sexta-feira, agosto 01, 2008

Grãos em queda, porém a bolha não acabou ainda, segundo especialistas

A reportagem abaixo publicada no Valor Econômico de hoje mostra a queda das principais commodities agrícolas durante o mês de julho, entretanto em entrevista publicada na edição de 29 de julho da Commodity News for Tomorrow, o analista Shawn Hackett, presidente da Hackett Financial Advisors e não existem sinais de rompimento da bolha de alta das commodities.

Como argumento cita que as commodities agrícolas como um todo tiveram um desempenho muito abaixo das commodities de metais preciosos e de energia.

Cita também como um fator altista que os preços atuais da soja no Brasil estão completamente inadequados para promover crescimento da área cultivada no Brasil. Este crescimento é necessário para satisfazer a demanda mundial.

Abaixo segue na íntegra o texto do Valor Econômico e a entrevista em inglês pode ser encontrada no site Cattle Network clicando aqui:

GRÃOS TÊM FORTE QUEDA NA BOLSA DE CHICAGO EM JULHO

Os futuros de soja, milho e trigo, as commodities agrícolas mais negociadas do planeta, confirmaram as expectativas e encerraram julho com fortes quedas e cotações médias mensais inferiores às de junho na bolsa de Chicago, de acordo com cálculos do Valor Data baseados nos contratos de segunda posição de entrega, normalmente os que apresentam maior liquidez.

Após iniciarem julho em alta e permanecerem assim nas primeiras sessões do mês, os preços perderam parte do suporte em meio às reações à turbulência de bancos centrais de diversos países - inclusive o americano Fed, encarregado de gerir o epicentro da crise e seus reflexos sobre o dólar, determinante para as commodities exportáveis.

As reações fortaleceram previsões de contenção da demanda global e "devolveram" fundos de investimentos a aplicações que perderam terreno para as commodities nos últimos dois anos, para cobrir posições ou em busca de uma maior segurança.

Com isso, segundo o banco UBS AG, na semana passada os fundos de índices retiraram US$ 1,76 bilhão dos mercados de futuros agrícolas. Foi a quinta semana seguida de redução de apostas, que estava no início quando os grãos ainda subiam no começo de julho - a soja atingiu sua máxima histórica em Chicago no dia 7, menos de duas semanas depois de o milho bater recorde - em decorrência de adversidades climáticas em áreas produtoras dos EUA.

Em Chicago, as quedas mais fortes de soja, milho e trigo foram na terceira semana do mês, também influenciadas pelas perspectivas de melhoria do clima sobre as lavouras americanas. Na última semana, o clima voltou a ser altista e houve alguma recuperação, sobretudo no caso do milho, mas os patamares de cotações seguem bem abaixo dos picos.

Quem acompanha de perto esses mercados, como Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja, ou Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro e da FGV, acreditam que as máximas do ano devem ter ficado para trás. É que tudo indica que as fortes oscilações de preços prosseguirão, mas em torno de um eixo um pouco menos elevado, ainda que muito superior ao nível médio histórico.

Entre as agrícolas de Chicago, o milho registrou as maiores quedas em julho. No mês (comparação entre os fechamentos de 31 de julho e 30 de junho), a baixa foi de 17,66%. Na relação entre as médias mensais de julho e junho, a retração chegou a 7,74%, apesar das valorizações do início e do fim do mês. A soja perdeu 12,75% em julho, e a média mensal foi 0,39% inferior à registrada em junho, de acordo com o Valor Data.

As duas commodities, especialmente a soja, seguem ligadas ao petróleo, a mais negociada de todas as commodities. Na bolsa de Londres, os contratos futuros de primeira posição de entrega do Brent registraram baixa de 11,34% em julho, mas o preço médio no mês ainda foi 0,61% superior ao de junho.

Com as cotações de petróleo, milho e soja pressionadas, entre outras, o índice Jefferies-Reuters CRB, composto por 19 commodities, registrou o maior tombo mensal em 28 anos, segundo o "Financial Times". No mês, a queda foi de 10,01%; em março de 1980, diante de outro cenário de desaceleração econômica global, a retração foi de 10,5%.

Na comparação de médias, as perspectivas são de que as variações negativas do petróleo sejam maiores em agosto (em relação a julho), já que o mês começa com as cotações em patamar bem inferior. O mesmo raciocínio também vale para o comportamento de soja e milho, desde que o clima no Meio-Oeste dos EUA não piore tanto a ponto de motivar novas disparadas nos mercados.

"O impacto do declínio dos preços das commodities na inflação global será significativo", disse Marcel Cassard, do Deutsche Bank, ao "Financial Times". O jornal informa que o Lehman Brothers também prevê queda do petróleo, mas alerta para o fato de que Goldman Sachs, Merrill Lynch e Barclays Capital permaneçam com cenários altistas para o produto.

A cautela tem fundamento, afirma Sartori, da Brasoja, uma vez que o nervosismo e as grandes oscilações continuam. A perda de fôlego dos preços parece ser mesmo o cenário mais provável, mas "tudo pode acontecer", conforme o analista. Em Chicago, a aposta na baixa é mais segura no caso do trigo, que traça uma curva descendente independente sob o impacto de projeções de que a oferta superará a demanda nos EUA.

Em Nova York, as chamadas "soft commodities", com giro financeiro menor, também continuam a sofrer o efeito da maior influência dos fundos na formação de preços, ainda que os fundamentos estejam recuperando espaço.

Para o algodão, as expectativas são de valorização. Apesar da baixa demanda global pela pluma, que pressionou as cotações em julho, Fernando Martins, operador da Newedge em Nova York, afirma que a saída dos fundos de investimentos da commodity poderá abrir espaço para futuras altas das cotações do algodão. "O mercado está analisando qual o caminho de soja e do milho para se posicionar em algodão".

O açúcar, cujo preço médio em julho foi 21,48% maior que o registrado em junho, também segue sustentado pela expectativa de déficit global a partir de 2009, com a redução drástica da produção da Índia. Conforme Rodrigo Costa, também da Newedge, boa parte dos produtores indianos migrou para os grãos, cujos preços estão mais atraentes, afirmou . O mix mais "alcooleiro" da safra de cana no Brasil e a maior demanda pelo combustível também ajudam oferecer suporte ao açúcar.

Ambos (algodão e açúcar) guardam relação com o petróleo e seguirão sob sua influência. No açúcar, o contágio decorre da paridade com o álcool, concorrente direto da gasolina; no algodão, da concorrência da pluma com os fios sintéticos. "Se o barril ficar abaixo de US$ 110, essas commodities poderão ser mais afetadas", diz Martins.

Para as demais principais commodities agrícolas transacionadas pelo Brasil no exterior, fatores ligados aos fundamentos têm se mostrado fortes, apesar da "financeirização". No café, os traders estão de olho na safra brasileira; no suco de laranja, nos efeitos da temporada americana de furacões; e no cacau, na África e na demanda industrial.

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