sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Usinas diminuem inadimplência

Apesar da notícia anterior de que os investimentos no setor sucroalcooleiro estão diminuindo, abaixo segue uma boa nova, a que a inadimplência com os fornecedores de equipamentos, a indústria de base, está diminuindo.

A notícia foi publicada hoje no Valor Econômico:

Inadimplência de usinas com as indústrias de base diminui

Mônica Scaramuzzo, de São Paulo

O índice de inadimplência do setor sucroalcooleiro com as indústrias de base, boa parte instaladas nas cidades paulistas de Piracicaba e Sertãozinho, encerrou o mês de janeiro entre 12% e 13%, uma queda expressiva em relação aos 36% alcançados em novembro. A fotografia atual mostra que esse segmento ainda continua afetado pela crise financeira, mas já começa a dar sinais de que poderá atravessar o ano de 2009 fora da UTI.

No auge da crise, as indústrias de base tiveram 22% dos seus pedidos cancelados e outros 28% postergados. Com cerca de 400 usinas em operação no país, os projetos de novas usinas somavam cerca de 100 unidades no ano passado, com investimentos entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões.

Maior indústria de base do país com vocação sucroalcooleira, a Dedini, com sede em Piracicaba (SP), atualmente participa direta e indiretamente de 68 projetos de usinas em construção no Brasil, afirmou ao Valor José Luiz Olivério, vice-presidente de operações da companhia. "Alguns contatos dos projetos que foram adiados começaram a ser retomados", disse. De acordo com ele, há 31 projetos em fase de consultas.

Atingida diretamente pela crise que afetou as usinas de açúcar e álcool, que enfrentam escassez de crédito, a Dedini teve de renegociar prazos de pagamentos com seus clientes. "Não fomos atingidos pela inadimplência porque renegociamos prazos", disse Olivério. Antes da crise global, o índice de inadimplência desse segmento ficava abaixo de 1%.

Durante o boom dos investimentos para a construção de novas plantas, sobretudo entre 2005 e 2007, muitas indústrias de base contrataram a rodo, estimuladas pela demanda voltada para este segmento. "Houve um crescimento anormal, acima da média. Uma mudança dessas [com a crise] provoca mesmo perdas de postos de trabalho", afirmou Sérgio Fortuoso, gerente-executivo da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi).

E nesse período de euforia, aposentados e aprendizes foram recrutados para dar conta dos pedidos. A partir do segundo semestre de 2008, por conta do agravamento da crise financeira, a realidade mudou drasticamente. Levantamento do Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba e região mostra que o número de demissões dessas indústrias chegou a 3 mil em 2008, sobretudo em dezembro.

Com cerca de 5 mil funcionários, a Dedini não passou incólume e teve de fazer ajustes. A empresa demitiu cerca de 150 pessoas no fim de 2008 e outras 90 durante esta semana, disse José Florêncio da Silva, vice-presidente do sindicato.

Já a NG Metalúrgica, com 1.300 trabalhadores e duas fábricas na região de Piracicaba, ainda não fez ajustes, segundo Nilson Furoni, coordenador de recursos humanos da metalúrgica. "Os pedidos reduziram, mas estamos cumprindo contratos fechados anteriormente", afirmou. A empresa produz turbinas e destilarias.

Em Sertãozinho, importante polo produtor da região de Ribeirão Preto, demissões ocorreram, também principalmente em dezembro, e novos cortes devem ser feitos no início da colheita a partir de março, afirmou Flávio Vicari, diretor-executivo do Ceise (Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroalcooleiro e Energético).

As empresas mais afetadas são as que prestam serviços para as indústrias de base maiores. Nessa região, cerca de 550 empresas empregam aproximadamente 17 mil trabalhadores. Desse total, pelo menos cerca de 5% podem perder seus postos de trabalho no início da nova safra, a 2009/10, a partir de março, como reflexo da crise. "Há uma expectativa de retomada a partir do segundo semestre, considerando os projetos que entrarão em operação a partir de 2010, 2011 e 2012 serão retomados", afirmou Vicari.

"A tendência é que as indústrias de base também passem por um processo de reestruturação no futuro, com movimento de fusões", acrescentou o diretor do Ceise.

De acordo com Silva, do sindicato de Piracicaba, a "boa" notícia no meio deste cenário de crise é que as indústrias que fazem manutenção para as usinas ainda não demitiram ninguém. "Negociamos para que as indústrias dispensem trabalhadores que possuam alguma renda, como os aposentados."

Para Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, as indústrias de base não deverão receber pesados pedidos para novas encomendas tão cedo. "O que vai ocorrer são encomendas de projetos já previstos." Segundo Nastari, as usinas de açúcar e álcool começaram a registrar margem líquida positiva a partir de outubro. "A crise continua afetando as usinas, mas num contexto em que a demanda por exportações de açúcar é crescente e a de álcool também, em menor ritmo. Em outros segmentos, como em mineração, siderurgia, por exemplo, os preços caem e a demanda também. Isso é mortal para o fluxo de caixa dessas empresas. No setor sucroalcooleiro, a demanda é firme. Mas a prioridade delas agora não é investir, mas garantir fluxo de caixa."

Nenhum comentário: