sexta-feira, outubro 03, 2008

Copersucar deixa de ser cooperativa e vira S.A.

A Copersucar, cooperativa de produtores de cana, açúcar e álcool, deixa de ser uma cooperativa para virar uma empresa e com isso torna-se a maior do setor. Veja os detalhes na reportagem do Valor Econômico de quarta-feira:

Copersucar torna-se S.A. e costura alianças

Mônica Scaramuzzo, de São Paulo

A Copersucar, maior cooperativa de açúcar e álcool do mundo, apresenta-se hoje ao mercado com uma nova roupagem. Sai a cooperativa, entra a Copersucar S.A., a maior empresa sucroalcooleira do país, à frente da Cosan. As 33 usinas associadas à cooperativa são agora acionistas da holding Produpar, que passa a controlar a gigante. A empresa nasce com faturamento anual de R$ 5,7 bilhões e programa investimentos de US$ 1 bilhão para os próximos três anos, sobretudo em logística.

A meta do grupo é triplicar de tamanho até 2018, saindo das atuais 70 milhões de toneladas de cana processada para 200 milhões de toneladas - crescimento que deverá acontecer com a entrada de novos acionistas (usinas) na holding.

A decisão de virar uma empresa foi considerada vital para o projeto de expansão do grupo. "Nosso principal desafio é crescer. O modelo de cooperativa tem a excelência operacional, mas cria restrições para a expansão", disse ao Valor Luís Roberto Pogetti, CEO da Copersucar. "Por lei, uma cooperativa não pode ser dona de ativos, o que traz dificuldades para crescimento". De acordo com Pogetti, a meta da Copersucar é alcançar 30% de participação no mercado brasileiro de açúcar e álcool em dez anos.

Como empresa, a Copersucar poderá fechar alianças estratégicas e atrair novos acionistas e investidores. Embora a Copersucar não confirme, uma das parcerias que poderá ser feita é na área de distribuição de combustíveis. Mas não seria nos mesmos moldes da Cosan, que em abril passado anunciou a aquisição da Esso. Se concretizada, esta parceria poderia envolver um grupo nacional ou do exterior. Ou os dois.

Pogetti afirmou que a holding Produpar, controladora da Copersucar S.A., nasce com práticas de governança corporativa e transparência em seus comunicados aos públicos estratégicos. A abertura de capital da empresa não está descartada, mas não figura entre as prioridades do grupo no momento. "Estamos criando uma empresa não para ser vendida, mas para se fortalecer nesse negócio", disse Pogetti.

O CEO, que ocupava o mesmo cargo na cooperativa, está há quase oito anos na Copersucar. Antes Pogetti passou pelo Banco do Brasil, Sharp e Samsung. Hermelindo Ruette, que foi o último presidente da cooperativa antes da profissionalização da gestão, está à frente do conselho de administração da Copersucar S.A., que terá sete assentos. Ao mesmo tempo, cada "usina-sócia" terá cadeira garantida no conselho da holding Produpar. Paulo Roberto de Souza assume a diretoria comercial da empresa, Aloísio Nunes de Almeida a diretoria de planejamento estratégico e relações institucionais, e Marcos Andrade, a financeira.

Segundo Pogetti, há conversações em andamento para a entrada de novas usinas como acionistas da holding. "Se tivéssemos que comprar hoje as 33 usinas que compõem o grupo, teríamos de desembolsar cerca de US$ 10 bilhões." Apenas com as atuais usinas, a produção do grupo saltaria de 70 milhões para 100 milhões de toneladas de cana em 2018. "Para alcançarmos as 200 milhões de toneladas de cana [em dez anos], teremos novos sócios e os atuais acionistas também terão novos projetos", afirmou. Os grupos Zillo Lorenzetti, Virgolino de Oliveira e Usina da Pedra são os maiores acionistas da nova Copersucar.

Para esta safra, a 2008/09, o grupo deverá processar 70 milhões de toneladas de cana, produzir 4,3 milhões de toneladas de açúcar e 3,8 bilhões de litros de álcool. O grupo Cosan, até então a maior empresa privada do segmento no país no mundo, processa cerca de 45 milhões de toneladas de cana, produz 1,7 bilhão de litros de álcool e 3,2 milhões de toneladas de açúcar.

Mesmo com a nova configuração da Copersucar, as 33 usinas acionistas continuam vendendo 100% de sua produção de açúcar e álcool para a cooperativa, que será mantida pela Copersucar S.A. pela excelência que conquistou nessa etapa da comercialização. "A cooperativa recebe a produção, e a venda é realizada pela nova empresa", disse Pogetti. Os investimentos feitos por cada usina para a expansão de suas unidades produtoras serão bancados pelos próprios acionistas. "Os investimentos vão se concentrar na área de logística", afirmou o executivo.

Nesta área, a gigante controla o TAC (Terminal Açucareiro da Copersucar), no porto de Santos, que inclui três armazéns de açúcar ensacado e dois silos para granéis, com capacidade de embarque de 5 milhões de toneladas por ano. Em álcool, o grupo é sócio da Uniduto, empresa que tem como acionistas Cosan e Nova América, planeja construir alcoodutos e também possui uma filial no porto de Roterdã (Holanda), o maior da Europa. Desse porto, a Copersucar distribui 300 milhões de litros de álcool para dez países europeus.

Fundada em 1959, a Cooperativa de Produtores de Cana-de-açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar) contava inicialmente com dez usinas paulistas e duas entidades regionais. Entre os fundadores estava o grupo São Martinho, de Pradópolis (SP), que decidiu se desligar da cooperativa em março deste ano justamente para ganhar maior independência na comercialização de seus produtos. Nos anos de 1970, a Copersucar atingiu o seu auge, com mais de 100 associadas. Nesta mesma época, sua marca ganhou força internacional com o patrocínio na Fórmula 1.

Desde 2004, a Copersucar começou a desenhar o que seria a companhia no futuro. A venda da marca União, líder em açúcar no varejo, para o grupo Nova América, em 2005, para se dedicar mais à comercialização e logística no setor de açúcar e álcool foi apenas o início do processo. Depois, decidiu profissionalizar a gestão e há quase dois anos trocou sua sede antiga, no bairro paulistano da Moóca, na zona leste, por um suntuoso prédio em plena avenida Paulista. "Outras mudanças estão em curso", garantiu Pogetti. Alianças estratégicas para açúcar e álcool nos mercados interno e externo estão sendo costuradas.

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