Em reportagem de Luiz Silveira do Brasil Econômico, nos é mostrada a situação atual das discussões em torno da soja certificada de acordo com padrões de sustentabilidade. Como sempre em situações de início de um novo mercado, parece que o difícil não é produzir, mas sim encontrar um preço justo para ambos lados.
Preço de venda é o novo desafio da soja sustentável
Encerradas as discussões sobre a certificação privada global para a soja sustentável, produtores e compradores iniciam as negociações comerciais sobre o diferencial de preço do novo produto.
"Os problemas reais começam quando os produtos feitos com a soja certificada chegarem ao mercado", diz o diretor de agricultura sustentável da Unilever, Jan-Kees Vis.
A certificação aprovada na quinta-feira pelos 140 membros da associação Round Table on Responsible Soy (RTRS) prevê 27 critérios de análise, com um total de 90 indicadores nas áreas legal, social e ambiental.
"Mesmo para uma empresa do porte da SLC, houve dificuldades e quatro não-conformidades com a certificação durante os testes", diz o gerente de sustentabilidade da SLC Agrícola, Álvaro Dilli.
Basicamente, os produtores querem agora ver os benefícios concretos que podem ter em certificar sua produção.
Dilli ressalta que o Brasil, com uma legislação ambiental mais rigorosa que a maioria dos outros países, terá ainda mais dificuldade em conseguir a certificação.
Afinal, as fazendas precisam estar estritamente dentro das leis do país para conseguir o selo verde.
Por outro lado, as companhias consumidoras de soja argumentam na associação que há outros benefícios que compensam os custos da certificação.
"O agricultor precisa ampliar o controle do processo produtivo e assim ganha eficiência", diz o diretor mundial de agricultura sustentável da Unilever, Jan-Kees Vis.
Além disso, o selo motivaria os compradores a firmar contratos de longo prazo com os agricultores, aumentando a previsibilidade de receita e barateando o crédito.
"Sete em cada dez critérios da certificação trazem redução de custo, e só três geram aumento", complementa Jason Clay, da ONG World Wildlife Fund (WWF).
Mas Vis, da Unilever, reconhece que em um primeiro momento será preciso pagar mais pela soja certificada para estimular a sua produção. "Sabemos que o mercado terá que dar um incentivo, pelo menos no início."
A queda de braço, portanto, passou do campo técnico e teórico para o comercial. Foi justamente a falta de clareza sobre os prêmios para a soja certificada que motivaram a saída da Associação de Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja) da associação, em abril.
Peso-pesados
A ideia da associação é criar um padrão internacional de sustentabilidade na produção de soja, diante do impacto de temas como o desmatamento da Amazônia no próprio Mato Grosso junto aos consumidores europeus.
Os membros da associação somam cerca de 40% da produção mundial de soja, incluindo nomes como Grupo Maggi, SLC Agrícola, ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus, Unilever, Carrefour e Shell.
Organizações não-governamentais e bancos como Santander e Rabobank também são associados.
A SLC Agrícola, o grupo Maggi e outras grandes empresas de grãos testaram na última safra a produção de soja seguindo os parâmetros da certificação, e devem plantar no segundo semestre a primeira safra comercial com a nova certificação.
No mundo, foram 600 mil toneladas de soja produzidas em teste dentro dos critérios. O volume equivale a cerca de 0,25% da produção mundial.
Apesar de fazer alterações pontuais no texto das exigências, a assembleia geral da associação realizada quinta-feira em São Paulo manteve os pontos centrais, como a proibição do plantio em áreas desmatadas depois de maio de 2009.
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