade de planejamento dos agricultores, muitas vezes induzindo-os à superprodução ou à subprodução.

A falta de apoio político e de recursos para pesquisa agrícola também está entre os maiores problemas que limitam os esforços para aumentar a produção e para alimentar mais de um bilhão de pessoas famintas no mundo, disse Jacques Diouf, diretor-geral da Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

"Temos os programas, temos os projetos, temos o conhecimento... Temos tudo que precisamos, menos vontade política", disse ele, acrescentando que surgiram indícios de mudanças. "Percebemos que o problema da segurança alimentar não é unicamente um problema técnico, econômico e ético. É um problema de paz e segurança no mundo".

Até 2050, a população mundial deverá aumentar, de 6,3 bilhões hoje para mais de 9 bilhões, portanto a produção agrícola precisará crescer em 70% para alimentar essas pessoas, segundo o Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura.

Mas o mundo enfrentará desafios dramáticos para alcançar esse objetivo, alertaram os especialistas. O investimento e a pesquisa agrícola estagnaram ou caíram por todo o mundo por décadas, e o crescimento em lavouras cruciais como o arroz se estabilizou, dizem, acrescentando que o elevado endividamento nacional, em parte como resultado da crise financeira global, diminuiu a probabilidade de aumentos em ajuda de doadores para pesquisa.

A mudança climática também está provocando a piora das secas, enchentes e tempestades. Essas pressões poderão reduzir drasticamente a produção agrícola nas regiões do mundo mais flageladas pela fome, na África e no Sul da Ásia, e poderão agravar problemas existentes como o uso excessivo de aquíferos, desertificação e erosão. "A mudança climática agravará uma situação já em deterioração", disse o porta-voz do IFAD, Kevin Cleaver.

Inverter os problemas, ele e outros dizem, exigirá uma série de mudanças, como refrear subsídios agrícolas do mundo rico, assegurar que os pequenos agricultores tenham direitos às suas terras e identificar novas fontes de recursos para pesquisa agrícola.

Uma opinião sobre as energias limpas e fundos de investimento

O tema energias limpas está em alta ultimamente e achei no CanalEnergia um artigo sobre as energias renováveis e as fontes de investimento de capital de risco. Achei o texto muito interessante e com visão de mercado financeiro:

Private equity e venture capital em energias renováveis e tecnologias limpas - o Brasil no cenário mundial

Os critérios utilizados para a tomada de decisões de investidores atuantes nestes setores diferenciam-se dos adotados pelos de setores econômicos que nas duas últimas décadas dominaram a indústria de fundos

Rafael Figueiredo, 07/04/2010

O rápido crescimento dos mercados de energias renováveis e tecnologias limpas tem alterado significativamente noções e conceitos tradicionais que norteam a mobilização de recursos por parte de fundos de private equity e venture capital. Da mesma forma, os critérios utilizados para a tomada de decisões de investidores atuantes no setor de tecnologias limpas diferenciam-se dos critérios adotados por investidores em setores econômicos que nas duas últimas décadas dominaram a indústria de private equity e venture capital como, por exemplo, o desenvolvimento de softwares, tecnologia de informação relacionada à internet e pesquisas farmacêuticas.

Fatores como incentivos governamentais, legislação climática e capital humano com know-how específico nunca foram tão essenciais para fundos de investimento em venture capital e private equity na análise de planos de negócio de empresas-alvo à procura de recursos para financiar as suas atividades e atingir a competitividade e o crescimento esperados.

Como é amplamente sabido, o Brasil encontra-se em uma posição econômica sólida e estável e, em decorrência disso, atualmente oferece a investidores um ambiente extremamente atrativo para oportunidades em private equity e venture capital. Além disso, políticas energéticas e ambientais adotadas pelo governo brasileiro ao longo das últimas décadas e que impulsionaram a exploração e geração de fontes limpas e renováveis de energia elétrica, alçaram o Brasil a uma posição de destaque no cenário internacional no que se refere a investimentos em energias limpas. Some-se isso ao importante fato do Brasil, além de ser um dos países mais empreededores do mundo, possuir centros e universidades de pesquisa e inovação tecnológica com qualidade comparável aos melhores centros do mundo. Porém, é importante salientar novamente que investimentos em tecnologias limpas, eficiência energética e energias renováveis possuem certas características peculiares e riscos normalmente não encontrados em investimentos mais “tradicionais” de private equity e venture capital.

Particularidades e riscos de investimentos de private equity/venture capital em tecnologias limpas

Fundos de private equity e venture capital “tradicionais” são norteados primordialmente pelo princípio de “inventar o futuro”, ou seja, encontrar uma empresa com uma idéia totalmente inovadora, disponibilizar recursos (tanto financeiros como gerenciais) para que essa idéia (ou produto) alcance o potencial esperado e a empresa cresça e ofereça ganhos expressivos de capital aos investidores. São os casos, por exemplo, do iPhone, Skype, Twitter e Google.

