sexta-feira, outubro 31, 2008

Crise já força indústria de alimentos a inovar

Segundo artigo do Food Navigator intitulado "Innovation needed to help adapt to new economic climate" a atual crise econômica já começa a forçar a indústria de alimentos dos EUA a buscar soluções inovadoras para as mudanças no padrão de consumo.

A principal mudança é o aumento da quantidade de refeições feitas em casa e isto faz com que aumente a demanda por produtos mais preparados de maior conveniência como por exemplo, os congelados.

Uma outra consequência é o aumento dos produtos de luxo como por exemplo, os vinhos. Isto ocorre na tentativa de criar um ambiente mais sofisticado em casa que lembre os restaurantes.

O artigo inteiro encontra-se, em inglês, neste link:

Cotações das commodities agrícolas encotram-se em baixa

A notícia do Valor de hoje mostra como as principais commodities agrícolas que o Brasil exporta têm seus preços em baixo nas bolsas internacionais:

Commodities seguem na contramão do dólar

A persistente turbulência nos mercados financeiros globais e as incertezas sobre a extensão de uma desaceleração econômica que já deixa marcas em todos os continentes voltaram a derrubar os preços das principais commodities agrícolas negociadas no mercado internacional em outubro.

Cálculos do Valor Data baseados nos preços médios mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) transacionados nas bolsas de Chicago e Nova York apontam que, neste universo de oito produtos, o que recuou menos em relação à média de setembro foi o suco de laranja. E a queda foi forte, superior a 13%, em um ambiente de extrema volatilidade diária que marcou também os demais mercados.

Pouco à vontade para previsões, analistas consultados pelo Valor foram quase unânimes em apontar o dólar como a referência - em uma relação inversamente proporcional - a ser seguida na tentativa de antever um novo patamar de preços para as commodities, inclusive petróleo e metais. Em outubro o dólar se valorizou em relação a outras moedas, como o euro.

"Outubro foi um dos piores meses da história. A saída dos index funds [fundos de índices] entre julho e o mês passado representou toda a compra de posições desses mesmos fundos entre janeiro de 2006 e julho deste ano", afirmou Michael McDougall, diretor da corretora Newedge baseado em Nova York.

Renato Sayeg, da Tetras Corretora, de São Paulo, está entre os que acreditam que o dólar deve oscilar menos em novembro e em torno do eixo atual. Se isso de fato acontecer, ele espera que os grãos negociados em Chicago também permaneçam mais ou menos no nível de hoje, um pouco acima do patamar observado no início do mês.

Conforme Eduardo Reinaldo Sarmento, analista da Safras&Mercado em Curitiba, é quase impossível realizar posicionamentos de longo prazo no mercado. Ele acredita que a especulação continuará a dar o tom em novembro. "É preciso recuperar a confiança, e para alguns especialistas isso pode demorar mais de um ano", diz. Enquanto isso, os fundamentos seguirão relegados a segundo plano.

Foi o que aconteceu com o milho em Chicago em outubro. Até quinta-feira (dia 30), a cotação média do grão foi a que mais caiu em relação à média do mês anterior entre as oito commodities pesquisadas pelo Valor Data, e isso apesar de o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) ter reduzido sua estimativa para a área plantada no país. Com a desvalorização de 22,61%, o preço médio mensal é o menor desde novembro de 2007.

Houve a mesma revisão extemporânea para a soja, e a cotação média do grão diminuiu 21,18% em outubro, descendo ao menor nível desde agosto de 2007. Para analistas, o fato de o USDA ter divulgado novas estimativas para a área plantada de grãos americana nesta semana foi uma clara tentativa de fortalecer o papel dos fundamentos na formação de preços. Não funcionou sequer no dia da divulgação, a última terça-feira, quando houve forte valorização do dólar no mercado internacional.

O trigo acompanhou soja e milho e sua cotação média mensal perdeu 19,78% de seu valor até o dia 30, recuando ao menor patamar desde junho do ano passado.

Em Nova York, o algodão, cujo mercado sempre está atento aos grãos em Chicago, em virtude da disputa por áreas de plantio nos EUA, seguiu a curva e também tombou. Mas com uma diferença importante: ao contrário de milho, trigo e soja, o algodão não é gênero alimentício de primeira necessidade e o temor de uma desaceleração econômica mais forte e longa deterior a mais facilmente os preços.

Fernando Martins, também da Newedge, confirma a tese citando as deprimidas exportações americanas. A cotação média do algodão diminuiu 15,07% em relação à média de setembro e é a menor desde o mês de maio de 2007.

O cenário não é diferente para cacau, açúcar, café e suco de laranja, as outras "soft commodities" nova-iorquinas. São mercados com menor presença de grandes fundos de investimentos e mais vinculados aos fundamentos - e estes, do lado da demanda, não andam inspirando muita confiança.

As incertezas provocaram quedas de 15,54% do preço médio do cacau, para o menor nível desde janeiro passado, de 14,89% para o café, que bateu no menor patamar desde dezembro de 2007, de 13,8% para o café, que desceu a julho de 2007, e de 13,11% para o suco de laranja, que voltou a janeiro de 2005.

Em alguns mercados, a pressão das incertezas que cercam a demanda pode ser medida pela pouca influência das previsões para a oferta. O açúcar, por exemplo, tem pela frente oferta global restrita, uma vez que países como a Índia, importante no mercado, devem passar de exportador a importador.

O café dá outra lição. O Brasil colherá, em 2009, uma safra bem menor, devido à bianualidade de seu ciclo de produção. A safra cheia foi colhida, já era hora de o mercado olhar para o ano que vem e isso não tem feito a menor diferença.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Queda da Bovespa faz Infinity Bio-Energy cancelar IPO

Este ano ,devido ao péssimo desempenho da Bovespa,parece que não será um bom ano para os IPOs. Conforme notícia abaixo de ontem da Folha de São Paulo, além da Infinity Bio-energy outras 41 empresas desistiram de lançar ações no mercado somente neste ano:

INFINITY BIO-ENERGY DESISTE DA BOLSA

A Infinity Bio-Energy Brasil, do setor sucroalcooleiro, anunciou ontem que decidiu fechar o capital da empresa. A decisão foi tomada em Assembléia Geral, na segunda-feira, dia 27, e já foi comunicada à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Até o dia de ontem, a CVM já havia cancelado o registro de capital aberto de 41 outras empresas, nos dados de 2008. Muitas empresas com ações na Bolsa também têm desistido, no meio do caminho, de fazer novos lançamentos de papéis.

De janeiro a outubro deste ano, 37 companhias desistiram de novos lançamentos. Em 2007, foram 10 desistências. Em agosto, a Infinity-Bio Energy também desistiu de uma oferta de ações. Segundo a assessoria de imprensa da empresa, o fechamento de capital seria uma decisão ocasional.

No balanço do ano fiscal, em março, a Infinity Bio-Energy teve receita líquida de R$ 263,4 milhões e prejuízo de R$ 95 milhões. A dívida total é de R$ 472 milhões, com vencimentos de médio e longo prazo, diz a assessoria. A intenção da Infinity Bio-Energy era captar R$ 500 milhões na Bovespa. A empresa diz que continua a negociar a compra da usina de Guaricanga, no interior de São Paulo. A previsão é que a companhia moa cerca de R$ 7 milhões de toneladas de cana nesta safra.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Carnes sem inspeção ainda tem um grande volume no Brasil

O diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do MAPA, Nelmo Oliveira comenta sobre a falta de inspeção sanitária em carnes comercializadas no Brasil especialmente em áreas mais afastadas dos grandes centros, chegando até mesmo a cerca de 30%.

Ouça diretamente no site da CBN clicando aqui:

Mulheres assumindo máquinas agrícolas

Interessante o post do Blog Mundo Agro da Exame escrito pela Fabiane Stefano onde comenta a presença feminina em posições outrora ocupadas pelos homens na atividade rural. O post original encontra-se aqui:

Mulheres no campo

Ontem, conversei com Marcelo Vieira, diretor da Adecoagro, empresa que atua nos segmentos de cana e de café e que tem entre seus sócios o mega-investidor George Soros. Vieira me contou sobre a dificuldade de conseguir mão-de-obra para a usina Angélica, construída na cidade de mesmo nome, no Mato Grosso do Sul. A unidade, que começou a moer cana há dois meses, fica numa região tradicional de pecuária, onde faltava gente treinada para assumir cargos tanto na área industrial como na agrícola. A solução foi investir no treinamento de quase um terço da cidade. Dos 6000 habitantes de Angélica, cerca de 2000 trabalham para a usina.

Ainda assim, a demanda por pessoal na Adecoagro continuava grande. Sabe qual foi a solução que a empresa criou? Começou a treinar mulheres para cargos como tratoristas e operadoras de colhedoras de cana, cargos pouco usuais para o sexo feminino no campo (veja uma delas na foto abaixo). Foi um sucesso. Hoje, sete moças estão na direção de colhedoras da usina Angélica - máquinas que chegam a custar 800 mil reais cada uma. Outro grupo do mesmo tamanho dirige tratores. A entrada das mulheres nesse segmento vem ocorrendo em função do avanço tecnológico das máquinas, que exigem cada vez menos força física e cada vez mais conhecimentos de informática. Vieira conta que as operadoras e as tratoristas são mais cuidadosas com os equipamentos que os homens - o que também tem contribuído para mudar o comportamento dos colegas do sexo masculino (quando elas estão por perto, não há espaço para brincadeiras). "As oportunidades para as mulheres nessa região eram muito restritas. Muitas vezes, a única opção era trabalhar como empregada doméstica", diz Vieira. "Agora, uma operadora de colhedora pode ter um salário de 1000 reais".

sexta-feira, outubro 24, 2008

Globalização só quando os preços sobem? E quando eles caem?

Muito interessante a notícia abaixo da Gazeta Mercantil de ontem, que diz que os herbicidas já estão bem mais baratos na China e que por estas bandas os preços ainda estão subindo. A globalização é engraçada, no movimento de subida sobem todos juntos, já para descer....

Preço de herbicida despenca na China e dispara no Brasil

São Paulo, 23 de Outubro de 2008 - A arrancada nos preços do herbicida glifosato - defensivo mais utilizado nas lavouras mundiais -, que começou ainda no primeiro semestre de 2007, já ensaia uma tendência inversa, mas só na China. O maior produtor e exportador mundial viu a cotação do produto despencar do alto dos US$ 14 o quilo (em julho), para apenas US$ 4,80 - valor negociado por lá na última semana. Por aqui, os preços do glifosato continuam em elevação. Análise da Scot Consultoria, aponta para um aumento superior a 30% no último ano.

De acordo com o consultor Flávio Hirata, da AllierBrasil Consulting, essa queda além mar pode ser justificada pelo "aumento de capacidade de produção da maioria das 72 fábricas chinesas, que apostavam em um aumento ainda maior da demanda mundial". Apenas uma delas não exporta glifosato. A China é hoje responsável pela produção de quase 600 milhões de toneladas do herbicida, das 700 milhões de toneladas consumidas mundialmente. O gigante asiático exporta 80% de todo glifosato que produz.

"As empresas que apostaram no glifosato agora vão vender mais barato, com uma margem menor", calcula Hirata. E, segundo ele, a questão é saber até onde vai essa queda. Em 2006, o glifosato estava cotado em Xangai a US$ 3,28. De acordo com os cálculos do consultor, a indústria chinesa ainda opera com margem de lucro. O investimento aplicado nas plantas industriais resultou em um aumento considerável da oferta do produto em solo chinês, "e agora o País ainda está na entressafra, o que pressiona o preço da commodity ainda mais para baixo", acrescenta Hirata.

O preço de custo do defensivo é de cerca de US$ 4,20. "Vale a pena continuar produzindo porque os volumes negociados ainda são grandes". Essa mudança no cenário chinês de defensivos é, em parte, culpa das ações do governo daquele País que colocou em vigor novas normas para regulamentar as quatro mil empresas que atendiam essa fatia do agronegócio.

Mas esses preços amenos que o produtor já encontra nas prateleiras chinesas, só devem começar a ser praticados aqui no próximo ano, com o "aval da Monsanto, que regula os preços no mercado interno", pondera Aedson Pereira, consultor da AgraFNP. E, ainda segundo ele, trazer o produto "de lá para cá é complicado". "Nós já estamos plantando a safra 2009, está em cima da hora. O Brasil só deve absorver esse tombo da China a partir de janeiro, período de entressafra por aqui". No nosso aquecido mercado interno de defensivo não se encontra glifosato abaixo dos US$ 10 o quilo, em alguns mercados ainda é praticado os US$ 14. A expectativa de preços mais baixos fica para a safrinha.

Durante todo o ano passado, as lavouras brasileiras consumiram cerca de 600 milhões de litros de glifosato (correspondentes a formulação de 480 gramas por litro), e 90% de todo esse defensivo saíram dos estoques da multinacional Monsanto, dona da maior fatia do mercado interno. Nesse mesmo ano, o País importou 60 milhões de litros deste herbicida.

terça-feira, outubro 21, 2008

China e Rússia continuarão a comprar nossos produtos apesar da crisa

Notícia publicada hoje no DCI mostra que, no curto prazo, não teremos problemas com dois grandes clientes do agronegócio brasileiro: China e Rússia.

CHINA IRÁ MANTER IMPORTAÇÃO DE GRÃOS MESMO COM CRISE

Dois importantes destinos de exportações para setores do agronegócio brasileiro, China e Rússia, dão sinais do 'efeito crise' neste momento, no entanto, desaquecimento de demanda não é esperado por enquanto.

A economia chinesa mostrou certa desaceleração entre janeiro e setembro deste ano. Cresceu 9,9%, segundo números divulgados ontem. Esse crescimento vinha ocorrendo acima dos dois dígitos em 2006 e 2007.

Apesar da expectativa para 2009 ser de crescimento ainda menor, principalmente em comparação aos últimos anos, os exportadores brasileiros não devem se preocupar, segundo Paul Liu, presidente da Câmara de Comércio Brasil-China de Desenvolvimento Econômico.

"Analistas dizem que a economia chinesa vai crescer algo em torno dos 8% no ano que vem. Para 2008 são esperados 10%", diz. "No primeiro momento, os exportadores brasileiros não devem se preocupar. Existem muitos contratos ainda em andamento. O que pode ocorrer em um segundo momento é haver certa redução nos preços praticados hoje", continua. "Mas não acredito em redução de demanda." Liu se refere, sobretudo, ao principal item da lista de produtos exportados pelo Brasil àquele país.

Entre os produtos líderes no ranking de exportações para os chineses estão os do complexo soja. Responderam por receita de US$ 5,8 bilhões, do total de US$ 7 bilhões exportados pelo Brasil a China em produtos do agronegócio, entre janeiro e setembro deste ano.

Liu acrescenta que não acredita em redução de preços substancial e a demanda por parte dos chineses pelos produtos do agronegócio brasileiro não deve arrefecer. No caso da soja, explica, não é um insumo de produtos que lideram a pauta de exportações daquele país. Os setores chineses mais dependentes do mercado externo, principalmente dos Estados Unidos e da União Européia, são os que sofrerão prejuízos. A soja é utilizada em indústrias que abastecem o mercado interno, que, segundo Liu, mantém a economia firme.

"O mercado interno da China está forte e o governo do país já vinha tomando medidas desde julho do ano passado para reduzir o incentivo aos exportadores que tinham sua pauta voltada principalmente para os Estados Unidos", disse. Há pouco mais de um ano foram retirados benefícios dados a esses exportadores, como por exemplo a devolução de alguns impostos, com o objetivo de estimular essas empresas a buscarem novos consumidores. Entre eles, seu próprio mercado interno e países emergentes. Em 2007, a economia chinesa movimentou cerca de US$ 3,4 trilhões e as exportações responderam por um terço desse resultado.

Além de não acreditar em desaceleração de demanda, pelo menos agora, o presidente da Câmara estimula empresários brasileiros a não desistirem da China. Algodão, açúcar, carnes, vinho e leite são produtos com enorme potencial, segundo estudo da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), disse Liu. "Negociar com a China não é rápido. Quando os exportadores de soja começaram, encontraram muitas dificuldades", lembra.

RÚSSIA

Importadores russos de carne bovina já mostram que enfrentam problemas de crédito para cumprir contratos firmados junto a exportadores australianos. Segundo o diretor da Abiec (representante dos frigoríficos brasileiros), Luiz Carlos de Oliveira, que está em Paris durante feira de alimentos, o momento é de cautela, mas a entidade ainda mantém a expectativa de vendas para a Rússia em 2008. Esse país é o principal destino da carne bovina brasileira.

Análise de BM&F/Bovespa sobre o mercado de commodities e a instabilidade econômica

Na edição 331 da Síntese Agropecuária da BM&F/Bovespa tem uma análise muito boa sobre como a instabilidade econômica atual está afetando o mercado de commodities:

Instabilidade econômica causa retração no mercado de commodities

Estoques cheios e exportações em ritmo lento deixam agentes em alerta.

As incertezas no mercado mundial de capitais já se refl etem nas commodities, o que vem causando apreensão e alta volatilidade, com impacto nos agentes do milho. No cenário doméstico, a questão a ser analisada é a possível escassez de crédito aliada ao baixo preço esperado para a safra 2008/09, o que pode contribuir para redução das áreas plantadas e do uso de tecnologia para as lavouras. O segundo fator de preocupação é o grande volume de produto disponível internamente – há a possibilidade de o estoque de passagem brasileiro ser o maior de todos os tempos, conforme Cepea/Esalq/USP. Esse excedente é mais visível quando comparados os volumes exportados em 2007 e 2008. Segundo a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA), o porto de Paranaguá teve declínio de 53%. Até agosto, esse volume caiu de 2,8 milhões de toneladas em 2007 para 1,4 milhões de toneladas. Conforme o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC), a variação nacional do produto exportado foi de 54,7% e a redução foi de 5,6 para 3,6 milhões de toneladas. Esses valores somados à safra 2007/08, 13,1% superior à anterior, com variação de 51,8 para 58,6 milhões de toneladas, aponta para estoques mais expressivos. A possível redução na produção 2008/09 de 5,6%, ou 3,1 milhões de toneladas a menos, não foi suficiente para movimentos positivos de preço no mercado interno, volume este justifi cado, em parte, pela redução na área plantada de 1,7% (de 14,7 para 14,5 milhões de hectares), conforme dados do Acompanhamento da Safra Brasileira de Grãos 2008/2009, divulgado em 8 de outubro pela Conab. Quanto à lavouras de milho verão, 17,5% da área da região Centro-Sul já estava semeada no início de outubro segundo a Céleres. Os trabalhos estão 5,2% à frente do registrado no mesmo período de 2007. No Sul, o plantio está mais acelerado, com 10,5% acima de 2007 – noano passado, o longo período de estiagem prejudicou a plantação na região.

O relatório do Departamento de Agricultura Americano (USDA) de 10 de outubro mostrou incremento de 1% na produção se comparado ao documento de setembro, e 7% abaixo da safra passada. A produção atual foi estimada em 309,9 milhões de toneladas. Os Estados Unidos continuam sendo os maiores exportadores com 50 milhões de toneladas. A segunda posição permanece com a Argentina, que sofreu retração no volume a ser exportado em 12,5% (de 12 para 10,5 milhões de toneladas) – ou menos 1,8% de milho ofertado no mercado mundial. O Brasil, o terceiro maior exportador, continua com a expectativa de 9 milhões de toneladas.

O mercado físico do milho segue com poucos negócios, os baixos preços ofertados aos produtores, aliados às expectativas de quedas ainda maiores pelos compradores deixam o mercado engessado. As praças de Sapezal e Campinas apresentavam, em 9 de outubro, os extremos de preços: R$12,00/saca e R$22,60/saca, respectivamente. Os preços divulgados pelo indicador Esalq/BM&FBOVESPA, que servem de referência para o contrato de milho com liquidação financeira, acumulavam baixas de 3,1% em 13 de outubro, fi cando em R$22,29/saca. No mercado externo na mesma data, o milho para entrega em dezembro/08, apresentava queda mensal acumulada de 26,9%, encerrando em US$¢411,50/bushel.

Na BM&FBOVESPA, entre 10 de setembro e 10 de outubro, foram negociados mais de 22,2 mil contratos de milho, o que representa 10 milhões de sacas.

