domingo, janeiro 31, 2010

2010 será o ano das fusões e aquisições no setor sucroenergético?

Parece que 2010, assim como o ano passado, será um ano movimentado no setor sucroenergético com relação às fusões e aquisições. As três notícias abaixo sinalizam nesta direção.

A primeira, retirado do Portal Exame, comenta que em 2010 os setores com maior chance de movimentações de fusões e aquisições são, além do sucroenergético, os setores de infraestrutura, varejo e bancário. A segunda notícia, também do Portal Exame, fala da conclusão da fusão entre ETH e Brenco que criará um dos gigantes do setor e finalizando, segue post do Blog Mundo Agro que comenta sobre a venda da Fosfértil para a Vale, venda que disponibilizará cerca de US$ 3,8 bilhões aos cofres da Bunge, que segundo o texto, será utilizado na compra de usinas de açúcar e álcool.

Só nos restar esperar e analisar o setor novamente em dezembro.

Fusões e aquisições vão aquecer 2010
Varejo, infraestrutura, bancos e açúcar e álcool devem passar por ano de consolidação
Por Marcio Juliboni e Thiago Bronzatto

Já virou folclore dizer que, antes do Carnaval, os únicos que trabalham duro no Brasil são os próprios carnavalescos. Mas, longe dos galpões das escolas de samba, outro bloco começou 2010 em um ritmo tão ou mais frenético - o das fusões e aquisições. Em suas alas, desfilam executivos de empresas de todos os portes, investidores, fundos de private equity, consultores e advogados. Se o início do ano passado foi atravessado pelo descompasso da crise econômica, que retraiu os investimentos e fez com que as aquisições sumissem da avenida por seis meses, as primeiras semanas de janeiro mostram uma nova nota de otimismo. A compra da Quattor pela Braskem, criando a oitava maior petroquímica do mundo, e a aquisição do braço mexicano do banco ibi pelo Bradesco - ambas antecipadas pelo Portal EXAME - são apenas dois exemplos de que o mercado promete muito samba neste ano. "O apetite dos investidores por novos negócios impressiona neste começo de ano", afirma Darcy Teixeira Júnior, sócio da Tozzini Freire, escritório que participou de duas operações de peso recentemente - a fusão da Casas Bahia ao Ponto Frio, e a venda da Quattor para a Braskem.

Segundo a consultoria PricewaterhouseCoopers, a previsão para 2010 é de que 700 fusões e aquisições sejam realizadas no Brasil. Se isso for confirmado, o país ficará pouco atrás de 2007, quando bateu o recorde de operações, com 721. "Desde o início de janeiro estamos tocando uma média de 25 transações", afirma Alexandre Pierantoni, sócio da Price. É verdade que o ano passado não foi, propriamente, uma tragédia. Ao todo, foram fechados 630 negócios no país – pouco abaixo dos 643 de 2008. Entre eles, estão movimentos expressivos como a fusão da Sadia com a Perdigão, que criou a Brasil Foods, e a consolidação do setor de varejo, liderada pelo Pão de Açúcar que, em seis meses, comprou o Ponto Frio e o uniu com a Casas Bahia.

"Quase todas as negociações que estavam suspensas por causa da crise foram retomadas, e outras foram iniciadas", afirma Alexandre Bertoldi, sócio-diretor do Pinheiro Neto, cujo escritório está envolvido em 15 operações no momento. "O número de negócios em curso é totalmente atípico para janeiro", completa. A corrida para fusões e aquisições é sustentada pela resistência que o país demonstrou durante a crise mundial nos últimos 18 meses - o que lhe rendeu elogios públicos. Na edição de dezembro passado da revista EXAME, o presidente do JP Morgan, Jamie Dimon, afirmou que o Brasil não é mais um mercado emergente. "Já emergiu", enfatizou Dimon um mês depois de a revista inglesa The Economist estampar na capa a imagem do Cristo Redentor decolando como um ônibus espacial.

Private equities

Os fundos de private equity - especializados em comprar participações em empresas - devem protagonizar várias transações neste ano. Além dos tradicionais investidores americanos e europeus, novos personagens como indianos e chineses estão chegando por aqui. A consultoria Ernst & Young espera participar de cerca de 140 transações neste ano, 20% mais do que em 2009. "Desse total, cerca de 30% dos negócios devem ser gerados por private equity", estima Carlos Asciutti, sócio da Ernest & Young, que já trabalha com 18 operações desde janeiro. Ele estima que o patrimônio desses fundos seja de 10 bilhões de dólares - e parte do dinheiro ainda está disponível para novas aquisições.

Os maiores fundos também estão se movimentando. O americano Carlyle, gestora de 85 bilhões de dólares de ativos no mundo, tem direcionado o seu radar para o Brasil. Seu lance mais recente foi a compra de 63,6% das ações da CVC Turismo, anunciada no começo deste mês. A expectativa é que a empresa dobre de tamanho até 2015. A compra da CVC reflete a confiança do fundo na expansão da classe média - e deve fomentar negócios também em outras áreas. O Carlyle pretende investir cerca de um bilhão de dólares em cerca de dez negócios na América Latina. "Os setores de varejo e de alimentos são muito interessantes", diz Fernando Borges, representante do fundo na América do Sul.

Outro grupo que vai movimentar o mercado são as empresas de capital aberto. "O ano começou com muitas operações envolvendo o mercado de capitais", afirma Marcelo Cosac, sócio da Felsberg, Pedretti, Mannrich e Aidar Advogados. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) analisa, neste momento, sete pedidos de emissão de ações - três aberturas de capital e quatro captações de empresas já listadas. Ao todo, essas ofertas podem atingir seis bilhões de reais. Parte desse dinheiro deve ser usado pelas companhias para comprar rivais e liderar processos de consolidação. Além disso, a bolsa de valores em alta também facilita fusões e aquisições baseadas em troca de ações. "É um mecanismo pouco usado no Brasil, mas muito recorrente no mundo", afirma Reinaldo Grasson, sócio da consultoria Deloitte.

Internacionalização

As empresas brasileiras não devem se restringir a comprar apenas rivais que atuam por aqui. Com o câmbio estável e a volta da liquidez ao mercado financeiro, os especialistas acreditam que o processo de internacionalização continuará forte. Para os próximos dois anos, uma das apostas mais frequentes é de que os bancos brasileiros iniciem a sua expansão mundial, já que o setor viveu uma intensa consolidação interna nos últimos anos. Um exemplo seria o banco Bradesco que adquiriu em janeiro deste ano todo o serviço financeiro do banco Ibi no México. "Há uma tendência no setor financeiro de crescer em outros países antes que seja engolido por concorrentes que têm os mesmos objetivos", afirma Ricardo Veirano, sócio do escritório Veirano Advogados.

Mas setores tradicionais também devem continuar buscando oportunidades lá fora. Prevendo uma disputa ferrenha na exploração das reservas do pré-sal e a corrida pela conquista do mercado global de petróleo, a companhia petroquímica Braskem tem procurado se tornar uma gigante em seu setor. Depois de incorporar a Quattor, com a ajuda da Petobras, a oitava maior produtora de resinas do mundo está com fôlego para fazer alianças estratégicas para se tornar líder na América - hoje ela está atrás apenas da americana Dow Chemical, com quem tem mantido conversas sobre uma provável fusão. "Crescer internacionalmente está na agenda do Brasil. A médio prazo, será uma ação importante para a economia do país. Mas no mercado doméstico ainda há muitos espaços de expansão", diz Barbara Rosenberg, Barbosa Mussnich & Aragão.

Mercado interno

No mercado interno, o candidato disparado à consolidação é o setor de açúcar e álcool, que conta com cerca de 50 usinas à venda. Pouquíssimos grupos nacionais do setor teriam condições de fechar muitos negócios, já que a maioria acumula dívidas exorbitantes, decorrentes da crise mundial que acabou com o crédito. Por isso, os especialistas afirmam que o setor viverá um intenso desembarque de estrangeiros. "Há diversos investidores no exterior interessados em aportar capital nesse ramo que cresce de 10% a 15% ao ano", afirma o advogado alemão Christian Roschmann, sócio do escritório Lefosse. Além das gigantes do setor - ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus -, grupos estrangeiros estão consultando assessores locais em busca de negócios, já que o Brasil será beneficiado neste ano por preços elevados da cana em função da menor produção na Índia, na China e no Paquistão.

A intensa consolidação de alguns setores no ano passado ainda deve repercutir em 2010. Os concorrentes não devem assistir impassíveis à fusão do Ponto Frio. com a Casas Bahia, liderada pelo Pão de Açúcar no ano passado. Os especialistas acreditam que os principais concorrentes, como Walmart, Carrefour e Magazine Luiza, tentarão adquirir redes menores para não perderem mais participação de mercado. O que põem pilha nessa disputa são a expansão de renda, a queda na taxa de desemprego e a disponibilidade do crédito que alçam novos consumidores à classe média. "Ao contrário do que todo mundo pensa, o comércio varejista ainda é muito pulverizado, principalmente nas áreas têxtil e supermercados", avalia Nazir Takieddine, sócio do escritório Trench, Rossi e Watanabe.

Na opinião de especialistas, o que pode fazer a diferença nesse setor é o comércio eletrônico aliado ao crédito para pessoa física. Com a inclusão digital e a popularização das vendas on line - cujo crescimento é de 30% ao ano -, a plataforma virtual deverá imantar novos consumidores nos próximos anos. Mas, para atender essa demanda, as empresas deverão estar prontas para parcelar seus produtos no cartão. "Neste ano, haverá uma expansão do crédito de aproximadamente 15%", calcula Veniltom Tadini, diretor-sócio da área de investimento bancário do banco Fator. Redes como a B2W (fusão entre Americanas e Submarino) e a Extra.com perderão participação por conta da entrada - ou do fortalecimento - de novos concorrentes. "Esse quadro estimulará novas operações no mercado", acrescenta Tadini.

