segunda-feira, maio 11, 2009

Expansão imobiliária expulsa produtores de hortaliças

A expansão imobiliária, fato tão comum nas grandes regiões metropolitanas, está fazendo com que a área de produção de hortaliças diminua. Isto me parece um contraste visto que ao crescer, tais áreas tornam-se mais atrativas aos produtores, que por sua vez tem que ir produzir mais longe.

A notícia abaixo foi publicada no Cosmo e encontra-se na íntegra abaixo:

Área de hortaliças diminui pela metade em Campinas
Redução de número de hectares cultivados na região no município ocorreu nos últimos 12 anos, aponta o Lupa

Sheila Vieira - Agência Anhangüera de Notícias

A área de cultivo de hortaliças na região de Campinas caiu pela metade em 12 anos, segundo Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo (Lupa), realizado pelo governo estadual e divulgado no final do mês passado. Em 1996, 385 horticultores trabalhavam em uma área total de 922,4 hectares. Hoje, o cenário está bastante diferente e o número de hectares cultivados foi reduzido a cerca de 50% — 429,2 hectares, 17% deles com alface.

Conforme Daniel Pinto da Silva Kramer, assistente agropecuário da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), órgão da Secretaria Estadual de Agricultura, a área de plantio da horticultura foi pressionada pelo avanço dos loteamentos residenciais sobre a zona rural. A forte expansão imobiliária teve reflexos no conjunto dos 17 municípios que compõem o escritório regional da Cati.

Em pouco mais de uma década, de 1996 a 2008, a área de abrangência do escritório regional com sede em Campinas ficou sem 10.359 hectares de terras rurais. O município que mais perdeu espaço rural foi Hortolândia, com recuo de 58,76%, segundo o Lupa.

Atualmente, de acordo com o Lupa, a braquiária para pastagem é a cultura que ocupa a maior área na regional, com um total de 69.666,9 hectares. Em seguida, vem a cana-de-açúcar com 30.414,5 hectares — houve um incremento de 12,64% no total cultivado na região, seguindo a tendência do Estado, que também apresentou alta no espaço dedicado a esse plantio. O eucalipto é a terceira cultura em área no conjunto dos municípios.

Segundo o Lupa, em 2008, o número de horticultores em Campinas chegava a 67 produtores, com 132 hectares de área plantada. Em 1996, eram 160 produtores, ocupando 224,9 hectares de uma área rural no município que, na época, totaliza 39,267 mil hectares. Para Kramer, além da pressão urbana, pesa contra a horticultura a necessidade de acompanhamento diário dos canteiros. “O que exige maior esforço dos horticultores”, explica.

Consumo

O brasileiro não tem hábito de comer salada com frequência, pelo menos aquelas preparadas basicamente com verduras. Levantamento realizado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em 2002, compara que o brasileiro ingere pouco mais de 40 quilos de hortaliças por o ano (incluindo feijão). Esse consumo é duas vezes menor em relação aos vizinhos argentinos e seis vezes menor que a dieta habitual dos chineses, de 254 quilos por habitante.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as principais hortaliças consumidas no Brasil por ano são a batata-inglesa (cinco quilos), seguida do tomate (cinco quilos) e da cebola (três quilos e meio). A alface representa isoladamente apenas 600 gramas de consumo por habitante por ano. O que é considerado baixo, por ser rico em fibras, vitaminas A, B e C. De maneira generalizada, seu consumo está concentrado nas classes A e B e nas regiões Sul e Sudeste.

De acordo com Álvaro Peixoto, diretor do segmento de sementes da Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (Abcsem), apesar de a alface ser um dos principais ingredientes da salada, o baixo consumo de hortaliças está relacionado à cultura do brasileiro e varia de acordo com a região. O mesmo ocorre em relação à preferência por determinado tipo desta verdura. “Felizmente a busca por uma alimentação mais equilibrada e o esclarecimento da população sobre a importância dos hábitos saudáveis vêm mudando esse quadro”, conta o diretor da Abcsem.

Nos países desenvolvidos o estudo da FAO apresenta índice de consumo ainda maiores, como 127 quilos/ano por habitante nos Estados Unidos e 151 quilos por habitante na Itália. Países asiáticos, conhecidamente habituados a consumir mais hortaliças e menos carne têm índices de consumo elevadíssimos. Chineses, por exemplo, chegam a consumir 254 quilos por habitante/ano.

Bairro San Martin abriga reduto de vinte horticultores

A atividade rural em Campinas é mantida principalmente às margens de rodovias e em bairros limítrofes. Rodrigo Baccan, chefe da Casa da Agricultura de Campinas, atuou no recadastramento do Lupa e informa que a hortcultura é mais concentrada no distrito de Barão Geraldo. Já a fruticultura e produção de goiaba, nos bairros próximos ao Aeroporto de Viracopos, como Pedra Branca e Descampado. Os distritos de Sousas e Joaquim Egídio respondem pelo turismo rural e pela produção de eucalipto.

Na região do bairro San Martin há um reduto de quase 20 horticultores. Um deles é Denilson José Sedano, produtor há 20 anos e terceira geração dos Sedano no local. Em seu sítio de 168 mil metros quadrados, o equivalente a 7 alqueires, cultiva 11 tipos de hortaliças. A alface é uma das principais culturas em sua propriedade, especialmente o tipo crespa que está em 70% das hortas, seguida por lisa (10%), americana (10%), mimosa (5%) e roxa (5%).

O horticultor diz que colhe diariamente 100 caixas de alface — ou seja 2,4 mil pés da hortaliça. Cerca de 70% de sua produção é destinada a cozinhas industriais de multinacionais. O restante é distribuído entre varejões e redes de supermercado.

Para assegurar sua participação no mercado, segundo Sedano, é preciso colher as hortaliças diariamente. O produtor calcula que suas verduras chegam ao consumidor no tempo recorde de 12 horas após terem sido colhidas. “É preciso oferecer rapidez, produto de qualidade e bom preço”, enumera.

Sedano reclama que enquanto os preços dos insumos triplicaram em 10 anos os da verdura não subiram no mesmo período, com exceção na temporada de calor. No Verão, de janeiro a março, a perda na lavoura chega a 60%. Em compensação, a demanda dobra, provocando aumento sazonal no preço da alface.

Uma das estratégias para minimizar os custos dos produtores é a rotação das hortaliças na propriedade. Baccan sugere que o produtor de alface intercale os canteiros com culturas como tomate e almeirão, que exigem cuidados parecidos e aceitam quase os mesmos adubos e fertilizantes.

Segundo Ceagesp, brasileiros preferem a variedade crespa

A preferência do consumidor brasileiro pelos tipos de alfaces existentes hoje no mercado, segundo dados de 2004 da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), está distribuída da seguinte forma: 61% para o tipo crespa, 19% para a variedade americana, 18% para a espécie lisa e 2% para o tipo romana. “A crespa é mais consumida por causa do tamanho de cada pé”, explica Denilson José Sedano, produtor há 20 anos em Campinas. “Também são decorativas porque suas folhas maiores dão mais volume no prato e no lanche.”

Segundo Daniel Pinto da Silva Kramer, assistente agropecuário da Cati, as empresas de sementes lançam no País duas variedades por ano de cultivares melhorados, que devem responder a uma classificação padronizada de tamanho, aparência, defeito e de resistência a ataque de doenças, como o mofo branco, queima da saia ou ferrugem. Em 2008, a Seminis, divisão de sementes da Monsanto, com escritório em Campinas, colocou no mercado uma nova alface do tipo romana, batizada de Conquistador.

Segundo a Seminis, as vantagens dessa nova variedade de alface estão nas folhas mais alongadas e uniformes que permitem cortes mecânicos perfeitos e reduz perdas no preparo de saladas e sanduíches. O formato das folhas também possibilita maior arejo das plantas, seja no solo ou na hidroponia, e ainda melhora o controle preventivo de pragas. “O maior temor do horticultor é a perecibilidade no campo, que é alta para as folhosas nos dias quentes”, explica Flávio Leal, gerente de desenvolvimento tecnológico da Seminis.

Leal garante que, no prato, o produto oferece dose extra de nutrientes devido à sua maior concentração de clorofila, altos teores de vitamina A, C e Cálcio em relação às demais cultivares, como a crespa e lisa explica. “A romana Conquistador, além de ser cerca de 20% mais rentável que a alface crespa, possui o mesmo ciclo e custo de produção.”

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