A falta de crédito está afetando diretamente os investimentos no setor sucroalcooleiro, vedete do agronegócio nos últimos tempos. A reportagem abaixo da Gazeta Mercantil de hoje mostra este cenário:
Investimentos em usinas devem cair 40%
Investimentos em usinas devem cair 40%
Depois de dois anos de robustez, os investimentos do setor sucroalcooleiro devem cair para algo próximo de R$ 7 bilhões em 2009, com perspectiva de serem ainda menores em 2010. O volume é 40% mais baixo do que os cerca de R$ 12 bilhões por ano aplicados em 2007 e 2008. "Teremos em 2009 um ano de inércia, apenas de continuidade de projetos já iniciados. Será também um ano de ‘não-decisão’ de investimento que vai se refletir em baixos recursos aplicados em 2010", avalia Júlio Maria Borges, da JOB Consultoria.
Em torno de 15 das 35 usinas previstas para entrar este ano em operação no Centro Sul já adiaram seus projetos, e, muitas, previstas para inaugurar na safra 2010/11, também já anunciaram seus adiamentos. A mais recente foi a do projeto da Sucral Bioenergia com a Greentech, dos empresários Ana Maria e Paulo Diniz, filhos do empresário Abílio Diniz, presidente do Conselho de Administração do grupo Pão de Açúcar. O projeto era de construir quatro usinas em Mato Grosso do Sul, das quais duas deveriam ser inauguradas em 2010/11. Mas, Ricardo Caiuby Farias, diretor da Sucral Bioenergia, explica que adiou, por enquanto, o início da operação em um ano e que busca um outro sócio para compor o capital do projeto, orçado em R$ 2,8 bilhões. "Vamos ter de rever nossas participações, de 50% para Sucral e de 50% para a Greentech. A estimativa é de que o novo investidor possa entrar com 33% de participação no negócio", explica Farias. Sem citar nomes, ele afirma que o novo sócio em negociação é de fora do setor. A expectativa é de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financie 60% do projeto. "Já temos implantados apenas viveiros de mudas e aguardamos as licenças ambientais", acrescenta Farias.
Outros projetos, como o da Adecoagro, que tem como acionista o megainvestidor George Soros, também teve atraso e adiamento de usinas. No plano original, uma das usinas do grupo, a Angélica (MS), deveria entrar em operação em 2009, com parte da capacidade instalada prevista. Mas, com a escassez de crédito, a opção foi destinar todo o recurso para esta usina operar com capacidade total e adiar por um ano o início da operação da segunda e da terceira indústrias. O projeto da Adecoagro é de atingir processamento de 11 milhões de toneladas de cana em 2015.
Somente as 15 usinas que não vão iniciar as operações na safra 2009/10 representam, cada uma, de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões de investimento. "Essas 15 indústrias vão adiar com certeza, mas se este número será maior dependerá de como for a liberação de recursos", afirma Pádua.
Por enquanto, eles continuam crescendo, pelo menos, nas instituições financeiras oficiais. Segundo o BNDES, em dezembro de 2008 foram desembolsados R$ 766,6 milhões ao setor sucroalcooleiro. No acumulado de 2008, foram R$ 6,5 bilhões, aumento de 85% em relação aos R$ 3,56 bilhões de 2007.
Como a expansão da área plantada de cana desses projetos praticamente já ocorreu, é possível que haja disparidade entre o adicional de cana e a capacidade de industrialização, segundo Borges. Boa parte dessas 15 usinas que não vão entrar em operação em 2009 já implantaram canavial. "Estamos falando de um sinal amarelo, pois o real volume de cana disponível ainda vai depender do rendimento agrícola, resultado, em grande parte, das chuvas de verão", explica Borges.
O forte recuo do setor em 2009 e em 2010 deve comprometer as metas de expansão da capacidade de moagem. Antes da crise, a Unica estimava que em 2015 o Brasil estaria moendo 830 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para fazer frente à demanda também em expansão. "Adicionamos 130 milhões de toneladas ao sistema em dois anos. Em 2009 e ainda mais em 2010, deve haver retração. Mas, se o cenário voltar a ser positivo, com crédito e preços remuneradores, a expansão pode ser retomada", diz o diretor-técnico da Unica, Antônio de Pádua Rodrigues.
Antes da crise, havia cerca de 60 projetos para entrar em operação. Não há, segundo Pádua, uma estimativa de quantos devem, de fato, sair do papel. "Mas, quem ainda não começou aplicar o recurso, não vai iniciar em 2009. Pode haver alguma retomada em 2010, o que refletirá em aumento da capacidade instalada apenas nos anos de 2011 e 2012", avalia Borges, da JOB Consultoria.
José Carlos Toledo, presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), que representa as usinas do Oeste Paulista, região que mais tem novos projetos, acredita que provavelmente o setor não conseguirá atingir os investimentos anteriormente previstos. "Não temos preço remunerador e nem crédito", resume Toledo. Alguma alteração pode ocorrer, sobretudo com a entrada de grupos estrangeiros, que estão de olho nas oportunidades surgidas com a desvalorização dos ativos do setor. "Há um ano e meio, o patamar negociado por uma usina era de cerca de US$ 120 por tonelada, valor que atualmente está entre US$ 30 e US$ 40. O endividamento está corroendo o patrimônio das usinas", compara Toledo. Borges, da JOB, pondera que é preciso considerar nessa comparação que neste período o câmbio saiu do patamar de R$ 1,60 para o de R$ 2,40. (Fabiana Batista)
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