quinta-feira, junho 07, 2007

Seguro Agrícola - uma necessidade para o desenvolvimento do agronegócio

A utilização cada vez maior por parte dos agricultores do seguro agrícola é uma necessidade para o desenvolvimento de uma atividade com menos riscos.

Na edição do dia 04 de junho da Folha de São Paulo, temos dois artigos distintos sobre o tema. Um fala que o mercado está em expansão e o outro comenta a saída de uma grande empresa do nergocio devido às fraudes.

AGRICULTURA EVOLUI E ESTIMULA SEGURO RURAL

Com movimentação anual de US$ 40 milhões em prêmios, Brasil deve superar Argentina e tornar-se maior mercado da região. Tamanho, variedade de culturas e participação maior do governo devem garantir o desenvolvimento do setor no país. O seguro rural no Brasil ainda está bem distante do de outros países, que há poucas décadas estavam no mesmo estágio inicial de desenvolvimento do sistema brasileiro atual. Mas o avanço das tecnologias na agricultura e na pecuária está trazendo uma profissionalização maior e uma nova mentalidade entre os produtores, que começam a encarar o seguro rural como um custo necessário, segundo analistas do setor.

Luiz Carlos Meleiro, superintendente de agronegócio da AGF Seguros diz que está otimista com o crescimento do setor no Brasil. O país se consolida como um grande produtor mundial de commodities. Avança nos setores de grãos, de biocombustível e de florestas.

A cultura do agricultor está mudando e ele começa a entender que o seguro é parte do risco da produção. Meleiro diz que cada país tem um modelo específico de seguro rural, principalmente porque os problemas e as características de produção são diversos. E o Brasil deve chegar ao seu modelo com rapidez. Algumas mudanças estão sendo fundamentais para o desenvolvimento do setor, segundo Meleiro. O dinheiro a ser recebido pelos produtores já chega mais rapidamente e o governo participa mais do setor, com o aumento da subvenção -pagamento de parte do prêmio do seguro devido pelo produtor. Exemplo de melhoria no setor são as discussões sobre a nova Lei de Catástrofes, que está sendo desenvolvida pelos ministérios da Fazenda e da Agricultura. Essa lei vai dar segurança tanto aos produtores como às seguradoras. "Esse é um lado positivo do setor, que está sendo desenvolvido de forma rápida", acrescenta o superintendente da AGF Seguros.

José Maria Cullen, diretor técnico da Seguradora Brasileira Rural, diz que o país caminha para ser o maior mercado da América Latina. Tem tamanho, variedade de culturas agrícolas e o governo está consciente da necessidade de participar mais desse mercado. A Argentina, com cem anos de tradição em seguro agrícola e com a atuação de 30 seguradoras, movimenta US$ 100 milhões em prêmio por ano. O Brasil movimenta US$ 40 milhões e tem apenas cinco seguradoras no setor, mas deve ultrapassar a Argentina em breve, segundo ele. Cullen diz, no entanto, que falta muito para o produtor brasileiro entender que o seguro é um instrumento para evitar perdas financeiras.

Mesmo acreditando no crescimento do mercado brasileiro, Cullen diz que não haverá explosão do seguro rural no país porque as seguradoras não estão preparadas. A evolução será lenta até pela estrutura do mercado e pelos riscos.

Luciano Marcos de Carvalho, assessor técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), diz que falta diálogo entre as duas pontas. O produtor quer o seguro, mas em condições financeiras mais favoráveis. Já as seguradoras querem vender, mas com um grau de risco menor. Não existe modelo pronto para o país, principalmente devido às diferenças no setor: clima, culturas e tecnologias utilizadas, na avaliação de Carvalho. "É preciso descobrir esse modelo por meio de conversas entre todos os participantes do setor: seguradoras, cooperativas e entidades de classe, órgãos que conhecem as necessidades do campo", afirma o assessor da CNA.

Mas o setor tem "alguns pontos nevrálgicos", na avaliação de Meleiro. Seguro é estatística, e algumas estações climáticas não dispõem de dados para o setor. Essas informações são importantes porque facilitariam a formação das taxas de seguro, o que beneficiaria áreas com risco menor.

É importante também a maior participação do governo nas subvenções, embora isso já venha ocorrendo após as recentes crises agrícolas. Na safra 2005/6, o governo participou com subvenções de R$ 2,3 milhões. Na de 2006/7, o valor subiu para R$ 31 milhões. Para 2007/8, são esperados pelo menos R$ 90 milhões.

Outro ponto que não pode ser abandonado é o desenvolvimento desse fundo de catástrofe, que dará maior segurança a todos os participantes do setor. Além disso, a área de seguro não passará por uma fase de desenvolvimento sem um aculturamento do campo, trabalho que não deve ser apenas tarefa do governo, mas também das empresas do setor.