Os contratos sofreram retração de preço, acompanhando a maioria do mercado. Os vencimentos novembro/08 e março/09 foram cotados, em 10 de outubro, a R$21,70/saca e R$22,38/saca, redução de 10%.

sábado, outubro 18, 2008

Riscos e Oportunidades para o agronegócio segundo a Exame

Na edição 929 da Revista Exame foi publicada uma tabela contendo os riscos e oportunidades gerados pela atual crise para vários setores.

Abaixo estão listados apenas os aspectos relativos ao agronegócio:

Riscos

Falta crédito para o plantio da nova safra de grãos - apenas 26% das necessidades foram cobertas por recursos oficiais e os produtores têm de usar mais capital próprio. Os custos da produção também aumentaram de 30% a 50%.

Oportunidades

O aumento da cotação do dólar vai elevar as receitas das exportações. No caso dos frigoríficos, o novo patamar do câmbio deve repor a competitividade da carne brasileira no mercado internacional.


Análise da corretora Fator sobre como crise afetará empresas do agronegócio

No Portal Exame, encontrei esta análise que contempla a influência da crise de crédito em várias empresas listadas na Bovespa de diferentes setores do agronegócio:

Crise do crédito afeta agronegócio no Brasil, diz corretora
Fator avalia impacto nas ações do BB, Sadia, Perdigão, Fosfertil, ALL e outras

A crise global nos mercados financeiros irá afetar o agronegócio no Brasil e pode comprometer os resultados da safra 2008/2009, segundo avaliação da Fator Corretora. A escassez de crédito para o plantio é especialmente séria, tendo em vista que os produtores rurais têm um curto período para comprar suplementos agrícolas, preparar o solo e semear suas terras, já que, tradicionalmente, o período para plantio da safra de verão vai de agosto (na região Sul) a novembro (no Nordeste).

Além disso, o cenário irá piorar se o clima não cooperar. Apesar da chuva dos últimos dias, os produtores estão preocupados com a seca registrada entre julho e agosto e a incomuns baixas temperaturas anotadas na atual época do ano. Vale lembrar que a seca já está afetando o resultado de algumas culturas no Sul do país. Na região central do Paraná, por exemplo, choveu apenas 20 milímetros no mês de agosto, 70 milímetros menos que a média registrada para o período.

A escassez de crédito irá afetar os produtores de todo o país, independente de seu tamanho. Há relatos de bancos internacionais que cancelaram créditos já aprovados para grandes produtores e exportadores. Também foi reduzido o crédito para as tradings, que tradicionalmente financiam a atividade agrícola, em razão da volatilidade dos preços de grãos nos mercados futuros.

Desta forma, os produtores são forçados a recorrer aos empréstimos dos bancos brasileiros, enquanto os preços de suplementos agrícolas estão substancialmente altos. Outro fator a ser levado em consideração é a recente queda nos preços das commodities agrícolas, mesmo com os valores sendo mantidos em níveis ainda elevados na comparação com a média histórica.

Preocupado com o risco de que a escassez de crédito internacional venha a comprometer a safra agrícola, o governo federal está adotando medidas preventivas, como o já anunciado reforço de 5 bilhões de reais nas linhas de crédito para a agricultura e a antecipação do crédito agrícola previsto pelo Banco do Brasil. No entanto, o acesso a tais linhas pode ficar restrito em muitos casos, principalmente em razão de acordos de renegociação de débitos referentes às safras de 2003/2004 e de 2005/2006 feitos por produtores.

Outras medidas governamentais que podem estar em estudo são: redução de 9,25% para 4,75% na alíquota de PIS e COFINS que incide sobre a cadeia produtiva da carne; liberação de recursos dos depósitos compulsórios dos bancos; aumento da vinculação de recursos para crédito ao setor agrícola; e liberação de recursos para as tradings.

Desta forma, a Fator Corretora prevê que diversos setores e empresas incluídas em sua área de pesquisa poderão ser afetados por uma conjunção fatores, como a restrições ao crédito, pressões em razão dos custos e problemas climáticos, que podem mexer com o setor de agronegócios. Abaixo, segue análise relacionada a alguns setores e empresas:

Açúcar e Álcool

O crédito escasso é um fator negativo e deve afetar as estimativas de produção para a próxima safra, já que a produção de cana-de-açúcar exige consideráveis recursos a serem investidos em trabalho intensivo no início do ciclo, principalmente no financiamento de suplementos e mão-de-obra.

Também pode haver redução dos investimentos das usinas, especialmente em equipamentos e ampliação da capacidade produtiva. Por outro lado, a desvalorização do real ante o dólar pode compensar parte das perdas. A Fator tem recomendação de manter para as ações da São Martinho e preço-alvo de 25 reais. Já a avaliação da Cosan estão em revisão.

Instituições financeiras

Entre os bancos brasileiros, o Banco do Brasil (com ações ON a R$ 14 no encerramento de sexta, baixa de 4,44%), por ser o principal agente financiador do agronegócio, pode ser o mais afetado pela perspectiva de uma ocasional redução nas estimativas de safra agrícola e/ou o aumento nos preços de suplementos agrícolas.

Para justificar essa perspectiva, a Fator Corretora recorre a uma análise que vincula efeitos negativos sobre os resultados do Banco do Brasil (especialmente por ter promovido o refinanciamento de débitos de produtores) em razão de recentes crises no setor de agronegócios brasileiro: ao final de 2004, diante de problemas climáticos em São Paulo e Mato Grosso do Sul; e em 2005, em razão do embargo russo à carne brasileira, aumento da competição internacional por preços e outros fatores.

Fertilizantes

Diante de um cenário positivo, estimulado por demanda em alta, elevados preços de commodities e grande consumo de etanol no Brasil, a indústria de fertilizantes Fosfertil (cujas ações PN encerraram a R$ 12,00 na sexta-feira, alta de 0,93%), assim como produtores e toda a cadeia vinculada ao mercado agrícola, registrou forte aceleração no primeiro semestre de 2008. No entanto, o setor de fertilizantes pode vir a sofrer um impacto negativo em razão de eventuais dificuldades que os produtores agrícolas venham a ter para obter financiamento produtivo.

Em compensação, a desvalorização do real frente ao dólar não deve pressionar as margens de lucro da empresa, tendo em vista que os preços do produto são firmados pelo mercado internacional e repassados aos consumidores locais.

Vale atentar para o fato de que, justamente em razão de uma eventual alta de preços, conjugada a uma desvalorização cambial e à retração do crédito rural, pode haver redução no volume de venda de fertilizantes. Em razão disso, haveria menor uso do produto e, conseqüentemente, perdas de produtividade agrícola.

A Fator avalia, porém, que a Fosfertil encontra-se em uma situação positiva diante dos recentes problemas na economia global, pois a empresa dispõe de uma boa posição de recursos em caixa e reduzido endividamento.