Infraestrutura

O aquecimento da economia brasileira deixará o setor de infraestrutura borbulhando nos próximos anos. Os dois maiores eventos esportivos do mundo vão mexer com a economia do país. Tanto para a Copa do Mundo, em 2014, como para as Olimpíadas de 2016, será destinada uma quantia de dinheiro extraordinária para os setores de construção civil, energia elétrica, siderurgia e mineração. Nesse pacote de investimento bilionário, novos estádios serão construídos, reformas em aeroportos serão feitas, terminais de ônibus ganharão mais frotas de veículos, unidades hoteleiras vão pipocar em volta das principais capitais do país e nas rodovias será proclamada uma caça aos buracos - pelo menos nos acessos aos grandes centros urbanos. "Independente de quem será o nosso próximo presidente, esse segmento continuará recebendo investimentos. Com essa estabilidade, investidores vão buscar consolidações", afirma Marcos Flesch, do escritório Souza, Cescon, Barrieu & Flesch.

No ramos de minério e energia, ambos muito consolidados, há quem aposte num movimento novo nas próximas transações. As empresas prestadoras de serviços auxiliares terão as suas atividades fundidas, ou completamente incorporadas, para facilitar, por exemplo, o escoamento de importação e exportação no segmento de siderurgia. "As unidades terceirizadas ainda são muito fragmentadas no Brasil. Por isso, elas têm um alto potencial de crescimento e de consolidação", defende Carlos Motta, sócio do escritório Machado Meyer, Sendaz e Opice.

Há, é claro, outras carteiras de recomendações como as áreas de saúde, educação, cosméticos, logística e indústria farmacêutica. "Fomos até buscar na Europa um advogado brasileiro para atuar no segmento de bio direito, já que o setor necessita de um profissional especializado para atender à demanda", conta Alberto Murray Neto, do escritório Paulo Roberto Murray. Porém, alguns especialistas são cautelosos quanto à euforia do momento sugestivo para fusões e aquisições. “Será um ano melhor do que o anterior, mas não chegará ao ponto de ser atípico. Ainda há muitas incertezas no cenário mundial", alerta Moacir Zilbovicius, sócio do escritório Mattos Filho Veiga Filho Marrey Jr. e Quiroga Advogados.

É sempre bom lembrar que estamos no Brasil, onde o ambiente de negócios melhorou depois da crise financeira mundial, mas ainda não é uma maravilha. "A incerteza na legislação de alguns setores ainda preocupa os estrangeiros", afirma a advogada Daniela Tavares, do Leite, Tosto, Barros e Associados. De certa forma, o que tranquiliza consultores, advogados, banqueiros de investimento e analistas é a frase cômica do milionário Warren Buffet: "Eu seria um mendigo na rua com um copo de lata se os mercados fossem sempre eficientes".

ETH Bioenergia conclui fusão com Brenco
Transação, que deve ser anunciada na semana que vem, criará a maior produtora de etanol do mundo
Thiago Bronzatto, de EXAME.com

SÃO PAULO - Agora, é para valer. As empresas sucroalcooleiras ETH Bioenergia, do grupo Odebrecht, e a Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco) devem anunciar a fusão na próxima semana. O negócio, que envolve troca de ações, criará a maior produtora de etanol do mundo, com valor estimado em cinco bilhões de reais. Segundo apurou o Portal EXAME, a Odebrechet será dona de 65% da união dos ativos e da operação.

Essa transação permitirá que as duas empresas juntas produzam anualmente cerca de três bilhões de litros de etanol e 2.500 gigawatts-hora (GWh) de energia elétrica a partir da biomassa. Segundo fontes ligadas à operação, esse negócio veio num momento oportuno, quando a Brenco precisava sanar o déficit em seu caixa resultante da crise de crédito no setor. Além disso, o objetivo dessa fusão é preparar a empresa líder em bioenergia para um IPO (oferta pública de ações, na sigla em inglês) entre este ano e o próximo.

O conselho administrativo dessa nova empresa terá dez assentos, dentre os quais sete serão ocupados pelo Grupo Odebrechet e três pertencerão à Brenco. Na fatia menor do bolo, os representantes serão designados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), pelo fundo de investimento americano Ashmore e pelo indiano Vinod Khosla. O atual presidente da Brenco, Henri Phillipe Reichstul, sairá da gestão do negócio.

A Brenco foi criada em 2007 com a intenção de se tornar líder global. Para bancar o negócio ambicioso, o executivo Henri Phillipe Reichstul, ex-presidente da Petrobras durante o governo Fernando Henrique Cardoso, assumiu a gestão da empresa. Na sua retaguarda, estavam sócios de peso como o indiano Vinod Khosla (da Sun Microsystems), o ex-presidente do Banco Mundial James Wolfensohn, o americana Ashmore, o fundo Tarpon e o BNDESPar (subsidiário do BNDES).

No entanto, a chegada da crise financeira mundial frustrou os objetivos de Reichstul de construir até 2015 cerca de dez usinas de etanol com capacidade de gerar energia a partir do bagaço da cana. Alguns empréstimos foram feitos na tentativa de retomar o fôlego inicial do projeto de expansão da Brenco. Mas o dinheiro que entrou no caixa não foi suficiente para evitar a incorporação da empresa. Desde outubro do ano passado, foi instalada a auditoria da fusão para analisar a melhor forma de efetuá-la. A expectativa é de que, até sexta-feira da semana que vem, a fusão seja anunciada.

Vale nos fertilizantes
Por Fabiane Stefano

A Vale comunicou hoje ao mercado a compra dos ativos da Bunge na área de fertilizantes - que detinha 42% das ações da Fosfértil, líder no mercado de fertilizantes no Brasil. O negócio de 3,8 bilhões de dólares traz de volta uma das maiores empresas do país para a produção de insumos essenciais para o campo. Em 2003, a Vale vendeu 11,3% da Fosfértil para a Bunge, uma das maiores na comercialização de grãos no Brasil. O desfecho também põe fim a uma das mais duras batalhas entre acionistas do país: Bunge versus Cargill. As duas empresas eram acionistas da Fosfértill e disputavam poder palmo a palmo dentro da empresa. Na briga, a Bunge se saiu melhor. Ela destituiu conselheiros da Cargill e colocou executivos de sua confiança em postos estratégicos na companhia. Também uniu suas operações em fertilizantes as da Fosfértil, à revelia de outros acionistas minoritários. Nesse sentido, a chegada da Vale põe fim à falta de consenso dentro da empresa - e cria uma nova perspectiva para a maior fabricante de fertilizantes do país. Ninguém sabe ainda qual será a postura da Vale no agronegócio - e provavelmente a empresa será tão agressiva como ela é em outros mercados. Mas esse é um capítulo que a mineradora ainda vai escrever.

Agora, fica a pergunta: o que a Bunge vai fazer com 3,8 bilhões de dólares em caixa? Será que finalmente a empresa vai estrear no setor sucroalcooleiro em grande estilo como tanto deseja? Façam suas apostas.

McDonald's e a flatulência bovina

Parece que o McDonald's está preocupado com os gases bovinos... A notícia abaixo, retirada do Portal Exame mostra como a rede de lanchonetes está agindo no Reino Unido no sentido de reduzir a emissão de gases de efeito estufa causado pelos bovinos:

Mc Donald's analisa flatulência de gado
Uma das maiores rede de fast-food do mundo, Mc Donald´s inicia projeto para calcular e reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa em fazendas bovinas do Reino Unido
Paula Rothman, de INFO Online

Há algum tempo a criação de animais vem sendo apontada como uma das grandes vilãs do aquecimento global.

Para saber qual é a extensão do problema o braço britânico da rede está conduzindo uma pesquisa em fazenda pelo país. Estima-se que, atualmente, um único cheesburguer seja responsável pela produção de mais de três quilos de CO2.

Ao todo, serão 350 fazendas no Reino Unido e Irlanda inspecionadas nos próximos quatro meses. Os técnicos aplicarão um método desenvolvido pela consultoria independente Eco2 e certificado pelo The Carbon Trust para checar os números expelidos pelos animais.

Além de medir as emissões de gases causadores do efeito estufa, a ideia é auxiliar os fazendeiros a reduzir esses valores.

A rede McDonald's é uma das maiores compradoras de carne da Europa e, no continente, conta com mais de 6.600 restaurantes em 39 países. Somente na Inglaterra e norte de Grã Bretanha são 1200 lojas e dois milhões de consumidores por dia.

sábado, janeiro 30, 2010

Ações do agronegócio foram bom negócio na bolsa

Segundo pesquisa realizada a pedido da Agência Estado, as ações de empresa do agronegócio só tiveram desempenho pior do que o setor de construção. O setor registrou ganho médio de 165% no ano passado. Abaixo segue notícia do Portal do Agronegócio:

Agroindústrias valorizam 165% em 2009
As ações das empresas do setor de agronegócio registraram uma valorização média de 165,25% no ano de 2009, de acordo com levantamento realizado pela Economática a pedido da Agência Estado


No cálculo, foram consideradas as ações de empresas listadas na Bovespa, que participam de toda cadeia do agribusiness, do fabricante de insumos e fertilizantes até bebidas e alimentos. O ganho médio do setor só foi menor do que o registrado por construção, que subiu 221,36%, e eletroeletrônico, que registrou alta de 188,19%.

Entre as empresas de agronegócio incluídas no levantamento da Economática, a maior variação foi a do frigorífico Minerva, com valorização de 246,77% no período, seguida pela Laep, do setor de laticínios, com 206,67%, e fertilizantes Heringer, com 200%. As ações de Açúcar Guarani, Marfrig e Brasil Ecodiesel também registraram ganhos expressivos de, respectivamente, 173%, 161% e 150,5%.

Para Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria, as ações das empresas estão refletindo o atual cenário interno. "O Brasil possui os menores custos de produção de commodities do mundo, é tradicionalmente forte em exportação de produtos como açúcar, soja e café. As empresas possuem escala e competitividade e o mercado interno é crescente", afirma. Ela lembra que o Brasil se consolidou como principal produtor de carnes do mundo, graças a empresas como JBS Friboi, cujas ações subiram 89,3% em 2009, e Brasil Foods, com alta de 53,34% em seus papéis. Amaryllis lembra que o movimento de aquisições também contribuiu para a elevação das cotações. "Vale notar que muitas destas empresas mudaram de tamanho, o que muda seu valor", disse.

