O trigo é o único alimento importante que temos algumas dificuldades para garantir nossa demanda e por causa disso existe uma série de problemas relacionadas à oferta e demanda. Para ajudar a compreensão, encontrei no BioAgroEnergia de Paulo Costa um artigo interessante:
Autosuficiência no trigo – um jogo de perdedores
A história do plantio, importação e consumo de trigo no Brasil é rica em suas nuances e principalmente em dificuldades. O fato é que os elos da cadeia não se fecham e todos saem perdendo. De um lado o produtor tritícola de uma safra de inverno, perfeita para intermediar as grandes safras de verão de soja e milho, que não tem qualquer estímulo para investir fortemente. Isto provoca grande migração para o chamado “milho safrinha” (de inverno), que acaba por criar estoques ocupando espaços preciosos de armazenagem enquanto o trigo é importado em grandes volumes.
O problema é tão simples que é mesmo incompreensível não se encontrar uma solução para êle. Principalmente se lembrarmos que o Brasil já foi capaz de produzir todo o volume que necessitava, em outras eras. O que se passa é que a produção de trigo está concentrada na região Sul do país, particularmente em função da ideia atrasada de que trigo só prospera em áreas de baixa temperatura. Em Minas Gerais e Goiás temos uma produção ainda incipiente e de baixa tecnologia. A Embrapa luta bravamente para desenvolver novos cultivares que incentivem a produção regionalizada do trigo.
Ainda que menor a safra que o consumo, o triticultor enfrenta outro problema que é a qualidade do trigo hoje produzido. Ele não é entendido pela indústria, em grande parte de sua produção, como sendo de qualidade panificável. Isto acaba gerando a necessidade de se mesclar nosso trigo (o de melhor qualidade, diga-se de passagem) com trigo importado. Normalmente a importação é feita da Argentina, produtora de grandes excedentes exportáveis e que entra no Brasil sem impostos de importação. Dependendo das condições de preços internacionais os estados do Norte e Nordeste, até Vitória que abastece o Centro-Oeste, trazem trigo da América do Norte, em particular do Canadá, que tem excelente qualidade.
Com este quadro a indústria acaba sendo perdedora também. Vê-se forçada aos humores dos preços de importação e do câmbio (hoje amplamente favorável a ela e punitivo ao produtor rural brasileiro) e ainda enfrenta muitas vezes a concorrencia de farinha de trigo trazida diretamente da Argentina, sem barreiras. Enquanto isto vê o nosso trigo ser vendido para a produção de ração animal…
Enfim, um negócio em que todas as partes poderiam ser vencedoras e seguer conseguem o empate. A solução simples que mencionamos é que se “meta a cara” no desenvolvimento de variedades adptadas às diferentes condições de clima e de solo que temos neste imenso Brasil para termos uma produção agrícola com técnica que já provamos dominar em outros produtos e qualidade do trigo que satisfaça as exigentes demandas desta indústria.
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