Em contrapartida, o foco principal dos fundos de private equity e venture capital especializados em tecnologias limpas é o de “reinventar o passado”, ou seja, fazer com que uma indústria já consolidada e que vale trilhões de dólares, como é a industria de energia, passe por uma completa reformulação, não apenas tecnológica mas também de atitude. Convenhamos, não é tarefa fácil; e é exatamente aí que aparece a correlação tão direta mencionada acima entre investimentos em energia limpa e a necessidade de incentivos e políticas governamentais e legislação climática. A boa notícia está no fato de que nunca antes houve tamanho esforço e comprometimento por parte das maiores economias do mundo (tanto de países desenvolvidos como emergentes) no sentido de alavancar o mercado de energias renováveis e adotar diretrizes e metas específicas de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa (GHGs, na sigla em inglês). Naturalmente, tem-se notado um número cada vez maior de investidores interessados em ingressar no mercado de tecnologias limpas, seja através do investimento direto em fundos geridos por veículos de private equity, seja através da aquisição de ações da própria empresa de tecnologia limpa uma vez que ela decida abrir seu capital por meio de uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês).

Por exemplo, nos Estados Unidos (particularmente em Silicon Valley, na Califórnia), onde a cultura de capital empreendedor é mais forte e presente do que em qualquer outro país no mundo, via de regra fundos de venture capital e private equity mantinham distância do que acontecia no Congresso americano. Entretanto, com a contínua expansão da indústria de tecnologias limpas nos últimos anos (que atraiu US$ 5 bilhões somente em 2009, a despeito da crise econômica mundial), e a consequente possibilidade de obter excelentes retornos financeiros para os investidores, esse panorama tem se transformado drasticamente. Propostas de leis climáticas, o estabelecimento de Renewable Portfolio Standards (os quais determinam que uma porcentagem da eletricidade comercializada por concessionárias de energia elétrica seja proveniente de fontes alternativas de energia) e a concessão de subsídios governamentais influenciam diretamente no destino - e na rentabilidade - dos portfólios de fundos de investimento em private equity atuantes no setor de tecnologias limpas.

Outra importante distinção entre áreas consideradas mais “tradicionais” de investimentos em private equity/venture capital e investimentos em tecnologia limpa diz respeito ao capital humano necessário para assegurar o crescimento da empresa investida. Sem dúvida, a falta de pessoal preparado representa um dos maiores desafios para fundos de private equity especializados em tecnologias limpas, eficiência energética e energias renováveis. Para se começar uma empresa que desenvolve softwares ou aplicativos de mídia eletrônica, são necessários apenas empregados e servidores. Todavia, empresas de energia limpa exigem mão-de-obra qualificada em áreas como física, geologia, química e biologia.

Junto a esse déficit de qualificação profissional, aparece um dos riscos mais significativos encontrados por fundos de private equity e venture capital especializados em tecnologias limpas: a priori, não se sabe quando e, mais importante, se a tecnologia desenvolvida será viável. Uma vez que a grande maioria das tecnologias realmente inovadoras, a princípio mais atrativas para investidores, ainda se encontram em fases iniciais de desenvolvimento, o investidor em venture capital e private equity deve estar preparado para compartilhar esse importante risco com a empresa investida.

Dessa forma, o que se nota é uma tendência em investir em empresas de energia limpa em estágios mais maduros que desenvolvam tecnologias já comprovadas e viáveis comercialmente. Além disso, uma outra maneira que os gestores de fundos de private equity tem encontrado para minimizar o chamado “risco da tecnologia” é através da formação de alianças com grandes corporações e conglomerados internacionais que auxiliam as empresas investidas a identificar e superar possíveis restrições e gargalos tecnológicos.

Uma outra tendência, mais comportamental, está na preferência de gestores de fundos de private equity e venture capital em investir em setores que possuem uma relação mais próxima com os setores “tradicionais” mencionados acima. Smart grids, principalmente, mas também veículos elétricos, energia solar e iluminação LED são bons exemplos dessa tendência. Devido à falta de expertise específica por parte dos próprios gestores, outros setores igualmente promissores como, por exemplo, geração de energia geotérmica, acabam não recebendo a atenção que talvez merecessem.

É importante destacar como um risco, porquanto relevante a quantidade de recursos que podem ser disponibilizados para o crescimento do mercado de tecnologias limpas, a volatidade do preço do petróleo e de outros combustíveis fósseis. Parece óbvio que quanto menor for o preço dos combustíveis fósseis, menos apetite o setor privado terá em direcionar investimentos para o desenvolvimento, pesquisa e expansão de tecnologias limpas e energias renováveis. Entretanto, a realidade é que combustíveis fósseis são uma fonte de energia finita, o que sem dúvida abre caminho para as fontes alternativas de energia. A principal questão é saber quando essas fontes alternativas se tornarão competitivas no mercado. O setor privado, em particular fundos de private equity e venture capital, pode ter um papel fundamental na aceleração desse processo de crescimento.

