terça-feira, agosto 25, 2009

Energia dos resíduos da produção avícola

Sempre acreditei na utilização máxima dos resíduos das atividades agrícolas, principalmente por ter minha experiência no setor sucroalcooleiro onde tudo se aproveita. A utilização de excrementos animais é uma área de enorme ganho, pois além de gerar renda, resolvemos um sério problema ambiental.

A reportagem abaixo, que encontrei no AviSite, do Valor Econômico comenta esse assunto, mostrando o grande potencial:

Dejetos de animais podem gerar uma "Jirau"

Brasília, DF, 25 de Agosto - O reaproveitamento de matéria orgânica produzida na atividade agropecuária, sobretudo o esterco de animais, pode gerar um bilhão de kilowatts-hora por mês, quantidade equivalente à que será produzida pela usina hidrelétrica de Jirau e suficiente para abastecer uma cidade de até 4,5 milhões de habitantes. Produtores agropecuários dispostos a investir no negócio podem embolsar até R$ 1,5 bilhão com a venda da energia elétrica, segundo estudo recém-concluído pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em parceria com Itaipu Binacional.

A matéria orgânica de onde a energia pode ser gerada - classificada como biomassa residual - são dejetos sólidos e líquidos de animais e restos de vegetais inaproveitáveis para o consumo. Para fazer o tratamento dos efluentes é necessária a utilização de biodigestores que fazem sua degradação em processo que envolve uma etapa em total ausência de ar. Os climas tropicais - como o brasileiro - já facilitam essa degradação, pois possuem maior biodiversidade de bactérias necessárias no processo e o clima em si garante que o processo biológico ocorra.

Além da energia produzida, o tratamento produz biofertilizantes como subprodutos. O estudo sustenta que esse aproveitamento pode diminuir substancialmente a tradicional dependência brasileira de fertilizantes importados. Com o tratamento do estrume e de outras biomassas residuais, como a vinhaça de cana, pode-se produzir 85% do nitrogênio, 43% do potássio e 15% do fósforo necessários na safra de grãos 2008/09.

Só na criação de bois, aves e porcos confinados o país gera 180 milhões de toneladas de esterco. O dado não inclui a pecuária extensiva, que corresponde a mais de 85% da produção nacional, mas dá uma ideia da quantidade de material poluente despejado no meio ambiente. Sem tratamento adequado, o estrume contamina lençóis freáticos e leva até à pantanização de áreas, além de colaborar com o aquecimento global. Quando chega a depósitos de água, como rios e lagoas, o excremento libera grandes quantidades de metano - gás do efeito estufa considerado 21 vezes mais potente do que o dióxido de carbono. Estima-se que o Brasil emita cerca de 8% de todo o metano mundial.

Se todo o esterco animal do país se transformasse em energia limpa, deixaria de ser lançado na atmosfera o equivalente a 71,3 milhões de toneladas de CO2 - aproximadamente um terço do que o desmatamento da Amazônia gera anualmente em gases do efeito estufa. Com o direito de comercializar os créditos de carbono, essa redução de emissões poderia garantir aos criadores um faturamento anual de € 671 milhões - considerando o valor de € 9,41 por tonelada de CO2, como citado no estudo.

No Paraná, já existe mercado para a venda da energia extra produzida pelo tratameno dos efluentes. A Copel assinou em março deste ano os primeiros contratos para a aquisição de energia da biodigestão da matéria orgânica. Quatro produtores se interessaram em vender a energia, que no total soma 524 kilowatts. Na Granja Colombari, no município de São Miguel do Iguaçu, a energia gerada a partir dos excrementos de 3 mil porcos é vendida para a Copel e os produtores ainda comercializam os créditos de carbono, previstos no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto.

Ainda hoje bastante incipiente, a introdução de biodigestores no campo foi incentivada pelo governo entre 1979 e 1983, mas a experiência não rendeu bons resultados, principalmente devido às dificuldades tecnológicas. De lá para cá, o governo gradativamente diminuiu seus esforços, mas alguns produtores mantiveram o processo por iniciativa própria. Sem muito resultado, surgiram novos incentivos financeiros e regulatórios, como uma linha de crédito especial do BNDES para financiar até 90% dos projetos. Os investidores também ficam isentos da taxa de pesquisa e desenvolvimento, que alcança 1% da receita operacional líquida, e podem inscrever seus projetos no Proinfa, para a venda da energia à Eletrobrás, em contratos de 20 anos. Um pequeno subsídio oficial para tornar o mais primitivo dos produtos animais em fonte de bons negócios.(Paulo Victor Braga)

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