Setor de autopeças

As empresas de autopeças que podem ser moderadamente afetadas pela crise das commodities agrícolas são a Randon e Iochpe-Maxion. A Randon (indústria de autopeças, veículos e implementos, com ações PN a R$ 7,64, queda de 12,18% na sexta) tem apenas 7% de seus rendimentos relacionados ao segmento de transporte de grãos. Assim, de acordo com a análise da corretora, em uma eventual quebra da safra 2008/2009, as vendas da empresa não devem sofrer impacto muito significativo.

Já o grupo Iochpe-Maxion (fabricante de rodas e chassis para veículos comerciais e de vagões de carga e fundidos ferroviários, cujos papéis ON encerraram a R$ 13,60 na sexta, queda de 8,72%) registra 27% de suas vendas consolidadas originárias da divisão Amsted-Maxion. Apenas 2% dos clientes desta divisão estão relacionados ao transporte de grãos. Desta forma, estima-se que problemas eventuais com a atual safra de grãos não terão impacto muito notável sobre as vendas da Amsted-Maxion.

Produtos alimentícios

A redução na oferta de grãos deve ser diretamente relacionada à estrutura de custos e ao faturamento de cada empresa do setor alimentício. Quanto maior a exposição aos preços dos grãos, maior será o impacto no custo consolidado das companhias.

No caso de uma queda no preço dos grãos, a avaliação é de que a M. Dias Branco (que atua na fabricação e venda de biscoitos e massas alimentícias, na moagem de trigo, refino de óleo, etc., com ações ON cotadas a R$ 16,00, baixa de 5,33% na sexta) seria a empresa que pode receber o impacto mais positivo, já que 50% de seus custos estão vinculados à compra de trigo.

Já em relação à indústria de alimentos Sadia (papéis PN fechados a R$ 4,40 na sexta, baixa de 3,08%), a análise estima que seus principais custos estão atualmente em 10% na embalagem; 29% com milho e soja; 7% com óleo de soja e 12% com farinha de trigo e queijo. A previsão é de que eventuais aumentos de preços nos grãos sejam imediatamente repassados ao consumidor.

Em relação às ações da indústria alimentícia Perdigão (das quais as ações ON caíram 6,85% na sexta, a R$ 27,20), como os segmentos de leite e laticínios representam 24% do faturamento consolidado no segundo trimestre de 2008, a influência da variação do preço dos grãos é menos relevante do que no caso da Sadia.

Infra-estrutura

Entre as empresas de infra-estrutura que podem ser afetadas pela crise nas commodities agrícolas, a análise da Fator destaca a ALL (América Latina Logística, com Units negociadas a R$ 10,95 na sexta, avanço de 0,37%). Cerca de 70% de seu faturamento vem do transporte de produtos agrícolas. Em um cenário de queda persistente de preços agrícolas, a empresa tende a perder tanto em preço como em volume. Além disso, a companhia está exposta ao risco de eventuais secas regionais.

O que contribui para mitigar os riscos de redução de margens de lucro da ALL no curto prazo são os cerca de 70% de contratos da empresa firmados na modalidade take-or-pay (em que as empresas são obrigadas por contrato a assumir os custos de transporte mesmo sem realizá-lo).

Caso a crise termine no curto prazo, o impacto sobre a ALL será pequeno. Por outro lado, se a crise se prolongar, a empresa será mais significativamente afetada, diante da necessidade de rever seus contratos sob menos atraentes condições.

Log-In (empresa de logística intermodal - com papéis ON a R$ 4,95, baixa de -8,16% na sexta), Santos Brasil (terminal de contêineres - Units a R$ 10,40, queda de 7,56%) e as administradoras de concessões de rodovias CCR (papéis ON em baixa de 4,53%, a R$ 20,00) e OHL (ações ordinárias a R$ 10,63, queda de 2,48%) podem ser negativamente afetadas, porém em menor extensão.

Crise já força redução do preço dos fertilizantes nos EUA

A notícia abaixo publicada na Gazeta Mercantil de ontem mostra como a crise está fazendo com que os agricultores diminuam a quantidade de fertilizantes a ser aplicada nas lavouras e com isso forçam a queda do preço deste importante insumo agrícola:

Grãos em baixa forçam queda no uso de fertilizantes nos EUA
O colapso financeiro mudou a situação de só duas semanas atrás para uma situação na qual a economia agrícola é afetada pelos preços menores
dos grãos.

Os produtores agrícolas americanos devem aplicar menos fertilizantes por hectare no próximo ano para reduzir os custos em meio à queda dos preços do trigo, milho e soja, disse Mike Rahm, vice-presidente de análise de mercado da Mosaic.

Historicamente, as despesas com nutrientes para as maiores safras representam "um grande bode espiatório" para os produtores, que enfrentam a queda nos preços de commodities causada pelas colheitas globais abundantes e ainda pela crise em Wall Street, disse Rahm na entrevista concedida em 14 de outubro na sede da Mosaic em Plymouth, Minnesota.

"O colapso financeiro mudou a situação de só duas semanas atrás para uma situação na qual a economia agrícola é afetada pelos preços menores dos grãos, e isso nos preocupa um pouco", ele disse. "Creio que temos de tratar diretamente o assunto", disse Rahm.

As condições econômicas deterioradas chegam no momento em que cresce a preocupação dos investidores de que a demanda para carbonatos de potássio e fosfatos, os dois maiores produtos da Mosaic, possa diminuir.

Os contratos a futuros do milho para entrega em dezembro caiu cerca 25 centavos de dólar, ou 5,7%, fechando em US$ 152,75 a tonelada na quarta-feira na Bolsa de Chicago (CBOT). O preço se aproximou antes de US$ 151,47 a tonelada, o menor desde 19 de novembro de 2007. O contrato mais negociado registrou queda de 20% este mês depois de acumular 36% em perdas no trimestre terminado em 30 de setembro.Os contratos futuros da soja para entrega em novembro perderam 38 centavos de dólar, ou 4,2%, fechando em 315,26 a tonelada em Chicago. O preço registrou antes US$ 311,04 a tonelada, o menor para o contrato mais negociado desde 27 de agosto de 2007. A soja alcançou cotação recorde de US$ 601,38 no dia três de julho. "Pode haver um período de três a seis meses de vibração no motor agrícola do mundo", disse o presidente da Mosaic, James T. Prokopanko, em uma entrevista no início da semana.

Os fundamentos econômicos da agricultura e do setor de fertilizantes permanecem "sólidos como rocha" no longo prazo à medida que a população mundial for se expandindo, ampliando o mercado para alimentos, disse Prokopanko.

sexta-feira, outubro 17, 2008

A turbulência atual e seus reflexos no agronegócio

O artigo abaixo, publicado no Estado de São Paulo de 09 de outubro, faz uma boa análise de como a turbulência nos mercados podem atingir o agronegócio. O artigo foi escrito por Alexandre de Castro, pesquisador da Embrapa:

A TURBULÊNCIA E O AGRONEGÓCIO

Apesar da elevação de custos dos insumos agrícolas e das conseqüentes estimativas de retração da produtividade e das exportações para 2009, o produto interno bruto (PIB) do agronegócio ainda vem puxando o crescimento da economia brasileira. A expansão do PIB em 6,1% no segundo trimestre de 2008 e o incremento de 6% em relação ao período de janeiro a junho de 2007 refletem o desempenho do setor agropecuário, que cresceu 7,1% em relação ao segundo trimestre de 2007 e 5,2% no semestre. Na comparação com o primeiro trimestre, a agropecuária teve expansão de 3,8%.

A trajetória de participação do agronegócio no PIB - considerando a soma total das operações de produção, distribuição de insumos e novas tecnologias agrícolas, produção propriamente dita, armazenamento, transporte, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e derivados - mostra que, desde 1990, o setor tem contribuído com mais de 27% para o total de bens e serviços produzidos no País. Embora o comportamento do PIB tenha apresentado uma tendência declinante até 1997, voltou a crescer a partir de 1999, devendo somar R$ 611,5 bilhões em 2008, ante os R$ 582,6 bilhões no ano passado, segundo estimativas da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).

No entanto, a continuidade da política monetária restritiva potencializada pelos juros altos, aliada à contração da demanda externa, pode acarretar um arrefecimento na taxa de crescimento do PIB do agronegócio. Esse efeito se manifesta, principalmente, no maior custo de obtenção de crédito para financiar a produção e na pesada carga tributária para custear o aumento dos gastos públicos. Nas últimas safras, os agricultores vêm sofrendo prejuízos causados pelo desequilíbrio orçamentário entre o elevado custo de produção e a queda internacional dos preços das commodities, ocasionando a redução da rentabilidade da produção agropecuária.

Nesse sentido, a publicação da Lei 11.775 no Diário Oficial da União de 18 de setembro de 2008 - proveniente da Medida Provisória 432/08 -, instituindo medidas de estímulo à liquidação ou regularização de dívidas originárias de operações de crédito rural e de crédito fundiário, ensaia uma panacéia para mais de 2 milhões de famílias de agricultores que buscam a retomar a produção pela convalescença do endividamento agrícola. Entretanto, o presidente Lula sancionou a Lei 11.775/08 vetando, justamente, a alínea b do inciso II do artigo 8º, que trata dos encargos financeiros. A Medida Provisória 432/08 havia sido votada na Câmara dos Deputados incluindo a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para correção das renegociações, que hoje está em torno de 6,25% ao ano. Mas, com o veto à alínea b do inciso II do artigo 8º da Lei 11.775/08, o indexador volta a ser o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - taxa Selic -, hoje em 13,75% ao ano, conforme constava no texto original da Medida Provisória 432.

A justificativa para o veto, segundo o governo, é que a alteração do indexador da Selic para a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) nas operações renegociadas por até dez anos no âmbito da Dívida Ativa da União (DAU) pode fazer com que o valor a ser pago referente a diversas dívidas inscritas na DAU seja inferior aos valores efetivamente pagos pelos mutuários adimplentes e que honraram seus compromissos nas datas aprazadas. Logo, para o governo, essa modificação representa um estímulo à inadimplência e uma penalização aos mutuários adimplentes, contrariando um dos princípios básicos da renegociação das dívidas rurais propostos quando da edição da Medida Provisória 432, de 27 de maio de 2008, que era o de não conceder aos mutuários inadimplentes o mesmo tratamento aplicado aos mutuários adimplentes.

Ainda que o veto seja discutível, pois em alguns casos peculiares se poderia desconsiderar a Selic no mês de liquidação, a edição da Lei 11.775/08, em seu contexto, agiliza o retorno às atividades produtivas de quem estava sem direito ao crédito, já que propõe um novo tratamento para a dívida dos produtores rurais e uma solução definitiva para o problema do endividamento.

O Brasil fortemente ganha com essa medida, pois, estimulando a produção agrícola - num cenário macroeconômico de crise internacional e possível esfriamento das exportações -, favorece a balança comercial, que pode ser seguramente alçada pela expansão do agronegócio e pelo aumento da demanda mundial por alimentos. Mesmo com o arrefecimento da economia mundial, as exportações do agronegócio no mês de agosto somaram US$ 6,8 bilhões, correspondendo a um crescimento de 15,7% sobre agosto de 2007. Nos últimos 12 meses, as vendas externas também atingiram a marca histórica de US$ 69 bilhões. Esse crescimento está alicerçado essencialmente na participação brasileira em mercados emergentes, como a China, que não faz parte do cerne da crise e onde a demanda por alimento cresce substancialmente.

Certamente, o Brasil não está imune à crise, entretanto, apostando na robustez do capital produtivo, no controle da inflação e na promoção sustentável da demanda interna, o País tem condições de enfrentar as intempéries sofrendo apenas volatilidade e fuga do capital especulativo. A grande participação no PIB e o forte efeito multiplicador do complexo agroindustrial, aliados ao alto peso dos produtos de origem agrícola na pauta de exportações, fundamentalmente, contribuirão, nos próximos anos, para o desempenho da economia brasileira.

Alexandre de Castro é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - Email:
alxcas@gmail.com)

Notícias ruins do setor de papel e celulose

Ontem e hoje tivemos notícias ruins sobre o setor de celulose e papel brasileiro, uma sobre a Klabin e outra sobre a Aracruz:

Aracruz perde R$ 1,64 bi no trimestre e suspende ampliação de Guaíba

SÃO PAULO - A Aracruz apresentou prejuízo líquido de R$ 1,642 bilhão no terceiro trimestre. Um ano antes, obteve lucro de R$ 260,9 milhões. A receita líquida ficou em R$ 801,6 milhões, ou 8% mais enxuta do que os R$ 873 milhões somados entre julho e setembro de 2007.

Em nota, a empresa explicou que sua liquidez tem sido muito afetada pela restrição de crédito e aumento da percepção de risco do mercado financeiro global. "O sistema financeiro global permanece sob estresse extraordinário, em especial no tocante a créditos e financiamentos. Como reflexo desse cenário, desde meados de setembro a moeda brasileira se desvalorizou fortemente em relação ao dólar, afetando negativamente o resultado financeiro com derivativos", destacou.

Vale recordar que a companhia comunicou recentemente perdas de R$ 1,95 bilhão com operações com derivativos cambiais.

A fim de conservar seu caixa, a Aracruz tomou uma série de medidas, como a suspensão temporária do projeto de expansão de sua unidade em Guaíba, no Rio Grande do Sul. Por meio de fato relevante, a empresa avisou, contudo, que tem a intenção de retomar os investimentos no projeto "assim que as condições de mercado os justificarem". (Valor Online, 17/10)
Nova vítima do câmbio,

Klabin tem prejuízo de R$ 253 milhões no 3º tri

SÃO PAULO - A Klabin encerrou o terceiro trimestre deste ano com prejuízo líquido de R$ 253,14 milhões, contra um lucro de R$ 177,52 milhões registrado no mesmo período de 2007.