O Brasil no cenário internacional

O Brasil é visto internacionalmente como um mercado muito promissor no que se refere a investimentos em energias renováveis e tecnologias limpas. Em virtude do forte apoio político e regulatório ao longo dos anos, estudos publicados recentemente colocam o Brasil como um dos países mais atrativos e com menor risco para investidores, tendo como base de comparação o tamanho da economia e PIB do país. Salienta-se ainda que, especificamente em relação à inovações tecnológicas no setor de energias limpas (que tipicamente caminham lado-a-lado ao volume de investimentos de private equity e venture capital), impulsionado for maciços investimentos em energia eólica e etanol nos últimos anos, o Brasil ocupa uma honrosa segunda colocação (atrás apenas dos Estados Unidos).

É interessante notar, finalmente, que apesar dos Estados Unidos estarem em uma posição de liderança absoluta em investimentos de private equity e venture capital no setor de energias limpas, muitas das inovações tecnológicas desenvolvidas em Silicon Valley acabam sendo utilizadas primeiro em outros mercados como a China, a Europa e o Brasil, o que torna esse tipo de investimento ainda mais fascinante.

Rafael Del Bosco Figueiredo é advogado especializado em energia e direito ambiental, e membro do grupo de mudanças climáticas do escritório de advocacia americano Hunton & Williams LLP (rfigueiredo@hunton.com)

sexta-feira, abril 09, 2010

Está difícil retaliar o algodão americano

Parece que o Brasil ganhou mas não está levando. Até quando isso ficará enrolado? Encontrei esta notícia no UOL que mostra quão enrolado está esta história:

Negociação com Estados Unidos sobre algodão deve ser difícil, diz Amorim
Renata Giraldi - Agência Brasil

As negociações para encerrar o impasse em tordo do algodão com os Estados Unidos e a ameaça de retaliação aos produtos norte-americanos ainda deve ser alvo de uma “negociação difícil”. A análise é do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que conversou na noite desta quinta-feira (8) com o representante do governo dos Estados Unidos Ron Kirk.

Segundo Amorim, é positiva a disposição dos Estados Unidos de negociar de forma efetiva. Mas, segundo assessores, o chanceler considera necessário encontrar uma situação que atenda plenamente os interesses do Brasil.

“Há uma negociação difícil pela frente com prazos estreitos a serem cumpridos. O Brasil está aberto a negociar, mas espera que as medidas a serem tomadas pelo governo norte-americano levem a resultados concretos, inclusive no que diz respeito à política de crédito às exportações dos Estados Unidos”, disse Amorim, de acordo com sua assessoria.

Amorim lembrou ainda que a solução para o caso deve também atender às necessidades dos países africanos. Segundo ele, por isso é importante o cumprimento do item do acordo negociado sobre os créditos. O ministro se referiu à criação de um fundo de US$ 147,3 milhões por ano para financiar projetos do setor de algodão.

No começo da semana, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, disse que o governo dos Estados Unidos percebeu a necessidade de buscar "um ponto de convergência".

"Os Estados Unidos se convenceram que era preciso negociar e buscar um ponto de convergência", afirmou Miguel Jorge. "Sempre dissemos que queríamos negociar, evitamos o encrudescimento e provocações. Todo o tempo nós fomos muito cautelosos e cuidadosos. Deu certo."

No último dia 5, o governo brasileiro anunciou a prorrogação do prazo para a aplicação da medida para o dia 22 de abril de 2010. A expectativa é que o governo norte-americano cumpra com a promessa de criar o fundo para o setor. Com isso, seria encerrado o imbróglio e a ameaça de retaliação por parte do governo brasileiro.

No entanto as propostas anunciadas ontem são consideradas provisórias. A expectativa é que sirvam de base para uma medida final na disputa aberta pelo Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC). Por ordem da organização, o Brasil pode retaliar os Estados Unidos em US$ 591 milhões em exportações de produtos americanos e US$ 238 milhões na área de propriedade intelectual.

terça-feira, abril 06, 2010

Preços dos alimentos despencam nos últimos 30 anos

Na edição de 31 de março do Brasil Econômico foi publicado um especial sobre Seminário Produção de Commodities e Desenvolvimento Econômico organizado pelo Instituto de Economia (IE) da Unicamp realizado em SP no dia 29 de março. Uma das notícias deste caderno comenta a importância da tecnologia na redução dos preços da cesta de alimentos.

Ao ler o texto fiquei muito impressionado e por isso resolvir publicar aqui um breve resumo e a figura publicada que retirei diretamente do jornal, por isso a baixa qualidade.

Nos últimos 30 anos, o preço da cesta de 18 alimentos mais importantes para o Brasil organizados pela FIPE, composta por leite, carne bovina, frango, arroz, feijão, laranja, tomate, cebola, batata, banana, açúcar, alface, café, cenoura, mamão, ovo, óleo de soja e trigo caiu cerca de 5% ao ano. Desta forma ao utilizarmos o preço em dezembro de 1974 como sendo igual a 100, chegamos ao final de 2005 com valor próximo a 20, conforme pode ser visto na figura abaixo:

Isso só contribui para a afirmação que no Brasil a produção de alimentos está totalmente desvinculada com a produção de biocombustíveis, visto que neste período a produção de litros de etanos cresceu de praticamente zero para 16 bilhões de litros no período