O mercado ficará mais atrativo, e outras empresas virão para o setor, aumentando a competitividade e reduzindo as taxas de custos.

FRAUDE TIRA MAIOR SEGURADORA RURAL DO PAÍS

Empresa norte-americana Rain and Hail sai do Brasil no momento em que o governo tenta desenvolver seguro no setor agrícola. Custo do serviço no Brasil é alto e cobertura se limita a algo entre 50% e 60% da produção; setor defende melhor regulamentação.

A norte-americana Rain and Hail, a maior empresa de seguro rural do mundo, está deixando o Brasil. Segundo a Folha apurou, um dos principais motivos da saída da empresa são as fraudes ocorridas no setor, que dificultam o avanço do seguro rural no país.

A saída da norte-americana ocorre no momento em que o governo tenta ampliar o uso do seguro rural, considerado essencial para o desenvolvimento do agronegócio. Um bom sistema de seguro teria aliviado a situação de produtores nas últimas safras, quando o setor acumulou pesadas dívidas, principalmente com a forte seca no Sul e chuva e ferrugem da soja no Centro-Oeste. Esses problemas climáticos fizeram o governo intervir no setor com a adoção de vários pacotes de apoio ao agricultor. Como disse o ex-ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, quando estava à frente do ministério, "a ação do governo deve ser a de prevenir, e não a de remediar depois do fato ocorrido". Tanto o governo quanto os produtores avaliam que a falta de seguro é hoje um dos principais problemas da agricultura brasileira.

Na avaliação da companhia norte-americana, as fraudes colocam os custos do seguro rural em patamares elevados, impedindo o desempenho dessa modalidade de proteção aos produtores no país. Pior ainda, essa tendência deve continuar, segundo a empresa.

DESVIO

Conforme a Folha apurou, entre as fraudes mais comuns que estariam sendo praticadas por agricultores está o desvio da produção para outras pessoas da família, declarando uma produção menor.
Outra prática adotada por parte dos produtores é a da distribuição da produção por vários receptores, o que dificulta a avaliação da produção total obtida pelo agricultor.

A conivência de cooperativas e de outras empresas de recebimento de produtos agrícolas agrava a situação.

O setor vive, ainda, dificuldades de entendimento na Justiça sobre as especificidades dos contratos, o que dificulta, inclusive, a reclamação judicial das empresas contra as eventuais fraudes.

A falta de expansão no setor impede uma boa remuneração dos participantes desse mercado e uma especialização dos profissionais. Com isso, sem uma visão clara dos problemas do campo, muitas vezes as seguradoras e corretoras não conseguem falar a mesma linguagem do produtor.

Outro ponto que precisaria ser desenvolvido, na avaliação da norte-americana, é uma participação sólida do governo neste sistema. Seguro agrícola é caro, mas isso não ocorre apenas no Brasil. A diferença é que em outros países há uma participação maior dos governos.

Essa mescla de fraudes e de mercado pequeno torna o seguro rural pouco atrativo para todos. O produtor paga um alto preço pelo serviço e seguradoras e corretoras vendem um produto caro, mas não ganham dinheiro, na avaliação da empresa norte-americana.

Os custos médios de seguro no setor de grãos no Brasil vão de 5% a 8%, dependendo do produto, e o produtor tem o retorno de 50% a 60% do valor da produção. Nos Estados Unidos, a cobertura vai de 80% a 90% da produtividade prevista. Casos específicos chegam a garantir ao produtor até 150% das estimativas de produção.

Na avaliação do mercado, no entanto, a saída da norte-americana tem a ver também com o uso de um modelo importado, que não deu certo no Brasil. Cada país tem suas peculiaridades e a montagem de um modelo apropriado é demorada, segundo informações do setor.

CENÁRIO DISTINTO

Cooperativa consultada pela Folha diz que o cenário do setor não é exatamente o traçado pela seguradora norte-americana. Quando um produtor comunica o sinistro à seguradora, ela deveria fazer a vistoria da área e avaliar a produtividade no próprio local da colheita.

"Fraudes existem, mas não ocorrem apenas no setor agrícola e somente no Brasil. Ocorrem em qualquer lugar do mundo", avalia Luiz Carlos Meleiro, superintendente de agronegócio da AGF.
Luciano Marcos de Carvalho, assessor técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), diz que "a fraude acontece quando não se tem boa regulação. São necessários marcos regulatórios mais eficientes no setor."

Apesar dos problemas, o pagamento de prêmios em seguros rurais cresceu no ano passado, depois de dois anos de queda.

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