A empresa mostrou piora tanto em seu desempenho operacional quanto no financeiro, este último agravado pelo efeito da valorização do dólar no endividamento.

Entre julho e setembro, a companhia obteve receita líquida de R$ 770,2 milhões, alta de 6,56% sobre igual intervalo do ano passado. As vendas do período somaram 388 mil toneladas, uma expansão de 7,7% em um ano. No entanto, o custo dos produtos vendidos cresceu muito mais, 22%, para R$ 587,9 milhões.

A mudança no mix de vendas, além de maiores preços de insumos como óleo combustível, produtos químicos e gás foram apontados como os principais responsáveis pelo salto.

As despesas também avançaram de forma importante, 30,2%, para R$ 133,18 milhões, influenciadas pelas rescisões de contratos de alguns executivos da companhia.

Até este momento, no entanto, a Klabin ainda estava no azul, mas os resultados financeiros agravaram o quadro, fechando o trimestre em R$ 447,1 milhões negativos, contra uma cifra positiva de R$ 101,2 milhões do mesmo período de 2007. A valorização do dólar ante o real gerou um custo de R$ 381 milhões para a empresa, que tem 50% da sua dívida atrelada à moeda americana.

Excluídos esses fatores, somou R$ 154,63 milhões a geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de impostos, juros, amortizações e depreciações), uma queda de 22,7% sobre o terceiro trimestre do ano passado, quando o valor ficou em R$ 200,13 milhões. (Valor Online, 16/10)

Turismo Rural em Quebec - boa saída para agricultura brasileira?

Em viagem por Quebec, observei que existem inúmeras atrações de turismo rural em pequenas cidades incluindo desde colheita de maçãs e cranberries até atividades relacionadas à pecuária leiteira.

Isso faz com que os produtores tenham uma renda extra apesar da curta duração. No caso da maçã são apenas duas a três semanas.

Abaixo segue uma foto da entrada de uma fazenda onde se realiza a atividade turística de colheita de maçã próxima à Montreal:

Apesar de já termos isso no Brasil, será que não poderíamos desenvolver isso ainda mais, especialmente em áreas próximas aos grandes centros?

sexta-feira, outubro 03, 2008

Embrapa lança site sobre produção de cana-de-açúcar

A EMBRAPA lançou um site contendo informações sobre a produção de cana, açúcar e álcool.

O site é baseado em uma estrutura de árvore de conhecimento hiperbólica onde o usuário clica em qual parte do processo quer informação.

A figura abaixo mostra como é a árvore principal.

Crise dos mercados baixa valor das commodities

A crise financeira já está afetando os mercados de commodities e com isso causando a baixo do valor das commodities. A reportagem de quarta-feira do Valor Econômico mostra isso:

Commodities tombam em setembro
Fernando Lopes e Mônica Scaramuzzo

O tremor que sacudiu os mercados financeiros mundiais em setembro, sobretudo na última semana do mês, provocou a redução das cotações médias mensais dos principais produtos agrícolas negociados pelo Brasil no exterior.

Na bolsa de Chicago, os grãos recuaram às menores médias em pelo menos seis meses; em Nova York, as chamadas "soft commodities" continuaram bastante pressionadas, com destaque para o suco de laranja, que desceu ao menor patamar em mais de três anos.

Ainda que os fundamentos de curto prazo de cada mercado tenham influenciado as oscilações - e que as perspectivas de longo prazo, baseadas no avanço dos emergentes, tenham evitado tombos maiores -, o setembro agrícola foi basicamente guiado pelos passos dos fundos de investimentos.

Em geral eles reduziram suas apostas em commodities agrícolas em meio à turbulência, daí a perda geral de sustentação. Em parte a fuga é explicada pela necessidade dos fundos de cobrir posições em outros mercados, e em parte pelo temor de que haja esvaziamento da demanda em razão da desaceleração econômica que se configura.

"Estamos em meio a uma liquidação, com fundos quebrando e outros 'congelados' para serem liquidados de forma mais ordenada. Muitos estão preferindo deixar o dinheiro em caixa, outros estão investindo em ouro ou em outras aplicações [hoje menos instáveis]", afirma Vinícius Ito, analista da Newedge baseado em Nova York.

Segundo a empresa, a posição bruta dos fundos de índices (index funds) em contratos comprados em aberto tem caído com a diáspora. Para o trigo, a posição bruta até ontem estava em 188 mil contratos; para soja, em 135 mil; para o milho, em 369 mil; para o café, 55 mil; para o açúcar, em 368 mil; e para o algodão, em 97,7 mil.

Cálculos do Valor Data baseados nos contratos de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) negociados nas bolsas de Chicago e Nova York mostram que, do universo pesquisado, a maior queda no mês passado foi a do trigo. O preço médio do cereal, 12,27% inferior ao de agosto, é o menor, segundo esse critério, desde agosto de 2007. Em relação à média de setembro do ano passado, a queda é de 14,71%.

As contas são menos impactantes para soja e milho, que permanecem bem atreladas ao petróleo. A cotação média da soja recuou 7,11% sobre agosto e atingiu o menor patamar desde dezembro de 2007. Em relação a setembro do ano passado, há alta de 23,88%. O milho registrou média 1,74% inferior a do mês anterior, a menor desde fevereiro deste ano, mas em doze meses o ganho é de 52,26%.

Para os grãos, as commodities agrícolas mais transacionadas, os fundamentos tendem a ganhar força na formação de preços, seja pela redução da participação dos fundos, seja a partir do novo relatório de estoques americanos, divulgado ontem pelo departamento de agricultura do país (USDA). Mas só quando o salvamento das finanças dos EUA for definido.

No relatório, o USDA constatou produção e estoques maiores de soja nos EUA nesta safra 2008/09 do que os anteriormente previstos. Para o milho, a surpresa foram os estoques, também mais gordos do que se acreditava, o que o mercado recebeu como uma prova de incertezas na demanda. Resultado: ambos despencaram ontem, pressionado as médias mensais. Como para o trigo os estoques americano ficaram abaixo do esperado, os preços subiram em Chicago.

Como em Chicago, Nova York surfou as ondas da crise em setembro. E, como em Chicago, essas ondas ainda não diminuíram, tirando suporte sobretudo dos preços do algodão. "É uma das primeiras commodities agrícolas a sentir o peso da desaceleração da economia global", diz Fernando Martins, também da Newedge. "Há preocupações com a queda do consumo. Os estoques estão altos e as compras estão sendo da 'mão para boca'".

Não é muito diferente para suco de laranja e cacau, produtos considerados mais "dispensáveis" do que os grãos, por exemplo. Se o preço médio do algodão em setembro foi 8,8% menor que o de agosto, o do suco ficou 7,82% abaixo e a queda do cacau foi de 4,91%.

Para açúcar e café - que caíram 6,73% e 2,37%, respectivamente -, a tendência é que os fundamentos ganhem espaço. No açúcar, a oferta será menor que a demanda em 2008/09, o foco do Brasil está no etanol e a Índia pesará menos no mercado. No café, a produção em 2009/10 no Brasil será mais baixa e o consumo global pode crescer.

Copersucar deixa de ser cooperativa e vira S.A.

A Copersucar, cooperativa de produtores de cana, açúcar e álcool, deixa de ser uma cooperativa para virar uma empresa e com isso torna-se a maior do setor. Veja os detalhes na reportagem do Valor Econômico de quarta-feira:

Copersucar torna-se S.A. e costura alianças

Mônica Scaramuzzo, de São Paulo

A Copersucar, maior cooperativa de açúcar e álcool do mundo, apresenta-se hoje ao mercado com uma nova roupagem. Sai a cooperativa, entra a Copersucar S.A., a maior empresa sucroalcooleira do país, à frente da Cosan. As 33 usinas associadas à cooperativa são agora acionistas da holding Produpar, que passa a controlar a gigante. A empresa nasce com faturamento anual de R$ 5,7 bilhões e programa investimentos de US$ 1 bilhão para os próximos três anos, sobretudo em logística.

A meta do grupo é triplicar de tamanho até 2018, saindo das atuais 70 milhões de toneladas de cana processada para 200 milhões de toneladas - crescimento que deverá acontecer com a entrada de novos acionistas (usinas) na holding.

A decisão de virar uma empresa foi considerada vital para o projeto de expansão do grupo. "Nosso principal desafio é crescer. O modelo de cooperativa tem a excelência operacional, mas cria restrições para a expansão", disse ao Valor Luís Roberto Pogetti, CEO da Copersucar. "Por lei, uma cooperativa não pode ser dona de ativos, o que traz dificuldades para crescimento". De acordo com Pogetti, a meta da Copersucar é alcançar 30% de participação no mercado brasileiro de açúcar e álcool em dez anos.

Como empresa, a Copersucar poderá fechar alianças estratégicas e atrair novos acionistas e investidores. Embora a Copersucar não confirme, uma das parcerias que poderá ser feita é na área de distribuição de combustíveis. Mas não seria nos mesmos moldes da Cosan, que em abril passado anunciou a aquisição da Esso. Se concretizada, esta parceria poderia envolver um grupo nacional ou do exterior. Ou os dois.

Pogetti afirmou que a holding Produpar, controladora da Copersucar S.A., nasce com práticas de governança corporativa e transparência em seus comunicados aos públicos estratégicos. A abertura de capital da empresa não está descartada, mas não figura entre as prioridades do grupo no momento. "Estamos criando uma empresa não para ser vendida, mas para se fortalecer nesse negócio", disse Pogetti.

O CEO, que ocupava o mesmo cargo na cooperativa, está há quase oito anos na Copersucar. Antes Pogetti passou pelo Banco do Brasil, Sharp e Samsung. Hermelindo Ruette, que foi o último presidente da cooperativa antes da profissionalização da gestão, está à frente do conselho de administração da Copersucar S.A., que terá sete assentos. Ao mesmo tempo, cada "usina-sócia" terá cadeira garantida no conselho da holding Produpar. Paulo Roberto de Souza assume a diretoria comercial da empresa, Aloísio Nunes de Almeida a diretoria de planejamento estratégico e relações institucionais, e Marcos Andrade, a financeira.

Segundo Pogetti, há conversações em andamento para a entrada de novas usinas como acionistas da holding. "Se tivéssemos que comprar hoje as 33 usinas que compõem o grupo, teríamos de desembolsar cerca de US$ 10 bilhões." Apenas com as atuais usinas, a produção do grupo saltaria de 70 milhões para 100 milhões de toneladas de cana em 2018. "Para alcançarmos as 200 milhões de toneladas de cana [em dez anos], teremos novos sócios e os atuais acionistas também terão novos projetos", afirmou. Os grupos Zillo Lorenzetti, Virgolino de Oliveira e Usina da Pedra são os maiores acionistas da nova Copersucar.

Para esta safra, a 2008/09, o grupo deverá processar 70 milhões de toneladas de cana, produzir 4,3 milhões de toneladas de açúcar e 3,8 bilhões de litros de álcool. O grupo Cosan, até então a maior empresa privada do segmento no país no mundo, processa cerca de 45 milhões de toneladas de cana, produz 1,7 bilhão de litros de álcool e 3,2 milhões de toneladas de açúcar.

Mesmo com a nova configuração da Copersucar, as 33 usinas acionistas continuam vendendo 100% de sua produção de açúcar e álcool para a cooperativa, que será mantida pela Copersucar S.A. pela excelência que conquistou nessa etapa da comercialização. "A cooperativa recebe a produção, e a venda é realizada pela nova empresa", disse Pogetti. Os investimentos feitos por cada usina para a expansão de suas unidades produtoras serão bancados pelos próprios acionistas. "Os investimentos vão se concentrar na área de logística", afirmou o executivo.

Nesta área, a gigante controla o TAC (Terminal Açucareiro da Copersucar), no porto de Santos, que inclui três armazéns de açúcar ensacado e dois silos para granéis, com capacidade de embarque de 5 milhões de toneladas por ano. Em álcool, o grupo é sócio da Uniduto, empresa que tem como acionistas Cosan e Nova América, planeja construir alcoodutos e também possui uma filial no porto de Roterdã (Holanda), o maior da Europa. Desse porto, a Copersucar distribui 300 milhões de litros de álcool para dez países europeus.

Fundada em 1959, a Cooperativa de Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar) contava inicialmente com dez usinas paulistas e duas entidades regionais. Entre os fundadores estava o grupo São Martinho, de Pradópolis (SP), que decidiu se desligar da cooperativa em março deste ano justamente para ganhar maior independência na comercialização de seus produtos. Nos anos de 1970, a Copersucar atingiu o seu auge, com mais de 100 associadas. Nesta mesma época, sua marca ganhou força internacional com o patrocínio na Fórmula 1.

Desde 2004, a Copersucar começou a desenhar o que seria a companhia no futuro. A venda da marca União, líder em açúcar no varejo, para o grupo Nova América, em 2005, para se dedicar mais à comercialização e logística no setor de açúcar e álcool foi apenas o início do processo. Depois, decidiu profissionalizar a gestão e há quase dois anos trocou sua sede antiga, no bairro paulistano da Moóca, na zona leste, por um suntuoso prédio em plena avenida Paulista. "Outras mudanças estão em curso", garantiu Pogetti. Alianças estratégicas para açúcar e álcool nos mercados interno e externo estão sendo costuradas.