O tema energias limpas está em alta ultimamente e achei no CanalEnergia um artigo sobre as energias renováveis e as fontes de investimento de capital de risco. Achei o texto muito interessante e com visão de mercado financeiro:
Private equity e venture capital em energias renováveis e tecnologias limpas - o Brasil no cenário mundial
Os critérios utilizados para a tomada de decisões de investidores atuantes nestes setores diferenciam-se dos adotados pelos de setores econômicos que nas duas últimas décadas dominaram a indústria de fundos
Rafael Figueiredo, 07/04/2010
O rápido crescimento dos mercados de energias renováveis e tecnologias limpas tem alterado significativamente noções e conceitos tradicionais que norteam a mobilização de recursos por parte de fundos de private equity e venture capital. Da mesma forma, os critérios utilizados para a tomada de decisões de investidores atuantes no setor de tecnologias limpas diferenciam-se dos critérios adotados por investidores em setores econômicos que nas duas últimas décadas dominaram a indústria de private equity e venture capital como, por exemplo, o desenvolvimento de softwares, tecnologia de informação relacionada à internet e pesquisas farmacêuticas.
Fatores como incentivos governamentais, legislação climática e capital humano com know-how específico nunca foram tão essenciais para fundos de investimento em venture capital e private equity na análise de planos de negócio de empresas-alvo à procura de recursos para financiar as suas atividades e atingir a competitividade e o crescimento esperados.
Como é amplamente sabido, o Brasil encontra-se em uma posição econômica sólida e estável e, em decorrência disso, atualmente oferece a investidores um ambiente extremamente atrativo para oportunidades em private equity e venture capital. Além disso, políticas energéticas e ambientais adotadas pelo governo brasileiro ao longo das últimas décadas e que impulsionaram a exploração e geração de fontes limpas e renováveis de energia elétrica, alçaram o Brasil a uma posição de destaque no cenário internacional no que se refere a investimentos em energias limpas. Some-se isso ao importante fato do Brasil, além de ser um dos países mais empreededores do mundo, possuir centros e universidades de pesquisa e inovação tecnológica com qualidade comparável aos melhores centros do mundo. Porém, é importante salientar novamente que investimentos em tecnologias limpas, eficiência energética e energias renováveis possuem certas características peculiares e riscos normalmente não encontrados em investimentos mais “tradicionais” de private equity e venture capital.
Particularidades e riscos de investimentos de private equity/venture capital em tecnologias limpas
Fundos de private equity e venture capital “tradicionais” são norteados primordialmente pelo princípio de “inventar o futuro”, ou seja, encontrar uma empresa com uma idéia totalmente inovadora, disponibilizar recursos (tanto financeiros como gerenciais) para que essa idéia (ou produto) alcance o potencial esperado e a empresa cresça e ofereça ganhos expressivos de capital aos investidores. São os casos, por exemplo, do iPhone, Skype, Twitter e Google.
Em contrapartida, o foco principal dos fundos de private equity e venture capital especializados em tecnologias limpas é o de “reinventar o passado”, ou seja, fazer com que uma indústria já consolidada e que vale trilhões de dólares, como é a industria de energia, passe por uma completa reformulação, não apenas tecnológica mas também de atitude. Convenhamos, não é tarefa fácil; e é exatamente aí que aparece a correlação tão direta mencionada acima entre investimentos em energia limpa e a necessidade de incentivos e políticas governamentais e legislação climática. A boa notícia está no fato de que nunca antes houve tamanho esforço e comprometimento por parte das maiores economias do mundo (tanto de países desenvolvidos como emergentes) no sentido de alavancar o mercado de energias renováveis e adotar diretrizes e metas específicas de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa (GHGs, na sigla em inglês). Naturalmente, tem-se notado um número cada vez maior de investidores interessados em ingressar no mercado de tecnologias limpas, seja através do investimento direto em fundos geridos por veículos de private equity, seja através da aquisição de ações da própria empresa de tecnologia limpa uma vez que ela decida abrir seu capital por meio de uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês).
Por exemplo, nos Estados Unidos (particularmente em Silicon Valley, na Califórnia), onde a cultura de capital empreendedor é mais forte e presente do que em qualquer outro país no mundo, via de regra fundos de venture capital e private equity mantinham distância do que acontecia no Congresso americano. Entretanto, com a contínua expansão da indústria de tecnologias limpas nos últimos anos (que atraiu US$ 5 bilhões somente em 2009, a despeito da crise econômica mundial), e a consequente possibilidade de obter excelentes retornos financeiros para os investidores, esse panorama tem se transformado drasticamente. Propostas de leis climáticas, o estabelecimento de Renewable Portfolio Standards (os quais determinam que uma porcentagem da eletricidade comercializada por concessionárias de energia elétrica seja proveniente de fontes alternativas de energia) e a concessão de subsídios governamentais influenciam diretamente no destino - e na rentabilidade - dos portfólios de fundos de investimento em private equity atuantes no setor de tecnologias limpas.
Outra importante distinção entre áreas consideradas mais “tradicionais” de investimentos em private equity/venture capital e investimentos em tecnologia limpa diz respeito ao capital humano necessário para assegurar o crescimento da empresa investida. Sem dúvida, a falta de pessoal preparado representa um dos maiores desafios para fundos de private equity especializados em tecnologias limpas, eficiência energética e energias renováveis. Para se começar uma empresa que desenvolve softwares ou aplicativos de mídia eletrônica, são necessários apenas empregados e servidores. Todavia, empresas de energia limpa exigem mão-de-obra qualificada em áreas como física, geologia, química e biologia.
Junto a esse déficit de qualificação profissional, aparece um dos riscos mais significativos encontrados por fundos de private equity e venture capital especializados em tecnologias limpas: a priori, não se sabe quando e, mais importante, se a tecnologia desenvolvida será viável. Uma vez que a grande maioria das tecnologias realmente inovadoras, a princípio mais atrativas para investidores, ainda se encontram em fases iniciais de desenvolvimento, o investidor em venture capital e private equity deve estar preparado para compartilhar esse importante risco com a empresa investida.
Dessa forma, o que se nota é uma tendência em investir em empresas de energia limpa em estágios mais maduros que desenvolvam tecnologias já comprovadas e viáveis comercialmente. Além disso, uma outra maneira que os gestores de fundos de private equity tem encontrado para minimizar o chamado “risco da tecnologia” é através da formação de alianças com grandes corporações e conglomerados internacionais que auxiliam as empresas investidas a identificar e superar possíveis restrições e gargalos tecnológicos.
Uma outra tendência, mais comportamental, está na preferência de gestores de fundos de private equity e venture capital em investir em setores que possuem uma relação mais próxima com os setores “tradicionais” mencionados acima. Smart grids, principalmente, mas também veículos elétricos, energia solar e iluminação LED são bons exemplos dessa tendência. Devido à falta de expertise específica por parte dos próprios gestores, outros setores igualmente promissores como, por exemplo, geração de energia geotérmica, acabam não recebendo a atenção que talvez merecessem.
É importante destacar como um risco, porquanto relevante a quantidade de recursos que podem ser disponibilizados para o crescimento do mercado de tecnologias limpas, a volatidade do preço do petróleo e de outros combustíveis fósseis. Parece óbvio que quanto menor for o preço dos combustíveis fósseis, menos apetite o setor privado terá em direcionar investimentos para o desenvolvimento, pesquisa e expansão de tecnologias limpas e energias renováveis. Entretanto, a realidade é que combustíveis fósseis são uma fonte de energia finita, o que sem dúvida abre caminho para as fontes alternativas de energia. A principal questão é saber quando essas fontes alternativas se tornarão competitivas no mercado. O setor privado, em particular fundos de private equity e venture capital, pode ter um papel fundamental na aceleração desse processo de crescimento.
O Brasil no cenário internacional
O Brasil é visto internacionalmente como um mercado muito promissor no que se refere a investimentos em energias renováveis e tecnologias limpas. Em virtude do forte apoio político e regulatório ao longo dos anos, estudos publicados recentemente colocam o Brasil como um dos países mais atrativos e com menor risco para investidores, tendo como base de comparação o tamanho da economia e PIB do país. Salienta-se ainda que, especificamente em relação à inovações tecnológicas no setor de energias limpas (que tipicamente caminham lado-a-lado ao volume de investimentos de private equity e venture capital), impulsionado for maciços investimentos em energia eólica e etanol nos últimos anos, o Brasil ocupa uma honrosa segunda colocação (atrás apenas dos Estados Unidos).
É interessante notar, finalmente, que apesar dos Estados Unidos estarem em uma posição de liderança absoluta em investimentos de private equity e venture capital no setor de energias limpas, muitas das inovações tecnológicas desenvolvidas em Silicon Valley acabam sendo utilizadas primeiro em outros mercados como a China, a Europa e o Brasil, o que torna esse tipo de investimento ainda mais fascinante.
Rafael Del Bosco Figueiredo é advogado especializado em energia e direito ambiental, e membro do grupo de mudanças climáticas do escritório de advocacia americano Hunton & Williams LLP (rfigueiredo@hunton.com)
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