De maneira geral, as empresas de capital aberto do setor de alimentos foram beneficiadas por uma combinação de fatores conjunturais, principalmente pelo ganho de renda do consumidor doméstico. "Se a crise reduziu a demanda externa e as exportações, o mercado consumidor brasileiro voltou a se aquecer com o aumento de renda e isso se refletiu no consumo de alimentos, principalmente carne", afirma Amaryllis. Segundo ela, o aumento de demanda interna foi suficiente para manter a competitividade dessas empresas mesmo com o câmbio desfavorável.

O analista Rafael Cintra, da Link Investimentos observa que o câmbio foi essencial para que muitas companhias fizessem aquisições e ampliassem seus ativos. "Essas empresas já estavam capitalizadas e aproveitaram a queda do dólar para crescer, até com aquisições no exterior", disse ele. Cintra ressalta que o bom desempenho das empresas do agribusiness em Bolsa sinaliza que o otimismo continuará em 2010, uma vez que o valor das ações reflete uma expectativa futura do desempenho das empresas.

Cintra espera que em 2010 as exportações também voltem a crescer diante de uma recuperação gradual do mercado internacional. "Além da recuperação do mercado externo, as empresas de alimentos também deverão se beneficiar de custos menores diante da expectativa de preços mais baixos de commodities em função de safras maiores. As margens ficarão melhores", disse Cintra.

Para o sócio diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, ao analisar as ações de empresas em 2009 deve-se levar em conta que elas estavam bastante desvalorizadas em função da crise, o que torna qualquer crescimento expressivo. Silveira concorda, contudo, que estas empresas devem se beneficiar com a continuidade da expansão da demanda interna por alimentos, principalmente em 2010 e 2011.

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Grandes mineradoras e dólar fraco fazem Bunge desistir de fertilizantes

A gigante Bunge está desistindo da operação de fertilizantes no Brasil e vendendo-a para a Vale. A presença das grandes mineradoras como Vale e BHP, atrelada ao dólar fraco foram as principais motivações para isso. As notícias abaixo que encontrei no Brasil Econômico, Agência Estado e Canal Rural falam sobre o tema:

Para Bunge, fertilizante virou negócio para gigantes
Por Inaê Riveras/Reuters


O avanço de grandes mineradoras globais como a BHP Billiton e a brasileira Vale no setor de fertilizantes nos últimos anos deixou a Bunge, grande processadora de produtos agrícolas, ansiosa.

Executivos da empresa, que tem sede na cidade de White Plains, Estado de Nova York (EUA), chegaram à conclusão, então, que era o momento para mudanças em suas operações na área.

"Claro que gostamos muito de nossas operações em mineração, fizemos isso por mais de 70 anos, mas nos dois últimos anos mineradoras que fizeram muito dinheiro com ferro decidiram se expandir para o setor de fertilizantes", afirmou o presidente-executivo da Bunge, o brasileiro Alberto Weisser.

"Começamos a ficar preocupados. O jogo estava mudando e ele vai se tornar totalmente global, com companhias com fluxos de caixa diferentes do nosso", disse Weisser à Reuters poucas horas depois do anúncio da venda dos ativos de mineração e produção de fertilizantes da empresa no Brasil para a Vale por US$ 3,8 bilhões.

Então, quando a Vale fez uma oferta "muito atrativa", a decisão de vender não foi tão difícil, contou Weisser, acrescentando que o dinheiro advindo do negócio será aplicado nos setores de atividade central da empresa, como agroindústria, ingredientes alimentícios e também açúcar e álcool, área em que a empresa tem investido com força no Brasil.

O país ainda é muito importante para a empresa devido ao potencial agrícola. A Bunge é o maior operador em oleaginosas no Brasil e agora pretende usar sua base local para se tornar um líder global em açúcar.

Mas a forte apreciação do real contra o dólar, de 34% em 2009, elevou custos de produção e motivou mudanças.

A empresa nomeou no início desse ano o ex-ministro Pedro Parente como novo presidente-executivo da operação brasileira e contratou outros executivos no mercado para posições chave.

"Vamos deixar isso claro. O Brasil não é mais um país barato para operar. Temos que ser cuidadosos e manter as operações com custos baixos", disse o presidente da companhia, explicando a criação do cargo de Parente (anteriormente as unidades da Bunge no Brasil operavam praticamente de forma independente).

"Nós precisávamos de mais sinergias e eu não estava conseguindo fazer isso daqui (de White Plains)".

A elevação dos custos de produção também levou a empresa a reorganizar sua estrutura de armazenagem em áreas importantes como o Estado do Mato Grosso.

A companhia manteve a capacidade de estocagem inalterada em 5 milhões de toneladas, mas reduziu o número de silos que opera, já que elevou a velocidade de movimentação.

Weisser negou que o resultado fraco nas vendas de fertilizantes em 2009 no Brasil tenha sido a razão principal para a venda dos ativos para a Vale.

As vendas de adubos no ano passado recuaram para níveis vistos em 2004, apesar do aumento na produção agrícola, com agricultores reduzindo o uso do insumo para cortar despesas em meio ao aperto no crédito.

A Bunge adquiriu matérias-primas para seus fertilizantes a preços elevados em 2008, e quando os negócios no varejo caíram em 2009 ela acumulou perdas.

Weisser afirmou, no entanto, que os níveis de lucro na atividade deverão subir novamente em 2010.

Câmbio desmotivou Bunge a seguir com fertilizantes
Eduardo Magossi


O fortalecimento do real ante o dólar tornou o negócio de prospecção de fertilizantes menos atrativo, o que levou à venda dos ativos da Bunge neste nicho, de acordo com o presidente mundial da companhia, Alberto Weisser, em teleconferência com analistas. Segundo ele, a taxa de câmbio fez com que os custos aumentassem de forma significativa. Além disso, as atividades de prospecção operam em sua capacidade total e qualquer crescimento viria apenas de novos investimentos em minas.

Weisser considera que, diante do novo cenário mundial, em que cada vez mais empresas de grande porte estão se voltando para a mineração, inclusive algumas gigantes governamentais, as expectativas de lucratividade deste setor diminuíram. "Ficamos menos confortáveis em investir neste setor com todos esses novos riscos", disse. Segundo ele, a oferta feita pela Vale também atingiu o "pico das avaliações" realizadas.

O executivo afirmou que a venda dos ativos em minas e da participação na Fosfertil irá permitir que a Bunge concentre seu foco no setor de alimentos. Segundo ele, duas grandes apostas são o setor de açúcar e óleo de palma. No Brasil, o executivo disse que o setor de açúcar é muito mais lucrativo que os outros setores. "O preço do açúcar é formado pelo Brasil, o que faz com que o impacto de qualquer variação cambial seja menos relevante que no setor de fertilizantes, por exemplo", disse ele.

Segundo ele, os ativos levantados pela venda para a Vale, de US$ 3,8 bilhões, não serão utilizados para retomar a compra da Corn Products International (CPO), negócio que foi planejado pela Bunge, mas abandonado no final de 2008. "Os ativos serão direcionados para a área de alimentos e de agribusiness", disse.

Varejo

A Bunge manterá seu negócio de varejo em fertilizantes no Brasil mesmo com a venda de seus ativos relacionados à produção, incluindo nutrientes e a participação da empresa na Fosfertil Fertilizantes Fosfatados, pelo valor de US$ 3,8 bilhões. A Bunge informou, em nota, que firmará um acordo de suprimento com a Vale até 2012, com opção de prorrogação por mais um ano. A Bunge também manterá suas operações de fertilizantes na Argentina e nos Estados Unidos, e sua participação de 50% na joint venture com a Office Cherifien des Phosphates (OCP), no Marrocos.

Sob os termos do acordo, a Vale adquirirá a participação de 42,3% que a Bunge detém na Fosfertil, bem como as minas de fosfato integralmente pertencentes à Bunge e suas instalações produtivas no Brasil. A capacidade anual de produção de rocha fosfática e sua participação na Fosfertil correspondem a aproximadamente 3 milhões de toneladas.

Segundo Weisser, "é um momento oportuno para deixarmos a produção de fertilizantes no Brasil. Para manter o crescimento, teríamos que fazer investimentos de capital significativos. Com as incertezas relacionadas aos preços internacionais e ao câmbio local, acreditamos que será melhor investir em outras oportunidades. Além disso, grandes mineradoras globais estão ingressando no setor e diversificando seus portfólios de mineração. Ficamos felizes que este negócio passe para a Vale, que compartilha com a Bunge o compromisso de longo prazo com o Brasil".

Vale compra participação da Bunge na Fosfertil
Transação não envolve negócios de varejo nem distribuição de fertilizantes

A Vale adquiriu a participação da Bunge Participações e Investimentos (BPI) na Fosfertil, em negócio realizado nesta quarta, dia 26. O acordo inclui os negócios de mineração de fertilizantes da Bunge no Brasil, inclusive a participação direta e indireta da Bunge na Fosfertil. A Vale informou ainda que realizará oferta pública para aquisição de ações ordinárias detidas pelos demais acionistas da Fosfertil.

A Vale concordou em pagar US$ 3,8 bilhões, em dinheiro, para adquirir 100% dos ativos da BPI, que detém portfólio de ativos de fertilizantes no Brasil composto por minas de rocha fosfática e plantas de processamento de fosfatados, além de participação direta e indireta de 42,3% no capital total da Fosfertil correspondendo a 53,8% das ações ordinárias e 36,4% das ações preferenciais. A transação não envolve negócios de varejo nem distribuição de fertilizantes.

Na transação, serão pagos US$ 1,65 bilhão pelos ativos de rocha fosfática e fosfatados da BPI. O valor restante, de US$ 2,15 bilhões, refere-se às ações detidas direta e indiretamente pela BPI na Fosfertil.

Segundo fato relevante divulgado pela Vale, após a aprovação do negócio pelos órgãos governamentais competentes e a conclusão da transação, a empresa lançará uma oferta pública obrigatória para comprar as ações ordinárias detidas pelos acionistas minoritários da Fosfertil.

Fertifos

A Vale informou ainda que celebrou, através de sua subsidiária Mineração Naque, contratos de opção de compra e venda de ações de emissão da Fertifos Administração e Participações (Fertifos). Esses contratos de opção fazem parte do processo de aquisição de 100% do capital da Bunge BPI.

A Fertifos é uma empresa de capital fechado que detém 56,73% do capital da Fosfertil. Os contratos de opção foram celebrados com Fertilizantes Heringer e Fertilizantes do Paraná (Fertipar). Segundo a Vale, eles estão sujeitos a determinadas condições, entre as quais a efetiva aquisição do negócio de fertilizantes do grupo Bunge no Brasil. Esses contratos concedem à subsidiária da Vale o direito de adquirir até 1,46% das ações de emissão da Fertifos. O preço de exercício do contrato de opção com a Fertipar é de US$ 39.553.130,99, enquanto o preço do exercício do contrato com a Heringer é de US$ 2.390.396,79, totalizando US$ 41.943.527,78. (Agência Estado)

domingo, janeiro 24, 2010

Negociação de futuros agropecuários despencam na BM&F

Psrece que 2009 deve ser um ano a ser esquecido para a BM&F porque, conforme notícia da Reuters publicada no Notícias Agrícolas em 13 de janeiro, o volume de contratos caiu quase 40%, sendo que para milho e açúcar a queda foi maior de 90%.

A queda ocorreu devido à crise financeira que reduziu os recursos para hedge e investimentos. Abaixo segue a notícia na íntegra:

Negociação de contratos agropecuários na BM&F cai 37,6% em 2009

As negociações de futuros agropecuários em 2009 na BM&FBovespa registraram queda de 37,6 % em relação a 2008, para 1,93 milhão de contratos, informou a instituição nesta terça-feira.

Entre as reduções mais expressivas, destacam-se as negociações dos contratos de milho e açúcar cristal, com reduções de 93,5% e 96,8%, respectivamente.

Mas as negociações de contratos de boi gordo (-48,8% ante 2008), soja (-40,9%) e café arábica (-13,7%) também ficaram aquém dos volumes do ano anterior.

A bolsa não comenta as movimentações de mercado.

O ano passado foi um período de menores oscilações nos preços ante 2008, o que pode explicar a menor movimentação. Além disso, houve ainda a crise de crédito, reduzindo os recursos disponíveis para as operações de hedge e investimentos.

O volume negociado de contratos agropecuários em 2009 também caiu em relação a 2007, mas em menor intensidade (-8,9%).

De acordo com a BM&F, foram negociados em 2009 102,5 mil opções de commodities agropecuárias, retração de 30,5% ante 2008.

Apenas as negociações de contratos de milho com liquidação financeira cresceram para 259,6 mil no ano passado, ante 7.767 contratos no período anterior, mas esse derivativo foi criado durante 2008.

O contrato de milho com liquidação financeira superou a soja como o terceiro derivativo agropecuário com mais negociações.

O boi gordo e o café arábica, pela ordem, seguem dominando as negociações na BMFBovespa.

As negociações das commodities agropecuárias na bolsa movimentaram 46,8 bilhões de reais em 2009, contra 80,1 bilhões de reais em 2008 e 46,3 bilhões em 2007. (Reuters)

Homem processava grãos há 100 mil anos

Notícia da FAPESP que encontrei disponível no Canal Rural fala sobre a possível utilização de grãos há 100 mil anos atrás. Abaixo segue a notícia na íntegra que também pode ser acessada aqui:

Estudo conclui que homem já processava alimentos há 100 mil anos
Descoberta registra a mais antiga utilização extensiva de cereais na dieta de que se tem notícia

Há mais de 100 mil anos o homem já processava grãos e consumia cereais. A conclusão é de um estudo publicado na edição desta sexta, dia 18, na revista Science, de autoria de um pesquisador canadense.

Julio Mercader, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Calgary, descobriu resíduos de sorgo em ferramentas feitas de pedra em uma caverna em Moçambique. O achado indica a utilização de grãos em um momento em que se achava que os humanos baseavam a agricultura em itens mais facilmente cultiváveis, como frutas.
Trata-se da mais antiga utilização extensiva de cereais na dieta de que se tem notícia.

Dezenas de ferramentas de pedra foram encontradas em uma caverna profunda e apontam que o sorgo selvagem, antecessor do principal grão consumido atualmente na África subsaariana em farinhas, pães e bebidas alcoólicas, fazia parte da dispensa dos primeiros Homo sapiens. O estudo apresenta a primeira evidência direta do uso de cereais pré-domesticados no mundo.

– Os resultados expandem a linha do tempo para o uso de sementes de gramíneas pela nossa espécie e são prova de uma dieta ampla e sofisticada em um momento muito anterior ao que se estimava. Isso ocorreu durante o Paleolítico Médio, em um momento no qual a coleta de grãos selvagens era vista convencionalmente como uma atividade irrelevante e não tão importante como a coleta de raízes ou frutos – disse Mercader.

Em 2007, o pesquisador canadense e colegas da Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, escavaram uma caverna sedimentária próxima ao lago Niassa, que foi usada por indivíduos que coletavam alimentos durante mais de 60 mil anos.

No fundo da caverna os cientistas descobriram as ferramentas feitas de pedra, ao lado de ossos de animais e de resíduos de vegetais, indicando práticas dietéticas pré-históricas. Em seguida, descobriram dezenas de milhares de grãos de amido, indicando que o sorgo selvagem era trazido e processado sistematicamente no local.

– Há hipóteses de que o uso de amido representa um passo fundamental na evolução humana ao melhorar a qualidade da dieta nas savanas e matas africanas, onde as primeiras linhagens humanas evoluíram. Essa nossa descoberta pode ser considerada um dos primeiros exemplos dessa transformação na dieta humana – disse Mercader.

sábado, janeiro 23, 2010

Mercado do etanol - compreendendo melhor

A situação atual do mercado do etanol está um pouco diferente das situações encontradas em anos anteriores. Isto ocorre devido à vários fatores. Com a intenção de difundir o melhor conhecimento sobre isso, resolvi postar o artigo do presidente da UNICA, Marcos Jank publicado ontem no Estado de São Paulo, este artigo foi encontrado no site da UNICA:

Etanol: Entendendo o mercado e os preços

A principal característica das commodities são as suas incontroláveis flutuações de preços. Salvo no caso do petróleo e derivados, que no Brasil são um monopólio com preços fixados pelo governo, todas as demais commodities vivem permanente volatilidade de preços.

Este é o caso do álcool combustível, o etanol, cujos preços flutuam livremente ao sabor das variações de oferta e demanda. É verdade que, no passado, o governo já controlou os preços do açúcar, do etanol e de várias outras commodities. Há, porém, amplo consenso de que a desregulamentação nos anos 1990 levou a ganhos de eficiência e forte redução de custos de produção, beneficiando toda a sociedade.

Acompanhando o rápido crescimento dos veículos flex desde 2003, que hoje já atinge quase 40% da frota total, o etanol superou a gasolina na preferência dos consumidores e tornou-se um notável exemplo para o mundo de substituição de petróleo e de combate ao aquecimento global. Nos três últimos anos, graças à expansão da oferta e aos baixos preços, somados ao reconhecido valor ambiental do produto, o consumo de etanol cresceu fantásticos 78%, ante apenas 3% da gasolina.

Acontece que no final da atual safra alguns fatores produziram uma alta do preço do produto, confirmando a regra da volatilidade. O primeiro fator, muito comentado, porém de baixo poder explicativo, é a alta do preço do açúcar no mercado mundial, causada por quebras de safra nos principais países produtores, dentre eles Brasil e Índia. De fato, as usinas têm alguma flexibilidade para optar pela produção de açúcar ou etanol, porém a "migração" é limitada pela inexistência de fábricas de açúcar na maior parte das novas unidades e pela falta de capacidade ociosa nas mais antigas.

O principal fator que explica a alta recente do etanol tem sido pouco comentado: a crise financeira global, que atingiu duramente o setor. No primeiro semestre de 2009, a falta de liquidez no mercado de crédito forçou boa parte das empresas a desovarem grandes volumes de etanol a preços fortemente deprimidos, abaixo dos custos de produção, para poderem se capitalizar. Isso fez o consumo explodir - quase 30% de aumento em relação ao mesmo período em 2008. Em seguida, as chuvas excessivas do segundo semestre fizeram as usinas ficar o dobro de dias paradas em relação ao usual, comprometendo a produção prevista e os estoques para a entressafra.

Pode-se dizer que o etanol constitui hoje um exemplo de funcionamento correto das forças de mercado, gerando ajustes de preços. O principal pilar de sustentação do sistema é justamente o carro flex, que permite ao consumidor a escolha do combustível em função de seus preços relativos e vantagens técnicas e ambientais. Nenhum país no mundo oferece essa possibilidade de escolha de forma tão ampla e benéfica para o consumidor. E, ao escolher, o consumidor força os ajustes de mercado. Portanto, a experiência brasileira é um sucesso tecnológico nacional, da competitividade da cana-de-açúcar à eficiência dos motores flex, que conta com um sistema de formação de preços livres que traz benefícios econômicos, sociais, ambientais e de saúde pública.

E pelo menos dois fatores de melhoria estão em andamento. O primeiro é a retomada do crédito para a formação de estoques reguladores (warrantagem), que não funcionou no ano passado por problemas nos balanços das empresas depois da crise de endividamento e falta de liquidez. O segundo foi a recente aprovação, pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), da entrada de novos agentes e a criação de empresas de comercialização no etanol, até então lamentavelmente proibidas pelas regras vigentes no mercado de combustíveis. A volatilidade de preços vai continuar a existir, até porque, ao contrário do petróleo, a produção de cana depende dos humores do clima. Ela pode, porém, diminuir com a presença dos novos agentes e mecanismos de financiamento, estocagem e comercialização.

Outra variável importante é o comércio exterior. O governo e a indústria estão engajados numa verdadeira cruzada para consolidar o etanol como uma commodity global, que poderá trazer investimentos, empregos, divisas e ganhos para o planeta na questão do clima. O problema é que o mercado de etanol é fortemente protegido no mundo. Os Estados Unidos já estão reconhecendo as vantagens do etanol de cana em relação a outras matérias-primas e a tarifa que incide sobre o produto importado está em debate no Congresso americano e poderá cair até o final deste ano.

Se queremos que o etanol se consolide como uma alternativa energética global, é fundamental que as proteções tarifárias e não-tarifárias sejam derrubadas, inclusive no Brasil, que mantém uma elevada tarifa de importação de 20%, altamente criticada no exterior. Alguns grupos americanos afirmam corretamente que é incoerente o Brasil pedir maior abertura comercial e, ao mesmo tempo, proteger o seu próprio mercado com uma alta tarifa de importação. O pleito do livre-comércio não funciona em mão única. Se somos os mais competitivos do mundo, por que não dar o bom exemplo que nos credencia a pleitear a abertura do mercado norte-americano, de longe o principal mercado consumidor da atualidade?

Em suma, nossos 35 anos de história do etanol tiveram grandes solavancos: da intervenção para o mercado livre, o desenvolvimento do carro a álcool, a volta do carro a gasolina, a inovação dos veículos flex. Hoje as motocicletas, as usinas de bioeletricidade e os bioplásticos. No futuro, os ônibus, os caminhões, os aviões, os hidrocarbonetos de cana e a alcoolquímica. Apesar dos solavancos, este ano causados pela crise financeira e pelo clima, é fundamental continuarmos aprimorando o funcionamento dos mercados e estimulando a mudança tecnológica, a competitividade e a sustentabilidade

Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, edição de 22 de janeiro de 2010.

Marcos Sawaya Jank é presidente da UNICA - União da Indústria de Cana-de-Açúcar

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Termoelétrica a etanol da Petrobras

A Petrobras inaugurou nesta semana, em Juiz de Fora, uma usina termoelétrica acionada por etanol e gás natural. Este fato é muito interessante ao setor, pois possibilita um novo mercado para o combustível.

Abaixo, seguem algumas notícias que encontrei em vários sites, e também a nota oficial da Petrobras sobre o assunto, incluindo algumas figuras explicativas.

A primeira notícia é do BrasilAgro, a segunda da UNICA, a terceira da Petrobras, a quarta do Portal do Agronegócio e a última também do BrasilAgro

Brasil ganha hoje primeira termoelétrica flex a etanol

Novas aplicações para o etanol estão criando nichos de mercado para o biocombustível e abrindo janelas de oportunidade para exportação. Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugura na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, a conversão da primeira usina termoelétrica do mundo a usar etanol como combustível.

A planta, que faz parte do parque gerador da Petrobras, operava apenas com gás natural e agora é flex-fuel e tem contratos de fornecimento de energia até 2020.

Segundo a Petrobras, com essa iniciativa, o Brasil reafirma sua posição de destaque na produção e utilização do etanol. Além disso, a companhia dá mais um passo na busca por fontes alternativas de geração de energia e no esforço para flexibilizar seu parque gerador, que tem capacidade instalada de 7.028 MW.

O projeto também teria sido motivado por negociações da estatal com o Japão, que poderá adotar o modelo e utilizar o etanol brasileiro. A diretoria da companhia já chegou afirmar que o uso do etanol em termoelétricas no Japão poderá dobrar a estimativa de exportação do produto pela Petrobras.

Inédita no mundo, a operação com etanol, iniciada no último dia 31 de dezembro, encontra-se em testes para otimização, mas já se mostra capaz de reduzir até 30% a emissão de óxidos de nitrogênio (NOx), comparando com as emissões do gás natural.

A usina tem duas turbinas fabricadas pela General Electric (GE) e capacidade total instalada de 87 MW. Um desses equipamentos, com capacidade para gerar 43,5 MW por hora, foi adaptado para utilizar também o etanol, para os quais irá consumir 24 mil litros por hora, volume suficiente para movimentar mais de 100 mil veículos flex diariamente.

Zilmar José de Souza, assessor de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), destaca que, apesar de ainda estar em fase de teste, a usina da Petrobras mostra a capacidade do setor de criar novos usos e nichos e apresentar uma fronteira tecnológica diversificada. "Economicamente a termoelétrica flexível deve abrir novos nichos de mercado de exportação de etanol", disse o assessor da Unica. "Também deve criar uma janela interessante na questão ambiental já que o mundo é altamente demandante de modelos capazes de reduzir emissões", complementa Souza, que acompanha hoje a inauguração da fábrica. Ele conta que já há visitas programadas para janeiro e fevereiro entre os associados da Unica para conhecer a termelétrica.

Para Souza, caso haja estímulo, as indústrias brasileiras estariam preparadas para responder à nova demanda, que atenderia não somente um modelo de negócio mercado exportador, mas poderia impulsionar a substituição de matrizes poluentes no mercado doméstico.

Apesar de, economicamente, o gás natural ainda ser mais vantajoso - financeiramente, o etanol é viável em relação ao óleo combustível - a redução das emissões gera a possibilidade de negociação de créditos de carbono no mercado internacional por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). De acordo com a Petrobras, em 150 horas de geração de energia elétrica com etanol, entre os dias 31 de dezembro e 13 de janeiro, verificou-se redução de 30% na emissão de NOx, comparando com as emissões do gás natural.

A produção de energia a partir de etanol em escala comercial foi possibilitada pela conversão de equipamentos derivados de turbinas de avião fabricadas pela General Electric (GE) que, por meio de um acordo com a Petrobras, acompanha os testes e terá o direito de utilizar os dados obtidos para aperfeiçoamento e comercialização da tecnologia para outras usinas no mundo.

Segundo John Inghan, diretor de Produtos da GE Energy, tem muita gente interessada em usar mais combustíveis renováveis, mas sempre houve preocupação se realmente iria funcionar. "Agora, que está sendo mostrado que é perfeitamente viável o uso do etanol, isso deve ser cada vez mais procurado e há espaço para comercialização no mundo inteiro", avalia Inghan. Segundo o executivo da GE, a tecnologia inédita faz parte de um programa da empresa para substituir combustíveis e demorou um ano para ser desenvolvido e entregue à Petrobras.

TENDÊNCIA

No último mês de novembro a Scania e Vale Soluções em Energia (VSE) firmaram uma parceria no desenvolvimento de projetos para o uso de etanol em motores pesados. Com o projeto o biocombustível passará a abastecer motores usados para gerar eletricidade e mover bombas e compressores em maquinários utilizados pelas indústrias de mineração e agricultura.

Novas aplicações para o etanol estão criando nichos de mercado para o biocombustível e abrindo janelas de oportunidade para exportação. Hoje, o presidente Lula inaugura na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, a conversão da primeira usina termoelétrica do mundo a usar etanol como combustível. A planta, que faz parte do parque gerador da Petrobras, operava só com gás natural e agora é flex-fuel e tem contratos de fornecimento de energia até 2020.

Segundo a Petrobras, com essa iniciativa, o Brasil reafirma sua posição de destaque na produção e uso do etanol. Além disso, a companhia dá mais um passo na busca por fontes alternativas de geração de energia e no esforço para flexibilizar seu parque gerador, que tem capacidade instalada de 7.028 MW.

O projeto também teria sido motivado por negociações da estatal com o Japão, que poderá adotar o modelo e utilizar o etanol brasileiro.

Inédita no mundo, a operação com etanol, iniciada no último dia 31 de dezembro, encontra-se em testes para otimização, mas já se mostra capaz de reduzir até 30% a emissão de óxidos de nitrogênio comparado com emissões do gás natural.

A usina tem duas turbinas da General Electric e capacidade instalada de 87 MW. Um desses equipamentos, com capacidade para gerar 43,5 MW por hora, foi adaptado para utilizar o etanol, para os quais irá consumir 24 mil litros por hora - volume suficiente para movimentar mais de 100 mil veículos flex diariamente (DCI, 19/1/10)

Primeira térmica “flex” do mundo reforça papel estratégico do etanol na matriz de energia mundial, diz UNICA

Inaugurada na terça-feira (19/01), a primeira usina termelétrica que vai operar com etanol e gás natural na geração de energia mostra o dinamismo do ciclo de vida do etanol e poderá abrir segmentos importantes de mercado, principalmente para as exportações do biocombustível. A afirmação é do Assessor de Bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Zilmar de Souza, que esteve presente à inauguração da usina.

“Enquanto a matriz energética do Brasil é formada por mais de 45% de fontes renováveis, a mundial apresenta pouco mais de 10% em sua composição. O planeta tem uma demanda latente para soluções sustentáveis como essa, que envolve a troca de um combustível fóssil por um renovável de qualidade”, adicionou Souza.

Apesar da recente inauguração, a Usina Termelétrica (UTE) Juiz de Fora - MG, da Petrobras, já está em operação de testes na queima do etanol desde o dia 31 de dezembro de 2009.

De acordo com informações divulgadas pela Petrobras, a UTE tem duas turbinas aeroderivadas GE LM 6000, fabricadas pela General Electric (GE), com capacidade instalada individual de 43,5 MW, totalizando 87 MW. Em uma dessas turbinas foi feita a conversão, com troca da câmara de combustão, de bicos injetores e a instalação de equipamentos periféricos, o que permitiu o recebimento, armazenamento e a movimentação do etanol para a turbina. Os testes da queima do etanol para geração de energia elétrica observarão o nível de emissões e a viabilidade econômica frente aos outros combustíveis.

Alfred Szwarc, Consultor de Emissões e Tecnologia da UNICA, lembra ainda que, dado o nível de emissões, haverá possibilidade da comercialização de créditos de carbono melhorando a competitividade econômica do modelo de negócio. “Ao reduzir as emissões, isto facilitará a entrada dessas turbinas no mercado internacional, por apresentar um modelo de negócio sustentável”, conclui Szwarc

1ª térmica do mundo a operar com etanol

A usina termelétrica Juiz de Fora, que faz parte do parque gerador da Petrobras, agora é flex-fuel (bicombustível). Além de operar com gás natural, a usina passa a ser a primeira do mundo a gerar energia com o etanol.

