sexta-feira, agosto 17, 2007

Investimentos em biocombustíveis até 2010

BIOCOMBUSTÍVEIS: INVESTIMENTOS SOMAM US$ 15 BILHÕES EM TRÊS ANOS

O setor de biocombustíveis do Brasil vai receber, até 2010, investimentos de quase US$ 15 bilhões com a construção de pelo menos 70 novas usinas sucroalcooleiras e outras 15 de biodiesel. Os recursos vêm de fundos de investimentos, financiamentos bancários e também da abertura de capital das empresas que buscam na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) forma de obterem dinheiro a custo baixo.

"Dinheiro é o que não falta. Tem muito fundo do Japão, Europa e dos Estados Unidos vindo aplicar recursos aqui", diz Miguel Biegai Júnior, analista da Safras & Mercado. Entre os financiadores está o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que tem linhas destinadas à produção agrícola com juros que variam de 3% a 12,5% ao ano, dependendo da lavoura e do tipo de crédito necessário.

A instituição tem ainda financiamento destinado às agroindústrias, a 6,25% ao ano. Apenas no primeiro semestre deste ano o banco ofertou a este segmento R$ 1,75 bilhão, 24,1% a mais que no mesmo período de 2006. Na Bovespa estão listadas três usinas que, juntas, conseguiram cerca de R$ 1,8 bilhão com a abertura de capital. A Cosan, a primeira a ingressar na bolsa obteve ainda outros US$ 2 bilhões com o IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) na Bolsa de Nova York.

Segundo Biegai, estes novos investimentos vão agregar mais 5 bilhões de litros de álcool e outros 1 bilhão de litros de biodiesel à produção brasileira. No caso das usinas sucroalcooleiras, a maior parte dos investimentos será em São Paulo e em Mato Grosso do Sul.

"Eles buscam a proximidade com o porto", diz Fábio Silveira, economista da RC Consultores. Além disso, ele acrescenta que a localização depende também do mercado consumidor e da disponibilidade de terras — no caso do Centro-Oeste. Para as usinas de biodiesel, os valores a serem aplicados são mais pulverizados, com maior incidência no Centro-Oeste, devido à disponibilidade de grãos, e ao Nordeste — uma vez que parte desses investimentos é oriunda da agricultura familiar. O economista acredita que o grande investimento em biodiesel no Brasil já foi feito — quase R$ 1 bilhão nos últimos anos.

Biegai Júnior acrescenta que a previsão não considera os investimentos a serem feitos pela Petrobras. A estatal deve divulgar em agosto um plano de construção de usinas de álcool e de biodiesel. "A Petrobras quer se tornar no maior player do mundo em biocombustíveis", diz. A previsão do mercado é que a empresa aplicará, em prazo ainda não estimado, cerca de US$ 8,3 milhões na construção de 40 usinas de álcool (para a produção de 3,5 bilhões de litros) e 10 de biodiesel (para 850 milhões de litros). De acordo com o analista, a estatal já teria contratos de exportação de etanol para o Japão e de biodiesel para Portugal.

Projeções da RC Consultores indicam que a receita do campo no Brasil será impulsionada pelos biocombustíveis, que responderão por 57,4% dos R$ 141 milhões estimados para o agronegócio obter com a sua produção em 2010. Silveira afirma que a partir da próxima safra mais de metade da cana-de-açúcar já será destinada à produção de álcool. Apesar de a maior parte do combustível ser destinada ao mercado interno, o crescimento maior da demanda será para o externo. Hoje, de acordo com dados da consultoria, o Brasil consome 14 bilhões de litros de álcool e vai exportar 3,98 bilhões de litros. Em 2010, a perspectiva é de 19 bilhões de litros destinados ao abastecimento da frota nacional (aumento de 35%).

No mesmo período, o País estará comercializando com o exterior 5,74 bilhões de litros (um incremento de 44,2%). O economista da RC Consultores acrescenta que esta previsão não inclui uma futura necessidade de importação dos Estados Unidos, que, apesar de produzir o combustível oriundo do milho, necessitará de álcool de outros países.

Silveira não acredita, no entanto, em exportações de biodiesel, apenas de etanol. "Toda produção de biodiesel no mundo será para atender à demanda local. Nenhum país quer ser dependente de outro como hoje é do petróleo", afirma Silveira.

Na Europa, a estimativa é de necessidade de 5,75% de biocombustível adicionada ao diesel em 2010. Pelas estimativas da consultoria, para atender à demanda do Brasil, Europa e Estados Unidos prevista para os próximos três anos, estas três regiões juntas precisariam produzir 61,1 milhões de toneladas de soja a mais — mais que a atual safra brasileira, de 57 milhões de toneladas.

Isso se toda a produção saísse desta oleaginosa. Hoje, na Europa a maior parte da matéria-prima é a colza e o girassol. No Brasil e nos Estados Unidos é a soja, apesar de que o combustível pode ser extraído de palma, mamona e algodão, entre outros produtos.

Silveira argumenta que, mesmo a soja tendo apenas 17% de óleo, para até 48% de outras culturas se torna mais viável devido à escala de produção (Gazeta Mercantl, 15/8/07)

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