Com essa iniciativa, o Brasil reafirma sua posição de destaque na produção e uso do etanol e a Petrobras dá mais um passo na busca por fontes alternativas de geração de energia e no esforço para flexibilizar seu parque gerador, que tem capacidade instalada de 7.028 MW. São 14 termelétricas a gás natural (5.820 MW), 12 a óleo (892 MW) e 15 pequenas centrais hidrelétricas – PCHs – (316 MW). Agora, conta também com uma usina capaz de gerar energia elétrica a partir do etanol.

Cerca de 90% dos materiais e equipamentos para a infraestrutura de recebimento, armazenagem e transferência do etanol para a turbina são nacionais. Em relação aos equipamentos adquiridos para conversão da turbina, o percentual é de 5%. Países importadores de combustíveis líquidos e gasosos, como o Japão, são mercados potenciais para esse uso.
Confira como funciona a usina bicombustível:




Uso de etanol para gerar energia elétrica reduz emissões poluentes na atmosfera
O uso do etanol na geração de energia elétrica, cujo processo de conversão foi inaugurado nesta terça-feira (19) pela Petrobras na usina termelétrica de Juiz de Fora vai reduzir as emissões de gases na atmosfera

Essa foi uma das principais conclusões constatada durante o período de teste da unidade, que vem sendo realizado desde a manhã do último dia 31 de dezembro.

Segundo a Petrobras, a queima do etanol para geração de energia elétrica teve início às 10h25 do dia 31 de dezembro e os testes avaliam o desempenho da turbina consumindo etanol, a vida útil dos equipamentos e os níveis de emissões atmosféricas, como o óxido de nitrogênio, bem como a competitividade econômica desse novo combustível frente às demais fontes de geração termelétrica.

Na avaliação da estatal, nos primeiros dias de testes, o resultado tem se mostrado bastante satisfatório. Em 150 horas de geração de energia elétrica com etanol, entre os dias 31 de dezembro e 13 de janeiro, verificou-se redução de 30% na emissão de óxido de nitrogênio, comparando com as emissões do gás natural.

O Centro de Tecnologias do Gás Natural e Energias Renováveis (CTGAS-ER), parceria entre Petrobras e SENAI, montou uma estação de monitoramento na UTE Juiz de Fora para realizar a medição em tempo real das emissões de óxidos de nitrogênios, de óxidos de carbono e de óxidos de enxofre.

Ainda na avaliação da Petrobras, a geração de energia elétrica a partir do etanol abre, além de grandes oportunidades para o país com ganhos econômicos e energéticos, também ambientais.

"Além da segurança energética resultante da diversificação das fontes de geração, há ainda a criação de um novo segmento de mercado para o etanol no Brasil e no exterior, a redução dos níveis de emissões atmosféricas e a possibilidade de negociação de créditos de carbono no mercado internacional, por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), garante a estatal.

"Essa é mais uma iniciativa da Petrobras para diversificar as fontes de suprimento para geração de energia elétrica e estimular a produção de combustíveis renováveis, dando maior flexibilidade ao sistema elétrico brasileiro", sustenta ainda a empresa. (Fonte: Agência Brasil)

GE quer levar térmica a etanol para outros países

Os testes da primeira usina termelétrica a etanol do mundo, feitos pela Petrobras e pela General Eletric, mostraram que a mudança de combustível não reduziu a potência das turbinas da unidade e as emissões de dióxido de carbono ficaram abaixo das registradas pelo gás natural, além de ter havido um uso bem menor de água.

Funcionando há mais de 170 horas sem problemas e com meta de atingir mil horas de testes em operação comercial, a térmica da Petrobras em Juiz de Fora (MG), antes a gás natural, e com capacidade instalada de 87 megawatts, poderá servir de modelo para clientes das duas empresas pelo mundo.

Na terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugura a conversão da termelétrica em Juiz de Fora.

"A intenção é fazer o teste de mil horas e ter isso muito bem documentado, e a partir daí fazer esse projeto e replicar isso em outros lugares do mundo", explicou à Reuters o diretor de produtos da GE para a América Latina, John Ingham.

"Em termos de resultado, os primeiros que a gente viu são bastante positivos. A máquina não perde potência e as emissões ficaram dentro do valor que a gente esperava, mas queremos operar bastante tempo para ver se não tem nenhum tipo de deterioração da máquina, o que a gente não espera", explicou o executivo.

A térmica da Petrobras usa turbinas da GE derivadas das utilizadas no Boeing 747, que consumiam combustíveis líquidos antes de serem convertidas para gás natural. "Na verdade a turbina está voltando à sua origem de combustível líquido", disse Ingham.

Os candidatos potenciais para o novo produto, que poderá estimular também o crescimento da produção de etanol no país, são lugares com difícil acesso ao gás natural ou que tenham muita produção, como o Brasil. Em Macaé, no Estado do Rio de Janeiro, uma térmica da Petrobras de 900 megawatts possui 20 turbinas da GE que poderiam ser convertidas, disse o diretor.

CUSTO ALTO

Ingham observou no entanto que o custo do álcool ainda é mais alto do que o gás natural e o consumo da unidade é elevado. São 18 mil litros por uma hora de funcionamento.

"Uma máquina dessa consome muito etanol e tem que ter um local que faça sentido. Alguns lugares que não têm acesso ao gás como Japão, algumas ilhas, alguns lugares que dependem de importação, a própria região amazônica, que utiliza térmicas a diesel", elencou.

"O etanol ainda é caro em relação ao gás natural, por isso a gente não vê como sendo o novo principal biocombustível, mas uma alternativa", complementou.

Segundo Ingham, a GE tem 770 turbinas iguais às utilizadas na térmica de Juiz de Fora espalhadas pelo mundo, que poderiam ser convertidas ao etanol, muitas delas no Japão.

A Petrobras iniciou há alguns anos estudos para o uso do etanol em térmicas, visando o mercado japonês, e vem buscando oportunidades no Brasil para aumentar a produção de etanol. A primeira iniciativa de produzir o biocombustível veio com a compra de 40 por cento do capital da Total Agroindústria Canavieira, em dezembro do ano passado, depois de uma tentativa frustrada em Goiás.

O executivo confia também na necessidade que muitos países terão de reduzir a emissão de carbono e na possibilidade que se abre para mais um combustível alternativo, aumentando a segurança da geração elétrica. "É mais viável quando se compara com combustíveis fósseis, por exemplo", argumentou.

Apesar de ser interligada ao Sistema Elétrico Nacional, a primeira térmica a etanol do mundo a entrar em operação comercial teria capacidade para abastecer quase toda a cidade de Juiz de Fora, que assim se tornaria a primeira a ter energia "flex fuel" do mundo, observou o executivo (Reuters, 18/1/10)

domingo, janeiro 17, 2010

Geografia da produção leiteira no Brasil

A Embrapa Gado de Leite de Juiz de Fora publicou em 2006 a Circular Técnica CT-88 - Distribuição geográfica da pecuária leiteira no Brasil de autoria de Rosangela Zoccal, Airdem Gonçalves de Assis e Sílvio Roberto de Medeiros Evangelista, onde eles analisam a distribuição da pecuária leiteira ao longo do país.

Por se tratar de uma material muito interessante, e além disso, sempre me interessei por aspectos geoeconômicos da produção do agronegócio, fiz um breve resumo do trabalho colocando as principais informações das tabelas e figuras. O trabalho na íntegra encontra-se disponível para download clicando aqui:

Toda a análise foi baseada em dados contidos na Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE de 2004, sendo os municípios agrupados em microrregiões em função do volume de produção considerando-se o conceito de densidade.

As microrregiões foram divididas em quatro quartis representando cada um 25% da produção total, de acordo com a sua densidade. Considerou-se somente o primeiro quartil e as microrregiões concentradas em mesorregiões.

No trabalho foram consideradas as seguintes variáveis: tamanho do rebanho bovino, número de vacas ordenhadas (rebanho leiteiro), produção de leite e produtividade das vacas.

Tamanho do rebanho

Analisando-se os dados da Tabelas 1 e 2 e Figura 1, podemos verificar que o primeiro quartil é composto por 53 microrregiões com densidade maior de 78 cabeças por km2 e que a mesorregião de maior importância é a região B1 formada pelo oeste paulista, norte e noroeste paranaense, triângulo mineiro, leste e centro sulmatogrossense e sul goiano. Esta área representa 14% do total do rebanho, mais de 28 milhões de cabeças.



Vacas ordenhadas

Com relação ao rebanho leiteiro, observamos nas tabelas 3 e 4 e Figura 2 que o primeiro quartil é composto por 56 microrregiões com densidade maior de 12 cabeças por km2, reparem na densidade anterior, 78 cabeças, sendo que a mesorregião V1, região de maior importância é a região formada pelo centro e sul goiano, representando cerca de 4,5% do total do rebanho, 900 mil cabeças. Quando comparado ao rebanho total, podemos verificar que existe uma menor concentração da atividade leiteira. Além disso, das 204 milhões de cabeças do rebanho total, apenas 20 milhões são ordenhadas (10% do total).



Produção de leite

A produção total anual de leite no Brasil é de 23,5 bilhões de litros, sendo que 39 microrregiões representam o primeiro quartil desta produção (Tabela 5). Observando a tabela6 e a figura 3 podemos notar que a região de maior importância L1 é composta pelo oeste catarinense, sudoeste e oeste paranaense e grande parte do Rio Grande do Sul, representando cerca de 13% do total (3 bilhões de litros).




Produtividade

Complementando análise, a tabela 7 mostra a produtividade em litros por vaca por ano. O primeiro quartil é composto por apenas 4 microrregiões com produtividade superior à 3.000 l/vaca/ano. As microrregiões são: Ponta Grossa (3564) e Toledo (3047) no Paraná, Limeira (3218) em São Paulo e Não-me-toque (3218) no Rio Grande do Sul. Os números entre parênteses representam a produtividade por vaca. Em virtude desta grande concentração, a análise considerou as 41 microrregiões do segundo quartil com produtividade entre 2.000 e 3.000 litros/vaca/ano, além das 4 microrregiões citadas no primeiro quartil. Na tabela 8 efigura 4 encontram-se as 11 mesorregiões de maior produtividade.







quinta-feira, janeiro 14, 2010

Outra ferrugem agita e preocupa o agronegócio brasileiro

Após a ferrugem asiática, praga que afetou os campos de soja, parece que agora a ferrugem alaranjada, praga que infestou canaviais pelo mundo e têm causado grandes quedas de produtividade, está aparecendo por aqui.

Com o objetivo de ajudar na divulgação, coloquei três notícias sobre o tema que encontrei no BrasilAgro e também segue aqui o link do vídeo apresentado no Globo Rural. Após as três notícias achei uma nota da Embrapa Soja no Portal do Agronegócio sobre a situação atual da ferrugem asiática na soja para mostrar o tamanho do prejuízo:

Ferrugem alaranjada da cana: Secretaria de Agricultura apresenta relatório

O grupo técnico da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo que cuida da ferrugem alaranjada da cana se reuniu nesta quarta-feira (13 de janeiro) para avaliar e apresentar as ações realizadas na coleta de dados e análise de resultados, em Ribeirão Preto. Estiveram presentes pesquisadores do Centro Cana do Instituto Agronômico (IAC), do Instituto Biológico (IB) e técnicos da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA).

Na primeira semana de dezembro, técnicos do setor privado apontaram a suspeita de ocorrência da ferrugem alaranjada da cana-de-açúcar em canaviais próximos a Ribeirão Preto. A informação foi levada à Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que acionou a CDA.

Segundo relatos do pesquisador da Secretaria, Marcos Landell, as inspeções realizadas pelas equipes permitem inferir que, no universo de variedades cultivadas em São Paulo, pequeno percentual tem apresentado susceptibilidade a nova doença até o momento, o que faz prever um impacto econômico de relativa importância.

No último mês, esse grupo de técnicos ligados à Comissão Técnica da Cana do Estado de São Paulo, da Secretaria, vem realizando uma série de ações para mapear a abrangência da praga e a intensidade que ela se dá nas diversas regiões de São Paulo. Para tanto, previamente, identificou-se três variedades comerciais com susceptibilidade à ferrugem alaranjada, causada pelo fungo Puccinia kuenii. O levantamento concentra-se nestas, com o objetivo de determinar a dispersão da praga.

Além da região de Araraquara, identificou-se o fungo em Ribeirão Preto e Jaboticabal. A CDA tem levantado outras regiões como Araçatuba, Orlândia, Jaú, Bauru, Andradina, Catanduva, São José do Rio Preto, Barretos e Lins, no entanto, não foi identificado o fungo nas amostras encaminhadas ao IB.

“O levantamento é importante para apontar a ocorrência da doença e em quais variedades. Isso subsidiará a nossa área de pesquisa na procura das variedades mais resistentes”, afirma o coordenador da CDA, Cláudio Alvarenga de Melo.

SOBRE A DOENÇA

A ferrugem alaranjada existe na Ásia e Austrália desde o século 19. Em 2007, foi encontrada em canaviais dos Estados Unidos e, depois, em vários outros países da América Central. Provavelmente tenha sido nessa região que se originou a praga, trazida por correntes de ventos.

Quanto às medidas fitossanitárias, ela se restringem ao uso de variedades resistentes, o que é mais eficiente e barato, além de o Brasil ter essa tecnologia de forma abundante, pois nos últimos dez anos os programas brasileiros liberaram aproximadamente 80 novas cultivares.

Segundo Landell, a situação do Brasil é diferente da Austrália, por exemplo, que em 2000, quando a ferrugem alaranjada se manifestou de maneira danosa, tinha 86% da área de Queensland (sua principal área produtiva) ocupada com uma única variedade, a qual se mostrou extremamente susceptível à doença.

No ano posterior, houve uma queda de aproximadamente 40% de produtividade naquela região. “Não acreditamos que isso ocorra no Brasil, pois temos importantes e ativos programas de melhoramento de cana-de-açúcar”, afirma ele.

PRODUÇÃO

São Paulo é o maior produtor de cana, açúcar e álcool do País: responde por quase 60% da produção brasileira, com cerca de cinco milhões de hectares cultivados. Na última safra, produziu em torno de 400 milhões de toneladas. A cana é o primeiro item na pauta de exportações do agronegócio paulista, contabilizando mais de US$ 5 bilhões em divisas para o Estado (Assessoria de Comunicação, 13/1/10)

Praga ameaça plantações de cana-de-açúcar no Brasil

Ferrugem alaranjada é um fungo que atinge as folhas da planta.
Doença já foi achada em regiões produtoras de São Paulo.


Uma nova praga ameaça os canaviais de São Paulo. A ferrugem alaranjada, um fungo que ataca as folhas da cana-de-açúcar, já foi encontrado nas regiões de Araraquara, Ribeirão Preto e Piracicaba, importantes produtoras de cana.

A doença provoca o apodrecimento do tecido da planta e reduz a produção de açúcar. A ferrugem alaranjada existe na Ásia e na Austrália desde o século 19. Em 2007, foi encontrada em canaviais dos Estados Unidos e depois em países da América Central.

A principal hipótese dos pesquisadores é que o fungo tenha chegado ao Brasil vindo desses países e chegado a São Paulo por correntes de vento. Eles também acreditam que a doença já tenha chegado a outros estados brasileiros.

Não há como barrar a disseminação da doença e nem erradicá-la. Uma plantação contaminada apresenta em média uma queda de 20% na produção de cana. Especialistas estimam uma perda de R$ 300 milhões por ano no país.

O fungo prefere ambientes com calor e umidade. No Brasil, não há autorização para o uso de fungicidas nas lavouras de cana. A melhor alternativa no momento é plantar variedades mais resistentes à doença.

"Como é uma novidade, uma doença exótica que acaba de chegar, nós vamos ter várias surpresas até conhecer a reação de todo esse plantel varietal que a gente tem no país", diz Enrico Arrigoni, pesquisador do Centro de Tecnologia Canavieira.

Os produtores estão preocupados. "A doença já está instalada. Isso significa alguns anos de prejuízo para os produtores", diz a engenheira agrônoma Arminda Sacchi.

O Ministério da Agricultura diz que estuda a liberação emergencial do uso de fungicidas na cana-de-açúcar e diz que já notificou todos os estados produtores sobre a doença (G1, 13/1/10)

Ministério da Agricultura mapeia áreas de cana em SP para controlar ferrugem alaranjada

O Ministério da Agricultura está mapeando as regiões de produção de cana-de-açúcar de São Paulo para controlar a ferrugem alaranjada, uma praga que compromete os níveis de sacarose das plantas. Os focos da doença foram encontrados nos canaviais da região central do Estado. O trabalho do governo agora é para evitar a disseminação da doença também em outras regiões do país.

O primeiro foco da ferrugem alaranjada foi descoberto em um canavial que pertence a uma usina na região central do Estado, uma das principais regiões de produção de cana do país. A suspeita do foco surgiu em dezembro, mas a confirmação só saiu esta semana depois de análises da Embrapa.

Outros dois focos foram confirmados nos canaviais também na região central do Estado. A descoberta destes casos, porém, não deve comprometer a produção de cana-de-açúcar no Brasil. Até porque 70% das variedades usadas pelo setor sucroalcooleiro são resistentes a esta praga. Ainda assim, o Ministério da Agricultura já montou uma estratégia de controle da doença também em outras regiões do país.

"Vai sair uma instrução do Ministério, já possivelmente no início da semana, para o que iremos fazer aqui nesta propriedade e em outras em que aparecerem a praga" diz o diretor técnico do Ministério da Agricultura em São Paulo, José Tadeu de Faria.

O fungo que causa a ferrugem da cana foi detectado pela primeira vez na Austrália, em 1990. Em 2007, chegou aos EUA e América Central, e só agora foi encontrado aqui no Brasil. Mas mesmo antes da descoberta, o Ministério já estudava a possibilidade de ocorrência da doença nos canaviais brasileiros.

"Essas variedades brasileiras desenvolvidas aqui estão sendo testadas lá na Austrália, inclusive EUA e América Central pra ver se as variedades são suscetíveis à doença. Então nós temos a informação que tem uma gama de variedades que lá fora, testadas se comportaram como resistentes à doença" disse Faria.

O canavial onde foi encontrado o foco é de uma área experimental da usina. Como as plantas atingidas estão entre outras não suscetíveis, elas não serão erradicadas.

"Não podemos criar um alarme aí porque acho que precisa ver como a doença vai se comportar nas condições de clima do Brasil, principalmente no Estado de São Paulo, e fazer todo este trabalho de manejo usando a legislação mais o manejo da costura, inclusive da praga pra minimizar estes impactos na indústria canavieira do Estado e do Brasil" finalizou o diretor técnico do Ministério da Agricultura em SP (Canal Rural, 8/1/10)

Relatos de ferrugem da soja nesta safra estão acima das médias anteriores
Até o momento, o Consórcio Antiferrugem contabilizou 676 focos de ferrugem asiática da soja em lavouras comerciais, sendo 242 registros nos primeiros dez dias deste ano


O número total de relatos mantém-se acima do registrado nas safras anteriores para o mesmo período. “Isso se deve principalmente à antecipação da ocorrência da doença em lavouras comerciais. Em dezembro, já se registrava o dobro do número de focos comparado à safra 2006/07 (safra referência de condições de epidemia)”, explica a pesquisadora Cláudia Godoy da Embrapa Soja.

A partir de janeiro, o Consórcio Antiferrugem passa a fazer prognóstico de risco semanalmente, por intermédio de mapas de risco climático para cada grande região. “Isso facilita a indicação para áreas onde deve ser intensificado o monitoramento ou a prevenção da doença”, alerta a pesquisadora. As informações estão disponíveis no Informativo de Risco do Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net). A publicação visa sumarizar as informações sobre o monitoramento da ferrugem e apresentar análises de risco com base em conhecimento especialista, análises climáticas e modelos de previsão de risco da ferrugem asiática. É elaborada pelo Laboratório de Epidemiologia da UFRGS com a colaboração dos demais membros do Consórcio.

De acordo com o Consórcio Antiferrugem, as tendências climáticas para o trimestre (janeiro a março) indicam chuvas acima do normal para as regiões Centro e Sul do País, enquanto que abaixo do normal para o Nordeste. “Essa situação indica maior risco de ferrugem de maneira geral na safra para as duas primeiras regiões”, diz Godoy. A maioria dos relatos de ferrugem asiática da soja, em área comercial, está concentrada na região Centro-Oeste, destacando-se GO (318), MS (145) e MT (65). O Paraná registra 124 relatos, o Rio Grande do Sul 10, Santa Catarina (1), São Paulo (6) e Minas Gerais (7). Bahia e Tocantins continuam sem registro oficial de ferrugem.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Será o fim do café no Brasil?

Em artigo publicado na Folha de São Paulo de hoje, Marcelo Vieira e Luiz Suplicy Hafers comentam sobre a situação atual da cafeicultura brasileira. Será que a solução para isso é a produção de café gourmet com maior valor agregado?.

O artigo, que segue na íntegra abaixo, foi encontrado no Notícias Agrícolas:

Café, o fim de um ciclo
por Marcelo Vieira e Luiz Suplicy Hafers


Um grupo de cafeicultores e pessoas interessadas em nossa produção de café vem discutindo na Sociedade Rural Brasileira o tema "Caminhos para o café". As discussões formais e informais nos levaram a conclusões surpreendentes.

Estamos assistindo ao fim de um ciclo, durante o qual um único produto foi o principal em nossa pauta de exportações e financiou parte importante da industrialização do país. Em décadas recentes, o café foi perdendo sua importância relativa, graças à progressiva diversificação de nossa economia e à perda de competitividade do produtor brasileiro de café.

O Brasil ainda é o maior produtor de café, o maior exportador, mas, mesmo numa fase de preços internacionais relativamente favoráveis, nosso produtor não tem obtido retorno adequado. Somos os produtores mais eficientes, temos uma estrutura de comercialização muito competitiva e com baixos custos e temos o segundo maior mercado consumidor.

Mas, ao mesmo tempo, o progressivo desenvolvimento de nossa economia leva ao encarecimento da mão de obra. O principal impacto na cafeicultura dessa mudança altamente benéfica para o país é a perda de competitividade do produtor tradicional em regiões de montanha, que tem uso intensivo da mão de obra.

Num negócio em que a mão de obra representa mais de 50% do custo da produção, um produtor que paga a um colhedor US$ 500 mensais não tem como competir com produtores da América Latina, da África e da Ásia, que buscam esse valor como renda anual.

Como todos os demais países produtores são menos desenvolvidos que o Brasil e não têm alternativas de diversificação da agricultura, o aumento de custos para o produtor brasileiro não se reflete num aumento de preços no mercado internacional.

Nossa cafeicultura passa hoje pelo mesmo desafio pelo qual passaram indústrias intensivas em mão de obra que, aos poucos, migraram de países ricos para o Terceiro Mundo.

Além disso, durante esse mesmo período, a indústria do café passou por uma progressiva substituição do café arábica, de mais alto custo e com maior potencial de qualidade, pelo café robusta, produzido em regiões de menor altitude, com menor custo.

O produtor de robusta, que abastecia 25% do consumo mundial há 30 anos, hoje tem uma participação de 40% no mercado mundial de café.

Nosso produtor tradicional se vê em situação similar à da indústria automobilística americana, que sempre esteve na vanguarda do negócio, mas agora vem sendo substituída por produtores mais competitivos.

Tudo isso levou a um recorrente endividamento de um grande número de cafeicultores, que não têm nenhuma perspectiva de gerar resultado na produção para abater a dívida, enquanto continuam contribuindo para uma oferta excedente do produto, o que pressiona contra eventuais ganhos de preço que recuperem a competitividade da cafeicultura.

Precisamos buscar uma regra de saída para esses produtores que lhes reduza a dívida com o compromisso de erradicação da parte ineficiente do parque produtivo. Isso levaria à redução da área e ao aumento da produtividade, com consequente redução das exportações, provocando um aumento das cotações internacionais sem impacto negativo na receita exterior.

Ajudar a saída de agricultores menos competitivos pode também dar impulso a uma reforma agrária pacífica e viável. A expansão da cafeicultura tem vindo da produção familiar: o café é, possivelmente, a cultura mais adequada a uma propriedade familiar, por ser uma produção intensiva no uso da terra e da mão de obra.

Ela é mais viável na propriedade familiar, que não é sujeita ao nosso pesado custo Brasil de altos encargos sociais, juros altos, altos impostos sobre a produção e custos crescentes de licenciamento e adequação ambiental.

Defender a redução da dívida de agricultores é tabu no Brasil, onde os bancos têm conseguido sempre renegociações que resolvem os seus problemas, mas não necessariamente os dos produtores. Mas problemas graves exigem soluções drásticas, e o fundo que financia a cafeicultura foi criado com recursos provenientes dela com o objetivo de viabilizá-la.

Essa dívida impagável deprime mercados, leva a uma crescente desilusão e angústia os produtores responsáveis que buscam solver seus compromissos e serve de desculpa para os irresponsáveis. E perpetua uma discussão das entidades representativas em torno de periódicas renegociações e alongamentos, quando deveriam estar desenvolvendo estratégias de longo prazo para a recuperação da competitividade, sem as quais nossa cafeicultura permanecerá nesse impasse dos últimos anos.

Marcelo Vieira produz café em Minas Gerais, é diretor da Adecoagro e membro do Departamento do Café da Sociedade Rural Brasileira. Foi presidente da BSCA - Brazil Specialty Coffee Association e Luiz Marcos Suplicy Hafers produz café na Bahia e no Paraná e é membro do Departamento do Café da Sociedade Rural Brasileira, entidade da qual já foi presidente.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Declaração de amor ao campo do Roberto Rodrigues

Nada melhor para o primeiro post do ano do que uma crônica do Ministro Roberto Rodrigues onde ele declara seu amor pelo campo. Esta crônica foi publicada na Folha de São Paulo de 2 de janeiro e a encontrei no BrasilAgro:

Amor ao campo
Roberto Rodrigues

É preciso amor para ser agricultor ou pecuarista. Que 2010 seja de muita sorte e amor aos produtores rurais.

Outro dia , em um desses intermináveis voos noturnos internacionais, caiu-me às mãos um exemplar da revista "Harper's Magazine" de dezembro passado, na qual o articulista Wendell Berry fazia referência a livros escritos por Louis Bromfield na década de 50 do século passado, falando da agricultura.

Lembrei-me bem do livro "Vale Aprazível" porque era com essa frase que minha mãe saudava a chegada à fazenda todos os anos para as férias prolongadas de dezembro a fevereiro. Íamos todos -até o fox paulistinha Tupi- embrulhados em guarda-pós quando estava seco ou chacoalhando a lama quando chovia, no velho DeSoto 49 que resfolegava nas estradas de terra de São Paulo de outrora.

O artigo falava de amor à agricultura, porque era disso que Bromfield tratava: para ser agricultor ou pecuarista, é preciso amar essa atividade. E seguramente um cidadão urbano, por mais correto que seja, terá dificuldades em compreender esse amor. Como pode o lavrador ser tão apaixonado pelo que faz? Levantar-se ainda no escuro para organizar o dia, preparar a semeadura ou ordenhar a vacada? Lidar o tempo todo com poeira, barro, graxa, defensivos, esterco, essa "sujeira" toda? Ficar dependendo do tempo, ora pedindo para a chuva parar, ora implorando por uma garoa mínima que faça germinar a semente?

Ora, coisa estranha, esse amor. Mas ele existe e é muitas vezes imenso, superior mesmo à compreensão. No referido artigo, Berry conta uma passagem extraída do "Fausto", de Goethe, quando aquele buscava, tratando com Mefistófeles, uma forma de manter-se jovem para sempre. Na conversa, o Diabo oferece a Fausto, para esse fim, uma poção feita por bruxas. Mas Fausto, nauseado com o aspecto e o cheiro do preparado, pergunta a Mefistófeles (em tradução liberal!): "Não existiria na natureza, ou alguma nobre mente não teria descoberto algum remédio, algum bálsamo para a eterna juventude?" E o Diabo responde que sim, que havia uma maneira natural de manter-se sempre jovem: "Vá para o campo, e comece logo a trabalhar: cavar, enxadar... Mantenha seus pensamentos, sua atenção e você mesmo nesse trabalho no campo. Coma a comida que você plantar.

Esteja disposto a adubar o campo que vai colher. Essa é a melhor maneira -acredite em mim- para continuar a ser jovem aos 80." Fausto, um intelectual, não aceita o trabalho, argumentando que não aguentaria uma vida tão restrita. E Mefistófeles responde: "Bem, ainda temos as bruxas! (...)"

Na verdade, Berry encontrou uma forma literária para mostrar que a atividade no campo não é mesmo para qualquer um, ainda que ela justificasse uma passagem para a juventude eterna, ambição de tantos. Apenas quem ama esse trabalho, sentindo o prazer único de ver uma semente plantada com esmero germinar e frutificar, enfrentando as pragas, as doenças e as vicissitudes do clima, pode realmente se dedicar à agricultura. Só quem sorri de madrugada ao ver um bezerro recém-nascido tropeçando na busca das tetas da mãe pode ser um pecuarista.

É preciso amar essa missão gloriosa. Mas também é preciso saber cumpri-la. E por fim, é preciso ter sorte... Que 2010 seja um ano de muita sorte e muito amor aos produtores rurais brasileiros. Mesmo que tal amor seja inexplicável... Mas, afinal, qual é o amor que se pode explicar? (Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula)